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feam Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Fundação Estadual do Meio Ambiente Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Gerência de Produção Sustentável Plano de Ação para Adequação Ambiental e Energética das Indústrias de Cerâmica Vermelha no Estado de Minas Gerais FEAM - DPED - GPROD - RT 01/2012

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Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Fundação Estadual do Meio Ambiente

Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Gerência de Produção Sustentável

Plano de Ação para Adequação Ambiental e Energética das Indústrias de Cerâmica Vermelha no Estado de Minas Gerais

FEAM - DPED - GPROD - RT 01/2012

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Fundação Estadual do Meio Ambiente

Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento Gerência de Produção Sustentável

Plano de Ação para Adequação Ambiental e Energética das Indústrias de Cerâmica Vermelha no Estado de Minas

Gerais

FEAM - DPED - GPROD - RT 01/2012

Belo Horizonte Junho 2012

© 2012 Fundação Estadual do Meio Ambiente

Governo do Estado de Minas Gerais

Antônio Augusto Junho Anastasia

Governador

Sistema Estadual do Meio Ambiente – Sisema

Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável -

Semad

Adriano Magalhães Chaves

Secretário

Fundação Estadual do Meio Ambiente - Feam

Ilmar Bastos Santos

Presidente

Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento

Janaína Maria França dos Anjos

Diretora

Gerência de Produção Sustentável

Antônio Augusto Melo Malard

Gerente

Elaboração:

Antônio Augusto Melo Malard – Gerente de Produção Sustentável

Deborah Cristina Fernandes Lima – Bolsista FAPEMIG

Ficha catalográfica elaborada pelo Núcleo de Documentação Ambiental

F981p Fundação Estadual do Meio Ambiente.

Plano de ação para adequação ambiental e energética das

indústrias de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais /

Fundação Estadual do Meio Ambiente. --- Belo Horizonte: FEAM,

2012. 142 p. ; il.

FEAM - DPED - GPROD - RT 01/2012.

1. Indústria de cerâmica vermelha. 2. Cerâmica vermelha –

processo produtivo. 3. Cerâmica vermelha – aspectos ambientais.

I. Título. CDU: 666.3:504.064

i

LISTA DE FIGURAS

Figura 2-1 - Distribuição das empresas por região (%) .......................................................... 9 Figura 2-2 – Principais pólos cerâmicos no Brasil ................................................................10 Figura 2-3 – Distribuição das cerâmicas vermelhas no Estado de Minas Gerais ..................12 Figura 2-4 – Distribuição das cerâmicas vermelhas por SUPRAMs......................................13 Figura 2-5 – Distribuição das cerâmicas vermelhas no Estado de Minas Gerais por zoneamento .........................................................................................................................14 Figura 2-6 – Amassamento da argila utilizando força motriz animal .....................................17 Figura 2-7 – Produção média de peças nas cerâmicas vermelhas do Estado de Minas Gerais ..................................................................................................................................18 Figura 2-8 – Distribuição média dos custos de produção da indústria de cerâmica vermelha .............................................................................................................................................22 Figura 2-9 - Depósito de argila .............................................................................................24 Figura 2-10 - Distribuição das principais bacias sedimentares brasileiras, portadoras de depósitos de argila para uso em cerâmica vermelha ............................................................26 Figura 2-11 – Porcentagens dos combustíveis utilizados na queima de produtos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais ...................................................................................34 Figura 2-12 – Alimentador de pó de serragem e cavaco ......................................................35 Figura 2-13 - Esquema do coletor de pó de balão para limpeza do gás de topo do alto-forno .............................................................................................................................................41 Figura 2-14 – Dosador de pó de balão .................................................................................44 Figura 2-15 – Depósito de pó de balão a céu aberto sem nenhum controle .........................45 Figura 2-16 – Depósito de pó de balão coberto e impermeabilizado ....................................45 Figura 2-17 - Fluxograma do processo produtivo de cerâmica vermelha ..............................47 Figura 2-18 - Depósito de argila extraído manualmente .......................................................48 Figura 2-19 – Depósito de argila extraído com auxílio de máquinas .....................................48 Figura 2-20 – Extração de areia por meio de draga ..............................................................49 Figura 2-21 - Misturador .......................................................................................................52 Figura 2-22 – Cortador automático .......................................................................................54 Figura 2-23 – Formas de secagem de produtos cerâmicos utilizadas em Minas Gerais .......56 Figura 2-24 - Vista de secagem natural realizada sob lonas ................................................57 Figura 2-25 – Secagem de peças em galpão com utilização de ventiladores .......................57 Figura 2-26 - Secagem natural a céu aberto ........................................................................58 Figura 2-27 - Vista interna de um secador tipo túnel ............................................................60 Figura 2-28 – Ventilador na boca de um forno abóboda .......................................................63 Figura 2-29 - Vista de uma caieira ........................................................................................64 Figura 2-30 – Forno Tatu ou paulistinha ou retangular .........................................................67 Figura 2-31 – Forno Abóboda ou redondo ............................................................................67 Figura 2-32 – Forno Vagão ..................................................................................................68 Figura 2-33 - Forno Túnel .....................................................................................................68 Figura 2-34 – Forno hoffmann ..............................................................................................69 Figura 2-35 – Distribuição de tipo de fornos por empreendimentos do Estado de Minas Gerais ..................................................................................................................................69 Figura 2-36 – Aplicação de resina em telhas no município de Monte Carmelo .....................70 Figura 2-37 - Ensaios de resistência, absorção de água e granulometria .............................70 Figura 2-38 - Estocagem de tijolos .......................................................................................71 Figura 3-1 - Vista do lavador de gases instalado no prolongamento da chaminé do forno de olaria ....................................................................................................................................75 Figura 3-2 – Geração de resíduos na fabricação de cerâmica ..............................................79 Figura 3-3 - Material cru fora de conformidade .....................................................................80 Figura 3-4 - Tijolos quebrados ..............................................................................................81 Figura 3-5 - Armazenamento de cinzas em caçambas .........................................................82 Figura 3-6 – Vista de uma empresa sem delimitação na área de seu forno, com armazenamento de lenha no sistema viário do município ....................................................86

ii

Figura 4-1 – Distribuição dos empreendimentos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais por classe e código conforme a DN COPAM nº 74/2004...........................................91 Figura 4-2 – Distribuição dos empreendimentos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais por licenciamento ......................................................................................................92 Figura 4-3 – Distribuição dos empreendimentos de extração de argila em Minas Gerais por licenciamento .......................................................................................................................94 Figura 5-1 – Extração manual de argila em área de várzea .................................................99 Figura 5-2 – Distribuição do consumo mensal de argila por porcentagem de empreendimentos no Estado de Minas Gerais ................................................................... 102 Figura 5-3 – Depósito de tijolos queimados com piso irregular, a céu aberto ..................... 109 Figura 5-4 – Armazenamento de tijolos crus em piso concretado e sem obstruções .......... 109 Figura 5-5 – Disposição de cacos de tijolos em talude, com ocorrência de carreamento para via de trânsito ..................................................................................................................... 111 Figura 5-6 – Disposição de cacos de tijolos em bota-fora ................................................... 111 Figura 5-7 – Armazenamento de cinzas sem controle ........................................................ 113 Figura 5-8 – Emissão atmosférica em chaminé de um forno de cerâmica vermelha .......... 114 Figura 5-9 – Emissão atmosférica em forno tipo caieira ..................................................... 115

iii

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Principais municípios mineiros produtores de cerâmica vermelha ...................11 Tabela 2.2.- Características do setor de cerâmica vermelha no Brasil .................................15 Tabela 2.3 – Correlação entre a tecnologia de processo e taxa de produtividade ................18 Tabela 2.4 - Produção brasileira de cerâmica vermelha (109 peças) ....................................19 Tabela 2.5 – Distribuição da produção brasileira por região em 2008 (mil milheiros/mês) ....19 Tabela 2.6 - Preços dos produtos fabricados em Minas Gerais nos anos de 2010 e 2011 ...20 Tabela 2.7- Consumo de energia pelo setor cerâmico no Brasil por ano (%) .......................33 Tabela 2.8 – Consumo de energia elétrica no setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais ........................................................................................................................37 Tabela 2.9 - Composição do pó de balão de uma siderúrgica não-integrada a carvão vegetal .............................................................................................................................................42 Tabela 3.1 - Fator de emissão de poluentes atmosféricos para queima de carvão e lenha ..73 Tabela 3.2 - Índice de qualidade do ar por poluente .............................................................76 Tabela 5.1 – Consumo médio dos principais insumos energéticos utilizados em Minas Gerais por produção de cerâmica vermelha ....................................................................... 105 Tabela 5.2 – Poder Calorífico Inferior de combustíveis....................................................... 106 Tabela 5.3 – Fatores de oxidação para alguns combustíveis ............................................. 118 Tabela 5.4 – Fatores de emissão para alguns combustíveis segundo o IPCC ................... 118 Tabela 5.5 - Fatores de emissão sugeridos para consumo de carbonatos ......................... 120

iv

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1 2 PANORAMA GERAL DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA ............................. 5

2.1 Histórico da produção de cerâmica vermelha .......................................................... 5 2.1.1 História da cerâmica vermelha no mundo ........................................................ 5 2.1.2 História da cerâmica vermelha no Brasil .......................................................... 7

2.2 Perfil da indústria de cerâmica vermelha no Brasil e em Minas Gerais ................... 8 2.2.1 Localização do parque industrial ...................................................................... 8 2.2.2 Características do setor ..................................................................................14

2.3 O processo produtivo de cerâmica vermelha .........................................................23 2.3.1 Matérias primas e insumos .............................................................................24

2.3.1.1 Argila ........................................................................................................24 2.3.1.2 Água ........................................................................................................31 2.3.1.3 Insumos energéticos ................................................................................32

a) Lenha ..............................................................................................................34 b) Pó de serragem, cavaco e pallets de madeira .................................................35 c) Energia Elétrica ...............................................................................................36 d) Óleo Combustível ............................................................................................37 e) Gás Natural .....................................................................................................37 f) GLP – Gás Liquefeito de Petróleo ...................................................................38 g) Carvão Mineral / coque ...................................................................................38 h) Palha de café, bagaço de cana, sabugo de milho e outras fibras ....................39

2.3.1.4 Incorporação de resíduos .........................................................................39 a) Pó de balão .....................................................................................................41

2.3.2 Descrição do processo industrial .....................................................................46 2.3.2.1 Extração ...................................................................................................48 2.3.2.2 Preparação da massa cerâmica ...............................................................49

a) Sazonamento ..................................................................................................50 b) Mistura e Homogeneização .............................................................................50 c) Conformação ..................................................................................................52

2.3.2.3 Tratamento Térmico .................................................................................55 a) Secagem .........................................................................................................55 Secagem natural .........................................................................................56 Secagem artificial ........................................................................................58

b) Queima ...........................................................................................................60 Fornos .........................................................................................................63

2.3.2.4 Acabamento .............................................................................................70 2.3.2.5 Inspeção ..................................................................................................70 2.3.2.6 Estocagem ...............................................................................................71 2.3.2.7 Expedição ................................................................................................72

3 ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA FABRICAÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA .....................................................................................................73

3.1 Efluentes atmosféricos ...........................................................................................73 3.2 Resíduos sólidos ....................................................................................................77

3.2.1 Material cru fora de conformidade ...................................................................79 3.2.2 Quebras de produto final .................................................................................80 3.2.3 Cinzas .............................................................................................................81 3.2.4 Outros resíduos ...............................................................................................82

3.3 Efluentes líquidos ...................................................................................................83 3.4 Ruído .....................................................................................................................84 3.5 Impacto visual ........................................................................................................85 3.6 Impacto na extração da argila ................................................................................86

4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................................... 90 5 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO SETOR ........................................................................ 96

5.1 Extração da argila ..................................................................................................98 5.2 Recursos energéticos ........................................................................................... 103

v

5.3 Resíduos sólidos .................................................................................................. 108 5.4 Emissões atmosféricas ........................................................................................ 113

6 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 121 7 PLANO DE AÇÃO ...................................................................................................... 127 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 129 ANEXOS ............................................................................................................................ 135 ANEXO A - Check list aplicado nas visitas técnicas ..................................................... 136 ANEXO B - Localização das cerâmicas vermelhas de Minas Gerais por bacia hidrográfica ...................................................................................................................... 141 ANEXO C - Localização das cerâmicas vermelhas de Minas Gerais por SUPRAMs ... 142

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1

1 INTRODUÇÃO

A cerâmica pode ser tanto uma atividade artística, em que são produzidos artefatos com

valor estético, quanto uma atividade industrial em que são produzidos artefatos para uso

na construção civil e engenharia.

Atualmente, além de sua utilização como matéria-prima constituinte de diversos

instrumentos domésticos, da construção civil e como material plástico nas mãos dos

artistas, a cerâmica é também utilizada na tecnologia de ponta, mais especificamente na

fabricação de componentes de foguetes espaciais, justamente devido a sua durabilidade.

Dentro do setor de cerâmica existem as cerâmicas vermelhas que compreendem

aqueles materiais com coloração avermelhada empregados na construção civil (tijolos,

blocos, telhas, elementos vazados, lajes, tubos cerâmicos e argilas expandidas) e

também utensílios de uso doméstico e de adorno. Esse setor também contempla as

olarias que produzem tijolos comuns ou maciços, denominados “tijolinhos”. As olarias

são micro empresas, em geral com estrutura familiar e bastante arcaica.

A cerâmica vermelha é um segmento industrial de uso intensivo de mão de obra, em que

de um lado prevalecem as microempresas familiares com técnicas essencialmente

artesanais e, do outro, empresas de pequeno e médio porte que utilizam processos

produtivos tradicionais.

Dessa forma, os empreendimentos brasileiros são considerados tecnologicamente

atrasados ao serem comparados com o padrão produtivo empregado nos principais

países produtores. Entretanto, a necessidade de reverter esse quadro está levando

empresários a investir em tecnologias para melhorar a qualidade dos produtos e para

eliminar desperdícios no processo de produção.

A indústria de cerâmica caracteriza-se por duas etapas distintas: a primária, que envolve

a exploração e transporte da matéria prima e a de transformação para elaboração do

produto final. Independentemente de essas fases serem desempenhadas pelo mesmo

empreendimento, elas são diretamente interligadas e interferem no desempenho da

cadeia produtiva.

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O processo produtivo no interior de uma indústria de cerâmica vermelha é relativamente

simples, entretanto necessita de controle de qualidade. Caso uma das etapas seja mal

executada, influenciará na qualidade do produto final, conforme bastante detalhado

neste trabalho.

