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    APSICOLOGIA POLTICA NO BRASIL

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    A Psicologia Poltica no Brasil:lembranas e percursos sobre a constituio

    de um campo interdisciplinar

    The Political Psychology in Brazil:memories and pathways on the formation

    of an interdisciplinary field

    La Psicologa Poltica en Brasil:

    recuerdos y percursos sobre la constitucinde un campo interdisciplinar

    Alessandro Soares da [email protected]

    ResumoA Psicologia Poltica um campo de conhecimento de natureza

    interdisciplinar e que possui seu desenvolvimento histrico

    pouco investigado. Essa realidade faz com que muitos dos

    sentidos possveis para ela sejam ainda um desafio investigativoe, do ponto de vista da filosofia e da histria do conhecimento,

    urgem pesquisas que ajudem a pensar as relaes entre passado,

    presente e futuro da mesma. Portanto, neste artigo nossa

    inteno contribuir, sem esgotar, para o aclaramento dessa

    situao. Particularmente no Brasil, podemos dizer que so

    muitas as questes a serem investigadas. Assim, por esse motivo

    procuramos incursionar no universo das obras de Victor de

    Britto e de Oliveira Vianna, autores do princpio do sculo XX e

    no desenvolvimento institucional do campo a partir dos anos de

    1980. Nesse sentido, o presente texto serve como um mapa geral

    dos caminhos da Psicologia Poltica brasileira e das diversaspossibilidades de pesquisa que ainda precisam ser enfrentadas

    pela comunidade acadmica.

    Palavras-chavePsicologia Poltica, Histria da Psicologia Poltica, Victor de

    Britto, Oliveira Vianna, ABPP.

    Filsofo graduado pelaPontifcia Universidade Catlicade Minas Gerais, mestre e doutorem Psicologia Social pelaPontifcia Universidade Catlicade So Paulo e livre docente emSociedade, Multiculturalismo edireitos pela Universidade de SoPaulo. Atualmente docente doBacharelado em Gesto dePolticas Pblicas e do Programade Ps-Graduao em MudanaSocial e Participao Poltica daEscola de Artes, Cincias eHumanidades da Universidade deSo Paulo, So Paulo, SP, Brasil.

    Silva, Alessandro Soares da.(2012). A Psicologia Polticano Brasil: lembranas epercursos sobre a constituiode um campo interdisciplinar.Psicologia Poltica, 12(25),409-425.

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    AbstractThe Political Psychology is a field of knowledge of an interdisciplinary nature and its

    historical development that has little investigated. This reality makes many possible directions

    for it are still challenging investigative and from the point of view of philosophy and the

    history of knowledge, research that help urge to think the relationship between past, present

    and future of the same. So in this article we intend to contribute, without exhausting, for

    clearing this situation. Particularly in Brazil, we can say that there are many issues to be

    investigated. So for this reason we seek to penetrate the universe of works of Victor Britto and

    Oliveira Vianna, authors of the early twentieth century and the institutional development of

    the field from the 1980s. Accordingly, this text serves as an overview map of the paths of the

    Brazilian Political Psychology and the various research possibilities that have yet to be

    addressed by the academic community.

    KeywordsPolitical Psychology, History of Political Psychology, Victor de Britto, Oliveira Vianna,

    ABPP.

    ResumenLa Psicologa Poltica es un campo de conocimiento de naturaleza interdisciplinar y que

    pose su desarrollo histrico poco investigado. Esa realidad hace con que muchos de los

    sentidos posibles para ella an sean un desafo investigativo. As, del punto de vista de la

    filosofa y de la historia del conocimiento, urgen trabajos que ayuden a pensar las relaciones

    entre pasado, presente y futuro de la misma. Por lo tanto, en este articulo nuestra intencin

    es contribuir, sin agotar, para el aclaramiento de esa situacin. Particularmente en Brasil,

    podemos decir que son muchas las cuestiones a seren investigadas y, por ese motivo

    procuramos incursionar en el universo de las obras de Victor de Britto y de Oliveira Vianna,

    autores del princpio del siglo XX y em el desarrollo institucional del campo a partir de losaos de 1980. Em ese sentido, lo presente texto sirve como un mapa general de los caminos

    de la Psicologa Poltica brasilea y de las diversas posibilidades de trabajo investigativo

    que an se necessita hacer.

    Palabras clavePsicologa Poltica, Historia de la Psicologa Poltica, Victor de Britto, Oliveira Vianna,

    ABPP.

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    Introduo

    Pensar quais seriam os marcos histricos da Psicologia Poltica no Brasil por si sdesafiador. Na realidade, muitas so as informaes que se poderiam compilar aqui se

    desenhssemos este artigo desde a anlise das produes bibliogrficas. Contudo, esta noser nossa abordagem, inclusive porque a produo bastante vasta quando comparada aotamanho da comunidade cientfica e profissional que se reconhece enquanto psiclogas e

    psiclogos polticas/os.Aqui nesse trabalho faremos uma anlise breve, porm atenta, do processo de

    institucionalizao da Psicologia Poltica enquanto um campo interdisciplinar deconhecimento, uma caracterstica importante do desenvolvimento local deste campo desaberes. Alm de mostrarmos alguns autores e grupos que foram importantes nesse processo,tentaremos realizar aqui um mapeamento inicial da rede de pesquisadores e instituies queacolhem de alguma forma a nascente Psicologia Poltica brasileira.

    O Pioneiro Victor de Britto

    Ainda pouco estudado e conhecido dos(as) atuais pesquisadores(as) do campopsicopoltico, Victor de Britto o autor que por primeira vez utiliza o termo PsychologiaPoltca em sua obra Gaspar Martins eJlio de Castilhos: estudo crtico de Psychologiapoltica,publicada em 1908. Britto nasceu em Valena (BA Brasil) a 15 de outubro de 1856e faleceu em Porto Alegre a 24 de outubro de 1924 com a idade de 68 anos. Muitas pessoasdesinformadas o confundem com o psiquiatra Victor de Britto Velho, personagem importantena constituio da Psicologia gacha.

    Nosso pioneiro formou-se 1878 em Medicina na Bahia, exercendo essa profisso em

    Valena at idos de 1891, quando deixa a Bahia rumo ao Rio Grande do Sul. Inicialmente eleinstala-se em Pelotas, onde vive at 1902, ocasio na qual se muda para a capital Gacha,Porto Alegre. Victor de Britto deu importantes contribuies no campo da institucionalizaodo saber mdico e no exerccio da poltica. No primeiro campo, ele atuou na fundao daSociedade de Medicina de Porto Alegre e da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, tendonesta ltima exercido a funo de docente e de vice-diretor; foi diretor da Casa de SadePorto-Alegrense e membro da membro da Academia Nacional de Medicina. No segundocampo, a arena poltica, exerceu mandato de deputado federal pelo Rio Grande do Sul, entre1912 e 1914.

