SEVERINO BATISTA DE LIMA NETO...RESUMO O abalo sísmico é um fenômeno natural ou artificial que...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL SEVERINO BATISTA DE LIMA NETO ESTUDO DO EFEITO SÍSMICO EM PROJETOS ESTRUTURAIS DE REGIÕES DE INSTABILIDADE GEOLÓGICA NATAL-RN 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

SEVERINO BATISTA DE LIMA NETO

ESTUDO DO EFEITO SÍSMICO EM PROJETOS

ESTRUTURAIS DE REGIÕES DE INSTABILIDADE

GEOLÓGICA

NATAL-RN

2017

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Severino Batista de Lima Neto

Estudo do efeito sísmico em projetos estruturais de regiões de instabilidade geológica

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do Título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Orientadora: Profa. Dra :Jaquelígia Brito da Silva

Natal -RN

2017

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Lima Neto, Severino Batista de.

Estudo do efeito sísmico em projetos estruturais de regiões de

instabilidade geológica / Severino Batista de Lima Neto. - 2017. 83 f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de

Tecnologia, Departamento de Engenharia Civil. Natal, RN, 2017.

Orientadora: Profª. Drª. Jaquelígia Brito da Silva.

1. Ação sísmica - Monografia. 2. Edificações - Monografia. 3.

Instabilidade geológica - Monografia. 4. Projetos estruturais -

Monografia. I. Silva, Jaquelígia Brito da. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 550.34:69.03

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Severino Batista de Lima Neto

Estudo do efeito sísmico em projetos estruturais de regiões de instabilidade geológica

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Bacharel

em Engenharia Civil.

Aprovado em 02 de junho de 2017:

___________________________________________________

Profa. Dra. Jaquelígia Brito da Silva – Orientadora

___________________________________________________

Prof. Dr. Marcos Lacerda Almeida - Examinador interno

___________________________________________________

Profa. Dra. Andreza Kelly Costa Nobrega – Examinador externo

Natal-RN

2017

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DEDICATÓRIA

Dedico ao meu avô, o precursor dessa

jornada Severino Batista de Lima (in memoriam).

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que com Sua bondade, graça e misericórdia me abençoou com a realização

deste sonho e esteve ao meu lado em todos os momentos deste curso, fazendo-me ir muito mais

além do que eu imaginava.

A minha família, meu pai Francisco Israel de Lima e minha mãe Valeria Leite Maia

Lima por todos os anos de incentivo, apoio e compreensão no decorrer dessa jornada. Ao meu

avô Leniltom Moreira Maia pela constante assistência e preocupação com minha estadia.

A minha namorada, Eduarda Souza, pela paciência, companheirismo e afeto, pelo qual

foi, fundamental para eu superar todas as adversidades.

À minha orientadora, Jaquelígia Brito que me norteou para que eu pudesse realizar esse

trabalho da melhor forma possível. Ao meu amigo Daniel Évora que contribuiu imensamente

para esse trabalho.

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RESUMO

O abalo sísmico é um fenômeno natural ou artificial que tem origem no interior da Terra e pode

ocorrer pelo movimento das placas tectônicas, pela ação vulcânica ou deslocamento de gases.

O risco sísmico mede a relevância do sismo para um determinado projeto estrutural e não pode

ser desconsiderado mesmo em regiões de baixa sismicidade. A capacidade destrutiva de uma

onda sísmica não depende apenas de sua intensidade, mas sim da densidade populacional. As

consequências ocasionadas em edificações submetidas às vibrações sísmicas podem causar

danos consideráveis e até vítimas fatais. Porém, podem ser desenvolvidos projetos com técnicas

adequadas para se atenuar esses efeitos. O objetivo do presente trabalho é estudar o efeito da

ação sísmica em projetos estruturais que se encontram em localidades que apresentam

instabilidade geológica, como no Brasil, no município de João Câmara, Rio Grande do Norte,

onde apresenta uma instabilidade sísmica devido à falha no centro de uma placa tectônica. A

principal razão da existência dessa instabilidade são fissuras denominadas de falhas geológicas.

Foram estudadas a norma brasileira NBR – 15421 (Projeto de estruturas resistente a sismos),

que estabelece o mapa de perigo sísmico de todo o território brasileiro, indicando algumas

regiões que deveriam adotar o efeito sísmico em projetos estruturais, e também a norma

europeia (EUROCÓDIGO-8), que estabelece um detalhamento mais aprofundado do que a

NBR – 15421, apresentando tecnicas mais refinadas de dimensionamento e uma téoria mais

abrangente. Concluiu-se que a magnitude de um terremoto é relativizada de acordo com as

características locais, ou seja, o mesmo sismo pode apresentar um potencial destrutivo diferente

em outras regiões. Foi constatado que os esforços advindos das ondas sísmicas incidem na

edificação pelo seu elemento de fundação, percorrendo posteriormente toda a estrutura, sendo

as solicitações geradas dependentes do tipo de onda sísmica incidente.

Palavras-chave: Edificações, ação sísmica, projetos estruturais, instabilidade geológica.

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ABSTRACT

The earthquake is a natural or artificial phenomenon that originates inside the Earth and may

occur by the movement of tectonic plates, by volcanic action or displacement of gas. The

earthquake risk measures the relevance of earthquake for a given structural design and cannot

be disregarded even in regions of low seismicity. The destructive capacity of a seismic wave

not only depends on your intensity, but the population density. The consequences arising in

buildings subject to seismic vibrations can cause considerable damage and even fatalities.

However, projects can be developed with appropriate techniques to mitigate these effects. The

objective of the present work is to study the effect of seismic action in structural projects that

are in locations that present geological instability, as in Brazil, in the municipality of João

Câmara, Rio Grande do Norte, which presents a seismic instability due to failure in the middle

of a tectonic plate. The main reason for the existence of this instability are cracks called faults.

Were studied brazilian standard NBR-15421 (earthquakes resistant structures project), which

establishes the seismic hazard map of the entire Brazilian territory, indicating some regions

should adopt the seismic effect on structural projects, and also the European standard

(EUROCODE-8), which establishes a further detailing of the NBR-15421, presenting more

refined techniques of sizing and a broader theory. It was concluded that the magnitude of an

earthquake is relativized in accordance with local characteristics, i.e. the same earthquake may

present a destructive potential different in other regions. It has been found that the efforts from

the seismic waves focus on edification at your Foundation element, traveling later the whole

structure, being generated requests depend on the type of seismic wave incident.

Keywords: Buildings, seismic, structural projects action, geological instability.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO PÁGINA

1.0 INTRODUÇÃO..................................................................................................................18

1.1Considerações iniciais.....................................................................................................18

1.2 Objetivos........................................................................................................................20

1.2.1 Objetivo geral..........................................................................................................20

1.2.2 Objetivos específicos..............................................................................................20

1.3 Estrutura do trabalho......................................................................................................21

2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...........................................................................................22

2.1 O abalo sísmico..............................................................................................................22

2.2 Hipocentro......................................................................................................................22

2.3 Intensidade.....................................................................................................................22

2.4 Aceleração......................................................................................................................23

2.5 Falha...............................................................................................................................23

2.6 Ondas sísmicas...............................................................................................................23

2.7 Perigo e risco sísmico....................................................................................................24

2.8 Risco sísmico em regiões com usinas nucleares............................................................25

2.9 Tectonismo.....................................................................................................................26

2.10 Falha geológica............................................................................................................28

2.10.1 Principais falhas geológicas a nível mundial.......................................................29

2.10.1.1 Falha geológica de San Andreas..................................................................29

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2.10.1.2 Falha geológica de Nova Madrid.................................................................30

2.10.1.3 Falha geológica de Samambaia....................................................................32

2.11 Sismicidade intraplaca.................................................................................................33

2.12 Medições e consequências de um abalo sísmico.........................................................36

2.12.1 Ondas geradas no abalo sísmico..........................................................................36

2.12.1.1 Ondas primarias e secundarias.....................................................................36

2.12.1.2 Características das ondas tipo Rayleigh e Love (R e L) .............................37

2.12.1.3 Velocidade das ondas P e S..........................................................................38

2.12.2 Magnitude de um abalo sísmico...........................................................................38

2.12.2.1 Escala Richter..............................................................................................39

2.12.2.2 Escala Mercalli.............................................................................................41

2.13 Sismógrafo...................................................................................................................43

2.14 Maiores abalos sísmicos já registrados no mundo.......................................................45

2.14.1 Terremoto em Valdívia no Chile (1960) .............................................................45

2.14.2 Terremoto em Sumatra na Indonésia (2004) .......................................................46

2.14.3 Terremoto em Fukushima no Japão (2011) ........................................................48

2.15 Maiores terremotos ocorridos no Brasil.......................................................................49

2.15.1 Mato Grosso (1955) ............................................................................................49

2.15.2 Espirito Santo (1955) ..........................................................................................49

2.15.3 Pacajus, Ceará (1980) .........................................................................................49

2.15.4 João Câmara, Rio Grande do Norte (1986) .........................................................50

2.16 Formação de um tsunami.............................................................................................52

2.17 Comportamento físico de uma edificação a ação sísmica............................................54

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2.17.1 Atuação dos esforços na edificação.....................................................................54

2.17.2 Técnicas construtivas para se combater a ação sísmica.......................................56

2.17.2.1 Amortecedores de massa sintonizados (AMS)............................................56

2.17.2.2 Amortecedores de massa tipo pêndulo.........................................................57

2.17.2.3 Estruturas que utilizam AMS.......................................................................58

2.17.2.4 Amortecedores nas paredes da edificação...................................................60

2.18 Principais diretrizes da NBR – 15421..........................................................................62

2.18.1 Zoneamento sísmico.............................................................................................62

2.18.2 Classes dos terrenos..............................................................................................63

2.18.3 Definição do espectro de resposta de projeto........................................................64

2.18.4 Definição das categorias de utilização..................................................................65

2.18.5 Sistemas básicos sismo-resistentes.......................................................................66

2.18.6 Irregularidade no plano.........................................................................................67

2.18.7 Irregularidade na vertical......................................................................................67

2.18.8 Força horizontal total............................................................................................68

2.18.9 Determinação do período natural da estrutura......................................................69

2.18.10 Distribuição vertical das forças sísmicas............................................................71

2.18.11 Modelo de distribuição das forças sísmicas horizontais.....................................71

2.19 Principais diretrizes do EUROCÓDIGO 8 (2010) .......................................................72

2.19.1 Simplicidade estrutural.........................................................................................72

2.19.2 Uniformidade e simetria estrutural.......................................................................72

2.19.3 Resistência a rigidez nas duas direções.................................................................73

2.19.4 Resistência e rigidez a torção................................................................................73

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2.19.5 Ação do diafragma no nível dos pisos..................................................................74

2.19.6 Fundação adequada...............................................................................................74

2.19.7 Elementos sísmicos primários e secundários........................................................75

2.20 Análise dos eventos sísmicos mais significativos que ocorreram no município de João

Câmara de 1986 a 2015.............................................................................................................75

3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................80

REFERÊNCIAS........................................................................................................................82

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1 Propagação da onda sísmica no solo.

24

2 Cordilheira dos Andes.

27

3 Fossas oceânicas.

27

4 Regressão e transgressão marítima gerada pelo movimento

epirogenético.

28

5 Tipos de falhas geológicas.

29

6 Falha geológica de San Andreas.

30

7 Mapa do perigo sísmico dos EUA.

31

8 Sistemas de falhas geológicas de Nova Madrid.

32

9 Localização geográfica do município de João Câmara (RN) e da falha

geológica de Samambaia.

33

10 Mapa do risco sísmico global.

34

11 Limites das placas tectônicas.

35

12 Tipos de ondas proveniente da ação sísmica.

37

13 Amplitude por duração gerado por um sismógrafo.

39

14 Potencial de destruição da ação sísmica medido pela escala Richter.

40

15

Sismógrafo da universidade de Lock Haven. 44

16 Sismógrafo digital.

44

17 Casas com estrutura comprometida em Valdívia no Chile em 1960.

45

18 Destruição gerada pelo abalo sísmico de 1960 no Chile.

46

19 Cidade de Sumatra antes do terremoto de 2004.

47

20 Cidade de Sumatra depois do terremoto de 2004.

47

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA TITULO DA IMAGEM PÁGINA

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21 Costa de Sumatra antes do tsunami de 2004.

47

22 Costa de Sumatra após o tsunami de 2004.

47

23 Epicentro principal.

48

24 Epicentros secundários.

48

25 Casas destruídas em Pacajus devido ao terremoto de 1980.

50

26 Consequências do abalo sísmico de 1986 na cidade de João Câmara.

51

27 Casa de baixo padrão construtivo destruída pelo sismo de 1986 em

João Câmara.

51

28 Formação de um tsunami.

53

29 Ação sísmica em edificação.

54

30 Colapso em duas direções.

55

31 Ação da força cisalhante.

55

32 Solicitações horizontais.

56

33 Rigidez inadequada.

56

34 Edifício John Hancock Tower.

58

35 Shanghai World Financial Center.

58

36 Contrapeso no edifício Taipe 101 na China.

59

37 Exemplo de amortecedores em paredes.

60

38 Comparação de um alicerce sem suspensão com outro com

suspensão.

61

39 Exemplo de edificação com paredes super-resistentes.

61

40 Mapa de zonas sísmicas no Brasil.

63

41 Principais falhas existentes no Rio Grande do Norte.

76

42 Consequências das solicitações sísmicas em Poço Branco.

78

43

Gráfico de magnitude por ano, plotado a partir dos dez maiores abalos

sísmicos ocorridos em João Câmara, de 1986 a 2015.

