Mudança de slides automática!Mudança de slides automática!

Um dia, de repente, me senti velho, rejeitado, sem serventia para nada a não ser para cuidar de netos. Minhas opiniões não serviam mais e minhas conversas eram desatualizadas, sem razão de

ser, inconvenientes.

Senti-me isolado, superado, usado e jogado fora, como um chiclete mascado por vários minutos e que agora estivesse insosso e incomodando na boca.

Não que o que eu propunha não fizesse sentido, mas era o momento do novo, do jovem, do "plugado", antenado, moderno, atual.

De nada valiam cinqüenta anos de trabalho duro, escoados de um início de carreira num balcão de uma pequena "venda" para as obrigações de "office boy“, num escritório de contabilidade, e

evoluindo, a seguir, para o afã de anos a fio atuando em empresas do porte de um Bradesco, Volkswagen do Brasil, ...

... dirigido um jornal que mais servia a esquerda do que à cidade e com toda a nata de anunciantes contra, apenas por entender que minha cidade precisava de duas opiniões.

O que fazer com toda experiência adquirida por mais de dez anos atuando na empresa mais competente da comunicação brasileira, por acaso Rede Globo de Televisão, em tempos de Boni,

que dizia que lá o erro não era permitido?

E de que valiam anos de estudos, incluindo por uma das mais eficazes escolas de direito do País, pela qual passaram grandes nomes do universo jurídico nacional?

Que dizer dos muitos cursos paralelos às minhas atividades, dos treinamentos, viagens, leituras, filmes, jornais e revistas que faziam parte da minha rotina? Pra que tudo aquilo?

Depois de ter convivido com altas decisões num momento em que a comunicação brasileira passou por absoluta revolução, com chegada da televisão por assinatura, o que mais me

aguardava, se já não conseguia mais voltar no tempo e enfrentar de novo o balcão de uma venda?

Rejeitado e absolutamente fora do “justing time”, me vi perdido e ponto de me decidir pelo pijama e molhar minhas plantas.

Não me dei bem, não me senti confortado, pois ainda tinha muito a oferecer... Algo dentro de Não me dei bem, não me senti confortado, pois ainda tinha muito a oferecer... Algo dentro de mim insinuava isso. mim insinuava isso.

A internet era algo que chegava timidamente ao Brasil, mas para acessá-la, tinha que aprender a ligar um computador... Aprender o básico, para depois ir em frente e passar a usar todas as

ferramentas e recursos que o novo, bem sabia, iria proporcionar.

Para ter início, busquei uma professora especializada em aulas para interessados da terceira idade. Foi a conta perfeita e voltei a me encontrar diante de desafios, pois desafios fizeram parte

de toda minha trajetória pessoal e profissional.

Foi como ter novamente nascido e com um mundo à frente a conhecer. Fiquei encantado e jamais deixei de estudar, buscar acompanhar as revoluções. Hoje, modestamente, posso me apresentar como quem conhece relativamente os princípios fundamentais e me vejo pronto a enfrentar o

mercado de trabalho. Estou vivo!

Apenas confesso que não consigo mais me adaptar no convívio com os que ainda pensam e agem como na primeira década do século passado, ou ainda são influenciados pelo desejo de consumo

e se realizam a bordo de um carro moderno, mesmo que pagando por longas prestações.

Sinto-me outro, um jovem novamente, embora o preço que me vejo obrigado a pagar, porque acesso mais rápido as informações e minhas conversas geralmente se dão com base no que lera pela manhã de ontem, enquanto meus então amigos se baseiam no que saíra no jornal impresso

de hoje . Fiquei fora do tom ou do time ...

Mudei de amigos, troquei os do meu tempo, que me rejeitam, pelos jovens plugados e também pelos sessentões, que como eu não temem a novidade.

Mudaram-se os amigos, mudou-se a forma como me enxergam, precisei mudar meu trajeto físico, trocar de cafés para papos mais alongados, mudei eu, mudaram poucos, mas não mudaram

todos.

Isso me custa e requer paciência, pois até em casa preciso me quietar, porque de nada adiantam explicações. Talvez não se tenha inventado remédio para sessentões que sabem ligar

computadores, pois suas cabeças mudaram e nem Bill Gates previu que sessentões também poderiam ingressar nesse universo.

Sinto-me bem, estou ótimo, depois de passado um período em que a cabeça não suportou tanta exigência. Talvez tivesse me tornado fanático demais pelo novo, ou focado muito seriamente para me ver pronto para continuar participando do mercado de trabalho e falando a língua dos

jovens.

Apenas devo confessar que, paralelamente a toda essa mutação, tive que conduzir minha vida, pois sessentão, às vezes, também é irmão, marido, pai e avô. E de sobra ainda mantém alguns

amigos leais que entendem que desafios existem para serem superados.

Penso ter vencido o desafio tecnológico, agora tenho que reconquistar os amigos perdidos, se é que vale a pena, pois também sei que amigos que se perde são aqueles que não eram amigos.

Os poucos que restaram do passado e os novos conquistados, e que me entendem, me bastam. E a conclusão pode ser estendida para o âmbito familiar.

Por mais que me deixe guiar pelos princípios de marketing, que por acaso abracei pelo encantamento e adotei como profissão, tenho que recorrer ao ensinamento exatamente de um líder da esquerda, que aliás também aprendi a admirar, porque bem sei: o que seria do mundo

sem os idealistas?

Refiro-me a Che Guevara que deixou o legado: “Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás? “

Então fico olhando a paisagem e vejo um belo monte a transpor ... e sabem por que? Então fico olhando a paisagem e vejo um belo monte a transpor ... e sabem por que? Porque atrás tem um arco-íris, que vejo numa curva ascendente, que vai dar não sei onde, ...Porque atrás tem um arco-íris, que vejo numa curva ascendente, que vai dar não sei onde, ...

mas hei de saber! mas hei de saber!

www.vivendobauru.com.br

Texto e apresentação