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Série ESTUDOS DO PLANO DECENAL
DE EXPANSÃO DE ENERGIA
NOTA TÉCNICA DEA 19/12
Metodologia para a Análise Socioambiental Integrada
Rio de Janeiro
Dezembro de 2012
Ministério de Minas e Energia
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Ministério de Minas e Energia
Governo Federal
Ministério de Minas e Energia
Ministro Edison Lobão
Secretário Executivo Márcio Pereira Zimmermann
Secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético Altino Ventura Filho
Série
ESTUDOS DO PLANO DECENAL
DE EXPANSÃO DE ENERGIA
NOTA TÉCNICA DEA 19/12
Metodologia para a Análise Socioambiental Integrada
Empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, instituída nos termos da Lei n° 10.847, de 15 de março de 2004, a EPE tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, tais como energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e eficiência energética, dentre outras.
Presidente Mauricio Tiomno Tolmasquim
Diretor de Estudos Econômicos e Energéticos Amilcar Guerreiro
Diretor de Estudos de Energia Elétrica José Carlos de Miranda Farias
Diretor de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustível Elson Ronaldo Nunes
Diretor de Gestão Corporativa Álvaro Henrique Matias Pereira
Coordenação Geral Mauricio Tiomno Tolmasquim
Amilcar Guerreiro
Coordenação Executiva Edna Elias Xavier
Equipe Técnica
André Souza Pelech Carina Rennó Siniscalchi
Cristiane Moutinho Coelho Diego do Nascimento Bastos
Marcos Ribeiro Conde Paulo do Nascimento Teixeira
URL: http://www.epe.gov.br Sede SCN – Quadra 1 – Bloco C Nº 85 – Salas 1712/1714 Edifício Brasília Trade Center 70711-902- Brasília – DF Escritório Central Av. Rio Branco, n.º 01 – 11º Andar 20090-003 - Rio de Janeiro – RJ
Rio de Janeiro Dezembro de 2012
Ministério de Minas e Energia
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Nota Técnica DEA 19 /12 - Metodologia para a Análise Socioambiental Integrada
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Ministério de Minas e Energia
Série
ESTUDOS DO PLANO DECENAL DE EXPANSÃO DE ENERGIA
NOTA TÉCNICA DEA 19/12
Metodologia para a Análise Socioambiental Integrada
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS _____________________________________________________ 2
LISTA DE TABELAS _____________________________________________________ 2
LISTA DE QUADROS ____________________________________________________ 2
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS _________________________________________ 2
1 INTRODUÇÃO_______________________________________________________ 3
2 METODOLOGIA _____________________________________________________ 4
3 MAPEAMENTO DOS PROJETOS __________________________________________ 7
4 INTERFERÊNCIAS DOS PROJETOS ______________________________________ 10
5 SENSIBILIDADES REGIONAIS ___________________________________________ 11
6 INTERFERÊNCIAS X SENSIBILIDADES ____________________________________ 12
7 TEMAS PRIORITÁRIOS PARA GESTÃO AMBIENTAL __________________________ 19
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________________ 22
9 BIBLIOGRAFIA _____________________________________________________ 23
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Ministério de Minas e Energia
LISTA DE FIGURAS
Figura 1– Metodologia da análise socioambiental integrada do PDE 2021 6
Figura 2 – Localização dos projetos previstos no PDE 2021 7
Figura 3– Mapa síntese da análise socioambiental integrada 18
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Matriz síntese da análise socioambiental integrada 12
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Agrupamento das principais interferências em temas socioambientais 10
Quadro 2 - Caracterização das sensibilidades por tema socioambiental e região 11
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PCH Pequena Central Hidrelétrica
PDE Plano Decenal de Expansão de Energia
SIN Sistema Interligado Nacional
TI Terra Indígena
UC Unidade de Conservação
UHE Usina Hidrelétrica
UTE Usina Termelétrica
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1 INTRODUÇÃO
Os estudos no âmbito do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) têm sido
desenvolvidos com enfoque nas especificidades das diferentes fontes de energia, visando
indicar o conjunto de projetos mais competitivos, dos pontos de vista econômico, energético e
socioambiental, cuja implantação é escalonada ao longo do horizonte do Plano, de modo a
atender a demanda de energia necessária para o desenvolvimento do país.
Na versão do PDE 2021 foram incorporados aperfeiçoamentos por meio da análise
socioambiental integrada do conjunto de projetos que compõem o Plano. Esta nova abordagem
tem por objetivo fornecer subsídios e orientar a gestão antecipada e preventiva das principais
questões socioambientais relacionadas ao planejamento do setor energético, com vistas a
minimizar os riscos associados à expansão da oferta de energia.
Os resultados da Análise Socioambiental Integrada mostraram a incidência espacial
desse conjunto de projetos, em especial, sob o ponto de vista das suas interferências sobre as
sensibilidades socioambientais mais representativas das regiões brasileiras, bem como os
efeitos resultantes da proximidade física entre eles. Essa abordagem permitiu identificar temas
prioritários para a gestão ambiental do setor de energia e, assim, definir os principais desafios
associados ao PDE 2021 no que diz respeito aos seus aspectos socioambientais. Maior clareza
sobre os desafios a serem superados facilitará a identificação e a antecipação das ações
necessárias para garantir que a implantação desses projetos ocorra em consonância com os
princípios da sustentabilidade.
A presente Nota Técnica tem como objetivo apresentar de forma detalhada as etapas
que compõem a metodologia da Análise Socioambiental Integrada, seu desenvolvimento e os
resultados alcançados.
