Sermão de Santo António - Padre António Vieira

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Para os alunos surdos das turmas C,G,L do 11º ano da Escola Secundária Artística António Arroio - ano lectivo 2009-2010. Profª eli

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Pieter Brueghel, séc. XVI

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A IMAGEM

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Imagens a partir do pp: daqui

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• em A v eir o

• n a F ig u eir a da F o z

• n o Tej o

• n o S a do

• n o A lg a r ve

eli

Page 7: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Lenda da Deusa do Sal

Conta uma lenda que em uma ilha longínqua vivia uma solitária deusa de sal.

Ela era apaixonada pelo mar.

Passava dias, noites, horas na praia observando o balanço de suas ondas, sua beleza, seu mistério, sua

magnitude. Um desejo enorme começou a apossar-se do seu coração: experimentar toda aquela beleza.

Esse desejo ia aumentando até que um dia a deusa resolveu entrar no mar.

Logo que ela colocou os pés no mar, eles sumiram, derreteram-se. Encantada com o mar, ela seguiu em

frente e logo após suas pernas e coxas não mais existiam.

A deusa, entretanto, seguiu adiante, sentindo partes do seu corpo derretendo-se, até ficar apenas com o

rosto do lado de fora. Uma estrela que observava tudo falou:

- Linda deusa, você vai desaparecer por completo. Daqui a pouco você não mais existirá.

- A água do mar desfazia o rosto da deusa, mas ela respondeu fazendo um esforço:

- Continuarei existindo, porque agora eu sou o mar também.

Para conhecer e experimentar é preciso permitir-se, ir em frente. Quando isto acontece, a mudança se dá, mudamos. A

deusa mudou, transformando-se em mar, fazendo parte dele, passou a ser o mar que ela tanto admirava da praia.

O mar por sua vez, também transformou-se, porque foi salgado pela deusa. Ambos experimentaram a mudança: a deusa e o

mar.

(de amigo brasileiro - por email)

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Presente em rituais religiosos de diversas épocas e civilizações, o sal foi adquirindo fama de ingrediente

poderoso na luta contra entidades do mal e interesses mesquinhos, passando a alimentar inúmeras

crendices e superstições que o imaginário popular veio mantendo vivas através dos anos. Entre as

muitas que existem estão as seguintes:

• tomar banho com sal grosso protege contra o mau-olhado.

• para afastar os maus espíritos deve-se jogar sal por cima do ombro esquerdo.

• derrubar sal traz má sorte; para evitá-la, jogue sal por cima do ombro direito.

• em muitos países espalha-se sal no umbral da porta de uma casa nova para impedir a entrada de maus

espíritos.

• a mistura de sal com água ou álcool, além de absorver tudo de ruim que está no ar, ajuda a purificar a

casa e impede a entrada da inveja, do mau-olhado e de outros sentimentos inferiores.

• depois de uma festa é sempre conveniente lavar com sal grosso os pratos e copos usados, para

neutralizar a energia negativa de qualquer dos convidados.

Page 11: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

• banho de sal grosso e o antigo escalda-pés (mergulhar os pés em salmoura bem quente) neutralizam a

electricidade do corpo e renova as energias.

• uma pitada de sal jogada sobre os ombros afasta a inveja.

• sal marinho seco colocado atrás da porta, em um pires branco, puxa a energia negativa de quem entra

em sua casa.

• em alguns lugares ainda se conserva o costume do noivo ir para a igreja com sal no bolso esquerdo,

porque essa simpatia protege contra a impotência.

• se você colocar sal grosso em um ambiente, ele deverá ser trocado a cada quinze dias, pois decorrido

esse prazo ele ficará saturado.

• traz má sorte o saleiro passado da mão de uma pessoa para outra.

• emprestar, ou pedir sal emprestado, destrói a amizade. O melhor é oferecê-lo ou aceitá-lo com

presente.• texto integral aqui

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O SAL E A ÁGUA

Um rei tinha três filhas; perguntou a cada uma delas por sua

vez, qual era a mais sua amiga. A mais velha respondeu:

– Quero mais a meu pai, do que à luz do Sol.

