Sessões Coordenada

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SESSÕES CORDENADAS Sessão 3

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sessões coordenadas - décimo salão de extensão

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PRESERVAÇÃO E CATALOGAÇÃO – ACERVO “PORTO ALEGRE EM FOCO”O Museu da UFRGS completa em 2009 vinte e cinco anos de atuação, deste então, vem promovendo e desenvol-vendo conhecimento nas mais diversas áreas. Exposições, palestras e oficinas tanto nas áreas da ciência e tecnolo-gia quanto nas humanas e artísticas, possibilitam ao seu público uma interação interdisciplinar. O espaço é aberto a todos, recebendo visitantes da própria universidade, estudantes da educação infantil, do ensino fundamen-tal e médio, professores, além da comunidade em geral. Tendo como preocupação proporcionar experiências sin-gulares, possibilitando ao visitante interagir, sentir, ques-tionar e imaginar. O Museu da UFRGS traz ainda em seu acervo, um conjunto de vestígios históricos: documen-tos, instrumentos e equipamentos científicos, materiais didáticos, objetos, fotografias... Compondo um campo

documental cujos objetivos são de preservação, pesquisa e comunicação. Grande parte corresponde a um acervo fotodocumental, contendo cerda de 10.000 imagens so-bre a história da cidade de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul, além de imagens referentes à história da própria UFRGS. O Museu possui também objetos e instrumentos científicos coletados de diversos departamentos da uni-versidade, compondo o que chamamos, de acervo 3D. Integra, também, seu acervo a coleção Acervo das Alices, composta de 512 obras de arte, que faziam parte do ate-lier das artistas plásticas: Alice Soares e Alice Brueggman. Junto à manutenção e preservação deste acervo, há o trabalho de classificação, catalogação e de registro. Este processo é contínuo devido ao fato de que o acervo esta em constante crescimento, além dos avanços e reflexões quanto aos processos metodológicos de documentação e preservação. Compõem também o acervo do Museu, 478 obras de arte contemporâneas oriundas da exposição “Porto Alegre em Foco” ocorrida no ano de 2003 na Pina-coteca Barão de Santo Ângelo, Instituto de Artes/UFRGS.

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Posteriormente a exposição, estas obras foram doadas para o Museu da UFRGS pela então curadora e professora do Instituto de Artes Teresa Poester. Nesta exposição ar-tistas foram convidados a enviar por correio um trabalho em tamanho A4 em qualquer técnica, tendo como refe-rência a cidade de Porto Alegre, sendo assim, trabalha-das temáticas como o Guaíba, Gasômetro, Fórum Social Mundial, Parque Farroupilha... Foi apresentada como pro-posta principal da exposição a anulação dos critérios de qualidade de bom ou ruim, levando em conta somente a pluralidade e diversidade deste conjunto. O convite foi difundido livremente pela internet e todos os trabalhos, de acordo com a proposta, foram aceitos. Artistas reco-nhecidos, iniciantes, professores e estudantes de arte de todo o Brasil e de outros países como Japão, Canadá, Itália, Noruega, Espanha, Cuba, Argentina enviaram seus trabalhos. É, portanto, a partir destas obras que se inicia o meu trabalho no projeto de extensão, cujo objetivo é a preservação, catalogação, classificação, higienização e conservação das obras de arte, possibilitando futuras ex-

posições e pesquisas. O trabalho constitui-se inicialmente em um processo de higienização das obras; grande par-te delas possui no seu verso restos de cola, fita adesiva... Que ao longo do tempo produzem manchas, devido a sua composição ácida, que atingem a superfície da obra de arte e, portanto devem ser removidos o mais rápido possível. É um exercício bastante delicado, que deve ser realizado com cautela para que não ocorra nenhum dano a obra, para isto, contamos com o auxílio de espátulas e instrumentos próprios para essa manipulação. Após este procedimento, para a conservação das obras de arte, passamos a armazená-las em envelopes de papel neutro (sem acidez), sempre tomando precauções, como man-ter as mãos limpas e usar luvas, impedindo que a sujeira depositada nas mãos e a gordura natural da pele danifi-que-as. O manuseio das obras de arte deve ser o mínimo possível, o bastante apenas para executar as tarefas. As instruções sobre precauções não tem nenhuma relação com o valor da obra de arte, leva-se em conta somente a condição física de cada objeto. Após a higienização e

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armazenamento adequado passamos para a terceira eta-pa do processo: a catalogação das obras. Dados como título, autor, data, técnica são arquivados juntos a obra. Ao catalogar obras de arte passamos a administrar um conjunto de informações relacionadas as especificidades daquele objeto pelo qual a instituição tornou-se respon-sável.Ao catalogar estas obras as tornamos acessíveis as condições de empréstimo para exposições e pesquisa. O Museu da UFRGS está aberto à comunidade, e através desse trabalho, preservando, conservando e valorizando o nosso patrimônio cultural, permite o acesso de todos ao conhecimento e a pesquisa.Passando a ser também objetivo deste projeto atender todos aqueles que bus-cam auxílio em suas pesquisas dentro do nosso acervo, recebendo professores, alunos e comunidade em geral. Atualmente o Museu da UFRGS vem trabalhando na pro-dução de um catálogo online das obras pertencentes ao seu acervo, afim de facilitar e tornar ainda maior o núme-ro de pessoas que utilizam o nosso acervo como fonte de conhecimento. Por fim, como estudante de Artes Visuais,

o projeto proporciona uma atividade complementar a minha graduação, possibilitando a aplicação prática do conhecimento adquirido em sala de aula. Atuando no Museu entro em contato direto com o meio cultural, po-dendo assim tomar maior conhecimento do meu campo de trabalho e de pesquisa. Tenho ainda a oportunidade de dialogar com outras áreas do conhecimento como: história, museologia, comunicação... Além de contribuir na acessibilidade de todos a estas obras, sendo o traba-lho de conservação e catalogação um processo de imen-sa importância pois reforça o sentimento de preservação e difusão do nosso patrimônio cultural.

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A AÇÃO CULTURAL, BIBLIOTE-CAS & MUSEUS COMUNITÁRIOS: O CASO DA BIBLIOTECA LE-VERDÓGIL DE FREITAS, BAIRRO LOMBA DO PINHEIROO objetivo do projeto é construir um programa de ação cultural e educativa que reúna a Biblioteca Leverdógil de Freitas ao Museu Comunitário. Trata-se de ação integran-te do Programa Lomba do Pinheiro, Memória, Informação e Cidadania, a ser realizado na comunidade desse bairro que é hoje considerado um dos treze bairros descritos como sendo os de mais alta vulnerabilidade social (IVS 0,46) da cidade de Porto Alegre. Este projeto foi plane-jado numa parceria entre a UFRGS e o Museu Comuni-tário e a Biblioteca da Lomba do Pinheiro, a fim de de-senvolver ações que pudessem modificar esse quadro, utilizadas estratégias que envolvam a comunidade em

atividades de inclusão e mudança social através de ações culturais e educativas. Utiliza a metodologia do planeja-mento participativo, ao prever a participação da comu-nidade do bairro da Lomba do Pinheiro na definição de todas as estratégias e linhas de trabalho. Prevê a criação de subsídios teóricos e procedimentos metodológicos próprios para a integração dos cursos de Bibliotecono-mia, Arquivologia e Museologia como um campo inter-disciplinar dentro da área das Ciências da Informação. A metodologia inclui as técnicas e recursos da observação participante, oficinas de educação ambiental, exposições itinerantes e temporárias, seminários e outras ações cor-relatas. Os resultados serão utilizados como instrumentos para avaliação curricular dos cursos envolvidos, a partir da análise da adequação de estratégias e mecanismos de realização de ações culturais e educativas integradas. Tomando como ponto de partida a observação de que os freqüentadores da Biblioteca não visitam o Museu, e vive-versa, foram incluídas dinâmicas pedagógicas inte-gradas, que envolvam a inserção dos visitantes em ambos

