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    TIMIDEZ UM MAL QUE ATUA EM SILNCIO1

    SHYNESS A HARM WHICH ACTS IN SILENCE

    Cludio Maciel dos Santos2

    Adlia Juracy Zuse3

    RESUMO

    No trabalho teve-se como objetivo principal verificar como os pro-fessores do Ensino Fundamental de Santa Maria-RS tratam do assunto timi-dez. Tambm foram analisados alguns conceitos e malefcios causados pelatimidez, alm de se observar o que feito e o que se pode fazer para libertaros alunos que sofrem com esta doena. A metodologia baseou-se numapesquisa bibliogrfica e na anlise de contedo das respostas a um questio-nrio com perguntas fechadas aplicado aos professores. Pode-se concluir,pelos estudos realizados, que a timidez uma doena social que causa infi-nitos prejuzos pessoais, atinge uma parcela considervel da populao mun-dial, e passa despercebida ao longo dos anos, at que o tmido tome umadeciso e busque, com perseverana, a soluo para seus problemas. Seno for trabalhada, a timidez pode levar o enfermo runa, ao esgotamentofsico e psicolgico. Da a necessidade de os professores trabalharem estetema, oferecendo oportunidades para que seus alunos tmidos superem esteentrave e saiam preparados para o convvio numa sociedade moderna ecapitalista.

    Palavras-chave: perseverana, educao, timidez.

    ABSTRACT

    This work has mainly aimed to verify how teachers of the ElementarySchool in Santa Maria, RS, deal with shyness. Some concepts and damagecaused by shyness were also analyzed, besides observing what is done andwhat can be done to make shy students free from this disease. Themethodology was based on bibliographical survey and on the analysis of theanswers given to a closed questionnaire applied to the teachers. From thestudies carried out, it could be concluded that shyness is a social disease,

    1 Trabalho de Iniciao Cientfica.2 Curso de Pedagogia Magistrio - UNIFRA3 Orientadora - UNIFRA.

    Disciplinarum Scientia. Srie: Cincias Sociais e Humanas, Santa Maria, V.2, n.1, p.111-123, 2001

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    which causes infinite personal damage, reaches great part of the worldpopulation and passes unnoticed for long years up to the time the individualmakes a decision and seeks to solve the problem with perseverance. Ifshyness is not worked, it can lead the person to ruin, to physical andpsychological breakdown. Thus, the teachers need to work this theme inorder to provide their students with opportunities to overcome such animpediment and prepare themselves to live in a modern and capitalist society.

    Key words: perseverance, education, shyness.

    INTRODUO

    Preocupaes, baseadas em vivncias pessoais, impulsionaram a re-alizao da pesquisa com o tema timidez, saber suas origens, suas causas eas conseqncias que possam afetar o processo ensino-aprendizagem naconstruo dos conhecimentos.

    Como futuro pedagogo e responsvel pela construo individual dosconhecimentos em contextos e culturas diferentes, cabe trabalhar este temaa fim de encontrar sadas que possam ajudar os professores a evitarem e adescobrirem as causas da timidez entre seus aprendizes.

    Deve levar-se em considerao que, para impor certos limites, a timi-dez um instrumento necessrio na sociedade em que se vive. Se nohouvesse nenhuma inibio ou desconforto, na vida em grupo, aconteceri-am diversas peripcias como, por exemplo: chegar na casa de um colega ouum amigo s duas horas da madrugada para tomar chimarro e olhar umvdeo sem antes avis-lo. Seria isto correto? O que seria da sociedade seno houvesse nenhuma regra? Se as pessoas no tivessem nenhum pingode vergonha? Imaginem! Ento se poderia dizer que a timidez age, tambm,como um instrumento regulador, ela evita situaes indesejadas. Aquelaspessoas que no tm um pouco de timidez so tachadas de inadequadas,pois cometem atos que fogem ao padro de convvio social. Um pouco detimidez comum a todas as pessoas normais, mas deve-se ter muito cuida-do com a timidez em excesso, quando ela impe barreiras e limites queimpeam a conquista de objetivos.