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2 METODOLOGIA
É importante ressaltar que a abordagem utilizada na Análise Socioambiental Integrada
tem caráter estratégico e complementar, sem a pretensão de esgotar a discussão sobre as
questões associadas ao conjunto de empreendimentos previstos no PDE 2021. A intenção é
fornecer subsídios para as etapas seguintes do planejamento e a futura execução dos projetos.
O processo teve como referência básica a análise socioambiental da expansão relativa às
fontes previstas no PDE 2021, incluindo os projetos de transmissão, e se consolidou por meio
de reuniões técnicas multidisciplinares e reflexões sobre os diversos temas analisados. A
metodologia foi estruturada em duas partes: Sistematização das informações e Integração,
divididas nas etapas e procedimentos explicados a seguir.
1ª Parte: Sistematização das informações
Etapa 1: Mapeamento dos projetos
A primeira etapa consistiu no mapeamento de todos os projetos que compõem o Plano,
sobrepondo-os à base de uso do solo do território nacional, dividida em duas categorias: uso
antrópico e uso não-antrópico1. Essa sobreposição permitiu uma melhor visualização da
distribuição espacial dos projetos e a das regiões em que estão planejados, servindo como
subsídio para as outras etapas da análise.
Etapa 2: Interferências dos projetos
Esta segunda etapa teve como base o mapeamento dos projetos previstos no PDE 2021
e identificou suas principais interferências. Estas foram agrupadas em nove temas
socioambientais, de acordo com a sua natureza e as características dos ambientes sobre os
quais incidem. Procurou-se garantir que todas as questões socioambientais consideradas
importantes fossem contempladas. A agregação de diferentes interferências em poucos temas
facilitou a adoção de uma abordagem estratégica e objetiva, compatível com o grau de
incerteza inerente ao processo de planejamento.
Nessa etapa foi elaborado um quadro que indica a correspondência entre as principais
interferências identificadas na análise socioambiental da expansão, os temas socioambientais e
os tipos de projeto.
1 As duas categorias foram criadas com base na classificação do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da
Diversidade Biológica Brasileira, do Ministério de Meio Ambiente (PROBIO/MMA). Foram consideradas como
“antrópico” as tipologias: Agricultura e Pecuária, Área de Influência Urbana, Formações Pioneiras e Reflorestamento
e para a classe “não antrópica”: Área de Tensão Ecológica, Estepe, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional
Semidecidual, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Mista, Savana, Savana
Estépica, Vegetação Secundária.
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Etapa 3: Sensibilidades regionais
A etapa final da primeira parte da análise teve como objetivo a identificação das
principais sensibilidades das cinco regiões do país. Os temas selecionados na etapa anterior
foram utilizados como referência para a classificação das sensibilidades, o que facilitou a
compreensão da associação entre elas e as interferências dos projetos na etapa seguinte. A
análise das sensibilidades levou em consideração as características das regiões sujeitas às
interferências, tendo em vista a localização do conjunto de projetos planejados. Foi possível
confirmar, assim, a importância e abrangência de cada um dos temas socioambientais.
O resultado dessa etapa foi sintetizado num quadro que apresenta a relação entre os
temas socioambientais, as sensibilidades e as regiões em que estão previstos os projetos do
Plano.
2ª Parte: Integração
Etapa 4: Interferências X Sensibilidades
Avaliou-se nessa etapa a incidência das interferências de um ou mais projetos sobre as
regiões. Foi possível, então, utilizar os temas socioambientais para representar o cruzamento
entre as interferências dos projetos e as sensibilidades regionais. Essa abordagem facilitou a
análise integrada das interferências de vários projetos em uma mesma região e permitiu avaliar
os possíveis efeitos da sua eventual concentração espacial.
Uma tabela síntese foi construída para destacar os temas socioambientais resultantes do
cruzamento entre projetos e regiões e um mapa temático foi elaborado para representar
espacialmente o conteúdo da tabela.
Etapa 5: Temas Prioritários para a Gestão Ambiental
Tendo como referência a tabela síntese e o mapa temático, foi possível identificar os
temas socioambientais mais importantes para cada região. Apesar da reconhecida relevância de
todos os temas, alguns se destacaram ao longo da análise em função da localização e
peculiaridades dos projetos, além da sua importância para a expansão da oferta de energia
visualizada no Plano. Os temas de maior destaque foram definidos como prioritários para a
gestão ambiental do setor energético.
O diagrama mostrado na Figura 1 ilustra as etapas da metodologia adotada na análise
socioambiental integrada do PDE 2021.
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Esquema Ilustrativo: Metodologia da Análise Integrada
ANÁLISE INTEGRADA
1ª Parte: Sistematização das informações
2ª Parte: Integração
TEMAS SOCIOAMBIENTAIS
SENSIBILIDADES REGIONAIS
INTERFERÊNCIAS DOS PROJETOS
INTERFERÊNCIAS X SENSIBILIDADES Tabela Síntese + Mapa Temático
ANÁLISE SOCIOAMBIENTAL DA EXPANSÃO
TEMAS PRIORITÁRIOS PARA GESTÃO AMBIENTAL
MAPEAMENTO DOS PROJETOS
DESAFIOS PARA A SUSTENTABILIDADE
Figura 1– Metodologia da análise socioambiental integrada do PDE 2021
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3 MAPEAMENTO DOS PROJETOS
De forma a atender ao crescimento da demanda para o desenvolvimento econômico do
país, o PDE 2021 prevê o aproveitamento de diferentes fontes de geração. Dentre elas são
consideradas as fontes convencionais, as fontes renováveis e as linhas de transmissão,
distribuídas por todo o território nacional.
O mapeamento do conjunto de projetos permitiu uma melhor visualização da
distribuição espacial e de uma eventual concentração de projetos em uma mesma região. O
mapa da Figura 2 indica a localização dos projetos energéticos planejados no PDE 2021.
