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4º Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática 29, 30 de junho e 01 de julho de 2015 2690 In: Anais do Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 4º, 2015, Ilhéus, Anais..., Ilhéus, Bahia, Brasil. p.2690-2701. ISSN 2446-6336. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM: CONHECIMENTOS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA SOBRE SEU USO NO ENSINO DE COMBINATÓRIA Ana Paula Barbosa de Lima 1 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Rute Elisabete de Souza Rosa Borba 2 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE RESUMO Este é um recorte de uma dissertação que propôs investigar conhecimentos de professores da Educação Básica sobre como o Princípio Fundamental da Contagem (PFC) pode ser usado na resolução dos diferentes tipos de problemas combinatórios e na construção das fórmulas da Análise Combinatória. Foi realizada uma entrevista semiestruturada com professores, baseada nos tipos de conhecimento sugeridos por Ball, Thames e Phelps (2008) (conhecimento comum do conteúdo, conhecimento especializado do conteúdo, conhecimento horizontal do conteúdo, conhecimento do conteúdo e alunos, conhecimento do conteúdo e ensino e conhecimento do conteúdo e currículo). A coleta de dados foi realizada por meio de protocolos com situações combinatórias resolvidas por alunos. Estas situações envolveram os quatro tipos de problemas combinatórios (produto cartesiano, arranjo, permutação e combinação). Neste artigo foi analisado o conhecimento do PFC e ensino. Como principais resultados tem-se que, referente ao conhecimento do ensino, os professores não deixam claro como o uso de outras estratégias, tais como árvores de possibilidades, se relacionam com o PFC. Como os conhecimentos docentes do PFC para o ensino podem servir como base para um melhor desenvolvimento do ensino e da aprendizagem da Combinatória, é necessária uma ampliação dos conhecimentos dos professores referentes ao PFC como estratégia de resolução de situações combinatórias. Palavras chave: Princípio Fundamental da Contagem. Conhecimentos Docentes. Combinatória. 1 e-mail - [email protected] 2 e-mail [email protected]

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4º Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática

29, 30 de junho e 01 de julho de 2015

2690

In: Anais do Simpósio Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, 4º, 2015, Ilhéus, Anais..., Ilhéus, Bahia, Brasil. p.2690-2701. ISSN 2446-6336.

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM:

CONHECIMENTOS DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA SOBRE SEU USO NO

ENSINO DE COMBINATÓRIA

Ana Paula Barbosa de Lima1

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Rute Elisabete de Souza Rosa Borba2

Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

RESUMO

Este é um recorte de uma dissertação que propôs investigar conhecimentos de professores da Educação Básica sobre como o Princípio Fundamental da Contagem (PFC) pode ser usado na resolução dos diferentes tipos de problemas combinatórios e na construção das fórmulas da Análise Combinatória. Foi realizada uma entrevista semiestruturada com professores, baseada nos tipos de conhecimento sugeridos por Ball, Thames e Phelps (2008) (conhecimento comum do conteúdo, conhecimento especializado do conteúdo, conhecimento horizontal do conteúdo, conhecimento do conteúdo e alunos, conhecimento do conteúdo e ensino e conhecimento do conteúdo e currículo). A coleta de dados foi realizada por meio de protocolos com situações combinatórias resolvidas por alunos. Estas situações envolveram os quatro tipos de problemas combinatórios (produto cartesiano, arranjo, permutação e combinação). Neste artigo foi analisado o conhecimento do PFC e ensino. Como principais resultados tem-se que, referente ao conhecimento do ensino, os professores não deixam claro como o uso de outras estratégias, tais como árvores de possibilidades, se relacionam com o PFC. Como os conhecimentos docentes do PFC para o ensino podem servir como base para um melhor desenvolvimento do ensino e da aprendizagem da Combinatória, é necessária uma ampliação dos conhecimentos dos professores referentes ao PFC como estratégia de resolução de situações combinatórias.

Palavras chave: Princípio Fundamental da Contagem. Conhecimentos Docentes. Combinatória.

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A COMBINATÓRIA E O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM

A Análise Combinatória, segundo Morgado, Carvalho, Carvalho e Fernandez

(1991, p. 2) é a parte da Matemática em que se analisam as estruturas e relações

discretas, apresentando, frequentemente, dois tipos de problemas em seu estudo.

São eles: "1) Demonstrar a existência de subconjuntos de elementos de um conjunto

finito dado e que satisfazem certas condições; e 2) Contar ou classificar os

subconjuntos de um conjunto finito e que satisfazem condições dadas".