    Sabendo dos prejuzos deixados pela timidez, as barreiras que cria ecomo ela atua de forma semelhante em todos indivduos, cabe fazer o seguintequestionamento. Ser que a escola e o ensino formal ajudam, de alguma forma,seus alunos tmidos a superarem este problema? importante que a escolatrabalhe este problema? Ento, como escolas poderiam ajudar a combater atimidez de seus alunos?

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    REVISO BIBLIOGRFICA

    TIMIDEZ, CAUSAS E SOLUES.

    A maioria das pessoas tmidas no reclama de suas aflies, de suasdificuldades e acaba por se fechar em seu mundo. Pode-se dizer que atimidez um mal que atua em silncio e que pode vir a prejudicar a conquis-ta dos objetivos pessoais e profissionais.

    Na revista Psychology Today, de maio de 1975, foi publicada amatria Uma doena social chamada timidez. Nela, relata-se que estadoena atinge mais de 50% da populao mundial. Ora, se ela atinge maisde 50% da populao, ento por que passa despercebida na maioria dasvezes? Ser porque as pessoas tmidas no reclamam de seus problemas,tm medo de expor suas fraquezas e do julgamento das outras pessoas?Com certeza, por todos esses motivos. Como exemplo, h o caso de umaprofessora que reclama diretora porque Zezinho fica quieto o tempo todo.Isso muito raro, pois o comum a situao contrria.

    A tendncia do mercado de trabalho atual buscar pessoas que te-nham caractersticas de liderana, que sejam dinmicas e que tenham, almdo conhecimento tcnico, facilidade no relacionamento interpessoal e capa-cidade de falar em pblico. Pessoas que sofrem com o mal da timidez,geralmente, no conseguem atender a estes quesitos e, conseqentemente,podero ter menos sucesso no emprego do que seus colegas. Como se v,este mal realmente atrapalha a vida das pessoas e cabe ento que se faamos seguintes questionamentos: Como inicia a timidez? H cura para ela?Existe alguma forma de vencer esta doena?

    Segundo ALBISSETI (1998), as pessoas no nascem tmidas, elas setornam tmidas por um complexo de inferioridade que viveram. Tambmrelata que o complexo um conjunto de respostas de nossa personalidadeque se origina a partir de recordaes conscientes ou inconscientes.

    Experincias traumticas, principalmente na infncia, podem vir aacionar, em qualquer poca, todo o mecanismo de defesa do organismo,ocasionando aqueles sintomas como: rubor, tremedeira, suor, calafrios e outros.Como mais fcil evitar o que causa a perturbao, os tmidos, ao relacio-narem de forma consciente ou inconsciente seu trauma com a situaoenfrentada, fecham-se numa redoma de vidro e fogem de situaes queos deixaro expostos, pois o mais fcil evitar o que pode causar algumconstrangimento.

    Alguns estudiosos defendem que a timidez tem sua origem numa pre-disposio gentica, mas a maioria dos estudiosos, como CRAWFORD &TAYLOR (2000), dizem que a inibio ou a timidez origina-se e comea a

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    ser experimentada, pela criana ou adolescente, no aprendizado e em suasexperincias dirias, conforme o grau de desenvolvimento.

    Para CRAWFORD & TAYLOR (2000), a timidez tem sua origemem variantes como: padres adotados pela famlia, pais tmidos, situaesem que houve humilhaes, traumas, maus tratos de colegas e represses.

    O ditado popular, o fruto no cai longe do p, retrata a formao dapersonalidade da criana. A famlia pea chave no desenvolvimento da crian-a. Os modelos, os costumes caractersticos, adotados nos lares, sero o alicer-ce que os sustentar em suas vidas adultas, portanto se os pais so pessoascrticas os filhos, na maioria das vezes, tambm sero crticos e, se os pais sopessoas submissas, os filhos, tambm, sero. Do mesmo modo acontece com atimidez, as crianas vivero a timidez de seus pais e ela se tornar algo natural,algo comum em suas vidas.

