Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente...

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Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia 6 a 9 de Outubro 2010, Porto: Faculdade de Letras (Universidade do Porto) ISBN 978-972-99436-5-2 (APG); 978-972-8932-92-3 (UP-FL) Cristiana Martinha, FLUP/CEGOT ~ [email protected] Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico Ensino da Geografia e Processo de Bolonha 1. Introdução É nosso objectivo apresentar alguns dos dados e conclusões a que chegamos com a nossa análise a manuais escolares de Geografia – 3.º ciclo do Ensino Básico português com o objectivo de conhecer a forma como metodologias de ensino mais activas e orientadas para o desenvolvimento de competências estão por estes a ser implementadas. De acordo com investigações recentes (De Ketele & Roegiers, 2004 e Peyser, Gérard & Roegiers, 2006) os manuais escolares, ao contrário do que frequentemente se considera, podem ser um elemento de efectiva aplicação prática da Pedagogia por Competências e de integração de adquiridos e não um “obstáculo” à sua aplicação como por vezes é considerado, pois tal como referem Peyser, Gérard & Roegiers “the traditional textbook image is just about the opposite of the integration concept”. É exactamente neste contexto que De Ketele & Roegiers referem-se à necessidade de constituição e manuais integradores que têm etapas específicas de construção e que visam promover o desenvolvimento de competências nos alunos para que se destinam. Uma pesquisa nesta linha de investigação está presentemente a ser desenvolvida pelo projecto “Manuais, e-manuais e actividades do alunos” para várias disciplinas escolares, entre as quais se inclui a Geografia.

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Actas do XII Colóquio Ibérico de Geografia

6 a 9 de Outubro 2010, Porto: Faculdade de Letras (Universidade do Porto) ISBN 978-972-99436-5-2 (APG); 978-972-8932-92-3 (UP-FL)

Cristiana Martinha, FLUP/CEGOT ~ [email protected]

Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente

competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em

manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino

Básico Ensino da Geografia e Processo de Bolonha

1. Introdução

É nosso objectivo apresentar alguns dos dados e conclusões a que chegamos com a

nossa análise a manuais escolares de Geografia – 3.º ciclo do Ensino Básico português com o

objectivo de conhecer a forma como metodologias de ensino mais activas e orientadas para o

desenvolvimento de competências estão por estes a ser implementadas.

De acordo com investigações recentes (De Ketele & Roegiers, 2004 e Peyser, Gérard &

Roegiers, 2006) os manuais escolares, ao contrário do que frequentemente se considera, podem

ser um elemento de efectiva aplicação prática da Pedagogia por Competências e de integração

de adquiridos e não um “obstáculo” à sua aplicação como por vezes é considerado, pois tal como

referem Peyser, Gérard & Roegiers “the traditional textbook image is just about the opposite of

the integration concept”.

É exactamente neste contexto que De Ketele & Roegiers referem-se à necessidade de

constituição e manuais integradores que têm etapas específicas de construção e que visam

promover o desenvolvimento de competências nos alunos para que se destinam.

Uma pesquisa nesta linha de investigação está presentemente a ser desenvolvida pelo

projecto “Manuais, e-manuais e actividades do alunos” para várias disciplinas escolares, entre as

quais se inclui a Geografia.

2 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Deste modo, com a aplicação em Portugal de um currículo “por competências” definido

pelo DL n.º 6/2001, pelo Currículo Nacional do Ensino Básico (2001) e pelas Orientações

Curriculares da Geografia – 3.º ciclo (2001), para o caso da Geografia, importa reflectir neste

momento sobre a sua concretização ao nível dos manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo.

Deste modo, com o objectivo de alargar o objecto de análise e as conclusões a que o

projecto já referido chegou, elegemos para a nossa análise um conjunto de 18 manuais

escolares de Geografia – 3.º ciclo procurando contemplar aqueles que foram publicados como

colecção completa (de 7.º, 8.º e 9.º anos) e adoptáveis no ano lectivo 2009/2010. Seguidamente

procedemos à sua análise utilizando uma base de dados especificamente construída para o

efeito (em FileMaker) onde utilizamos a mesmas categorias de análise do projecto referido.

Após o registo da nossa análise às actividades dos manuais na base de dados (onde

analisamos em cada projecto pedagógico – o manual escolar em si; o caderno de actividades e,

nalguns casos, o auxiliar prático) procedemos à sua análise estatística e de conteúdo.

