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SEQUÊNCIA CLÍNICA DE SELANTE OCLUSAL: UMA VISÃO DETALHADA DE TODO PROCEDIMENTO.RELATO DE CASO

INTRODUÇÃO

As faces oclusais, principalmente em molares permanentes, apresentam fendas profundas entre cúspides adjacentes, capazes de acumular biofilme de difícil remoção após sua maturação. Uma abordagem mais abrangente na prevenção da doença cárie conta com o uso de um selante de fissura, agindo como uma barreira física entre a microflora da fissura e o ambiente oral. Segundo a American Dental Association (ADA), o uso de selantes oclusais são uma forma segura e efetiva de prevenir lesões cariosas, apresentando resultados mais eficazes que o uso de vernizes fluoretados. Dentre os diversos materiais disponíveis no mercado, as resinas fluidas se destacam por possuírem propriedades favoráveis, como baixa viscosidade, baixo módulo de elasticidade e fácil manipulação.

Esta sequência laboratorial tem como objetivo demonstrar detalhadamente o passo a passo do selamento não-invasivo de fissuras oclusais com a resina composta fluida Wave Flow, da SDI. É válido ressaltar que este material possui uma característica muito interessante, que é a de liberação contínua de flúor. Ou seja: além de possibilitar efetiva formação de uma barreira mecânica que impedirá o acúmulo de biofilme nas fissuras oclusais, a liberação constante do flúor apresenta-se como um diferencial muito desejado, visto que o objetivo último desde procedimento é evitar o surgimento ou a propagação da lesão cariosa.

ALVARO AUGUSTO JUNQUEIRA JÚNIOR

Graduado em Odontologia pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG).

Especialista, Mestre e Doutor em Dentística pela Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP).

Dentista Associado na MC Première Clínica Integrada, Ribeirão Preto, SP.

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PASSO-A-PASSO1. Correta indicaçãoAntes de tudo, é importante deixar claro que o selamento de fissuras oclusais trará benefícios para grupos específicos de pacientes. Devemos considerar previamente a idade, a anatomia oclusal, os hábitos de higiene oral e de dieta do paciente, bem como sua assiduidade nas consultas de profilaxia. Pacientes com dificuldades em manter adequada higiene oral, que consomem açúcares e carboidratos em grandes quantidade e frequência, com histórico de cárie e com anatomias oclusais que apresentam fissuras muito profundas provavelmente se beneficiarão do uso de selantes oclusais. O uso de radiografias é importante para avaliarmos com mais segurança se não há desmineralização a nível dentinário. Apenas a ausência de lesão cariosa ou seu confinamento em esmalte permitem o emprego da técnica não-invasiva (sem desgaste dental) de selamento de fissuras.

2. Isolamento do campo operatórioIdealmente, o campo operatório deve ser isolado com dique de borracha. Algumas situações clínicas dificultam muito esta prática, como dentes muito expulsivos, pacientes com abertura bucal reduzida, crianças, etc. A realização deste procedimento sob isolamento relativo do campo operatório é possível, mas é muito dependente da experiência e da destreza do profissional.

3. Profilaxia do elementoEsta é, talvez, a etapa mais negligenciada de todos os procedimentos adesivos em Odontologia. Considerando a técnica do selamento de fissuras sem qualquer desgaste dentário, a limpeza adequada da superfície torna-se ainda mais importante. Esta etapa pode ser feita com jato de bicarbonato ou com o uso de escova e pasta profiláticas.

4. Procedimentos adesivosInicialmente, o esmalte deve ser condicionado com ácido fosfórico 35-37% por, no mínimo, 30 segundos. Ao lavá-lo, procure utilizar spray de água e ar por 30 segundos, que possibilita limpeza superior ao uso de água, apenas. O dente deve ficar completamente seco caso a área condicionada seja somente em esmalte. A aplicação do sistema adesivo, assim como a remoção de seu excesso, devem ser feitas com o auxílio de um microbrush ou um pincel. O pincel possibilita uma aplicação mais delicada e uniforme da camada adesiva. Dê preferência ao uso de um adesivo puro, sem solventes. Caso opte por um adesivo que contenha solventes, lembre-se de evaporá-los com gentil jato de ar, por pelo menos 10 segundos. Evite tentar afinar a camada adesiva com o uso de jatos de ar, pois pode ocorrer incorporação inadvertida de bolhas.

5. Aplicação da resina fluidaEm seguida, deve ser feita a aplicação da resina fluida Wave Flow sobre a camada adesiva ainda não polimerizada. Utilize um instrumento fino para garantir bom espalhamento e penetração nas fissuras. Tanto a fotopolimerização conjunta do adesivo e da resina fluida quanto a fotopolimerização separada destes componentes possui respaldo na literatura. Entretanto, alguns artigos relatam menores chances de microinfiltrações quando a fotopolimerização é conjunta, além de ser uma técnica mais simples (economia de um passo clínico). Por fim, é interessante aplicar um gel hidrossolúvel para bloquear o contato

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Aspecto oclusal inicial do elemento 48 (já extraído: sequência laboratorial) sob isolamento absoluto com lençol de borracha.