A combinatória nos permite quantificar conjuntos ou subconjuntos de objetos ou de situações, selecionados a partir de um conjunto dado, ou seja, a partir de determinadas estratégias ou de determinadas fórmulas, pode-se saber quantos elementos ou quantos eventos são possíveis numa dada situação sem necessariamente ter que contá-los um a um. (PESSOA E BORBA, 2009, p. 3)

Os diferentes tipos de problemas combinatórios que são estudados no Ensino

Médio são os que envolvem os conceitos de arranjos, combinações, permutações.

Além desses três tipos, Pessoa e Borba (2007) ressaltam que há também problemas

de produto cartesiano, os quais são explicitamente trabalhados desde os anos

iniciais do Ensino Fundamental. Estes diferentes problemas apresentam

características que permitem sua distinção e possuem uma forma de organizar o

raciocínio combinatório empregado em sua resolução. Segundo Borba (2013, p. 4),

Produto cartesiano: são determinados a partir da escolha de elementos de

diferentes conjuntos;

Arranjo: os elementos são escolhidos a partir de um conjunto único, mas nem

todos os elementos constituem as possibilidades a serem enumeradas, neste

caso a ordem dos elementos escolhidos indica possibilidades distintas;

Combinação: são escolhidos alguns elementos de um conjunto único e a

ordem em que os elementos aparecem não indica possibilidades distintas.

Permutação: todos os elementos do conjunto dado são utilizados em distintas

ordens.

O estudo da Combinatória é indicado pelos Parâmetros Curriculares

Nacionais - PCN (BRASIL, 1997) desde os anos iniciais do Ensino Fundamental sem

a identificação do tipo de problema trabalhado. Para os anos finais do Ensino

Fundamental, os PCN (BRASIL, 1998) recomendam que se trabalhe estes

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Princípio fundamental da contagem: conhecimentos de professores de Matemática sobre seu uso no ensino de combinatória.

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problemas com números um pouco maiores que os estudados nos anos iniciais para

que os estudantes percebam o Princípio Fundamental da Contagem (PFC) implícito

nestes problemas. Desta forma, a Combinatória será trabalhada de forma mais

aprofundada no Ensino Médio e é nessa continuidade que os conceitos

combinatórios podem ser tratados de uma forma mais sistemática e generalizada.

Uma outra orientação dada pelos Parâmetros para a Educação Básica de

Pernambuco (PERNAMBUCO, 2013, p. 195), é que no Ensino Médio "o estudo da

Análise Combinatória deve possibilitar que o estudante amplie, aprofunde e

formalize seus conhecimentos sobre o raciocínio combinatório adquirido ao longo do

Ensino Fundamental".

Além destes documentos, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio

(BRASIL, 2002), e os Parâmetros para a Educação Básica de Pernambuco

(PERNAMBUCO, 2013) desaconselham o ensino de Combinatória apenas com o

uso de fórmulas. Eles indicam que as mesmas devem ser consequência do

raciocínio combinatório desenvolvido pelos estudantes e, também, para simplificar

cálculos quando os problemas apresentarem dados muito grandes.

A Combinatória e o Princípio Fundamental da Contagem

Os Guias PNLD para o Ensino Médio (BRASIL, 2011, 2014) referem-se à

Combinatória como se tratando de um tema clássico no ensino da Matemática,

porém sua renovação nos livros didáticos do Ensino Médio tem ocorrido de forma

lenta. Um dos poucos avanços observados, segundo o PNLD (BRASIL, 2011, p. 29),

nas coleções aprovadas é a introdução do Princípio Fundamental da Contagem

(PFC), "com o qual é possível obter técnicas básicas e muito eficientes de

contagem". Entretanto, após a introdução do PFC, muitas destas coleções

abandonam esta estratégia e voltam a utilizar o método tradicional baseado no uso

de fórmulas para o ensino de arranjos, permutações e combinações. Conforme

Maher, Powell e Uptegrove (2011), a introdução do PFC em problemas de contagem

é uma ideia chave na Análise Combinatória. Tornando-o, assim, elemento

fundamental para o ensino da Combinatória.