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os espaços. Nessa perspectiva, serão promovidas oficinas que discutam conceitos relacionados à integração para-digmática entre os cursos de Museologia, Arquivologia e Biblioteconomia, enquanto campos singulares porém in-tegrados dentro da área das Ciências da Informação. Para isso, as atividades de ação cultural e educativa incluirão a discussão dos conceitos de patrimônio, memória, docu-mento, informação e comunicação, a serem apropriados através de visitas guiadas ao Museu e à Biblioteca, análi-se de documentos e de objetos, participação em jogos pedagógicos, oficinas de reciclagem de papel, edição de livros artesanais, e saídas de campo pelo Bairro.Com os registros dessas ações, sob a forma de textos, fotografias e demais documentos, os participantes terão oportuni-dade de criarem um acervo que constituirá uma exposi-ção itinerante, sob a forma de museu de rua. O projeto se propõe a ampliar o público freqüentador de ambas as instituições, bem como fomentar o trabalho integrado dos serviços que oferecem. A operacionalização se dará também através da oficina para formação de multiplica-

dores, que terão a função de incentivar a participação da comunidade nas ações do Museu e da Biblioteca. As ofi-cinas acontecerão em encontros semanais, abertas para crianças da faixa etária dos 9 aos 12 anos. Essa parceria permitirá aos alunos do curso de Museologia a participa-ção no cotidiano de um museu comunitário de periferia. Para o Museu e Biblioteca, representa a ampliação de uma política de se constituir num espaço de provocação, que incite as pessoas, através de uma melhor avaliação do seu ambiente social, a se reconhecerem como sujeitos responsáveis pela construção de alternativas para melhor conduzirem as suas próprias vidas e da comunidade. A meta das ações é tornar o Museu e a Biblioteca um espa-ço integrado de convivência, trocas, busca de informação e preservação da cultura. Entre seus reflexos a médio e longo prazo, prevê ser um mecanismo eficaz de recuperar a identidade do bairro e incentivar o aumento da auto-es-tima da comunidade, através de ações comunicacionais baseadas no respeito ao passado, (real ou imaginário), na valorização do sentimento de pertencimento social,

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da consciência coletiva e da preocupação com a indivi-dualidade. Os resultados práticos, bem como as reflexões teóricas e os resultados a serem publicados em relação ao assunto,contribuirão para fazer o resgate da memória e da identidade do bairro Lomba do Pinheiro. A contri-buição teórica que se espera com a produção intelectual decorrente dessa atividade, refere-se à criação de subsí-dios para a constituição da ação cultural e educativa em museus e bibliotecas comunitárias como um campo de investigação próprio, vinculado à área das Ciências da In-formação, numa perspectiva interdisciplinar.

A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔ-NIO IMATERIAL DA COMUNIDA-DE DO BAIRRO LOMBA DO PI-NHEIRO, PORTO ALEGRE, RS: AS PESSOAS

O projeto se propõe a reunir as memórias dos atores so-ciais da comunidade, a fim de, através dos relatos pes-soais, recuperar as memórias da comunidade. Realizado como uma pesquisa de abordagem qualitativa, sob a forma de um estudo etnográfico, a investigação será fei-ta através da coleta de depoimentos.. A metodologia da história oral será operacionalizada sob a forma das Ro-das de Memória, encontros mensais em que serão con-vidadas pessoas que tenham se destacado em sua vida comunitária para darem seus depoimentos em relação ao bairro. As narrativas orais são elementos importantes para recuperar as diferentes formas de manifestação e

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representação da cultura e do imaginário da comunida-de do bairro Lomba do Pinheiro, que foi até bem pouco um bairro rural que, após sofrer um crescente processo de degradação, é hoje considerado um dos treze bairros descritos de mais alta vulnerabilidade social (IVS 0,46) da cidade. O projeto Rodas de Memória foi planejado numa parceria entre a UFRGS e o Museu da Lomba do Pinheiro, a fim de desenvolver ações que pudessem modificar esse quadro, através de estratégias que pudessem envolver a comunidade em atividades de inclusão e mudança social através da cultura. Desse modo, a parceria entre o Museu e o curso de Museologia da UFRGS justifica-se pelo fato de ser útil e interessante para ambas as partes, no que se refere à criação de novos espaços de desenvolvimento e inclusão social. Através dessa parceria, propõem-se dife-rentes iniciativas voltadas à educação patrimonial, de in-teresse comunitário e acadêmico, permitindo aos alunos do curso de Museologia a sua participação no cotidiano de um museu comunitário em zona de periferia. Para o Museu representa a ampliação de sua política de se cons-

tituir num espaço de provocação, que incite as pessoas, através de uma melhor avaliação do seu ambiente social, a se reconhecerem como sujeitos responsáveis pela cons-trução de alternativas para melhor conduzirem as suas próprias vidas e da comunidade. O objetivo do projeto é tornar o Museu um espaço de preservação da cultura imaterial da comunidade, ao recuperar a identidade do bairro e incentivar o aumento da auto-estima da comu-nidade, através de ações comunicacionais baseadas no respeito ao passado, (real ou imaginário), na valorização do sentimento de pertencimento social, da consciência coletiva e da preocupação com a individualidade. Os re-gistros das memórias: fotos, objetos, relatos e vídeos, já estão sendo convertidos em exposições itinerantes, docu-mentos digitais e imagéticos, que serão disponibilizados a moradores, estudantes e pesquisadores, como estraté-gia de preservação da cultura imaterial da comunidade. As Rodas de Memória facilitam e apóiam aqueles que, de uma forma ou de outra, fazem parte da construção da co-munidade, e por mais insignificante que possa parecer, a

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memória tem a autoridade de resgatar o sentimento de pertencimento e a história de um bairro. E esse sentimen-to tem sido observado de maneira significativa, em espe-cial quando os antigos jogadores, que já não residem no bairro, chegam para participar do evento e se encontram com aqueles que ainda mantém suas raízes no local: a confraternização inicial tem sido um momento de êxtase, que deixa todos surpreendidos, inclusive os acadêmicos envolvidos no projeto. Afinal, toda e qualquer indivíduo possui em sua memória elementos que comprovam que sua trajetória neste mundo tem um significado especial, único. Sendo o resultado da aplicação de métodos e téc-nicas de pesquisa decorrentes do currículo da disciplina BIB 03060 – Metodologia da Pesquisa Aplicada às Ciên-cias da Informação, as Rodas de Memória se constituem num laboratório de pesquisa em Museologia. As suas re-flexões teóricas e metodológicas contribuirão, portanto, para constituir uma nova linha de pesquisa no curso, que é o de ação cultural e educativa em museus comunitários. Os resultados práticos, bem como as reflexões teóricas e

os resultados a serem publicados em relação ao assunto, contribuirão para fazer o resgate da memória e da iden-tidade do bairro Lomba do Pinheiro, além de unir pesso-as que viveram e participaram da construção do bairro, com sua história tão peculiar entre as décadas de 1930 e 1960. Além disso, o projeto visa aumentar a auto-estima comunitária e a valorização do bairro e de sua história, incentivando em adolescentes e crianças o senso crítico da construção de redes que possam dar continuidade às lutas iniciadas pelos contadores de suas memórias. E, fi-nalmente, a realização do projeto se constitui numa ação que integra dentro de si mesma, a um só tempo, as três dimensões da ação acadêmica, ou seja, ensino, pesquisa e extensão universitária.

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CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO ESPETÁCULO DUELO EM ESCO-LAS DA REDE PÚBLICA DE POR-TO ALEGRE.