    Na atual sociedade capitalista e cruel, humilhaes so acontecimen-tos comuns. Pessoas, no alto de sua arrogncia, pensando no seu prprioeu, no esto preocupadas com nada que no seja em benefcio prprio. Olema cada um pra si e Deus para todos vivido de forma intensa. Assimcrescem as crianas sendo discriminadas desde a poca da pr-escola, naqual uns dizem para os outros, meu pai isto, meu pai aquilo, meu paitem isto, eu sou mais bonito, minha famlia pode mais que a sua eoutros tantos exemplos que as prprias crianas aprendem em casa e nosmeios de comunicao. Alm disso, h aquelas brincadeirinhas que humi-lham o tipo fsico das pessoas, criam um padro de beleza trazendo profun-dos traumas para outras pessoas.

    Essas discriminaes e humilhaes, vivenciadas no dia-a-dia, podem,para certas pessoas, funcionar como um veneno, trazendo prejuzos inestim-veis para suas vidas, alm de serem um combustvel para o alimento da timidez.

    Tambm, como fruto da ignorncia e do sistema poltico vigente, certasfamlias e instituies cerceiam a liberdade das crianas, ao criarem inmerasregras, obstculos e proibies e, dessa forma, condicionam o seu desenvolvi-mento. Um exemplo disso so as instituies educacionais que, ainda, usam dapunio (estudos obrigatrios nas horas de lazer) para fazerem com que o alunomelhore seu rendimento escolar. Ser que isso necessrio ou ser que pode-riam ser adotados outros meios para fazer este aluno entender e se interessarpelo contedo? Ser que o problema est unicamente no aluno ou est inseridonum conjunto de fatores?

    Da mesma forma, famlias educam seus filhos e acabam limitando os hori-zontes do desenvolvimento. Sabe-se que regras e deveres so necessrios, masexiste um limite para tudo, pois o excesso sempre acaba trazendo prejuzos.

    Uma infncia muito regrada, com muitas represses e proibies podeocasionar a timidez. As regras, as obrigaes e as proibies em excesso,

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    de forma lenta e gradativa, acabaro com a auto-estima e a auto-imagem,deixando as crianas sufocadas e bitoladas em seus mundos, sem muitasperspectivas de mudana e pior, com medo de mudar.

    Mas como vencer estes obstculos, como superar a timidez que limi-ta, que impe regras, enfim que traz tantos prejuzos?

    CRAWFORD & TAYLOR (2000) dizem que se vence a metade dabatalha a partir do momento que se admite que existe um problema, que sereconhece um problema como timidez e se procura control-lo em vez deser controlado por ele.

    Esta colocao se afirma no momento em que os autores colocamque tmidos pensam que todos esto focalizando a ateno neles e, por isso,so muito crticos consigo mesmos, buscam o perfeccionismo e, s vezes,deixam at de viver.

    A partir do momento em que se reconhece que h um problema a servencido, chamado timidez, este problema sai do anonimato, a pessoa comeaa observ-lo com mais cautela e certamente ver os prejuzos causados porele, perceber ento que to normal como todas as pessoas e, como elas,possui virtudes e defeitos. Ento ao saber de suas possibilidades dos seus pon-tos positivos e negativos, ao conhecer o seu eu, poder fazer uso dos seuspontos positivos, para combater o ponto negativo chamado timidez.

    ALBISSETI (1998) afirma que a timidez se manifesta em sintomascomo: medo das pessoas, medo dos convites, medo de falar, medo deenrubescer, enfim, todos medos que tendem a reduzir o contato com aspessoas e que trazem o isolamento. Ele relata, ainda, que a timidez algocomum que todos passam por situaes nas quais so afetados pela timideze um meio de venc-la rindo dos prprios defeitos. Por exemplo: umapessoa que tem medo de corar, se aceitar o corar, falar disso com osoutros e brincar com o fato no o levando a srio, certamente chegar a umponto em que no enrubescer mais. Ao contrrio, se continuar a convivercom essa angstia o problema no se resolver e poder agravar-se.

    ALBISSETI (1998) coloca ainda que, para vencer a timidez, as pes-soas devem ser tolerantes consigo mesmas, convencendo-se que os outrosno esto, constantemente, a observ-las e a julg-las, e que no so ocentro das atenes como pensam ser.