Entre as várias conclusões a que chegamos com a nossa análise destacamos as

seguintes em particular:

- o número de actividades que cada manual escolar (manual escolar + caderno de

actividades + auxiliar) possui varia muito de manual escolar para manual escolar, havendo casos

em que os valores num manual são cerca do dobro do de outro, o que demonstra diferentes

abordagens que os autores têm à questão do uso de actividades nos manuais escolares;

- em termos gerais, dominam nos manuais escolares portugueses de Geografia – 3.º

ciclo, actividades muito simples, que exigem pouco cognitivamente dos alunos e que são pouco

“desafiantes” para os alunos. As actividades mais exigentes que apelam à resolução de

problemas, trabalho em projecto, debate e pesquisa têm um peso nos manuais escolares que

oscila entre os 1% e os 8%, consoante o manual escolar.

- apesar da tendência geral explicitada no ponto anterior, através da nossa análise

conseguimos identificar os manuais escolares (ou colecções de manuais escolares) mais e

menos “equilibrados” no que à distribuição dos diferentes tipos de questões diz respeito e,

consequentemente, aqueles que se adaptam mais e menos à aplicação da Pedagogia por

Competências no âmbito do Ensino da Geografia, entendendo-se que a presença nos manuais

de actividades mais activas e mais exigentes cognitivamente, torna esse manual mais

propício/facilitador do desenvolvimento de competências geográficas.

Como corolário desta investigação, apresentaremos uma reflexão em torno da

adequação dos manuais escolares de Geografia aos princípios da Pedagogia por Competências,

baseada nas nossas conclusões e notas auxiliares que fomos coligindo ao longo do processo de

análise de todos os manuais escolares seleccionados para investigação (ex.: o facto de quase

todos estes manuais escolares possuírem revisão científica mas poucos possuírem revisão

pedagógica).

Nesta reflexão/conclusão iremos ainda explicitar como pretendemos dar continuidade a

esta investigação, nomeadamente através de resultados de inquéritos de opinião a professores

de Geografia sobre os manuais escolares de Geografia, e especificamente, sobre a sua

adequação aos princípios da Pedagogia por Competências.

Esperamos com a apresentação desta investigação reavivar a discussão, no âmbito da

Didáctica da Geografia, em torno da aplicação prática da Pedagogia por Competências ao

Ensino da Geografia e em torno da concepção e uso dos manuais escolares de Geografia no

processo de ensino-aprendizagem.

Cristiana Martinha 3

XII Colóquio Ibérico de Geografia

2. A aplicação da Pedagogia por Competências pelos manuais escolares

No âmbito da investigação sobre manuais escolares, existem várias linhas de pesquisa

pelas quais podemos realizar investigação neste domínio. Aquele que actualmente recebe mais

atenção por parte dos investigadores relaciona-se com a sua dimensão de “metodologia de

ensino”, ou seja, a análise sobre a concordância (ou não) das orientações pedagógicas que

presidiram à construção dos manuais escolares e a realidade que efectivamente esses manuais

escolares veiculam.

Importa aqui destacarmos as palavras de Roegiers & De Ketele que defendem que a

“problemática da introdução de uma pedagogia da integração nos manuais escolares se

apresenta de uma forma diferente de como era colocada para os currículos, para as práticas de

classe ou para as práticas de avaliação das aquisições” (ROEGIERS e DE KETELE, 2004:169),

indicando as etapas para a constituição de um manual integrador, que segundo estes autores

são (ROEGIERS e DE KETELE, 2004:170): definição de algumas competências; inserção de

algumas actividades de integração; eliminação dos conteúdos supérfluos; inserção de

actividades específicas às competências e reestruturação completa do manual escolar.

Neste domínio, em Portugal assume grande importância o projecto “Manuais, e-manuais

e actividades do aluno” da Universidade Lusófona e do CEIEF. Aliás, a própria existência de

investigação organizada em grupo nesta área mostra claramente a importância que a

comunidade científica, os professores e a sociedade atribuem a esta problemática.