O Projeto CIRCUITO DE TEATRALIDADE NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA DA GRANDE PORTO ALEGRE foi criado no ano de 2007 com a proposta de contribuir para a descen-tralização da produção teatral do Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Esta centralização da produção ar-tística da universidade é uma carência historicamente reconhecida, visto que nos últimos anos diversas iniciati-vas vêm sendo realizadas para combater esse problema. Como alternativa para suprir esta dificuldade, o Projeto vem buscando a construção de uma rede de escolas e entidades parceiras, nas quais vem atuando sistematica-mente, através da realização de apresentações artísticas, seguidas de debates sobre a temática abordada, bem

como, pela apresentação de demonstrações-técnicas e palestras sobre a arte cênica e oficinas gratuitas de inicia-ção teatral. Desde abril de 2007 até o presente, foram rea-lizadas 23 apresentações do espetáculo O Santo Guerrei-ro, seguidas de debate sobre a alteridade étnico-religiosa, abordada no mesmo, atendendo um público de mais de 2500 espectadores, alunos de ensino médio e EJA. Tal demanda revela a alta receptividade de iniciativas que buscam aproximar a produção artística da UFRGS com a comunidade escolar, mas antes de tudo, possibilitam ao aluno de graduação em Artes Cênicas complementar sua formação pela realização de atividades teatrais fora do espaço simbólico da universidade, contribuindo para a descentralização cultural e tendo contato com o público de Grupos Populares. Tais fatores, associados à experiên-cia acumulada, levaram à decisão de ampliar a equipe de trabalho, com vistas à criação de um espetáculo de Tea-tro de Rua, cujos objetivos principais são a ampliação do público atendido, em termos numéricos e de faixa etária, visto que, por desenvolver-se em espaços públicos, esta

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modalidade de teatro é a que mais se adequa à proposta do Projeto. O Teatro de Rua, além de envolver todos os membros da comunidade em torno das escolas, alunos e parentes, permite a aproximação estética com os ele-mentos da cultura popular, presentes no diálogo cultural no qual se dão as apresentações. Desta forma, no ano de 2009, as atividades do grupo têm se centrado na elabo-ração de um espetáculo de rua, intitulado DUELO, inspi-rado na novela homônima do escritor Guimarães Rosa, presente no livro Sagarana. Tal texto foi escolhido pela riqueza e complexidade na abordagem do imaginário popular, tratando de dois temas altamente relevantes na atualidade: a violência em regiões em que o Estado está presente de forma frágil e a afirmação do sujeito face o contexto de abandono. Tal universo permite a ampliação das investigações da pesquisa sobre as relações entre a Performance Ritual e a Atuação Teatral, que gerou o pri-meiro espetáculo do Projeto, O Santo Guerreiro, e cujas diretrizes teóricas apóiam-se no conceito de Teatro como Encontro, ou seja o diálogo cultural, cujo desdobramen-

to foi a criação do referido Projeto de Extensão. Ao longo desses quatro anos de contato com contextos culturais diferenciados no universo teatral convencional, a equipe do Projeto percebeu que o TEATRO DE RUA é um caminho inevitável, pois as apresentações têm ocorrido em locais adaptados, por vezes em espaços abertos, como pátios e praças. Tal fator tem levado à investigação de uma situa-ção espetacular diferenciada. O TEATRO DE RUA compre-ende variadas possibilidades de situações espetaculares, e, ao contrário dos espetáculos apresentados no edifício teatral, são raras as análises de suas técnicas, da história de sua encenação, de suas estéticas ou dramaturgias em-pregadas. Essencialmente, tal movimento caracteriza-se pelo ideal de “um teatro que sai da sala escura e vai onde o povo está”, aproximando-se da “humanidade cotidiana” pela realização de montagens em espaços públicos, nos quais os temas discutidos são de interesse coletivo, envol-vendo diferentes classes sociais, numa situação espetacu-lar em que o público pode manifestar-se diretamente. Tal proposta leva a um questionamento da atividade teatral

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em todos os seus aspectos: a atuação busca renovar o gesto e dilatar a potencialidade do corpo e da voz; a en-cenação volta-se para a plasticidade e ocupação de espa-ços abertos, com códigos que valorizem a multiplicidade, a agilidade e transformação perante o espectador, a dra-maturgia retoma o caráter improvisacional, incorporan-do a participação do espectador e buscando linguagens que valorizam a oralidade cotidiana. Além disso, radica-liza a reflexão sobre a ética da arte teatral, repensando a relação entre o artista e sociedade. Assim, o ator atua como um estrangeiro que visita o “outro”, conhecendo a si mesmo pela descoberta das diferenças e identificações neste contato e convidando o público a efetuar a mes-ma reflexão. Para que tal ENCONTRO seja bem sucedido é fundamental que o artista desenvolva o rigor técnico na elaboração de sua performance e a capacidade de discus-são política de forma dialética, fomentando perguntas a si e ao público. Para que este contato seja qualificado, através da criação de uma obra artística, alguns pontos se revelam fundamentais: a criaçao deve recorrer à lingua-

gem própria do universo cultural pesquisado e a temática deve ser de interesse coletivo. Neste sentido o espetáculo DUELO tem se revelado um canal de diálogo altamente promissor. Adaptado do conto homônimo, presente no livro Sagarana, de João Guimarães Rosa, o espetáculo utiliza-se da estética do Teatro de Rua para contar a his-tória de uma perseguição mortal entre dois homens no sertão mineiro, em que predomina a lei do mais forte e da honra. Turíbio Todo, ao voltar para casa de uma pes-caria, surpreende a mulher em adultério com Cassiano Gomes, homem perigoso e ex-militar. Guiado pela sabe-doria própria dos matutos, ele finge que nada vê e tenta matar o outro a traição, mas comete um engano e elimina o irmão deste. A história acompanha a longa caçada que Cassiano empreende para matar Turíbio e vingar o irmão. Na eterna luta entre o forte e o fraco, DUELO é uma alego-ria da fatalidade, da inexorabilidade do destino humano. Enquanto os homens se perdem na busca de seus obje-tivos, no final, algo superior dispõe o contrário. A obra de Guimarães Rosa é marcada pela inventividade na forma

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de contar histórias; por isso o espetáculo é apresentado como a contação de um causo, em que predomina uma metafísica própria das asperezas e delicadezas da vida do homem do interior, reveladas através de suas falas, cismas e silêncios.

SUBSÍDIOS DA FILOSOFIA CLÁS-SICA PARA A FORMAÇÃO JURÍ-DICA ATUALO presente trabalho tem por objetivo relatar os estudos realizados no contexto do Projeto de Extensão “Metodo-logia jurídica e Razão Prática”, durante o primeiro semes-tre de 2009. O Projeto de Extensão “Metodologia jurídica e Razão Prática”, que está vinculado ao Departamento de Direito Público e Filosofia do Direito da Faculdade de Di-reito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-GS) e registrado em sua Pró-Reitoria de Extensão, possui como temática buscar aprofundar os estudos do pensa-mento clássico do Ocidente adaptando-os ao contexto atual, buscando formar alunos e estudantes, de nível de graduação e de pós-graduação, numa perspectiva inter-disciplinar, no pensamento da filosofia clássica, aplican-do tais conhecimentos à área jurídica. As atividades são

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realizadas como um desdobramento das pesquisas feitas dentro do contexto de ações do Grupo de Pesquisa (UFR-GS) “A metodologia jurídica na pós-modernidade”, em sua Linha de pesquisa que tem o mesmo nome (“Metodologia jurídica e Razão Prática”) do Projeto de Extensão. Nesse sentido, este Projeto está em sintonia com a busca atual da interação entre a pesquisa, ensino e extensão, sendo o resultado de trabalhos individuais de pesquisa que são feitos no Grupo de Pesquisa e que se articulam nas várias atividades de extensão vinculadas a este Projeto. Nossos objetivos partem da visão clássica de homem, nos mol-des da paidéia grega (a formação espiritual do homem grego, através da literatura, filosofia, história), bem como dos princípios e bases do pensamento clássico, em con-traste com o paradigma moderno, a fim de se encontrar um “justo meio” para um mundo pós-moderno no qual o meio jurídico encontra-se em crise de paradigmas. No primeiro semestre de 2009, inicialmente, foram rea-lizados debates e reflexões em torno da obra “A Cidade Antiga” de Fustel de Coulanges, cuja abordagem central

vem a ser uma análise histórica da pólis e da sociedade greco-romanas. Previamente, ainda, foram feitas análises da figura mítica e heróica de Aquiles, da Ilíada, de Home-ro, posto que a compreensão da figura do herói é con-dição sine qua non para que se possa entender o ideal de homem sustentado por uma determinada sociedade, e Aquiles era o modelo daquilo que os gregos tinham por homem ideal. Posteriormente, foi decidido, em termos de ação prática, que o Projeto terá as seguintes atividades: 1. Elaboração de blog referente aos estudos a serem fei-tos, o que de fato foi feito, e cujo endereço eletrônico é: http://novapaideia.wordpress.com/ 2. Elaboração de pág. web institucional, no servidor UFRGS, o que também foi feito: http://www.ufrgs.br/nova_methodus/; 3. Curso pre-sencial com leitura de obras de referência, o que seguirá ocorrendo no segundo semestre de 2009. O Projeto de Extensão “Metodologia jurídica e Razão Prática” pretende dar vazão aos estudos do pensamento clássico, em uma perspectiva voltada para o meio jurídico, a fim de possibi-litar a formação de um jurista. Desta forma, percebeu-se a