79

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ÍNDICE DE TABELAS

TABELA PÁGINA

1 Zonas sísmicas.

62

2 Definição dos fatores Ca e Cv de amplificação sísmica no solo.

65

3 Coeficiente de limitação do período.

70

4 Sismos de maior intensidade nos anos de 1986 até 2015 no

município de João Câmara (RN).

77

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ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO PÁGINA

1 Representação da escala de Mercalli. 41

2 Representação da escala de Mercalli Modificada. 42

3

Classes do terreno de acordo com suas propriedades. 64

4

Definição das categorias e utilização e dos fatores I de

importância.

66

5

Coeficiente de modificação – R. 66

6

Irregularidades estruturais no plano. 67

7

Irregularidades estruturais verticais. 68

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SIMBOLOGIA

SÍMBOLO

SIGNIFICADO

Vs

Velocidade das ondas secundaria

µ

Rigidez do material a ser atravessado

Vp

Velocidade das ondas primarias

K

Modulo de imcompressibilidade

A

Leitura de um sismômetro produzida por um terremoto

A0

Amplitude de onda usada como referência

Ca

Fator de amplificação sísmica do solo, para período de 0,0s

𝐶𝑉

Fator de amplificação sísmica do solo, para o período de 1,0s

𝑎𝑔 Aceleração característica de projeto

T

Período natural

𝑎𝑔𝑠0 Aceleração característica para o período de 0,0s

𝑎𝑔𝑠1 Aceleração característica para o período de 1,0s

R

Coeficiente de modificação

I

Fator de importância

𝐶𝑆 Coeficiente de resposta sísmica

W

Peso total da estrutura

V

Força gerada pela vibração sísmica

𝐶𝑢𝑝 Coeficiente de limitação de periodo

H

Altura em metros da estrutura acima da base

CT Coeficiente de período da estrutura

Ta Período natural aproximado

Fx Força de cada elevação

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𝑊𝑖 Parte do peso efetivo total que corresponde a elevação i

ℎ𝑥 Altura entre a base e a elevação x

ℎ𝑖 Altura entre a base e a elevação i

k Expoente de distribuição, relacionado ao período natural da estrutura T

Δ

Densidade do material a ser atravessado

𝑊𝑋

Parte do peso efetivo total que corresponde a elevação x

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18

1.0 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais

Ao longo do século XX a engenharia civil vem estudando maneiras de se projetar

edificações resistentes aos efeitos sísmicos. Culturalmente a sociedade, na maioria das vezes,

tende a não considerar o efeito sísmico em projetos estruturais, mesmo em regiões

geologicamente instáveis, fato esse que proporcionou a morte de milhares de pessoas nos

últimos duzentos anos. Nos dias atuais países de alta instabilidade sísmica são obrigados a

considerar seus efeitos nos projetos estruturais o que gerou um significativo aumento do custo

da construção, inibindo grandes investimentos.

Os abalos sísmicos são ondas elásticas que se propagam a partir de um ponto do interior

da Terra gerando uma aceleração dinâmica nas partículas do solo. Eles podem ser resultados de

uma série de fenômenos naturais ou induzidos pelo homem, tais como impactos de meteoros e

explosões nucleares subterrâneas. Porém, a grande maioria dos terremotos devastadores se

origina nas zonas de fraquezas da terra, principalmente nas fronteiras de placas tectônicas ou

em suas adjacências, devido a deslocamentos relativos entre elas.

Está concentrada nas regiões de bordas de placas litosféricas cerca de 90% da atividade

sísmica global. A sismicidade afeta regiões de importância econômica (Califórnia e Japão),

logo o estudo para se atenuar os efeitos sísmicos nessas localidades é essencial para garantir a

preservação da vida humana (JÚNIOR, 2001).

Já foram registrados abalos sísmicos de grande intensidade em regiões de centro de

placa tectônica. Entre dezembro de 1811 e fevereiro de 1812, foram registrados mais de 100

eventos sísmicos de grande magnitude na cidade de Nova Madrid, Missouri, região central dos

Estados Unidos (região localizada no centro de uma placa tectônica). Esses eventos foram os

maiores já registrados no centro de placas no EUA (ARSDALE, 2014).

O Brasil, por estar situado no interior da placa Sul-Americana, não está sujeito a grandes

abalos sísmicos, como ocorrem, por exemplo, na região da cordilheira dos Andes, que está

próxima ao limite da placa Sul-Americana. Ainda assim, tremores ocorrem com frequência no

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19

território brasileiro, causado em decorrência das tensões geradas nas bordas das placas que se

transmite por todo seu interior. Até recentemente, no Brasil, não era dada a devida importância

para a análise sísmica das estruturas. Entretanto já foram registradas atividades sísmicas de

magnitude moderada, por essa razão, é necessário considerar o efeito sísmico nos projetos

estruturais pois já foi possível constatar que mesmo sismos de magnitude moderada são capazes

de provocar grandes danos em estruturas diversas que foram projetadas sem a consideração

desse efeito, causando assim um grande transtorno para toda a sociedade e risco quanto a sua

integridade física.

Contudo, a partir de 2006, vigora no País uma norma específica para sismos. Um dos

objetivos desta norma, a NBR 15421 - (PROJETOS DE ESTRUTURAS RESISTETE A

SISMOS, 2006), é de estabelecer requisitos de projeto para estruturas civis, visando a

preservação de vidas humanas, a redução de danos esperados em edificações e a manutenção

da operacionalidade de edificações críticas durante e após um evento sísmico. Porem vale

salientar que essa norma é pouco difundida, uma vez que, dificilmente suas diretrizes são

levadas em consideração.

É de fundamental importância, para a realização dos projetos estruturais, o

conhecimento de como uma edificação se comporta quando esta é solicitada pela ação sísmica.

Vale salientar que a principal razão para que esse efeito não seja incluído nos projetos

estruturais é o aumento de custo na construção proporcionado por ele. Então um estudo

aprofundado sobre o tema é capaz de gerar projetos mais eficientes e consequentemente mais

econômicos.

Com base em alguns eventos sísmicos e em estudos realizados após a elaboração da

NBR 15421, foi possível constatar que dependendo da localização, do tipo de estrutura e da sua

distância ao epicentro do terremoto, mesmo sismos de pequenas magnitudes já são suficientes

para causar danos. Sendo esses danos não necessariamente visíveis podendo apenas diminuir a

capacidade resistiva da edificação. Segundo Branco (2009), membro do serviço de Geológico

do Brasil, ocorre no País, por ano, em média 20 sismos com magnitude maior que 3,0 na escala

Richter e dois com magnitude maior do que 4,0. Fato esse que em determinadas circunstâncias

já pode ocasionar danos consideráveis em algumas edificações existentes no Brasil.

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20

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral desse trabalho é realizar um estudo da importância da implementação

do efeito sísmico em projetos estruturais de regiões de instabilidade geológica.

1.2.2 Objetivos específicos

Estudar abalos sísmicos provenientes de causas naturais, com ênfase no

comportamento de uma edificação a esse carregamento dinâmico, estabelecendo as

condições necessárias de projeto para proporcionar a estrutura resistência e

ductilidade suficientes para garantir a sua vida útil e prevenir o colapso;

Analisar os danos causados em algumas edificações, provocados pela ação sísmica,

pois o entendimento de como eles surgem é necessário para se estabelecer soluções

construtivas para evitar suas ocorrências;

Apresentar as mais modernas técnicas construtivas utilizadas para se combater o

efeito sísmico em edificações, explanando suas principais características, exemplo de

obras em que foram adotadas e as vantagens e desvantagens do seu uso;

Indicar como surgem os esforços gerados pelas ondas sísmicas e como esses esforços

atuam na edificação, e qual tipo de solicitação eles geram;

Efetuar uma análise dos eventos sísmicos mais significativos que ocorreram no

município de João Câmara, no estado do Rio Grande do Norte, de 1986 a 2015, com

o intuito verificar o potencial destrutivo desses eventos nas edificações atuais;

Apresentação das principais diretrizes estabelecidas na NBR – 15421, explicitando o

cálculo da força máxima horizontal gerada pelas ondas sísmicas.

Apresentação de algumas diretrizes do EUROCODIGO-8 (norma europeia), que não

estão presentes na NBR – 15421.

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21

1.3 ESTRUTURA DO TRABALHO

O trabalho em questão é composto por quatro capitulos. No capítulo 1 apresentam-se as

considerações iniciais, o objetivo principal e os objetivos secundarios. No capítulo 2 cujo titulo

é revisão bibliográfica disserta-se acerca dos principais conceitos referentes ao tema, a exemplo

da definição de abalo sísmico e como surge. Dentro desse mesmo capítulo falou-se sobre o

tectonismo e as ondas geradas em terremotos, onde foi possível verifcar que essas ondas são

detectadas pelos sismógrafos. Foi fundamentado ainda os conceitos de hipocentro, intensidade

e aceleação que são de extrema importância para a medição dos abalos e seu grau de destruição.

Ainda explanou-se sobre a escala Richter que mede a magnitude de um abalo sísmico e a escala

Mercalli que mede a intensidade de um abalo sísmico.

Dando continuidade ao capítulo em questão, foram apresentadas algumas consequências

de terremotos e outras causas que justifique sua ocorrencia, mesmo em localidades que não se

encontram nas bordas das placas tectônicas, a exemplo do sísmo intraplaca que é ocasionado

por falhas geológicas. Como principais consequências desse efeito destacou-se a formação de

tsunamis e o perigo e risco sísmico. Foi realizado um levantamento dos maiores abalos sísmicos

já registrados no mundo.

Será discutido sobre o comportamento físico de uma edificação a ação sísmica, onde foi

apresentado neste a atuação dos principais esforços gerados pelas ondas vibratórias em

edificações e as principais tecnicas construtivas para se atenuar esse efeito.

Ainda no capítulo 2 foram apresentados respectivamente as principais diretrizes da NBR

– 15421 e algumas diretrizes da norma europeira ( EUROCÓDIGO – 8) que não estão presentes

na norma brasileira, onde ambas as normas explicitam o dimensionamento de projetos

estruturais submetidos a ação sísmica, sendo a norma europeia mais sofisticada com conceitos

adicionais e cálculos mais precisos.

Finalizando o capítulo de revisão bibliográfica foi apresentado um estudo dos principais

abalos sísmicos ocorridos em João Câmara nos últimos trinta anos, isso com o objetivo de se

estabelecer o potencial destrutivo desses eventos em edificaões.

No capítulo 3 é apresentada as considerações finais e no capítulo 4 as referências.

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22

2.0 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 O Abalo sísmico

O abalo sísmico é um fenômeno de vibração brusca e passageira da superfície da terra,

resultante de movimentos subterrâneos das placas tectônicas, da atividade vulcânica ou da

migração de gases no interior da terra. Essa movimentação gerada no interior do solo provoca

uma grande liberação de energia em forma de onda sísmica (PENÃ, 2012).

2.2 Hipocentro

O hipocentro pode ser definido como, o ponto no interior da terra onde se origina o

sismo. A distância do hipocentro para com a superfície terrestre é inversamente proporcional

aos danos gerados, ou seja, quanto mais profundo ele se localiza, em geral, menores são os

danos provocados por ele na superfície. Já o Epicentro a projeção radial do hipocentro na

superfície da terra. Dependendo da distância entre os pontos de Epicentro e Hipocentro, a

propagação das vibrações provenientes do sismo ao longo da superfície terrestre pode causar

efeitos mais ou menos destrutivos. Geralmente, quanto maior for essa distância, menos

destrutivos são os efeitos do sismo, ou seja, menor é sua intensidade (TREMEA, 2011).

2.3 Intensidade

A intensidade de um abalo sísmico é a quantificação dos danos provocados por este

abalo. Essa grandeza apresenta uma grande subjetividade e, por essa razão, não fornece uma

contribuição significativa para a engenharia.

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Existem algumas escalas que foram desenvolvidas com a finalidade de medir a

intensidade de um abalo sísmico. Um exemplo seria a escala Mercalli Modificada, proposta por

Newman e Wood, em 1931.

2.4 Aceleração

Uma grandeza extremamente importante para engenharia é a aceleração sísmica, uma

vez que, a partir dela, é possível estabelecer curvas de acelerações onde as mais altas

representam regiões de instabilidade sísmica maior. Vale salientar que a NBR 15421, estabelece

um zoneamento sísmico do território nacional a partir da informação das acelerações atuantes

em determinadas regiões. Com o tempo, tornou-se possível obter informações detalhadas acerca

da aceleração do solo durante um abalo sísmico, através do registro dos acelerogramas. Com a

evolução da informática e, consequentemente, dos procedimentos analíticos computacionais, a

avaliação de respostas sísmicas em estruturas com grande número de graus de liberdade se

tornou mais viável (SOARES, 2009).

2.5 Falha

As falhas são fissuras existentes no interior de rochas geradas pela movimentação das

placas tectônicas. A existências de falhas indica uma região de instabilidade geológica.

2.6 Ondas sísmicas

As ondas sísmicas são ondas que se originam a partir da liberação de energia de um

abalo sísmico, tendo uma propagação tridimensional como pode ser observado na Figura 1 a

seguir.