Respondeu a do meio:

– Gosto mais de meu pai do que de mim mesma.

A mais moça respondeu:

– Quero-lhe tanto, como a comida quer o sal.

O rei entendeu por isto que a filha mais nova o não amava

tanto como as outras, e pô-la fora do palácio. Ela foi muito

triste por esse mundo, e chegou ao palácio de um rei, e aí se

ofereceu para ser cozinheira. Um dia veio à mesa um pastel

muito bem feito, e o rei ao parti-lo achou dentro um anel

muito pequeno, e de grande preço. Perguntou a todas as

damas da corte de quem seria aquele anel.

Page 13: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Todas quiseram ver se o anel lhes servia: foi passando, até que foi chamada a cozinheira, e só a ela é

que o anel servia. O príncipe viu isto e ficou logo apaixonado por ela, pensando que era de família de

nobreza.

Começou então a espreitá-la, porque ela só cozinhava às escondidas, e viu-a vestida com trajos de

princesa. Foi chamar o rei seu pai e ambos viram o caso. O rei deu licença ao filho para casar com

ela, mas a menina tirou por condição que queria cozinhar pela sua mão o jantar do dia da boda. Para

as festas de noivado convidou-se o rei que tinha três filhas, e que pusera fora de casa a mais nova. A

princesa cozinhou o jantar, mas nos manjares que haviam de ser postos ao rei seu pai não botou sal

de propósito. Todos comiam com vontade, mas só o rei convidado é que não comia. Por fim

perguntou-lhe o dono da casa, porque é que o rei não comia? Respondeu ele, não sabendo que

assistia ao casamento da filha:

– É porque a comida não tem sal.

O pai do noivo fingiu-se raivoso, e mandou que a cozinheira viesse ali dizer porque é que não tinha

botado sal na comida. Veio então a menina vestida de princesa, mas assim que o pai a viu, conheceu-

a logo, e confessou ali a sua culpa, por não ter percebido quanto era amado por sua filha, que lhe

tinha dito, que lhe queria tanto como a comida quer o sal, e que depois de sofrer tanto nunca se

queixara da injustiça de seu pai.

Teófilo Braga, In Contos Tradicionais Portugueses

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A VERSATILIDADE DO SAL

Substância imprescindível ao equilíbrio das funções

orgânicas pode produzir efeitos danosos se consumida

em excesso. Demanda natural fez com que superasse o

ouro como valor estratégico e fosse base para

remunerar o trabalho.

André de Souza Mecawi , Luis Carlos Reis, José

Antunes Rodrigues

O sal (cloreto de sódio ou NaCl), encontrado em grande

quantidade na Natureza, integra a dieta diária de quase

toda a população mundial, principalmente por melhorar

o sabor dos alimentos. Mas desde o início do século

passado a quantidade de sal ingerida é vista como um

componente importante pela saúde pública, uma vez que

seu consumo excessivo está relacionado ao

desenvolvimento da hipertensão arterial. Segundo

estimativas da Organização Mundial da Saúde, essa

doença, que afecta aproximadamente 1 bilhão de pessoas,

é uma das principais causas de mortes que poderiam ser

evitadas com a simples redução do consumo de sal a

valores diários entre o mínimo necessário de 0,1 a 0,5

grama até um máximo de 5 gramas. Talvez o sal seja o

mais antigo e comum aditivo alimentar. Praticamente

todas as culturas antigas temperavam seus alimentos

usando sal, tanto para suprir eventuais deficiências

deles como para melhorar o sabor. Há registos do uso

do sal para conservar alimentos em antigas culturas às

margens do Nilo, no Egipto, há 8 mil anos. Guerras

foram travadas pelo controle de minas de sal que, em

determinados momentos da história, foi mais valioso

que o ouro. Em virtude da necessidade do organismo

por sódio, a maioria dos animais vertebrados procura

esse elemento no ambiente onde vivem. Os seres

humanos não sentem necessidade explícita de outros

minerais como magnésio, iodo ou potássio, da mesma

forma como ocorre com o sódio. A necessidade tanto de

sódio quanto de água são os dois únicos mecanismos de

busca e ingestão de moléculas específicas inatas. Esses

processos são regulados mutuamente para manter os

níveis correctos de água e sal no organismo. […]