    Alm da obra que destacamos para o campo psicopoltico, Victor de Britto publicou obrascomo Osufrgio universal e ADemocracia representativa (1903), Paradoxos do gnio

    (1906),AReformado Ensino eAPersonalidade Olavo Bilac (1916).Gaspar Martins eJliode Castilhos: estudo crtico de Psychologiapoltica uma obra publicada treze anos aps ofim da Revoluo Federalista (1893-1895), na qual o autor estuda a personalidade carismticadas duas lideranas que comandaram os bandos que se enfrentaram nesta guerra civil. Nas 74

    pginas de seu estudo crtico de psychologia poltica o autor analisa um dos confrontospolticos, ideolgicos e militares constituintes da formao histrica sul-rio-grandense. Oconflito estudado por Britto o cmulo da transio Monarquia-Repblica e repercutiudurante o perodo da Repblica Velha, pois em seu tempo havia tomado dimenses nacionaise colocou em risco a repblica nascente sob a presidncia de Floriano Peixoto.

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    Gaspar Silveira Martins e Jlio de Castilhos, as personagens da obra, presidiram,respectivamente, o Partido Federalista do Rio Grande do Sul e o Partido Republicano Rio-grandense e representaram dois ideais que se antagonizavam no campo poltico da repblicanascente: a. a maior autonomia dos estados, um regime descentralizado e a defesa de umsistema parlamentarista nos moldes do II Reinado e b. a constituio de uma RepblicaPresidencialista, forte e centralizadora nos moldes propostos por Floriano Peixoto durante seugoverno. Quando da ecloso do que se chamou, inadequadamente do ponto de vistaconceitual, de Revoluo Federalista, Castilhos havia sido eleito pelo voto direto presidentedo Estado do Rio Grande do Sul. Aps o fim da revoluo, muito se escreveu sobre eladurante as primeiras dcadas subsequentes ao conflito e a partir do olhar de cada um dos ladosenvolvidos, refletindo polarizao poltico-partidria que marcou o Estado em sua histria.

    A obra de Victor de Britto no foge a essa lgica do momento. A leitura que o autor faz daRevoluo Federalista baseia-se em um olhar personalizado do conflito na figura dos lderesrevolucionrios, Martins e Castilhos. Nesse sentido, perto de concluir o livro, ele escreve queA guerra civil de 1893 teve sua causa primeira o choque de dous grandes ideaes, e nisto

    consiste, acima de tudo, a importncia dela entre os mais notveis acontecimentos da histriaptria. (Britto, 1908:61-62).Parece-nos que esta obra segue os rumos da produo dos pioneiros da Psicologia Poltica

    francesa como apontou Dorna (1998), pois da mesma forma que:

    A comienzos del siglo XIX la bsqueda de estabilidad social y la necesidad de construirun cuerpo terico, capaz de interpretar la convulsionada realidad de la poca, hacen quelos trabajos de Fourier, Tocqueville, Taine, Renan, entre otros pensadores, se inscribandentro de una interpretacin histrica y psicolgica de los eventos sociales (1998:50).

    Os acontecimentos revolucionrios que ilustram a histria gacha RevoluoFarroupilha (1835-1945) e Revoluo Federalista (1893-1895) podem ser eventos queconduzem a essa leitura que aponta para uma psychologia poltica nascida do encontro entrehistria e poltica, ao molde do que ocorrera na Frana.

    Assim, Victor de Britto tambm teria em comum com os pensadores Franceses o queDorna entendeu como sendo una gran convergencia psicolgica que se revela, bajo formassutiles, cuando tratan de analizar los procesos que regulan la accin colectiva e individual(1908:50). Certamente o grau de complexidade e de elaborao de Britto frente a autorescomo Tocqueville incomparvel. Entretanto, entrevemos em seu texto um desejo de

    produzir uma reflexo nesse campo de fronteiras.Estruturalmente, o livro, com brevidade, destaca alguns aspectos biogrficos, a viso e a

    forma dele fazer histria; as posies do autor no que concerne Revoluo Federalista e a

    seus lderes, concluindo com os motivos que o levam a se identificar com uma das partescontenciosas. Nesse esforo, o autor destaca as individualidades de Gaspar Martins eJlio deCastilhos:

    Em breve trabalho de synthese, dentro dos limites intransponveis da verdade e dosdictames da critica imparcial, encararei as individualidades de Gaspar Martins e Julio deCastlhos em suas relaes com os altos problemas sociaes, em que mais activamente seagitaram seus espiritos no scenario politico nacional: em nome de que ideaes seapresentaram, como se desempenharam nos papeis que a Fortuna Ihes commetteu; qual o

    juzo de seus coevos e o da Posteridade que comea; quaes os feitos que os enalteceram e

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    os legados que deixaram Patria; quais os corolrios, que se esto impondo naactualidade, da influencia por elles exercida nos destinos do Rio Grande do Sul. (Britto,1908:10-11).

    Em trabalho escrito em 1997, Francisco Alves analisa essa mesma obra e aponta para o

    fato de que a abordagem que realiza Britto da Revoluo Federalista marcada peloindivduo, o qual sobredestacado, o que terminaria sendo um impeditivo para a obteno deuma leitura que no pendesse pra algum lado e que se mantivesse imparcial. Ao usar a obra deBritto como um caso de leituras personalistas daquela guerra civil, Alves (1997) escreve:

    Uma das formas de abordagem tpica de obras sobre a Revoluo de 1893, apersonalizao do conflito, a caracterstica marcante do trabalho de Britto, na qual se fazpresente uma supervalorizao do papel do indivduo na histria, numa verdadeiramitificao da figura do heri, dos grandes homens, atuando como instrumentos do

    progresso e da civilizao e agindo at o extremo do sacrifcio pessoal em nome do bemcomum (1997:37).

    Mas por outra parte essa leitura, ainda que ideologicamente enviesada, constri-se nomarco do que se chamou no sculo XIX (e ainda hoje) de Psico-histria. Nesse modelo detrabalho, a anlise das biografias de personalidades importantes, carismticas e significativasdo ponto de vista da histria foram e so trabalhos que conformam uma das reas consagradasda Psicologia Poltica na atualidade: as psicobiografias polticas mais comuns em pasesanglo-saxes.

    Por outra parte, nos parece acertada a nomeao do estudo como sendo um estudopsicopoltico, pois ele trata de um evento poltico no qual houve mais de 10.000 mortos ealguns momentos marcadamente brbaros como as degolas dos prisioneiros de ambos os

    bandos. Naquele instante o efeito carismtico dos lderes era inconteste e movimentou foras,

    recursos e vidas por muito tempo. Entender o fascnio que cada qual exerceu sobre seusseguidores e os elementos que mobilizaram pessoas a seguirem as crenas e valores que elesdefendiam e eram um estandarte vivo era, de certa maneira, o interesse de Victor e Britto.

