Sentir dor não é 'coisa de mulher'

2
46 n NB Plus janeiro’2015 Saúde Por Thaís Barcellos Fotos Divulgação Sentir dor não é ‘coisa de mulher’ ESQUEÇA A CRENÇA ANTIGA QUE DIZ QUE CÓLICAS E DORES PÉLVICAS SÃO NORMAIS E, NA DÚVIDA, SEMPRE BUSQUE ORIENTAÇÃO DE UM GINECOLOGISTA DA SUA CONFIANÇA C ólica, inchaço e desconforto na região pélvica são sintomas que grande parte das mulheres já sen- ram em algum momento da vida, mas que de normais não têm nada. Autome- dicar-se não é o ideal para sanar essas dores, e sim procurar por uma avaliação médica, não deixando a dor chegar ao estágio crônico. De acordo com a gineco- logista Ionara Barcelos, é considerada dor pélvica crônica quando a mulher apresen- ta o sintoma por mais de seis meses. “Como toda dor, essa tem várias ca- racteríscas, como o tempo de duração, fatores desencadeantes, de piora e de melhora, entre outros. Em relação à dor pélvica é ainda muito importante estabe- lecer sua correlação com a fase do ciclo menstrual, relação sexual, hábitos intes- nais, associação com infecções (urinárias, por exemplo) e possíveis dores osteomus- culares (desvios de coluna)”, enumera a especialista. Outrasituação que pode causar a dor crônica é a presença de doenças ginecoló- gicas, gastrointesnais e sistêmicas. A dor crônica acomete cerca de 20% das mulhe- res e também pode surgir devido à doen- ça inflamatória pélvica crônica, que é uma infecção causada por organismos transmi- dos sexualmente. Mulheres que possuem fibromialgia, hérnia de disco e doenças do sistema musculoesqueléco também são propensas à dor crônica da pelve. Principais tratamentos para a dor pélvica crônica: >> MEDICAMENTOS ORAIS aAn-inflamatórios não esteroides; aAnconcepcionais orais; aAnbiócos, em caso de doença inflamatória pélvica; >> FISIOTERAPIA aOs exercícios são feitos para alívio da dor e tensão da pelve, fazendo com que diminua a pressão no músculo pélvico e focando os músculos da vagina, dos quadris, coxas e região lombar baixa. >>INTERVENÇÃO CIRÚRGICA aA cirurgia é recomendada para mulheres que estão com desordens como miomas ou adenomiose, doença uterina caracterizada pela presença de glândulas e tecido endometrial dentro do miométrio, a camada mais grossa do útero, podendo levar a hipertrofia das fibras musculares no local. A cirurgia não é uma boa escolha para mulheres que ainda pensam em engravidar. >> OUTROS MÉTODOS aAcupuntura; aEsmulação nervosa; aInjeção de anestesia local nos pontos dolorosos.

description

 

Transcript of Sentir dor não é 'coisa de mulher'

Page 1: Sentir dor não é 'coisa de mulher'

46 n NB Plus janeiro’2015

Saúde Por Thaís BarcellosFotos Divulgação

sentir dor não é ‘coisa de mulher’esqueça a crença antiga que diz que cólicas e dores Pélvicas são normais e, na dúvida, semPre busque orientação de um ginecologista da sua confiança

Cólica, inchaço e desconforto na região pélvica são sintomas que grande parte das mulheres já sen-

tiram em algum momento da vida, mas que de normais não têm nada. Autome-dicar-se não é o ideal para sanar essas dores, e sim procurar por uma avaliação médica, não deixando a dor chegar ao estágio crônico. De acordo com a gineco-logista Ionara Barcelos, é considerada dor pélvica crônica quando a mulher apresen-ta o sintoma por mais de seis meses.