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Fonte: http://www.prociv.pt/

2.7 Perigo e risco sísmico

O grau de destruição provocado por um abalo sísmico em uma determinada região

depende de uma série de fatores, são eles:

Profundidade do hipocentro;

Infraestrutura resistente a ação sísmica;

Proximidade do litoral, usinas nucleares, barragens, ou grandes estruturas susceptíveis

ao colapso;

Proximidade para com regiões de instabilidade sísmica.

Os fatores supracitados fazem com que o mesmo terremoto seja sentido com

intensidades diferentes em outras regiões. Então com o objetivo de se proporcionar o completo

Figura 1 - Propagação de onda sísmica no solo

Falha

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25

entendimento dos eventos sísmicos foram estabelecidos os conceitos de perigo sísmico e risco

sísmico.

O perigo sísmico descreve a probabilidade de ocorrência de eventos significativos, num

período de tempo desejado, em determinada região. Do ponto de vista da engenharia, o cálculo

do perigo sísmico de uma determinada área é extremamente importante, pois descreve o

movimento do solo e tem como parâmetro mais importante a aceleração (ÉVORA, 2017).

Já o risco sísmico descreve prováveis danos à sociedade devido a possíveis eventos

sísmicos significativos em determinada região. Logo, para regiões povoadas e com grandes

obras de engenharia (barragens, pontes, edifícios, indústrias, parques eólicos, etc.) é essencial

o conhecimento o entendimento desse risco sísmico. Mas para se conhecer o risco sísmico, faz-

se necessário o estudo prévio do perigo sísmico na região (ÉVORA, 2017).

Baseado nos parâmetros estabelecidos é possível afirmar que regiões industriais com

grandes obras apresenta um risco sísmico maior do que em outras regiões menos

industrializadas.

2.8 Risco sísmico em regiões com usinas nucleares

As usinas nucleares, que também são conhecidas como centrais nucleares, são

instalações que produzem energia elétrica através de reações nucleares de elementos

radioativos. Os elementos nucleares a exemplo do Urânio são colocados em barras dentro dos

reatores da usina onde o calor gerado pela reação move um alternador que produz a energia

elétrica.

Os principais problemas relativo a implantação dessas usinas é o constante controle de

sua temperatura e a geração do lixo nuclear por parte delas. Este lixo deve ser manipulado,

transportado e armazenado, seguindo todas as normas de segurança. Isso ocorre, pois os

resíduos radioativos são extremamente perigosos, caso ocorra contato com seres humanos por

intermédio de fontes como água, terra, ar, entre outras. O Brasil possui duas usinas nucleares

em atividade, Angra I e Angra II, situadas no município de Angra dos Reis no estado do Rio de

Janeiro.

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O risco sísmico associado a regiões instáveis com usinas nucleares é mais elevado, haja

vista que, as consequências de danos físicos nessas instalações podem comprometer de maneira

significativa a vida humana. Em regiões de instabilidade sísmica com a presença de outras

indústrias a exemplo de hidrelétricas ou complexos petroquímicos, sempre existe a

possibilidade de se efetuar o desligamento dessas industrias como medida de segurança para se

evitar desastres. Entretanto usinas nucleares nunca poderiam ser totalmente desativadas, em

razão, do seu sistema de resfriamento que necessita continuar operando para que se possa

combater o calor gerado pelo combustível radioativo.

A Associação Nuclear Mundial avalia que 20% dos reatores nucleares do mundo

operam em áreas vulneráveis a terremotos. No Brasil, as usinas de Angra dos Reis estão

localizadas no cinturão de dobramentos Ribeira-Mantiqueira do ciclo Brasiliano. O maior

terremoto próximo a usina de angra (cerca de 50 km) teve sua magnitude estimada de 4,1 cuja

aceleração máxima verificada no solo foi de 0,0017g, onde 1g = 9,8 m/s. É pertinente saber que

as instalações de Angra dos Reis foram projetadas para assegurar o desligamento seguro do

reator afetado por um terremoto que produza uma aceleração de 0,1g (um decimo da aceleração

da gravidade) (ERNESTO; RIBEIRO, 2011).

Além da necessidade de se adotar mecanismos de segurança em usinas nucleares é

preciso desenvolver sistemas de alerta, com o objetivo de se promover uma evacuação em

massa da população de regiões cujos índices de radioatividade estiverem acima do valor

permitido. Na usina nuclear de Fukushima (Japão) que sofreu danos em três de seus seis

reatores, em 11 de março de 2011, depois de um terremoto de 9 graus na escala Richter, foi

utilizado esse sistema onde centenas de pessoas foram salvas.

2.9 Tectonismo

O tectonismo é a movimentação das placas tectônicas e indubitavelmente é a principal

causa de sismos de grande intensidade. Vale salientar que os deslocamentos relativos entre as

placas tectônicas são resistidos pelas suas interfaces, gerando esforços de cisalhamento nas

regiões próximas à fronteira. Quando tais esforços excedem a resistência ao atrito das placas,

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ocorre o deslizamento, liberando a energia antes armazenada, sob a forma de propagação de

ondas (JÚNIOR, 2001).

A movimentação entre as placas tectônicas pode ocorrer de três maneiras. A primeira é

o movimento orogenético horizontal, que pode ser convergente provocando assim uma colisão

entre as placas, ou divergente quando ocorre a separação entre as mesmas. A orogênese

convergente traz como consequência a formação de dobramentos, cordilheiras, como por

exemplo na Cordilheira dos Andes apresentada na Figura 2 a seguir. Já a orogênese divergente

traz consequências como a formação de fossas oceânicas apresentada na Figura 3 a seguir. Esse

processo pode ser entendido como o conjunto de movimentações que levam à formação ou

rejuvenescimento de montanhas ou cadeias de montanhas produzido principalmente pelo

diastrofismo (dobramentos, falhas ou a combinação dos dois), ou seja, pela deformação

compressiva da litosfera continental. A ocorrência desses eventos é marcada frequentemente

pelos sismos e pela presença de vulcões. Vale destacar que quando os dobramentos datam de

uma era geológica recente, (Era Cenozoica) como os Andes, são considerados modernos, e

quando datam de uma era geológica antiga, (por exemplo: Arqueozoico e Pré-cambriano) como

o Escudo das Guianas, são considerados escudos ou maciços antigos.

Figura 2 – Cordilheira dos Andes Figura 3 – Fossas Oceânicas

Fonte http://geoconceicao.blogspot.com.br Fonte http://geoconceicao.blogspot.com.br

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O segundo tipo de movimento entre placas é o epirogenético vertical, onde os

movimentos da crosta terrestre cujo sentido é ascendente ou descendente, atingindo vastas áreas

continentais, porém de forma lenta, inclusive ocasionando regressões e transgressões marinhas,

apresentados na Figura 4 a seguir.

O terceiro tipo de movimentação é o transcorrente, conhecido também como

conservativo. Nesse caso placas adjacentes deslocam-se paralelamente umas às outras

formando falhas transformantes e gerando solicitações de cisalhamento como se pode observar

na Figura 5 (B) a seguir (ASSUMPÇÃO, 2014).

.

2.10 Falha geológica

Falha geológica pode ser caracterizada como o rompimento ou a separação de um bloco

de rochas ou faixas estreitas da superfície, podendo assim, proporcionar um deslocamento de

suas partes. Nessas falhas ocorre um acúmulo de energia que pode sofrer de uma eventual

liberação desta em zonas de falhas geológicas. Vale salientar que esse fator é um dos

responsáveis pela ocorrência dos terremotos. Esse fenômeno geológico surge em função da

pressão aplicada por uma força, geralmente as placas tectônicas, em que a pressão exercida

Figura 4 – regressão e transgressão marítima geradas pelo movimento epirogenético

Fonte: Adaptado de http://www.colegiovascodagama.pt

(A) Regressão

(B) Transgressão

Costa

Costa

(B) O Mar avança

(A) O Mar recua

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excede a capacidade de resistência e plasticidade das camadas rochosas, provocando a sua cisão

ou ruptura, podendo gerar também algumas pequenas fraturas em seu entorno (ASSUMPÇÃO,

2014).

Na Figura 5 a seguir é possível verificar três tipos de falhas. Na falha do tipo normal, a

cisão acontece quando um bloco abaixa em relação à superfície da falha. Isso ocorre quando a

pressão exercida sobre a região provoca uma tensão negativa. Já na falha do tipo inversa a cisão

ocorre quando um bloco “sobe” em relação à falha, soerguendo a sua superfície. Isso acontece

quando o tectonismo provoca uma tensão responsável por comprimir o espaço ocupado pelas

camadas de rocha. Na falha transcorrente, também chamada de horizontal, há um movimento

paralelo entre os dois blocos, o que pode ser provocado por vetores inversos de forças

horizontais aplicados sobre cada segmento de rocha.

Figura 5 – Tipos de falhas geológica

Fonte: adaptado de mundoeducacao.bol.uol.com.br

2.10.1 Principais falhas geológicas a nível mundial

2.10.1.1 Falha geológica de San Andreas

Um dos exemplos mais notórios de falha geologia é a falha de San Andreas, que

atravessa a Califórnia de norte a sul ao longo de 1,3 mil quilômetros e delimita a parte norte-

(A) (B) (C)

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americana da placa do Pacífico, é uma das mais estudadas no mundo, uma vez que, está quase

inteiramente na superfície da terra (como pode se observar na Figura 6). Segundo o site da BBC

Brasil essa falha foi a causa do devastador terremoto de magnitude 7,8 que destruiu grande

parte de São Francisco em 1906, matando mais de 3 mil pessoas.

Figura 6 – Falha Geológica de San Andreas

Fonte: http://historiaybiografias.com

2.10.1.2 Falha geológica de Nova Madrid

A falha geológica de Nova Madrid se encontra no leste dos EUA (Figura 7) sendo um

dos casos mais estudados de sismo intraplaca.

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Figura 7 - Mapa do perigo sísmico dos EUA

Fonte: Adaptado de http://www.newsprepper.com

Estudos e o acompanhamento dos eventos sísmicos revelam que a zona sísmica de Nova

Madrid é uma região de grande potencial de perigo sísmico, sendo localizada no centro de uma

placa tectônica. Segundo Van Arsdale, (2014) não existe uma definição precisa sobre a natureza

e o real risco sísmico que essa instabilidade representa. Existem vários modelos propostos para

seu entendimento, mas a explicação mais satisfatória é que a diminuição da tensão sofrida sobre

o sistema de falhas transcorrentes da região devido à redução de esforços verticais na região.

Esse sistema de falhas geológicas estar localizado 4,8 a 24,1 km de profundidade, se

estendendo por cerca de 240 km de extensão. Estudos revelam que o potencial sísmico desse

sistema pode produzir terremotos capazes de atingir oito estados americanos (Illinois, Indiana,

Missouri, Arkansas, Kentucky, Tennesse, Oklahoma) (STELZER, 1999).

A instabilidade geológica existente na região de Nova Madrid, segundo registros foi

responsável por uma série de destrutivos terremotos ocorridos entre 1811 e 1812 na região de

Nova Madrid – Missouri –USA incluindo o maior abalo já registrado nos EUA com magnitude

aproximada de 8 graus (ÉVORA, 2016).

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As falhas responsáveis pela Zona Sísmica de Nova Madrid apresentam uma

característica geológica subterrânea conhecida como a Rift Reelfoot (Figura 8) que se formou

durante a dissolução dos continentes na Era Neoproterozóica (cerca de 750 milhões de anos

atrás). O sistema de fenda resultante não conseguiu dividir o continente, mas permaneceu como

um aulacógenio (uma cicatriz ou zona de fraqueza) profundamente subterrâneo.

Figura 8 – Sistemas de falhas geológicas em Nova Madrid

Fonte: Adaptado de http://showme.net/~fkeller/quake/maps4.htm

2.10.1.3 Falha geológica de Samambaia

No estado do Rio Grande do Norte consta a falha geológica de Samambaia, que é a

maior do Brasil com aproximadamente 38 km de extensão e 4 km de largura e com uma

profundidade que varia entre 1 a 9 km. Ela atravessa os municípios de Parazinho, João Câmara,

Poço Branco e Bento Fernandes.

Em decorrência da falha de Samambaia, ocorreu em João Câmara no ano de 1986, um

tremor que foi de 5,1 graus na escala Richter. Foi o quinto maior abalo sísmico registrado em

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território brasileiro. Vale ressaltar que abalos dessa intensidade são suficientes para provocar

grandes danos em edificações de baixo padrão de execução.

No caso da falha de Samambaia por ter uma profundidade reduzida há um potencial

sísmico que pode gerar terremotos com magnitude superior ao registrado em 1986. Entretanto

nessa falha geológica existem fissuras no decorrer de sua extensão. Essas fissuras absorvem

parte da energia gerada pelas ondas sísmicas, atenuando assim seu efeito.

Fonte: Adaptado de http://www.weather-forecast.com/locations/Joao-Camara

2.11 Sismicidade intraplaca

Segundo Daniel Évora (2017), a sismicidade intraplaca são sismos no interior das

placas, que acontecem em decorrência das tensões geradas nas bordas das placas e se transmite

por todo seu interior. De maneira geral determinadas localidades que se encontram nas

extremidades das placas tectônicas apresentam um perigo sísmico maior do que aquelas que se

Figura 9 – Localização geográfica do Município de João Câmara (RN) e da falha geológica

de Samambaia

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encontram no centro. Entretanto é possível afirmar que mesmo em regiões intraplaca estáveis,

não deve ser descartado o risco sísmico de uma região. Existem exemplo ao longo da história

de regiões intraplaca que sofreram terremotos de grande potencial destrutivo (exemplo, Nova

Madrid – EUA).