Page 15: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

O Sal na Dieta Ocidental

O sal foi muito consumido na conservação de alimentos,

principalmente carnes, na ausência das geladeiras modernas.

Posteriormente o seu consumo foi significativamente reduzido.

Mas ainda hoje continuamos a apreciar alimentos salgados, como

embutidos, carnes curadas e conservas, de modo que carregamos a

herança de quase 8 mil anos de consumo de altos teores de sal, e

seu sabor é requisitado da mesma forma que a cafeína, doces,

gordura, carnes e outros alimentos consumidos em quantidades

acima de nossas necessidades diárias.

A maioria das pessoas aprecia muito o sal, o que as leva a consumos

elevados.

Texto com supressões.

Fumeiro tradicional: aqui

Imagem (desconheço autoria): da net

Page 16: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Sal e Hipertensão

Dados experimentais mostram que ratos

alimentados com uma dieta mínima de sal vivem

significativamente mais que outros que ingerem

quantidades maiores. Em estudo realizado com uma

colónia de chimpanzés, animais geneticamente

próximos do homem, observaram-se aumentos

progressivos na pressão arterial à medida que

quantidades crescentes de sal foram adicionadas à

dieta ao longo de 20 meses – a quantidade máxima

de sal administrada aos chimpanzés foi similar à da

dieta ocidental típica. Curiosamente, a hipertensão

reverteu completamente seis meses depois de os

animais retornarem à dieta natural. Em humanos,

vários estudos confirmam que o consumo excessivo

de sal é uma das principais causas de hipertensão

arterial.

CONCEITOS-CHAVE

- A produção de sal é bem distribuída

mundialmente e essa substância pode ser extraída

da água do mar e de lagos salgados, ou a partir de

depósitos minerais ou incrustações superficiais.

- Ingerir sal e água são os únicos mecanismos

comportamentais que já nascem com a pessoa e se

autorregulam para manter em equilíbrio os

conteúdos corporais desses minerais.

- Por ser um poderoso conservante de alimentos,

carregamos a herança de quase 8 mil anos de

consumo de sal e seu uso é estimulado da mesma

forma que a cafeína, açúcar e gorduras –

alimentos que ingerimos em quantidades maiores

que as necessidades diárias.

Texto com supressões e adaptações

Page 17: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

SAL NA HISTÓRIA, ARTE E RELIGIÃO

• O poeta Homero referiu-se ao sal como “uma substância divina”. Platão reverenciou a importância do sal

dizendo que ele é “particularmente caro aos deuses”.

• No Império Romano, a Via Salaria, era a principal estrada que levava a Roma e por onde passavam os soldados

com cargas desse produto. Para o senador romano Cassiodoro, o sal era mais importante que o ouro, porque

“alguns precisam de ouro, mas todos precisam de sal”.

• A palavra “salário” deriva do latim salarium, e este de sal, salis (em grego), porque era costume entre os

romanos pagar-se aos soldados em quantidade de sal. Hoje, se uma pessoa é produtiva em seu trabalho, diz-se

que ela “vale seu salário” ou “vale seu sal”.

• A palavra “sal” aparece mais de 50 vezes na Bíblia em versículos como “Vós sois o sal da terra”. (Mateus 5: 13).

• O papel do sal na reprodução e fertilidade é reflectido no mito antigo da Vénus, que na tela de Sandro Botticelli

nasce do mar.