O Princípio Fundamental da Contagem (PFC), ou princípio multiplicativo é

enunciado, segundo Lima (2006, p. 125), como, “Se uma decisão D1 pode ser

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tomada de p modos e, qualquer que seja esta escolha, a decisão D2 pode ser

tomada de q modos, então o número de maneiras de se tomarem consecutivamente

as decisões D1 e D2 é igual a pq”. É preciso salientar, ainda que, o princípio pode ser

ampliado para outras decisões, como D3 (tomado a r modos), D4 (tomado a s

modos), D5 (tomado a t modos) e assim por diante. Desse modo, o número de

maneiras de se tomarem consecutivamente as decisões D1, D2, D3, D4 e D5 seria,

portanto, p.q.r.s.t.

O PFC pode ser aplicado aos diferentes tipos de problemas combinatórios

(produtos cartesianos, arranjos, combinações e permutações) trabalhados em

turmas de Matemática da Educação Básica, e pode servir de base para a construção

das fórmulas usualmente empregadas na resolução destes problemas. Isso vai de

acordo com Pessoa e Borba (2009), que afirmam que o PFC é entendido como um

princípio implícito na resolução de todos os tipos de problemas combinatórios. Para

Borba e Braz (2012) o PFC é uma estratégia válida, também, para problemas que

apresentem condições para sua resolução visto que, a aplicação direta da fórmula

nem sempre é válida para estes casos.

No Quadro 1, Lima (2015) apresenta como os problemas combinatórios

trabalhados na Educação Básica podem ser representados a partir do uso do PFC

para sua resolução.

De acordo com Lima (2014, p. 5) "É preciso, entretanto, que professores

tenham conhecimento de como o PFC pode ser utilizado para a resolução de

distintas situações Combinatórias e como este princípio é base das fórmulas". É

preciso então, investigar os conhecimentos que professores de Matemática têm de

Combinatória, tanto em sua formação inicial quanto na continuada. Acredita-se,

assim, que estes conhecimentos podem, de forma direta, influenciar o modo como a

Combinatória é trabalhada em sala de aula.

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Quadro 1 Representação de situações combinatórias por meio do PFC.

TIPO PROBLEMAS REPRESENTAÇÃO USANDO O PFC

PR

OD

UT

O

CA

RT

ES

IAN

O

Joaquim foi à livraria comprar seu material escolar. Para montar seu kit a livraria lhe ofereceu: 3 modelos de caderno, 4 modelos de lápis, 8 modelos de borracha e 2 modelos de caneta azul. De quantas formas diferentes Joaquim pode montar seu kit?

AR

RA

NJ

O

Na final do campeonato de judô, 5 meninas estão disputando os 3 primeiros lugares do torneio. De quantas formas diferentes podemos ter os três primeiros colocados?

PE

RM

UT

ÃO

De quantos modos distintos 5 pessoas podem se posicionar em um banco de 5 lugares?

CO

MB

INA

ÇÃ

O

Um técnico tem que escolher, dentre 12 atletas, 5 para compor a equipe titular de um time de basquete. Qual o total de possibilidades que o técnico tem para montar sua equipe?

AR

RA

NJO

CO

ND

ICIO

NA

L

Ana, Julia, Marcos, Pedro e Laís estão participando de uma corrida. De quantos modos diferentes podemos ter os 3 primeiros colocados se Julia sempre chegar em primeiro lugar?

CO

M B

INA

ÇÃ

O

CO

ND

ICIO

NA

L

Marta precisa escolher entre seus 8 amigos (Tiago, Simone, Daniele, Jéssica, Pedro, Amanda, Rafael e Felipe), 4 para ir ao cinema com ela. De quantas formas diferentes Marta pode escolher esses três amigos desde que Jéssica sempre esteja entre os escolhidos?

Fonte: LIMA (2015)

CONHECIMENTO DE PROFESSORES

Ball, Thames e Phelps (2008), ao investigarem o conhecimento matemático

para o ensino, propuseram tipos de conhecimentos docentes, a partir das categorias

do conhecimento do conteúdo e do conhecimento pedagógico do conteúdo

propostos por Shulman (1987). Estes conhecimentos, propostos por Ball, Thames e

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Phelps, originam-se da prática do professor de Matemática na sala de aula. Os

domínios de conhecimentos propostos são os que seguem.

Do conhecimento do conteúdo, os tipos definidos foram:

1. Conhecimento comum do conteúdo (em inglês: common content knowledge),

definido como habilidade matemática usada em uma ampla variedade de

configurações e que não é exclusivo para o ensino;

2. Conhecimento especializado do conteúdo (em inglês: specialized content

knowledge), conhecimento e habilidade matemática usada exclusivamente

para o ensino;

3. Conhecimento horizontal do conteúdo (em inglês: horizon content knowledge),

definido como o conhecimento de como os temas matemáticos estão

relacionados e a previsão de aprofundamento destes conteúdos com o

avançar da escolaridade.

