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Sinopse Do Novo Testamento - John Nelson Darby
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Transcript of Sinopse Do Novo Testamento - John Nelson Darby
Introducao ao Novo Testamento A concentração e expansão da luz divina e a imensa importância das verdades contidas no Novo Testamento
Ao me dedicar a estes estudos das Escrituras, é com certo temor que abordo o
Novo Testamento, tamanha a bênção que isto traz. A concentração e, ao mesmo
tempo, o volume de luz divina existente neste precioso presente de Deus; o
imenso alcance das verdades que ele contém; a infinita variedade encontrada nos
aspectos e aplicações válidas de uma única passagem, e de sua relação com todo
o contexto das verdades divinas; a imensa importância destas verdades, sejam
elas consideradas isoladamente ou em sua referência à glória de Deus ou em
relação à necessidade do homem; a maneira como elas revelam a Deus, e
cumprem esse papel -- todas essas considerações que não sou capaz de expressar
a não ser de uma forma imperfeita, fariam com que qualquer pessoa com um
espírito humilde deixasse de lado a pretensão de dar uma ideia verdadeira e,
ainda que em princípio adequada, do propósito do Espírito Santo nos livros do
Novo Testamento
E quanto mais verdade revelada, mais luz genuína é derramada, maior é o
sentimento de incapacidade de se falar dela e maior o receio que se tem de
obscurecer aquilo que é perfeito. Quanto mais pura é a verdade com a qual temos
de lidar (e aqui se trata da própria verdade), mais difícil é o trabalho de
apresentá-la a outros sem de alguma forma injuriar sua pureza, e mais fatal se
torna o dano. Ao meditarmos nesta ou naquela passagem, devemos comunicar,
para o proveito de outros, a medida de luz que nos foi garantida. Mas ao
tentarmos dar uma ideia do livro como um todo, é colocada diante de nós toda a
perfeição da própria verdade e da universalidade do propósito divino na
revelação que Deus fez desse propósito. Isto é algo que nos faz tremer, só de
pensar na tarefa de dar uma ideia geral e verdadeira, ainda que incompleta, desse
propósito, algo que nenhum cristão verdadeiro pretenderia fazer.
No Antigo Testamento Deus falou - no Novo Testamento Deus Se manifesta Para alguns o Antigo Testamento pode às vezes parecer mais difícil que o Novo
Testamento, e isto realmente pode ocorrer na interpretação de certas passagens
isoladas. Todavia, embora os escritores inspirados daquela parte das Escrituras
revelem o pensamento de Deus do modo como lhes foi comunicado por Ele
próprio (e podemos admirar a sabedoria ali revelada), ali Deus continua oculto
atrás do véu. Perdemos muito quando nos enganamos a respeito do significado de
alguma expressão ou damos pouca atenção a ela, pois foi Deus quem disse.
Mas no Novo Testamento é o próprio Deus, humano, manso e gentil, que nos
Evangelhos é apresentado nesta terra, instruindo com divina luz nas
comunicações subsequentes feitas pelo Espírito Santo -- é Deus mesmo se
manifestando. Todavia, se a luz nos Evangelhos é mais intensa, tanto para nossa
direção pessoal como para o conhecimento de Deus, a interpretação equivocada
dessas comunicações tão vivas, ou sua distorção para adequá-las aos nossos
pensamentos como se fosse a expressão da verdade, passa a ser algo ainda mais
sério. Isto porque devemos nos lembrar de que Cristo é a verdade. Ele é a
Palavra. É Deus quem fala na Pessoa do Filho, o qual, apesar de ser
verdadeiramente humano, também manifesta o Pai.
Ao apresentar o que e´ celestial e eterno o Novo Testamento cumpre e ofusca o Antigo No que diz respeito à própria interpretação, à verdade em si mesma, à luz e vida
eterna, essas coisas que nos são reveladas no Novo Testamento podem ser vistas
sob tantos aspectos que a dificuldade se torna ainda maior. Isto porque a verdade
pode ser admirada em seu valor intrínseco e essencial, e podemos vê-la tanto
como a manifestação da eterna natureza de Deus como em sua manifestação no
que diz respeito à glória do Filho. Podemos assim examinar suas conexões e seus
contrastes com as comunicações parciais que Deus fez no Antigo Testamento, as
quais o Novo Testamento cumpre e ofusca com seu fulgor. Podemos também
examinar o contraste entre este e a antiga dispensação do governo terrenal de
Deus, a qual é deixada de lado a fim de introduzir aquilo que é celestial e eterno.