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necessidade de elaborar uma página web para as ativida-des do Projeto de Extensão, como um espaço para expor trabalhos e publicações objetos de estudos, a exemplo de resumos das obras, resenhas, textos, artigos, relatórios de atividades e demais trabalhos; enquanto que o Blog “Nova Paidéia” servirá de meio de divulgação de repor-tagens, estudos e demais materiais informativos e cien-tíficos sobre os assuntos trabalhados pelo grupo. Desta forma, o Projeto de Extensão “Metodologia jurídica e Ra-zão Prática” também objetiva ampliar o rol de suas ações, por meio da difusão do conhecimento aos meios jurídi-cos em geral. Por fim, através do Projeto de Extensão “Me-todologia jurídica e Razão Prática” também se objetiva dar subsídios para a seleção e preparação dos estudantes brasileiros de graduação e pós-graduação que busquem ingressar nos cursos de verão (Summer Seminars) que ocorrem todos os anos e que são mantidos e organizados pelo Phoenix Institute (http://www.thephoenixinstitute.org/index.html) na Universidade de Notre Dame (USA) e em Viena (Áustria), dentro do mesmo espírito de resga-

te e debate a respeito do pensamento filosófico clássico. Em vista disso, o Projeto, com a liberdade própria de uma Ação de extensão feita na UFRGS, mas aproveitando as circunstâncias de que existe a demanda de alunos pelo ingresso no citado curso estrangeiro, busca também pre-parar alunos e interessados para o debate sobre temas discutidos nas atividades do Phoenix Institute. Assim, o início dos estudos no semestre 2009/1 sobre o sentido dos mitos a partir da Ilíada homérica utilizou a edição do livro que foi traduzida para o inglês por Robert Fagles, justamente a que é a utilizada pelo referido instituto em seus cursos.

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AÇÃO EDUCATIVA E CULTURAL EM MUSEUSCOMUNITÁRIOS: O CASO DA LOMBA DO PINHEIROEste trabalho se propõe a dar início a uma reflexão teóri-co-metodológica em torno das práticas de ação cultural e educativas do Programa Lomba do Pinheiro, Memória, Informação e Cidadania, fundamentado nas idéias de Pau-lo Freire(2007),Teixeira Coelho(1986) e Dalla Zen(2004).A meta é reunir subsídios para a constituição de uma linha de pesquisa sobre ação cultural e educativa em museus comunitários, fundada nos princípios da Nova Museolo-gia, na perspectiva de Santos (2009).Nessa linha teórica, prevê-se que, através da ação cultural e, por conseqüência, da ação educativa, todas as pessoas envolvidas no proces-so possam ser agentes de transformação do meio em que vivem, bem como ampliar os campos de visão e singulari-dades de cada um, e, assim, modificar o rumo da própria vida em sociedade. Nas ações propostas, os integrantes

da equipe atuarão em diferentes focos da ação museal, incluindo a administração, gestão e conservação da me-mória e do patrimônio da comunidade e a montagem de museus de rua, para circularem no bairro. Para isso, foram estabelecidos processos de comunicação com a comuni-dade, através de reuniões para planejamento, definição de metas e, especialmente, trocas de saberes, centradas na idéia de que o foco de todas as decisões são as narrativas dos sujeitos em torno de suas próprias histórias de vida no bairro. O projeto pressupõe e respeita a idéia de que cada indivíduo traz consigo suas próprias raízes, suas formas de vida e estratégias de sobrevivência, o que se constitui num patrimônio que não pode ser esquecido. Considera tam-bém que o planejamento participativo permite que as pro-postas não sejam definidas por pessoas externas ao grupo, cujas vivências, muito distanciadas daquela realidade, po-deriam ignorar elementos significativos da vida no bairro. Em síntese, acredita que a ação cultural refere-se a um mo-vimento de transformação, que é exercida na medida em que os sujeitos se tornam agentes de suas próprias vidas.

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A cultura, nesse sentido, representa a vida, os costumes, as crenças e as idéias da comunidade. E,na união entre os significados dos conceitos de ação e de cultura, acredita-se ser possível transformar cada pessoa em sujeito de sua própria vida, dentro de um processo de planejamento co-munitário orientado para o desenvolvimento e a mudança social do bairro, identificado como um dos mais carentes da cidade de Porto Alegre. Teixeira Coelho (1986) destaca que a ação cultural não tem começo nem fins nitidamente demarcados. Desse modo, as ações aqui relatadas não pre-tendem gerar produtos acabados, em tempos e durações pré-determinados. Ao contrário, elas sugerem a constitui-ção de uma cadeia de ações, cujos resultados finais são imprevisíveis. O sucesso dependerá da apropriação que a comunidade fizer do processo iniciado. Uma ação educa-tiva constitui-se de um caminho onde ninguém aprende sozinho. Exige uma troca de saberes em que o aprender consiste num processo de desafio muito pessoal, que traz em si a observação e a interação entre o meio, as pessoas, as experiências e vivências de todas as pessoas envolvi-

das. À medida que o individuo se insere num grupo, cujos membros têm necessidades e objetivos em comum, a tro-ca de experiências de vida se transforma numa estratégia para atingir as metas construídas coletivamente. De acor-do com as diretrizes teóricas da ação cultural, os sujeitos ampliam o seu campo de perspectiva. Desse modo, as problemáticas pessoais, em função do compartilhamen-to das necessidades, saberes e fazeres tornam-se sociais. As atividades de ação cultural e educativa propiciam o surgimento de processos mais dinâmicos da vida em co-munidade. Flexíveis e abertos, a ponto de mudar a todo o tempo. A vida muda, alteram-se as perspectivas do grupo, nascem novas necessidades, criam-se novas utopias. Neste projeto, as ações educativas centralizam-se no registro da história tanto na organização, quanto da luta das famílias que constituem a comunidade, incluídas aí a organização comunitária, as lutas das famílias pela ocupação do espaço urbano, as capacidades de resistência e de resiliência, os momentos de esperança e de desalento. Conclui-se que a ação cultural, assim realizada, permite mudanças radicais

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na realidade, cria mecanismos novos de sobrevivência e de esperança, ao considerar a importância do pensar, agir, criar, sonhar, aprender e ensinar de cada sujeito como re-ferências para a criação do repertório cultural do grupo. Acreditamos que o agente cultural e educativo a acredi-ta e busca uma educação transformadora, da imagem de um ser humano apenas receptor para propor que este ser seja capaz de apropriar-se de sua história, lugares, objetos e saberes e possa tornar-se um ser humano mais feliz. RE-FERÊNCIAS FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 2007. . DALLA ZEN, Ana Maria. Entre a aparência e a essência ou da animação à ação cultural. IN: MORIGI,V.J e MACHADO, Márcia (Org.) Comunicação e práticas culturais. Porto Alegre: editora da UFRGS, 2004. SANTOS, Maria Célia. Museus e educação: conceitos e mé-todos. Documento eletrônico. Disponível em: http://www.rem.org.br/dowload/MUSEU_E_EDUCACAO_2.pdf. Data de acesso: 20 de julho de 2009. TEIXEIRA COELHO, José. Usos da Cultura Políticas de Ação Cultural. São Paulo: Paz e Terra, 1986.