O setor ceramista vermelho se apresenta como um grande empregador, absorvendo

principalmente pessoas de baixa qualificação profissional. No país, o setor disponibiliza

aproximadamente 400 mil postos de trabalho, sendo que cerca de 30 mil, que representa

7,5% dos postos existentes no Brasil, referem-se a Minas Gerais, distribuídos em 626

empresas. Além disso, o setor de cerâmica vermelha responde por cerca de 0,4% do PIB

do país, valor equivalente a R$ 6,8 bilhões/ano. Estes fatos demonstram a importância

da atividade para a economia do Brasil e de Minas Gerais.

Por outro lado, a cerâmica vermelha promove a geração de passivos ambientais,

principalmente quanto à extração da argila, ao uso desta matéria prima não renovável, e

ao uso tradicional e intensivo de lenha como combustível. Entretanto, o uso de lenha

como combustível vem sendo substituído pela utilização de combustíveis alternativos

como o bagaço de cana, sabugo de milho e palha de café. Além disso, a maior parte da

lenha usada atualmente é oriunda do plantio de eucalipto.

A escolha do tema deveu-se à necessidade de se realizar um diagnóstico ambiental do

setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais, haja vista sua grande

importância na economia e cadeia produtiva da construção civil.

O trabalho está dividido em sete capítulos. O primeiro constituiu esta introdução. O

segundo capítulo apresenta um breve histórico da fabricação de cerâmica vermelha no

mundo e no Brasil, o perfil do setor em Minas Gerais, destacando a localização do pólo

produtor, sua relevância na economia estadual e a geração de empregos, as

características ambientais e os avanços tecnológicos de processo. Também nesse

capítulo é feita uma descrição detalhada do processo produtivo.

O terceiro capítulo destaca os impactos ambientais e as medidas mitigadoras. Também

são apresentados os principais equipamentos utilizados para o controle das emissões

atmosféricas e dos efluentes líquidos, assim como o princípio de funcionamento de cada

um deles, as ações de gerenciamento de resíduos sólidos industriais, com a

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caracterização e classificação dos resíduos, e a apresentação das tecnologias

disponíveis para aproveitamento desses resíduos, além dos impactos referentes à

extração da argila e referente a ruído.

No quarto capítulo é realizada uma análise da situação dos empreendimentos no Estado

de Minas Gerais, em relação ao licenciamento ambiental.

O quinto capítulo inicia-se com a descrição da metodologia aplicada no desenvolvimento

deste trabalho, a qual previu a revisão da literatura existente sobre o tema, o

levantamento de dados e informações junto ao acervo da FEAM e a pesquisa de campo,

realizada por meio de visitas técnicas às instalações industriais de cento e setenta e oito

cerâmicas vermelhas do Estado de Minas Gerais para aplicação de questionário padrão

(na forma de check list). Com esse universo de informações e dados, realizou-se uma

série de avaliações sobre as práticas de gerenciamento de resíduos sólidos, o controle

das emissões atmosféricas, os recursos energéticos e a extração de argila.

O check list contém inúmeras informações referentes ao processo produtivo, sistemas de

controle ambiental, resultados de automonitoramento, além das informações

administrativas. De maneira a complementar os dados coletados na pesquisa de campo,

foram levantadas informações nos arquivos da FEAM, por meio do Sistema Integrado de

Informação Ambiental (SIAM), no qual se tem acesso aos documentos que compõem os

processos de licenciamento ambiental.

O sexto capítulo destaca as principais evidências reveladas pela pesquisa, apresentando

conclusões para cada uma das avaliações realizadas.

O sétimo capítulo apresenta o Plano de Ação para adequação do setor no Estado de

Minas Gerais. Nele são abordados temas para desenvolvimento de trabalhos futuros,

pois, apesar da quantidade excessiva de dados compilados e analisados, referentes a

diversos assuntos, alguns deles necessitam ser mais detalhados, evidenciando uma

enorme gama de oportunidades para a realização de outros trabalhos.

Os dados obtidos na investigação realizada foram inseridos ao longo do trabalho, de

acordo com os temas abordados, de modo a facilitar a leitura. Dessa forma, já no

capítulo 2 esses dados são mencionados.

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Os principais objetivos deste trabalho foram a realização de um diagnóstico, seguido de

avaliação ambiental do setor de cerâmica vermelha e por fim elaboração de Plano de

Ação para adequação ambiental e energética.

Este trabalho também é um meio de apresentar às empresas do setor informações e

avaliações acerca das melhores tecnologias disponíveis para controle de impactos

ambientais, eficiência energética e tecnologias para produção sustentável e visa

incentivar os empreendimentos a se adequarem.

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2 PANORAMA GERAL DA INDÚSTRIA DE CERÂMICA VERMELHA

2.1 Histórico da produção de cerâmica vermelha

2.1.1 História da cerâmica vermelha no mundo

A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem, existindo a cerca de

dez a quinze mil anos. Do grego "kéramos”, "terra queimada" ou “argila queimada”, é um

material de imensa resistência, sendo freqüentemente encontrado em escavações

arqueológicas (SINDICATO DE CERÂMICA VERMELHA - SINDICER, 2011).

O emprego dos produtos cerâmicos, obtidos por meio do cozimento de argilas, primeiro

sob o sol e, posteriormente, em fornos, iniciou-se nos lugares onde havia escassez de

pedras, mas excesso de materiais argilosos. Em vista da facilidade de fabricação e

abundância da argila, os produtos cerâmicos tornaram-se logo essenciais na história das

civilizações.

Estudiosos confirmam que a cerâmica é a mais antiga tipologia industrial, tendo nascido

quando o homem começou a utilizar-se do barro endurecido pelo fogo. Esse processo de

endurecimento, obtido casualmente, multiplicou-se e evoluiu até os dias de hoje.

(SINDICER, 2011).

Quando o homem saiu das cavernas e se tornou um agricultor, passou a necessitar de

recipientes para armazenar água, alimentos colhidos e sementes para a próxima safra.

Tais recipientes deveriam ser resistentes ao uso, impermeáveis à umidade e de fácil

fabricação. Essas facilidades foram encontradas na argila, deixando pistas sobre

civilizações e culturas que existiram milhares de anos antes da Era Cristã.

Segundo Gomes (1983), por volta do ano 10.000 a.C., a alvenaria já era usada pelas

civilizações assíria e persa. Esses povos desenvolveram tijolos queimados ao sol como

material base para a construção. Com a evolução da tecnologia, em torno do ano 3.000

a.C. surgiram os primeiros tijolos de barro queimado em fornos, obtendo-se, assim, um

material mais resistente e mais durável.

Os procedimentos de mistura manual, construção manual e artesanato cerâmico datam

de épocas anteriores a 5.000 a.C. A primeira máquina modeladora de materiais argilosos

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foi provavelmente a roda oleira, que era usada antes de 3.500 a.C. Esta era usada para

lançar corpos de cerâmica plástica e, posteriormente, para torná-los mais secos e

rígidos. Outros procedimentos desenvolvidos em seguida foram a moldagem por

prensagem de barro em moldes aquecidos e a queima em forno fechado (REED, 1995).

A técnica construtiva em alvenaria de tijolos ou blocos cerâmicos remonta aos antigos

caldeus e assírios, que, em torno de 4.000 a.C., já usavam este material para erguer

suas casas e palácios (HOLLANDA, 1975, apud GRIGOLETTI, 2001).

As primeiras cerâmicas de que se tem notícia são da Pré-História: vasos de barro, sem

asa, que tinham cor de argila natural ou eram escurecidas por óxidos de ferro. A

cerâmica para construção e a cerâmica artística com características industriais só

ocorreu na antiguidade em grandes centros comerciais.

Durante a Era Cristã, a realização mais notável ocorreu na China, com o

desenvolvimento de porcelana branca com alta translucidez. As tentativas de reproduzir

esse tipo de material no Ocidente foram frustradas, até que, em 1708, um jovem

alquimista alemão, Friedrich Bottger, sob orientação do célebre físico Count von

Tschirnhaus, descobriu que porcelana fina poderia ser produzida pela queima de um

corpo contendo uma argila resistente ao fogo com materiais fusíveis. No século XVIII,

outras invenções incluíam o uso de formas, processos de criação de múltiplas peças

cerâmicas idênticas, uso de moldes de gesso, moldes porosos, uso de extrusão e

processo de queima em forno túnel (REED, 1995).

Na primeira metade do século XX, observou-se o rápido desenvolvimento de técnicas no

setor de cerâmica. A produção industrial tornou-se mecanizada e várias etapas

tornaram-se automatizadas. Termopares foram usados freqüentemente para monitorar a

temperatura durante a queima (REED, 1995).

Segundo Prudêncio Jr. (1986), em torno de 1880 foram realizados nos EUA os primeiros

ensaios com alvenaria de tijolos (Watertown Arsenal, Massachussets). Até essa data, os

experimentos estavam restritos a ensaios com tijolos isolados e com argamassas.

Entretanto, somente no ano de 1966 foi publicado o primeiro código normativo com

recomendações para construções em alvenaria de tijolos, denominado Recomended

Building Code Requirements for Engineering Brick Masonry (GOMES, 1983).

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A segunda metade do século XX foi testemunha de avanços importantes na síntese,

caracterização e fabricação de produtos cerâmicos. Atualmente, o setor se automatizou,

sendo usados computadores em toda a indústria para monitorar e controlar o manuseio

de matérias-primas e a preparação, fabricação e queima.

Contudo, com todo avanço tecnológico ocorrido no mundo, tanto os materiais de

processamento mais simples, desenvolvidos em épocas antigas a partir de materiais

naturais, quanto os materiais recentemente desenvolvidos, relativamente sofisticados e

dependentes de materiais sintéticos, são atualmente utilizados em grande escala.

2.1.2 História da cerâmica vermelha no Brasil

No Brasil, a cerâmica tem seus primórdios na Ilha de Marajó. A cerâmica marajoara tem

sua origem na avançada cultura indígena que floresceu na ilha. Contudo, estudos

arqueológicos indicam a presença de uma cerâmica ainda mais simples, encontrada na

região amazônica e datada de aproximadamente 5.000 anos atrás (SINDICER, 2011).

Portanto, a tradição ceramista não chegou ao Brasil com os portugueses ou na bagagem

cultural dos escravos. Os índios aborígenes já tinham firmado a cultura do trabalho em

barro quando Cabral aportou no país. Logo, os colonizadores portugueses não

trouxeram nada de novo ao instalar as primeiras olarias, tendo somente estruturado e

concentrado a mão de obra.

O rudimentar processo aborígene, no entanto, sofreu modificações com as instalações

de olarias nos colégios, engenhos e fazendas jesuítas; onde se produzia além de tijolos

e telhas, também louça de barro para consumo diário (SINDICER, 2011).

A introdução do uso do torno e das “rodadeiras”, parece ser a mais importante dessas

influências, que se fixou especialmente na faixa litorânea dos engenhos, nos povoados e

nas fazendas, permanecendo nas regiões interioranas as práticas manuais indígenas.

Com essa técnica passou a haver mais simetria na forma, maior perfeição no

acabamento e menor tempo de trabalho (SINDICER, 2011).

A partir de 1549, com a chegada de Tomé de Sousa ao país, a produção de material de

construção foi estimulada para o desenvolvimento de cidades mais bem planejadas e

elaboradas (SEBRAE, 2008).

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Em 1575, há indícios do uso de telhas na construção da vila que viria a se tornar a

cidade de São Paulo/SP. E foi a partir desse estímulo que se iniciou o desenvolvimento

da atividade cerâmica de forma mais intensa, sendo as olarias o marco inicial da

indústria em São Paulo. Em 1893, também em São Paulo, foi fundada a primeira grande

fábrica de produtos cerâmicos do Brasil, por quatro irmãos franceses, naturais de

Marselha, com o nome de “Estabelecimentos Sacoman Frères”, posteriormente alterado

para “Cerâmica Sacoman S.A.”, a qual encerrou suas atividades em 1956. O nome das

telhas conhecidas por “francesas” ou “marselhesas” é devido à origem destes

empresários (SEBRAE, 2008).

Com maior concentração nas últimas décadas do século XIX, a produção nas olarias se

dava por meio de processos manuais e em pequenos estabelecimentos. Os produtos

finais eram tijolos, telhas, tubos, manilhas, vasos, potes e moringas, os quais eram

comercializados localmente (SEBRAE, 2008).

Nestes últimos anos do século XIX e durante o início do século XX houve um processo

de especialização nas empresas cerâmicas, o que gerou uma separação entre olarias e

cerâmicas.

A cerâmica, tanto de uso comum quanto artístico, é produzida hoje por toda parte, seja

em grandes estabelecimentos, seja por pequenos artesãos. Os sistemas são

fundamentalmente os mesmos, mas é inegável que a experiência técnica adquiriu

tamanha perfeição que permite resultados extraordinários.

2.2 Perfil da indústria de cerâmica vermelha no Brasil e em Minas Gerais

2.2.1 Localização do parque industrial

A localização das cerâmicas é determinada por dois fatores principais: a proximidade de

jazidas (em função do volume de matéria prima processada e da necessidade de

transporte de grande volume e peso) e a proximidade dos mercados consumidores

(tendo em vista os custos de transporte). Os fatores secundários são, principalmente, a

mão-de-obra, os incentivos fiscais, os centros de pesquisas e os fornecedores de

equipamentos.

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Quanto maior o grau de qualidade da argila, maior é a importância assumida por esse

fator locacional. A localização industrial em relação à fonte da argila é função do custo

de transporte. Uma empresa localizada longe da jazida somente se justifica quando essa

é de qualidade excepcional.

A existência de jazidas de maneira isolada ou associada a outras condicionantes

favoráveis como proximidade de mercados, base infra-estrutural e cultura empresarial

têm conduzido a polarização do setor em territórios específicos, levando a constituição

de aglomerados produtivos (CABRAL et al., 2005).

As indústrias de cerâmica vermelha são encontradas em todo o país, mas são mais

abundantes nas regiões Sudeste, Sul e, ultimamente, têm se expandido no Nordeste. A

Figura 2-1 apresenta a porcentagem das empresas por região, segundo o Banco do

Nordeste do Brasil – Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste

(ETENE, 2010).

Figura 2-1 - Distribuição das empresas por região (%) Fonte: adaptado ETENE, 2010.

No país, segundo o ETENE (2010) e a Associação Nacional da Indústria Cerâmica –

ANICER (2007) existem 5.500 empresas. A Associação Brasileira de Cerâmica (ACB)

contabiliza a existência de 11 mil empresas, número mais compatível com a realidade,

uma vez que somente Minas Gerais, terceiro maior produtor do Sudeste possui

aproximadamente mil cerâmicas. Entretanto, apenas 626 empreendimentos estão

cadastrados no Sistema Integrado de Informação Ambiental (SIAM) do Estado de Minas

Gerais.