O Novo Testamento pode ser visto em sua relação com o homem, pois a vida era
a luz dos homens, havendo Deus desejado manifestar-Se e glorificar a Si mesmo
no homem, para fazer-Se conhecido ao homem e fazer dele o meio de Se revelar
às Suas outras criaturas inteligentes. Em cada passagem poderia ser encontrado
algo a ser dito com respeito a cada um destes aspectos, pois a verdade é uma,
tanto quanto Deus é um, mas ela brilha sobre todas as coisas e revela seu
verdadeiro caráter.
Os canais da agua viva e pura Há, porém, duas coisas que me encorajam: primeiro, que estamos lidando com
um Deus de perfeita bondade, que nos deu essas tremendas revelações para o
nosso benefício. Em segundo lugar, que apesar da fonte de verdade ser perfeita e
infinita -- apesar dessas revelações fluírem diretamente da plenitude da verdade
que está em Deus e sua comunicação para conosco ser perfeita conforme a
perfeição dAquele que a fez -- mesmo assim tal revelação é feita por meio de
diversos instrumentos de capacidade limitada, os quais Deus utiliza para nos
comunicar esta ou aquela porção da verdade.
Essa água viva e pura não foi, de maneira nenhuma, corrompida, mas a cada
comunicação ela foi limitada segundo o propósito de Deus em função do
instrumento que Ele utilizou para dispensá-la, ao mesmo tempo em que ela
continua conectada à sua totalidade, conforme a perfeita sabedoria dAquele que
nos tem comunicado toda a verdade. O canal não é infinito. A água que flui por
intermédio dele é infinita, mas não é infinita na sua comunicação. Eles
profetizaram em parte, e nós conhecemos em parte. O aspecto e a aplicação da
verdade possuem até mesmo um caráter especial, conforme o vaso por meio do
qual ela é comunicada. A água viva está ali em sua perfeita pureza. Ela jorra do
modo como existe na fonte: a forma da fonte, por meio da qual ela flui diante dos
homens, é conforme a sabedoria de Deus, que formou a fonte para que fosse um
instrumento destinado a esse propósito.
O Espírito Santo atua no homem, no vaso que foi assim preparado. Deus criou,
moldou, preparou e adaptou o vaso, moral e intelectualmente, para este e aquele
serviço relacionado à verdade. Deus atua no vaso de acordo com o objetivo para
o qual o preparou. Cristo era e é a verdade. Outros a comunicaram, cada um
conforme o que lhe foi dado e em conexão com aqueles elementos por meio dos
quais Deus revelou, em uníssono, sua mente e coração, e com o objetivo para o
qual o Espírito Santo preparara o vaso.
Portanto, deixando para trás meus temores, entrego-me confiadamente ao
cumprimento deste serviço, tendo o coração descansado na perfeita bondade do
Deus que Se apraz em nos abençoar. Que o senso exato de minha
responsabilidade me impeça de fazer qualquer coisa que não esteja em
conformidade com Deus, e que o próprio Senhor, em Sua graça, Se digne a me
dirigir e capacitar para aquilo que possa ser de bênção para o leitor!
O carater do Novo Testamento: a presenca do proprio Deus como Homem entre os homens Evidentemente o Novo Testamento possui um caráter muito diferente do Antigo
Testamento. Aquilo que já assinalei constitui a essência dessa diferença. O Novo
Testamento trata da revelação do próprio Deus, e nos mostra o homem recebido
na glória em justiça na presença de Deus. Antes Deus havia feito promessas e
executado juízos. Ele governou um povo na terra, e agiu para com as nações de
fora tendo esse povo como o centro de seus conselhos no tocante à terra. Ele deu
ao Seu povo a Sua lei, e por meio dos profetas lhe concedeu uma luz crescente, a
qual anunciava a chegada, cada vez mais próxima, dAquele que lhes diria todas
as coisas da parte de Deus.
Mas a própria presença de Deus -- um Homem entre homens -- mudou tudo. Ou
o homem receberia como uma coroa de bênção e glória Aquele cuja presença iria
banir todo o mal, desenvolvendo e aperfeiçoando todo elemento de bondade e ao
mesmo tempo provendo um objeto que fosse o centro de todas as afeições para
que o homem fosse perfeitamente feliz desfrutando desse objeto; ou, ao rejeitá-
Lo, nossa pobre natureza se manifestaria em inimizade contra Deus, provando
assim a necessidade de uma ordem de coisas completamente nova, na qual a
felicidade do homem e a glória de Deus estivessem fundamentadas em uma nova
criação.