PROGRAMA LOMBA DO PINHEI-RO: MEMÓRIA, INFORMAÇÃO E CIDADANIA

O Programa se propõe a incentivar a formação do senti-mento de pertencimento a recuperação da auto-estima entre os moradores do bairro Lomba do Pinheiro, através da realização de ações educativas e culturais a serem rea-lizadas em parceria entre o curso de Museologia da FABI-CO/UFRGS e o Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro. A sua meta é reverter os índices de exclusão social, cul-tural e econômica e de melhorar a imagem do próprio bairro. A metodologia, sob a forma de um planejamen-to participativo, fundamenta-se nos princípios educação patrimonial, e ações específicas para recuperação da me-mória social da comunidade e das histórias de vida indi-viduais e coletivas dos moradores do bairro. Prevê tam-bém um programa de ações sócio-educativas voltadas

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para a conservação da biodiversidade local, que colabore no estabelecimento de formas de convívio mais coope-rativo e harmônico entre o homem e a natureza. Dentro dele serão problematizadas as questões resultantes do processo de crescimento desordenado do bairro, em es-pecial àquelas relativas à ocupação de áreas de preser-vação ambiental, e os decorrentes impactos ambientais e sociais dessa forma de urbanização. Prevê a inserção dos conceitos de patrimônio, preservação, e desenvolvi-mento sustentável no currículo das escolas, e, para ope-racionalizá-los, serão implementadas as seguintes ações: a) rodas de memória, momento em que, a partir do regis-tro das histórias individuais e coletivas da comunidade, registrar-se-á a história e a trajetória do bairro; b) museus de rua, confecção de material que reconstitui a trajetória dos indivíduos ou grupos do bairro Lomba do Pinheiro; c)museu virtual, através da criação de um blog com o regis-tro do material que a comunidade organizar; d) oficinas de jornal, fotografia e rádio comunitários, oferecimento de técnicas e ferramentas que facilitem a (re)escrita e o

registro das histórias e informações de interesse da co-munidade, apropriadas pelos atores locais; e) cursos de educação patrimonial, para identificar e definir junto com a comunidade local, os espaços de referência, social e cul-tural, da comunidade local; f )oficinas de artesanato e pa-pel artesanal, para capacitar os moradores ao exercício de atividades economicamente viáveis, a partir da confecção de produtos artesanais e de valor econômico agregado, contribuindo para a inserção de um grupo de artesãos na rede de economia solidária da cidade, o que possibilita-rá a participação em eventos e feiras de comercialização; g) cursos de capacitação de guias turísticos, para que jo-vens da comunidade atuem como mediadores das visi-tas guiadas ao bairro, h) rotas turísticas dentro do bairro, para que a comunidade reconheça o ambiente em que vive e que praticamente desconhece, e, i) trilhas ecológi-cas na mata, com a definição de um roteiro para visitação do ambiente natural remanescente, de forma a conscien-tizar a comunidade do valor cultural e ambiental deste espaço e de sua importância para a comunidade e para a

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cidade. As diretrizes curriculares do curso serão aplicadas numa ação de extensão voltada à perspectiva de reverter os altos índices de exclusão social que o bairro apresenta. Trata-se do primeiro programa de extensão universitária desde que o curso foi implantado, em 2008, que permite a inserção em uma ação comunitária em que os alunos e professores terão a oportunidade de experimentar a prá-xis, ou seja, aplicar os conceitos e o referencial teórico das disciplinas já cursadas, no cotidiano de um museu comu-nitário. Isso servirá de elo entre o que lhes é apresentado no currículo e a prática vivenciada no Museu Comunitá-rio da Lomba do Pinheiro, localizado na periferia de Porto Alegre, cuja realidade a maioria dos alunos e professores desconhece. Dentro do Programa, serão experimentadas, no âmbito do Museu Comunitário da Lomba do Pinhei-ro, atividades práticas vinculadas às diferentes disciplinas do currículo do curso, voltadas ao alcance de objetivos tanto acadêmicos, quanto comunitários. A perspectiva transdiciplinar, base epistemológica e paradigmática do Programa, será obtida através da conexão entre as ações

do curso de Museologia com as demais áreas do conheci-mento. Conclui-se que o Programa é uma forma de ope-racionalização do compromisso social da universidade com o desenvolvimento e inclusão social e cultural das periferias urbanas. Trata-se de um laboratório acadêmico impar, onde os alunos poderão estabelecer as necessá-rias relações entre o ensino teórico de sala de aula com a o cotidiano de um museu comunitário. Para o Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro, é uma forma de atu-alização teórica e metodológica de sua equipe de recur-sos humanos, que ainda não dispõe de um museólogo. Desse modo, o Programa pretende se constituir num permanente fórum de provocação e de debate, pautada pelo compromisso dos museus com o desenvolvimento e mudança social do País, base em que se sedimentam as novas concepções em torno do campo museal na con-temporaneidade. Através dessa parceria, ambas as insti-tuições atuarão de modo concreto na construção coletiva de alternativas mais inclusivas para a comunidade, como expressa o próprio título do Programa.

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O QUE PODE UM ACERVO DE VI-DAS E OBRAS DE LOUCOS? O vídeo “O que pode um acervo de vidas e obras de lou-cos?” traça um retrato do projeto de extensão intitulado Rizomas da Loucura: O acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), que nesse ano completa sua 3ª edição. Através de uma filmagem que envolve os integrantes do projeto na apresentação do trabalho que ali se dá, intenta-se possibilitar a expressão dos afetos que compõem o ambiente de cuidado criterio-so e manutenção de obras de arte e documentos ainda pouco explorados. O projeto em questão tem como ob-jetivo a criação e disponibilização de um banco de dados de imagens digitais e informações biográficas dos artis-tas-pacientes da Oficina de Criatividade, em especial no que diz respeito a Quatro Coleções já constituídas. Estas referem-se ao conjunto dos trabalhos de quatro artistas da Oficina, que apresentam maior consistência na sua

produção, sendo dois deles já falecidos. Por um lado, este projeto se dá através da organização e constituição dos acervos fotográficos e documentais da Oficina, ou seja, envolve a catalogação de ricas imagens e escritos que re-gistram o potencial criativo por parte de seus pacientes-moradores, submetidos ao regime de longa internação. Em outra frente, o banco de dados dá conta de digitalizar tais documentos, contemplando também personagens e instituições envolvidos na história do local e suas ati-vidades. O que o projeto almeja é a constituição de um Museu de Imagens do Inconsciente com obras do Acervo, as quais consideramos de valor inestimável e muito po-tente para movimentar olhares de indivíduos e da própria cultura. Conjuntamente com a catalogação, essa terceira edição inclui a busca, a organização e a análise de docu-mentos como prontuários, documentos médicos, memó-rias e relatos de entrevistas sobre a vida dos pacientes, visando biografar algo de sua existência que, malgrado sua desfiliação e condição de “esquecidos e alienados”, re-velam significativa e impressionante potência vital para

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sustentar um processo de constante expressão criadora. A equipe do acervo é também personagem desta histó-ria, enquanto imprime marcas de seu olhar no manejo destes arquivos, que intenta recuperar e publicizar. É no contato com as obras, e no trabalho cotidiano com os do-cumentos e banco de dados, que este projeto tem sua in-tensidade e possibilidade de propor questões. O registro em vídeo, como apresentação dos resultados desta ação, objetiva, primeiramente, dar visibilidade aos indicadores propostos no projeto, bem como de seu andamento, no que se refere ao número de obras catalogadas e digita-lizadas, e à organização do acervo, para a comunidade. Além desse registro, compreendemos que produzir ima-gens é um modo de expressar este acervo, uma vez que se registram cenas de seu cotidiano através de gestos e de depoimentos da equipe que circula, trabalha, e assim também faz história por seus corredores. Nesse liame, temos o registro de imagens de um momento em que a história do acervo se faz presente: vê-se a criação de ar-quivos infindáveis que bifurcam as expressões da loucura,

criando outros possíveis com artistas-loucos e, ao mesmo tempo, uma produção de sentidos desde a experiência dos extensionistas e dos pesquisadores nos arquivos ain-da pouco explorados. Compreendemos que o trabalho desenvolvido no Acervo está imbricado em preservá-lo com vistas à constituição do futuro museu, e também, em fomentar a produção científica nos campos da arte, saúde, história e museologia, aliando-se, desde já, na formação de profissionais nesses campos. Uma primeira proposição para o vídeo será lançada a partir da questão “O que pode um acervo?”, a fim de que os extensionistas elejam algo para registrar sua perspectiva. Um cantinho, um texto, uma questão, som ou objeto, parecem-nos pos-síveis elementos expressivos das relações de afeto e crité-rio que permeiam o Acervo, nesta construção de uma his-tória fugidia, que vem tomando um lugar desde dentro do hospital psiquiátrico.