• “O sábio coloca uma pitada de açúcar em tudo o que diz ao próximo, e ouve com um grão de sal o que o outro

diz.” (Provérbio tibetano)

• No filme Vicky, Cristina, e Barcelona, de Woody Allen (2008), uma das personagens descreve da seguinte forma

seu fracassado relacionamento amoroso: “O amor requer um equilíbrio perfeito. É como o corpo humano. Pode

ter todas as vitaminas e minerais, mas se houver um pequeno e único ingrediente em falta, como o sal, por

exemplo, a gente morre”.

Com supressões e adaptações minhas, texto colhido aqui

Page 18: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

A flor de sal é a fina flor de sal marinho, também chamada

de nata ou coalho de sal – por ser recolhido à superfície das pequenas

peças, tal como a nata do leite.

A flor de sal, branca, húmida e cristalina, é colhida no verão. É uma

finíssima película de cristais de sal que se forma na superfície da água das

salinas, e que é cuidadosamente recolhida com um instrumento especial,

que nunca toca o fundo. O cristal tem a forma de delgadíssimas

palhetas que facilmente se desagregam por pressão entre os dedos...

A Flor de Sal não sofre qualquer processamento posterior, seca ao sol e é

depois embalada, mantendo o sabor e a humidade do mar.

Recolha da flor do sal – ver estas imagens

Imagem: da net

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Lenda Medieval

O Sermão de Santo António aos Peixes tem por

base a lenda medieval segundo a qual Santo António,

numa das suas pregações em que não consegue ser

ouvido pelos homens, lança a sua palavra na praia

deserta para os peixes, que levantam a cabeça à

superfície das águas como sinal da força da sua

palavra.

Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa

Imagem: daqui

Page 23: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Estava Santo em Itália, junto ao mar, descontente porque os hereges da terra o não tinham querido ouvir, quando

resolveu falar aos peixes, que, em cardumes, correram a escutá-lo, com a cabeça fora da água e o olhar fixo no seu

rosto. Todos os peixes se aproximaram o mais que puderam do santo, pondo-se na frente os mais pequenos, depois os

mais altos e, por fim, os grandes monstros marinhos. E todos ficaram quietos, seduzidos pela eloquência do santo,

que começou por lhes dizer: “Irmãos meus peixes, muita obrigação tendes de agradecer, segundo as vossas

possibilidades, ao vosso Criador por vos ter dado tão nobre elemento para vossa habitação e ainda águas doces e

salgadas, como vos agrade, e muitos refúgios para vos abrigar das tempestades.”

Séculos depois, quando estava no

Brasil, o Padre António Vieira

serviu-se da lenda para um dos

seus mais conhecidos sermões, o

Sermão de Santo António aos

Peixes.

Page 24: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

ALEGORIA

Figura que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades, isto é, temas abstractos, por

termos que designam realidades físicas ou animadas (animais ou humanas), através de uma sequência

organizada de metáforas contínuas e de modo que os elementos do plano das ideias e do plano figurado

se correspondem um a um. Qualquer discurso alegórico pode ser lido de modo não alegórico,

permanecendo inteiramente aceitável e coerente.

“O polvo, com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece

uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão.”

Padre António Vieira, Sermão de Stº António aos Peixes

Polvo traição, hipocrisia

Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente

A figura de olhos vendados e balança na mão que representa a Justiça.

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SERMÃO DE SANTO ANTÓNIO AOS PEIXES

• O Sermão de Santo António aos Peixes do P. António Vieira foi pregado em S. Luís do Maranhão, no dia da festa de

Santo António.

• Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

• A frase bíblica que serviu de base ao Sermão foi: “Vós sois o sal da terra”.

• As duas propriedade do sal são: conservar o são e preservar da corrupção. Com base nessas propriedades, Padre

António Vieira dividiu o Sermão em duas partes: os louvores dos peixes e os defeitos dos peixes.

• Os peixes ouvem, mas não falam; os homens falam muito e ouvem pouco. Os peixes foram as primeiras criaturas que

Deus criou e entre todos os animais da terra são as maiores e as mais numerosas.