    Portanto, pensamos que esta obra, ademais de necessitar ser mais amplamente estudada,tambm poderia inscrever-se no mbito das relaes polticas entre indivduo e Estado quemarcam as discusses de Boutmy (1901, 1902) e que marcaro os debates de Gustave Le Bon(1910[1921]:4), para quem a Psicologia Poltica ser a Sciencia do Governo. Um trabalhomais efetivo nesse campo da cincia do Governo far dcadas mais tarde Oliveira Vianna,

    pensador que atuar como um dos idelogos, se assim podemos dizer, do Estado Novo deVargas.

    A Psicologia Poltica como Cincia do Governo na Atuao de OliveiraVianna

    Jos Francisco de Oliveira Vianna nasceu em Saquarema, na antiga Provncia Fluminense,no dia 20 de julho de 1883, na Fazenda do Rio Seco, falecendo na cidade de Niteri, noEstado do Rio de Janeiro, em 27 de maro de 1951. Desde cedo teve inclinao pelo estudo damatemtica, pretendeu ingressar na Escola Politcnica do Rio de Janeiro, mas terminou porcursar Direito, graduando-se em 1905 em Niteri. Desde os ltimos anos de faculdade passou

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    a escrever em diferentes meios de comunicao, merecendo destaque os jornais DirioFluminense, A Capital, A Imprensa, O Paiz e na paulistana Revista do Brasil. Em 1916Oliveira Vianna passa a ser professor de Teoria e prtica do Processo penal, na Faculdade deDireito do Estado do Rio de Janeiro.

    Mas apenas aps a Revoluo de 1930 e a tomada do poder por Getlio Vargas queOliveira Vianna tornou-se consultor da Justia do Trabalho. Foi por meio dessa posio queele pode influiu decisivamente na elaborao da nova legislao sindical e trabalhista

    brasileira, tanto do ponto de vista tcnico-jurdico quanto do ponto de vista dos princpiospolticos que a orientava. O autor tambm veio a ser indicado por Getlio Vargas para umavaga de ministro do Supremo Tribunal Federal, mas declinou. Em 1940 foi-lhe oferecido, eaceitou, tornar-se ministro do Tribunal de Contas da Unio.

    Para Oliveira Vianna o trao mais caraterstico dos indivduos e dos grupos na sociedadebrasileira era o insolidarismo. Graas a esse dito trao, o autor defendia o papel educador,mas coercivo, do Estado para a formao de um comportamento culturolgico. Tal condutagerada pelo Estado deveria sobrepujar o insolidarismode indivduos e grupos. Pode-se dizer

    que seu pensamento fazia uma leitura psicopoltica da educao, pois a via como educaopoltica como bem aponta Odair Sass (2005a):

    a educao entendida pelo autor como educao poltica do povo para superar a inrciasocial fundada na tradio e nos costumes bem como a coao imposta por transformaesexgenas conduzidas pelo Estado, na mesma proporo que rejeita a educao reduzida,

    pelos reformadores, alfabetizao. (2005a:2)

    H, sem dvida, uma viso nacionalista, modernizadora e desenvolvimentista da ao doEstado junto ao povo na concepo do autor. Entretanto, essa dimenso far de seu

    pensamento uma espcie de manual para aqueles que desejam controlar a ao individual egrupal da populao. Acerca de seu modo de pensar, o autor escreveu em seu Pequenosestudos de Psicologia Social (1921) que o primeiro dever de um verdadeiro nacionalista nacionalizar suas idias e o melhor caminho para fazel-o identificar-se, pela intelligencia,com o seu meio e a sua gente. (Oliveira Vianna, 1921:iv). Nessa obra, por exemplo, a diviso, por si mesma, reveladora de uma Psicologia Poltica. Ao dividir o livro em o meio social, omeio poltico, o meio sertanejo, o homem e a raa,o autor abre caminhos para uma discussona qual no h como pensar a constituio do homem que no seja atravessada pela poltica,fazendo do agir humano um agir que podemos chamar psicopoltico.

    Oliveira Vianna publicou diversos livros. Nenhum deles se chamou psicologia poltica,mas em alguns inclusive usou o termo, sendo essa a perspectiva que orientar sua produo, aqual mais comumente lida como sendo de corte sociolgico ou como psicologia social. So

    de sua autoria Populaes Meridionais do Brasil: populaes do Centro-Sul, volume I(concludo em 1918 e publicado em 1920), O Idealismo da Constituio (1920), Pequenosestudos de Psicologia Social (1921), Evoluo do Povo Brasileiro (1923), O Ocaso do

    Imprio (1925), Problemas de Poltica Objetiva (1930), Formation Ethnique du BrsilColonial (1932), Raa e Assimilao (1932), Problemas de Direito Corporativo (1938),

    Problemas de Direito Sindical(1943), Instituies Polticas Brasileiras(1949) e a coletneade ensaios intituladaDireito do Trabalho e Democracia Social(1951). O segundo volume de

    Populaes meridionais do Brasil, foi concludo juntamente com o exerccio de Ministro doTribunal de Contas da Unio e publicado postumamente em 1952. Essa obra dedicou-se ao

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    estudo do campeador rio-grandense. Outras publicaes pstumas so Problemas deOrganizao e Problemas de Direo(1952),Introduo Histria Social da Economia Pre-capitalista no Brasil (1958). Ainda sem publicao existem os ttulos Histria Social da

    Economia Capitalista no Brasil,Histria da Formao Racial do BrasileEnsaios.Como j apontaram autores como Maria Jos Rezende (1999) e Odair Sass (2005ab; 2011)

    Oliveira Vianna faz coro com um conjunto de autores que so essenciais para entendermos opensamento conservador sobre as (im)possibilidades de que ocorram mudanas sociais noBrasil (Rezende, 1999:149). Como apontou Sass (2005ab), esse autor fez da psicologiasocial uma psicologia poltica, sendo ele o primeiro autor brasileiro a adotar a psicologiasocial como um modo de interpretar o homem brasileiro em relao ao meio sciocultural ea organizao poltica brasileira. Nesse sentido, ele destaca que

    o significado atribudo por Oliveira Vianna Psicologia Social aproxima-se bastantedaquele assumido pela tendncia francesa de tradio durkheiminiana, com uma aplicaosingular poca em que escreveu, pois, inscreve a psicologia social como psicologia

    poltica, especificamente, como elemento central de sua anlise sobre as carncias da vidapoltica brasileira e bsico para aquilo que ele denomina de tecnologia das reformassociais (Sass, 2005a).