Profundamente relacionada com esta questão da promoção do uso de metodologias

“mais activas” pelos manuais escolares, surgem alguns estudos que visam entender de que

forma os manuais escolares se adequam a uma ABRP - Aprendizagem Baseada na Resolução

de Problemas (que, do ponto de vista teórico, se relaciona amplamente com a Pedagogia por

Competências), tal como o de Laurinda Leite, Cíntia Costa e Esmeralda Esteves num estudo

intitulado de "Os manuais escolares e a aprendizagem baseada na resolução de problemas: um

estudo centrado em manuais escolares de Ciências Físico-Químicas do ensino básico" (LEITE,

COSTA e ESTEVES, 2008).

Neste âmbito podemos destacar também os nomes de Peyser, Gerard e Roegiers (2006)

que defendem que "a major tend in current pedagogic thinking and in its corresponding

implementing practices, is based on the fundamental concepts of integration and competence”.

Isto, configura então como um dos pontos-chave para a compreensão da nossa pesquisa –

perceber como é que um recurso pedagógico (o principal como é o manual escolar) pode ser um

elemento de promoção/introdução de uma determinada corrente pedagógica no processo de

ensino-aprendizagem.

3. A (In)Competência dos manuais escolares de Geografia

Após esta breve contextualização, iremos de seguida apresentar, justificar e discutir os

parâmetros/categorias de análise que utilizaremos na nossa análise de manuais escolares de

Geografia, numa tentativa de percebermos a natureza metodológica que lhes está subjacente.

Aqui, importa esclarecer que optamos por analisar manuais escolares de Geografia

actualmente em uso no 3.º ciclo do Ensino Básico e seus respectivos “Cadernos de Actividades”

por os considerarmos essenciais numa análise da “metodologia de ensino” implícita num dado

4 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

manual e porque actualmente estes últimos praticamente são parte integrante do manual com a

introdução da ideia de “projecto pedagógico”, no que à construção de manuais escolares diz

respeito, defende.

Como categorias de análise decidimos utilizar aquelas definidas pelo projecto “Manuais,

e-manuais e actividades do aluno”, na medida em que vão ao encontro dos nossos objectivos de

pesquisa.

Contudo, decidimos introduzir duas alterações na nossa análise: enquanto o projecto

supracitado analisava o 1.º, 2.º e 5.º manual escolar mais adoptado de cada disciplina (no 7.º e

10.º anos de escolaridade), optamos por escolher os manuais não pelo critério de “venda” e de

“ano de escolaridade”, mas sim os que no contexto do 3.º ciclo do Ensino Básico apresentam

uma sequência completa de “colecção” (ou seja, cujo título está actualmente à venda para o 7.º,

8.º e 9.º anos), sendo este facto sinal do sucesso na adopção pelas escolas da colecção e dado

que permite aceder também a uma diversidade editorial/autoral considerável. Este diferente

critério de escolha dos manuais escolares a analisar permitir-nos-á completar resultados do

projecto obtidos para o caso da Geografia.

Quanto aos manuais escolares em análise, é importante sublinhar que os autores destes

manuais e demais dados identificativos destes estão identificados na base de dados de análise.

De sublinhar que os manuais escolares analisados de 7.º ano datam de 2006; os de 8.º ano

datam de 2007 e os de 9.º ano datam de 2008 e que todos eles incluem pelo menos um “caderno

de actividades” para os alunos e eventualmente um “auxiliar” que também analisamos.

Importa ainda referir que a maioria apresenta revisores/consultores científicos, mas

apenas em três projectos encontramos referência a revisão pedagógica (quadro 1).

Quadro 1 – Manuais Escolares de Geografia (3.º ciclo) analisados e respectiva revisão pedagógica e científica

Sigla Título Autor(es) Revisor(es) Científico(s) Revisor(es) Pedagógico(s)

MA7 Faces da Terra 7 Isabel Ribeiro; Madalena Costa; M.ª

Eduarda Carrapa

Não apresenta Não apresenta

MA8 Faces da Terra 8 Isabel Ribeiro; Madalena Costa; M.ª

Eduarda Carrapa

Departamento de Geografia da FLUP Não apresenta

MA9 Faces da Terra 9 Isabel Ribeiro; Madalena Costa; M.ª

Eduarda Carrapa

Departamento de Geografia da FLUP Não apresenta

MB7 Espaço Geo 7 Fernando Santos; Francisco Lopes Prof.ª Doutora M. Elisa Preto Gomes; Dr.