• Os homens recusaram ouvir a palavra de Deus e os peixes acorreram todos. Todos os animais se podem domesticar, os

peixes vivem em liberdade. O pregador tirou uma conclusão que repete várias vezes: quanto mais longe dos homens,

melhor. E dá o exemplo de Santo António que deixou Lisboa, Coimbra, Portugal e retirou-se para um ermo.

• O peixe de Tobias serviu para curar o seu pai da cegueira e afastar de sua casa os demónios; a rémora tem tanta força

que pode parar o leme de uma nau; o torpedo faz tremer tanto o pescador que este deixa de pescar. O peixe “quatro-

olhos” defende-se dos que o atacam do fundo do mar e da superfície do mar.

• Padre António Vieira compara o peixe de Tobias e a rémora a Santo António porque curava, isto é, convertia as almas e

tinha tanta força que fazia tremer os pescadores, afastando-os de pecar.

• Padre António Vieira faz duas repreensões aos peixes: 1ª – os peixes comem-se uns aos outros; 2ª – os peixes são

ignorantes e cegos.

Page 26: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

• O pregador selecciona quatro peixes e põe em destaque os seus defeitos. Assim, os roncadores personificam a

arrogância; os pegadores, a servidão ou o parasitismo; os voadores, a ambição; o polvo, a traição.

• O polvo é comparado ao camaleão porque muda de cor, mas distingue-se dele porque ataca covardemente.

• Judas é comparado ao polvo porque traiu o Mestre, mas é considerado menos culpado do que este peixe porque

realizou a traição à luz.

• O último capítulo é chamado a peroração porque é a conclusão.

• O Sermão é uma sátira social visto que o Padre António Vieira tem como principal objectivo criticar a exploração dos

homens, sobretudo exercida pelos brancos; visa também criticar os holandeses que pretendiam apoderar-se da Baía.

• O Sermão ainda é actual porque ainda se mantêm alguns dos graves defeitos na nossa sociedade como por exemplo: a

ambição, a exploração, a traição, o servilismo.

• Os recursos expressivos mais utilizados para convencer os ouvintes são: apóstrofes, interrogações, exclamações,

comparações, metáforas, antíteses, repetições, ….

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Sermão de Santo António aos Peixes

Pregado na cidade de S. Luís do Maranhão, ano de 1654. Este sermão (que todo é alegórico)pregou o autor três dias antes de se embarcar ocultamente para o reino, a procurar o remédio dasalvação dos índios.

Vos estis sal terrae (S. Mateus, 5)

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Page 30: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da

terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas

quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual

será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se

não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina;

ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhe dão, a não

querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou

porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o

que dizem. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si e não a Cristo; ou porque a

terra se não deixa salgar, e os ouvintes se pregam a si e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa

salgar, e os ouvintes, em vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? Ainda

mal.

Padre António Vieira

• conjunção coordenativa disjuntiva – discurso disjuntivo – alternativo

• adjectivação

• interrogativa

• adversativa

• conjunção subordinativa causal – discurso causal

• inventariação das causas que impedem a terra de se deixar salgar.

Page 31: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

[…]

Isto suposto, quero hoje, à imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens se não

aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois

não é para eles. Maria quer dizer Domina maris: Senhora do mar. e posto que o assunto seja desusado, espero que me

não falte com a costumada graça. Ave Maria.

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes

Page 32: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

O POLVO

Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas,

e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo, parece um monge; com aqueles

seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma

mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois

grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo

primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no

camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está

nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como

mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe,

inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano,

lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque nem fez tanto. Judas

abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o

sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a

traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira

traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas

em tua comparação já é menos traidor!

Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes

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e o polvo é…

Page 35: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

J. Vermeer

The Art of Painting -- The Artists Studio - 1665/66

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eli

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eli

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eli

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Page 42: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Às tardes, de volta das aulas, neste meu estreito quarto

atravancado de livros, olho em redor as paredes brancas, onde

se destaca o colorido de uma ventarola chinesa, e depois o meu

próprio rosto no espelho. Então, como a madrasta da Branca

de Neve diante do cristal mágico, pergunto: «Haverá alguém

mais triste do que eu?»

Maria Ondina Braga , em Estátua de Sal

Partir é bom, mas, pensar em partir, melhor ainda. Quanto a

mim, acho que tenho sempre chegado. Partir é esperança.

Chegar, desencanto.

Maria Ondina Braga , em Estátua de Sal

Maria Ondina Braga

Page 43: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Maria Ondina Braga, autora de Estátua

de Sal, em entrevista dada a Maria

Teresa Horta e publicada em 1992 no

«Diário de Notícias», fala nos vinte

cinco anos de escrita literária.

Surpreende uma resposta sua sobre

esse tempo de dor: «Foi o mais

importante sim. O que mais vivi».

Foto e texto (adaptado:) aqui

Page 44: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

O sal da língua

Escuta, escuta: tenho ainda

uma coisa a dizer.

Não é importante, eu sei, não vai

salvar o mundo, não mudará

a vida de ninguém - mas quem

é hoje capaz de salvar o mundo

ou apenas mudar o sentido

da vida de alguém?

Escuta-me, não te demoro.

É coisa pouca, como a chuvinha

que vem vindo devagar.

São três, quatro palavras, pouco

mais. Palavras que te quero confiar,

para que não se extinga o seu lume,

o seu lume breve.

Palavras que muito amei,

que talvez ame ainda.

Elas são a casa, o sal da língua.Eugénio de Andrade

Page 45: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Carlos de Oliveira, óleo de Mário Dionísio

Page 46: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Imagem: da net

Page 47: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Estátua de SalQue você não me faça jus

a gente até releva

mas você bem que tem um plus

isso ninguém pode negar

e são tantos momentos bons

apesar dos senões

você sabe a hora certa

de trocar a pele

da vilã

por alguém de mente aberta

de quem quase sempre

sou fã

você tem uma coisa boa

que às vezes

soa estranho

e um esplendor

encontrado em cada nota do soul, soul

ou no mar quando o sol ascender

deusa do amor ou

estátua de sal

qual será você

que vai dizer quem sou

pra que eu não vá

errar e me perder?

Page 48: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

La Mujer de Lot

Nadie nos ha aclarado todavía

si la mujer de Lot fue convertida

en estatua de sal como castigo

a la curiosidad irrefrenable

y a la desobediencia solamente,

o si se dio la vuelta porque en medio

de todo aquel incendio pavoroso

ardía el corazón que más amaba.

Amalia Bautista, de La mujer de Lot y otros poemas

A mulher de Lot

Ninguém nos esclareceu ainda

se a mulher de Lot foi transformada

em estátua de sal como castigo

pela curiosidade incontrolável

e pela desobediência, unicamente,

ou se ela se voltou porque no meio

de todo aquele incêndio pavoroso

ardia o coração que mais amava.

amalia bautista

biografia

Page 49: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

A MULHER DE LOT

A mulher de Lot, que o seguia, olhou

para trás e transformou-se numa estátua de sal.

Gênesis

E o homem justo seguiu o enviado de Deus,

alto e brilhante, pelas negras montanhas.

Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:

"Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar

as rubras torres da tua Sodoma natal,

a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,

as janelas vazias da casa elevada

onde destes filhos ao homem amado".

Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -,

seus olhos nada mais puderam ver.

E converte-se o corpo em transparente sal

e os ágeis pés no chão enraizaram-se.

Quem há de chorar por essa mulher?

Não é insignificante demais para que a lamentem?

E, no entanto, meu coração nunca esquecerá

quem deu a própria vida por um único olhar.