    Rezende (1999) ao analisar a obra de Oliveira Vianna, de modo particular a obraPopulaes meridionais do Brasil (1920; 1952), lista um conjunto de preocupaes queseriam de cunho psicopoltico, entre elas a conscincia coletiva, um elemento que, a nossover, se antagonizaria com o insolidarismoe contribuiria para a culturologiado Estado. Masno s, certo que o pensamento conservador e autoritrio de Oliveira Vianna foi til tanto noEstado Novo com o qual contribuiu em vida, mas tambm para os momentos que antecederamo golpe militar de 1964 e nos anos iniciais do regime. Graas a ele a psicologia social seconverte em uma tecnologia social e educacional para o controle social da populao. Assim,

    nas palavras de Rezende (1999):

    Em Populaes meridionais do Brasil e tambm em outras obras, Oliveira Viannaapresenta uma significativa preocupao com a psicologia poltica. O sentimento deliberdade, a subconscincia, a psique e conscincia coletivas, ndole, valores, cultura,dentre outros, eram discutidos dentro daquela temtica. Sem nenhuma dvida ele plantavaa semente da discusso feita dcadas depois, nos anos que antecederam o golpe de 1964 edurante o regime militar, em torno das estratgias psicossociais que deveriam serimplementadas pelo Estado. (1999:158)

    Entendemos que o pensamento de Oliveira Viana fez com que a psicologia social passasse

    a uma psicologia poltica exatamente por sua interface com o interstcio do conhecimento.Para ele, a psicologia poltica estudaria o contedo psicolgico da atividade polticabrasileira e a carncia de motivaes coletivas nos comportamentos partidrios. (OliveiraVianna, 1987:254, grifos no original).

    O autor formado em direito, amante da matemtica e de dimenses sociolgicas, umjornalista amador e inserido no meio poltico acaba por aproximar-se visivelmente dequestes que o levaram a pensar o sujeito no coletivo e o papel do coletivo e das instituiesna vida do sujeito. Desta feita, a produo de Oliveira Vianna se constri

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    interdisciplinarmente, o que lhe permite produzir sua prpria psicologia poltica, a qual aevoluo de umapsicologia do povo-massa.

    Na obra Instituies polticas brasileiras (1949) recorda trabalho anterior no qual sedebruou sobe as questes culturais dedicadas s relaes entre elite e povo-massaque vivianos sertes, matas, planaltos e pampas, sendo o destaque o estudo dos costumes e dos direitosdo povo-massa e no os da elite. Em seu Pequenos estudos de Psicologia Social (1921), oautor enftico ao dizer que seus textos inspiram-se num pensamento contrrio a essaxenophilia exagerada de nossas elites polticas e mentaes: o seu ponto de partida a nossagente, o nosso homem, a nossa terra, isto , o quadro das realidades sociais e naturaes, quenos cerca e em que vivemos. (Oliveira Vianna, l921:iv).

    Como o prprio autor faz notar em sua obra de 1949, h um lao inequvoco entre as obrasde 1920 e a de 1949. Nesse cenrio, o autor escreveu que

    antes de me lanar nos estudos do direito trabalhista, de 1932 at 1940 [...] eu j havia medeparado, desde 1920, com uma outra camada de nosso direito costumeiro, tambminexplorada e cuja sondagem fui, no Brasil, o primeiro a realizar: a camada do nossodireito pblico, constitucional e administrativo, elaborado [...] tambm pela atividade eespontaneidade criadora do nosso povo-massa. Do nosso povo-massa, j agora no maisdos centros urbanos da costa e do planalto; mas, do povo-massa das regies rurais do

    pas, habitante de sua amplssima hinterlndia, fora da rea metropolitana das capitaisestaduais e da capital fluminense. (Oliveira Vianna, 1987:20).

    Oliveira Vianna dedica-se ao estudo do povo-massa em sua obra para tentar auxiliar nasuperao do que ele classificava como sendo a carncia de uma cultura poltica e de umaexperincia democrtica do povo brasileiro (Sass, 2005a:4). Para Oliveira Vianna, nessas

    paragens haveria

    uma democracia real, vivaz, actuante, culta, tradicionalmente versada no trato dosnegocios publicos, enquanto aqui, o que existe a negao de tudo isto, umademocracia inconsciente de si mesma, absentesta, indifferente, completamente alheia vida administrativa e politica do paiz. L, ... o silencio dos grandes homens do campo dosdebates polticos seria supprido pelo proprio civismo dos cidados, pelo instincto politicodas massas, pelos habitos millenarios de self-government e democracia. Aqui, ... s a

    presena constante, assdua, insistente, dos dirigentes nos comcios, na imprensa, nasassemblas ... que poderia dar ao povo, aos cidados em geral, o conhecimento mais oumenos exacto dos negocios publicos, um criterio seguro de conducta eleitoral enfim,um pouco de aptido democratica (Oliveira Vianna,1923:62, grifos no original)

    Ao refletir sobre as relaes entre o direito, a cultura e o comportamento social, se podeobservar um esforo intelectual que culmina na produo de uma psicologia poltica que explicitada na quarta parte do livroInstituies Polticas Brasileiras. Ao faz-lo o autor buscaelucidar os motivos pelos quais no haveria uma prtica democrtica no Brasil e porqu esteestaria submetido ao governo de elites mopes e despreparadas. Assim, parece-nos adequado oque afirma Odair Sass (2005a:6-7):

    se a psicologia social um componente decisivo para a interpretao do autor acerca dacultura e da formao social e poltica do brasileiro, ao longo de sua obra, no menos

    procedente afirmar que ela deixa de ser uma psicologia dos povos e das massas, marcada

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    pelo ensasmo de Pequenos estudos...,para se converter em instrumento fundamental dametodologia do direito pblico e da tecnologia das reformas sociais, ou seja, a psicologiasocial converte-se em psicologia poltica.

    Outros autores como Oliveira Vianna e Victor de Britto poderiam ser lembrados aqui, mas

    passamos a fazer a seguir breves apontamentos sobre autores que tero um papel importantena formao das atuais geraes de Psiclogos(as) polticos(as) brasileiros(as).

    As Contribuies de Silvia Lane, Leoncio Camino e Salvador Sandoval

    Como bem se pode notar, neste artigo no pretendemos fazer uma anlise exaustiva decada um destes autores, mas sim pontuar elementos do trabalho de quem fez a PsicologiaPoltica acontecer no Brasil. Nesse sentido, destacamos a atividade intelectual e militante deSilvia Lane1, Leoncio Camino2e Salvador Sandoval3. Cada um a seu modo e desde lugarestericos diferentes atuaram de modo a consolidar diferentes formas de pensar e fazer

    Psicologia Poltica, formando, de certa maneira, distintas escolas de pensamento e prticapsicopoltica.