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PINACOTECA BARÃO DE STO. ÂNGELO COMO DIFUSORA DA PRODUÇÃO EM HISTÓRIA, TEO-RIA E CRÍTICA DE ARTE PRODU-ZIDA PELAA Pinacoteca Barão de Santo Ângelo é conhecida dentro e fora da Universidade pela sua atuação no campo artístico gaúcho. Com uma programação extensa e diversificada, são realizadas na Galeria exposições que envolvem des-de alunos de graduação do Instituto de Artes até artistas com projeção internacional. Ao longo do ano acontecem na Pinacoteca as bancas de defesa de mestrado e douto-rado de alunos do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais e, semestralmente, as bancas de graduação, além de seminários e encontros. Também semestralmente ocorrem as exposições dos formandos em Artes Visuais, estas que integram o projeto UNIARTE, sob coordenação

da Profª. Ana Maria Albani de Carvalho e com apoio do Departamento de Difusão Cultural da Pró-Reitoria de Ex-tensão. Paralelamente a mais recente dessas exposições, realizou-se pela primeira vez o “Seminário de Projetos de Graduação em Artes Visuais: História, Teoria e Crítica” com a participação dos formandos em Artes Visuais com ênfa-se em História, Teoria e Crítica de 2008/2. Existente desde os anos 90, “História, Teoria e Crítica” é uma das habilita-ções do curso de graduação em Artes Visuais, na qual é elaborado como requisito para conclusão do bacharela-do um texto (monografia, ensaio) sobre tema de escolha do aluno. Nessa pesquisa são empregados metodologias e referenciais da história, da teoria e da crítica de arte. A apresentação dessas pesquisas além da banca de gradu-ação deu à área de História, Teoria e Crítica uma visibili-dade inédita junto à comunidade acadêmica e ao público externo à Universidade, alinhando-se à projeção que tem os trabalhos participantes das tradicionais exposições de formandos – tendo em conta que sua realização foi divul-gada e publicada em veículos significativos para o sistema

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de artes visuais contemporâneo. Observando o caráter reflexivo da arte contemporânea, esse tipo de iniciativa pode aproximar público interessado em desenvolver um diálogo acerca de temas abordados, bem como propor-ciona aos formandos participantes uma experiência real de inserção de seu trabalho no campo artístico local. A produção desse Seminário envolve uma série de detalhes e conhecimentos específicos a que se tem acesso durante o curso de Artes Visuais. Nesse processo, a Equipe Pinaco-teca desenvolve um trabalho muito semelhante ao que se realiza em muitas instituições que não a Universidade, ob-tendo uma efetiva experiência profissional, além daquela voltada essencialmente para a pesquisa e o ensino.

A PRODUÇÃO DE EXPOSIÇÕES: OS EGRESSOS DO CURSO DE BA-CHARELADO EM ARTES VISUAIS

A Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, Galeria que integra o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Gran-de do Sul, tem demonstrado relevante atuação dentro do circuito de arte Portoalegrense por sua programação in-tensa e pela amplitude de abrangência. A Galeria traz uma variada programação de exposições que contemplam tanto a produção dos egressos no curso de Bacharelado em Artes Visuais, quanto o trabalho de artistas gaúchos e brasileiros já consagrados, além de possibilitar eventuais conexões com artistas internacionais, fazendo da Galeria palco para interlocuções inéditas entre arte internacional e público local. Desta forma, além de ter adquirido o es-tatuto simbólico de local legitimado, consagra-se como local reconhecido, instituição que detêm a capacidade de

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conferir algum grau de legitimidade ao que é exposto em seu espaço, na medida em que a seleção das obras que integrarão quaisquer exposições é delegada a agentes, também, reconhecidos pelo sistema: professores de arte do IA, que atuam neste mesmo sistema como críticos, historiadores de arte, curadores, com um raio de atuação que extrapola os limites da academia. Integrar a equipe de trabalho desta galeria confere aos componentes a per-cepção da importância de certos eventos que são produ-zidos dentro da programação anual, no presente desta-ca-se a relevância da exposição dos egressos do curso de Bacharelado em Artes Visuais, que é promovida semes-tralmente através da parceria entre a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo e o Departamento de Difusão Cultural da Universidade, surgindo, desta forma, a produção denomi-nada UNIARTE. A realização do evento traz uma série de peculiaridades, tanto para os artistas/artistas em poten-cial, quanto para a equipe que se encarrega de produzir determinado evento. O corpo de alunos egressos do curso de Bacharelado em Artes Visuais, ao receber determinada

nomeação, formaliza os estudos realizados em diversos segmentos da arte durante o período de quatro anos. No entanto, não recebem a titulação ‘Artista’. Tal ‘qualifi-cação’ é provida através das especificidades pertinentes ao campo da arte como ciência e da dimensão simbólica que determinada área de conhecimento possui. A qua-lificação ‘artista’ é adquirida através de uma construção baseada em uma complexa teia de relações que tem a exposição como mote fundamental. Basicamente, para iniciar a construção da sua própria denominação, o artista em potencial necessita expor, pois, fundamentalmente, a exposição é o veículo de comunicação das Artes Visuais e é através dela que o artista transmite ao público suas idéias, sua mensagem. Para o conjunto de egressos em Artes Visuais que é composto, em sua grande maioria, de alunos que iniciaram sua vida acadêmica sem qualquer tipo de conhecimento na área, sem um trabalho artístico em potencial ou já consolidado, a exposição produzida pela Equipe Galeria torna-se relevante para os alunos, re-presentando, para a maioria deles, a primeira oportunida-

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de de expor e, obviamente, transformando-se no primeiro contato com o circuito artístico e seus desdobramentos. A Galeria, como um espaço reconhecido pelo sistema de artes, acompanhada de toda significação que isso possa implicar, oportuniza a todo egresso do curso de Bacha-relado a colaboração para a construção da sua própria denominação profissional: artista. Esse primeiro contato que é estabelecido entre Galeria e artista, aproximação da produção com o produzido, é muito semelhante à forma de trabalho desenvolvida na maioria das instituições que produzem exposições de arte, pois os métodos são simi-lares a qualquer outra galeria, onde é mantido o mesmo rigor e comprometimento, fazendo com que essa experi-ência torne-se uma profissionalização, uma constatação prática, um estágio em que o egresso sai do empirismo e mergulha em uma realidade que será rotineira em sua carreira. Um dos grandes diferenciais que o vínculo esta-belecido entre a Galeria e o Instituto de Artes é a presen-ça do fomento à pesquisa em assuntos que estão direta-mente conectados com a produção da exposição de arte

e suas especificidades. Enquanto as outras galerias estão mais sujeitas a realizar operações de forma intuitiva, tor-nando a atividade essencialmente prática, a Pinacoteca Barão de Santo Ângelo conjuga a produção de exposi-ções entre o conhecimento teórico/científico e o prático, efetivamente. Nesse processo de produção, o recém for-mado é submetido a exigências que são rotineiras para qualquer artista que almeje expor. De forma sintetizada, ao produzir uma exposição de arte, percorremos diversas etapas, que, geralmente, acontecem concomitantemen-te: reuniões entre equipe e artistas, onde é apresentado o cronograma de produção e é salientada a importância do cumprimento do mesmo, além de serem apresenta-dos os próximos procedimentos; formalizações neces-sárias como assinatura de termos de responsabilidade dos artistas e da instituição diante da possível degrada-ção do espaço expositivo e dos direitos de utilização de imagem para divulgação, catálogos e imprensa; contato entre artistas e curador/organizador, onde são discutidas questões relativas ao trabalho específico de cada artista/

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artista em potencial, possibilitando a construção de um conceito para a exposição; coleta de material com os ar-tistas (mini-currículo, dados e fotografias das obras que serão expostas) em vistas de planejar o material gráfico (convites, catálogos) para a divulgação acadêmica e ex-terna (cartazes, divulgação virtual) e para a produção das etiquetas; planejamento museográfico mediante o con-ceito estabelecido para a exposição, resultado do diálogo entre curador/organizador e museógrafo; montagem da exposição, iluminação e suporte para os artistas; aber-tura e período de exposição, momento dedicado a con-servação das obras no recinto e de eventuais reparações; desmontagem da exposição e suporte aos artistas; recu-peração do espaço. A realização da exposição dos alunos egressos do curso tem como objetivo a mostra parcial da produção individual de cada artista/artista em potencial, oriunda de uma pesquisa artística que foi concluída ou que ainda está em prosseguimento. A exposição, veículo de comunicação das Artes Visuais e evento fundamental para a construção da legitimação dos artistas pelo sistema

de arte, necessita de uma documentação que comprove a existência efetiva de determinado evento. A produção gráfica realizada pela Equipe Galeria, desde os convites, passando pela elaboração de cartazes, até a produção do catálogo, encarrega-se de registrar, documentar e com-provar o acontecimento. No entanto, o catálogo acaba excedendo as fronteiras da documentação, permitindo que a exposição continue acontecendo para além dos li-mites da data de encerramento, estabelecendo-se como um eficiente mecanismo de difusão cultural. Além disso, proporciona a “eternização” deste encontro de artistas que compartilham o mesmo espaço e fazem uso de di-ferentes linguagens para discutir diversificadas questões, onde os mesmos são beneficiados pela divulgação do próprio trabalho através de fotografias das obras, fotogra-fias da exposição e currículo artístico. Ao expor na Galeria, o egresso ganha a oportunidade de iniciar a construção de sua legitimação e de iniciar a construção de sua traje-tória como artista.