    Sabe-se que o tmido tem muito medo de rejeio. Este medo oca-sionado por um processo de pensamento negativo que faz com que ele voltetodas as atenes para si. isto que ALBISSETI (1998) diz que tem queser trabalhado, a desvinculao do tmido com o medo da rejeio.

    Segundo CRAWFORD & TAYLOR (2000), a timidez no tem suaorigem somente num problema emocional; alguns alimentos, quando absor-

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    vidos pelo corpo, podem afetar a mente. Esta colocao encontraembasamento no fato de que a mente e o corpo esto interligados por inter-mdio do sistema endcrino e alguns alimentos, ao estimularem certos r-gos do corpo, tambm afetam o crebro.

    Com o desenvolvimento tecnolgico e com o aumento da populaohouve a necessidade de se desenvolverem alimentos com maior rapidez.Atualmente, comum o uso de hormnios para desenvolver o crescimentodos animais e agrotxicos para melhorar a produo de hortifrutigranjeiros.A alimentao no mais natural e o homem est pagando o preo com osurgimento de novas doenas. Um exemplo o estresse; duas dcadasatrs no se ouvia falar dessa doena to comum nos dias atuais.

    CRAWFORD & TAYLOR (2000) relatam que alimentos como a-car, caf, ch e comidas que contenham corantes artificiais, alm da colo-cao de mercrio nos dentes, esto relacionados com mudanas de humor,depresso, agitao, raiva, e dos sintomas fsicos de luta e fuga, causadospela timidez.

    Como sintoma do envenenamento por mercrio, tem-se o comporta-mento agressivo e foi comprovado que obturaes feitas com mercrio es-to relacionadas com mudanas e problemas de comportamento. J o a-car, em sua forma comercial, diferentemente do natural, um dos maisimportantes modificadores de humor. Tambm importante ressaltar queas bebidas qumicas tm adicionado em sua composio o acar e que oorganismo humano no possui enzimas necessrias para assimilar estas subs-tncias, revertendo em danos para o organismo humano. O acar comer-cial, tambm, responsvel pelo cansao crnico, depresso, tristeza bemcomo outros malefcios que mudam o comportamento humano.

    CRAWFORD & TAYLOR (2000) relatam, ainda, que a carne tam-bm extremamente prejudicial ao nosso humor e com o acar, colorantese aditivos podem criar srios problemas emocionais.

    Esse fato justifica-se pelo motivo de que o organismo do animal, ao irpara o abate, produz um elevado ndice de adrenalina. Esta produo deadrenalina ocasionada pelo medo e sofrimento por que passaram os ani-mais. Ao se alimentar com esta carne o homem acaba por receber partedessa adrenalina.

    Segundo CRAWFORD & TAYLOR (2000), foram comprovados,cientificamente, que, ao se eliminar a carne da dieta, acalmar-se- o siste-ma das glndulas supra-renais; pois, quando isso ocorre, as pessoas, quesofrem de medos e ataques, melhoram.

    A alimentao para o ser humano funciona da mesma forma que ocombustvel para o motor de um carro, se o combustvel no for original,

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    tiver muitas misturas, o desempenho do motor ser inadequado, ter proble-mas de funcionamento e, conseqentemente, ter sua vida til diminuda. necessrio descobrir o melhor combustvel venda no mercado.

    Para os seres humanos, da mesma forma, necessrio descobrir osalimentos naturais, os alimentos que no passaram por transformaes qu-micas ou pelo crivo da cincia. Ao eliminar os alimentos, que causam preju-zos sade, ter-se- uma vida melhor e as emoes destrutivas sero eli-minadas pelo equilbrio do organismo.

    Como foi observado at o presente momento, so diversos os fato-res que ocasionam e influenciam a timidez e as emoes, mas o que maisimportante ressaltar que a timidez passa despercebida por longos anos atque o tmido comece a se sentir incomodado por seus limites e perceba suadoena. A cura para ela est incutida na vontade e dedicao por parte dodoente, como as crianas que, primeiramente engatinham, depois se levan-tam, caem, do seus primeiros passos, pouco tempo aps esto caminhandoe correndo, assim a luta do tmido, para vencer o condicionamento que lheimpe tantos limites: com esforo pessoal e empenho, certamente, obter-se-vitria sobre este malefcio.