António Manuel Pires; Associação Insular de

Geografia

Prof.ª Doutora M. Elisa Preto Gomes; Dr.

António Manuel Pires; Associação Insular

de Geografia

MB8 Espaço Geo 8 * Fernando Santos; Francisco Lopes Prof. Dr. António Pires; Prof. Dr. Francisco

Diniz Não apresenta

MB9 Espaço Geo 9 Fernando Santos; Francisco Lopes; [José

Silva Lobo - "auxiliar de estudo"]

Prof. Dr. António Pires; Prof. Dr. Francisco

Diniz

Não apresenta

MC7 Geografia - 7.º ano - Tema 1 e Tema 2 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma

Canavilhas

Não apresenta Não apresenta

MC8 Geografia - 8.º Ano - Tema 3 e Tema 4 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma

Canavilhas

Dulce Pimentel (Departamento de Geografia

da FCSH da UNL) para a volume do tema

"População e Povoamento" e José Afonso

Teixeira (Departamento de Geografia da

FCSH da UNL) para o volume do tema

"Actividades Económicas".

Não apresenta

6 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares

de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

MC9 Geografia - 9.º Ano - Temas 5/6 Cristina Domingos; Jorge Lemos; Telma

Canavilhas

José Manuel Lúcio (Departamento de

Geografia da FCSH da UNL)

Não apresenta

MD7 Fazer Geografia 7 Ana Gomes; Anabela Boto Maria José Soares Gomes Não apresenta

MD8 Fazer Geografia 8 Ana Gomes; Anabela Boto Paula Alexandra Malta - no manual surge

como "Docente da Universidade de Aveiro"

e no caderno de actividades como da

"Universidade do Porto".

Não apresenta

MD9 Fazer Geografia 9 Ana Gomes; Anabela Boto Paula Alexandra Malta (Docente da

Universidade de Aveiro)

Não apresenta

ME7 À Descoberta - Tema A e Tema B M.ª João Matos; Raul Castelão M.ª Catarina Ramos Herculano Cachinho

ME8 À Descoberta 8 - Tema C e Tema D Maria João Matos; Raul Castelão; [Magda

Garcia - do Dicionário Ilustrado]

Herculano Pinto Cachinho; Jorge Macaísta

Malheiros

Herculano Pinto Cachinho

ME9 À Descoberta - Tema E e Tema F M.ª João Matos; Raul Castelão Herculano Pinto Cachinho Herculano Pinto Cachinho

MF7 Viagens 7 - A Terra: Estudos e

Representações / O Meio Natural

Arinda Rodrigues; João Coelho Prof. Doutor Sérgio Claudino Prof. Doutor Sérgio Claudino

MF8 Viagens 8 Arinda Rodrigues; João Coelho José Manuel Simões Não apresenta

MF9 Viagens 9 Arinda Rodrigues; João Coelho José Manuel Simões Não apresenta

Nota: As designações, descrições e instituições dos revisores constam neste quadro da mesma forma que estão presentes nos manuais escolares analisados.

As categorias de análise que adoptamos do projecto “Manuais, e-manuais e actividades

do aluno” são as seguintes:

Quadro 2 – Categorias de análise dos manuais escolares do projecto “Manuais, E-manuais e

Actividades dos Alunos” e seus descritores (in DUARTE, CLAUDINO, SILVA, SANTO e CARVALHO,

2008:10-11).

Categorias de Análise dos Manuais Escolares Descritores

1. Actividades de Memorização e/ou Transposição

Indicar

Enumerar

Copiar

Distinguir

Listar

Localizar

Sublinhar

Transcrever

2. Exploração e Produção de Documentos

(interpretação de frases, gráficos, esquemas e resolução de

problemas com base num modelo apresentado)

Descrever

Caracterizar

Identificar

Exemplificar

Comparar

Classificar

Interpretar tabelas, esquemas,

imagens

3. Actividades de Reformulação

(definição de conceitos, resumos, sínteses, paráfrases,

outras)

Contar

Relatar

Comentar

Explicar

Explicitar

Corrigir

Alargar

Resumir

Reconstituir

Sintetizar

Transformar

4. Situações Problemáticas/Actividades

Experimentais/Projectos/Produção de Conhecimentos

Debater

Avaliar

Dinamizar/Participar em projectos

Pesquisar

A aquisição, organização e tratamento da informação foi registada inicialmente numa

base de dados construída para o efeito em FileMaker (figura 1), onde definimos uma parte inicial

para identificação do manual e seguidamente fizemos o descritivo de todos os descritores de

análise já referidos, bem como calculamos as percentagens de actividades de cada tipo de

questões, além de indicar um breve comentário sobre as mesmas e indicação de exemplos.