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CATÁLOGOS DE EXPOSIÇÃO UNIARTE : PUBLICAÇÃO COMO DIFUSÃO E REGISTRO HISTÓ-RICOA Pinacoteca Barão de Santo Ângelo atua como órgão au-xiliar do Instituto de Artes e da UFRGS através de tres seto-res - Acervo, Galeria, Restauro – cada qual com uma coor-denação e função específica. O setor da Galeria tem como uma de suas propostas a divulgação do Acervo da Pina-coteca - bem como da produção artística contemporânea realizada pelas Artes Visuais, no âmbito da Graduação e Pós-graduação - através de exposições e debates abertos ao público em geral. Com o desenvolvimento de áreas relacionadas à documentação e a pesquisa, ampliou-se a consciência da importância do registro através de catá-logos com textos críticos e imagens com dados sobre as obras expostas, incluindo também uma documentação

visual dos procedimentos de montagem das exposições. Com o apoio do Programa Unicultura – UNIARTE, através da Pró-reitoria de Extensão e Departamento de Difusão Cultural, a equipe da Galeria organiza e produz – impri-mindo pela Gráfica da UFRGS – os catálogos das exposi-ções Uniarte, em tiragens de 1000 exemplares, imagens a cores e papel de boa qualidade. Os catálogos contém, além da ficha catalográfica (que permite a indexação no sistema de bibliotecas), textos institucionais e crítico e um registro através de imagens, das etapas de produção e da abertura da exposição e da galeria com as obras já expostas. Além disso, o catálogo também inclui um tex-to-currículo de cada artista participante da exposição e a imagem de alguns de seus trabalhos expostos na mesma. Procuramos que estes catálogos tenham ampla divulga-ção, produzindo um evento de lançamento dos mesmos, durante o qual ocorre um debate entre artistas, curador e público e quando os referidos catálogos são distribuí-dos aos presentes no evento. Depois deste evento, a pu-blicação pode ser encontrada a disposição na biblioteca

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do Instituto de Artes da UFRGS e no Arquivo Documental do próprio setor Galeria, oportunizando a divulgação dos trabalhos anteriormente expostos na galeria, bem como a oportunizar futuras pesquisas referentes à Pinacoteca Barão de Santo Ângelo, à arte contemporânea e princi-palmente a produção artística no Rio Grande do Sul liga-da ao Instituto de Artes da UFRGS.

CRIAÇÃO E APRESENTAÇÃO DO ESPETÁCULO DUELO EM ESCO-LAS DA REDE PÚBLICA DE POR-TO ALEGRE.

O Projeto CIRCUITO DE TEATRALIDADE NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA DA GRANDE PORTO ALEGRE foi cria-do no ano de 2007 com a proposta de contribuir para a descentralização da produção teatral do Departamento de Arte Dramática da UFRGS. Esta centralização da pro-dução artística da universidade é uma carência histori-camente reconhecida, visto que nos últimos anos diver-sas iniciativas vêm sendo realizadas para combater esse problema. Como alternativa para suprir esta dificuldade, o Projeto vem buscando a construção de uma rede de escolas e entidades parceiras, nas quais vem atuando sistematicamente, através da realização de apresenta-ções artísticas, seguidas de debates sobre a temática

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abordada, bem como, pela apresentação de demons-trações-técnicas e palestras sobre a arte cênica e ofici-nas gratuitas de iniciação teatral. Desde abril de 2007 até o presente, foram realizadas 23 apresentações do espetáculo O Santo Guerreiro, seguidas de debate so-bre a alteridade étnico-religiosa, abordada no mesmo, atendendo um público de mais de 2500 espectadores, alunos de ensino médio e EJA. Tal demanda revela a alta receptividade de iniciativas que buscam aproximar a produção artística da UFRGS com a comunidade escolar, mas antes de tudo, possibilitam ao aluno de graduação em Artes Cênicas complementar sua formação pela re-alização de atividades teatrais fora do espaço simbólico da universidade, contribuindo para a descentralização cultural e tendo contato com o público de Grupos Po-pulares. Tais fatores, associados à experiência acumula-da, levaram à decisão de ampliar a equipe de trabalho, com vistas à criação de um espetáculo de Teatro de Rua, cujos objetivos principais são a ampliação do público atendido, em termos numéricos e de faixa etária, visto

que, por desenvolver-se em espaços públicos, esta mo-dalidade de teatro é a que mais se adequa à proposta do Projeto. O Teatro de Rua, além de envolver todos os membros da comunidade em torno das escolas, alunos e parentes, permite a aproximação estética com os ele-mentos da cultura popular, presentes no diálogo cul-tural no qual se dão as apresentações. Desta forma, no ano de 2009, as atividades do grupo têm se centrado na elaboração de um espetáculo de rua, intitulado DUELO, inspirado na novela homônima do escritor Guimarães Rosa, presente no livro Sagarana. Tal texto foi escolhido pela riqueza e complexidade na abordagem do imagi-nário popular, tratando de dois temas altamente rele-vantes na atualidade: a violência em regiões em que o Estado está presente de forma frágil e a afirmação do sujeito face o contexto de abandono. Tal universo per-mite a ampliação das investigações da pesquisa sobre as relações entre a Performance Ritual e a Atuação Teatral, que gerou o primeiro espetáculo do Projeto, O Santo Guerreiro, e cujas diretrizes teóricas apóiam-se no con-

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ceito de Teatro como Encontro, ou seja o diálogo cultu-ral, cujo desdobramento foi a criação do referido Projeto de Extensão. Ao longo desses quatro anos de contato com contextos culturais diferenciados no universo tea-tral convencional, a equipe do Projeto percebeu que o TEATRO DE RUA é um caminho inevitável, pois as apre-sentações têm ocorrido em locais adaptados, por vezes em espaços abertos, como pátios e praças. Tal fator tem levado à investigação de uma situação espetacular dife-renciada. O TEATRO DE RUA compreende variadas possi-bilidades de situações espetaculares, e, ao contrário dos espetáculos apresentados no edifício teatral, são raras as análises de suas técnicas, da história de sua encenação, de suas estéticas ou dramaturgias empregadas. Essen-cialmente, tal movimento caracteriza-se pelo ideal de “um teatro que sai da sala escura e vai onde o povo está”, aproximando-se da “humanidade cotidiana” pela reali-zação de montagens em espaços públicos, nos quais os temas discutidos são de interesse coletivo, envolvendo diferentes classes sociais, numa situação espetacular em

que o público pode manifestar-se diretamente. Tal pro-posta leva a um questionamento da atividade teatral em todos os seus aspectos: a atuação busca renovar o gesto e dilatar a potencialidade do corpo e da voz; a encena-ção volta-se para a plasticidade e ocupação de espaços abertos, com códigos que valorizem a multiplicidade, a agilidade e transformação perante o espectador, a dra-maturgia retoma o caráter improvisacional, incorporan-do a participação do espectador e buscando linguagens que valorizam a oralidade cotidiana. Além disso, radica-liza a reflexão sobre a ética da arte teatral, repensando a relação entre o artista e sociedade. Assim, o ator atua como um estrangeiro que visita o “outro”, conhecendo a si mesmo pela descoberta das diferenças e identifica-ções neste contato e convidando o público a efetuar a mesma reflexão. Para que tal ENCONTRO seja bem su-cedido é fundamental que o artista desenvolva o rigor técnico na elaboração de sua performance e a capacida-de de discussão política de forma dialética, fomentan-do perguntas a si e ao público. Para que este contato