    FOBIA SOCIAL E TIMIDEZ

    Num mundo moderno em que predomina o tipo de vida urbana, indi-vidualista e capitalista, crescem os problemas relacionados ansiedade so-cial, ao estresse e falta de habilidade interpessoal. Basta fazer uma brevereflexo, para se observar que vem aumentando o nmero de pessoas queno tm mais tempo para as outras pessoas, famlias se isolam em seusapartamentos, caem na rotina diria e acabam por se fecharem, bitoladas,em seu mundo, cegas, em busca de um determinado objetivo. Em muitasfamlias, os pais no tm mais tempo para dialogar com seus filhos e estesacabam sendo educados por outras pessoas e, principalmente, pela televi-so. Como se v, cresce a falta de dilogo entre as pessoas e relacionado aeste fato, a cada dia que passa, aumenta a quantidade de livros de auto-ajudae cursos relacionados habilidades interpessoais e sociais. Neste contexto,inclui-se a fobia social que pode ter, na falta de dilogo e falta de interao,motivos para o seu surgimento.

    A fobia caracteriza-se como um medo incontrolvel causa, um medodesproporcional ao motivo de sua origem. Ou seja, a pessoa sabe que o objetoda fobia no justifica tanto medo, mas mesmo assim no consegue evit-lo.

    Define-se fobia como sendo um medo intenso ou duradouro que seorigina diante de diversas situaes sociais em que o indivduo, ao fazeralgo, teme a observao das outras pessoas, tendo medo de se comportar

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    de maneira humilhante ou embaraosa; ela se distingue dos outros distrbi-os e da ansiedade social pelo medo e pelo ato de evitar situaesinterpessoais.

    Diz-se que a fobia social um excesso de ansiedade ou medo, de-monstrado por algumas pessoas, quando observadas por terceiros ao de-sempenharem uma tarefa comum como falar, comer, dirigir e escrever. Mui-tas pessoas tm leves sintomas de fobia social que, na maioria das vezes,parecem ser apenas timidez, mas que atrapalham sua vida em determinadassituaes. Por exemplo, dificuldade de falar em pblico; participar de entre-vistas ou exames orais; chegar numa garota ou garoto, especialmente seestiver emocionalmente envolvido ou interessado; assinar documentos e to-mar um cafezinho sem tremer se algum estiver olhando; alm de diversosoutros exemplos que poderiam ser citados. Este malefcio pode chegar aponto de impedir ou prejudicar, significativamente, a realizao de algumatarefa, atrapalhando de forma continuada a vida das pessoas.

    Outro ponto a ser observado, nos fbicos sociais, a durao daansiedade. Uma pessoa normal, que se ir apresentar perante uma platia,ficar tensa, contudo esta tenso, depois de uns quinze minutos, passa e opalestrante adquire confiana e segurana. Com o fbico social isso noacontece, os sintomas de ansiedade permanecem ou podem at aumentardurante a exposio, com isso o paciente acaba interrompendo sua disserta-o, diz que est se sentindo mal, ou simplesmente abandona o local semdar nenhuma satisfao.

    Segundo ECHEBURA (1997), o incio desta doena ocorre entreos 15 e 20 anos e pode, inicialmente, ser progressiva, caracterizando-se portimidez na infncia e isolamento na adolescncia, ou ainda, se ocorrer demodo repentino, iniciar-se- aps uma experincia traumtica e se estabili-zar na etapa mdia da vida.

    V-se que esta doena, na maioria das vezes, comea de formadiscreta, pois dificilmente, os afetados apontam uma data para o incio deseu problema, a no ser, quando passaram por uma experincia traumtica,mas o que chama ateno que ela ocorre entre os 15 e 20 anos, no incioda idade adulta, quando a personalidade e os traos de comportamento es-to em fase final de consolidao.

