Sentido de decadência nacional n'os lusíadas

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1Pedro Pereira - 12ºM

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2Pedro Pereira - 12ºM

Mas um velho, de aspecto venerando,

que ficava nas praias, entre a gente,

postos em nós os olhos, meneando

três vezes a cabeça, descontente,

a voz pesada um pouco alevantando,

que nós no mar ouvimos claramente,

Cum saber só de experiências feito,

tais palavras tirou do experto peito:

— Velho do Restelo, estrofe 94 do Canto IV

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3Pedro Pereira - 12ºM

"Ó glória de mandar, ó vã cobiça

desta vaidade a quem chamamos Fama!

Ó fraudulento gosto, que se atiça

c'ua aura popular, que honra se chama!

Que castigo tamanho e que justiça

fazes no peito vão que muito te ama!

Que mortes, que perigos, que tormentas,

que crueldades nele experimentas!"

— Velho do Restelo, estrofe 95 do Canto IV

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"E foi que de doença crua e feia,

A mais que eu nunca vi, desampararam

Muitos a vida, e em terra estranha e alheia

Os ossos para sempre sepultaram.

Quem haverá que, sem o ver, o creia?

Que tão disformemente ali lhe incharam

As gengivas na boca, que crescia

A carne, e juntamente apodrecia.

— Escorbuto, estrofe 81 do Canto V4Pedro Pereira - 12ºM

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Enfim, não houve forte capitão,

Que não fosse também douto e ciente,

Da Lácia, Grega, ou Bárbara nação,

Senão da Portuguesa tão somente.

Sem vergonha o não digo, que a razão

De algum não ser por versos excelente,

É não se ver prezado o verso e rima,

Porque, quem não sabe arte, não na estima.

— Desamor de Portugal às boas letras, estrofe 97 do Canto V

5Pedro Pereira - 12ºM

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Por isso, e não por falta de natura,

Não há também Virgílios nem Homeros;

Nem haverá, se este costume dura,

Pios Eneias, nem Aquiles feros.

Mas o pior de tudo é que a ventura

Tão ásperos os fez, e tão austeros,

Tão rudos, e de engenho tão remisso,

Que a muitos lhe dá pouco, ou nada disso.— Desamor de Portugal às boas letras, estrofe 98 do Canto V

6Pedro Pereira - 12ºM

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O céu fere com gritos nisto a gente,

Com súbito temor e desacordo,

Que, no romper da vela, a nau pendente

Toma grã suma d'água pelo bordo:

"Alija, disse o mestre rijamente,

Alija tudo ao mar; não falte acordo.

Vão outros dar à bomba, não cessando;

A bomba, que nos imos alagando!"— A tempestade, estrofe 72 do Canto VI

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Por meio destes hórridos perigos,

Destes trabalhos graves e temores,

Alcançam os que são de fama amigos

As honras imortais e graus maiores:

Não encostados sempre nos antigos

Troncos nobres de seus antecessores;

Não nos leitos dourados, entre os finos

Animais de Moscóvia zebelinos;— Como se alcança a verdadeira glória, estrofe 95 do Canto VI

8Pedro Pereira - 12ºM

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Não com os manjares novos e esquisitos,

Não com os passeios moles e ociosos,

Não com os vários deleites e infinitos,

Que afeminam os peitos generosos,

Não com os nunca vencidos apetitos

Que a Fortuna tem sempre tão mimosos,

Que não sofre a nenhum que o passo mude

Para alguma obra heróica de virtude;— Como se alcança a verdadeira glória, estrofe 96 do Canto VI

9Pedro Pereira - 12ºM

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E ainda, Ninfas minhas, não bastava

Que tamanhas misérias me cercassem,

Senão que aqueles, que eu cantando andava

Tal prémio de meus versos me tornassem:

A troco dos descansos que esperava,

Das capelas de louro que me honrassem,

Trabalhos nunca usados me inventaram,

Com que em tão duro estado me deitaram.— Injustiças, estrofe 81 do Canto VII

10Pedro Pereira - 12ºM

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Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse

A quem ao bem comum e do seu Rei

Antepuser seu próprio interesse,

Inimigo da divina e humana Lei.

Nenhum ambicioso, que quisesse

Subir a grandes cargos, cantarei,

Só por poder com torpes exercícios

Usar mais largamente de seus vícios;— Louvor somente a quem merece, estrofe 81 do Canto VII

11Pedro Pereira - 12ºM

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Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.

O favor com que mais se acende o engenho

Não no dá a pátria, não, que está metida

No gosto da cobiça e na rudeza

Düa austera, apagada e vil tristeza.— Desalento do poeta; Censuras à pátria, estrofe 145 do Canto X

12Pedro Pereira - 12ºM