Do conhecimento pedagógico do conteúdo, os tipos definidos foram:

1. Conhecimento do conteúdo e alunos (em inglês: knowledge of content and

students), combina o conhecimento da Matemática e o conhecimento sobre o

aluno;

2. Conhecimento do conteúdo e ensino (em inglês: knowledge of content and

teaching), definido como o conhecimento do conteúdo matemático com a

compreensão pedagógica para o ensino deste conteúdo;

3. Conhecimento do conteúdo e currículo (em inglês: knowledge of content and

curriculum), definido como o conhecimento que o professor precisa ter sobre

os materiais e programas curriculares.

A partir desta categorização procura-se identificar quais destes tipos de

conhecimentos são mobilizados ao analisar situações de resolução de problemas

Combinatórios com o PFC como principal estratégia de resolução. Entretanto, neste

texto, fazemos um recorte e analisaremos apenas o conhecimento do PFC e ensino.

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MÉTODO

Com o objetivo geral de Investigar conhecimentos de professores sobre

o Princípio Fundamental da Contagem (PFC) na resolução de problemas

combinatórios e na construção de fórmulas, foi feita uma entrevista semiestruturada

com três professores de Matemática que atuavam em turmas do 6º ao 9º dos anos

finais do Ensino Fundamental e em turmas do Ensino Médio.

Além da formação em Matemática, outro critério para escolha dos

participantes, era de que os mesmos estivessem lecionando Matemática há no

mínimo cinco anos. Assim, acredita-se que os participantes já teriam uma base de

conhecimentos desenvolvida em sua prática de ensino. A entrevista foi dividida em

três momentos com objetivos distintos. Na primeira fase foram levantadas questões

relativas à formação inicial e continuada e também a experiência docente dos

participantes da pesquisa.

Na segunda fase foi investigado o conhecimento mobilizado pelos professores

ao serem questionados sobre o uso do Princípio Fundamental da Contagem (PFC)

na resolução de situações combinatórias. Para este momento foram apresentados

protocolos de diferentes situações combinatórias com respostas e/ou justificativas

incorretas usadas por estudantes, como, por exemplo, a Figura 2. Dessa forma,

acredita-se que professores poderiam diferenciar os diferentes tipos de problemas

combinatórios e também expor seus conhecimentos sobre o PFC como estratégias

na resolução destes problemas.

Figura 1 Exemplo de justificativa incorreta quanto ao uso do PFC na resolução de um

problema de produto cartesiano.

Fonte: Silva, Pontes e Teixeira (2013).

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Na terceira fase foi feita uma investigação sobre os procedimentos formais da

Combinatória e sua relação com o PFC. Neste momento foram apresentados

situações combinatórios, sem a indicação do tipo de problema, seguidos pela

fórmula matemática de cada tipo de problema e pela resolução do aluno utilizando

como estratégia o PFC de maneira correta, como exemplificado na Figura 2 que

apresenta um problema do tipo combinação com sua fórmula matemática e a

resolução de um estudante usando o PFC.

Problemas 04 – Combinação Na seleção brasileira de Basquete, o técnico convocou 12 atletas. Sabendo que poderão ser formados diferentes grupos com 5 desses jogadores que irão compor a equipe titular, qual alternativa abaixo indica a operação necessária para obter o total de possibilidades?

Figura 2 Situações problema utilizados no terceiro momento da entrevista semiestruturada.

Fonte: Lima (2015).

A seguir, é feito um recorte nas análises que focam o conhecimento do PFC e

ensino quando o professor de Matemática é convidado a analisar questões sobre o

ensino da Combinatória quando os estudantes estão usando, ou não, o Princípio

Fundamental da Contagem (PFC) na resolução de se situações combinatórias.

RESULTADOS

Os professores quando se expressaram sobre procedimentos que podem

elucidar dúvidas dos alunos durante a resolução de problemas combinatórios,

trouxeram afirmações que evidenciam seus conhecimentos referentes ao ensino da

Combinatória. Na Figura 3 pode-se observar como o professor mobiliza

conhecimentos sobre o ensino ao analisar a resolução de um estudante de um

problema envolvendo o PFC.

Exemplo de fórmula

matemática.

Exemplo de estratégia usando o PFC. Fonte: Azevedo, Assis, Borba e Pessoa 2013)

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Figura 3 Exemplo de resolução de um aluno, de problema de produto cartesiano, analisado

pelos professores.