Anna Akhmátova

tradução de Lauro Machado Coelho

Anna Akhmátova por Nathan Altman

Page 50: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

Conheço o Sal

Conheço o sal da tua pele secadepois que o estio se volveu invernoda carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemosquando das bocas se estreitavam lábiose o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negrosou louros ou cinzentos que se enrolamneste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãoscomo nas praias o perfume ficaquando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o salda tua língua, o sal de teus mamilos,e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,um cristalino pó de amantes enlaçados.Jorge de Sena por Pedro Vieira

JORGE DE SENA

Page 51: Sermão de Santo António - Padre António Vieira

A flor do sal

de FARIA, Rosa Lobato de

recenseador: António Couto Viana, 2005

Apreciação:

Rosa Lobato de Faria começou a ser conhecida através da televisão, como declamadora. Rapidamente foi mais longe:

publica poesia, romance, literatura infanto-juvenil. E apresenta-se, ainda, como actriz de telenovela. Confesso que em

todas estas actividades literárias e artísticas lhe vou admirando o talento de escritora e o talento de intérprete teatral.

Traz-nos, agora, o seu nono romance, A flor do sal, com uma capa pouco feliz e enganosa, a sugerir, pelo estilo da

ilustração, uma obra destinada à primeira adolescência. O livro descreve, com habilidade, a biografia de um pescador

baleeiro, de Cascais, chamado Afonso Sanches que, em 1480, chega por acaso às costas da América ( como se verifica,

doze anos antes de Colombo), participando o facto ao rei D. João III, na sua corte de Évora, que lhe pede sigilo, já que se

encontrava negociando com Castela o Tratado de Tordesilhas. Isto, que é rigorosamente histórico, é-nos apresentado por

Rosa Lobato de Faria através de uma escritora actual que convive com o fantasma do navegador, recebendo dele a sua

biografia, naturalmente, muito romanceada. A autora confabula bem, escreve bem, com beleza, ductilidade e fluência,

sabendo distinguir a linguagem dos nossos dias e a quinhentista. Saboroso o relato da refeição renascentista que a

personagem escritora oferece ao seu editor, com graça e erudição.Em leitur@ Gulbenkian

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Cristina Norton em entrevista ao Portal da Literatura

Mais sobre Cristina Norton

Sinopse

Mário, um algarvio de Tavira a quem os reveses económicos da família levaram a trabalhar

numa salina, vigia, durante dois dias, o céu e os sinais de uma chuva próxima enquanto

espera pelo regresso da mulher. A ironia da vida surpreende-o e, ao procurar autenticar

uma fantasia, descobre que o segredo é outro, bem mais doloroso, que o leva a pôr em

causa o seu casamento com a mulher que sempre amou. Totalmente alheia aos tormentos

inventados e reais pelos quais passou o seu marido, Irene chega no preciso momento em

que começa a chover e urge colher a flor do sal antes que se estrague. A ternura de um

abraço e a confirmação do amor que sentem um pelo outro, põem um ponto final numa

história que não é mais do que isso mesmo, uma história.

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A Estátua de SalALBERT MEMMI

Esse livro, prefaciado pelo romancista Albert Camus,

é considerado um clássico da literatura em língua francesa.

Um fascinante romance autobiográfico, em que o herói,

judeu tunisiano pobre, define pouco a pouco sua própria identidade por meio

de descobertas sobre religião, sexualidade, medo e solidariedade em meio aos

conflitos que assolam a Tunísia, sob domínio francês, antes e durante

a Segunda Guerra Mundial.

Sinopse

O americano Richard Ford, autor de Independência, publicado pela Editora

Record, retoma a saga do personagem Frank Bascombe, um corretor de imóveis

de Nova Jersey. Durante o outono de 2000, ano da virada do milénio e de

eleições presidenciais, Frank sente ter atingido um estado de tranquilidade e

aceitação que denomina de Período Permanente. Às voltas com os preparativos

do feriado de Aação de Graças, ele perceberá que suas expectativas de paz serão

frustradas quando a família surge diante dele com diversas crises e problemas.

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vamos …

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