    Talvez, por isso muitos fbicos sociais tendem a achar que seu pro-blema algo que faz parte de seu jeito de ser, ou de sua personalidade,porm sabem que tm algo diferente da maioria das pessoas, mas no sa-bem que se trata de um transtorno, muito menos que h tratamento. Somen-te a partir dos grupos sociais com quem convivem que comeam a perce-ber que so tmidos demais, que so considerados os bonzinhos dos

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    grupos, o que nem sempre condiz com o que deseja; a partir da, pode-sedizer que os fbicos comeam a desconfiar que tm algum problema.

    Nem sempre fcil distinguir a fobia social da ansiedade social e datimidez, pois todas estas enfermidades originam-se de um certo temor emenfrentar situaes sociais e tm em comum um medo anormal s crticas,mas elas no so equivalentes, o que diferencia a fobia social o cartercrnico desse quadro clnico e a interferncia grave do comportamento deevitao no rendimento acadmico, profissional e nas relaes sociais habi-tuais.

    Sendo a ansiedade uma sensao desagradvel que costuma levar apessoa a um comportamento direcionado para a resoluo de um problema,ressalta-se aqui que o que diferencia a fobia social da timidez a intensidade daansiedade e do comportamento do enfermo, por exemplo: o fbico social tendea observar as pessoas em volta e percebe que seus sentimentos de vergonha outemor de ser observado esto exagerados. Se for uma fobia leve, ele interpre-tar como timidez, se for fobia grave, que lhe impe muitos limites, comear arefletir sobre o assunto e descobrir com o tempo que necessita de ajuda, poiso que possui mais grave que timidez. Se no buscar ajuda e no refletir sobreo assunto passar a aceitar-se como e acabar gerando sentimentos de infe-rioridade e submisso em relao s outras pessoas, mas o que mais impor-tante ressaltar que o fbico social sabe do seu valor e de sua capacidade, que to bom ou at melhor que seus colegas no desempenho de determinadasfunes, mas que, na hora de manifestar sua idia, falha e isso prejudica suaimagem; com o tempo passa a no se manifestar nem pelo que justo e apenasaceita o que lhe imposto.

    E, segundo ECHEBURA (1997), os diferentes tipos de fobia social,com exceo do medo de falar em pblico, caracterizam-se por timidez nainfncia e certos traos de personalidade, tambm dizem que, diferente-mente de outras fobias, uma caracterstica peculiar desse distrbio afreqncia com que os pacientes recorrem ao consumo do lcool comoestratgia para enfrentar as situaes temidas. Isso ocorre em cerca de 50por cento dos casos.

    Se quase todos os tipos de fobia sociais tm sua origem na infnciacom a timidez, eis a a confirmao da necessidade de se trabalhar a timidezna infncia em todas as oportunidades possveis, tanto no ensino formalcomo no ensino informal.

    Tanto a famlia quanto os professores tm a obrigao de oferecersituaes para que esta criana tmida desenvolva as habilidades sociais,a fim de que se relacione com todas as pessoas que a cercam e que aprendaa expor suas idias, mas atualmente se percebe que as famlias desconhe-

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    cem a importncia do dilogo em suas casas e so poucos os pais que tmtempo para seus filhos, ento a responsabilidade de educar passadaquase que totalmente para a escola.

    MATERIAL E MTODOS

    A pesquisa foi realizada com professores do Ensino Fundamental darede de Ensino Municipal e Estadual, na cidade de Santa Maria, no Estadodo Rio Grande do Sul.

    Elaborou-se um questionrio no qual se buscaram as seguintes infor-maes: se os professores consideram-se tmidos, o que ocasiona a timi-dez? Se ela atua no silncio, qual o motivo de ela atuar no silncio e suarelao com prejuzos aos estudos? Durante a formao dos professoresso abordados assuntos relacionados timidez? A escola e o ensino formalajudam os tmidos a superarem o problema? Qual a necessidade de seincluirem tpicos que tratem desse tema nos currculos de formao deprofessores?