A sismicidade intraplaca tem uma recorrência menor do que a sismicidade nas bordas

das placas. Entretanto segundo Seeber e Armbruster (1988), sismos intraplaca podem ser tão

destrutivos, quanto os sismos de borda de placa, com a mesma magnitude e profundidade.

Na Figura 10 a seguir, é apresentado o mapa de risco sísmico global, onde fica evidente

que as zonas de maior perigo sísmico se encontram nas divisas de placa.

Figura 10 - Mapa de risco sísmico global

No mapa de risco sísmico global, as regiões com uma coloração branca apresentam

baixo risco sísmico, as localidades que apresentam cor verde e amarela tem um risco sísmico

moderado e as vermelhas e marrons representam alto e muito alto risco respetivamente. Já na

Figura 11 tem-se os limites das placas tectônicas. Efetuando-se uma análise conjunta das figuras

BAIXA

MODERADA

ALTO

MUITO ALTO

MAPA DE RISCO SÍSMICO GLOBAL

Fonte: Adaptado de http://rusoares65.pbworks.com

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citadas é possível perceber que as regiões próximas as bordar tem maior incidência sísmica.

Vale destacar países como Japão, Indonésia e Chile pois apresentam alto risco sísmico.

Figura 11 – Limites das placas tectônicas

Fonte: brasilescola.uol.com.br

É importante ser ressaltado que as placas tectônicas podem ser divididas em vários

pequenos blocos com dimensões variadas. Estas divisões constituem as falhas tectônicas que

funcionam como fissuras que não se fecham e que, apesar de serem bastante antigas, podem

abrir a qualquer momento para liberar energia (DANTAS, 2013).

Segundo Talwani (2014) as falhas geológicas intraplaca podem ser reativadas quando

ocorre uma concentração de esforços que são modificados por efeitos locais. Logo não se pode

descartar o risco sísmico em regiões do qual não se registraram abalos nos últimos anos, uma

vez que, as falhas geológicas locais podem ser reativadas.

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2.12 Medições e consequências de um abalo sísmico

2.12.1 Ondas geradas no abalo sísmico

As ondas vibratórias podem chegar até as edificações pelas fundações, por propagação

da vibração através do solo. As propriedades do solo têm total influência nesse processo. A

amplitude das ondas de vibração propagadas em solo é atenuada à medida que a distância em

relação à fonte da vibração aumenta. Esse tipo de atenuação é conhecido como espalhamento

geométrico ou amortecimento externo.

2.12.1.1 Ondas primarias e secundarias

Clough e Penzien, (2003) dizem que em um abalo sísmico são geradas basicamente dois

tipos de ondas (Figura 12), são as ondas de corpo que podem ser de compressão longitudinal

ou também intituladas de ondas primarias (p), também são ondas de corpo as ondas de corte ou

transversais também chamadas de ondas secundarias (s). O segundo tipo de onda é intitulada

de ondas superficiais ou ondas de Rayleigh e de Love. As ondas de Rayleigh são ondas de

tração e compressão, similares às ondas primárias p. já as ondas de Love são ondas cisalhantes,

mais lentas do que as primarias e as secundarias, podendo ou não ocorrer durante a ação sísmica.

As ondas “P” (primárias) são caracterizadas por um movimento oscilatório em que as

partículas dos materiais rochosos oscilam para frente e para trás induzindo uma alternância

entre deformação de tensão e de compressão, (CLOUGH; PENZIEN, 2003). Em razão de sua

maior velocidade as ondas primarias são as primeiras que chegam à superfície. No caso das

ondas “S” (secundárias), as partículas se movem na direção perpendicular ao caminho da

propagação, induzindo deformações por cisalhamento. Quando a energia de vibração da onda

se propaga perto da superfície do solo, ocorre a formação das ondas de Rayleigh e as ondas de

Love.

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2.12.1.2 Características das Ondas Tipo Rayleigh e Love (R e L)

Quando as ondas de profundidade atingem a superfície, elas são refletidas, podendo

gerar as ondas de superfície Rayleigh e Love (ondas R e L).

As ondas de Love produzem movimento horizontal transversal à direção de propagação.

As ondas de Rayleigh produzem um movimento circular análogo às ondas oceânicas.

Os tipos de ondas provenientes da ação sísmica podem ser observados na Figura 12 a

seguir.

Figura 12 - Tipos de ondas proveniente da ação sísmica

Fonte: Adaptado de http://www.proteccioncivil.es/

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2.12.1.3 Velocidade das ondas P e S

As velocidades das ondas P e S variam dependendo do meio por onde elas se propagam.

Isso significa que essas ondas sofrem refrações e reflexões no interior da Terra, e portanto não

é simples determinar quanto tempo elas levam para chegar a um dado ponto na superfície. Vale

salientar que as ondas secundarias (S) não se propagam em meios fluidos. Caso o hipocentro se

encontre muito longe do epicentro do terremoto em aproximadamente menos de 3.000 km,

digamos que é possível supor, baseado nas equações abaixo, que as ondas P se propagam com

velocidade Vp = 8 km/s e as ondas S com VS = 4,5 km/s.

𝑉𝑝 = √𝐾+4𝜇/3

𝛿 (1)

𝑉𝑠 = √𝜇

𝛿 (2)

Onde:

δ: Densidade do material a ser atravessado; Vp: Velocidade das ondas primarias;

Vs: Velocidade das ondas secundaria; K: Modulo de imcompressibilidade;

µ: Rigidez do material a ser atravessado.

2.12.2 Magnitude de um abalo sísmico

É a medida da quantidade de energia liberada durante o sismo, sendo baseada na

amplitude das ondas sísmicas.

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2.12.2.1 Escala Richter

O conceito de magnitude foi introduzido por Charles Richter para comparar a energia

total liberada no hipocentro por diferentes sismos. Em 1935, Charles Richter desenvolveu uma

escala logarítmica para a medida da magnitude de um sismo. Essa escala foi desenvolvida a

partir da equação 3.

𝑀 = log10 (𝐴

𝐴𝜊) (3)

Onde “A” é a leitura de um sismômetro produzida por um terremoto e “𝐴𝑂” é a

amplitude de onda usada como referência. Tem-se que os parâmetros dessa equação são

retirados da Figura 13, que representa um gráfico de amplitude versos tempo produzido por um

sismógrafo.

Figura 13 - Amplitude por duração gerado por um sismógrafo

Fonte: Adaptado de http://www.on.br/conteudo/noticias/terremoto_chile.html

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Na Figura 13 é possível visualizar as características dos dois tipos de ondas geradas em

um abalo sísmico. Percebe-se que a onda “p” tem uma oscilação menor. Já as ondas “s”

apresentam linhas mais densas em comparação com as ondas “l” e “r”.

Em relação a caracterização da escala Richter temos que um sismo com magnitude

inferior a 3,5 é em geral apenas registado pelos sismógrafos, não sendo sentido. Para

magnitudes entre 3,5 e 5,4 já pode ser sentido pelas pessoas e eventualmente produzir danos.

Sismos com magnitudes entre 5,5 e 6,0 provocam danos menores em edifícios bem construídos,

mas podem causar danos sérios em construções de baixa resistência às vibrações e oscilações.

Os sismos com magnitudes entre 6,1 e 6,9 na escala de Richter podem ser devastadores numa

zona de 100 km de raio em torno do epicentro. Os sismos com magnitudes entre 7,0 e 7,9 podem

causar sérios danos numa grande área. Os terremotos com magnitudes acima de 8,0 podem

provocar grandes danos em regiões localizadas a várias centenas de quilómetros de distância

do epicentro.

Na Figura 14 a seguir é possível verificar baseado na escala Richter uma relação entre

a magnitude de um abalo sísmico e o grau de destruição provocado. Vale salientar que a

magnitude é única para cada sismo, enquanto a intensidade das ondas sísmicas diminui em

função da distância e das características das rochas atravessadas pelas ondas e as linhas de falha

e outros acidentes tectónicos presentes no seu percurso. Assim, embora cada terremoto tenha

uma única magnitude, os seus efeitos variam segundo a distância, as condições dos terrenos e

das edificações, entre outros fatores (TREMEA, 2011).

Figura 14 - Potencial de destruição da ação sísmica medido pela escala Richter

Fonte: http://profalexandregangorra.blogspot.com.br/

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2.12.2.2 Escala Mercalli

A escala Mercalli foi criada em 1906, pelo sismólogo italiano Giusseppe Mercalli, e

modificada, posteriormente, em 1931, por Harry Wood e Frank Neuman. Essa escala permite a

obtenção de parâmetros sísmicos que não poderiam ser obtidos na escala Richter. Sua

classificação depende não somente da distância do epicentro, mas também das condições locais,

tais como: o tipo de construção e a densidade populacional.

Essa escala é medida a partir da percepção dos efeitos segundo as pessoas, por exemplo

a repercussão em objetos e construções (barulho e queda de objetos, trincas ou rachaduras em

casas, etc.) e na natureza (movimento de água, escorregamentos, mudanças de topografia, etc.),

sem medição direta feita com instrumentos.

Quadro 1 - Representação da Escala Mercalli

Escala Mercalli Efeitos do Terremoto

Magnitude 1 Não é sentido pelas pessoas, só os sismógrafos registram.

Magnitude 2 É sentido nos andares mais altos dos edifícios.

Magnitude 3 Lustres podem balançar. A vibração é igual a de um caminhão passando.

Magnitude 3,5 Carros parados balançam, peças feitas de louça vibram e fazem barulho.

Magnitude 4,5 Podem acordar as pessoas que estão dormindo, abrir portas, parar relógios

de pêndulos e cair reboco das paredes.

Magnitude 5,0 É percebido por todos. As pessoas caminham com dificuldade, livros

caem de estantes; os moveis podem ficar virados.

Magnitude 5,5 As pessoas tem dificuldade de caminhar, as paredes racham e as louças

quebram.

Magnitude 6,5 Difícil dirigir automóveis, forros desabam, casas de madeira são

arrancadas de suas fundações. Algumas paredes caem.

Magnitude 7,0 Pânico geral, danos nas fundações dos prédios, encanamentos de terra,

rios transbordam, represas e diques são destruídos.

Magnitude 7,5 Maioria dos prédios desabam, grandes deslizamentos de terra, rios

transbordam, represas e diques são destruídos.

Magnitude 8,5 Trilhos retorcidos nas estradas de ferro, tubulações de agua e esgoto

totalmente destruídas.

Magnitude 9,0 Destruição total. Grandes pedaços de rochas são deslocados, objetos são

lançados no ar. Fonte: Adaptado de Dantas 2013

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A partir da Escala Mercalli, os vulcanólogos Wood e Neuman chegaram ao

detalhamento da escala Mercalli Modificada (MM), na qual se faz possível identificar a

intensidade e o poder de destruição de um terremoto.

Quadro 2 - Representação da Escala Mercalli Modificada

Grau Descrição dos Efeitos Aceleração (g)

I Não é sentido.

II Sentido por poucas pessoas paradas. < 0,003

III Sentido dentro de casa, alguns objetos pendurados oscilam.

Vibração parecida com a passagem de um caminhão leve.

0,004 – 0,008

IV Objetos suspensos oscilam. Vibração parecida com a passagem

de um caminhão pesado. Janelas louças e portas fazem barulho.

0,008 – 0,015

V Sentido fora de casa; direção estimada. Pessoas acordam. Liquido

em recipiente é perturbado. Objetos pequenos e instáveis são

deslocados. Portas oscilam, fecham e abrem.

0,015 – 0,04

VI Sentido por todos. Muitos se assustam e saem as ruas. Pessoas

andam sem firmeza, janelas e louças são quebradas. Objetos e

livros caem de prateleiras. Reboco fraco e construções de má

qualidade racham.

0,04 – 0,08

VII Difícil se manter em pé. Objetos suspensos vibram. Moveis

quebram. Danos em construções de má qualidade. Algumas

trincas em construções normais.

0,08 – 0,15

VIII Danos em construções normais com colapso parcial. Algum dano

em construções reforçadas. Queda de estuque e alguns muros de

alvenaria. Quedas de elementos diversos e tricas no chão.

0,15 – 0,30

IX Pânico geral. Construções comuns bastante danificadas, as vezes

colapso total. Danos em construções reforçadas e rachaduras

visíveis no solo.

0,30 – 0,60

X Maioria das construções destruídas até nas fundações. Danos

sérios a barragens e diques. Escorregamento de terra. Trilhos

levemente entortados.

0,60 – 1,0

XI Trilhos completamente entortados. Tubulações subterrâneas

completamente destruídas.

~1 - 2

XII Destruição quase total. Grandes blocos de rochas deslocados.

Linhas de visada e níveis alterados. Objetos atirados ao ar.

~2

Fonte: adaptado de Dantas 2013

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Segundo Dantas (2013) frisa-se, que a escala de Mercalli tem uma importância apenas

qualitativa e não deve ser interpretada em termos absolutos, uma vez que depende de

observação humana.

A principal diferença entre a escala Mercalli e a escala Richter é que a escala de Mercalli

mede a intensidade dos terremotos pelos seus efeitos, a escala de Richter mede sua magnitude

pela energia liberada pelo abalo.

2.13 Sismógrafo

O sismógrafo é um instrumento que registra a vibração do solo produzida pelo sismo.

