Sequência didática para oficina Ademir Souza Freire · Ano (série) Terceiro ano do Ensino Médio...
Transcript of Sequência didática para oficina Ademir Souza Freire · Ano (série) Terceiro ano do Ensino Médio...
Sequência didática para oficina “O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula”
Ademir Souza Freire
1. Tema
“A imigração como ignição da substituição da mão-de-obra escrava pela europeia”
2. Justificativa
Abordar de forma sucinta como se formaram os núcleos coloniais, dessa forma contribuindo para que elementos como a miscigenação e o “branqueamento” fossem criados/transformados no Brasil.
3. Objetivos
Levar o aluno a compreender que, com subsídio do governo brasileiro, ocorreu a substituição do trabalho escravo negro pelo trabalho assalariado europeu, contribuindo de forma direta e/ou indireta para o “branqueamento” do Brasil.
4. Componente Curricular
“História – Brasil República - Reformas Urbanas na cidade de São Paulo em fins do século XIX e início do XX”.
5. Ano (série)
Terceiro ano do Ensino Médio
6. Tempo previsto (Número de aulas)
Quatro aulas
7. Desenvolvimento e conteúdo das atividades
Através de exposição de documentos (imagens, textos e gráficos) para análise e compreensão, abordarei como a chegada do europeu transformou o cotidiano paulista.
Primeira atividade (aula)
Analisar através dos seguintes mapas e gráficos a quantidade de imigrantes que chegaram ao Brasil no período abordado.
Documento 1
Documento 2
Documento 3
Não deixe de explicitar em cada uma das atividades:
Todos os materiais que você irá utilizar e as suas referências (quando for
Imigração no Brasil, por nacionalidade
Nacionalidade
1884-1893
Alemães 22778
Espanhóis 113116
Italianos 510533
Japoneses -
Portugueses 170621
Sírios e turcos 96
Outros 66524
Total 883668
Não deixe de explicitar em cada uma das atividades:
Todos os materiais que você irá utilizar e as suas referências (quando for
Imigração no Brasil, por nacionalidade - períodos decenais 1884-1893 a 1924
Efetivos decenais
1894-1903 1904-1913 1914-1923
6698 33859 29339
102142 224672 94779
537784 196521 86320
- 11868 20398
155542 384672 201252
7124 45803 20400
42820 109222 51493
852110 1006617 503981
Todos os materiais que você irá utilizar e as suas referências (quando for
1893 a 1924-1933
1923 1924-1933
61723
52405
70177
110191
201252 233650
20400
164586
503981 717223
Segunda atividade (aula)
Analisar através dos seguintes documentos como o governo brasileiro subsidiou a vinda de imigrantes para o Brasil.
Documento 1
Documento 2
Documento 3
Documento 4
Terceira atividade (aula)
Analisar através das tabelas e textos como ocorreu uma tentativa de “branqueamento” travestida de colonização.
Documento 1
Texto 1
Os números são reveladores. Pelo censo de 1872, os negros (pretos e mulatos) correspondiam a 37,2% da população da cidade de São Paulo. Já em 1893, o percentual era de 11,1% e, pelas estimativas de 1934, esse percentual declinava para 8,5%. Portanto, o desaparecimento do negro, ou branqueamento da população, era um dos fenômenos estatísticos mais evidentes do quadro racial de São Paulo. Diversos observadores estrangeiros descreveram o fenômeno em suas viagens pelo estado. O inglês Maurício Lamberg foi um desses casos: em seu diário, fez questão de registrar que a mestiçagem desencadeava a supressão progressiva do negro no estado:
“Há muito quem afirme que a raça negra aqui está desaparecendo, isto custa acreditar, quando se considera a proliferação das famílias negras. Pode-se admitir, que com o tempo se extingue; mas não por morte, sim pelo cruzamento com caboclos, mulatos e brancos. (Lamberg, 1896:50)
Pierre Denis, um francês que conheceu São Paulo no início do século XX, também endossava, empiricamente, a tese do branqueamento: "apesar de não haver estatísticas, parece certo que a população está hoje em plena regressão no estado de São Paulo. O fim da escravatura levou á eliminação rapida do operario negro (Denis, 19?? [1909]:158).
Segundo este autor, a classe dirigente paulista "empenhava-se para que a população branca argumentasse" (ibidem:167). Realmente, esta foi a tônica da política racial do estado. Entre 1890 e 1929, entraram em São Paulo 1.817.261 imigrantes brancos. A europeização demográfica da cidade chegou ao ponto de, em 1897, haver dois italianos para cada brasileiro.”