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10

Na região Sudeste, o maior produtor é o estado de São Paulo, seguido do Rio de

Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. A Figura 2-2 apresenta os principais pólos de

cerâmica vermelha no Brasil.

SUL SUDESTE NORDESTE NORTE CENTRO OESTE

Rio Grande do Sul São Paulo Rio de Janeiro Bahia Pará Mato Grosso

1 Santa Rosa 15 Panorama 28 Campos de Goytacazes 40 Recôncavo Baiano 50 São Miguel do Guama 54 Várzea Grande 2 Pelotas 16 Teodoro Sampaio 29 Itaboraí 41 Caitité 51 Santarém

Mato Grosso do Sul 3 Santa Maria 17 Penápolis 30 Três Rios

Pernambuco Rondônia 4 Lajeado Rio de Janeiro 18 Ourinhos

Minas Gerais 55 Três Lagoas

5 Feliz 19 Região Metropolitana 42 Pau Dalho 52 Porto Velho 56 Rio Verde 6 Porto Alegre 20 Bragança Paulista 31 Governador Valadares

Paraíba Acre 57 Campo Grande

Santa Catarina 21 Tatuí Paraíba 32 Igaratinga

Goiás 22 Rio Claro 33 Sete Lagoas 43 Juazeirinho 53 Rio Branco

7 Canelinha 23 Mogi Guaçu 34 Região Metropolitana Rio Grande do Norte

58 Anápolis 8 Pouso Redondo 24 Barras Bonitas 35 Monte Carmelo 9 Criciúma 25 Itu 36 Uberlândia 44 Parelhas

Paraná 26 Tambaú 37 Ituiutaba 45 Goianinha 27 Rincão

Espírito Santo 46 Açu

10 Curitiba Ceará

11 Prudentópolis 38 Itapemirim 12 São Carlos do Ivaí 39 Colatina 47 Russas 13 Londrina 48 Caucaia

14 Foz do Iguaçu Maranhão

49 Timon

Figura 2-2 – Principais pólos cerâmicos no Brasil

Fonte: Adaptado do Ministério das Minas e Energia, 2010.

feam

11

Em Minas Gerais, as indústrias de cerâmica vermelha estão distribuídas por todo o

Estado (Figura 2-3), sendo os principais pólos os municípios de Monte Carmelo para

fabricação de telhas e o município de Igaratinga para produção de tijolos.

A Tabela 2.1 apresenta os municípios mineiros com maior concentração de cerâmicas

vermelhas e olarias.

Tabela 2.1 – Principais municípios mineiros produtores de cerâmica vermelha

Município Nº de empreendimentos

Igaratinga 60

Itaúna 21

Monte Carmelo 20

Pará de Minas 14

Machado 14

João Pinheiro 14

Rio Manso 12

Ituiutaba 12

Engenheiro Caldas 12

Ibertioga 11

Cássia 11

Araguari 11

Visconde do Rio Branco 9

Cabo Verde 9

Tarumirim 8

Conselheiro Lafaiete 8

Ribeirão das Neves 7

Papagaios 7

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12

Figura 2-3 – Distribuição das cerâmicas vermelhas no Estado de Minas Gerais

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13

Também foram elaborados mapas para as distribuições espaciais das indústrias de

cerâmica vermelha por bacias hidrográficas e por área de jurisdição das

Superintendências Regionais de Regularização Ambiental (SUPRAM), que estão

apresentados nos Anexos B e C, respectivamente.

A Figura 2-4 apresenta a distribuição dos empreendimentos por SUPRAMs. A maior

concentração de cerâmicas vermelhas/olarias está na SUPRAM do Alto São Francisco

com 23%, seguido do Sul de Minas com 16%, Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba e

Central Metropolitana com 13%, Leste Mineiro com 12%, Zona da Mata com 10%, Norte

e Noroeste de Minas com 5% e Jequitinhonha com 3%. Cabe ressaltar que no Sul de

Minas as olarias são predominantes.

Figura 2-4 – Distribuição das cerâmicas vermelhas por SUPRAMs

Conforme o levantamento realizado no SIAM, em Minas Gerais existem 626

empreendimentos produtores de cerâmica vermelha, entretanto estima-se a existência

de aproximadamente 1000 empresas, segundo relatos de Associações, Sindicatos e

empresários do setor. Portanto grande quantidade das empresas no Estado se

encontram irregulares em termos da legislação ambiental.

Com relação ao zoneamento territorial, a Figura 2-5 evidencia que 47% das indústrias de

cerâmica vermelha localizam-se na área classificada como rural e 46% em área urbana.

O restante está situado em Distrito Industrial.

feam

14

Figura 2-5 – Distribuição das cerâmicas vermelhas no Estado de Minas Gerais por zoneamento

Em relação á argila, a despeito da avaliação ambiental da atividade de extração deste

bem mineral não ser objeto do estudo, convém mencionar que o segmento de cerâmica

vermelha é um grande consumidor. Segundo o Ministério das Minas e Energia (2009),

considerando a produção estimada de peças cerâmicas em 2008, avalia-se que o

consumo foi de aproximadamente 180 milhões de toneladas de argilas comuns,

englobando argilas quaternárias e argilas de bacias sedimentares. Pela projeção para

2030, considerando os vários cenários de crescimento do País, estima-se um consumo

de argila variando de 5,2 a 8,2 bilhões de toneladas. Esses números colocam o Brasil

como um dos principais produtores e consumidores mundiais desse tipo de argila.

Mais de 70% das reservas, estão concentradas em quatro estados brasileiros, São

Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, onde estão localizados os mais

importantes pólos de cerâmica vermelha, As reservas de argila de Minas Gerais somam

610 milhões de toneladas (DNPM, 2010).

2.2.2 Características do setor

O setor de cerâmica vermelha gera mais de 400 mil empregos diretos, distribuídos pelo

país. Além disso, responde por cerca de 0,4% do PIB do País, valor equivalente a R$ 6,8

bilhões/ano, conforme Tabela 2.2.

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15

Tabela 2.2.- Características do setor de cerâmica vermelha no Brasil

Ano 2005 2006 2007 2008

Faturamento (R$ Bilhões)

6 6,2 6,5 6,8

Nº Empresas formais 5.500 5.500 5.500 5.500

Empregos diretos (mil)

400 400 400 403

Produtividade (mil peças/operários mês)

13,3 13,7 14,5 15,3

Fonte: Anuário Brasileiro de Cerâmica/ANICER para 2005; estimativa do Ministério das Minas e Energia

para 2006, 2007 e 2008.

O setor pode ser divido entre os fabricantes de cerâmica vermelha e as olarias. As

olarias produzem tijolo maciço, enquanto as cerâmicas vermelhas produzem tijolos com

furos (vazados), sejam para fins de vedação ou estrutural, telhas, blocos, lajotas, tubos,

manilhas, etc. A seguir são detalhados os principais produtos fabricados em Minas

Gerais.

Os tijolos maciços não apresentam furos e têm a forma paralepipédica,

aproximadamente na proporção 4:2:1. São empregados principalmente em alvenarias

revestidas ou nas alvenarias aparentes. A Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) determina para tijolos maciços comuns sua forma e dimensão (NBR 7170 e NBR

8041) e sua resistência (NBR 6460).

Os tijolos furados têm forma semelhante aos maciços e aplicação idêntica, porém

apresentam furos no sentido vertical. As características desejáveis são as mesmas

apresentadas para os tijolos maciços, entretanto apresentam as seguintes vantagens

sobre os tijolos maciços:

Possuem aspecto mais uniforme, arestas e cantos mais firmes, faces planas e

melhor esquadrados;

Têm menos peso por unidade de volume aparente;

Dificultam a propagação de umidade e favorecem a dessecação das paredes;

Possuem melhor isolamento térmico;

Apresentam resistência da ordem dos tijolos maciços, apesar da redução de sua

seção horizontal.

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16

Em Minas Gerais, os tipos de telhas mais comuns são a plan, americana, portuguesa e

romana. Além delas existem as telhas coloniais, da qual a telha plan é uma variação

estética, a francesa, germânica, italiana e paulista. As normas brasileiras NBR 7171,

NBR 7172, NBR 6462, NBR 9601 e NBR 9602 tratam da resistência, a NBR 8038, NBR

9599 e NBR 9600 tratam das dimensões e a NBR 8947 e NBR 894 tratam da

impermeabilidade. A telha deve trazer na sua face inferior uma gravação em baixo relevo

indicando o fabricante e a cidade de origem.

As telhas podem ou não receber tratamento. No Estado de Minas Gerais é bastante

comum a aplicação de uma resina para embelezamento da peça e obtenção de uma

camada protetora brilhante. Esta proteção impede que a ação do tempo reduza a vida

útil da telha cerâmica.

Outro processo é a esmaltação, no qual as telhas em seu estado natural recebem uma

camada colorida para proteção e embelezamento. Devido a essa camada, obtém-se

uma qualidade superior no produto e maior resistência ao envelhecimento precoce tão

comum nas telhas naturais. O esmalte ou cobertura vitrificada são compostos

inorgânicos, à base de tintas e corantes, aplicados sobre as telhas durante a queima no

forno a 970°C, onde ocorrem as transformações físicas e químicas à fusão do esmalte

na superfície da telha, tornando-as vitrificadas. Dessa forma, a telha pode adquirir

diversas cores. Segundo os próprios produtores, quando do levantamento de campo, o

preço do milheiro pode ser duplicado com essa utilização.

Os blocos se diferenciam dos tijolos pelas dimensões. Os tijolos podem ser manuseados

com uma única mão ao contrário dos blocos. Os blocos que possuem furos horizontais

não têm função estrutural, ao contrário dos com furos verticais. As normas classificam os

blocos cerâmicos em dois tipos: vedação e portantes, conforme sua função de vedação

ou estrutural respectivamente. As normas brasileiras trazem especificações relativas à

padronização e dimensões (NBR 7171 e NBR 8042) e resistência (NBR 8043 e NBR

6461). Os blocos cerâmicos devem conter em uma de suas faces gravação em baixo

relevo com a identificação da indústria responsável pela sua produção, bem como o

município de origem.

As olarias possuem gestão financeira, ambiental e administrativa muito simples e

familiar, não sendo automatizadas, utilizam-se de processos arcaicos e manuais, sem

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17

extrusão mecânica (Figura 2-6). Essas empresas têm operação informal e/ou sazonal,

motivo inclusive dificultador para coleta de dados durante as visitas técnicas realizadas.

Figura 2-6 – Amassamento da argila utilizando força motriz animal

Em razão dos mecanismos regulatórios de proteção ambiental e de controle do uso de

solo, da lavra mineral (matéria prima) e dos insumos energéticos de lenha vegetal, essas

pequenas empresas estão cada vez mais se afastando dos grandes centros urbanos e

se estabelecendo em áreas pouco adensadas (RANIERI & TANAKA, 2006), conforme

pôde ser observado nos trabalhos de campo.

Além das olarias, grande parte do setor é composta por microempresas familiares.

Segundo o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (SENAI), aproximadamente 90%

de todo o setor de cerâmicas vermelhas do país é constituído de microempresas

familiares.

O setor se caracteriza por um grande número de pequenas empresas, produzindo de

forma artesanal ou com tecnologias obsoletas, sem conhecimentos técnicos e controle

de qualidade, além de mão de obra desqualificada. Estas indústrias ainda possuem uma

escala de produção pequena e baixa rentabilidade.

Em Minas Gerais, conforme a Figura 2-7, 31% das empresas produzem menos de

100.000 peças por mês, enquanto que apenas 2% das empresas produzem acima de 1

milhão de peças por mês.

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18

Figura 2-7 – Produção média de peças nas cerâmicas vermelhas do Estado de Minas Gerais

Devido, principalmente, a baixa automatização e reduzido controle de processos, a

produtividade mensal no Brasil é inferior a da Europa, Chile e Paraguai, por exemplo,

com taxa mensal de produtividade, respectivamente, de 200 mil peças/operários, 55 mil

peças/operários e 36 mil peças/operários. Conforme o Anuário Brasileiro de Cerâmica

Vermelha (2009), a produtividade média no Brasil é da ordem de 15,3

milheiros/trabalhador.

A Tabela 2.3 apresenta uma correlação entre a tecnologia de processo e a produtividade

no setor de cerâmica vermelha.

Tabela 2.3 – Correlação entre a tecnologia de processo e taxa de produtividade

Processo Nº de trabalhadores para

produzir 1 milhão de toneladas de produtos

Produtividade (produto/operário/ano)

Apenas manual 20 50.000

Parcialmente mecanizado

14 71.400

Mecanizado 6 166.700

Semi automático 1 1.000.000

Automático 0,25 4.000.000

Fonte: Adaptado de Institut Fur Ziegelforschung Essen, 2011.

Em 2008, o Brasil produziu mais de 55 bilhões de peças, blocos e tijolos, e 18 bilhões de

peças de telhas, conforme Tabela 2.4.

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19

Tabela 2.4 - Produção brasileira de cerâmica vermelha (109 peças)

Produtos 2004 2005 2006 2007 2008

Blocos / Tijolos 25,2 48,0 49,7 52,1 55,2

Telhas 4,6 15,6 16,2 17,4 18,4

Total 29,8 63,6 65,9 69,5 73,7

Fonte: Adaptado Anuário Brasileiro de Cerâmica, 2005; estimativa do Ministério das Minas e Energia, 2006, 2007 e 2008.

Segundo o ETENE (2010), o aumento expressivo da produção de 2004 para 2005

deveu-se a uma reavaliação da metodologia de cálculo realizada pela ANICER.

Em Minas Gerais, considerando o tratamento estatístico realizado nesse trabalho relativo

ao estabelecimento de amostra representativa do setor, foi estimada a produção anual

de, aproximadamente, 2,7 bilhões de peças. Quanto à produção regional de cerâmica

vermelha, o Sudeste contribuiu com a maior parcela (44,4%), seguido do Sul (21,34),

Nordeste (21,25%), Centro-Oeste (8,69%) e Norte (4,34%), conforme Tabela 2.5.

Tabela 2.5 – Distribuição da produção brasileira por região em 2008 (mil milheiros/mês)

Região Produção %

Sudeste 3.332,94 44,4

Sul 1.602,63 21,34

Nordeste 1.595,88 21,25

Centro-Oeste 652,62 8,69

Norte 325,93 4,34

Total 7.510,00 100,00

Fonte: ETENE, 2010.

A demanda por produtos cerâmicos está diretamente ligada às necessidades

populacionais. No nível de comercialização, apenas 8% das empresas do Estado de

Minas Gerais vendem seus produtos para outros estados, enquanto 25% das empresas,

em geral olarias, abastecem apenas o mercado local e 67% destinam seus produtos

para mercados regionais.