Fonte: EPE, 2012; IBGE, 2009; ANA, 2012; MMA, 2008.
Figura 2 – Localização dos projetos previstos no PDE 2021
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Verifica-se uma distribuição espacial racional dos projetos em face da disponibilidade
dos recursos energéticos e da configuração socioeconômica do território nacional. Essa
constatação corresponde, por exemplo, à concentração dos projetos hidrelétricos na região
Norte, onde está situada grande parte do potencial hidrelétrico brasileiro remanescente.
As termelétricas alimentadas por fontes fósseis – carvão, óleo combustível, gás natural e
óleo diesel – têm como característica a emissão de poluentes atmosféricos e de gases de efeito
estufa. Distribuem-se predominantemente ao longo da costa, junto aos centros de carga, entre
os estados do Rio Grande do Norte e Espírito Santo. Em certo sentido, essa localização constitui
atenuante do ponto de vista ambiental, devido à facilidade para a dispersão das emissões pelas
correntes de vento. Também atenuante é o fato da maioria, sobretudo aquelas movidas a diesel
e a óleo combustível, operarem somente em complementação às usinas de base. Observam-se,
também, termelétricas a gás natural licitadas, a serem implantadas na região Norte.
Cumpre destacar entre os projetos previstos no PDE 2021 a usina nuclear Angra 3,
localizada na região Sudeste. Diferentemente das demais térmicas, a nuclear não emite
poluentes atmosféricos ou gases de efeito estufa.
Observa-se que essas termelétricas estão planejadas para os três primeiros anos do
horizonte decenal por serem empreendimentos já concedidos. Para o restante do horizonte não
estão previstas outras térmicas fósseis, com exceção de dois projetos indicativos no último ano.
Os projetos indicativos não foram localizados no mapa, em virtude de não disporem ainda de
coordenadas geográficas definidas.
Do ponto de vista das outras fontes renováveis – térmicas a biomassa, eólicas e PCHs –,
verifica-se que cada uma delas apresenta particularidades. As térmicas a biomassa e as eólicas
vêm gradativamente aumentando sua participação na matriz energética brasileira, sobretudo
pelo alto potencial e pelo interesse e competitividade do mercado, como se observa nos
resultados dos leilões de energia realizados em 2011.
As termelétricas a biomassa estão situadas na área de produção de etanol, hoje
concentrada no polígono da cana-de-açúcar, que ocupa partes dos territórios do Sudeste e do
Centro Oeste, abrangendo os estados de SP, MG, GO, MS e MT. Já as eólicas distribuem-se
principalmente nas áreas costeiras das regiões Nordeste e Sul, onde se situa grande parte do
potencial. A expansão dessa fonte ao longo do horizonte decenal está prevista, também, em
outras áreas afastadas da costa, por meio de projetos indicativos.
As PCHs, por sua vez, encontram-se distribuídas em bacias e rios de menor porte e é
possível notar a sua concentração, principalmente, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste.
Quanto à exploração e produção (E&P) de petróleo e gás natural, estão previstas
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atividades onshore e offshore. No continente, as unidades produtivas distribuem-se por todas
as regiões do país, exceto na região Sul. No mar, onde as atividades são mais expressivas, as
unidades produtivas estão situadas principalmente nas áreas costeiras das regiões Sudeste e
Nordeste. Deve-se destacar que as atividades serão mais intensas e numerosas na região
Sudeste, nas bacias de Santos e do Espírito Santo. A condição relevante para essa região é a
ampliação da infraestrutura para o escoamento do petróleo para os terminais costeiros, visto
que a produção atual já sobrecarrega a infraestrutura disponível.
Na Bacia de Campos, principal área produtora de petróleo do país, a expansão da
produção será pequena. Porém, essa região já está bastante exposta aos principais impactos
relacionados à atividade de E&P. Não obstante, os projetos previstos para entrada em operação
no Sudeste estão localizados, em sua maioria, na região ultraprofunda das respectivas bacias,
sendo esta uma área de menor sensibilidade ambiental e relevância para a pesca.
Projetos lineares, representados pelas linhas de transmissão, integram o SIN - Sistema
Interligado Nacional, que atribui importante vantagem comparativa à matriz de energia elétrica
brasileira e garante a liderança de seu sistema hidrotérmico. As linhas de transmissão, com
tensão de 230 kV ou mais, distribuem-se por todas as unidades da federação, com exceção de
Sergipe, e estão diretamente conectadas a projetos hidrelétricos ou de geração eólica,
constituindo reforços regionais e inter-regionais.
Para o PDE 2021, o único gasoduto previsto é o Gasoduto São Carlos–Uberaba (Gasube)
na região Sudeste, cuja faixa de passagem corta a periferia do polígono da cana de açúcar,
onde existem numerosas termelétricas e PCHs a serem implantadas ao longo do horizonte
decenal. Todavia, observa-se que esse gasoduto não deverá interferir com os outros projetos
previstos para a região.
Este breve panorama nacional da distribuição territorial das fontes e projetos previstos
no atual ciclo de planejamento permite constatar as importantes vantagens comparativas do
Brasil frente à exploração dos recursos energéticos de outros países, quer do ponto de vista
econômico-energético, quer do ponto de vista ambiental. É importante destacar que essas
vantagens, quais sejam, a distribuição racional no território e a diversificação de fontes, vêm se
juntar ao principal atributo do sistema interligado que, por meio das linhas de transmissão,
promove significativos ganhos energéticos ao otimizar os efeitos da sazonalidade do regime
hídrico brasileiro. Pode-se dizer que, tendo em vista as dimensões continentais do país e a
diversidade de recursos energéticos disponíveis, a presença de um maior número de projetos
numa mesma região não significa, necessariamente, que esses projetos provocarão impactos
cumulativos expressivos ou que não possam ser minimizados por medidas de mitigação.