    A partir da produo intelectual militante de Silvia Lane se construiu no Brasil umaPsicologia comprometida social e politicamente, inclusive tendo efeitos sob determinadascorrentes clnicas de corte marxista. Ela foi uma presena marcante nas Psicologias Social eComunitria Brasileiras. Tendo produzido importantes trabalhos que versavam o tema dos

    processos de conscientizao poltica, ela tambm influenciou a psicologia poltica a partir deuma leitura psicossocial da realidade. A esse respeito escreveram Helerina Novo e Maria deFtima Quintal de Freitas (2007):

    Campos como a Psicologia Social, a Psicologia (Social) Comunitria e a Psicologia

    Poltica no Brasil e na Amrica Latina passam a ter um significado nico e singularquando surgem e se fortalecem tendo o matiz e a influncia de Slvia Lane. Ela sempre foiuma das maiores defensoras da Psicologia em nosso pas e continente. Teve sempre acapacidade de aglutinar, mesmo quando era implacavelmente crtica, mas semprerespeitadora e, por isto mesmo, soube trazer os adversrios para uma luta pela profisso e

    pela produo ligada nossa realidade. J nos anos 60 e 70, Slvia Lane falava do carterpoltico da Psicologia e, em certa medida, ela foi a madrinha da Psicologia Poltica que vaise fortalecendo, tambm, no Brasil, j em meados dos anos 80 dentro desta vertente de

    politizao da conscincia, como se referia.

    Em certa medida a Psicologia Poltica Brasileira foi gestada em paralelo com a Psicologia

    Social, visto que nomes importantes que atuaram na fundao da Associao Brasileira de1 Nasceu em So Paulo a 03 de fevereiro de 1933, formou-se em Filosofia na Universidade de So Paulo

    em 1956. Ela foi professora na Faculdade de Psicologia da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo,onde foi uma das fundadoras do Programa de Ps-Graduao em Psicologia Social. Faleceu em So Pauloem 2007.

    2 Natural do Peru, nascido em 24 de junho de 1940, profesor emrito da Universidade Federal da Paraba. graduado em Filosofia e Psicologia, tem doutorado em Psicologia pela Universidade de Louvain, naBlgica.

    3 Nasceu em El Paso, Estados Unidos da Amrica, em 14 de dezembro de 1946. Graduou em Histria daAmrica Latina, e doutorou-se em Cincias Polticas na Universidade Michigan (EUA).

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    Psicologia Social (ABRAPSO) durante os anos de 1980 tambm contriburam para aproduo de uma Psicologia Poltica de corte psicossocial. Neste cenrio importante acontribuio de Slvia Lane que, alm de co-fundar a ABRAPSO, influenciou para a

    politizao da ao de psiclogas/os e para uma prtica psicossocial mais interdisciplinar.Destacamos que foi Silvia que indroduziu no Programa de Psicologia Social da PUCSP adisciplina de Comportamento Poltico e conduziu a contratao, em 1978, do professorSalvador Sandoval para ministr-la e orientar pesquisas nesse campo. A chegada de Sandovalao programa vinha reforar os esforos formativos de Silvia no campo da Psicologia SocialComunitria que era socialmente comprometida.

    A insistncia de Silvia em construir uma prxis que realmente se preocupava com umfazer psi que rompia com a ideia de neutralidade e que assumia a centralidade do exercciocidado expresso no compromisso social, foi a base de uma Psicologia Poltica comprometidacom a realidade e que trilhava a perspectiva libertadora inaugurada por Igncio Martn-Bar(1985, 1991). Da nasce uma psicologia social politicamente engajada. Este fazer de Silviaencontrava ressonncia em fazeres de outros psiclogos sociais, politlogos e socilogos

    latinoamericanos. A escola de Silvia Lane faz coro no s com o pensamento de IgncioMartn-Bar (El Salvador), mas tambm com as proposies de Igncio Dobles (Costa Rica) eMaritza Montero (Venezuela).

    A partir desta viso Libertadora que Martn-Bar inaugura consolida-se em todalatinoamrica a Psicologia da Libertao, a qual se confunde muitas vezes em seu fazer com aPsicologia Social Comunitria inaugurada por Silvia Lane. Mas esse fazer politicamentecomprometido vai gerar, por uma parte, uma nova forma de fazer Psicologia Social e, poroutra, uma linha de pensar e agir no campo da Psicologia Poltica. Nesse sentido, alguns(Furtado, 2000), inclusive chegam a perder de vista os mltiplos sentidos dos fazeres de SilviaLane, assumindo posturas unidirecionais de suas prticas, inclusive negando a possibilidadede se pensar numa Psicologia Poltica. Mas de fato o que importa que no suficiente uma

    psicologia comprometida para que se faa Psicologia Poltica. E Silvia o sabia, a ponto dehaver sido Fundadora Emrita da Sociedade Brasileira de Psicologia Poltica ao lado deMaritza Montero e de Leoncio Camino, seu primeiro presidente, e de Salvador Sandoval,criador do primeiro grupo de pesquisa brasileiro em Psicologia Poltica. Foi a partir destegrupo, criado com o apoio de Silvia Lane, que se iniciaram a Sociedade e a Revista PsicologiaPoltica, ambas uma derivao do I Simpsio Nacional de Psicologia Poltica ocorrido emmaio de 2000 na Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo e organizado pelo Ncleo dePsicologia Poltica e Movimentos Sociais desta instituio.

    Sandoval foi fundador e Editor da Revista Psicologia Poltica (juntamente com MarcoAurelio M. Prado, e um grupo de orientandos), a qual teve seu primeiro nmero organizado a

    partir das conferncias de quem falou no primeiro Simpsio. Nessa linha, claro que a

    Psicologia Poltica no o mesmo que a politizao da Psicologia nem a Psicologizao daPoltica. A diferena entre estes posicionamentos e o que pretende a Psicologia Polticaenquanto campo de conhecimento est em no entender a psicologia poltica como mero

    processo de politizao de prticas psi, mas na produo de um campo de estudos cientficosnascidos da interao de diversos campos do saber, principalmente da Poltica e da Psicologia(Silva, 2012).

    Mas outro elemento que contribuiu consideravelmete para o desenvolvimeto inicial daPsicologia Poltica Brasileira foi a parceria estabelecida entre os grupos de pesquisa

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    coordenados por Salvador Sandoval (NUPMOS) e por Leoncio Camino (Grupo de Pesquisaem Comportamento Poltico GPCP). Ambos nutriam seus grupos de pesquisa com seusestudantes de graduao e ps-graduao. Contudo, como na UFPb no houve por muitotempo um programa stricto sensu com o nvel de doutorado em Psicologia, muitos dosestudantes de Leoncio migraram a So Paulo no intuito de continuar sua formao. Com essa

    parceria, eles formaram uma parcela significativa de pesquisadores(as) que viriam a criar seusprprios grupos de pesquisa com enfoques psicopolticos.

    A colaborao entre eles e seus/suas estudantes contribuiu para que a Psicologia Polticafosse sempre um eixo de trabalho nos encontros da ABRAPSO. Tambm desta parceria surgiuo atual grupo de trabalho em Psicologia Poltica que se rene na Associao Nacional dePesquisa e Programas em Psicologia ANPPEP.