    Os questionrios foram aplicados a 55 (cinqenta e cinco) professo-res de forma indireta. No incio do ms de junho de 2002, foi realizadocontato com 08 (oito) professores de 08 (oito) escolas diferentes quando seexplicou o trabalho desenvolvido e, posteriormente, solicitou-se a aplicaodos questionrios. No final do ms de junho de 2002, foram recolhidos 47(quarenta e sete) questionrios, e os outros 08 (oito) questionrios retornaramdurante o ms de julho do mesmo ano, quando j se havia realizado o fecha-mento da presente pesquisa.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    Em relao pergunta se os professores se consideravam tmidos,53 % dos entrevistados responderam que sim.

    CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 20) afirmam: Por incrvel queparea, cerca de 60% das pessoas so tmidas. A maioria delas ou estsentada em casa, muito amedrontada para sair, ou est tentando se enganarenquanto morre por dentro. Com isso, constata-se que a timidez est maispresente na sociedade do que se imagina.

    Quanto origem da timidez, 72% dos entrevistados responderam queela est diretamente vinculada ao medo de enfrentar determinadas situaes.

    Para CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 11), Os tmidosfreqentemente acreditam que as pessoas com quem interagem esto foca-lizando seus pontos ruins.

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    Isso pode explicar o porqu de a maioria dos entrevistados daremesta resposta, pois o tmido, por temer o julgamento do prximo, acaba ten-do um medo excessivo de determinadas situaes, j, ALBISSETI (1998, p10) confirma esta resposta ao afirmar; Portanto para se defender, cria-seuma couraa, a timidez, que se manifesta, de modo geral, no: medo daspessoas, medo dos convites, medo de falar, medo de enrubescer etc..

    Dos entrevistados, 87% responderam que a timidez atua em silncio,pois o tmido procura no se expor, portanto no visto e como diz o ditadopopular quem no visto no lembrado e ele continua sua vida de formadespercebida.

    Tambm, 49% relataram que a timidez atua no silncio porque ostmidos no so percebidos, no percebem sua doena e procuram se isolar.

    CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 11) afirmam que A timidezatrapalha a vida de muitas pessoas. uma das mais dolorosas condiescom a qual um ser pode viver, e os tmidos muitas vezes no procuram ajudapor causa do medo ou do embarao de expressar o que est errado e falarsobre o problema. Assim, a timidez prende a pessoa na dor e no sofrimentoemocional. Pode se passar uma vida inteira de sub-realizaes, sentindosolido e ataques de pnico e depresso, incapaz de pedir ajuda.

    Entre os professores, 64% responderam que no tiveram em suaformao assuntos relacionados educao de alunos tmidos . Como umproblema que atinge grande parte da populao e que traz tantos prejuzospara o ser humano, esse assunto deveria ser abordado de forma mais inten-sa na formao dos educadores.

    Segundo CRAWFORD & TAYLOR (2000), a inibio ou a timidezorigina-se e comea a ser experimentada pela criana ou adolescente, noaprendizado e em suas experincias dirias, conforme o grau de desenvolvi-mento. Eis a um motivo para os educadores estarem preparados para tra-balhar com alunos tmidos.

    Quanto aos prejuzos no aproveitamento escolar, 94% responderam quea timidez, realmente, pode interferir nos estudos. Isso pode acontecer pela difi-culdade que o tmido tem em interagir com seus colegas e professores.

    CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 11), Voc (tmido) pode acharque chato e desinteressante, que no tem nada a acrescentar em umaconversa ou temer que as pessoas riam de voc. A apreenso, quanto aqualquer situao social ou de trabalho, pode domin-lo e faz-lo relutar emassumir uma posio na qual tenha de falar e interagir com os outros, limi-tando assim seu potencial.

    Em relao ao questionamento se a escola e o ensino formal ajudam,de alguma forma, os alunos tmidos a superarem a timidez, 53% responde-

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    ram que sim. Como se v, 47% responderam negativamente e, ento, per-cebe-se que os entrevistados esto divididos. Esse fato confirma que esseassunto pode ser mais valorizado pela sociedade e pelas escolas.