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4 INTERFERÊNCIAS DOS PROJETOS
Em função da diversidade de interferências indicadas pela a análise socioambiental da
expansão, verificou-se a necessidade de sistematizá-las por meio do seu agrupamento em
temas socioambientais, facilitando a sua associação com os projetos. Os temas socioambientais
passaram a se configurar como objeto de análise. Vale lembrar que foram consideradas apenas
as principais interferências associadas aos tipos de projeto para os quais se mostraram mais
relevantes. O Quadro 1 apresenta as principais interferências, os temas socioambientais em que
foram agrupadas e os tipos de projeto a que estão associadas. Cumpre observar que esse
quadro não esgota as interações entre interferências e temas socioambientais, sendo específico
para a análise integrada no âmbito do PDE 2021.
Quadro 1 - Agrupamento das principais interferências em temas socioambientais
PRINCIPAIS INTERFERÊNCIAS ASSOCIADAS AOS PROJETOS
TEMAS SOCIOAMBIENTAIS TIPOS DE PROJETO
Disponibilidade hídrica Recursos Hídricos Etanol
Transformação de ambiente lótico em lêntico Impactos no ecossistema marinho
Biodiversidade Aquática UHE PCH Petróleo (E&P)
Perda de vegetação nativa Vegetação nativa
UHE Etanol Linhas de transmissão Gás (gasodutos)
Interferência em UC Interferências em APP
Áreas protegidas UHE Eólicas
Interferências em áreas com potencial turístico Impacto visual
Paisagem Petróleo (E&P) Eólica
Queimadas Emissões atmosféricas
Qualidade do ar Etanol UTE (fóssil) Bioeletricidade
Interferência em TI Populações indígenas UHE PCH Linhas de transmissão
População afetada Interferência em núcleos urbanos e rurais Interferência na circulação e comunicação Interferência na infraestrutura Interferências ou mudanças no uso do solo
Organização Territorial
UHE Gás (gasoduto) Linhas de transmissão
Problemas de regularização fundiária (registro de imóveis: propriedade, dimensão, sobreposição, legalidade)
Questão fundiária Eólica
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5 SENSIBILIDADES REGIONAIS
Os temas socioambientais serviram de referência para a avaliação das principais
sensibilidades das regiões brasileiras, levando em consideração as possíveis interferências dos
projetos. O Quadro 2 apresenta, a partir dos temas socioambientais, a caracterização dessas
sensibilidades e a sua associação com as regiões em que se mostraram mais relevantes.
Quadro 2 - Caracterização das sensibilidades por tema socioambiental e região
TEMAS
SOCIOAMBIENTAIS SENSIBILIDADE POR REGIÃO REGIÕES
Recursos hídricos A sensibilidade está associada à disponibilidade do recurso hídrico. A região Sudeste se destaca pela intensidade de usos diversos da água, o que tende a diminuir a
disponibilidade deste recurso.
Sudeste
Biodiversidade
aquática
As regiões Sul, Sudeste e Nordeste apresentam alta sensibilidade por conta da
fragmentação a que estão sujeitas as populações de peixes. No Norte e Centro-Oeste, a importância está associada à abundância de ambientes únicos. No Nordeste, as áreas
costeiras de baixa profundidade possuem uma biodiversidade aquática de grande importância biológica, sensíveis às atividades de E&P de petróleo e gás.
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Vegetação nativa
A vegetação nativa no Sudeste e Centro-Oeste está fragmentada, o que lhe confere maior sensibilidade pela importância dos remanescentes. Na região Norte a vegetação está
íntegra, mas sujeita à degradação por vetores de ocupação associados a empreendimentos de grande porte.
Norte
Sudeste
Centro-Oeste
Áreas protegidas
Foram consideradas sensíveis unidades de conservação e APPs. A região Norte e parte da região Centro-Oeste apresentam-se cobertas por diversas Unidades de Conservação. Nas regiões Nordeste, Sudeste, Sul e parte do Centro-Oeste a vegetação nativa encontra-se
fragmentada, o que atribui maior importância ecológica às APPs remanescentes.
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Paisagem
O litoral da região Nordeste, que apresenta grande potencial eólico e campos de petróleo, a paisagem apresenta maior sensibilidade, especialmente, por suas praias e dunas, de
grande beleza cênica que lhe atribui reconhecida vocação para as atividades de turismo e lazer, consolidadas em grande parte da faixa costeira.
Nordeste
Qualidade do ar Merece destaque a região Sudeste em função do alto índice de urbanização, e a região Centro-Oeste, em função das queimadas realizadas durante a estação seca, que coincide com o período de colheita da cana.
Sudeste
Centro-Oeste
Populações indígenas
Embora haja TIs distribuídas por todo o território nacional, a região Norte e parte da região Centro-Oeste merecem destaque em função da concentração e extensão dessas
áreas, bem como pelo contingente de índios que as habitam. Há projetos planejados para a região Sudeste que também lhe atribuem maior sensibilidade em relação a esse tema.
Norte
Centro-Oeste
Sudeste
Organização territorial
As regiões Sul e Sudeste se caracterizam por uma rede urbana mais densa, cidades mais estruturadas por equipamentos e serviços e maior densidade demográfica, o que lhe
atribui maior sensibilidade no caso de implantação de projetos lineares e menor sensibilidade em relação à pressão sobre a infraestrutura urbana e regional. No Nordeste, a sensibilidade do tema está associada à ocupação nas margens do rio Parnaíba, onde está
prevista uma usina hidrelétrica. Já a região Norte e parte do Centro-Oeste têm redes urbanas menos densas e suas cidades são mais sensíveis à pressão sobre a infraestrutura
decorrente da implantação de projetos de grande porte.