Os tijolos e blocos cerâmicos têm mercado limitado pelo custo de transporte, em função

do alto peso e o baixo valor específico do produto. Em geral, os empreendimentos

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20

mineiros comercializam seus produtos em regiões próximas às suas instalações

industriais, limitadas por um raio de atuação de até 100 km.

Considerando-se que não há formação de estoque nas fábricas, e que não há

comercialização significativa do produto para fora do Estado, pode-se inferir que a oferta

de blocos cerâmicos é proporcional à demanda.

A telha cerâmica, devido ao maior valor agregado, tem mercado amplo, que se estende

ao mercado internacional, embora nas visitas realizadas, nenhum empreendimento

informou exportar seus produtos. Praticamente todos os produtores de Minas Gerais

comercializam telhas em outros estados. O Brasil é autossuficiente nesse produto e seu

excedente é comercializado em vários continentes.

A Tabela 2.6 apresenta os preços dos produtos encontrados nas visitas técnicas

realizadas nos empreendimentos de Minas Gerais nos anos de 2010 e 2011.

Tabela 2.6 - Preços dos produtos fabricados em Minas Gerais nos anos de 2010 e 2011

Produto Especificação Preço mínimo (por milheiro)

Preço médio (por milheiro)

Preço máximo (por milheiro)

Tijolo maciço 5x10x20 R$100,00 R$120,00 R$150,00

6,5x12x22 R$150,00 R$185,00 R$200,00

Tijolo cerâmico vedação

9x19x29 R$85,00 R$340,00 R$680,00

14x19x29 R$100,00 R$447,00 R$650,00

Tijolo cerâmico estrutural

14x19x39 R$850,00 R$850,00 R$850,00

Telha

Plan R$175,00 R$430,00 R$550,00

Americana R$200,00 R$650,00 R$900,00

Portuguesa R$200,00

,00

R$600,00 R$650,00

Romana R$650,00 R$650,00 R$650,00

Dependendo da região onde a peça foi produzida seu preço de comercialização pode ser

mais elevado. Conforme a pesquisa realizada, em Minas Gerais as Regiões do Sul e do

Triângulo apresentaram os maiores preços. Alguns empreendimentos adotam preços

muito reduzidos quando comparados ao preço médio adotado pelo setor, o que pode ser

atribuído à informação equivocada do empreendedor, ou pelo fato do produto abastecer

o mercado local, que muitas vezes não exige qualidade.

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21

Em Minas Gerais, cerca de 25% dos empreendimentos produzem tijolos maciços, 60%

fabricam tijolos cerâmicos para vedação, 5% produzem tijolos cerâmicos estruturais, 8%

fabricam telhas e os 2% restantes produzem tubos, lajotas, cantoneiras e outros

artefatos.

A fabricação de cerâmica vermelha não configura como atividade de elevado impacto

ambiental, sendo classificada como de pequeno potencial poluidor nos termos da

Deliberação Normativa COPAM nº 74/2004, que estabelece os critérios para

classificação das atividades potencialmente poluidoras ou degradadoras do meio

ambiente em Minas Gerais para fins de regularização ambiental.

Por outro lado, a extração da argila que é a matéria-prima do processo produtivo tem

potencial poluidor médio segundo essa Deliberação.

Um fator bastante relevante do setor de cerâmica vermelha é sua sazonalidade,

condicionada ao regime pluviométrico. Durante o período chuvoso, que se estende de

novembro a abril, além da atividade extrativa de argila que é praticamente suspensa, a

produção do setor cerâmico também é reduzida neste período devido à arrefecimento

das atividades da construção civil.

Em geral, as empresas do setor de cerâmica vermelha em Minas Gerais têm pouco

controle sobre seus custos de produção. Entretanto, é consenso que os principais

encargos se devem ao combustível utilizado nos fornos, seguido da mão-de-obra.

A Figura 2-8, demonstra a distribuição dos custos nos empreendimentos, coletados nas

visitas técnicas.

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22

Figura 2-8 – Distribuição média dos custos de produção da indústria de cerâmica vermelha

O cenário do setor de cerâmica vermelha, em termos de aumento do número de

empreendimento em atividade, é otimista, haja vista o crescimento do setor de

construção civil. Além disso, o setor conta com a disponibilidade de recursos naturais em

grande escala e a oferta de produtos com características reconhecidas pelo mercado,

em virtude do seu valor estético, conforto térmico e acústico, resistência ao calor, altas

temperaturas e propagação ao fogo, além de alta durabilidade.

Por outro lado, o setor é composto, em grande parte, por empresas informais, com

desconhecimento de normalização de produto final, falta de planejamento e estrutura

organizacional, reduzida automação, elevado índice de desperdício de energia, matérias

primas e insumos e inexistência de controle de qualidade, o que dificulta o crescimento

sólido das indústrias no Estado.

Quando o assunto é o investimento realizado em programas de adesão voluntaria, o

setor caminha bem devagar.

Conforme o levantamento realizado, apenas 2% do setor possui certificação de

qualidade da Série ISO1 9001, não tendo sido constatado nenhuma certificação da série

ISO 14.001, referente ao sistema de gestão ambiental e OHSAS2 18.001, referente a

sistema de gestão, porém com o foco voltado para a saúde e segurança ocupacional.

1 ISO: International Standardization for Organization.

2 OHSAS: Occupational Health & Safety Advisory Services.

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23

Outras modalidades de certificação também inexistem, demonstrando a fragilidade dos

empreendimentos frente ao mercado consumidor.

O ambiente de trabalho nas indústrias visitadas, em geral, apresenta grande desconforto

ocupacional, principalmente devido ao calor intenso gerado pelo funcionamento dos

fornos, má iluminação e ambientes desorganizados, sem um sistema de informação

claro para os trabalhadores. O número de empresas que investem na qualificação de

sua força de trabalho, com treinamentos oferecidos aos funcionários é limitado. Essa é

uma ação voluntária das indústrias na busca por maior eficiência. Boa parte dos

empreendimentos não fornece a seus funcionários equipamentos de proteção individual

como capacete, luvas e protetores auriculares, conforme o grau de exposição aos riscos

ocupacionais. Neste caso, se percebeu que em indústrias de maior porte existe rigor em

cumprir as normas de segurança do trabalho e legislação trabalhista. Por outro lado, nas

indústrias com estrutura menor, como os próprios proprietários participam ativamente

das atividades industriais, observa-se uma preocupação maior com as relações humanas

entre patrões e empregados, sem haver uma diferença de hierarquia dentro dos

empreendimentos, o que reflete uma maior satisfação dos funcionários pelo seu

trabalho.

Entretanto, nas indústrias de maior porte existe rigor em cumprir as normas de

segurança do trabalho e legislação trabalhista. Por outro lado, nas indústrias de menor

porte, onde os proprietários participam ativamente das atividades industriais, observa-se

uma preocupação maior com as relações afetivas no ambiente de trabalho, sendo

reduzida a hierarquização dentro das indústrias, refletindo em maior satisfação dos

trabalhadores.

2.3 O processo produtivo de cerâmica vermelha

O processo produtivo de cerâmica vermelha é formado basicamente por três etapas:

preparação, conformação e queima. A preparação compreende a extração da matéria

prima (argila) e a preparação por meio de mistura e de homogeneização, sendo o

processo realizado manualmente ou com o uso de equipamentos. A conformação

envolve a moldagem da matéria prima na forma desejada (tijolos, blocos, telhas etc.) por

meio mecânico ou manual no caso das olarias. Após a conformação, as peças são

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24

submetidas à secagem natural ou artificial e, finalmente, encaminhadas para a queima.

Esta é feita em fornos de uso contínuo ou intermitente.

2.3.1 Matérias primas e insumos

Na fabricação de cerâmica vermelha tem-se como principal componente a argila. Além

dela, utiliza-se água e insumos energéticos, sendo em determinados casos aproveitados

resíduos.

2.3.1.1 Argila

O termo argila vem do latim argilla, substância terrosa, esbranquiçada, formada de sílica

e alumina.

As argilas (Figura 2-9) são materiais terrosos que possuem a propriedade de se

tornarem plásticos quando misturados com água e endurecerem quando secos e

cozidos. Este material é composto de grãos de diâmetros inferiores a 0,005 mm, com

alta plasticidade quando úmidos e, quando secos, dificilmente desagregáveis por

pressão dos dedos (PETRUCCI, 1982, apud GRIGOLETTI, 2001).

Figura 2-9 - Depósito de argila

A composição química, mineralógica e física das argilas é importante para a confecção

de peças cerâmicas, pois, isoladamente ou combinadas, essas propriedades conferem

as características de trabalhabilidade no preparo, na conformação das peças e na

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25

sinterização do processamento térmico, proporcionando a resistência mecânica

necessária à cerâmica (CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL - CETEM, 2008).

A argila é composta por diversos silicatos de alumínio em proporções definidas e sua

composição é muito variável, contendo de 18% a 39% de alumina, 46% a 67% de sílica

e 6% a 19% de água (MOREIRA, 2006).

Distribuída por toda a superfície terrestre, sua composição varia de acordo com a região

onde é encontrada, conforme o tipo de solo. Segundo Grigoletti (2000), não existem

duas jazidas de argila iguais, tornando-se necessário realizar ensaios mineralógicos,

químicos e tecnológicos, para caracterizar cada fonte da matéria prima. Estes ensaios

são necessários para determinação da aplicabilidade da argila, por exemplo, para

fabricação de blocos estruturais.

Em conseqüência da composição do substrato geológico brasileiro, os depósitos de

argilas para fins cerâmicos possuem ampla distribuição geográfica em todo território

nacional. Segundo o contexto geológico, são distinguidos dois tipos principais de

depósitos de argila: argilas quaternárias e argilas de bacias sedimentares (COELHO,

2009).

A Figura 2-10 apresenta a distribuição das principais bacias sedimentares brasileiras,

portadoras de depósitos de argila para uso em cerâmica vermelha.

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26

Figura 2-10 - Distribuição das principais bacias sedimentares brasileiras, portadoras de depósitos de argila para uso em cerâmica vermelha

Fonte: CETEM, 2008.

Segundo Amarante (1993) apud Pureza (2004), as argilas são produtos da alteração

intempérica de rochas ígneas, sedimentares e metamórficas, e, em seu estado natural,

são constituídas de minerais primários (presentes nas rochas) e/ou minerais secundários

(ação de agentes químicos sobre os minerais primários). No local onde são encontradas,

as argilas podem ser consideradas residuais in situ (que sofreram pouco ou nenhum

transporte e contêm minerais primários) e/ou sedimentares (foram transportadas e

depositadas, encontrando-se poucos minerais associados às rochas, com exceção de

quartzo e alguma muscovita).

O depósito natural de argila é denominado de barreira e, para sua exploração, é retirada

a primeira camada, que quase sempre apresenta grande quantidade de matéria

orgânica, sendo que as outras camadas, mais puras, são aproveitadas na indústria

cerâmica (VERÇOZA, 1987).

As argilas são compostas de argilominerais que são responsáveis pelas propriedades de

plasticidade, viscosidade e resistência mecânica, que lhes permitem um grande campo

de aplicação tecnológica. Seus tipos mais importantes no uso cerâmico são:

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27

Caulinita: em água, este argilomineral não é expansível, apresenta quantidade

elevada de partículas finas e inércia aos agentes químicos. Quando pura, tem

baixa plasticidade e resistência mecânica à úmido e, após a queima, apresenta

cor branca, exceto quando acompanhada de outros minerais. Entre 500º a 650º C

perde a água de constituição, provocando perda de massa e contração linear

(VINCENZI, 1999).

Montmorilonita (esmectita): quando pura, tem concentração linear na secagem

que pode variar de 12% a 23% e mais 20% na queima, assim, interferindo

proporcionalmente na secagem e na queima de argilas (VINCENZI, 1999). O

ferro, frequentemente presente na estrutura desse argilomineral, é liberado

próximo aos 800º C na forma de hematita, colaborando para a coloração vermelha

do produto queimado. As argilas com teores maiores que 3% de montmorilonita,

são muito plásticas, podendo apresentar a formação de trincas durante a

secagem (PUREZA, 2004).

Ilita: é um silicato de alumínio hidratado com elevado teor de óxido de potássio.

Aparece normalmente em partículas de dimensões coloidais e em associação

íntima com outros argilominerais, conferindo plasticidade a argila (Vincenzi, 1999).

Difere-se das montmorilonitas pela ausência de inchamento entre as camadas

com água ou compostos orgânicos. A contração linear na secagem varia de 4% a

11% e na queima varia de 9% a 15%. Segundo Pureza (2004), na maioria das

vezes, sua estrutura contém ferro, o qual é liberado na forma de hematita por volta

de 900º C, contribuindo para a coloração avermelhada.

A caulinita é o principal argilomineral presente nas argilas, sendo responsável pela

elevada resistência mecânica dos produtos cerâmicos. Porém, ela não é utilizada pura

por necessitar de altas temperaturas para adquirir resistência adequada, sendo assim

misturada a outros tipos de argila. A ilita é o tipo de argila mais comum na fabricação de

tijolos, blocos e telhas, sendo responsável pela cor avermelhada do produto. A ilita é

bastante plástica, de fácil moldagem e apresenta bom desempenho na secagem. A

montmorilonita, quando usada em pequenas proporções, favorece a plasticidade, a

fusibilidade e a sinterização, é bastante expansiva e absorve muita água. Por isso, sua

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28

presença pode ocasionar em problemas na moldagem e em trincas nas etapas de

secagem e queima (SANTOS & SILVA, 1995).

A maioria dos produtos de cerâmica vermelha apresenta alta porosidade aberta, com

pouca fase vítrea, decorrente da baixa temperatura de queima (800 a 900º C). A

exigência técnica dos produtos de cerâmica vermelha é mais rigorosa para telhas e

blocos estruturais, requerendo maior sinterização das peças. Nesses materiais, as

argilas devem ser mais ilíticas ou conter a mistura destas ou de outros fundentes como

filitos.

O setor de cerâmica vermelha utiliza a chamada massa monocomponente, composta,

basicamente, por argilas, isto é, não envolve a mistura de outras substâncias minerais. A

formulação da massa é geralmente feita de forma empírica pelo ceramista, envolvendo a

mistura de uma argila “gorda”, caracterizada pela alta plasticidade, granulometria fina e

composição essencialmente de argilominerais, com uma argila “magra”, rica em quartzo

e menos plástica, que pode ser caracterizada como um material redutor de plasticidade e

que permite a drenagem adequada das peças nos processos de secagem e queima.

Além dos argilominerais freqüentes nas argilas, podem-se observar diferentes teores de

matéria orgânica, que são encontrados sobre diversas formas nas argilas. Quando em

pequenas proporções, aumentam a plasticidade, facilitam a moldagem e aumentam a

resistência do produto a seco. Quando em excesso, podem causar trincas na secagem e

na queima, além da formação de núcleos pretos devido à difícil oxidação total durante a

queima (PUREZA, 2004).