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seja qualificado, através da criação de uma obra artís-tica, alguns pontos se revelam fundamentais: a criaçao deve recorrer à linguagem própria do universo cultural pesquisado e a temática deve ser de interesse coletivo. Neste sentido o espetáculo DUELO tem se revelado um canal de diálogo altamente promissor. Adaptado do conto homônimo, presente no livro Sagarana, de João Guimarães Rosa, o espetáculo utiliza-se da estética do Teatro de Rua para contar a história de uma persegui-ção mortal entre dois homens no sertão mineiro, em que predomina a lei do mais forte e da honra. Turíbio Todo, ao voltar para casa de uma pescaria, surpreende a mulher em adultério com Cassiano Gomes, homem pe-rigoso e ex-militar. Guiado pela sabedoria própria dos matutos, ele finge que nada vê e tenta matar o outro a traição, mas comete um engano e elimina o irmão deste. A história acompanha a longa caçada que Cassiano em-preende para matar Turíbio e vingar o irmão. Na eterna luta entre o forte e o fraco, DUELO é uma alegoria da fatalidade, da inexorabilidade do destino humano. En-

quanto os homens se perdem na busca de seus objeti-vos, no final, algo superior dispõe o contrário. A obra de Guimarães Rosa é marcada pela inventividade na forma de contar histórias; por isso o espetáculo é apresentado como a contação de um causo, em que predomina uma metafísica própria das asperezas e delicadezas da vida do homem do interior, reveladas através de suas falas, cismas e silêncios.

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8ª MOSTRA DE VÍDEO EXPERI-MENTAL VAGA-LUMEDesde 2002 o Programa de Pós-Graduação em Artes Vi-suais, em parceria com o Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS, tem realizado a Mostra de Vídeo Experimental vaga-lume. Até o momento ocor-reram 7 edições que envolveram cerca de 230 alunos, 10 professores e 9 artistas convidados, trazendo à Pinacote-ca do Instituto de Artes um público de mais de 1.300 pes-soas. A Mostra tem como principais objetivos estimular a criação artística e incentivar a produção de vídeo arte de alunos do Instituto de Artes da UFRGS e fazer sua divulga-ção junto à comunidade acadêmica e público em geral. A cada ano a Mostra é exibida na Pinacoteca do Instituto de Artes mas tem ampliado sua abrangência ultrapassando o público Universitário. Já foi exibida na TVE, UFRGS TV, Universidade da Bahia, Politécnica de Valência/Espanha, Universidade Federal de Pelotas, entre outros locais. Como

um Projeto de Extensão Universitária, a Mostra Vaga-lume conta com o apoio de um Bolsista de Extensão, cujas ati-vidades consistem em fazer a divulgação de informações relacionadas à Mostra de Vídeo Experimental vaga-lume (regulamento e inscrições); auxiliar na edição dos vídeos dos alunos inscritos, marcando encontros nos horários de Monitoria do Laboratório de Computação Gráfica do IA; e confeccionar o Catálogo e o DVD de apresentação dos ví-deos selecionados, criando a identidade visual da 8ª Mos-tra vaga-lume (logotipo, vinhetas, design, etc.) A criação do logotipo da 8ª Mostra foi o início de todo o desenvol-vimento da linguagem visual do projeto, para sua reali-zação, foram utilizados os programas Photoshop e Corel Draw. A partir desta criação, foram feitas a abertura, as vi-nhetas e os créditos finais da Mostra em vídeo animação que irá no DVD com o material audiovisual dos participan-tes, que será editado no programa Adobe After Effects. O design do catálogo foi elaborado com fotografias digitais, realizadas especialmente para a Mostra. No catálogo se-rão apresentados frames do vídeo de cada participante

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inscrito, assim como dos professores e artistas convida-dos. Todo o material visual relativo à Mostra ainda está em fase de desenvolvimento, estará completo no mês de setembro, quando as inscrições para a 8ª Mostra vaga-lume se iniciam. O logotipo da Mostra traz o número da Mostra feito com três círculos soltos que por aproximação remetem visualmente ao algarismo 8. Utilizamos a fonte Trebuchet MS no escrito “vaga-lume”. As cores são preto e amarelo, esta última representa a luminosidade, o brilho do vaga-lume. Optamos por um logotipo simples e sem muitos efeitos e grafismos, pois assim sua presença não ficaria pesada quando agregado a outros materiais gráfi-cos, como a capa do catálogo ou cartazes. A abertura do DVD com os vídeos da Mostra, feita em animação, inicia com um ponto de luz que pisca no canto superior esquer-do da tela e logo após se apaga no canto inferior direito, e após isso outra luz pisca como em resposta. Assim que termina a “conversa” entre elas, surgem mais outras seis lu-zinhas, divididas entre os cantos da tela, formando assim um grupo de oito “vaga-lumes”, que simbolizam a chega-

da do oitavo ano em que a Mostra é realizada. O diálogo de pisca-pisca é inspirado no modo como os vaga-lumes reais se comunicam na natureza, trazendo para a abertu-ra a idéia de “comunicação” e “diálogo”, inerentes aos ob-jetivos da Mostra em si – diálogo entre alunos e professo-res, diálogos sobre novas formas de arte, e comunicação dos participantes com o público. Em seguida as luzes são apagadas por um fade para o preto e surge na tela a apre-sentação da Mostra e o logotipo. No fim, voltam os oito pontos luminosos, que se movem e dispersam, deixando a tela totalmente escura, pronta para o início da apresen-tação de vídeos dos participantes. Na vídeo arte a noção de finitude e temporalidade pode ser não muito precisa, causando confusão e estranhamento não intencionais em quem estiver assistindo os trabalhos da Mostra na seqüência apresentada. Buscando anular esse ruído na comunicação, todo ano são utilizados vídeos curtos, de máximo 3 minutos. Vinhetas, que são apresentadas inter-caladas aos vídeos dos participantes, servem como ponto de referência para o público saber quando começa e ter-

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mina um novo vídeo. No 8º vaga-lume as vinhetas foram realizadas com animações dentro da mesma idéia de lu-zinhas “vaga-lumes” da abertura, todas tendo 4 segundos de duração. Todas as vinhetas seguem o mesmo padrão, variando apenas o movimento do “vaga-lume”. Nelas a imagem de fundo é uma televisão dessintonizada onde passa voando pela frente, com movimentos trêmulos de um inseto, um ponto de luz. O tempo de duração da vi-nheta é o da passagem dessa luz pela tela, como se fosse a passagem de um vídeo para outro. A capa do catálogo da 8ª Mostra vaga-lume foi pensada também a partir da idéia de pontos luminosos em movimento e telas de tele-visão. Todo o seu plano de fundo é coberto por uma ima-gem de ruídos de televisão dessintonizada e na parte da frente é mostrada uma fotografia de uma tela de televi-são ligada em meio a plantas, como dentro de uma mata ou floresta, sendo assistida por uma pessoa sentada. De dentro dessa tela iluminada saem inúmeros pontinhos de luz, são semelhantes aos “vaga-lumes” que aparecem nas vinhetas e abertura, como se essa “televisão mágica” fosse

a fonte dessas luzes. Na parte de trás do catálogo a mes-ma televisão é mostrada em outra fotografia, dessa vez sem nenhum espectador. Pretende-se assim criar uma re-lação entre catálogo e vinhetas, algo como uma história fantasiosa de “vaga-lumes” nascidos da tela de um vídeo apresentado em meio a um lugar incomum. No mês de agosto será divulgado o regulamento para a nova Mostra e a partir desta data até o início das inscrições será possi-bilitado a todos os interessados em participar do evento o uso do Laboratório de Computação Gráfica do Instituto de Artes com auxílio do Bolsista para que seja realizada a edição dos vídeos pessoais em horários de Monitoria. As inscrições para a 8ª Mostra de Vídeos Experimental vaga-lume são do dia 20 a 25 de setembro de 2009 e a Mostra ocorrerá do dia 23 a 27 de novembro de 2009, na Pinaco-teca do Instituto de Artes, das 10 às 18 horas. A mostra é grátis e aberta ao público.

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