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
Questão fundiária
A sensibilidade está relacionada diretamente à situação fundiária das regiões. No Nordeste,
merecem destaque os problemas associados ao histórico de ocupação irregular e às dificuldades de regularização fundiária, especialmente nas áreas litorâneas mais urbanizadas, onde estão previstos projetos eólicos.
Nordeste
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6 INTERFERÊNCIAS X SENSIBILIDADES
O conjunto de temas socioambientais relacionados a cada projeto e região tem por
objetivo sintetizar as interferências socioambientais mais críticas associadas aos projetos
previstos no Plano, tendo em vista sua localização e as sensibilidades mais importantes
identificadas para cada região. A análise não teve a pretensão de contemplar todos os possíveis
impactos socioambientais dos projetos, mas indicar aqueles que merecem maior atenção
durante o processo de planejamento.
A Tabela 1 apresenta de forma sistematizada os temas socioambientais relacionados aos
projetos do Plano e às regiões onde estão localizados. A partir dessa matriz foi possível
visualizar os projetos planejados por região e verificar a sobreposição de interferências,
indicada pela repetição de um tema socioambiental numa mesma coluna da tabela. Além disso,
foram consideradas as características técnicas e físicas dos empreendimentos para avaliar a
importância de cada um dos temas no contexto da expansão da oferta de energia. Nas células
foram apresentados os temas que devem ser observados com maior atenção quando da
elaboração de estudos e projetos para as respectivas regiões.
Tabela 1 – Matriz síntese da análise socioambiental integrada
Regiões →
Projetos ↓NORTE NORDESTE SUL SUDESTE CENTRO-OESTE
UHE
Biodiversidade aquática
Vegetação nativa
Áreas protegidas
Populações indígenas
Organização territorial
Organização territorial
Biodiversidade aquática
Biodiversidade aquática
Organização territorial
Biodiversidade aquática
Vegetação nativa
Organização territorial
Populações indígenas
Biodiversidade aquática
Vegetação nativa
Áreas protegidas
Populações indígenas
Organização territorial
PetróleoBiodiversidade aquática Biodiversidade aquática
Paisagem
Não há projetos
planejados
Biodiversidade aquática Não há interferência sobre
as sensibilidades
Gás (gasoduto)Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejados
Vegetação nativa
Organização territorial
Não há projetos
planejados
Etanol
Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejados
Recursos hídricos
Vegetação nativa
Qualidade do ar
Vegetação nativa
Qualidade do ar
Transmissão
Populações indígenas Não há interferência
sobre as sensibilidades
Não há interferência
sobre as sensibilidades
Vegetação nativa
Organização territorialNão há interferência sobre
as sensibilidades
UTE (nuclear)Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejados
Não há projetos
planejadosNão há interferência
sobre as sensibilidades
Não há projetos
planejados
BioeletricidadeNão há interferência
sobre as sensibilidades
Não há interferência
sobre as sensibilidades
Não há projetos
planejados
Qualidade do ar Qualidade do ar
UTE (fóssil)Não há interferência
sobre as sensibilidades
Não há interferência
sobre as sensibilidades
Não há interferência
sobre as sensibilidades
Qualidade do ar Não há interferência sobre
as sensibilidades
Eólica
Não há projetos
planejados
Áreas protegidas
Paisagem
Questão fundiária
Áreas protegidas Não há interferência
sobre as sensibilidades
Não há projetos
planejados
PCHBiodiversidade aquática
Populações indígenasNão há interferência
sobre as sensibilidades
Biodiversidade aquática Biodiversidade aquática Biodiversidade aquática
Populações indígenas
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Ministério de Minas e Energia
A descrição mais detalhada das relações indicadas na tabela e nos quadros
apresentados permite melhor compreensão dos temas socioambientais a serem considerados
no processo de planejamento da expansão da oferta de energia.
Recursos hídricos
O tema Recursos hídricos foi considerado importante devido ao uso intensivo e
diversificado da água em determinadas bacias hidrográficas. Embora seja relevante em todo o
território nacional, esse tema se destaca no contexto da expansão das áreas para plantio de
cana-de-açúcar na região Sudeste, em função do consumo de água nas usinas de produção de
etanol. Essa região se caracteriza pela alta densidade demográfica e intensidade do uso e
ocupação do solo, fatores geradores de conflitos em torno do uso da água. A implantação de
um grande número de usinas no polígono de expansão da cana poderá intensificar os conflitos,
caso não sejam promovidos esforços para a melhoria da eficiência dos processos produtivos no
que tange ao consumo de água.
Biodiversidade aquática
A biodiversidade aquática foi considerada relevante devido às interferências potenciais
de projetos associados principalmente à geração hidrelétrica e à produção de petróleo. A perda
de ambientes aquáticos e de espécies pode ter consequências sobre os ecossistemas e, em
última instância, sobre a pesca de subsistência e comercial. Este tema apresenta alta
sensibilidade na região Norte e Centro-Oeste, pela ocorrência frequente de ambientes
exclusivos e nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul, devido à fragmentação a que estão sujeitas
as populações de peixes.
Nas regiões Norte e Centro-Oeste, a importância desse tema se deve à grande
diversidade de ambientes e à pressão a que estarão sujeitos por conta da implantação de UHEs
e, em menor escala, de PCHs. Na região Norte, a biodiversidade aquática estará exposta, ainda,
aos riscos de derramamento de óleo inerentes às atividades de exploração e produção de
petróleo, principalmente nas bacias continentais.