Segundo Meira (2001), uma das propriedades da argila quando em contato com a água

é a plasticidade, que é a capacidade do material se deformar (sem romper) pela

aplicação de uma tensão. Essa deformação permanece quando a tensão aplicada é

retirada, fenômeno denominado de tensão de cedência. O grau de deformação da argila

aumenta progressivamente, em função do conteúdo em água, até determinado valor.

A água, em quantidade adequada, funciona como lubrificante, facilitando o deslizamento

das partículas umas sobre as outras sempre que uma tensão superficial é aplicada.

feam

29

Os principais fatores que afetam a plasticidade da argila são a mineralogia,

granulometria, forma dos cristais, carga elétrica dos cristais e o estado de desfloculação

da argila (MEIRA, 2001).

A argila com alto teor de areia possui plasticidade reduzida, uma vez que a adição de

elementos não-plásticos reduz a sua interação com a água, causando pontos de

descontinuidade nas forças de coesão entre as partículas (PRACIDELLI, 1997).

Segundo Santos (1989), para determinar os usos da argila plástica na cerâmica

vermelha, a matéria prima deve ser submetida a uma caracterização tecnológica, que

consiste basicamente na realização de ensaios laboratoriais: análise granulométrica,

umidade, limite de plasticidade e ensaio cerâmicos em corpos de prova moldados

manualmente, submetidos a ensaios físicos de retração linear, tensão de ruptura à

flexão, absorção de água, porosidade aparente, massa específica aparente e cor após a

queima.

A composição mineralógica, química e física das argilas é importante para a confecção

de peças cerâmicas, pois, isoladamente ou combinada, essas propriedades conferem as

características de trabalhabilidade no preparo e conformação das peças e a sinterização

no processamento térmico, dando a resistência mecânica necessária. Para a

caracterização e indicação de uma argila para um determinado uso cerâmico, utilizam-se

ensaios experimentais padronizados, ou composição das massas feitas de forma

empírica, com base na experiência do técnico ou do oficial prático cerâmico. Neste último

caso, o processo pode ser variável de local para local e dificulta a padronização de

formulações e, conseqüentemente, de especificações de matérias-primas para os

diferentes usos industriais

Quanto a granulometria, as argilas apresentam características muito finas,

compreendendo partículas de dimensões inferiores a 2 mícrons (MEIRA, 2001).

Uma característica importante da argila para emprego na cerâmica vermelha é a cor de

queima avermelhada devido ao alto teor de óxido de ferro (Fe2O3). Existem divergências

na literatura quanto à porcentagem do teor de óxido de ferro. Por meio de estudos

realizados na região do Recôncavo Baiano, o CETEM (2008) afirma que o valor é

feam

30

superior a 4%. Entretanto, Almeida (2005) afirma que o limite máximo benéfico para a

produção de tijolos é de 5% de óxido de ferro.

A importância do tipo de argila é tamanha que muitas indústrias, perseguindo uma

matéria prima de melhor qualidade, preferem explorar jazidas a grandes distâncias da

fábrica, embora isto represente um custo adicional de transporte.

O valor comercial da jazida é determinado em função da qualidade e quantidade de

matéria prima, conformação, localização, acesso da jazida e facilidade de transporte.

O comércio internacional nesse segmento industrial é reduzido. O Brasil exportou

US$ 6,7 milhões ou 51 mil toneladas em 2008. As importações também foram pequenas,

totalizando US$ 585 mil ou 8,5 mil toneladas (ETENE, 2010).

Na mineração de argila, a produtividade anual varia de 4.000 a 15.000 toneladas de

argila/funcionário para lavras cativas e de 20.000 a 40.000 toneladas/funcionário para

minerações mais estruturadas. Quando comparada com países líderes em tecnologia de

cerâmica, como Itália e Espanha, observa-se que não há diferenças substanciais na

produtividade. O diferencial positivo para a mineração européia está no conhecimento

dimensional da jazida, na qualificação das reservas e nos cuidados no planejamento e

controle técnico das operações de lavra (ETENE, 2010).

No Brasil existem em torno de 417 minas de argila em operação (COELHO, 2009), com

produção variando de 1.000 a 20.000 toneladas/mês. Considerando a produção anual de

cerâmica vermelha em 2008 de 75 bilhões (ETENE, 2010), estima-se que nesse ano

tenham sido consumidos cerca de 180 milhões de toneladas de argila. Entretanto, esse

número pode ser contestado, uma vez que segundo o levantamento realizado no SIAM,

somente em Minas Gerais existem 492 minas cadastradas, apesar de não ser possível

definir quantas dessas estão em operação.

Em 2005 as reservas nacionais de argila eram de 3,6 bilhões de toneladas

(COELHO, 2009), sendo que essa matéria-prima também é consumida por outros

setores, tais como: cerâmica de revestimento de base seca, cimenteiro, agregado leve,

entre outros.

feam

31

Em relação às jazidas exploradas em Minas Gerais, 49% das empresas de cerâmica

vermelhas são proprietárias da jazida que utiliza, 48% compram argila de terceiros e 3%

consomem tanto argila própria quanto de terceiros, segundo o levantamento realizado

nesse trabalho.

2.3.1.2 Água

A água é utilizada como insumo essencialmente nas etapas de preparação da massa e

conformação, sendo a quantidade utilizada variante em função da umidade natural das

argilas e da realização ou não do processo de sazonamento (exposição às condições

ambientais de umidade), no qual as argilas adquirem maior plasticidade.

As argilas de granulometria muito fina, que são extremamente plásticas, requerem uma

quantidade de água consideravelmente grande para desenvolver a plasticidade. Isso

dificulta o processamento e tem como conseqüência o aumento do gradiente de umidade

no interior do produto, provocando retrações diferenciadas e deformações

(PUREZA, 2004).

Na etapa de conformação da massa, em geral os empreendimentos do setor possuem

uma câmara de vácuo que exerce uma sucção e retira o ar contido na massa.

As massas tratadas a vácuo proporcionam melhora na trabalhabilidade, bem como as

reações físico-químicas existentes entre a água e a superfície do grão. Toda a água

utilizada nesse processo é recirculada.

Conforme o levantamento realizado, o menor consumo específico de água informado

pelos empreendimentos foi de 4,2 litros de água/tonelada de produto, enquanto o maior

foi de 40.000 litros de água/tonelada de produto, com uma média de 130 litros de

água/tonelada de produto. Entretanto, tais valores correspondem a toda água utilizada

no empreendimento, constituída da água utilizada no umedecimento de argila, na

aspersão de vias e pátios, para controle do material particulado e para consumo

humano.

Tendo em vista a grande variação do consumo de água informado pelos

empreendimentos, pode-se inferir que grande parte das empresas do setor não tem

qualquer controle da quantidade consumida de água no processo produtivo.

feam

32

Este fato pode ser corroborado, pela constatação, dentre todas as cerâmicas visitadas,

da preocupação em redução no consumo de água em, apenas cinco empresas que

captam água de chuva para aproveitamento no processo produtivo.

Para o uso racional da água são destacadas algumas medidas de controle, como:

Instalação de hidrômetros na captação de água e nos principais pontos de

consumo;

Instalação de válvulas automáticas no circuito de água, de modo a prevenir

vazamentos;

Utilização de sistema de pressurização (ar/água) com válvulas tipo gatilho nas

mangueiras empregadas para a limpeza de pisos e equipamentos;

Utilização de piso que permita a limpeza a seco;

Reaproveitamento da água em lavadores de gases, quando aplicável.

Coleta de água pluvial para reuso em aspersão de pátios, vias e jardins.

2.3.1.3 Insumos energéticos

O setor de cerâmica vermelha é um grande consumidor de insumos energéticos, que

constituem o maior custo de produção desses empreendimentos.

O Balanço Energético de Minas Gerais que tem 2009 como ano base demonstrou que

foram consumidos pelo setor de cerâmica 394.000 tEP de fontes primárias

(lenha, gás natural e outras) e 131.000 tEP de fontes secundárias (óleo combustível,

eletricidade, carvão mineral e GLP).

Segundo o SEBRAE (2008), no setor de cerâmica vermelha no Brasil, a lenha

representa cerca de 50% de todo o consumo de energia (Tabela 2.7), seguida do gás

natural (26%), óleo combustível (8,1%), eletricidade3 (7,8%) e outros tipos de

combustíveis (8,7%).

3 A eletricidade no setor de cerâmica vermelha é utilizada na operação de máquinas e equipamentos.

feam

33

Tabela 2.7- Consumo de energia pelo setor cerâmico no Brasil por ano (%)

Combustível 2002 (103 tep) 2003 (10

3 tep) 2004 (10

3 tep) 2005 (10

3 tep) 2006 (10

3 tep)

Lenha 48,2 49,1 50,1 50,1 49,9

Gás Natural 23,1 25,2 23,9 24,3 25,5

Óleo Combustível

11,4 9,2 9,2 7,8 8,1

Eletricidade 7,8 7,8 8,2 7,9 7,8

Outras Recuperações

9,1 8,7 8,7 9,8 8,7

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: Adaptado SEBRAE – 2008.

No setor, o maior consumo de energia decorre dos fornos. A energia utilizada nos fornos

é gerada pela queima de combustíveis para aquecer a carga, evaporar e fornecer o calor

necessário para decomposição e cristalização dos componentes. O calor liberado na

combustão se distribui por todo o forno, atingindo basicamente três áreas: peças que

estão sendo queimadas, paredes/estrutura de tijolos e gases de exaustão pela chaminé

(CAVALIERE et al., 1997).

Os insumos energéticos mais utilizados pelas cerâmicas vermelhas do Estado de Minas

Gerais são a lenha, pó de serragem, cavaco, palha de café, pallets de madeira, bagaço

da cana, sabugo de milho, papel e papelão, conforme apresentado na Figura 2-11.

Alguns combustíveis bastante utilizados em outros Estados como o coque, gás natural,

GLP4 e óleo são pouco usados em Minas Gerais configurando na Figura 2-11 como

Outros5. Durante o estudo de campo verificou-se também a utilização de pneus

inservíveis, o que se configura como uso inadequado.

4 Gás liquefeito de petróleo.

5 Somatório dos seguintes combustíveis: coque, gás natural, GLP, capim elefante, óleo, pneu inservível e

resíduo de algodão.

feam

34

Figura 2-11 – Porcentagens dos combustíveis utilizados na queima de produtos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais

a) Lenha

A madeira destinada para energia soma mais da metade da biomassa florestal

consumida mundialmente, em especial nos países em desenvolvimento, como é o caso

do Brasil. (BRITO et al., 2004).

A lenha utilizada pelos ceramistas em Minas Gerais pode ser exótica ou nativa e

corresponde a aproximadamente 50% do combustível utilizado para queima nos fornos

do Estado, conforme o levantamento realizado. Nos últimos anos, o consumo de lenha

exótica, com predominância para o eucalipto, vem crescendo, devido principalmente a

carência de mata nativa no Estado.

O PCI6 da lenha é de 3.100 kcal/kg (CEMIG, 2009). O valor energético perdido na

carbonização é de 4,2 kg de madeira para a obtenção de 1 kg de carvão, representando

uma perda de 71% do calor disponível na lenha e vindo demonstrar que, em termos

energéticos, não há vantagem de substituição da lenha por carvão vegetal quando se

puder utilizar a queima direta da lenha (PAULETTI, 2001), como é o caso de fornos

cerâmicos.

Segundo ETENE (2010), o consumo específico mensal de lenha e resíduos vegetais

dominantes no Brasil é da ordem de 588 m3/empresa ou 1,6 m3/milheiro produzido.

6 Poder calorífico inferior.

38,2%

17,8%

13,3%

11,9%

4,3%

3,5% 2,7%

2,3% 2,0% 4,0%

Lenha de eucalipto

Pó de serragem

Cavaco

Lenha nativa

Palha de café

Pallets

Bagaço da cana

Sabugo de milho

Papel e papelão

Outros

feam

35

b) Pó de serragem, cavaco e pallets de madeira

Outro combustível derivado da madeira é o cavaco, que é definido na literatura tanto

como produto originado do processamento da lenha, quanto resíduo da madeira.

O pó de serragem é proveniente de serrarias e madeireiras. Assim como os cavacos,

precisam ser estocados em silos ou galpões.

Algumas empresas do setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais realizam

secagem desses materiais, com objetivo de reduzir sua umidade e melhorar a operação

do forno, principalmente quando se trata do forno tipo túnel.

A alimentação e queima desses materiais é efetuada diretamente nas fornalhas com o

uso de pás ou de forma mecanizada (Figura 2-12). Ambos os combustíveis possuem

melhor mistura com o ar e menor consumo quando comparados a lenha por exemplo.

Figura 2-12 – Alimentador de pó de serragem e cavaco

Os pallets de madeira são amplamente utilizados nas operações de carga e descarga

em fábricas e nos diversos lugares em que os produtos são transportados e

armazenados até chegarem ao consumidor final. Os pallets podem ser reaproveitados

como combustível devido ao seu alto poder calorífico.

feam

36

Nas cerâmicas eles são utilizados em geral no início da queima. Entretanto, deve-se

observar a procedência dos pallets de modo a evitar o uso do material nos fornos, por

exemplo, contaminado com óleo.

c) Energia Elétrica

Segundo Manfredini e Sattler (2004) há um grande consumo de energia no processo de

produção da indústria de cerâmica vermelha no Brasil, em torno de 21% menos que a

energia consumida na indústria do cimento, considerada uma das indústrias de maior

consumo energético comparada a outros setores industriais.

O emprego da energia elétrica na queima não parece viável economicamente, tendo em

vista os elevados investimentos necessários para as modificações dos equipamentos,

construção de subestações e distribuição, assim como o custo operacional superior a

qualquer outro combustível alternativo (SUDENE & ITEP, 1988).

Segundo o ETENE (2010), o consumo de energia elétrica do setor no Brasil é da ordem

de 113 milhões kWh/mês, com uma média mensal de 16,6 mil kWh/empresa. A potência

elétrica total (ativa e aparente) para atender as empresas do segmento no Brasil

equivale a aproximadamente 0,77% da capacidade instalada no país e 0,36% do

consumo de energia elétrica no Brasil.

O consumo de energia elétrica é essencial na operação de máquinas e equipamentos do

setor cerâmico. Como se pode observar na Tabela 2.8, o intervalo de consumo médio

mensal de energia elétrica da maioria das cerâmicas do Estado e Minas Gerais (42,2%)

é inferior a 10 mil kWh. O segundo intervalo mais representativo, em termos de número

de empreendimentos (32,3%), se estende de 10 mil a 40 mil kWh. Os demais intervalos

variam, respectivamente, de 40 mil a 80 mil kWh (14,1%), de 80 mil a 120 mil kWh

(6,6%) e, por último, o intervalo de consumo de energia superior a 120 mil kWh (4,8%).