Esse registro é chamado de acelerograma, onde por intermédio deste é possível obter a total

exemplificação de um terremoto em três direções ortogonais do espaço e permitir a completa

caracterização do mesmo. Destaca-se que as principais grandezas obtidas desse instrumento são

amplitude, frequência e duração. Basicamente ele consiste de um sensor de detecção do

movimento do solo, chamado de sismômetro, acoplado a um sistema de gravação no qual são

identificadas a hora, a duração e a amplitude de vibrações dentro do solo. Os movimentos são

depois registados nos sismógrafos, que geram traçados gráficos denominados de sismogramas.

A partir dos sismogramas os sismógrafos conseguem obter informações, como a localização do

hipocentro e a magnitude do sismo. O sismógrafo, principalmente usado na área da sismologia,

além de detecta as ondas sísmicas naturais ou induzidas também permite determinar, o ponto

da sua chegada na superfície terrestre (DANTAS, 2013).

Em relação ao princípio de funcionamento dos sismógrafos antigos temos que ele

funciona a partir de um sismômetro, um sensor instalado em locais de baixa interferência. Tal

sensor detecta oscilações na superfície terrestre, desde pequenos abalos, até grandes terremotos.

Esse sensor consiste, basicamente, numa bobina que envolve um imã pendurado numa mola.

Quando ocorre uma oscilação, o imã balança e produz na bobina uma corrente elétrica, que é

transmitida por meio de cabos ao sismógrafo. Dentro dele, nos modelos mais conhecidos, uma

espécie de caneta, acionada pelos impulsos elétricos, move-se sobre um cilindro de papel

compondo os sismogramas - gráficos a partir dos quais os abalos são medidos e analisados.

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Na Figura 15, a seguir, percebe-se os tambores rotativos com os papeis que registram as

ondas sísmicas, os marcadores são eletrônicos. O sismógrafo da Figura 15 é um modelo antigo.

Atualmente os sismógrafos utilizados são completamente digitais (Figura 16), tendo assim um

nível de precisão superior.

Figura 15 - Sismógrafo da universidade de Lock Haven

Fonte: Lock Haven University , 2016 .

Fonte: www.geomassaro.it

Figura 16 – Sismógrafo digital

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2.14 Maiores abalos sísmicos já registrados no mundo

2.14.1 Terremoto em Valdívia no Chile (1960)

Em 22 de maio de 1960, a cidade de Valdívia, no Chile sofreu com o maior terremoto

da sua história. O sismo teve magnitude de 9,5 graus na escala Richter e foi possível provocar

um alto grau de destruição. Algumas consequências geradas nas estruturas das casas podem ser

observadas na Figura 17, a seguir.

Figura 17 – Casas com estruturas comprometidas em Valdívia Chile 1960

Fonte: http://www.tendencias21.net

Na Figura 17 é possível observar que as casas destruídas são de estrutura de madeira,

sendo esse material mais susceptível aos carregamentos dinâmicos. Entretanto na Figura 18 a

seguir, é possível verificar que mesmo edificações de concreto armado colapsaram, em razão,

deste abalo sísmico.

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2.14.2 Terremoto em Sumatra na Indonésia (2004)

Em 2004 na costa de Sumatra Indonésia, aconteceu um terremoto medindo 9,1 pontos

na escala Richter, que matou 160 mil pessoas, no Sudeste Asiático e na África Oriental. O alto

número de mortos se deve ao fato de que o epicentro ocorreu no oceano gerando assim um

grande tsunami que surpreendeu a todos.

Segundo Santos (2005), do Instituto de Física da Universidade de Brasília, afirma que,

o sismo que ocorreu na costa Sumatra no ano de 2004, apresentou medidas computacionais que

demonstraram que a Placa Indiana deslizou cerca de 20 metros sob a Placa da Birmânia. A

energia irradiada pelo terremoto, medida através das ondas sísmicas, foi de ER = 1,1 x 1018 J.

Com o objetivo de se efetuar uma comparação para expressar essa energia em termos daquela

liberada pela bomba de Hiroshima (12,5 kilotons), utilizou-se o fator de conversão 1 kiloton =

4,2x 1012 J e chegou à conclusão de que, a energia liberada pelo abalo sísmico equivale a algo

como 21.000 bombas de Hiroshima.

Os efeitos provocados pelo tsunami foram devastadores como pode-se ver nas Figuras

19 e 20, a seguir.

Figura 18 – Destruição gerada pelo abalo sísmico de 1960 no Chile

Fonte: www.postbreve.com

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47

F de aes Figura 20 –

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/

É possível verificar na figura 21 e 22, a seguir, que a energia gerada pelo tsunami foi

tamanha que ocasionou uma transgressão marítima.

Figura 19 - Cidade de Sumatra antes do

terremoto de 2004

Figura 20 – Cidade de Sumatra depois

do terremoto de 2004

Figura 21 – Costa de Sumatra antes do

tsunami de 2004

Figura 22 – Costa de Sumatra após o

tsunami de 2004

Fonte:http://ciencia.hsw.uol.com Fonte:http://ciencia.hsw.uol.com Fonte:http://ciencia.hsw.uol.com

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2.14.3 Terremoto em Fukushima no Japão (2011)

No ano de 2011 aconteceu no Japão um terremoto de grande magnitude (8.9 escala

Richter, com epicentro cerca de 130 km de Sendai), ocasionando um tsunami de até 10 metros

e outros terremotos secundários, gerando assim uma catástrofe.

O Japão, por estar localizado no Anel de Fogo do Pacífico (área do oceano com grande

encontro de placas tectônicas), sofre frequentemente com abalos de grande proporção, por essa

razão, existe uma logística por parte das autoridades japonesas combinado com uma

infraestrutura para que sejam reduzidos o número de vítimas dos terremotos. Entretanto em

abalos de grande intensidade torna-se inevitável as perdas materiais e humanas.

Esse abalo sísmico em especial foi mais catastrófico do que os demais que já haviam

ocorridos no Japão, em razão, dos danos provocados na usina nuclear de Fukushima. Segundo

as agências de notícia do Japão aproximadamente 45 mil pessoas foram deslocadas porque os

níveis de radiação fora da usina estavam 8 vezes acima do normal.

Nas figuras 23 e 24 a seguir, é possível verificar o epicentro principal e os secundários,

respectivamente assim como sua proximidade da usina de Fukushima (cerca de 200 km).

Figura 23 – Epicentro principal Figura 24 – Epicentros secundários

Fonte: Adaptado de notícias.r7.com/ Fonte: Adaptado de notícias.r7.com/

Usina de

Fukushima

Epicentro

principal

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Ujiie (2012), professor da Universidade de Tsukuba, no Japão afirmou que o sismo de

março de 2011 teve origem numa falha já existente chamada "Tohoku-Oki", localizada na

fronteira entre as placas do Pacífico e Norte-Americana, e rompeu ainda na crosta ao longo de

200 quilómetros na Fossa do Japão. Entretanto o que mais surpreendeu nesse sismo foi a

dimensão do deslocamento vertical da massa de água.

2.15 Maiores terremotos ocorridos no Brasil

2.15.1 Mato Grosso (1955)

Em janeiro de 1955, no Mato Grosso, mais precisamente na Serra do Trombador, foi

registrado um terremoto de 6,6 graus na escala Richter, o maior registrado na história do Brasil.

Esse abalo ocorreu em uma região pouco habitada, fazendo com que praticamente não

houvessem danos materiais ou humanos.

2.15.2 Espírito Santo (1955)

No ano de 1955 a cidade de Vitória-ES foi atingida por um abalo sísmico de 6,3 graus

na escala Richter. Segundo relatos dos moradores as casas apenas balançaram. Não há nenhum

registro de feridos ou danos materiais.

2.15.3 Pacajus, Ceará (1980)

No ano de 1980 Pacajus, na Região Metropolitana de Fortaleza, apresentou um

terremoto com magnitude de 5,2 na Escala Richter e foi sentido na Capital. Esse sismo é

considerado o maior registrado nas regiões norte e nordeste. Segundo o jornal Diário do

Nordeste 488 casas (Figura 25) foram danificadas no epicentro do fenômeno registrado.

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Figura 25 - Casas destruídas em Pacajus devido ao terremoto de 1980

Fonte: Diário do Nordeste

2.15.4 João Câmara, Rio Grande do Norte (1986)

João Câmara, município do Rio Grande do Norte, foi atingido por uma série de

terremotos na década de 1980. O mais grave deles ocorreu em novembro de 1986, quando a

cidade sofreu um abalo de magnitude 5,1 graus na escala Richter, provocando a destruição de

4 mil imóveis segundo o jornal Tribuna do Norte.

O acentuado número de imóveis danificados por um sismo de intensidade moderada

pode ser explicado pelo baixo padrão construtivo desses imóveis. Outro fator que ocasionou o

potencial destrutivo desse sismo é a baixa profundidade da falha de Samambaia.

No ano de 1989 ocorreu outro sismo de magnitude significativa na cidade de João

Câmara, tendo 5,0 graus na escala Richter.

Nas figuras 26 e 27 é possível visualizar os danos provocados pelo sismo de 1986 na

cidade em algumas residências na cidade de João Câmara.

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Fonte: http://www.riograndedonorte.net

Figura 26 – Consequências do abalo sísmico de

1986 na cidade de João Câmara

Figura 27 – Casa de baixo padrão construtivo

destruída pelo sismo de 1986 em João Câmara

Fonte: Tribuna do Norte

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52

Vale destacar que, mesmo após esse abalo sísmico e o alto grau de instabilidade

geológica que se encontra nessa região, não foi tomada nenhuma atitude efetiva para se atenuar

os efeitos das ondas sísmicas nas estruturas locais.

2.16 Formação de um tsunami

Segundo Silveira e Varriale (2005) o tsunami é uma palavra japonesa que designa ondas

geradas em oceanos, mares, baías, lagos, a partir ou de movimentos sísmicos, ou de vulcanismo,

ou de deslizamento de terra submarino, ou de impacto de meteorito, ou até de fenômenos

meteorológicos. O que diferencia os tsunamis de outras ondas, são os períodos das oscilações

da água. Por exemplo enquanto em uma onda marítima “normal” podem ocorrer períodos de

até algumas dezenas de segundos, em um tsunami este tempo atinge alguns minutos ou até

meia-hora. Desta maneira, os tsunami são ondas longas, que em alto-mar possuem entre 10 km

e 500 km de comprimento de onda. Esta característica torna os tsunami muito diferentes das

outras ondas, mesmo daquelas que podem ser observadas durante as tempestades.

Tsunamis podem ser gerados quando o fundo do mar é brutalmente deformado,

deslocando verticalmente a coluna d’água que repousa acima dele. Grandes movimentos

verticais da crosta terrestre podem ocorrer nas fronteiras entre placas tectônicas, ou seja, nas

chamadas falhas geológicas. Ao longo das margens do Oceano Pacífico, por exemplo, placas

oceânicas mais densas deslizam sob placas continentais, em um processo conhecido como

subdução, (SANTOS, 2005).

O tsunami é umas das consequências de um abalo sísmico que provoca a maior

quantidade de vítimas fatais. A sua ocorrência é verificada quando o hipocentro do terremoto

se encontra abaixo do oceano. Na maioria dos tsunamis as ondas “quebram”, como as ondas

comuns geradas pelo vento, e se comportam como uma corrente de maré que invade a faixa

litorânea (GEIST, 2004).

Ernesto e Brenha (2011), afirmam que para um terremoto produzir diretamente um

tsunami, é necessário que o movimento da falha tenha uma componente normal, ou uma

componente reversa, significativa. De maneira geral qualquer que seja o tipo de movimento da

falha durante o terremoto, existe a possibilidade de geração de um tsunami através de um

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53

mecanismo indireto, que é a ocorrência de escorregamento do sedimento oceânico,

principalmente na região do talude continental ou próximo aos arcos de ilha, onde a topografia

é muito inclinada.

Na Figura 2 a seguir, é possível verificar que uma falha geológica proporcionou uma

forte oscilação das partículas ao redor do hipocentro liberando assim uma grande quantidade

de energia. Essa energia potencial logo é convertida em energia cinética, provocando um

deslocamento de uma grande massa de água.

Figura 28 – Formação de um tsunami

Fonte: http://tremordeterra.blogspot.com.br

No Brasil, existe um único depósito sedimentar que pode ser associado a tsunami, que

foi descrito por Albertão e Matins (1996, 2008), no litoral pernambucano. Esse depósito trata-

se de uma camada sedimentar que se estende por cerca de 30 km reunindo diversas

características apontando para um processo rápido de disposição. Entretanto esse deposito não

se encontra próximo a nenhum ponto de instabilidade geológica, sendo portanto improvável a

ocorrência de tsunamis (ERNESTO; BRENHA, 2011).

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54

2.17 Comportamento físico de edificações a ação sísmica

2.17.1 Atuação dos esforços na edificação

As ondas sísmicas promovem uma aceleração espectral nas partículas do solo. Essa

aceleração é responsável por gerar três tipos de solicitações na estrutura de uma edificação, são

elas, tração, compressão e cisalhamento. Cada tipo de onda sísmica é responsável por gerar uma

solicitação especifica, por exemplo as ondas secundarias (S) e de Love provocam uma ação

horizontal. Essa ação faz com que o edifício tenha uma tendência de translação em relação ao

seu eixo horizontal. Já as ondas sísmicas primarias (P), por serem longitudinais provocam uma

ação de compressão, onde essa ação faz com que o edifício tenha uma tendência de translação

em relação ao seu eixo vertical. Todas essas ações podem atuam simultaneamente provocando

um efeito de flexo-compressão obliqua na estrutura.