Já nas regiões Sul, Nordeste e Sudeste, a conectividade de suas bacias e rios encontra-
se bastante comprometida, devido à grande quantidade de barramentos construídos ao longo
dos últimos 60 anos. Os empreendimentos hidrelétricos previstos aumentarão ainda mais essa
fragmentação e poderão alterar os ambientes aquáticos remanescentes, ainda íntegros. Cabe
ressaltar o efeito das PCHs nesse processo, uma vez que contribuem de forma expressiva para
o aumento do número de barramentos.
A importância desse tema também está associada aos ambientes marinhos, pois os
impactos reais e potenciais das atividades ligadas à cadeia do petróleo podem afetar a
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biodiversidade e causar prejuízos ambientais e socioeconômicos. No Nordeste, as atividades
offshore de E&P de petróleo estão localizadas próximas à costa, em regiões de baixa
profundidade, o que agrava o quadro de sensibilidade por serem áreas de grande importância
biológica e nas quais a pesca tem relevância social e econômica. Na região Sudeste, a maior
parte das unidades produtivas está localizada na zona ultraprofunda, tida como de menor
sensibilidade ambiental. Porém, a grande quantidade de plataformas e navios aumenta o risco
de acidentes e os estudos de sísmica e o transporte do óleo podem provocar impactos em
cetáceos e nas atividades pesqueiras.
Vegetação nativa
A vegetação é afetada diretamente por empreendimentos energéticos, seja por
alagamento ou supressão, o que implica em perda de habitat e biodiversidade. Alguns
empreendimentos ainda se comportam como vetores de desmatamento, promovendo a
abertura de clareiras e estradas em áreas preservadas. Esse tema se destaca na região Norte
em função da integridade e diversidade da vegetação. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a
importância está associada aos remanescentes, uma vez que a vegetação nativa encontra-se
bastante fragmentada.
A construção de UHEs na região Norte implica na atração de contingentes populacionais
por conta das obras e na instalação de infraestrutura, sobretudo estradas. Ambos constituem
fatores de penetração que aumentam a pressão sobre a vegetação.
Na parte norte da região Centro-Oeste, a vegetação nativa ainda é bastante íntegra,
mas sofre pressões decorrentes da expansão agropecuária. A construção de UHEs poderá
aumentar a pressão sobre a vegetação, tanto pelo contingente populacional atraído, quanto
pela perda de conectividade dos remanescentes de vegetação. Na parte sul da região Centro-
Oeste, a expansão do plantio da cana-de-açúcar tende a ocorrer em áreas de cerrado, bastante
fragmentadas. Entretanto, a expansão poderá ocorrer sem interferências nos fragmentos de
vegetação nativa, caso sejam ocupadas áreas de pastagens subaproveitadas.
Na região Sudeste, a vegetação nativa é considerada de alta sensibilidade por ter uma
paisagem fragmentada e com poucos remanescentes. Essa condição é agravada pelo fato de
ter parte expressiva de seu território sob o domínio da Mata Atlântica, o bioma brasileiro mais
ameaçado e com o menor percentual de cobertura original. A construção de UHEs poderá
aumentar a pressão sobre os remanescentes não só da Mata Atlântica como de outros biomas.
Este processo pode ser agravado pela extensão de linhas de transmissão e construção de
gasodutos. Quanto ao plantio de cana-de-açúcar, da mesma forma que na região Centro-Oeste,
para que não haja interferências nas áreas de vegetação nativa é importante que a expansão
ocorra em áreas de pastagens subaproveitadas.
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Áreas protegidas
Este tema abrange Unidades de Conservação (UCs) e Áreas de Preservação Permanente
(APPs) que podem apresentar restrições ou incompatibilidades com a implantação e operação
de empreendimentos energéticos.
A região Norte e parte da região Centro-Oeste têm parcelas significativas de seus
territórios ocupados por UCs de categorias diversas, que poderão sofrer interferências diretas
ou indiretas de UHEs ali planejadas.
Nas regiões Nordeste e Sul, grande parte do potencial eólico está situado em áreas
ambientalmente frágeis. No Nordeste, coincide com APPs na faixa litorânea, como campos de
dunas e áreas de restinga. No caso de projetos localizados no interior, outros tipos de APPs
podem ocorrer como, por exemplo, os topos de morro e margens de rios. No litoral do extremo
Sul do país existe sobreposição com UCs de proteção integral que constituem refúgios e rotas
migratórias de avifauna, além de regiões de alagados.
Paisagem
Este tema é relevante na região Nordeste, onde a implantação de parques eólicos na
faixa litorânea e as atividades de E&P de petróleo próximas à costa, em regiões de baixa
profundidade, podem ocasionar alterações na paisagem costeira, principal atrativo para uma
série de destinos turísticos. Os conflitos entre os projetos energéticos e as atividades de turismo
podem ter efeitos socioeconômicos negativos para as comunidades e municípios costeiros nos
quais a atividade turística está consolidada e possui importância econômica.
Qualidade do ar
Este tema foi considerado relevante devido à existência de áreas onde a qualidade do ar
encontra-se saturada, o que aumenta as restrições a novos projetos que emitam poluentes
atmosféricos. Na região Centro-Oeste, essa situação se materializa durante a estação seca, em
função das queimadas para limpeza de terrenos para agricultura e formação de pastagens. No
Sudeste, está associada ao alto índice de urbanização, principalmente nas regiões
metropolitanas. Ressalta-se que a análise não considerou os gases de efeito estufa.
Durante a estação seca na região Centro-Oeste, as condições de temperatura, umidade
e velocidade dos ventos são desfavoráveis à dispersão dos poluentes e vale lembrar que
incêndios acidentais também podem levar algumas bacias aéreas à saturação. Esse quadro
pode ser agravado pela queima de canaviais para facilitar a colheita da cana-de-açúcar, e pela
queima do bagaço para cogeração.