    Se, como dissemos, Silvia Lane trilha as sendas de um perspectiva de leitura marcada pelocompromisso social de quem pesquisa e faz Psicologia Poltica e de corte psicossocial,

    podemos dizer que as escolas de Leoncio Camino e Salvador Sandoval seguem caminhos que,epistemologicamente guardam diferenas. Leoncio, como bem demostram suas publicaes,

    busca construir uma Psicologia Poltica de corte psicossociolgico. E isso se expressa demodo claro na obra organizada por Ana Raquel Rosas Torres, Marcus Eugnio Lima, e Joselida Costa (2005) intitulada A Psicologia Poltica na Perspectiva Psicossociolgica: O estudodas Atividades Polticas lanado como parte das comemoraes dos 25 anos do Grupo dePesquisa em Comportamento Poltico da UFPB coordenado por Camino.

    A marca das preocupaes de Leoncio Camino no campo da Psicologia Poltica foramenfrentadas a partir no da leitura mais habitual da Psicologia Social, mas sim daPsicossociologia, o que no uma diferena menor. Em certa medida, podemos dizer que a

    psicossociologia pode ser observada por alguns como um corte mais sociolgico e menosindividualista (portanto mais coletivista) da Psicologia Social. Fenmenos e atores coletivosso o centro da preocupao investigativa de quem se alinha a esta perspectiva. Assim greves,

    sindicatos, partidos polticos e movimentos sociais so alguns dos interesses recorrentes dessegrupo. Aqui temos um elemento importante que faz com que o encontro entre psicologia(psicossociologia) e poltica (comportamento poltico) gere uma forma bastante recorrente noBrasil de pensar a Psicologia poltica, e, de modo particular, as questes associadas maisvivamente ao campo de estudos do comportamento poltico.

    No caso dos pesquisadores formados pelo Ncleo de Pesquisa em Psicologia Poltica eMovimentos Sociais coordenado por Salvador Sandoval, a perspectiva terico-metodolgicase mostra mais afeita a pensar a Psicologia Poltica como campo Interdisciplinar. As bases

    principais deste campo estariam na Poltica, Histria, Sociologia e Psicologia Social, sendo asleituras dos fenmenos polticos marcadas por elementos fortemente relacionados com ascincias polticas. Desta feita, o corte politolgico dos fenmenos subjetivos um trao mais

    radical de seus estudos no instante em que o poltico e a poltica sempre esto em relevo nasanlises feitas nesse grupo.

    Dos Grupos de Trabalho da ANPEPP ABPP

    A criao da Associao Brasileira de Psicologia Poltica (ABPP) em 2000 definiuelementos que tm possibilitado que a Psicologia Poltica seja reconhecida no pas; elatambm tem proporcionado um elo entre aquelas pessoas que desejam constituir grupos de

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    investigao em Psicologia Poltica e nem sempre encontravam o apoio necessrio para seguircom esse propsito adiante. fato que, desde muito, se buscavam aglutinar esforos para acriao de um espao institucional que congregasse os(as) estudiosos(as) em/da PsicologiaPoltica. Um exemplo importante destes esforos foi a criao do Grupo de Trabalho (GT)sobre Psicologia dos Movimentos Sociais, quando da criao da Associao Nacional deProgramas e Pesquisa em Psicologia (ANPPEP), em 1981. Nessa ocasio, buscou-se criar umGT que possibilitasse o intercmbio entre profissionais comprometidos com temas cotidianosligados poltica e, inicialmente, aos movimentos sociais de modo particular.

    Retomar, ainda que brevemente, a trajetria do GT importante, pois, por meio dele, foipossvel costurar redes que permitiram chegar criao da ABPP; isso tambm nos permitepensar a diversidade de grupos que vm surgindo. Assim, importante dizer que ele passoupor algumas mudanas, de modo a ajustar os elementos que seriam constitutivos de umaidentidade de grupo. Muitas das pessoas que estiveram nesse GT hoje no participam mais,mas continuam produzindo seus trabalhos no mbito da Psicologia Poltica. Isso ocorre,

    porque os GTs so essencialmente reflexos de redes e redes se sobrepem.

    Do ponto de vista da cronologia, o GT apresentou-se inicialmente com a designaoPsicologia dos Movimentos Sociais,durante os trs primeiros simpsios da ANPPEP (1988,1989 e 1990). Nos dois primeiros anos, quem o coordenou foi o professor Camino (UFPb) e,em 1990, o professor Sandoval (PUC-SP). Inicialmente, o GT teve como agentesaglutinadores desse processo os professores Leoncio Camino, Salvador Sandoval, PedrinhoGuareschi (PUC-RS), Maria Alice da Silva Leme (USP), Lidio Souza (UFES) entre outros.

    Em 1992, o grupo no se reuniu sob esse nome e seus coordenadores integraram o GT APesquisa Interdisciplinar, coordenado por David W. Carraher (UFPE). Nos simpsios de1994 e 1996, o grupo passou a chamar-se Psicologia Poltica e Movimentos Sociais, mesmonome do grupo de pesquisa liderado pelo professor Sandoval na PUC-SP. No ano de 1994, acoordenao esteve a cargo de Salvador Sandoval e, no simpsio seguinte (1996), Sandoval e

    Camino dividiram a atividade de coordenao. Mas, em 1998, se operou uma nova mudana.O GT passou a chamar-se Comportamento Poltico, nome que permaneceu at 2006.

    Nos simpsios VII (1998) e VIII (2000), o GT esteve a cargo de Leoncio Camino, e o GTdo IX simpsio (2002), a cargo de Salvador Sandoval. Para o ano de 2004, no encontramosinformaes sobre o grupo, mas, aparentemente, ele ocorreu sob a coordenao do professorCornelis Johannes van Stralen (UFMG). Desde essa oportunidade, ele que tem presidido oGT e foi ele que coordenou a ltima mudana do nome do GT paraPsicologia Poltica. Estaocorreu em 2008, para adequ-lo existncia da ABPP, associao qual todos eram filiados.

    Sendo esse o GT mais antigo em vigncia na ANPPEP (apesar da mudana de nomes,manteve coerncia com o prprio campo em toda a sua trajetria), natural que ele agreguealgumas das foras polticas nacionais que atuaram na criao da Associao Brasileira dePsicologia Poltica (ABPP). A ABPP foi fundada em 10 de dezembro de 2000, na Escola deSociologia e Poltica (ESP), na cidade de So Paulo. Na ocasio, reuniram-se, naquela que foia primeira escola livre de Sociologia da Amrica Latina (1934), os(as) pesquisadores(as) que,na ocasio, representavam diversas instituies: Alessandro Soares da Silva, Mrcia PrezottiPalassi, Soraia Ansara, Zart Giglio e Pedro de Oliveira Filho, membros do Ncleo dePsicologia Poltica e Movimentos Sociais da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo(PUC-SP), liderado por Salvador Antonio Mireles Sandoval; Leoncio Camino Larrain, lderdo Ncleo de Estudos sobre Comportamento Poltico da Universidade Federal da Paraba

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    (UFPb) e pesquisadores isolados, como Marco Aurlio Mximo Prado, poca naUniversidade So Marcos (UniMarco), e Maria Palmira da Silva, docente da escola anfitri,ESP.

