Serviço social na área da educação perspectivas e desafios
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SERVIÇO SOCIAL na área de EDUCAÇÃO
Perspectivas e Desafios
[email protected] Lessa, assistente social do Instituto de Aplicação
Fernando Rodrigues da Silveira – Cap/UERJ
Tema contemporâneo pulsante:• Educação: solução para todos os
problemas ?• Espaço ocupacional em expansão
(não somente para o assistente social)• Efetivação complexa como política
pública: precarização
Para pensarmos na política educacional, é preciso que compreendamos bem o
conceito de política social. Partimos da ideia básica de que as políticas sociais são contradição em essência, expressão
dos conflitos entre capital e trabalho.
Políticas educacionais são contraditórias: respondem às necessidades da acumulação,
no sentido da reprodução ideológica da força de trabalho e da elevação de patamares
produtivos, mas também podem responder às necessidades dos trabalhadores no sentido do
domínio da ciência, da compreensão do
mundo e do desenvolvimento tecnológico.
Para pensarmos nas Políticas Educacionais
• Precisamos compreendê-las historicamente, articulando-as ao mundo contemporâneo.
Para isso são necessárias mediações...
Mediações
• Diversas mediações precisam ser consideradas: nossa inserção na economia mundializada, nosso modelo de produção de Ciência, a dinâmica interna do país, os interesses conflituosos entre capital e trabalho, as relações entre o Estado e a Sociedade brasileira, as pressões dos trabalhadores e da burguesia...
Pensar a educação na dinâmica internacional
• Este quadro guarda relação com as prescrições dos organismos internacionais para países periféricos.
• Elevação dos níveis de escolaridade (à despeito da qualidade), a valorização das formações profissionais de nível básico, aligeiradas e determinadas pelo mercado de trabalho, as recomendações quanto à educação de mulheres• Consideremos, ainda, as orientações no
âmbito do combate ou minimização da pobreza
Pensar a educação na dinâmica nacional
• Qual o projeto de crescimento/desenvolvimento em voga?• Qual o “lugar” dedicado EFETIVAMENTE
(para além dos discursos) à Educação como política pública?• O que a burguesia nacional espera da
política educacional ? E os trabalhadores, o que esperam ?
Por isso, no trabalho do assistente social
• Todas estas reflexões precisam ser consideradas quando pensamos nas políticas educacionais e no trabalho do Assistente Social neste âmbito.• Este não pode estar resumido ao
fazer profissional imediato, sem considerarmos o contexto complexo onde este se gesta.
Por isso, é preciso...
•Que fujamos das análises românticas, que idealizam as funções da Educação•Que não identifiquemos a Educação
como “a” saída para os problemas nacionais (perspectiva Educacionista/Kropotkin)•Que pesquisemos a área
Mudanças recentes: Brasil
• Em processo de ampliação e popularização da Educação• Regularidade• Espaço para a chamada “inclusão”• Interfaces diversas com outras políticas sociais
(saúde, trabalho, por exemplo)• Abordagem da pobreza absoluta (vide PBF)• Vinculada ao conceito de cidadania
Elementos históricos: sociedade burguesa contemporânea demanda
(educação não pode ser “descartada”)•Ampliação dos processos de
letramento e de profissionalização• Inserção/integração ao modo de
produção ascendente•Respostas às demandas de
organismos internacionais de financiamento
Mundo do trabalho demanda
•Comportamentos adequados ao trabalho desprotegido• Disciplinamento/convívio coletivo• “Empreendedorismo”• Educação atitudinal
A “formação interessada” (Gramsci) se fortalece
•A escola e a formação, portanto, mostram-se adequadas às necessidades do mundo burguês, inclusive no sentido da perpetuação da desigualdade presente no espaço extra-escolar.
Capitalismo marca a Educação
•A Educação é atravessada pela dinâmica de classe;•A escola é uma instituição de forte viés classista, ainda que, contraditoriamente, possa ser também espaço de resistência
Educação na atualidade: projetos em conflito
• Projeto burguês: formação estritamente para o trabalho (massa trabalhadora): interessada, alienada, conciliadora, produtivista, positivista• Projeto dos trabalhadores: formação
científica, desinteressada, ampla, complexa, capaz de dialogar com o conhecimento acumulado, crítica, integral, humanista, cidadã, protetora, não discriminadora
Que projeto de educação tem prevalecido?
• A formação tem sido limitada pelo projeto de educação das atitudes, ficando restrita ao domínio de conhecimentos muito básicos para o convívio numa sociedade que naturaliza as diferenças. • A “escola improdutiva” (FRIGOTTO,
1993), frágil, superficial, atitudinal, é produtiva para o capital (nas periferias).
Vejamos projetos em curso...• Amigos da Escola e afins• Reuni• Prouni• Pronatec• Parcerias público-privado no âmbito municipal• EAD• Privatizações tradicionais ou veladas (uso de
recursos públicos na rede privada)• “ONGUIZAÇÃO” da educação: descontinuidade
de projetos
Vejamos alguns números....• 16,2 milhões vivem em extrema pobreza (70 reais/mês):
como aprender assim ?• Analfabetos funcionais: 20,3% dos brasileiros (PNAD,
2009)• 9,7% é nossa taxa oficial de analfabetismo• PISA (Programa Internacional de avaliação de alunos): de
65 países ficamos em 53 em ciências e 57 em matemática• Oitava economia do mundo e 73º no ranking de IDH
(longevidade, educação e renda)
Vejamos alguns números....
