Separados pela distância e unidos pelo amor

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Foi através de um namoro escondido e marcado pela distancia que deu origem a família de dona Maria de Jesus Alves Vieira e Seu Francisco Francimar Alves Vieira. Dona Maria relatou que mesmo com a proibição do seu pai, eles namoraram escondido desde a adolescência, porém, o fato de Seu Francisco ter saído da cidade para o campo, permitia que eles se reencontrassem apenas uma vez por ano, mas mesmo assim, anos depois eles perceberam que o amor que os uniam era tão forte e verdadeiro que não suportariam mais aquela distancia e resolveram fugir para a comunidade de Mucambim em Saboeiro –CE, onde moram até hoje levando uma vida simples, cercada de obstáculos, mas felizes pela escolha que fizeram. No entanto, as coisas por ali nunca foram tão fáceis como hoje. A comunidade Mucambim fica situada bem próxima a Saboeiro- CE, e a falta de água na comunidade sempre foi um grande problema. Por estar situada em uma região alta, o acesso a água já foi bem mais difícil. Apesar das inumeras adversidades existentes desde o inicio do povoamento, o grande desafio desse povo foi mesmo a conquista daquela terra. Em meados das décadas de 70 e 80 quando as famílias ainda chegavam e começavam a se formar como comunidade, iniciou-se uma grande batalha na justiça para legitimar o direito deles sobre aquelas terras. Os primeiros proprietários, Sr. Pedro Bastos e seu cunhado, sempre mantiveram domínio de toda a terra, por um lado, Sr. Pedro, sertanejo de bom coração e sempre acolhedor recebia os que ali iam chegando, por outro lado, seu cunhado, homem de personalidade mais forte sempre tentava lançar seu domínio em todo o territorio, porém o cunhado do Sr. Pedro Bastos sempre quiz apropriar-se de toda a terra, mas com a ajuda do Sr. Pedro que já não despertava tanto interesse pelo uso da terra e da persistência daquele povo, conseguiram provar na justiça que eram os donos por direito da parte antes pertencente ao Sr. Pedro e assim, em 26 de janeiro de 2001 eles foram proclamados proprietários legais daquelas terras, nascendo ali a livre e modesta comunidade Mucambim. Desde aquela época a agricultura era a única fonte de renda dos moradores da comunidade e o processo do manejo agrícola era exatamente Ceará Ano 6 | nº 983 | Novembro | 2012 Saboeiro - Ceará Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Separados pela distancia e unidos pelo amor 1 Dona Maria com seus netos ao lado da cisterna do P1MC Seu Francisco e Dona Maria

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Foi através de um namoro escondido e marcado pela distancia que deu origem a família de dona Maria de Jesus Alves Vieira e Seu Francisco Francimar Alves Vieira. Dona Maria relatou que mesmo com a proibição do seu pai, eles namoraram escondido desde a adolescência, porém, o fato de Seu Francisco ter saído da cidade para o campo, permitia que eles se reencontrassem apenas uma vez por ano, mas mesmo assim, anos depois eles perceberam que o amor que os uniam era tão forte e verdadeiro que não suportariam mais aquela distancia e resolveram fugir para a comunidade de Mucambim em Saboeiro –CE, onde moram até hoje levando uma vida simples, cercada de obstáculos, mas felizes pela escolha que fizeram.

No entanto, as coisas por ali nunca foram tão fáceis como hoje. A comunidade Mucambim fica situada bem próxima a Saboeiro- CE, e a falta de água na comunidade sempre foi um grande problema. Por estar situada em uma região alta, o acesso a água já foi bem mais difícil. Apesar das inumeras adversidades existentes desde o inicio do povoamento, o grande desafio desse povo foi mesmo a conquista daquela terra. Em meados das décadas de 70 e 80 quando as famílias ainda chegavam e começavam a se formar como comunidade, iniciou-se uma grande batalha na justiça para legitimar o direito deles sobre aquelas terras. Os primeiros proprietários, Sr. Pedro Bastos e seu