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Na região Sudeste, algumas bacias aéreas podem apresentar alta concentração de
poluentes, resultantes da elevada atividade industrial e da circulação de veículos, especialmente
em regiões metropolitanas. A queima de canaviais para facilitar a colheita, aliada à operação de
novas plantas termelétricas que utilizem combustíveis fósseis ou biomassa, pode contribuir para
a deterioração da qualidade do ar nessa região.
Populações indígenas
Nas regiões Norte e Centro Oeste situam-se as terras indígenas (TIs) mais extensas do
país, as quais concentram a maior parte das etnias e das populações indígenas que habitam o
território nacional. Ressalta-se, o histórico de conflitos que expostos em manifestações
contrárias à instalação de UHEs e PCHs, embora estas, muitas vezes, não se sobreponham a
terras indígenas. Devem ser levadas em conta as linhas de transmissão, para as quais também
são exigidos esforços adicionais de gestão, no caso de atravessarem ou passarem perto de
terras indígenas. Questões indígenas relacionadas a projetos planejados no Sudeste direcionam
a atenção também para esta região.
O tema populações indígenas se destaca, principalmente, pela incompletude dos
dispositivos legais e normativos que o regem, quais sejam, o Estatuto do Índio e o artigo 231
da Constituição Federal2. Essa situação dificulta e exige condições específicas para a gestão
político-institucional das questões associadas aos projetos que interferem em TIs ou nos modos
de vida dessas populações.
Organização territorial
A organização do território está sujeita a interferências diretas e indiretas da expansão
do setor energético devido, principalmente, às intervenções associadas a empreendimentos
hidrelétricos e projetos lineares (transmissão e gasodutos). As intervenções no caso dos
empreendimentos de geração referem-se, por exemplo, ao remanejamento de grupos
populacionais e à relocação de trechos dos componentes dos sistemas de transporte e de
comunicação decorrentes, principalmente, da formação dos reservatórios. Essas interferências
podem alterar as relações funcionais nas redes urbanas, afetando a organização do território.
Interferem também na organização territorial as novas funções que passam a exercer os
núcleos urbanos de apoio às obras de implantação de grandes projetos do setor energético,
especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, com aumento da pressão sobre a
infraestrutura local, equipamentos e serviços.
2 O Artigo 231 da Constituição Federal reconhece a organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e os
direitos originários dos povos indígenas sobre as terras que tradicionalmente ocupam, definindo como competência
da União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
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As regiões Sudeste e Sul destacam-se pela densidade da rede urbana, sobretudo pela
qualidade do sistema viário e por seus numerosos núcleos urbanos, que dispõem de maior e
melhor oferta de equipamentos e serviços. Dessa forma, as interferências decorrentes da
implantação de projetos de grande porte sobre a organização territorial serão menos intensas
do que nas regiões Norte e Centro-Oeste, devido às possibilidades de aproveitamento das
infraestruturas e serviços urbanos e regionais existentes.
Na região Nordeste, a sensibilidade do tema está associada à ocupação nas margens do
rio Parnaíba, onde está prevista uma UHE.
No Sudeste, a implantação de novas linhas de transmissão em áreas densamente
ocupadas e que concentram redes de transmissão em alta e extra-alta tensão tende a encontrar
maior resistência para o estabelecimento da faixa de passagem, mas não a ponto de ameaçar a
viabilização dos projetos. Analogamente, está previsto para a região Sudeste um único
gasoduto que passará por áreas rurais densamente ocupadas sem, contudo, causar qualquer
alteração na organização do território.
Questão fundiária
No contexto da expansão da geração de energia, este tema está associado à
necessidade de regularização fundiária de propriedades, especialmente no Nordeste, onde o
histórico de ocupação irregular e as dificuldades de regularização fundiária, especialmente nas
áreas litorâneas, podem dificultar a viabilização do aproveitamento do seu grande potencial
eólico. Os problemas nas áreas previstas para a implantação dos parques eólicos referem-se
principalmente à documentação e ao registro de propriedades que, muitas vezes, tornam-se
entraves para o processo de aquisição e arrendamento de áreas. Não resolvida essa questão, o
consequente aumento da incerteza poderá interferir no cronograma de implantação dos
projetos eólicos, que dependem dessa documentação para a habilitação técnica nos leilões de
energia.
Vale ressaltar que o conjunto de temas apresentados tem como objetivo sintetizar as
interferências socioambientais mais críticas associadas aos projetos previstos no Plano, tendo
em vista as sensibilidades mais importantes identificadas para cada região. A análise não teve a
pretensão de contemplar todos os possíveis impactos socioambientais de cada projeto, mas
indicar aqueles que merecem maior atenção durante o processo de planejamento.
O mapa mostrado na Figura 3 ilustra as informações apresentadas na matriz e sintetiza
o resultado da análise integrada das interferências dos projetos sobre as sensibilidades
regionais, indicando os temas socioambientais que devem ser observados com atenção quando
da elaboração de estudos e projetos em cada região.
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Figura 3– Mapa síntese da análise socioambiental integrada
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7 TEMAS PRIORITÁRIOS PARA GESTÃO AMBIENTAL
Considerando a visão integrada dos projetos planejados para os próximos dez anos, é
preciso ressaltar que, embora nem todos os temas socioambientais tenham presença
marcante nas cinco regiões do país e, tampouco, sejam objeto de interferências de vários
projetos, todos são importantes no contexto do planejamento da expansão da oferta de
energia. Contudo, alguns se configuram como prioritários para a gestão ambiental no âmbito
do setor energético.