A rejeicao do homem contra Deus se torna o meio pelo qual Deus cumpre Seus propositos eternos para uma nova ordem de coisas Sabemos o que aconteceu. Depois de exercitar Sua perfeita paciência, Aquele
que era a imagem do Deus invisível foi obrigado a dizer: "Pai justo, o mundo não
te conheceu". Ah! E Ele ainda teve de dizer: "Me odiaram a mim e a meu Pai".
Todavia, tal condição do homem de modo algum impediu que Deus cumprisse
Seus conselhos; ao contrário, foi justamente isso que O levou a cumpri-los. Deus
não rejeitaria o homem antes que este O tivesse rejeitado, como aconteceu no
Jardim do Éden, quando o homem, consciente do pecado, porém incapaz de
suportar a presença de Deus, acabou fugindo dEle antes mesmo de Deus expulsá-
lo do jardim.
Mas agora que o homem havia tomado a iniciativa de rejeitar completamente a
Deus, entrou em cena a misericórdia em meio à miséria humana. Deus estava
livre para agir -- se é que se pode falar assim, já que a expressão é moralmente
correta -- e levar a cabo os Seus propósitos eternos. Mas não é juízo que Deus
traz, como aconteceu no Éden, quando o homem já tinha se apartado dEle. Agora
é a graça soberana que entra em ação -- quando o homem está comprovadamente
perdido e assume ser inimigo declarado de Deus -- para magnificar a glória de
Deus perante todo o universo, salvando os pobres pecadores que O haviam
rejeitado.[1] [1] Veja Tito 1:2; 2 Timóteo 1:9-10, e compare com Provérbios 8:22-31, em especial os versículos 30-31, e Romanos 16:25-26 (leia-se ali "escrituras proféticas"), Efésios 3:5,10 e Colossenses 1:26. Sob a lei Deus nunca saiu, e o homem não podia entrar. No cristianismo Deus sai e o homem entra; e estas coisas formam a essência tanto da lei como do cristianismo. Antes havia a promessa. Essas relações são características.
Mas para que a perfeita sabedoria de Deus pudesse ser manifestada até em seus
mínimos detalhes, essa obra de graça soberana, na qual Deus Se revelou, deve ser
vista em sua devida conexão com todas as coisas que Ele fez e revelou no Antigo
Testamento, e também com o pleno lugar que Ele ocupa em Seu governo do
mundo.
Os quatro principais assuntos do Novo Testamento Tudo isso resulta em quatro assuntos contidos nesse maravilhoso livro, os quais
se desdobram perante o olhar da fé, além do grande tema que o permeia do
princípio ao fim.
Primeiro, o grande tema, o fato dominante, é que a perfeita luz é manifesta: Deus
Se revela Si mesmo. Mas essa luz é revelada em amor, o outro nome essencial de
Deus. Cristo é a manifestação desse amor e luz, e se tivesse sido recebido teria
sido o cumprimento de todas as promessas. Ele é então apresentado ao homem, e
em especial a Israel do ponto de vista de sua responsabilidade, com todas as
provas, pessoais, morais e de poder -- provas essas que deixam o homem
inescusável.
Em segundo lugar, ao ser rejeitado (uma rejeição por meio da qual a salvação foi
consumada), a nova ordem de coisas é trazida perante nós: a nova criação, o
homem glorificado e a assembleia compartilhando da glória celestial juntamente
com Cristo.
Em terceiro lugar, é apresentada a conexão entre a antiga ordem de coisas na
terra e a nova, no que diz respeito à lei, às promessas, aos profetas ou às
instituições divinas para este mundo. Isso é feito quer na exibição da nova ordem
de coisas, quer no cumprimento das coisas que envelheceram e são colocadas de
lado, ou na revelação do contraste entre as duas e a perfeita sabedoria de Deus, a
qual é demonstrada em cada detalhe do Seu proceder.
Finalmente, em quarto lugar, o governo de Deus sobre o mundo é apresentado
profeticamente, incluindo a renovação das relações entre Deus e Israel, tanto em
juízo como em bênção. Isso é declarado de forma breve, porém clara, por ocasião
da ruptura dessas relações na rejeição do Messias.