É importante ressaltar que as ondas sísmicas secundarias na maioria das vezes são as

que geram os efeitos mais preponderantes. Como já foi exposto, essas ondas provocam uma

solicitação horizontal na estrutura, sendo que, essa solicitação é distribuída ao longo da

edificação, tendo uma magnitude maior nos pontos mais altos. Como exemplificado na Figura

29, a seguir.

Figura 29 - Ação sísmica em edificação

Fonte: Autor

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55

A força “Fx” é distribuída como carregamento triangular, uma vez que, nos pontos mais

altos a edificação é mais vulnerável a maiores vibrações e consequentemente a solicitações

horizontais de maior intensidade.

Um edifício de concreto armado ao ser solicitado pelas ondas sísmicas tende a dissipar

energia. Entretanto essa dissipação resulta uma perda global de resistência na estrutura, em

razão, do surgimento de microfissuras por um processo de fadiga. Para que uma edificação

apresente padrões de segurança adequando a esse tipo de solicitação é necessário que a estrutura

seja dúctil e apresente rigidez suficiente para que a perda de resistência global não seja

preponderante. Em edificações de grande porte o aumento de sua rigidez implica em

orçamentos excessivamente onerosos, logo uma solução seria a utilização de amortecedores.

Dantas (2013) apresentou alguns exemplos de patologias causadas por sismos em

estruturas de concreto armado. As figuras 30 à 33 mostram os efeitos destrutivos de um abalo

sísmico e as solicitações geradas pelas ondas sísmicas.

Figura 30 - Colapso em duas direções Figura 31 - Ação das forças cisalhantes

Fonte: Dantas 2013. Fonte: Dantas 2013

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Fonte: Dantas 2013 Fonte: Dantas 2013

As construções sem paredes estruturais, simetrias e núcleos rígidos são suscetíveis a

abalos sísmicos devido a sua flexibilidade. Os pilares podem romper em uma única direção

(fissura inclinada) ou em duas direções (fissura em forma de “X”). É valido destacar que

elementos pré-fabricados em lajes e vigas não são recomendados para suportar solicitações

sísmicas (DANTAS, 2013).

2.17.2 Técnicas Construtivas para se combater a ação sísmica

2.17.2.1 Amortecedor de massa sintonizado (AMS)

Um amortecedor de massa sintonizado (AMS) é um dispositivo composto de uma

massa, uma mola e um amortecedor que é ligado à estrutura com o objetivo de reduzir a resposta

dinâmica da mesma. É estabelecido uma determinada frequência de atuação desse amortecedor

Figura 33 – Rigidez inadequada Figura 32 – Solicitações

horizontais

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57

que é sintonizada para uma frequência particular da estrutura, pois, uma vez que a estrutura

sofrer efeitos oscilatórios, o amortecedor irá vibrar fora de fase com o movimento da estrutura.

A energia atuante sobre o sistema principal é transferida para o sistema secundário, reduzindo

assim sua vibração.

A utilização de sistemas “AMS” se dá principalmente em edifícios altos, pontes e

grandes estruturas que estão susceptíveis a grandes vibrações. Esse sistema pode ser

implementado de diversas maneiras, onde as mais comuns são, pêndulos, amortecedores nas

paredes e nos alicerces. O geofísico Avila (2002) disse “dependendo da frequência da estrutura,

a resposta do primeiro modo da estrutura com um AMS sintonizado na frequência deste modo

pode ser reduzida consideravelmente, mas, em geral, as respostas associadas aos modos mais

altos são apenas levemente reduzidas ou, até mesmo, amplificadas.”

Traçando um breve histórico sobre a teoria por traz desse sistema temos que o conceito

de amortecedor de massa sintonizado foi primeiro utilizado por Frahm em 1909 para reduzir o

balanço dos navios devido às ondas, logo depois foi apresentada uma teoria sobre o assunto por

Ormondroyd e Den Hartog em 1928, seguida por uma discussão detalhada da busca de

parâmetros ótimos em um livro lançado por Den Hartog em 1940. A continuação do estudo dos

amortecedores de massa sintonizados foi feita por outros inúmeros estudiosos e importantes

contribuições foram dadas por Randal et al.(1981), Warbuton e Ayorinde(1980),

Warbuton(1981,1982), Tsai e Lin(1993), Villaverde e Koyama(1993), Soong e Dargush(1997)

e Avila (2002).

2.17.2.2 Amortecedor de massa tipo pêndulo

Como foi citado anteriormente uma das geometrias alternativas do AMS é o formato de

um pêndulo. O pêndulo é preso à estrutura e o movimento da mesma excita o dispositivo,

transferindo-se parte da energia de um sistema para o outro, reduzindo a demanda de dissipação

de energia nos elementos estruturais. Basicamente o pendulo vibra em sentido inverso ao da

solicitação minimizando seu efeito. Este tipo de amortecedor tem seu período de vibração

dependente do comprimento do seu cabo, e só pode ser considerado como um oscilador linear

quando as amplitudes de vibração são pequenas.

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O sistema AMS tipo pendulo é o mais recomendado para se combater aos efeitos

gerados pelas ondas sísmicas secundarias, diminuindo assim as oscilações horizontais.

2.17.2.3 Estruturas que utilizam AMS

O John Hancock Tower (Figura 34) em Boston, EUA, foi um dos primeiros edifícios a

receber o dispositivo AMS. Foram adicionados dois amortecedores com peso de 2.700KN no

sexagésimo pavimento com a função de diminuir a resposta do edifício devido rajadas de vento

e ações sísmicas (AVILA, 2002).

Outro exemplo de grande destaque que adotou essa técnica construtiva foi o SWFC

(Shanghai World Financial Center), com 101 pavimentos e quase meio quilômetro de altura

localizado em Xangai, sul da China também possui instalado no topo da construção, um sistema

de amortecedores de massa, responsável pela redução das oscilações causadas pela ação do

vento ou sismo, que garante o conforto dos frequentadores do arranha-céu. Na Figura 35 a

seguir, consta o edifício Shanghai World Financial Center.

Fonte: http:// http://www.rivere.it/ Fonte: http://rew-online.com/

Figura 34 – Edifício o John

Hancock Tower

Figura 35 - Shanghai World

Financial Center

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59

No SWFC diferentemente do John Hancock Tower constam dois amortecedores que

trabalham em conjunto para limitar o movimento oscilatório da torre. Os contrapesos se

movimentam em oposição aos deslocamentos gerados pelos ventos fortes, detectados

eletronicamente. Com 9 m de largura por 9 m de comprimento e 4 m de altura, cada amortecedor

pesa 150 toneladas, (OLIVEIRA, 2012).

Um outro exemplo de estrutura equipada com Amortecedor de Massa Sintonizado

Pendular (AMSP) é o Edifício Taipei 101, que possui 101 andares acima do solo e 5

subterrâneos conforme a Figura. 36. Taipei 101 é projetado para resistir a tufões e tremores

oriundos de terremotos que ocorrem frequentemente na região. Nesse exemplo o pendulo se

encontra no 89° pavimento, ele tem 5,5 metros de diâmetro e é suspenso por 16 cabos. Tal

estrutura reduz em 40% as movimentações do edifício, resiste a ventos de até 450 km/h e a

terremotos de até 7 graus Richter, (OLIVEIRA, 2012).

.

Figura 36 - Contrapeso no edifício. Taipe 101, na China.

Fonte: http://hypescience.com/

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60

2.17.2.4 Amortecedores nas paredes da edificação

Outra técnica construtiva bastante utilizada em edificações de grande porte são os

amortecedores instalados no interior das paredes (Figura 37). Esses amortecedores absolvem

parte da energia gerada pelos terremotos e consequentemente diminuem as oscilações

ocasionadas pelas ondas sísmicas secundarias. Em alguns casos são utilizados amortecedores

eletrônicos, pois com eles é possível se obter um controle maior das vibrações, onde os mesmos

podem ser programados para reagir de maneira especifica para cada tipo de sismo. Essa é uma

técnica construtiva muito comum no Japão e na China e certamente sua maior desvantagem é

seu alto custo. Por essa razão o seu uso é mais indicado para edificações de grande porte que se

encontram em região de alta instabilidade sísmica.

Figura 37 - Exemplo de amortecedores em paredes

Fonte: http://constru360.com.br/

As técnicas construtivas vistas anteriormente resistem principalmente as solicitações

geradas pelas ondas secundarias. Então com um intuito de também se atenuar os efeitos das

ondas primeira estabeleceu-se outra técnica construtiva chamada de suspenção no alicerce. Essa

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61

técnica promove a edificação uma resistência as solicitações de compressão impedindo assim

um movimento de translação em relação ao seu eixo vertical. Na figura 38 a seguir, é possível

visualizar um alicerce sem amortecedor e outro com amortecedor.

Figura 38 - Comparação de um alicerce sem suspensão com outro com suspensão

Fonte: http://constru360.com.br/

Em edificações de pequeno porte que se encontram em regiões de alta instabilidade

sísmica fica impraticável a utilização de técnicas construtivas como pêndulos e amortecedores.

Nessa situação é recomendado o uso das paredes super-resistentes (Figura 39), que são paredes

de concreto armado. Essa é uma técnica muito utilizada no Chile.

Figura 39 - Exemplo de edificação com paredes super-resistentes

Fonte: http://constru360.com.br

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62

2.18 Principais diretrizes da NBR-15421

2.18.1 Zoneamento sísmico

Um dos primeiros princípios estabelecidos pela norma, conforme a tabela 1 a seguir, é

a divisão do território brasileiro em zonas sísmicas. De maneira geral as normas técnicas sobre

combate da ação sísmica em edificações dividem zonas de maior ou menor importância sísmica

através das zonas sísmicas. A NBR-15421 divide o Brasil em cinco zonas sísmicas a serem

consideradas em projeto. O critério de divisão considera a variação de ag, aceleração sísmica

característica horizontal normalizada para terrenos de classe B. A divisão sísmica brasileira é

apresentada na Figura 40 a seguir, e os valores de 𝑎𝑔 para cada zona são mostrados na Tabela

1.

Tabela 1 – Zonas sísmicas

Zona Sísmica Valores de 𝒂𝒈

Zona 0 𝑎𝑔 = 0,025𝑔

Zona 1 0,025𝑔 ≤ 𝑎𝑔 ≤ 0,05𝑔

Zona 2 0,05𝑔 ≤ 𝑎𝑔 ≤ 0,10𝑔

Zona 3 0,10𝑔 ≤ 𝑎𝑔 ≤ 0,15𝑔

Zona 4 𝑎𝑔 = 0,15 𝑔

Fonte: Adaptado de NBR- 15421

Para estruturas localizadas nas zonas sísmicas 1 a 3, os valores a serem considerados

para 𝑎𝑔 podem ser obtidos por interpolação nas curvas da Figura 40. Um estudo sismológico e

geológico específico para a definição de 𝑎𝑔 poderá ser opcionalmente efetuado para o projeto

de qualquer estrutura.

Na Figura 40, apresenta-se em destaque o estado do Rio Grande do Norte, uma vez que

essa é uma das zonas de maior recorrências de abalos sísmicos no território brasileiro. Então,

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63

segundo a NBR-15421, é indispensável nessa região a consideração do efeito sísmico nos

projetos estruturais.

Figura 40 – Mapa de zonas sísmicas

Fonte: Adaptado de NBR-15421

2.18.2 Classes dos terrenos

Segundo a NBR-15421 o efeito da ação sísmica em uma edificação depende de uma

série de fatores a exemplo das características dos terrenos. As características de rigidez e

amortecimento das camadas superficiais do terreno afetam as ondas sísmicas oriundas no

Localização do estado do Rio Grande do Norte no Mapa

Curvas de aceleração espectral das partículas do solo

Figura 40 – Mapa das zonas sísmicas no Brasil

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interior da Terra. O terreno de fundação deve ser categorizado em uma das classes definidas no

Quadro 3, associadas aos valores numéricos dos parâmetros geotécnicos médios avaliados nos

30m superiores do terreno. Por essa razão a norma brasileira estabelece intervalos, para que se

possa estabelecer as condições do terreno para a realização de um determinado projeto, como

pode se observar no Quadro 3 a seguir.

Quadro 3 – Classe do terreno de acordo com suas propriedades

Classe do

terreno

Designação da

classe do

terreno

Propriedades médias para os 30m superiores do terreno

𝒗𝒔, velocidade média de

propagação de ondas de

cisalhamento

𝑵, número médio de golpes

no ensaio SPT

A Rocha sã 𝑣𝑠 ≥ 1500 m/s (não aplicável)

B Rocha 1500 m/s ≥ 𝑣𝑠 ≥ 760 m/s (não aplicável)

C

Rocha alterada

ou solo muito

rígido

760 m/s ≥ 𝑣𝑠 ≥ 370 m/s

N ≥ 50

D Solo rígido 370 m/s ≥ 𝑣𝑠 ≥ 180 m/s 50 ≥ N ≥ 15

E

Solo mole

𝑣𝑠 ≤ 180 m/s

N ≤ 15

- Qualquer perfil incluindo camada com mais de 3m de argila

mole

F - Solo exigindo avaliações específicas como:

1. Solos vulneráveis à ação sísmica, como liquefaziveis,

argilas muito sensíveis e solos colapsíveis fracamente

cimentados;

2. Turfa ou argilas muito orgânicas;

3. Argilas muito plásticas;

4. Estratos muito espessos (≥ 35m) de argila mole ou

média Fonte: Adaptado de NRB-15421

2.18.3 Definição do espectro de resposta de projeto

O espectro de resposta de projeto, Sa(T), segundo a Norma, para acelerações

horizontais, correspondem à resposta elástica de um sistema de um grau de liberdade com uma

fração de amortecimento crítico de 5%. É definida a partir da aceleração sísmica característica

Fonte: Adaptado de NRB-15421

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horizontal “ag” e da classe do terreno. O espectro é construído a partir das acelerações espectrais

ags0 e ags1, definidas a partir de períodos de 0,0s e 1,0s respectivamente, de acordo com as

Equações 4 e 5.