8 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Figura 1 – Printscreen’s da base de dados de análise dos manuais escolares

No entanto, tivemos que introduzir na nossa análise alguns descritores não

contemplados pelo projecto que nos serviu de base à construção desta base de dados de

análise. A introdução desses novos descritores justificou-se pelas necessidades levantadas na

prática de análise dos manuais escolares, bem como pela nossa preocupação de sermos o mais

rigorosos possíveis nesta análise. Acreditamos que com a inclusão destes novos descritores a

nossa análise ganhou em rigor.

Cristiana Martinha 9

XII Colóquio Ibérico de Geografia

4. As actividades dos manuais escolares em estudo

Concluída a análise dos manuais, verificamos que a distribuição das actividades dos

manuais escolares analisados pela tipologia de análise adoptada é a seguinte (gráfico 1 e 2):

Gráfico 1 – Distribuição do tipo de actividades dos manuais escolares analisados, em percentagem

Gráfico 2 – Distribuição do tipo de actividades nas colecções dos manuais escolares analisados, em

percentagem

0

10

20

30

40

50Actividades de tipo 1

Ac tividades de tipo 2

Actividades de tipo 3

Actividades de tipo 4

MA7 MA8

MA9 MB 7

MB 8 MB 9

MC 7 MC 8

MC 9 MD7

MD8 MD9

ME 7 ME 8

ME 9 MF 7

MF 8 MF 9

0

10

20

30

40

50Ac tividades de tipo 1

Actividades de tipo 2

Ac tividades de tipo 3

Actividades de tipo 4

MA

MB

MC

MD

ME

MF

10 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Observando os gráficos concluimos que, em termos genéricos, os tipos de actividades

mais presentes nos manuais escolares analisados são as de tipo 1 e 2 (as mais simples

cognitivamente). As actividades mais complexas e que mais contribuem para desenvolver

competências nos alunos (as actividades de tipo 4) apresentam valores muito baixos, oscilando

entre os 1% no MA7 e MA8 e os 8% no MB7 e no MB8.

Analisando por colecção (gráficos 3, 4, 5, 6, 7 e 8) conclui-se que as colecções que têm

uma distribuição das actividades mais equilibrada são as colecções MB e MF, pois têm maior

proporção de actividades de tipo 3 e 4. A colecção menos equilibrada é a MA, onde as

actividades de tipo 1 e 2 (as mais simples) têm uma grande proporção e as de tipo 3 e 4

possuem valores muito baixos.

Contudo, importa reflectir que o MA é a colecção mais adoptada pelos

professores/escolas. Estarão as nossas escolas/professores a “nivelar por baixo” o ensino da

Geografia? Estarão eles realmente preocupados em desenvolver competências nos alunos

optando pelos manuais escolares mais simples e básicos e menos exigentes para os alunos do

ponto de vista cognitivo?

Gráfico 3 – Distribuição das actividades na colecção MA Gráfico 4 – Distribuição das actividades

na colecção MB

Gráfico 5 – Distribuição das actividades na colecção MC Gráfico 6 – Distribuição das actividades

na colecção MD

Cristiana Martinha 11

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Gráfico 7 – Distribuição das actividades na colecção ME Gráfico 8 – Distribuição das actividades

na colecção MF

Podemos ainda concluir que nas actividades de tipo 1 os valores mais altos pertencem

ao manual MB9 e ME7 e o valor mais baixo ao MF8 (gráfico 9). Nas actividades de tipo 2 os

valores mais altos pertencem ao manual MF8 e o mais baixo ao MB8 (gráfico 10). Nas

actividades de tipo 3 os valores mais altos pertencem ao manual MB8 e o mais baixo ao MA7

(gráfico 11). Finalmente, no que diz respeito às actividades de tipo 4 os valores mais altos

pertencem aos manuais MB7 e MB8 e os mais baixos ao MA7 e MA8 (gráfico 12).