Pode-se acrescentar que tudo aquilo que era necessário para o homem, como um
peregrino na terra, é suprido abundantemente até que Deus cumpra em poder os
propósitos de Sua graça. Ao atender ao chamado de Deus e sair daquilo que é
rejeitado e condenado por Ele, mas ainda não estando de posse da porção que
Deus lhe preparou, o homem que obedeceu a esse chamado tem necessidades.
Ele necessita de algo que o dirija e que lhe revele as fontes das forças que irá
precisar para caminhar em direção ao objeto de sua vocação, além dos meios para
obter essas forças. Ao chamar o homem para que siga a um Mestre que o mundo
rejeitou, Deus não deixa de supri-lo com toda a luz e direção necessárias para
guiá-lo e encorajá-lo em sua senda, além de direcioná-lo para as fontes das forças
que irá necessitar e mostrar a ele como obter delas seu suprimento.
Todo leitor da Bíblia irá entender que no Novo Testamento esses assuntos não
são tratados de forma metódica e independente. Se assim não fosse, eles seriam
muito menos apreendidos. É em vida e em poder, sejam provenientes de Cristo
ou do Espírito Santo por meio dos escritores inspirados, que essas coisas se
desdobram diante de nossos corações.
As divisoes e temas do Novo Testamento Os evangelhos, de um modo geral, colocam a Cristo diante de nós como luz e
graça. Todavia, embora não o façam doutrinariamente como Deus que é, Ele é
primeiro apresentado aos homens neste mundo e também como Aquele em quem
as promessas a Israel se cumpririam. Então Ele é abertamente revelado como
uma Pessoa divina em quem os propósitos do Pai se cumpririam. Enquanto isso
os judeus são vistos como réprobos na posição que assumem.
O livro de Apocalipse apresenta o governo de Deus sobre este mundo, em
conexão com a responsabilidade que decorre desse governo nas relações com o
Deus que Se revelou e o estabeleceu.
Os escritos de Paulo mostram a aceitação e o lugar concedidos ao homem diante
de Deus por meio da redenção, a nova criação, e a assembleia -- o mistério de
Deus -- em conformidade com os conselhos de Deus. Todavia são encontrados
vários assuntos conectados a estes em vários lugares das epístolas, e cada
desenvolvimento desses assuntos individualmente esclarece o resto das epístolas.
Podemos acrescentar que os escritos de João tratam particularmente da
manifestação de Deus e da vida divina, primeiro em Cristo e depois no homem
que é renascido, mostrando a ligação entre as duas coisas. Os escritos de Pedro,
que falam da peregrinação do cristão, são fundamentados na ressurreição de
Cristo e no governo moral do mundo.
A verdade resplandece em uma vivida manifestacao de Deus e em vivificante aplicação aos homens Todavia, volto a dizer que tanto na Pessoa de Cristo como nas comunicações
feitas pelo Espírito Santo (sendo a vida de Cristo, de um modo ou de outro, a luz
dos homens), a verdade resplandece na vívida manifestação de Deus, e em sua
vivificante aplicação aos homens. E, em conformidade com a sabedoria de Deus,
ela está associada ao desenrolar progressivo [1] inerente à verdade quando esta é
comunicada ao homem, e é adaptada às capacidades espirituais dos homens, aos
quais ela foi dirigida, e às suas necessidades específicas.
[1] Deve ficar bem entendido que falo aqui da verdade revelada no Novo
Testamento. A sua comunicação, nesta revelação, foi ficando cada vez mais clara
após a descida do Espírito Santo, o que ocorreu depois de o Senhor ter sido
glorificado. Ao falar da natureza do próprio Deus, o apóstolo podia dizer que o
"mandamento novo... é verdadeiro nEle [Cristo] e em vós; porque vão passando
as trevas, e já a verdadeira luz ilumina" (1 Jo 2:8). Trata-se de um Cristo que é a
sabedoria de Deus. "Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade" Cl
2:9. Toda a plenitude aprouve habitar nEle. Ele santificou-Se a Si mesmo para
que pudéssemos ser santificados por meio da verdade. O Espírito Santo, ao
receber todas as coisas que são de Cristo as revelou aos apóstolos e os guiou a
toda a verdade. Agora todas as coisas que o Pai possui são de Cristo, por isso Ele
disse que o Espírito Santo iria receber do que é dEle e lhes mostraria (Jo 16:13-
15).Sendo assim a questão se algo mais seria acrescentado depois fica resolvida.