𝑎𝑔𝑠0=𝐶𝑎×𝑎𝑔 (4)

𝑎𝑔𝑠1=𝐶𝑣 × 𝑎𝑔 (5)

Onde Ca e Cv são os fatores de amplificação sísmica do solo, para períodos de 0,0s e

1,0s respectivamente, conforme Tabela 2, em função da aceleração característica de projeto ag

e da classe do terreno. T é o período natural, em segundos, associado a cada um dos modos de

vibração da estrutura. O espectro de resposta de projeto é considerado aplicado à base da

estrutura.

Tabela 2 - Definição dos fatores Ca e Cv de amplificação sísmica no solo

Classe do terreno

𝑪𝒂

𝒂𝒈 ≤ 0,10𝒈

𝑪𝒂

𝒂𝒈 = 0,15𝒈

𝑪𝒗

𝒂𝒈 ≤ 0,10𝒈

𝑪𝒗

𝒂𝒈 = 0,15𝒈

A 0.8 0,8 0,8 0,8

B 1,0 1,0 1,0 1,0

C 1,2 1,2 1,7 1,7

D 1,6 1,5 2,4 2,2

E 2,5 2,1 3,5 3,4

Fonte: Adaptado de NRB-15421

2.18.4 Definição das categorias de utilização

Para cada estrutura deve ser definida uma categoria de utilização e um fator de

importância de utilização, conforme mostrado resumidamente no Quadro 4.

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Categorias de Utilização Natureza da Ocupação Fator I

I

Todas as estruturas não classificadas como

de categoria II ou III.

1,00

II

Estruturas de importância substancial para a

preservação da vida humana em casos de

ruptura.

1,25

III

Estruturas definidas como essenciais.

1,50

Fonte: Adaptado de NRB-15421

2.18.5 Sistemas básicos sismo-resistentes

A NBR – 15421 estabelece um coeficiente “R” de acordo com os sistemas estruturais

sismo-resistentes listados no Quadro 5. A principal finalidade desse coeficiente é para

determinação das forças de projeto nos elementos estruturais e dos deslocamentos da estrutura.

Segunda a NBR – 15421. Nos sistemas definidos no Quadro 5 a seguir como duais,

compostos por um pórtico momento-resistente e por outro tipo de sistema (paredes de concreto

ou pórticos de aço contraventados em treliça), o pórtico momento-resistente deverá resistir a

pelo menos 25% da força sísmica total. A divisão das forças sísmicas entre os elementos que

compõem os sistemas duais, será de acordo com a sua rigidez relativa.

Quadro 5 – Coeficiente de Modificação -R

Sistema básico sismo-resistente

Coeficiente de

modificação

da resposta R

Paredes de concreto com detalhamento especial. 5

Paredes de concreto com detalhamento usual. 4

Pórticos de concreto com detalhamento especial. 8

Pórticos de concreto com detalhamento intermediário. 5

Pórticos de concreto com detalhamento usual. 3

Pórticos de aço momento-resistente com detalhamento especial 8

Pórticos de aço momento-resistente com detalhamento intermediário. 4,5

Pórticos de aço momento-resistente com detalhamento usual. 3,5

Pórticos de aço contraventados em treliça, com detalhamento especial. 6

Quadro 4 - Definição das categorias de utilização e dos fatores I de importância

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Pórticos de aço contraventados em treliça, com detalhamento usual. 3,25

2.18.6 Irregularidades no plano

Outro critério estabelecido em norma bastante relevante é a irregularidade das

estruturas, uma vez que, estruturas irregulares sofrem uma maior ação do sismo, devendo assim

serem projetadas de uma maneira diferenciada. No Quadro 6 a seguir estão listadas as

irregularidades. Vale salientar que os requisitos associados à irregularidade do Tipo 1 não

precisam ser considerados para prédios de até dois pavimentos.

Quadro 6 - Irregularidades Estruturais no Plano

Tipo de

irregularidade

Descrição da irregularidade

1 Irregularidade torsional, definida quando em uma elevação, o

deslocamento relativo de pavimento em uma extremidade da

estrutura, avaliado incluindo a torção acidental, medido

transversalmente a um eixo, é maior que 1,2 vezes a média dos

deslocamentos relativos de pavimentos nas duas extremidades da

estrutura, ao longo do eixo considerado.

2 Descontinuidades na trajetória de resistência sísmica no plano, como

sistemas resistentes verticais consecutivos com eixo fora do mesmo

plano.

3 Os elementos dos sistemas sismo-resistentes verticais não são

paralelos ou simétricos com relação aos seus eixos ortogonais. Fonte: Adaptado de NRB-15421

2.18.7 Irregularidades na vertical

As estruturas apresentando uma ou mais das irregularidades listadas no Quadro 7 devem

ser projetadas como tendo irregularidade estrutural na vertical.

Fonte: Adaptado de NRB-15421

Continuação do Quadro 5 (coeficiente de modificação –R)

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Tipo de

irregularidade

Descrição da irregularidade

4 Descontinuidades na trajetória de resistência sísmica na vertical, como

sistemas resistentes verticais consecutivos no mesmo plano.

5 Caracterização de um “pavimento extremamente fraco” , como aquele

em que a sua resistência lateral é inferior a 65 % da resistência do

pavimento imediatamente superior. Fonte: Adaptado de NRB-15421

2.18.8 Força horizontal total

Com o objetivo de se estabelecer parametros para implementar o efeito do sismo nos

projetos estruturais a NBR – 15421 em seu item 9.1 determinou a força horizontal total. Que é

a força gerada pelas vibrações sismicas que atua na base da estrutura, em uma dada direção, é

determinada de acordo com a expressão a seguir:

𝑉 = 𝐶𝑆 . 𝑊 (6)

Onde

Cs: coeficiente de resposta sísmica;

W: é o peso total da estrutura;

O coeficiente de resposta sísmica é determinado de acordo com a expressão abaixo:

𝐶𝑆 =2,5 .𝑎𝑔𝑠𝑜

(𝑅 𝐼⁄ ) (7)

Onde

Agso: aceleração espectral para o período de 0,0s;

I: Fator de importancia de utilização definido no quadro 4;

R: Coeficiente de modificação definido no quadro 5;

Quadro 7 – Irregularidades estruturais verticais

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O coeficiente de resposta sísmica máximo é definido de acordo com a expressão abaixo:

𝐶𝑆 =𝑎𝑔𝑠0

𝑇 .(𝑅 𝐼⁄ ) (8)

Onde

T: É o periodo natural da estrutura determinado de acordo com o item a seguir;

Vale salientar que o coeficiente de resposta sísmica mínimo a ser utilizado é Cs = 0,01.

Segundo a NBR – 15421 no item 9.1 tem-se que é permitida a redução das forças

sísmicas, considerando os efeitos da interação solo-estrutura, desde que os procedimentos

utilizados sejam adequadamente justificados na análise.

2.18.9 Determinação do período natural da estrutura

No item 9.2 da NBR – 15421 tem-se a seguinte conceituação “O período natural da

estrutura T deve ser obtido por um processo de extração modal, que leve em conta as

características mecânicas e de massa da estrutura.”. O periodo natural da estrutura não devera

ser maior do que o produto do periodo natural aproximado da estrutura (Ta), vezes o coeficiente

de limitação do período (Cup). Esse coeficiente de limitação é definido de acordo com a Tabela

3 a seguir.

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Tabela 3 – Coeficiente de limitação do período

Zona sísmica Coeficiente de limitação do período

(𝑪𝒖𝒑)

Zona 2 1,7

Zona 3 1,6

Zona 4 1,5

Fonte: Adaptado de NRB-15421

Para a determinação do período natural aproximado utiliza-se a expressão abaixo:

𝑇𝑎 = 𝐶𝑇 . ℎ𝑛𝑥 (9)

Onde

ℎ𝑛𝑥: Altura em metros da estrutura acima da base;

Para essa expressão o coeficiente de período da estrutura (CT) e o valor de (x) são

definidos por:

1. CT = 0,0724 e x = 0,8 para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são 100%

resistidas por pórticos de aço momento-resistentes, não sendo estes ligados a sistemas

mais rígidos que impeçam sua livre deformação quando submetidos à ação sísmica;

2. CT = 0,0466 e x = 0,9 para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são 100%

resistidas por pórticos de concreto, não sendo estes ligados a sistemas mais rígidos que

impeçam sua livre deformação quando submetidos à ação sísmica;

3. CT = 0,0731 e x = 0,75 para estruturas em que as forças sísmicas horizontais são

resistidas em parte por pórticos de aço contraventados com treliças;

4. CT = 0,0488 e x = 0,75 para todas as outras estruturas.

A NBR- 15421 tambem estabelece que como alternativa à determinação analítica de T,

é permitido utilizar diretamente o período natural aproximado da estrutura Ta.

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2.18.10 Distribuição vertical das forças sísmicas

A força horizontal total não atua de maneira constante no decorer de toda estrutura,

uma vez que, pontos mais altos estão suceptiveis a uma maior oscilação. Por essa razão é

necessario que a força horizontal total na base (V) seja distribuída verticalmente entre as várias

elevações da estrutura de forma que, em cada elevação x, seja aplicada uma força Fx definida

de acordo com a expressão a seguir:

𝐹𝑥 = 𝐶𝑣𝑥 . 𝑉 (10)

Onde:

𝐶𝑣𝑥 = 𝑤𝑥 .ℎ𝑥

𝑘

∑ 𝑊𝑖 . ℎ𝑖𝑘𝑛

𝑖=1

(11)

Cvx: Coeficiente de distribuição vertical;

Wx ou Wi: Parte do peso efetivo total que corresponde às elevações i ou x;

hi ou hx: altura entre a base e as elevações i ou x;

k: expoente de distribuição, relacionado ao período natural da estrutura T.

a. para estruturas com período inferior a 0,5s, k = 1;

b. para estruturas com períodos entre 0,5s e 2,5s, k = (T + 1,5)/2;

c. para estruturas com período superior a 2,5s, k = 2.

2.18.11 Modelo de distribuição das forças sísmicas horizontais

Quando as estruturas são submetidas a solicitações de torção a NBR – 15421 diz que as

forças sísmicas horizontais Fx, correspondentes a cada elevação x, devem ser aplicadas a um

modelo de distribuição destas forças entre os diversos elementos verticais sismoresistentes, que

considere a rigidez relativa dos diversos elementos verticais e dos diafragmas horizontais. Este

modelo poderá ser também utilizado para avaliar os efeitos de torção na estrutura.

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2.19 Principais diretrizes do EUROCÓDIGO-8 (2010)

A norma europeia (EUROCÓDIGO-8) estabelece um detalhamento mais aprofundado

do que a NBR – 15421, apresentando tecnicas mais refinadas de dimensionamento e uma téoria

mais abrangente. Nesse topico será explicitada a parte conceitual da norma europeia referente

as principais diretrizes de projeto de uma edificação suceptivel a abalos sísmicos.

2.19.1 Simplicidade estrutural

O conceito de simplicidade estrutural é caracterizado pela existência de trajetorias

claras e diretas de transmissão das forças sísmicas. Esse conceito parte do principio de que um

projeto arquitetonico simples sem muitas curvas e uniforme proporciona um projeto estrutural

cuja as trajetorias de tensões nas estruturas se da de uma forma mais simplificada. Vale salientar

a importancia de se cumprir esse conceito dado que a modelação, a análise, e o

dimensionamento construtivo estão sujeitos a uma incerteza muito menor e portanto a previsão

do seu comportamento sísmico é a mais correta.

2.19.2 Uniformidade e simetria estrutural

Segundo o EUROCÓDIGO 8 a uniformidade é caracterizada por uma distribuição

regular dos elementos estruturais a qual permite transmissões curtas e diretas das forças de

inércia relacionadas com as massas distribuídas no edifício. Se necessário, a uniformidade

poderá ser realizada subdividindo todo o edifício em unidades dinamicamente independentes

através de juntas sísmicas, desde que essas juntas sejam projetadas para evitar o choque entre

unidades.

Outro criterio que tambem deve ser levado em consideração é a uniformidade da

estrutura ao longo da altura do edifício pois, uma vez que tende a eliminar a ocorrência de zonas

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73

sensíveis a vibrações onde concentrações de tensões ou grandes exigências de ductilidade

podem provocar um colapso prematuro.

Quando o edifico utiliza elementos estruturais regularmente distribuídos e simetricos

permite-se uma redistribuição mais favorável dos esforços e uma dissipação de energia

distribuída em todo o conjunto da estrutura. Fato esse que atenua os efeitos sísmicos, uma vez

que, em estruturais mais esbetas os esforços decorentes da ação sísmica podem se concentrar

em determinadas regiões, sobrecarregando a estrutura.