DOMINGUES (2002)
Documento 2
Documento 3
Documento 4
Documento 5
Documento 6
Documento 7
Documento 8
Texto 2
“Embora o déficit afetasse drasticamente o "estoque" negro entre 1918 e 1928 (em proporção que oscilava de 1,93% a 4, 8% por ano), não existiam elementos suficientes para se fazer qualquer previsão segura e irrefutável
quanto ao futuro étnico do estado. Alfredo Ellis se equivocou em suas análises, porque as razões do saldo vegetativo negativo do negro não era sua pretensa inferioridade biológica, mas uma decorrência dos problemas sociais que assolavam este povo, dos quais os principais eram: as condições desumanas de moradia, as doenças, o desemprego, o alcoolismo, o abandono do menor, dos velhos, a mendicância, subnutrição, criminalidade e a mortalidade infantil. Estimava-se que três quintos da população negra da capital nessa época vivia em estado de penúria, "promiscuidade e desamparo social" (Fernandes, 1978:147). Assim, os dados coligidos permitiam apenas termos uma certeza: a desigualdade racial nos indicadores da saúde pública quanto aos índices de natalidade e mortalidade (tanto infantil quanto adulta) era abissal, penalizando terrivelmente a população negra em São Paulo no início do século XX.”
DOMINGUES (2002)
Texto 3
“3. A Ideologia do Branqueamento no Meio Negro
3.1. O branqueamento de ordem moral e/ou social
É plausível assinalar que o ideal de branqueamento entrou na ofensiva em São Paulo no início do século XX, sendo desenvolvido intensamente pelos publicistas e alcançando, entre outras coisas, penetração no meio negro. Como assinalamos anteriormente, neste instante analisaremos a dimensão ideológica do branqueamento.
Para legitimar sua dominação, parafraseando Karl Marx, a "raça branca" precisa que as demais raças e grupos étnicos, inclusive os negros, assimilem seus valores e passem a se comportar, pensar, sentir e agir conforme suaideologiaracial.5 Por isso, a hipótese desenvolvida no curso deste artigo é a seguinte: uma fração da população negra em São Paulo no início do século XX aceitou conceber-se nos moldes impostos pela ideologia racial da elite branca, uma vez que avaliavam, em larga escala, o processo de branqueamento como fenômeno natural e inevitável. A análise de uma das principais lideranças da comunidade negra da época é sintomática:
Até é lícito afirmar se há em São Paulo, muito mais acentuada que no resto do Brasil, uma ideologia no tocante à população escura, preta; [...] a tendência é, por conseguinte, a branquificação, fato não só histórico como biológico, concorde ao comportamento tradicional da sociedade brasileira. Há, portanto, um entendimento tácito, de absorção das pequenas minorias raciais e de, por meio de cruzamentos até estimulados, diluir o sangue negro. Em pouco mais de dois séculos, talvez, esteja concluído o processo assimilador [...]. (Raul
Joviano do Amaral, O Negro na População de São Paulo apud Fernandes, 1978: 112)”
Quarta atividade (aula)
Atividade avaliativa:
Após as abordagens das aulas/atividades feitas pelo professor tais quais números de imigrantes, incentivo do governo e a tentativa de “branqueamento” os alunos terão que responder (em 45 minutos – 1 aula) as atividades propostas abaixo:
1 ) Na ótica da economia, por que a colonização teve foco no Estado de São Paulo?
2 ) Liste a nacionalidade de imigrantes que deram entrada no Brasil no primeiro mapa apresentado.
3) Como o governo brasileiro incentivava/subsidiava a vinda de imigrantes para o Brasil? Justifique.
4) Com base nos documentos apresentados, você diria que houve, de fato, a substituição do trabalho escravo pelo trabalho “livre”? Justifique sua resposta.
5) Como o governo brasileiro se utilizava de propaganda para atrair imigrantes?
6) Em sua opinião, houve uma tentativa de “branquear” o país, ou os números são apenas resultados da natural miscigenação?
8. Bibliografia
JOSÉ. C. Nem tudo era Italiano. 3 ed. São Paulo. Fapesp, 2008
PETRÔNIO, José Domingues. Negros de almas brancas? A ideologia do branqueamento no interior da comunidade negra em São Paulo, 1915-1930. Rio de Janeiro. Vol. 24. No 3.
Acervo iconográfico e documental do APESP