Acaso pode existir qualquer coisa maior que "toda a plenitude da divindade" (Cl
2:9)? Mais do que "tudo quanto o Pai tem" (Jo 16:15)? Mais claro que a
"verdadeira luz" (1 Jo 2:8)? Mas é isso que é revelado. Se pensarmos no homem,
cujas ideias se originam em si mesmo, como se fosse uma aranha que desenrola
sua teia a partir de seu próprio fio, não há dúvida de que poderíamos pensar em
um desenvolvimento. Mas naquilo que concerte à revelação de Cristo, pela
dádiva da verdadeira luz que já veio, Cristo não pode ser mais do que já é. Além
disso, é certo que não encontraremos coisa alguma boa fora de "tudo quanto o Pai
tem" (Jo 16:15). É isto o que possuímos por revelação. O desenrolar inerente à
comunicação da verdade ao homem depende da capacidade de recepção deste
(nisto sim há um desenvolvimento para cada um de nós). Depende também da
manifestação de Cristo, desde o tempo de João Batista até Sua completa
revelação pelo Espírito Santo -- uma revelação que temos no Novo Testamento.
Nenhuma tradição poderá acrescentar coisa alguma à revelação daquilo que
Cristo é. Nenhum acréscimo pode nos dar uma nova verdade acerca de Sua
plenitude. Isso já é tudo, portanto as vãs pretensões do homem são anuladas.
Não há dúvida de que as revelações do Novo Testamento são para os santos de
todas as épocas, mas historicamente falando elas foram endereçadas aos homens
vivos e adaptadas às suas condições. Mas esta circunstância de maneira nenhuma
enfraquece a verdade que é comunicada: ela é de Deus, como o próprio apóstolo
expressa: "Não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus; antes,
falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus" (2 Co
2:17). E também: "Não andando com astúcia nem falsificando a palavra de Deus;
e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus,
pela manifestação da verdade" (2 Co 4:2). Ele nada acrescenta a esse vinho puro;
ele não o adultera. Aquilo que lhe foi dado flui dele tão puro quanto o recebeu. [2]
[2] As afirmações de 1 Coríntios 2 são precisas neste sentido, e da maior
importância para nossos dias. "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não
ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os
que o amam [essa era a condição no Antigo Testamento], mas Deus no-las
revelou pelo seu Espírito" [isso é revelação]. "As quais também falamos, não
com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina"
[isso é a comunicação delas, a inspiração]. Em terceiro lugar, "elas se discernem
espiritualmente" [isso é a recepção delas]. A revelação, o testemunho inspirado e
a recepção disso por graça e poder do Espírito estão todas claramente afirmadas
aqui.
A Palavra de Deus: seu efeito e autoridade Mas a Palavra de Deus dirigida aos homens possui uma realidade ainda maior
que qualquer mera verdade abstrata: ela possui uma relação imediata com Deus.
Não temos nela as ideias dos homens a respeito de Deus; não temos os
raciocínios das mentes humanas, mesmo que sejam coerentes. Tampouco é ela a
verdade, como é em Deus, submetida de forma abstrata à capacidade dos homens
para que eles possam julgá-la. É Deus quem Se apresenta ao homem, quem fala a
ele, quem comunica os pensamentos que são só dEle. Pois se fosse para o homem
julgá-los, então não seriam as palavras de Deus proclamadas como tais.
"Havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus", diz o apóstolo, "a
recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como
palavra de Deus" (1 Ts 2:13).
O efeito produzido no homem -- o efeito que o leva a reconhecer a verdade e
autoridade da Palavra -- tem sido frequentemente confundido com um
julgamento humano a respeito da Palavra como algo que dependesse do homem.
A Palavra nunca pode apresentar-se assim. Isto seria negar sua própria natureza;
seria dizer que não é o meu Deus quem fala. Acaso poderia Deus dizer que não é
Deus? Já que isto seria impossível, então Ele não poderia se pronunciar e dizer
que a Sua Palavra não tem autoridade em si mesma.
A Palavra é adaptada à natureza do homem: A vida é a luz dos homens. Muitas
coisas fazem efeito conforme a natureza do que as recebe, sem julgá-las. É o que
acontece com toda ação química. Eu tomo um medicamento e experimento seu
efeito. Ele age de acordo com minha natureza. Assim fico convencido de seu
efeito e do poder daquele medicamento. Minha opinião a respeito do
medicamento não muda coisa, como se este estivesse sujeito ao meu julgamento.