    O nmero de presentes naquela reunio poderia ter sido maior, visto o nmero deconvidados. Manifestaram-se, por correio eletrnico, favoravelmente criao da associaoimportantes pesquisadores como Louise Llullier, lder do Laboratrio de ComportamentoPoltico da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); Cornelis Johannes van Stralen eVanessa de Andrade Barros, lderes de um grupo no formal de Psicologia Poltica existentena Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Karin von Smigay, da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG); Telma Regina de Paula Souza, da Universidade Metodistade Piracicaba (UNIMEP); Maria Aparecida Morgado, da Universidade Federal do MatoGrosso (UFMT); Maria de Ftima Quintal de Freitas, Universidade Federal do Paran(UFPR); Maria da Graa Jacques, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);Pedrinho Guareschi, da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUC-RS);Celso Zonta, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e Joseli Bastos, membro do grupo

    liderado pelo professor Leoncio Camino.Essa reunio que resultou na criao da ABPP surgiu quando, aps havermos organizado oI Simpsio Nacional de Psicologia Poltica, em maio de 2000, percebemos que h muitohavia um desejo para o estabelecimento desse espao institucional. Durante o evento,

    buscamos propositadamente incentivar os presentes a pensar um encontro. Juntamente com ospesquisadores Salvador Sandoval e Marco Aurlio M. Prado, levamos adiante a iniciativa deconvocar a reunio de dezembro de 2000.

    Muitas eram as aes que ocorreram nos anos de 1980 e 1990 e que levavam quelareunio, na qual se decidiu definitivamente a criao, no s da associao, mas tambm da

    Revista Psicologia Poltica, como veculo oficial da associao. Inicialmente, a associao foipresidida, entre os anos de 2000 e 2002, por Leoncio Camino (UFPb), seguido de Salvador

    Sandoval (PUC-SP), entre 2002 e 2004; Cornelis Johannes van Stralen (UFMG), entre os anosde 2004 e 2008, e Marco Aurlio Mximo Prado (UFMG), entre 2008 e 2011. Atualmente, elaest, mais uma vez, sob a presidncia de Salvador Sandoval. A Secretaria Geral da associaofoi comandada, nessas distintas diretorias, por Louise Llullier (UFSC), Marco AurlioMximo Prado (UFMG), Vanessa Barros (UFMG), Marcos Ribeiro Mesquita (UFAL) eCornelis Johannes van Stralen (UFMG).

    No que tange regionalidade das representaes, a participao de Minas Gerais e de SoPaulo tm sido decisivas para a consolidao das atividades da ABPP. No entanto, a

    participao das demais regies, e em especial da regio sul, tm crescido.Os simpsios da ABPP ocorreram em So Paulo SP, na PUC-SP com o tema A

    Psicologia Poltica no Brasil (2000); na USP, sendo os temas norteadores O Pblico e oPrivado nas Polticas Pblicas (2008) e Perspectivas e Desafios da Psicologia Poltica noBrasil: 10 anos da ABPP (2011); em Belo Horizonte MG, na UFMG e, tendo por temasIdentidade e Poltica (2002) eA Psicologia Poltica e a Nova Transio Democrtica (2006);em Bauru SP, na UNESP, com o tema A Questo Social no Brasil (2005) e em SoFrancisco de Paula RS (2012), sendo Memria Poltica, Histria, Movimentos Sociais e

    Esfera Pblicao tema desta edio, sediada na UERGS.No mbito das relaes interinstitucionais, a ABPP participa como membro do Frum de

    Entidades de Psicologia e da Unio Latino-Americana de Psicologia (ULAPSI), na qualidade

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    de membro fundador, e da Associao Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). Inclusive,nos anos que no h simpsio, a associao realiza seus encontros dentro da programao daABRAPSO, sendo que as quatro primeiras diretorias foram eleitas em assembleias ocorridasdentro do encontro desta associao.

    Revista Psicologia Poltica

    Em 2001, iniciou-se no Brasil a publicao da revista brasileira, mantida pela AssociaoBrasileira de Psicologia Poltica (ABPP), sob o nome dePsicologia Poltica. Essa publicaochega ao seu 13 aniversrio e se distingue muito das temticas abordadas pelas outrasrevistas. Entre os principais debates que ela tem acolhido em suas pginas encontram-sequestes relativas ao preconceito e s diferentes formas de racismos e xenofobias, aescoletivas e movimentos sociais, violncia coletiva e social, memria coletiva e socializao

    poltica, comportamento eleitoral, relaes de poder, valores democrticos e autoritarismos,participao social e polticas pblicas, relaes de trabalho, anlise de discursos e ideologias,de universos simblicos e de prticas institucionais. De fato, a revista destaca ser umapublicao dirigida ao campo de estudos interdisciplinar da Psicologia Poltica e tem comoepicentro a reflexo sobre o comportamento poltico nas sociedades contemporneas.

    Esse peridico nasce concomitantemente com a ABPP e seu primeiro nmero contm,como dito, algumas das conferncias do I Simpsio Brasileiro de Psicologia Poltica, ocorridoem 2000, que foram transformadas em artigos. Os textos nela publicados apresentam-se comoum importante ponto de interseco entre a Psicologia e as Cincias Polticas. Do ponto devista dos aportes terico-metodolgicos, vale ressaltar que ela tem se preocupado em garantir,como se verifica em sua web, um debate no qual:

    nem as condies objetivas nem as subjetivas estejam ausentes, pelo contrrio, estosendo compreendidas, por diferentes abordagens tericas, como co-determinantes,

    portanto, constituintes dos comportamentos coletivos, dos discursos, das aes sociais edas representaes que constituem antagonismos polticos no campo social.

    Num levantamento dos 10 primeiros anos de existncia da RPP, identificamos que elapublicou 148 artigos em 20 fascculos, sendo 87,83% da produo de estudiosos brasileiros,6,75% europeus, 2,02% de autores da Amrica do Norte, 4,72% das Amricas Central e doSul.