A definição dos temas prioritários não foi baseada apenas na frequência com que os
temas socioambientais se apresentam associados às regiões e às fontes, mas também
segundo os aspectos técnicos e jurídico-institucionais envolvidos.
De modo geral, no que se refere aos aspectos técnicos, constata-se a necessidade de
aprimoramento nos conteúdos dos temas prioritários, por meio do aprofundamento do
conhecimento científico, visto que já dispõem de regulamentação legal e normativa
adequada e suficiente. Nesse caso, as questões a eles associadas são de natureza técnica e
operacional devendo, portanto, ser trabalhadas ao longo das diferentes etapas de evolução
de cada projeto. Com relação aos aspectos jurídico-institucionais, há necessidade de
aperfeiçoamentos que requerem a participação das instituições governamentais direta e
indiretamente envolvidas com o planejamento da expansão da oferta de energia.
Os temas selecionados como prioritários foram:
Populações indígenas
Esse tema se destaca não só por sua importância intrínseca como também pela
complexidade do processo de gestão institucional necessário para lidar especialmente com a
insegurança relacionada aos dispositivos legais e normativos que o regem. A complexidade
aumenta diante da conveniência de se construir um processo que compreenda efetiva
participação das comunidades indígenas, o que definitivamente não é tarefa simples,
sobretudo quando se têm em conta as diferenças culturais e de interesse que perpassam
esse diálogo.
Áreas protegidas
O tema é por si só relevante, mas no caso da expansão da oferta de energia
visualizada no PDE 2021, torna-se prioritário tendo em vista que alguns projetos de usinas
hidrelétricas, linhas de transmissão e de E&P de petróleo e gás natural interferem direta ou
indiretamente com UC de proteção integral ou de uso sustentável. Essas interferências
Nota Técnica DEA 19 /12 - Metodologia para a Análise Socioambiental Integrada
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suscitam conflitos que se manifestam segundo aspectos técnicos e, principalmente, jurídico-
institucionais, além de apresentar um componente político que, muitas vezes, faz com que o
adequado tratamento da questão vá além da simples compatibilização entre a expansão da
oferta de energia e a conservação da biodiversidade.
Biodiversidade aquática
A prioridade que se atribui a esse tema deve ser compreendida em face da
conveniência de se antecipar estudos e pesquisas que permitam melhor compreensão da
função ecológica dos ambientes aquáticos impactados pelos projetos do PDE 2021. Exemplos
de ações nessa direção são:
Estudos de migração de peixes em bacias hidrográficas;
Aplicação e aperfeiçoamento de metodologias que procurem conjugar o
aproveitamento do potencial hidroenergético de uma bacia e a conservação da
biodiversidade aquática, tanto em estudos de inventário hidrelétrico quanto em
estudos de impacto ambiental de usinas.
Vegetação nativa
A mesma motivação que confere prioridade ao tema “biodiversidade aquática”,
confere prioridade também ao tema “vegetação nativa”. Neste caso, destacam-se ações
como:
Incorporar avanços tecnológicos na concepção, na construção e na operação dos
projetos de energia de modo a minimizar as interferências diretas no meio natural;
No âmbito da expansão da cana-de-açúcar, adotar instrumentos normativos para
aperfeiçoar a regulamentação dos zoneamentos de uso e ocupação do solo, além de
esforços para compatibilizar os interesses desse setor com o pecuário, otimizando o
uso do solo e evitando o desmatamento de novas áreas;
Ampliar o conhecimento sobre a ecologia da paisagem nas áreas onde se implantarão
os projetos de energia, de modo a formular alternativas para recomposição da
conectividade, sempre que essa condição for comprometida;
Aperfeiçoar os mecanismos de controle e mitigação da pressão que surge ou se
amplia como efeito da atração populacional provocada pelos projetos.
A gestão adequada desses temas prioritários é um desafio que deve ser enfrentado
por meio de uma atuação integrada das diversas entidades envolvidas direta e indiretamente
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no processo de planejamento, implantação e operação dos empreendimentos de energia.
Além da articulação política e institucional, devem ser adotadas medidas e ações de
acompanhamento e avaliação técnica orientadas para os temas prioritários nas fases de
estudo, construção e operação.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos desafios associados ao atendimento da crescente demanda de energia e da
importância da variável socioambiental nesse processo, novas metodologias vêm sendo
desenvolvidas para o aprimoramento da análise socioambiental do PDE e, consequentemente,
para o planejamento do setor energético.
A análise socioambiental integrada do conjunto de projetos que compõem o Plano surgiu
nesse contexto, tendo como objetivo fornecer subsídios e orientar a gestão antecipada e
preventiva das principais questões socioambientais e riscos associados à expansão da oferta de
energia.
Os resultados da análise integrada permitiram visualizar os efeitos da distribuição do
conjunto de projetos de energia no território nacional, tendo como referência as sensibilidades
socioambientais mais importantes de cada região. Essa abordagem permitiu identificar temas
prioritários para gestão ambiental do setor de energia e, assim, apontar os principais desafios
associados ao PDE 2021 no que diz respeito aos seus aspectos socioambientais.
Essa nova metodologia continuará sendo aprimorada periodicamente para os próximos
ciclos do PDE, de modo que os aspectos socioambientais possam contribuir de forma cada vez
mais efetiva para o processo de planejamento e decisão do setor de energia.
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9 BIBLIOGRAFIA
BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada
em 5 de outubro de 1988. Contém as emendas constitucionais posteriores. Brasília, DF:
Senado, 1988.
EPE [Empresa de Pesquisa Energética]. Plano Decenal de Expansão de Energia 2020. Rio de
Janeiro: EPE, 2011.
_______________. Plano Decenal de Expansão de Energia 2021. Rio de Janeiro: EPE, 2012.