• IDEducacional /Unesco (nível mundial) Brasil está em 88º• Brasil: reconhecido internacionalmente
por pagar mal seus educadores e por sua péssima infra-estrutura escolar
Algumas respostas contemporâneas por parte do Estado...
• Investimento em avaliação e não na qualidade do processo formativo• Produtivismo: premiar por resultados nas
avaliações• Ações de voluntariado• Parcerias público-privado (Pronatec)• Ações Emergenciais (Brasil Alfabetizado)
Resistência dos trabalhadores
• Educação no MST/Escola Florestan Fernandes• Lutas e efetivação de escolas
públicas democráticas, acessíveis e de qualidade•Projetos de Educação Popular• Luta sindical (apesar de fragilidades)
As políticas educacionais são instrumentos suficientes de enfrentamento da “questão
social” ?
• A questão social, em suas diferentes expressões, tem estado presente no espaço educacional e tem sido objeto de ações neste campo ao longo da história. Este quadro não é novo• Vejamos as obras como “Maquinaria e
Grande Indústria” (Marx), ou compêndios sobre História da Educação (Manacorda) ou sobre História da Educação Profissional (Manfredi, Cunha).
QUESTÃO SOCIAL e EDUCAÇÃO: vínculo histórico
• O espaço educacional, portanto, sempre foi utilizado na intenção enfrentamento/minimização das sequelas da “questão social”, em especial aquelas relacionadas à pobreza.
• Este dado pode ser verificado em ações que aliam práticas assistenciais ao espaço educacional, ou mesmo na proposição legal (vide a LDB, o ECA, a LOAS e Programas como o Bolsa Família, o Família Carioca e
afins).
Serviço Social da Educação
• Experiências no Sistema “S” na década de 1950 (trabalho do “menor”);• Ações na Educação Popular• Aproximação intensificada na década de
1990, com o advento de políticas que associam transferência de recursos à condicionalidade educacional
O trabalho do AS no espaço educacional hoje
• Precisamos encarar:• Que a expansão educacional tem sido feita de modo
descuidado e utilitarista;• Que as ações compensatórias têm minimizado a
importância da formação;• Que a Educação não é um “fetiche”;• Que não temos todas as respostas para os reflexos da
questão social na escola;• Que o campo educacional não deve comportar
emergencialismos;
Uma educação de qualidade supõe que os processos formativos recebam
suporte muito além da sala de aula
• Ninguém aprende somente na sala de aula• Estudo é igual a Trabalho (Gramsci), demanda
investimento longo e cuidadoso• A aprendizagem é resultado, também, das
condições de vida• Estímulo vai muito além do espaço da escola
Demandas para a Educação
• Financiamento: 10% do PIB•Melhoria de salários e equipamentos• Controle social• Participação intensa das famílias e dos
estudantes nos ambientes de formação
Demandas para a escola (que se refletem no Serviço
Social)• Acolhimento (crianças/adolescentes e famílias)• Qualidade• Abertura e diálogo com a família e a
comunidade• Melhor organização da rede de apoio escolar• Controle social
É preciso fundamentar teoricamente a prática
• É preciso conhecer o debate em torno da Educação brasileira• A inserção do assistente social no campo
educacional deve se concretizar indo além das demandas da instituição (em geral restritas ao controle dos “alunos problema”)• Estimular um olhar mais totalizante em torno
das expressões “questão social” no ambiente escolar: desvelar a complexidade do conceito “família/aluno” problema
Possibilidades...• Projetos em torno das expressões da
questão social no interior da escola são importantes;• Articulação de recursos na organização de
uma retaguarda de apoio aos processos educacionais;• Ações no sentido de favorecer o espaço
democrático e a aproximação família-escola (inclusive na gestão escolar);• Organização de atividades de caráter
multiprofissional
Desafios em um Colégio de Aplicação
• Público: pseudo-diversidade• Questões que afligem as camadas médias urbanas na
educação de seus filhos (não necessariamente relacionadas à destituição econômica)• Tensão: “escola contra família e família contra a escola”• Organização de um Programa de Bolsas
(auxílio/inclusão/inserção)• Desenvolvimento de Projetos (temas transversais,
direitos humanos)• Ampliação do olhar em torno das expressões da
“questão social”
Serviço Social nos CAPs: experiência em construção
• UFMA• UFJF• UF Viçosa• USP• UFRJ
•Outras: IFETs
Educação
• A democratização do acesso à escola é fundamental e necessária, mas não retira do abandono, por si só, longas faixas populacionais condenadas à não existência;
Pertinência da poesia de Brecht
• Como pode não ser um embusteiro aquele que
Ensina os famintos outras coisasQue não a maneira de abolir a fome ?
Referências Básicas...• FREIRE, Paulo e HORTON, Myles. O caminho se faz caminhando:
conversas sobre educação e mudança social. São Pulo: Cortez, 2003 • FRIGOTTO, Gaudêncio. A produtividade da escola improdutiva. SP,
Cortez, 1993• ___________. Juventude, trabalho e educação no Brasil.
Perplexidades, desafios e perspectivas. IN, NOVAES, Regina. Juventude e Sociedade, trabalho cultura e participação. São Paulo, Ed Perseu Abramo, 2004
• MANFREDI, Silvia. Educação Profissional no Brasil. SP, Cortez, 2003• MANACORDA, Mario A. História da Educação. SP, Cortez, 2000• MARX, Karl. O capital, volumes I e III. Coleção os economistas, SP,
Nova Cultural, 1987• MÉSZÁROS, Istvan. Educação Para além do capital. Boitempo;
Campinas (SP): 2002.