    A recente fundao da Associao Ibero Latino-americana de Psicologia Poltica emnovembro de 2011 em Crdoba (Argentina). Fez com que a RPP passasse para um novo nvelde responsabilidade, uma vez que ela passou a ser um veculo oficial tambm desta associao

    cientfica, no instante em que se abre um terceiro fascculo da revista para a organizaocoordenada entre os Editores da RPP e a Secretaria de Publicaes da AILPP. Nesse sentido,a RPP passa a ser um veculo de integrao das distintas vises hermenuticas sobre aPsicologia Poltica e contribui para sua consolidao enquanto campo interdisciplinar desaber.

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    Consideraes Finais

    Desde que se publicou o primeiro livro de Boutmy (1901), at a fundao de uma entidadesupranacional com interesse de desenvolver seus trabalhos nesse campo de encontros que a

    Psicologia Poltica, passaram-se 77 anos, ou 83, desde a publicao do livro de Agustnlvarez (1894), ou ainda 68 anos, se a conta comear com Le Bon (1910). Quem sabe,exatamente por ter havido essa distncia temporal (ainda que, por vezes, ela tenha sidoamenizada com a publicao de algumas obras que se enquadravam na Psicologia Poltica), afundao em 1978 da Sociedade Internacional de Psicologia Poltica International Societyof Political Psychology(ISPP) tenha sido um momento importante para o campo.

    Ainda que o campo, a disciplina interdisciplinar,j existisse, tanto nos Estados Unidos daAmrica quanto na Europa, e que, inclusive, pesquisadores de ambas as regies mantivessemrelaes de trocas e intercmbios, as diferenas que existiam entre suas perspectivas eram

    bastante grandes e importantes, pois as temticas, os enfoques e os recursos metodolgicosutilizados os distinguiam na forma de entender e atuar no campo psicopoltico.

    O nascimento da sociedade foi resultado de esforos concretos para se estabelecerdefinitivamente o campo como disciplinaa nvel mundial. Foi o primeiro ato mais concretopara superar as incertezas vividas por ela e, desde o princpio, apontadas por Le Bon (1910).Criada em janeiro de 1978, a sociedade teve como sua primeira presidenta Jeanne Knutson eHarold Lasswell foi seu presidente honorrio. Entre seus scios aparecem nomes cornoAbelson, Christie, Eysenck, Janis, Rokeach, Sears e Zimbardo. A sociedade foi presidida porMaritza Montero e, na atualidade, presidida pelo holands Bert Klandermans. Em suaorigem, a sociedade contava com 221 membros, sendo 80 deles da rea da Cincia Poltica, 67da Psicologia e os demais advindos da Sociologia, Psiquiatria, Histria, Antropologia,Comunicao e da Educao. Quem sabe essa pluralidade tenha que ver no apenas com ocarter interdisciplinar da Psicologia Poltica, mas tambm com o fato de ela ser um campo

    recente, em termos de consolidao. Nessa linha, j apontaram Maritza Montero e AlexandreDorna (1993), para os quais:

    a pesar del impulso inicial y de la existencia de algunos trabajos aislados [...] solorecientemente La Psicologa Poltica ha comenzado a lograr un desarrollo acadmicoautnomo. Y de hecho, aun hoy muchos investigadores en este campo trabajan a la sombrade otras disciplinas tales como la ciencia poltica, el derecho, la psiquiatra o la sociologa.Esta dependencia ha creado una dispersin y un aislamiento bastante grandes cuyaconsecuencia es la multiplicidad de enfoques y la fragmentacin temtica, la falta de

    paradigmas integradores y una conceptualizacin aun incierta (p. 8).

    Entendemos que a emergncia da sociedade internacional e de outras sociedades nacionaisveio ajudar consideravelmente na superao desse quadro descrito pelos autores. Aemergncia de sociedades em pases como Brasil, Frana e Itlia, certamente tem contribudocom o labor de edificar o campo e, como desejou Le Bon, de provar seu valor (p. 12)enquanto disciplina em um campo cientfico no qual, como ele mesmo j atestava, ainexistncia de leis (paradigmas) universais dificulta o labor interpretativo e destaca ascontradies prprias de um campo fragmentado e fragilizado como as Cincias Sociais.Sobre isso, apontou Le Bon: Se fosse, alis, fcil a interpretao dos phenomenos sociaes,estariamos de accrdo em tudo, ao passo que na realidade no o estamos em nada. (p. 31).

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    Atualmente, a sociedade conta com cerca de 900 investigadores afiliados e sua atividadeinspirou a criao de sociedades nacionais (e uma de mbito regional, a Associao IberoLatino-americana de Psicologia Poltica AILPP), seja porque reconhecem o papel que estadesempenhou para o fortalecimento do campo nos Estados Unidos, seja porque se colocamem oposio ao modus operandidesta e/ou a sua viso da Psicologia Poltica.

    Este quadro geral, tambm contribui para o desenvolvimento local da Psicologia Polticabrasileira no instante em que esta se consolida e avana em um movimento de ampliaointerna e de conexo com a produo Ibero-americana. Ao observarmos as programaes dossimpsios de Psicologia Poltica, destaca-se a presena de convidados oriundos da Argentina,Chile, Colmbia, Espanha, Mxico, Portugal e Uruguai, alm de Frana e Holanda. Valeria a

    pena estudarmos a produo dos trabalhos apresentados nos simpsios e mesmo o contedoda RPP, as produes particulares desses grupos mais histricos ou mesmo as publicaes quese enquadram na seara da Psicologia Poltica, mas isso demandaria um projeto de pesquisamais arrojado, amplo e ambicioso, o que no possvel de realizar nessas poucas pginas.

    Mas gostaramos de destacar aqui que alguns destes elementos tm sido tratados e

    contribuem para a os esforos de constituio de uma histria da Psicologia Poltica no Brasil.Esse o caso do recente esforo de Guilherme Borges da Costa, Thomaz Ferrari DAddio,Fbio Eduardo Bosso e Lorraine Lopes Souza (2013) quando se debruam a estudar o

    processo de formao do grupo de pesquisa a que pertencem e que se origina a partir do grupode Salvador Sandoval. O mesmo poderia ocorrer em, pelo menos, outros 10 grupos de

    pesquisa existentes no pas e em diferentes regies. Esse mapeamento ou o aprofundamentode elementos histricos so efetivamente desafios constituio de uma Psicologia Polticano Brasil. Quem sabe aqui podemos compartilhar alguns dos elementos conformadores dessahistria da constituio do campo, a qual pessoalmente tivemos um papel significativo no

    perodo mais recente (a partir de 2000). E isto faz deste texto um exerccio acadmico maissevero, por um lado, e um jogo de recordaes pessoais e coletivas, por outro, visto que so

    lembranas de um processo que tambm fomos protagonistas.Mas efetivamente desejamos que este texto no s ajude nesse processo de registro da

    histria do campo (Sabucedo, 2000), mas tambm gere a necessria curiosidade para ainvestigao da Histria e da Memria Poltica da Psicologia Poltica no pas.

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    Recebido em 19/05/2012.

    Aceito em 30/09/2012.