2.19.3 Resistência e rigidez nas duas direções

O movimento sísmico horizontal é um fenómeno bidirecional, do qual a estrutura do

edifício deve ser capaz de resistir a essas ações em qualquer direção.

O EUROCÓDIGO-8 afirma que os elementos estruturais deverão ser dispostos em

planta numa malha estrutural ortogonal, garantindo características de resistência e rigidez

semelhantes nas duas direções principais. A escolha das características de rigidez da estrutura

deverá, além de procurar minimizar os esforços sísmicos (tendo em conta as suas características

específicas relacionadas com o local), limitar também os deslocamentos excessivos que possam

provocar instabilidades devidas aos efeitos de segunda ordem ou danos excessivos.

2.19.4 Resistência e rigidez à torção

Além da resistência e da rigidez em relação a ações laterais, as estruturas dos edifícios

deverão possuir uma resistência e uma rigidez à torção adequadas para limitar os movimentos

devidos à torção que tendem a solicitar de forma não uniforme os diferentes elementos

estruturais. Para este efeito, são claramente vantajosas as disposições em que os principais

elementos de contraventamento são distribuídos perto da periferia do edifício.

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74

2.19.5 Ação do diafragma no nível dos pisos

Nos edifícios, os pavimentos (incluindo a cobertura) têm um papel muito importante no

comportamento sísmico global da estrutura. Esses elementos atuam como diafragmas

horizontais que recebem e transmitem as forças de inércia aos sistemas estruturais verticais e

garantem a solidariedade desses sistemas na resistência à ação sísmica horizontal. A ação de

diafragma dos pavimentos é particularmente importante no caso de disposições complexas e

não uniformes dos elementos estruturais verticais ou quando se utilizam em conjunto sistemas

com diferentes características de deformabilidade horizontal (por exemplo, sistemas mistos ou

compostos).

Os pavimentos e a cobertura deverão ser dotados de valores de rigidez e resistência

adequados no plano, proporcionando assim ligações eficazes aos sistemas estruturais verticais.

É necessário um especial cuidado nos casos de configurações em planta não compactas ou

muito alongadas e de existência de grandes aberturas nos pavimentos, especialmente se essas

aberturas estiverem próximo dos elementos estruturais verticais principais, impedindo assim

uma ligação eficaz entre as estruturas vertical e horizontal.

Os diafragmas deverão possuir uma rigidez no plano suficiente para a distribuição das

forças de inércia horizontais aos sistemas estruturais verticais ,especialmente no caso de

variações significativas de rigidez ou de desalinhamentos dos elementos verticais acima e

abaixo do diafragma.

2.19.6 Fundação adequada

Segundo o EUROCÓDIGO o projeto estrutural deve assegurar de que a ação sísmica é

um parametro importante que deve ser levado em conta no dimensionamento e na construção

das fundações, uma vez que, a ligação do elemento de fundação a superstrutura deve

proporcionar uma excitação sísmica uniforme de todo o edifício.

Para as estruturas constituídas por um número reduzido de paredes estruturais, que

diferem em espessura e rigidez, deverá escolher-se em geral uma fundação rígida.

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75

Para edifícios com elementos de fundação isolados (sapatas ou estacas), recomenda-se

a utilização de Radier ou de vigas de fundação que liguem esses elementos nas duas direções

principais.

2.19.7 Elementos sísmicos primários e secundário

Na norma EUROCÓDIGO-8 afirma-se que é escolher um certo número de elementos

estruturais (por exemplo, vigas e/ou pilares) como elementos sísmicos “secundários”, isto é,

que não fazem parte do sistema do edifício resistente às ações sísmicas. A resistência e a rigidez

desses elementos às ações sísmicas deve ser desprezada. Esses elementos e as suas ligações

devem ser dimensionados de modo a manter a função de suporte ao peso proprio e quando

sujeitos aos deslocamentos devidos à situação de projecto sísmica mais desfavorável. No

cálculo desses elementos deve-se levar em consideração os efeitos de segunda ordem.

Todos os elementos estruturais não escolhidos como elementos sísmicos secundários

são considerados como elementos sísmicos primários. Considera-se que fazem parte do sistema

resistente às forças laterais.

A contribuição para a rigidez lateral de todos os elementos sísmicos secundários não

deverá ser superior a 15 % de todos os elementos sísmicos primários.

2.20 Análise dos eventos sísmicos mais significativos que ocorreram no município de João

Câmara de 1986 a 2015

Como já estabelecido anteriormente, é notorio que na maioria dos casos grandes

terremotos ocorrem nas bordas das placas tectônicas, mas também no interior dos continentes,

em regiões onde existem sistemas de falhas. As falhas geológicas intraplaca apresentam uma

certa indefinição quanto a sua causa e efeito, uma vez que, essas zonas têm comumente centenas

ou até milhares de quilômetros de largura contendo diversas falhas separadas.

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Dantas (2013), estabelece que em uma análise direcionanda para o Nordeste do Brasil,

percebe-se que os Estados do Ceará e do Rio Grande do Norte estão situados em uma região

cortada por um conjunto de falhas ativas, apresentando uma sismicidade contínua e expressiva

em relação ao resto do país, merecendo, portanto, a atenção dos órgãos de pesquisa e vigilância

na sua investigação e acompanhamento.

A falha geologica de Samambaia é uma das maiores no territorio brasileiro, e no ano de

1986 ela foi responsavel por um sismo de 5.1 graus na escala Richter que foi considerado o

maior já registrado no estado do Rio Grande do Norte. As principais falhas existentes no Rio

Grade do Norte, podem ser observadas na Figura 41 a seguir.

Figura 41 – Principais falhas existentes no Rio Grande do Norte

Fonte: Dantas 2013

É importante resaltar que a sismicidade do território brasileiro começou efetivamente a

ser observada nas últimas décadas com a instalação de sismógrafos em algumas regiões do

Brasil. Por essa razão, os dados existentes anteriores a implementação dos sísmografos foram

obtidos por meio de interpolação. Vale salientar que em razão da baixa profundidade da falha

de Samambaia, existe um potencial de ocorrência de sismos de maior magnitude.

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A Tabela 4 a seguir, explicita os sismos de maior intensidade nos anos de 1986 até 2015

no municipio de João Câmara. Os principais sismos têm valores acima de 2,5 de magnitude.

Sísmo de maior

magnitude no ano

Ano Número de sísmos

3,8 2015 4

Inferior a 2,5 2014 0

Inferior a 2,5 2013 0

2,8 2012 1

2,8 2011 1

Inferior a 2,5 2010 0

Inferior a 2,5 2009 0

Inferior a 2,5 2008 0

Inferior a 2,5 2007 0

Inferior a 2,5 2006 0

Inferior a 2,5 2005 0

Inferior a 2,5 2004 0

3,4 2003 1

Inferior a 2,5 2002 0

Inferior a 2,5 2001 0

Inferior a 2,5 2000 0

Inferior a 2,5 1999 0

Inferior a 2,5 1998 0

Inferior a 2,5 1997 0

Inferior a 2,5 1996 0

2,9 1995 1

3,5 1994 1

3,0 1993 1

3,2 1992 2

3,5 1991 1

3,7 1990 5

5,0 1989 7

3,9 1988 8

3,8 1987 15

5,1 1986 58

Tabela 4 – Sismos de maior intensidade nos anos de 1986 até 2015 no municipio de

João Câmara (RN)

Fonte: Adaptado de Centro de sismologia da USP (2016)

Fonte: Autor

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O municipio de João Camara foi utilizado como referência para medição dos abalos

sismicos em razão de sua localização se encontrar proxima a falha geologica de Samambaia,

que é a maior falha geologica da America Latina. Mesmo que as solicitações verificadas na

região sejam de pequena intensidade, causam diversas patologias, como apresentadas na Figura

42.

Fonte: Tribuna do Norte

A falha geologica de Samambaia é resultado de uma intabilidade sísmica intraplaca. Por

essa razão, a sismicidade no Rio Grande do Norte apresenta algumas características principais

de regiões intraplaca são elas: Baixa sismicidade; magnitudes baixas; sismos de baixa

profundidade; atividade em áreas onde a crosta foi tracionada e estendida por processos

geológicos, relativamente recentes (TALWANI, 2014).

Dando continuidado ao processo de mapeamento dos abalos sismico, tem-se que com

as informações apresentadas na Tabela 4, foram selecionados os dez maiores abalos sísmicos

ocorridos em João Câmara, de 1986 a 2015 que estão plotados no gráfico da Figura 43 a seguir.

Figura 42 - Consequências das solicitações

sísmicas em Poço Branco (RN)

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Fonte: Autor

Figura 43 – Gráfico de magnitude por ano, plotado a partir dos dez maiores abalos

sísmicos ocorridos em João Câmara, de 1986 a 2015

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3.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho em questão explicitou a importância de se adotar em projetos estruturais o

efeito sísmico, quando esses se encontram em regiões de instabilidade geológica. O nível de

sismicidade brasileira precisa ser considerado em projetos de engenharia, sendo essenciais em

determinados tipos de construções, como: centrais nucleares, grandes barragens e outras

construções de grande porte, principalmente, nas construções situadas nas áreas de maior risco,

como o Nordeste, Norte e Noroeste do Brasil.

No decorrer do corpo textual, foram desenvolvidos os conceitos preponderantes sobre o

fenômeno sísmico, com argumentações acerca dos fatores relevantes a origem dos sismos e

suas principais formas de propagação onde foi possível constatar que a magnitude de um

terremoto é relativizada de acordo com as características locais, ou seja, o mesmo sismo pode

apresentar um potencial destrutivo diferente em outras regiões. Ainda relativo aos conceitos

expostos é valido explicitar que com o desenvolvimento tecnológico tornou-se possível

estabelecer com precisão as características de um abalo sísmico, a exemplo da localização do

epicentro e a sua distância para com o hipocentro. Esse fato proporciona a realização de projetos

sismo-resistentes com maior eficiência e consequentemente menor custo.

Posteriormente a conceituação inicial foram apresentadas algumas consequências de um

abalo sísmico, a exemplo da formação de tsunamis que são os eventos de maior

responsabilidade por ocasionar vítimas fatais. Foi constatado que o principal causador desse

fenômeno são os movimentos verticais entre placas gerando uma solicitação de cisalhamento

entre elas. Essa solicitação provoca uma energia potencial que impulsiona a massa de água

dando a ela posteriormente energia cinética. O fenômeno em questão assim como outros

eventos de ação destrutiva, também podem ocorrer em regiões intraplaca que apresentem

alguma falha geológica. Com o intuito de determinar a probabilidade que um evento sísmico

tem de acontecer em determinado local, foi estabelecido os conceito de risco e perigo sísmico

demonstrando que as consequências advindas dos efeitos vibratórios são mais catastróficas em

regiões mais industrializadas. Foi destacado nesse trabalho o risco sísmico em regiões com a

presença de usinas nucleares, em virtude, do risco a sociedade proporcionado por ela.

Na etapa seguinte, foi analisado o comportamento físico de uma edificação a ação

sísmica, onde foi verificado que os esforços advindo das ondas sísmicas incidem na edificação

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pelo seu elemento de fundação, percorrendo posteriormente toda a estrutura. As solicitações

geradas dependem do tipo de onda sísmica incidente, uma vez que, as ondas secundarias geram

uma ação horizontal na estrutura, já as ondas primarias provocam uma ação vertical. Em relação

as solicitações horizontais foi explicitado que a sua intensidade é mais elevada nos pontos mais

altos da edificação e por essa razão foi estabelecida a força “Fx” com o intuito de simular esse

efeito nos projetos estruturais. Em seguida foi realizado um breve levantamento das principais

técnicas para combater a ação sísmica em estruturas. Após o levantamento das principais

técnicas conclui-se que as técnicas a serem adotadas dependem do tipo de edificação. Em

edificações acima de 25 pavimentos é possível se promover a utilização de amortecedores de

massa tipo pêndulo ou amortecedores que combatem as ações verticais nas fundações, ou até

amortecedores que combatem a ação horizontal em paredes. Para edificações abaixo de 20

pavimentos pode ser mais viável economicamente apenas aumentar rigidez desta, fazendo-se

uso de paredes super-resistentes. Vale salientar que essas técnicas apenas são viáveis em

edificações que se localizam em zonas de alta instabilidade sísmica.

Através da norma sísmica brasileira, NBR-15421;2006, foram observados

detalhamentos dos parâmetros e equacionamentos, onde foi verificado que ela apresenta o

cálculo para se determinar a ação sísmica horizontal total na estrutura, entretanto, a mesma não

apresenta praticamente nenhum tipo de detalhamento construtivo das estruturas sismo-

resistentes, deixando assim muito a desejar na parte de disposições construtivas. Foram

expostos nessa monografia alguns conceitos presentes na norma europeia EUROCÓDIGO – 8,

que não são verificados na NBR – 15421, mostrando assim, que a norma europeia apresenta

uma maior abrangência sobre o tema.

Com o intuito de analisar a ocorrência dos sismos em João Câmara, foi realizado, com

base nos dados do centro de sismologia da USP, um mapeamento dos seus abalos sísmicos nos

últimos 30 anos, onde fica evidente que essa localidade apresenta um potencial maior do que já

foi registrado, uma vez que, a falha de Samambaia apresenta uma baixa profundidade.

Por fim é perceptível que não se pode ignorar o efeito sísmico em projetos estruturais

em regiões geologicamente instáveis, para que se possa ser mantida a segurança nessas regiões,

prezando sempre pela integridade física dos seus habitantes.

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