“Como toda dor, essa tem várias ca-racterísticas, como o tempo de duração, fatores desencadeantes, de piora e de melhora, entre outros. Em relação à dor pélvica é ainda muito importante estabe-

lecer sua correlação com a fase do ciclo menstrual, relação sexual, hábitos intesti-nais, associação com infecções (urinárias, por exemplo) e possíveis dores osteomus-culares (desvios de coluna)”, enumera a especialista.

Outrasituação que pode causar a dor crônica é a presença de doenças ginecoló-gicas, gastrointestinais e sistêmicas. A dor crônica acomete cerca de 20% das mulhe-res e também pode surgir devido à doen-ça inflamatória pélvica crônica, que é uma infecção causada por organismos transmi-tidos sexualmente. Mulheres que possuem fibromialgia, hérnia de disco e doenças do sistema musculoesquelético também são propensas à dor crônica da pelve.

principais tratamentos para a dor pélvica crônica:

>> mEDiCamEntos oraisaAnti-inflamatórios não esteroides;aAnticoncepcionais orais;aAntibióticos, em caso de doença inflamatória pélvica;

>> fisiotErapiaaOs exercícios são feitos para alívio da dor e tensão da pelve, fazendo com que diminua a pressão no músculo pélvico e focando os músculos da vagina, dos quadris, coxas e região lombar baixa.

>>intErvEnção CirúrgiCaaA cirurgia é recomendada para mulheres que estão com desordens como miomas ou adenomiose, doença uterina caracterizada pela presença de glândulas e tecido endometrial dentro do miométrio, a camada mais grossa do útero, podendo levar a hipertrofia das fibras musculares no local. A cirurgia não é uma boa escolha para mulheres que ainda pensam em engravidar.

>> outros métoDos aAcupuntura;aEstimulação nervosa;aInjeção de anestesia local nos pontos dolorosos.

Page 2: Sentir dor não é 'coisa de mulher'

janeiro’2015 NB Plus n 47

Dra. Ionara explica que essa dor se torna frequente na idade reprodutiva das mulheres e é fundamental investigar para definir um diagnóstico, pois a en-dometriose, por exemplo,é responsável por 33% das causas de dor pélvica crôni-ca. Mas, nem toda dor pélvica crônica é endometriose, como muita gente pensa. Para ter certezaé necessária a avaliação de um profissional.

dIAgNóSTICOToda mulher deve estar atenta à pe-

riodicidade da dor que sente e saber di-ferenciar a dor da cólica menstrual da dor crônica da pelve. Mas, como é possível saber essa diferença? “Um bom parâme-tro é a dor tipo cólica, que incomodava apenas por um dia no período menstrual e que passa a durar mais dias ou aumen-ta de intensidade; ou a dor que começa a incomodar também fora do período menstrual ou durante a relação sexual. Portanto, o aumento da intensidade da dor ou sentir dor em momentos em que não sentia antes são um sinal de alerta”, explica a ginecologista.

CONSeQUêNCIAS e TRATAMeNTO

Dores em geral trazem sintomas de-sagradáveis para o corpo e segundo a ginecologista Ionara Barcelos, o objetivo na investigação médica é buscar e tratar as causas do desconforto, que podem ser desde a dor miofascial (nos músculos), até uma cistite intersticial (que tem sin-tomas semelhantes à infecção urinária) ou uma endometriose, doença caracteri-zada pela presença de endotélio (tecido que reveste a parte interna do útero) em outros órgãos, o que leva a inflamações frequentes.

Automedicar-se não é o ideal para sanar dores pélvicas, e sim procurar por uma avaliação médica,

não deixando a dor chegar ao estágio

crônico

“Além da história clínica da paciente e de um exame físico detalhado, às vezes é necessária a realização de videolaparos-copia diagnóstica”, acrescenta a médica. O tratamento, continua, irá depender da causa da dor crônica e deverá ser multi-profissional, sendo indicadas abordagens psicoterápicas, fisioterápicas e farmacoló-gicas, a depender de cada caso. l