Essa predominância de baixo consumo de energia deve-se ao elevado número de

empreendimentos de pequeno porte desse setor.

feam

37

Tabela 2.8 – Consumo de energia elétrica no setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais

Consumo mensal de energia elétrica

% de empresas

Inferior a 10 mil kWh 42,2

10 mil a 40 mil kWh 32,3

40 mil a 80 mil kWh 14,1

80 mil a 120 mil kWh 6,6

Superior a 120 mil kWh 4,8

Total 100

d) Óleo Combustível

O óleo combustível é bastante utilizado nos fornos contínuos do tipo Hoffmann, sendo o

mais comum o BPF7. Nesse tipo de forno, o óleo é injetado em intervalos regulares sobre

uma pilha do próprio material em processo de queima, evitando-se uma chama contínua,

de temperatura elevada, a qual poderia “super-queimar” a carga e também as bocas dos

maçaricos. A utilização desse forno para a queima com óleo não exige nenhuma

modificação do equipamento original (SUDENE & ITEP, 1988).

O óleo é considerado um produto "sujo", uma vez que não é renovável e tem a

possibilidade de emitir fumaça negra, além de gases de exaustão com enxofre.

Entretanto, sua utilização no Estado de Minas Gerais é bastante reduzida, sendo que a

maioria dos empreendimentos que possuem forno do tipo hoffmann usam lenha ou

cavaco.

e) Gás Natural

O gás natural é um energético econômico, que não necessita de área de estocagem,

tem custos reduzidos de manutenção e oferece maior segurança aos seguimentos

industriais. O gás natural corresponde por cerca de 25% do consumo de combustíveis no

setor de cerâmica vermelha no Brasil, entretanto seu uso em Minas Gerais não foi

constatado nos empreendimentos visitados.

7 Óleo de baixo ponto de fluidez.

feam

38

Os queimadores para o gás natural podem funcionar com alto grau de turbulência, dando

lugar a uma distribuição uniforme de calor. Tanto o ar como o gás natural podem ser pré-

aquecidos antes do uso, o que permite a obtenção de temperaturas de chama mais

elevadas e maior eficiência térmica, resultando na economia de combustível. Sua

utilização nos fornos cerâmicos, intermitentes ou contínuos, não oferece nenhum

problema técnico de adaptação e praticamente não necessita de nenhuma modificação.

A utilização do gás natural na indústria de cerâmica vermelha está condicionada à

existência de um ramal de gás, dificultado pelo fato das indústrias se encontrarem

dispersas no Estado, o que torna a sua distribuição economicamente inviável.

Para utilização do gás natural, é necessário que o empreendimento esteja localizado

próximo ao gasoduto. Com a construção de gasodutos no Estado de Minas Gerais, esse

insumo pode vir a ser utilizado no setor cerâmico.

f) GLP – Gás Liquefeito de Petróleo

O uso do GLP nas cerâmicas possibilita perdas menores no processo, nenhuma

produção de fuligem, um processo mais limpo, melhor controle da queima, menor

desgaste dos equipamentos, uma produção que não precisa ser interrompida para

limpeza dos queimadores, entre outros benefícios (CAVALIERE et al., 1997). Entretanto,

seu custo é mais elevado que outros insumos, motivo pelo qual os empreendimentos do

Estado de Minas Gerais não o utilizam.

g) Carvão Mineral / coque

O carvão mineral foi um combustível utilizado por muitos anos na Europa nos fornos

cerâmicos. A sua utilização nos fornos cerâmicos intermitentes ou tipo hoffmann constitui

uma alternativa mais viável do ponto de vista técnico e mais imediata do ponto de vista

de implantação (PAULETTI, 2001).

O coque tem processo semelhante ao da serragem, sendo de fácil manuseio. Devido à

elevação do preço da lenha, há uma tendência de aumento da oferta no Brasil,

entretanto atualmente sua utilização é bem reduzida em Minas Gerais.

feam

39

h) Palha de café, bagaço de cana, sabugo de milho e outras fibras

Todas essas fibras têm potencial energético próximo ao da madeira, configurando como

alternativa de utilização em fornos cerâmicos. Em virtude dessas fibras serem descartes

de outros processos, em geral seu preço é bastante atrativo, principalmente para as

cerâmicas localizadas próximas das regiões produtoras. Sua utilização no Estado de

Minas Gerais vem crescendo, sendo em geral misturadas a outros combustíveis.

2.3.1.4 Incorporação de resíduos

A indústria de cerâmica vermelha pode absorver um amplo conjunto de resíduos de

outras indústrias, o que é, do ponto de vista ambiental, bastante positivo, uma vez que

não apenas se reduz o uso de matéria-prima, mas se proporciona um encaminhamento

útil desses resíduos, evitando que sejam dispostos inadequadamente no ambiente.

Os resíduos podem ser utilizados na indústria de cerâmica vermelha por incorporação à

massa cerâmica ou como combustíveis responsáveis pela queima do corpo cerâmico,

sendo que, em ambos os casos, é utilizado o poder calorífico dos resíduos para auxiliar

na queima, como combustíveis diretos, ou misturados na argila. Os resíduos com poder

calorífico elevado, como resíduos de madeira, coque de petróleo, bagaço de cana,

sabugo de milho, palha de café, resíduo de algodão, papel e papelão, são utilizados

como combustíveis diretos.

Em Minas Gerais, os resíduos mais utilizados na mistura com a argila são o pó de balão

(resíduo da siderurgia), lama de alto-forno (fercoque) e os próprios resíduos da fábrica

(peças quebradas e cinzas). Outros resíduos como escória de alto-forno, pó de ardósia,

areia de fundição, carepa e lamas diversas de processo de tratamento de efluentes

líquidos também podem ser utilizados para este fim, embora no Estado este uso seja

restrito.

Dessa forma, a utilização de resíduos industriais como matéria-prima secundária em

produtos cerâmicos apresenta-se como uma solução, porém, deve-se garantir a queima

adequada de metais pesados e outros elementos indesejáveis constituintes dos

resíduos, assim como a incorporação destes à matriz sinterizada, de modo a evitar o

arraste por meio líquido no uso e descarte final de novos produtos. Para isso, é

feam

40

necessário que se obtenha uma temperatura de queima suficiente, controlada por meio

de termopar, sendo seu uso ainda não consolidado por parte dos empreendimentos.

Em virtude das massas utilizadas na indústria cerâmica tradicional serem de natureza

heterogênea, geralmente constituídas de materiais plásticos e não plásticos, com uma

vasta diversificação de composições, permitem a presença de materiais residuais de

vários tipos (PRACIDELLI, 1997).

Para a incorporação de resíduos na massa cerâmica deve-se observar a proporção

utilizada de modo a evitar a perda de resistência mecânica (PUREZA, 2004). Além disso,

é importante considerar a granulometria das partículas, pois a adição de elementos com

granulometria considerada alta pode alterar o nível de plasticidade da massa, causando

dificuldade na absorção da água.

Alguns resíduos são redutores de plasticidade por serem materiais que se desintegram

facilmente. Em geral, eles são provenientes das indústrias de mineração e

beneficiamento mineral, apresentando composição química e granulométrica bastante

variáveis, dependendo da origem dos materiais. As quantidades de resíduos

incorporados às matrizes cerâmicas podem variar entre 5 e 60%, provocando ligeiras

mudanças nas propriedades mecânicas, retração e absorção de água.

Os restos de tijolos queimados são gerados por toda cerâmica, mas sua reutilização tem

sido muito reduzida. Para o reaproveitamento desses resíduos é necessária apenas uma

simples moagem. Segundo Monteiro et. al (2005) resíduos de restos de tijolos

queimados podem ser misturados a argila, até um percentual de 5%, para não

comprometer a resistência mecânica do produto final.

Segundo Menezes et al., (2001) é imprescindível evidenciar que a utilização de resíduos

combustíveis adicionados às massas cerâmicas pode provocar sensível diminuição da

resistência mecânica da peça, associada à formação de grande quantidade de poros

decorrente da volatilização do combustível na queima, e alterar a composição

mineralógica do produto.

Dessa forma, a indústria de cerâmica vermelha consegue reutilizar resíduos

provenientes de diversos setores, além de resíduos de sua própria produção. A seguir é

feam

41

detalhado o uso do pó de balão, por ser o resíduo mais utilizado na mistura com a massa

cerâmica no Estado de Minas Gerais.

a) Pó de balão

Em vista da larga utilização desse resíduo nas cerâmicas do Estado de Minas Gerais,

principalmente nas proximidades do pólo siderúrgico, foi dada uma ênfase maior na sua

aplicação.

O pó de balão8 consiste no material particulado captado no alto-forno pelo sistema de

despoeiramento denominado balão gravitacional (coletor primário), conforme

demonstrado na Figura 2-13.

Figura 2-13 - Esquema do coletor de pó de balão para limpeza do gás de topo do alto-forno Fonte: OLIVEIRA & MARTINS, 2003.

8 A denominação para esse resíduo em inglês é charcok (os autores introduziram este nome para o

resíduo pó de balão, oriundo da indústria siderúrgica não-integrada a carvão vegetal, que utiliza o carvão vegetal (charcoal) como redutor.

feam

42

De acordo com Rocha (2003), o resíduo apresenta um teor médio de 30% de carbono e

uma natureza granulométrica bastante reduzida, onde, em média, 94% da sua

constituição física é menor que 1 mm.

A composição do pó de balão varia de acordo com o teor de finos e com a composição

química dos fundentes alimentados no alto-forno, uma vez que os elementos

constituintes são originários da matéria-prima utilizada na fabricação do ferro gusa. À

grosso modo, o pó de balão é constituído de finos de minério de ferro e de carvão

vegetal, mas apresenta alguns compostos tóxicos como fenóis, cianetos e amônia. Na

Tabela 2.9 é detalhada a composição do pó de balão.

Tabela 2.9 - Composição do pó de balão de uma siderúrgica não-integrada a carvão vegetal

Por composto Por elemento químico Composto Peso (%) Elemento Peso (%)

Fe2O3 62,25 Fe 43,50

C 31,36 C 31,36

SiO2 2,95 O 21,60

Al2O3 1,15 Si 1,35

Cao 0,83 Al 0,60

P2O5 0,47 Ca 0,59

MnO 0,35 Mn 0,27

K2O 0,33 K 0,27

TiO2 0,06 P 0,20

SO3 0,03 Ti 0,03

Fonte: Adaptado MALARD, 2008.

Conforme diversos resultados de análises químicas realizadas nas siderúrgicas não-

integradas e integradas, trata-se de resíduo não-inerte, ou seja, classe IIA, segundo a

NBR 10.004/2004, haja vista que no ensaio de solubilização alguns parâmetros, como o

fenol, apresentaram resultados acima do limite estabelecido.

A quantidade do pó de balão gerado em uma siderúrgica a carvão vegetal pode variar de

5kg/t gusa a 35kg/t gusa, com média de 25kg/t gusa, conforme levantamento realizado

por Malard (2009). Somente nas siderúrgicas não-integradas, por ano, são gerados

aproximadamente 125 mil toneladas desse resíduo.

feam

43

Um grande problema enfrentado pelas siderúrgicas não-integradas, maiores

fornecedoras desse resíduo para as cerâmicas, é seu armazenamento. Segundo

Malard (2009), apenas 12% dos empreendimentos armazenam o pó de balão de

maneira satisfatória e inúmeros possuem grandes passivos, o que acaba se

transformando em um problema ambiental.

Dessa forma, o aproveitamento do pó de balão na indústria cerâmica torna-se uma

excelente opção para minimização desse impacto.

Segundo Malard (2009), o pó de balão também pode ser utilizado na agricultura, na

silvicultura, na sinterização, na fabricação de briquetes e na indústria cimenteira

(co-processamento).

No ano de 2009, vinte e nove das sessenta e oito siderúrgicas não-integradas de Minas

Gerais destinaram o pó de balão para cerâmicas (MALARD, 2009).

A utilização do pó de balão na indústria cerâmica apresenta benefícios tanto para o

gerador, que resolve um problema de armazenamento e destino final, quanto para o

destinatário, uma vez que seu uso reduz o consumo de combustível e argila.

Segundo o levantamento realizado neste trabalho, na maioria das vezes a cerâmica

paga apenas o frete do transporte para adquirir o pó de balão, entretanto essa realidade

está mudando, já sendo constatadas vendas com preço da tonelada de até R$16,00,

além do frete. Essa situação deve-se principalmente ao aumento da demanda do

resíduo, e aplicação em outras áreas, antes não efetuadas, como a silvicultura.

Utilizando-se no máximo 10% do resíduo na fabricação de tijolos, pode-se ter uma

economia de até 50% no consumo energético (JACOMINO et. al, 2002).

Segundo dados compilados das visitas técnicas em cerâmicas de Minas Gerais, a

porcentagem mais utilizada pelos empreendimentos mineiros é de 10%, sendo o menor

valor encontrado de 2% e o máximo de 12%.

Entretanto poucos empreendimentos possuem controle preciso da porcentagem de

resíduo utilizada, sendo a mistura realizada por método de proporção de carga. Por

feam

44

exemplo, usando-se 10% de pó na mistura, para cada nove cargas de argila, uma carga

de pó de balão.

Por outro lado, existem empresas que possuem dosador de pó de balão (Figura 2-14).

Com esse equipamento a porcentagem de pó utilizada é precisa, podendo-se alcançar a

proporção de mistura desejada.

Figura 2-14 – Dosador de pó de balão

De acordo com um estudo experimental realizado por Almeida (2001), os tijolos que

tiveram adição de 10% do resíduo foram os que apresentaram melhor qualidade técnica,

sendo que a resistência à compressão encontrada nesses tijolos foi de 2,5MPa,

considerada satisfatória, pois a Norma ABNT NBR 6461 especifica um valor mínimo para

esse parâmetro de 1,0MPa. Quanto à absorção de água, os tijolos apresentaram valores

também adequados à Norma ABNT NBR 8947.

Em relação aos riscos ambientais, esse estudo concluiu que a maior quantidade de

fenóis é destruída no processo de queima, não sendo incorporada nos tijolos e nas

emissões de gases, demonstrando a viabilidade ambiental desse uso, embora a

temperatura de queima tenha que ser controlada e elevada para garantir a destruição

desse elemento.

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45

Apesar do pó de balão não ser um resíduo perigoso e trazer benefícios para a cerâmica,

são necessários cuidados no seu uso, principalmente quanto seu armazenamento

temporário. Conforme as visitas realizadas no município de Igaratinga, foram

constatados diversos depósitos inadequados, como ilustrado na Figura 2-15.