Fonte: Silva, Pontes e Teixeira (2013).

P1_ Mas é, seria também, usar uma árvore de possibilidades, depois ele perceber o princípio multiplicativo. Agora ficaria bem cheia de ramos.

P2_ É um problema de contagem (né) isso, que você pode utilizar o princípio multiplicativo para contar e fazer árvore também das possibilidades.

Os professores indicam que no ensino da Combinatória um possível caminho

seria o uso de árvores de possibilidades para, a partir desta representação, chegar-

se ao princípio multiplicativo. Apesar de ser uma boa sugestão, os professores

entrevistados não evidenciam como pode ser feita essa transição entre duas

diferentes representações (árvore de possibilidades e PFC).

Outro ponto observado na discussão entre o entrevistador (E) os professores

diz respeito à maneiras de auxiliar os estudantes na resolução de situações

combinatórias.

E_ Como você auxiliaria o aluno a compreender este problema?

P1_ Primeiro perguntaria quais são estas possibilidades pra depois ver qual o total, ai dava pra ele visualizar que é um produto de multiplicações.

P1_ A questão seria trabalhar com quadros de (...) casas de possibilidades. Porque daria pra ele ver/identificar realmente (...) é porque todas elas, pelo menos as três, resolve com o princípio multiplicativo, mas ai teria que (...) a árvore de possibilidades ia chegar o momento que dificultaria a 4ª questão ficaria muito extensa, mas ai com o quadro de posição ele compreenderia.

P2_ Eu sempre tento fazer, também com poucos, poucos resultados e que ele faça uma comparação entre a leitura direta, a contagem direta, e a contagem

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indireta. Então, pra ele entender cada passo do que ele tá fazendo.

P3_ Às vezes você (...) pega os números que são grandes, que na cabeça deles talvez seja muito longe a relação de você diminuir aquela quantidade. Parece que o entendimento dele ficaria mais claro.

Estas são intervenções que o professor pode fazer em sala de aula para a

superação de dificuldades enfrentadas pelos estudantes ao resolverem situações

combinatórias. Os professores destacam como os diferentes problemas podem ser

beneficiados de representações simbólicas específicas. No caso, por exemplo, de

um problema com muitas possibilidades, sugere-se que a árvore de possibilidades

não seja uma boa alternativa de representação.

Sobre o uso de métodos e técnicas para o ensino da Combinatória, as

vantagens e desvantagens do uso do PFC e para esclarecer uma situação

combinatória ao aluno, os professores também mobilizam questões relacionadas ao

conhecimento do PFC e ensino. Isto ocorreu com mais frequência quando os

professores faziam uma análise para todos os conceitos que são trabalhados no

estudo da Combinatória em turmas de Matemática da Educação Básica. Os

Professores P1 e P2 demonstraram acreditar que o trabalho com o PFC é

importante para o ensino/aprendizagem da Combinatória e que, a partir dele, o aluno

conseguirá avançar no desenvolvimento de seu raciocínio combinatório.

P1_ Mas, mesmo no Ensino Médio dá pra dispensar a fórmula. O raciocínio multiplicativo já dá conta.

P2_ Então, acredito que esse método, se ele entender isso, a fórmula, a diferenciação dos agrupamentos não seria mais um problema pra ele.

Já P3 acredita que mesmo usando o PFC em todos os problemas, este não

seja a única estratégia que pode ser usada na resolução dos diferentes conceitos

trabalhados na Combinatória.

P3_ Não existe uma estratégia que resolva o todo [né?].

P3_ Cada contexto tá inserido na (...) pede uma solução diferente.

Concluí-se então, que no conhecimento do PFC e ensino, os professores

entrevistados apontam a árvore de possibilidades como uma alternativa para

resolução do problema, porém não deixam claro como o uso desta e de outras

estratégias podem se relacionar com o PFC. Outra indicação é que os professores

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sugerem a apresentação de problemas com quantidades menores a serem

encontradas para que os alunos possam, aos poucos, ir desenvolvendo o raciocínio

combinatório necessário para resolução dos diferentes problemas estudados na

Educação Básica. Dessa forma, os conhecimentos docentes do PFC para o ensino

podem servir como base para um melhor desenvolvimento do ensino e da

aprendizagem da Combinatória, é necessária, então, uma ampliação dos

conhecimentos dos professores referentes ao PFC como estratégia de resolução de

situações combinatórias.

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