Gráfico 9 – Distribuição das actividades de tipo 1, pelos manuais analisados

Gráfico 10 – Distribuição das actividades de tipo 2, pelos manuais analisados

12 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Gráfico 11 – Distribuição das actividades de tipo 3, pelos manuais analisados

Gráfico 12 – Distribuição das actividades de tipo 4, pelos manuais analisados

Contudo, importa ter em atenção, ao analisarmos estes dados, que estamos a comparar

manuais escolares bastante diferentes entre si no que diz respeito ao número de actividades que

apresentam aos alunos. Este aspecto, a nosso ver, deve também ser levado em conta nesta

análise num contexto de comparação entre manuais escolares. Assim sendo, apresentamos

também aqui os gráficos com os valores da quantidade de actividades que cada manual escolar,

ou colecção apresenta (gráficos 13 e 14) e distribuídas por elementos do projecto pedagógico

(gráfico 15) e por ano de escolaridade (gráficos 16, 17 e 18).

Gráfico 13 – N.º total de actividades nos manuais escolares analisados

Cristiana Martinha 13

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Gráfico 14 – N.º médio de actividades de cada colecção de manuais escolares analisados

Gráfico 15 – Distribuição das actividades nas colecções de manuais escolares analisadas, pelos diferentes

elementos do projecto pedagógico

Gráfico 16 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 7.º ano

14 Serão os Manuais Escolares de Geografia suficientemente competentes para desenvolverem as competências

geográficas nos nossos alunos? – um estudo centrado em manuais escolares de Geografia de 3.º ciclo do Ensino Básico

XII Colóquio Ibérico de Geografia

Gráfico 17 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 8.º ano

Gráfico 18 – N.º de actividades dos manuais escolares analisados de 9.º ano

5. Uma possível aproximação à Pedagogia por Competências? – ilações e

reflexões possíveis

Desta análise aos manuais escolares seleccionados concluímos que existe uma

variedade de situações no que diz respeito à sua distribuição pelos diferentes tipos de

actividades.

De um modo geral, pudemos concluir que os manuais mais equilibrados são o MB e o

MF e o mais simples e menos exigente é o MA, que é o manual escolar mais adoptado para este

ciclo de estudos.

Esta análise complementa o estudo já elaborado pelo projecto “Manuais, e-manuais e

actividades do alunos”, afinando-lhe instrumentos de análise, através da inclusão de novos

descritores de análise e apresentando novas conclusões que merecem ser reequacionadas e

reflectidas.

Sem dúvida, concordamos com a conclusão geral desse projecto de que os manuais

escolares portugueses de Geografia são muito “básicos” e orientam-se pouco para o

Cristiana Martinha 15

XII Colóquio Ibérico de Geografia

desenvolvimento de competências nos alunos. Contudo, a nossa investigação permitiu concluir

que os manuais escolares diferem substancialmente entre si e que, apesar desta tendência

geral, há manuais escolares que oferecem ao aluno um conjunto de actividades mais

diversificadas e cognitivamente mais desafiantes do que outros. Além disso, o número de

actividade que um manual escolar oferece ao alunos difere muito consoante a colecção a que

pertence.

Importa também atentar no facto de no contexto actual de certificação de manuais

escolares pelo Ministério da Educação, estes aspectos/conclusões a que chegamos deverão ser

levados em linha de conta.

Maria Helena Esteves refere que “considerando a reorganização curricular de que foi

alvo a Geografia no Ensino Básico, as editoras de manuais escolares sentiram necessidade de

repensar os manuais de apoio à disciplina. E, tal como aconteceu aos conteúdos programáticos

no Currículo Nacional, os manuais "emagreceram" em termos de conteúdos e procurou-se

investir em sugestões de actividades, no sentido de tornar a disciplina mais ligada a

metodologias de carácter activo" (ESTEVES, 2006:209). Contudo, verificou-se com a presente

análise que esse “investimento” nas actividades nos manuais escolares não foi, regra geral,

acompanhado pelo crescimento da apresentação de questões desafiantes para os alunos.

É precisamente este “nivelamento por baixo” nas actividades dos manuais escolares de

Geografia que fazem com que acreditemos que eles ainda são pouco competentes para

ajudaram no desenvolvimento de competências geográficas nos nossos alunos.

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