Figura 2-15 – Depósito de pó de balão a céu aberto sem nenhum controle

Entretanto, vários empreendimentos vêm se adequando ao implantar depósitos

temporários impermeabilizados e cobertos, conforme a Figura 2-16.

Figura 2-16 – Depósito de pó de balão coberto e impermeabilizado

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46

2.3.2 Descrição do processo industrial

O processo de fabricação dos produtos de cerâmica vermelha ou estrutural compreende

as seguintes etapas:

Extração da argila;

Preparação da massa cerâmica;

Conformação;

Tratamento térmico;

Acabamento;

Inspeção;

Estocagem e expedição.

A Figura 2-17 apresenta as etapas do processo de fabricação de cerâmica vermelha, de

maneira mais detalhada.

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Figura 2-17 - Fluxograma do processo produtivo de cerâmica vermelha Fonte: Adaptado da Associação Brasileira de Cerâmica

Argila “dura”

Britagem

Moagem

Dosagem Alimentação

Argila “mole”

Dosagem Alimentação

Desintegração

Mistura

Laminação

Extrusão

Corte

Prensagem

Secagem

Queima

Inspeção

Estocagem

Expedição

1 2

2 – Tijolos Furados,

Blocos,Lajes, Elementos

Vazados, Tubos (Manilhas e Alguns

Tipos de Telhas

1 - Telhas

Extração

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2.3.2.1 Extração

A extração da argila é realizada a céu aberto, podendo ser manual (Figura 2-18) por

meio de pás ou mecanizada (Figura 2-19) com o auxílio de retroescavadeiras, pá

carregadeiras, trator de esteira com lâmina, pá escavadeiras, entre outros.

Figura 2-18 - Depósito de argila extraído manualmente

Figura 2-19 – Depósito de argila extraído com auxílio de máquinas

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49

Muitas vezes a atividade de extração de argila está diretamente relacionada à extração

de areia, que tem maior valor econômico por abastecer a indústria da construção civil.

Nesses casos, para realização da atividade de extração da areia, é necessário retirar a

camada superior do terreno constituída de argila, que representa de 30% a 40% do

material bruto que passa pelo desmonte.

Dessa forma, as extrações de argila e areia podem ocorrer juntas ou isoladamente.

A Figura 2-20 ilustra a retirada de areia por meio de draga flutuante em uma área de

várzea. Para alcançar o nível de areia, foram utilizadas escavadeiras que removeram a

camada de argila sobre a areia.

Figura 2-20 – Extração de areia por meio de draga

Em geral, as empresas do setor oleiro cerâmico que praticam a lavra não investem em

pesquisa geológica e a condução desta atividade é executada pelos encarregados da

extração, com base na experiência dos mesmos para identificação de horizontes

argilosos.

2.3.2.2 Preparação da massa cerâmica

A finalidade da preparação da massa cerâmica é a obtenção de homogeneidade

granulométrica e composição mineralógica. Observadas as características da argila e do

produto a serem fabricados, é necessário ter uma preparação adequada da massa para

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50

evitar a ocorrência de trincas, deformações, variações no processo de extrusão,

amperagem, corte, regulagem de boquilha, quantidade produzida, entre outros.

a) Sazonamento

O sazonamento é a fase de descanso ou maturação da matéria-prima. Ele consiste em

estocar a argila a céu aberto quando ocorre o processo de aeração e cura do material. A

exposição ao tempo ajuda na lixiviação de sais solúveis e auxilia na homogeneização e

distribuição da umidade na massa argilosa. Grande parte das indústrias de Minas Gerais

não realiza essa etapa no período adequado e em geral olarias de pequeno porte não o

fazem por uma questão financeira (deficiência de capital de giro).

Segundo Ioshimoto & Zandonadi (1991), o sazonamento deve variar de seis meses a

dois anos. As argilas são depositadas em camadas nos pátios das empresas, onde a

espessura e alternância das camadas dependem dos tipos de argilas e das propriedades

desejadas da mistura final.

Devido a esse processo, facilita-se a moldagem por extrusão, evitando o inchamento dos

materiais após a moldagem; o que causaria deformações, trincas e ruptura nas peças

durante o processo de secagem, assim como o desenvolvimento de gases durante a

queima.

A ausência de sazonamento adequado explica grande parte dos defeitos encontrados

nos produtos de cerâmica vermelha, que se propagam ao longo das etapas do processo

produtivo.

b) Mistura e Homogeneização

A massa consumida na cerâmica vermelha pode ser uma mistura de argilas plásticas

com argilas não-plásticas. A mistura de argilas de diferentes características físico-

químicas atende às diferentes especificações do produto e também uma melhor

qualidade.

Em geral as cerâmicas do Estado de Minas Gerais realizam mistura de diferentes argilas,

entretanto em sua maioria, com base em experiências adquiridas anteriormente, sem

realização de ensaios laboratoriais para definição da melhor mistura a ser utilizada.

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51

Para a fabricação de tijolos, as argilas devem ser moldadas facilmente, apresentar

valores de tensão de ruptura de médio a elevados, cor vermelha após a queima, visto

que a tradição do mercado brasileiro é pelas cores vivas, variando de alaranjado ao

vermelho e poucas trincas e empenamentos. Para fabricação de telhas, as argilas

devem ter plasticidade adequada para a moldagem e tensão de ruptura à flexão elevada

quando secas, de forma a permitir o manuseio durante o processo de fabricação. Após a

queima deve apresentar baixa porosidade aparente e baixa absorção de água e não

apresentar trincas e empenamentos. Com relação à cor, atualmente há uma aceitação

crescente, sobretudo nas regiões costeiras, com destaque no Nordeste, de telhas

brancas ou claras, mas em Minas Gerais, a cor vermelha ainda predomina.

A homogeneização é feita manualmente nas olarias com pouquíssima tecnologia, ou por

meio de misturadores, de modo a se obter uma massa argilosa com maior uniformidade

granulométrica e teor de umidade adequado. Ela envolve desde as etapas de

alimentação, desintegração, laminação e umidificação até a entrada da massa na

máquina extrusora.

Na primeira etapa de preparação da massa, a argila é descarregada em um silo ou

caixão alimentador e por meio de correia transportadora é direcionada para um

desintegrador, que desmancha os torrões.

Logo após, é realizada uma moagem e mistura das argilas, eliminando em muitos casos

os problemas causados por raízes. Nesta etapa, o misturador (Figura 2-21) promove

simultaneamente o amassamento, umidificação e homogeneização da matéria-prima.

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52

Figura 2-21 - Misturador

Na saída do misturador, o material deve ter cor uniforme. Caso contrário o produto

apresentará retrações e absorções diferentes.

A terceira etapa consiste em destorroar e laminar. Os laminadores são máquinas

semelhantes a um moinho de rolos destinados a desagregar os grãos maiores e os

torrões e impurezas presentes na matéria-prima, misturando-os à massa cerâmica,

complementando assim o trabalho do misturador. Eles também são destinados à

melhoria na distribuição da água e ao aperfeiçoamento da homogeneização da massa

cerâmica, deixando-a em condições adequadas para a conformação.

Para produtos sem deformações internas é indispensável que a composição química

seja uniforme em toda peça. Para isso, é importante misturar e laminar bem a massa e

evitar excesso de água.

c) Conformação

A conformação envolve três processos: extrusão, prensagem e torneamento.

A extrusão consiste em compactar a massa argilosa em uma câmara simples

(maromba simples) ou de alta pressão, equipada com sistema de “desaeração”

(maromba a vácuo), contra um molde (boquilha) de formato do bloco cerâmico desejado.

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53

O material laminado segue por uma correia transportadora até a maromba, que tem

dupla função. A primeira função é retirar o ar da massa de argila por sistema de vácuo

enquanto a segunda função é comprimir e extrusar a argila no formato das peças para

posteriormente serem cortadas.

A câmara de vácuo exerce uma sucção e retira o ar entre os pequenos cilindros de

massa e também o ar interno dentro de cada um deles. O vácuo ou sistema de vácuo faz

a junção da argila, que é responsável pela resistência a verde (antes da queima) e pela

correção das deformações causadas pela hélice da maromba. A argila possui uma

característica chamada de memória e faz com que toda deformação causada durante o

processo, mesmo que se tente corrigir quando ainda verde (úmido), reapareça na

queima. Cabe ao vácuo eliminar essa deformação.

As massas tratadas a vácuo proporcionam melhora na trabalhabilidade devido ao fator

físico, bem como as reações físicoquímicas existentes entre a água e a superfície do

grão.

Pode-se imaginar o vácuo obtido dentro da câmara como um equilíbrio dinâmico entre o

ar que está constantemente entrando, trazido pela alimentação, e o ar que está

constantemente saindo, levado pelo tubo de sucção da bomba de vácuo. A grelha de

entrada (onde se formam os cilindros de massa) e a boquilha de saída (onde acontece à

extrusão final) completam o fechamento da câmara de vácuo pressionada pela massa.

O processo de extrusão dá forma ao produto cerâmico por meio da passagem da massa

plástica, ou semi-firme, pela abertura na seção transversal do objeto extrusado.

A boquilha é o elemento essencial para a formação de peças extrudadas, consistindo em

uma placa perfurada com pequena conicidade para saída de massa. Por meio da

deformação plástica facilita sua passagem pela abertura, dando formato ao produto.

Dentre os problemas surgidos durante o processo de extrusão, a maioria dos casos é

devido à fabricação imperfeita das boquilhas e a variação de velocidade da massa que

está dentro da extrusora. O ideal seria a saída da massa com velocidade igual em todas

as cavidades do bocal. O roçar produzido pelas paredes laterais é sempre maior daquele

produzido no centro, portanto, a massa sai mais rápido no centro do que pelas laterais

(BORBA & TUBINO, 2006).

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54

Depois de cortadas, as peças apresentam-se perfeitas aparentemente, mas depois de

submetidas a secagem, podem apresentar-se com fendas e empenamento. Estes

defeitos também são produzidos pelo mau equilíbrio da boquilha. Para o equilíbrio,

comumente são colocados freios metálicos no início da boquilha.

(BORBA & TUBINO, 2006).

Para evitar defeitos de conformação de massa na saída da boquilha, tal como a

formação de dentes, e melhorar sua trabalhabilidade e a resistência à tração, procura-se

facilitar a saída de massa, nos ângulos, alargando os mesmos na espessura do interior

do bocal, além de facilitar a passagem da massa utilizando a água como lubrificante, e

se necessário, frear com chapa a saída da massa, nos locais onde a massa sai com

maior velocidade (BORBA & TUBINO, 2006).

Logo após a extrusão, cortadores manuais ou automáticos (Figura 2-22) são utilizados

para dar a dimensão desejada às massas.

Figura 2-22 – Cortador automático

Os cortadores automáticos são utilizados das seguintes maneiras:

Corte vertical rápido, onde o fio cortante é ascendente e regressa a sua posição

original pelo mesmo corte efetuado;

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55

Corte horizontal rápido, onde o fio cortante pode regressar a sua posição original

pelo mesmo corte, ou voltar repetindo a operação inversa.

As peças cortadas podem ser retiradas manualmente ou automaticamente em

prateleiras. Depois de cortadas, as peças que se apresentam aparentemente perfeitas

são submetidas à secagem artificial (forçada) ou natural.

2.3.2.3 Tratamento Térmico

O tratamento térmico envolve dois processos: secagem e queima.

a) Secagem

A secagem é realizada após o processo de conformação/moldagem do material, tendo

como objetivo reduzir o máximo possível de umidade antes de se proceder à queima. Em

geral, as peças ao saírem da etapa de moldagem, contêm cerca de 30% de umidade,

dependendo do tipo de sistema de moldagem (com ou sem vácuo). Ao final da secagem,

a umidade deve estar em torno de 3%, sendo o ideal teor de umidade de 1% antes do

início da queima (SANTOS & SILVA, 1995).

A secagem de uma massa cerâmica é influenciada por diversos fatores como:

temperatura, umidade relativa do ar, velocidade e aplicação da direção do ar, densidade

de carga, composição granulométrica da massa, forma, dimensão e método de

conformação das peças (BORBA & TUBINO, 2006).

De acordo com Durães apud Groenner (2007), a secagem dos tijolos deve ser lenta e

uniforme, a fim de que a água seja eliminada igualmente e gradativamente em toda

massa, até que uma pequena porcentagem permaneça para manter a coesão da argila e

para que a peça não se desagregue antes da queima.

A colocação das peças para secagem favorece a secagem. A condição ideal ocorre

quando o centro da peça está com temperatura superior a da superfície, fazendo com

que a tensão de vapor force a difusão de umidade até a superfície.

Argilas muito plásticas e de granulometria muito fina necessitam de grande quantidade

de água de amassamento e, portanto, possuem elevada contração de secagem. Dessa

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56

forma, a velocidade de secagem torna-se lenta, pois, a massa apresenta textura muito

compacta, o que dificulta a migração de água até a superfície.

O processo de secagem pode ser realizado por meio de ar aquecido ou aeração natural.

A secagem artificial é realizada por 26% das empresas cerâmicas de Minas Gerais,

segundo levantamento realizado neste trabalho, enquanto a secagem natural é praticada

por 74%. A Figura 2-23 apresenta as formas de secagem utilizadas pelo setor no Estado.

Figura 2-23 – Formas de secagem de produtos cerâmicos utilizadas em Minas Gerais

Secagem natural

A secagem natural é um processo demorado, que exige grandes áreas protegidas do sol

e ventilação natural controlada, além de acarretar em manipulação excessiva de

material. Muitas vezes a secagem natural é realizada próximo ao forno para

aproveitamento do calor do mesmo, sendo as peças colocadas em prateleiras abertas,

para facilitar a circulação de ar.

A velocidade da secagem natural depende das condições da temperatura e umidade do

ar ambiente, variando de dias até semanas. Em Minas Gerais, a secagem natural ocorre

por um período médio de sete dias.

No processo de secagem natural, o arranjo e a disposição dos lotes e os locais de

secagem são os mais diversos, dando margem à criatividade. Em Minas Gerais, é mais

comum a utilização de lonas, conforme Figura 2-24, mas também se usa secagem

dentro de galpão com ou sem ventilador (Figura 2-25), além da secagem ao ar livre.

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Figura 2-24 - Vista de secagem natural realizada sob lonas

Figura 2-25 – Secagem de peças em galpão com utilização de ventiladores

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Durante o desenvolvimento do trabalho, foi verificado em diversos empreendimentos,

geralmente olarias que operam com fornos do tipo caieiras, a realização da secagem

sem o mínimo controle, a céu aberto e sujeita a intempéries, conforme a Figura 2-26.