Aplicação de pasta profilática com uso de escova de Robson.

Fig 1. Fig 2.

Profilaxia da face oclusal. Aspecto da face oclusal devidamente limpa.

Fig 3. Fig 4.

Aplicação de ácido fosfórico a 35%. O ácido deve agir no esmalte por pelo menos 30 segundos, devendo penetrar corretamente em todas as reentrâncias. Não condicionar por mais de 60 segundos.

Fig 5. Fig 6.

da camada mais superficial com o oxigênio, possibilitando fotopolimerização efetiva da camada inibida. A resina fluida Wave Flow libera flúor, característica interessante do ponto de vista preventivo

6. Checagem dos contatos oclusaisCaso alguma região tenha ficado muito espessa, contatos prematuros podem ocorrer. O ajuste oclusal é uma etapa importante nesta situação. Não havendo interferências oclusais, este passo é dispensado e o procedimento está finalizado. O polimento final fica a critério do clínico, sendo indispensável somente quando há necessidade de ajuste oclusal.

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Lavagem copiosa com spray de água e ar por 30 segundos.

Secagem vigorosa do esmalte condicionado.

Fig 7. Fig 8.

Escolha de adesivo hidrofóbico. É interessante optarmos por adesivos sem solventes.

Uso de pincel para aplicação de camada fina do adesivo. Os excessos podem ser removidos com o auxílio do próprio pincel ou de um microbrush. Devemos evitar o uso de jatos de ar na tentativa de afinar a camada adesiva, de modo a evitar a inadvertida incorporação de bolhas.

Fig 9. Fig 10.

Aspecto da face oclusal após aplicação de fina camada de adesivo hidrofóbico.

Aplicação de resina fluida (Wave Flow, SDI) sobre o adesivo.

Fig 11. Fig 12.

Uso de instrumento de ponta fina para facilitar o correto espalhamento da resina fluida. Os excessos podem ser removidos com o auxílio de um pincel ou um microbrush.

Fotopolimerização por 20 segundos.Fig 13. Fig 14.

ACOMPANHAMENTOO elemento dental selado deve ser acompanhando em todas as consultas de rotina. Os procedimentos de profilaxia devem ser feitos, preferencialmente, com escovas e pastas profiláticas, a fim de manter a lisura superficial. Qualquer sinal de microinfiltração deve ser detectado rapidamente, a fim de se evitar a formação de lesão cariosa secundária. A melhor maneira de se controlar estes casos é com o uso de fotografias oclusais nas sessões de retorno, com a comparação visual aproximada destas áreas.

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Leitura complementar recomendada:Corona SA, Borsatto MC, Garcia L, Ramos RP, Palma-Dibb RG. Randomized, controlled trial comparing the retention of a flowable restorative system with a conventional resin sealant: one-year follow up. Int J Paediatr Dent. 2005 Jan;15(1):44-50.

Mesa TR, Xu X, Cehreli ZC, Fournier SE, Brashier CT, Yu Q, Townsend JA. Effect of Light Cure Methods for Intermediate Adhesive Layer on Microleakage of Sealants. An in Vitro Study. J Clin Pediatr Dent. 2019;43(4):263-268.

Okunseri CE, Hodgson B, Okunseri E, Garcia RI, Visotcky A, Szabo A. Dental sealants and restorative treatment for first molars among medicaid enrollees. Community Dent Oral Epidemiol. 2020 Jul 6. doi: 10.1111/cdoe.12560. Epub ahead of print. PMID: 33020929.

Yansane A, Listl S, Dawda D, Brandon R, White J, Spallek H, Walji MF, Kalenderian E. Increasing value, reducing waste: tailoring the application of dental sealants according to individual caries risk. J Public Health Dent. 2020 Sep 9. doi: 10.1111/jphd.12396. Epub ahead of print. PMID: 32901955.

Aspecto oclusal após a primeira fotopolimerização. Neste momento a camada superficial da resina não tem adequada conversão, pois o processo de fotopolimerização é inibido pelo contato com o oxigênio.

Aplicação de gel hidrossolúvel para bloqueio do contato da camada superficial com o oxigênio.

Fig 15. Fig 16.

Fotopolimerização final por 40 segundos.

Aspecto oclusal final.Fig 17. Fig 18.

Detalhes em fotografia aproximada do selamento das fissuras, vista oclusal.

Detalhes em fotografia aproximada so selamento das fissuras, vista mésio-oclusal.

Fig 19. Fig 20.

Microscopia óptica por reflectância, mostrando boa adaptação do conjunto adesivo-resina fluida. Repare as áreas brancas, desmineralizadas pelo início do processo carioso.

Microscopia óptica convencional. Repare que a área desmineralizada está restrita ao esmalte. Devido à refração da luz, esta área apresenta-se escurecida.

Fig 21. Fig 22. Agradecimentos especiais à Profa. Drª Regina Guenka Palma Dibb, da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FORP-USP), pelas microscopias.