cunhado, sempre mantiveram domínio de toda a terra, por um lado, Sr. Pedro, sertanejo de bom coração e sempre acolhedor recebia os que ali iam chegando, por outro lado, seu cunhado, homem de personalidade mais forte sempre tentava lançar seu domínio em todo o territorio, porém o cunhado do Sr. Pedro Bastos sempre quiz apropriar-se de toda a terra, mas com a ajuda do Sr. Pedro que já não despertava tanto interesse pelo uso da terra e da persistência daquele povo, conseguiram provar na justiça que eram os donos por direito da parte antes pertencente ao Sr. Pedro e assim, em 26 de janeiro de 2001 eles foram proclamados proprietários legais daquelas terras, nascendo ali a livre e modesta comunidade Mucambim.

Desde aquela época a agricultura era a única fonte de renda dos moradores da comunidade e o processo do manejo agrícola era exatamente

Ceará

Ano 6 | nº 983 | Novembro | 2012Saboeiro - Ceará

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Separados pela distancia e unidos pelo amor

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Dona Maria com seus netos ao lado da cisterna do P1MC

Seu Francisco e Dona Maria

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como em quase todo o semiárido: as famílias brocavam e queimavam a terra aguardando as próximas chuvas, imaginando eles que daquela forma teriam uma colheita mais farta. Mas como a água da chuva em quase todo o semiárido brasileiro esta cada vez menos presente e com períodos de estiagem cada vez mais longos, a única fonte de água utilizada tanto para uso doméstico como para uso produtivo vinha do açude de Saboeiro, a aproximadamente 5 Km da comunidade.

Plantar era praticamente impossível, mas como a força do povo sertanejo sempre foi exemplo de superação e resistência, eles conseguiram resistir a aquela situação até o dia em que finalmente chegou o primeiro beneficio executado pela ASA

(Articulação no Semiárido): o P1MC (Programa Um Milhão de Cisternas), que trouxe uma cisterna de placa com capacidade de armazenar até 16.000 litros de água da chuva para cada uma das 30 familias que compõem aquela comunidade. Mas aquelas famílias ainda assim passavam grandes dificuldades, pelo simples fato de não conseguirem produzir alimentos para consumo, pois a água das cisternas de placa ainda não eram suficiente para cultivar plantas nem para cuidar de pequenos animais. Foi ai que o Instituto Elo Amigo chegou com o beneficio de uma cisterna calçadão para a família de Dona maria e para outras famílias da comunidade Mucambim através do P1+2.

Logo com a chegada das cisternas calçadão vieram os projetos das agroflorestas e das horticulturas executadas pela Cáritas Diocesana de Iguatu. O Instituto Elo Amigo ainda conseguiu beneficiar a comunidade com a instalação de uma BAP (Bomba D'água Popular). Também está sendo implantada na comunidade uma casa de sementes que segundo dona Maria vai trazer muitos benefícios e segurança para os agricultores, pois o fato de não existir um local apropriado para armazenar e estocar as sementes, fazia com que as famílias vendessem toda a sua produção. Hoje a comunidade Mucambim já demonstra que está se recuperando de anos de devastação ambiental. Todas as famílias produzem o suficiente para seu consumo e até mesmo para a comercialização. Além de toda essa diversidade agrícola produzida na comunidade, eles também iniciaram a criação de pequenos animais como caprinos, galinhas e porcos. Dona Maria ainda relembra que até aqueles que foram embora da região em busca de uma vida melhor na cidade, estão retornando para a comunidade e encontrando um Mucambim mais digno, com potencialidade e inúmeras possibilidades.

“Hoje posso ver meu netos crescerem fortes, saudáveis e felizes perto de nós. Toda a família está reunida e todo domingo a casa se enche de alegria com a família junta de novo”, finaliza dona Maria.

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Dona Maria e Seu Francisco utilizando a BAP

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