    Observando o que dizem CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 74),Um dos maiores problemas com a pessoa tmida que sua ateno, comfreqncia, no abarca muita coisa. Ela pode perder o fio da meada do queo outro est dizendo. Uma voz levemente hipntica pode lev-la a umaespcie de transe, ou ela pode estar to ocupada com seu pnico interiorque no consegue se concentrar nas palavras dos outros.

    Eis a uma prova que a timidez pode atrapalhar o desempenho dosalunos e que h a necessidade de desenvolver um trabalho diferenciadocom eles.

    E, ainda, CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 31) O tmido temgrande medo de rejeio. H um processo de pensamento muito negativoque faz o tmido se concentrar nele mesmo em oposio aos outros. Notem autoconfiana. No se arisca e evita sentir-se constrangido o descon-forto d-se fundamentalmente consigo e difcil superar essa situao.

    nesse fato, que a escola, com seus educadores, alunos e comunidadepodem se aprofundar e realizar excelentes trabalhos, resgatar a auto-estimae proporcionar um processo de interao e reincluso dos tmidos na socie-dade, mas, para que isso acontea, tem que se auxiliar os professores, dan-do subsdios, para que possam combater essa doena. Isso se confirma,quando a esmagadora maioria dos entrevistados (98%) relatam que h ne-cessidade da incluso de temas que expliquem o que a timidez, seus malese solues na formao do educador.

    CONSIDERAES FINAIS

    De certa forma, os educadores e o ensino formal ajudam seus alunostmidos a superarem esse problema, mas o mais importante a ser colocado que tanto os professores como as instituies educacionais tm inmeraspossibilidades para auxiliaram na superao dessa doena. A escola oinstrumento ideal para se trabalhar a autoconfiana, basta a realizao deum trabalho direcionado para esse fim, os educadores e instituies tmcapacidade de sobra para exerc-la; basta a conscientizao do que timi-dez, dos males que causam e do dever do educador com seus alunos e suasociedade. J diziam CRAWFORD & TAYLOR (2000, p 18), Pessoasconfiantes, com alto nvel de auto-estima, so capazes de perseguir seussonhos e objetivos.

    Mas, o mais importante a ressaltar que a timidez, realmente, ummal que atua em silncio, pesquisadores confirmam que ela atinge grande

    Disciplinarum Scientia. Srie: Cincias Sociais e Humanas, Santa Maria, V.2, n.1, p.111-123, 2001

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    parte da populao mundial e, at no questionrio realizado no decorrer dopresente trabalho, este dado se comprovou com mais da metade dos entre-vistados dizendo que so tmidos.

    Com certeza por isso, pelo motivo de ela atuar em silncio, que, atos dias atuais, no se teve a devida preocupao com o combate da timidez.A sociedade carece de um trabalho de conscientizao e reconhecimentodos males causados por ela, pois, num mundo moderno, no qual to valo-rizada a capacidade de expressar-se e em que o emprego motivo de umadisputa constante, os que sofrem com essa doena sempre estaro em des-vantagem.

    As instituies educacionais no podem desperdiar as oportunida-des que tm para combater esse mal, devem ser conhecedoras de seu papelna sociedade, que formar cidados conscientes e capazes de exerceremseus direitos e deveres numa sociedade democratizada.

    Portanto, sendo o educador, tambm, responsvel pela formao dacriana, um dever de justia incluir com mais ateno, tpicos que tratemdesse assunto em sua formao. Dessa forma, ter-se- um educador cons-ciente dos males causados pela timidez e, sabendo da importncia que pos-sui para a formao de seus alunos, certamente estar melhor preparadopara exercer o seu papel.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALBISSETTI, Valrio. 1998. Pode-se vencer a timidez? So Paulo:Paulinas.

    CRAWFORD, Lynne. TAYLOR, Linda. 2000. Timidez, esclarecendosuas dvidas. So Paulo: Agora.

    ECHEBURA, Enrique. 1997. Vencendo a timidez. Traduo ReginaOliveira Rufino. So Paulo: Mandarim.

    Disciplinarum Scientia. Srie: Cincias Sociais e Humanas, Santa Maria, V.2, n.1, p.111-123, 2001