Ocorre a mesma coisa, por meio da graça, com a revelação de Cristo, exceto pelo
fato de que o ímpio desejo do homem se opõe a ela e a rejeita, de forma que ela
se torna um "cheiro de morte para morte" (2 Co 2:16). A Palavra de Deus nunca
é julgada quando produz seu efeito; é ela que é apta para julgar "os pensamentos
e intenções do coração" (Hb 4:12). O homem não a julga; o homem se submete a
ela.
As circunstancias historicas ajudam muito a entender o que e' dito Quando o homem, por graça, recebe a Palavra da verdade, a qual chega até ele
neste caráter, ele está em condições de entender todos os seus aspectos com a
ajuda do Espírito Santo. Neste caso, as circunstâncias históricas das pessoas às
quais ela foi dirigida se tornam o meio para se compreender a intenção do
pensamento de Deus naquela porção da Palavra que está sendo considerada.
Como já vimos essas circunstâncias não afetam de maneira nenhuma a divina
pureza da Palavra. Mas, considerando que Deus fala aos homens de acordo com a
condição destes, essa condição, conforme é trazida diante de nós na própria
Palavra, é de grande ajuda na compreensão daquilo que é dito ali. Tal condição
só pode ser compreendida apenas pela Palavra e pela ajuda do Espírito Santo. Às
vezes é o efeito da maldade do coração humano; às vezes ela depende
parcialmente das dispensações de Deus.
A luz da Palavra ao alcance dos homens e aplicavel 'a condicao deles Todavia pode ocorrer de a graça se dirigir aos homens de acordo com a condição
deles [1], em conformidade com a fidelidade de Deus às Suas promessas, e em
conexão com os Seus caminhos, os quais Ele já lhes ensinou de antemão. Isto
não quer dizer que a luz que veio ao mundo seja embaçada ou diminuída para se
acomodar à escuridão. Se assim fosse, ela deixaria de ser a luz que é, e nem seria
capaz de levantar o homem, livrando-o da condição em que está. Mas ela é
comunicada de maneira que fique ao alcance dos homens e seja aplicável à
condição deles. Era o que eles precisavam; era o que estava à altura de Deus.
Somente Ele poderia fazê-lo.
Isto é igualmente verdade no que diz respeito aos assuntos que o Senhor trata e
são comunicados pelo Espírito Santo através dos apóstolos. O Senhor pode falar
aos judeus convertidos, porém ainda ligados ao sistema judaico, a fim de expor a
esse povo as intenções de Deus, o qual é sempre fiel às Suas promessas. Como
Ele pode também, depois de ter sido exaltado nas alturas, comunicar através do
Seu Espírito todas as consequências da união da igreja Consigo nos lugares
celestiais, independente dos desígnios de Deus para a terra.
Para os que estejam se alimentando de elementos mundanos e contrários àquilo
que é celestial e elevado -- aqueles que ainda não se apossaram daquilo que
poderia livrá-las dessa tendência carnal e mundana -- Ele pode expor as
evidências do mal em que estão embrenhados. Isso Ele pode fazer utilizando
meios que os façam voltar a agir em uníssono com as verdades eternas de Deus,
de modo a julgarem, ainda que de forma elementar, essa disposição carnal, a qual
é encontrada em todas as épocas naqueles que não se colocam no nível dos
propósitos de Deus.
Ou o Espírito pode revelar a verdade de uma forma mais simples, no patamar que
for mais adequado. Ele pode falar das características essenciais da natureza
divina, denunciando aquilo que, embora plausível, tente se passar por luz cristã,
mas que esteja pecando contra a própria natureza divina nas coisas mais básicas.
Ele faz isso para conectar as almas mais simples e imaturas às qualidades mais
elevadas do próprio Deus na essência de Sua natureza.
[1] É Deus vindo em graça em meio ao mal -- é a graça adaptada ao homem nessa
condição. Ela revela Deus como nada mais poderia fazê-lo, mas é adaptada ao
homem independente de quão mal ele seja; sim, tão mal quanto o próprio mal.
De maneira que, enquanto ela lhe dá aquilo que é puramente divino e celestial,
assim o faz em meio o mal aqui, e quanto maior este, mais ela se adapta. Isso, da
forma como opera -- o bem em meio ao mal -- é algo desconhecido em um
paraíso terrestre ou celestial, apesar de revelar Deus do modo como Ele será
conhecido nos céus. Os anjos almejam contemplar isso. Trata-se, mais ainda, de
soberania, graça e sabedoria, algo que o mero bem não pode ser, embora seja ele
o objetivo em sua forma mais elevada.
Darby Synopsis by J. N. Darby Tradução Mario Persona