Figura 2-26 - Secagem natural a céu aberto

Conforme constatado durante as visitas técnicas, a secagem natural mais eficiente é

realizada em estufa de lona, motivo da maioria do setor adotar esse modelo.

Para aumentar a eficiência na secagem natural, a armazenagem deve ser feita em pilhas

pequenas, uma vez que nesta fase ainda não se tem resistência suficiente, ou em

estantes ou prateleiras deixando espaço entre elas para circulação de ar. A base de

apoio deve ser plana, mas com pouca superfície de contato para permitir as contrações,

especialmente em peças largas. Além disso, as zonas de secagem mais afetadas por

correntes de ar ou pelo sol devem ter proteções adequadas.

Secagem artificial

A secagem artificial é executada em câmaras de alvenaria, podendo ser contínua ou

intermitente. Nesse processo, as peças são colocadas sobre prateleiras ou empilhadas,

de maneira a facilitar o contato com o ar.

O secador intermitente mais comum é o de câmara, alimentado com ar quente fornecido

por uma fonte de calor (gerador próprio ou recuperação do calor do forno). O material é

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59

colocado em prateleiras por processo manual ou mecânico e as peças devem ser

espaçadas segundo o sentido da corrente dos gases quentes, maximizando a superfície

exposta e uniformizando a velocidade de secagem.

O secador de funcionamento contínuo típico é o túnel, utilizado numa vasta gama de

materiais cerâmicos por motivos de ordem técnica e econômica, tais como condições de

temperatura e umidade relativa, ao longo do secador, utilização do mesmo tipo de

vagonetas que são usadas na queima no forno túnel e obtenção de rendimentos

térmicos mais elevados.

As vantagens da secagem artificial são o menor tempo requerido para completar a

secagem, em média de 24 a 30 horas, além de maior controle do processo.

Neste processo, o calor utilizado é obtido dos fornos ou em fontes próprias de calor por

meio de fornalhas. A temperatura oscila entre 80 e 110ºC, demandando uma grande

quantidade de energia térmica para evaporar a água. Nele, as peças sofrem um primeiro

aquecimento com ar quente e úmido, a fim de que não percam a água de superfície. Em

seguida, o ar quente e úmido vai paulatinamente sendo substituído por ar quente e seco,

até que toda umidade seja extraída do material (SANTOS & SILVA, 1995).

Ao contrário da secagem natural, neste processo as deformações sofridas pelas peças

são mínimas (VERÇOZA, 1987).

A Figura 2-27 ilustra uma secagem artificial encontrada em fábricas de Minas Gerais.

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Figura 2-27 - Vista interna de um secador tipo túnel

b) Queima

A queima é a etapa mais delicada do processo cerâmico. Eventuais defeitos originados

nas etapas anteriores revelam-se somente quando o material é queimado.

É durante a fase da queima que os produtos cerâmicos, submetidos ao tratamento

térmico, sofrem transformações físico-químicas, alterando-lhes as propriedades

mecânicas e conferindo-lhes as características inerentes a todo produto cerâmico.

As temperaturas máximas de queima para fabricação de cerâmica vermelha variam

conforme tipo de forno, natureza da argila e produto cerâmico, oscilando entre 800ºC e

1000ºC.

A queima é subdividida em cinco fases: pré-aquecimento (esquente ou “fogo fraco”),

caldeamento ou “fogo forte, manutenção de temperatura, abafamento e resfriamento.

Durante a fase de “fogo fraco”, o aquecimento deve ser lento para se evitar que ocorram

estouros e trincas nas peças cerâmicas. Na fase de “fogo quente” a taxa de aquecimento

pode ser acelerada entre 30 e 40º C por hora. As peças cerâmicas nesta etapa adquirem

a mínima resistência mecânica tolerável para serem utilizadas. A etapa de manutenção

de temperatura consiste em manter as temperaturas as mais constantes possíveis.

Durante esta fase ocorre à sinterização das peças cerâmicas o que eleva a resistência

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61

da cerâmica. Na fase de abafamento todos os registros devem ser fechados e também a

fornalha e o cinzeiro. Isso é necessário para se manter o máximo de calor dentro do

forno, completando a queima. O processo de resfriamento, por sua vez, deve ser lento,

com tempo de permanência dos produtos no forno desligado por cerca de vinte e quatro

horas.

Segundo Borba & Tubino (2006), em termos de temperatura, o ciclo da queima

comporta-se da seguinte maneira:

Pouco acima de 100ºC inicia-se a eliminação da água higroscópica

remanescente, ou seja, a água que permaneceu se a secagem não foi absoluta

ou umidade adquirida do ambiente externo durante o tempo de saída do secador

e entrada no forno;

Em torno de 200ºC ocorre a eliminação da água coloidal, ou seja, água que fica

ligada a partícula argilosa e que permanece mesmo após a secagem;

Entre 350ºC a 650ºC ocorre a queima de substâncias orgânicas presentes na

massa, como também a dissociação de compostos sulfurosos e ainda a liberação,

na forma de vapor, da água de constituição das argilas (águas quimicamente

combinadas na caulinita);

Em temperaturas próximas a 570ºC dá-se a transformação do quartzo,

acompanhada de uma expansão (durante o resfriamento ocorre à contração);

Entre 870ºC e 900ºC os carbonatos se decompõem e liberam CO2 e acima de

700ºC se desenvolvem as reações químicas da sílica e da alumina com os

elementos fundentes, havendo formação de complexos sílico-aluminosos, que são

exatamente os que trazem a dureza, resistência e estabilidade ao corpo cerâmico;

Acima de 1000ºC os compostos sílico-aluminosos, que estão na forma vítrea,

começam a amolecer e o corpo cerâmico pode escoar, deformando-se.

A temperatura e o tempo são os principais determinantes das condições e qualidade da

queima das peças cerâmicas. Nesse processo, é de fundamental importância o rigor no

controle do tempo de ciclo de aquecimento, queima e resfriamento. Um tempo de

feam

62

queima não controlado pode acarretar em deformações, fissuras e quebra de peças,

além de peças cruas no caso em que as temperaturas sejam muito baixas.

Para se ter um controle mais acurado da temperatura, usa-se termopares que são

dispositivos elétricos de medição de temperaturas. Nos últimos anos os

empreendimentos têm implamentado esses dispositivos, entretanto conforme verificado

durante as visitas realizadas, cerca de 30% dos empreendimentos ainda não os utilizam.

Na queima, os produtos cerâmicos atingem suas características funcionais. Nesta fase, a

maioria dos defeitos provenientes das etapas anteriores da produção se manifesta. As

peças são empilhadas dentro dos fornos e o clico de queima dura aproximadamente 120

horas (CÓRDOVA, 2007).

Nos fornos contínuos, após a queima os produtos são retirados pelas esteiras ou

carrinhos, não necessitando aguardar o resfriamento do forno. Nos fornos onde o

manuseio é feito sem o auxílio de equipamentos é necessário esperar o resfriamento do

forno para que manualmente se possa remover os produtos. Em alguns casos, o

resfriamento pode durar até três dias. Segundo dados levantados nas visitas técnicas, o

ciclo de queima apresenta grande variação entre os empreendimentos. A fase de

esquente dura entre 8 e 40 horas, com média de 20 horas, enquanto a fase de queima

propriamente dita dura entre 14 e 48 horas com média de 36 horas. A fase de

esfriamento varia de 0 a 72 horas, com média de 24 horas. Dessa forma, o ciclo total de

queima varia de 24 horas até 168 horas, mas a média nas cerâmicas visitadas é de 58

horas.

Algumas dessas empresas adotam medidas como a colocação de ventiladores na porta

do forno, de modo a acelerar seu resfriamento, conforme Figura 2-28. Segundo

informado, adotando essa medida, o tempo de esfriamento é de cerca de 24 horas.

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63

Figura 2-28 – Ventilador na boca de um forno abóboda

Segundo Pedrassani (2001), os fatores temperatura e tempo devem ser cuidadosamente

acompanhados, pois influenciam nas reações assim como a atmosfera do forno influi no

resultado final, uma vez que os constituintes da massa reagem com os gases que estão

em contato.

Fornos

Os fornos são os equipamentos principais de uma indústria de cerâmica vermelha sendo

classificados em intermitentes e contínuos.

Além dos fornos intermitentes e contínuos, existem as caieiras, que são construções

primitivas que sequer possuem câmaras e chaminé, e que trabalham sazonalmente,

sendo desmontadas após a queima uma vez que seu revestimento é composto da

própria carga queimada (Figura 2-29). As caieiras são utilizadas em 16% dos

empreendimentos do setor no Estado de Minas Gerais.

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64

Figura 2-29 - Vista de uma caieira

Fornos Intermitentes

Nesses tipos de fornos o calor é gerado fora dos fornos e circula pelo interior do mesmo

por meio de pilhas de material cerâmico até a chaminé. O material não é cozido de forma

uniforme, podendo ser necessário desprezar algumas peças no final da operação por

falta ou excesso de queima. Além deste inconveniente, eles operam em regime de

carga-queima-descarga, portanto não permitem a continuidade na produção.

No forno intermitente, o calor gasto para aquecer a carga e as paredes do forno não é

recuperado ao final do processo de queima e durante a fase de resfriamento. Todo o

calor retido na carga e nas paredes do forno é dissipado para o ambiente. Esta perda de

energia pode corresponder a aproximadamente 50% do total empregado no processo de

queima (GRIGOLETI, 2001).

Estes fornos são câmaras de alvenaria cerâmica espessa, carregados manualmente,

sendo aquecidos até à temperatura desejada ser atingida. Mantêm-se esta temperatura

por um período pré-estabelecido de horas, deixando-se, então, o mesmo sofrer

resfriamento para, no final, as peças serem retiradas do seu interior. Os fornos

intermitentes caracterizam-se pela baixa produção, alto uso de mão-de-obra e alto

consumo energético. Segundo Santos & Silva (1995), a disposição de várias câmaras

paralelas pode tornar o processo com maior eficiência energética.

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65

Os fornos intermitentes mais comuns são do tipo redondo, também denominado de

abóboda (câmaras circulares), o tipo retangular, também chamado de tatu ou paulistinha

(câmaras retangulares) e o tipo vagão. Eles podem ser do tipo comum ou semicontínuo.

Forno intermitente comum: as dimensões deste tipo de forno variam de 5 a 10m

ou mais de largura, com 3 a 6m de altura. Na base ficam as fornalhas, sobre a

qual o material é empilhado, deixando-se espaços para passagem do ar aquecido.

Depois de aceso, o forno tem sua porta lacrada com uma parede de tijolos e

argila, e a tiragem é controlada por orifícios que se comunicam com a chaminé.

Devido a sua forma retangular, as peças colocadas nos cantos sofrem menor

queima, o que gera desperdício (em torno de 10%). A energia utilizada em geral é

a lenha (VERÇOZA, 1987).

Forno semicontínuo: este tipo de forno nada mais é do que vários fornos

intermitentes, colocados lado a lado. Enquanto um forno é aquecido, o segundo

sofre resfriamento, o terceiro é carregado ou descarregado e o último é usado

para o processo de secagem. Desta forma, aproveita-se o máximo da energia

gerada no processo, tornando-o mais eficiente energeticamente do que fornos de

uma única câmara (VERÇOZA, 1987).

Segundo Souza (1991), o custo da queima é responsável por 40 a 50% do custo total do

produto para indústrias que utilizam fornos intermitentes. Este fato coloca a indústria de

cerâmica vermelha como aquela que possui um dos maiores índices de custo de energia

versus custos de produção. Segundo esse autor, revestir internamente o forno com fibra

cerâmica pode acarretar uma economia do consumo de lenha em até 35%, dependendo

do tipo de forno e espessura da camada de fibra.

Os fornos do tipo redondo são encontrados em 37% dos empreendimentos do setor no

Estado de Minas Gerais, os fornos retangulares em 31% das empresas e os fornos

vagão em 4%.

Fornos Contínuos

Os fornos contínuos caracterizam-se por serem formados por uma série de câmaras, de

modo que, quando uma câmara está em fogo, o ar aquecido é levado a atravessar todas

feam

66

as demais câmaras antes de sair pela chaminé. Neste tipo de forno, a produção é

contínua, funcionando em ciclos de 24 h/dia, sem necessidade de paradas para carga ou

descarga dos produtos.

Os fornos contínuos mais utilizados são do tipo hoffmann de galerias paralelas e os

fornos túnel.

Forno tipo hoffmann: inventado em 1858, usa o ar quente das câmaras em fogo

para o pré-aquecimento das câmaras seguintes, que são interligadas, mantendo a

produção contínua. Pode assumir a forma circular, oblonga ou retangular. O

número de câmaras depende do tempo em que o material deve ficar enfornado, e

é feito de modo a poder ser carregado duas vezes por dia. Neste tipo de forno, a

carga é fixa e a zona de queima (geralmente lenha) é continuamente deslocada

de uma a outra extremidade de cada galeria. Cada câmara tem cerca de 3m de

largura por 2m de altura. Nestas câmaras são colocadas as peças e a lenha,

alternando-as conforme o estágio de queima. Na parte superior existem aberturas,

chamadas agulheiros, com tampa, onde é introduzida a lenha ou outro

combustível e onde é feito o controle visual do fogo. A parte superior do forno é

coberta por um telheiro e geralmente é usada para secagem de peças ou lenha

(VERÇOZA, 1987).

Forno túnel: criado em 1877, é bastante superior ao forno hoffmann por

apresentar melhor rendimento térmico e economia de mão-de-obra muitas vezes

superior a 60%. É um longo túnel onde a câmara de queima fica no centro. O

material é introduzido sobre vagonetas que correm em trilhos e se movem de uma

extremidade a outra do túnel. À medida que o material vai percorrendo o túnel, ele

sofre um aquecimento gradativo até alcançar a zona onde se efetua a combustão.

O grande inconveniente do forno túnel é o alto custo de implantação e o fato de

ser específico para queima de determinado produto. Desta forma, sempre que

houver troca de produto a ser queimado, devem ser feitas adaptações na

velocidade, chama e quantidade de material, o que acaba atrasando a produção

(VERÇOZA, 1987).

Os fornos hoffmann são utilizados em 6% dos empreendimentos, assim como os fornos

túnel.

feam

67

As Figuras seguintes ilustram cada um dos tipos de fornos existentes no Estado de

Minas Gerais, enquanto que a Figura 2-35 apresenta a distribuição dos fornos no Estado

por empreendimentos.

Figura 2-30 – Forno Tatu ou paulistinha ou retangular

Figura 2-31 – Forno Abóboda ou redondo

feam

68

Figura 2-32 – Forno Vagão

Figura 2-33 - Forno Túnel

feam

69

Figura 2-34 – Forno hoffmann

Figura 2-35 – Distribuição de tipo de fornos por empreendimentos do Estado de Minas Gerais

Segundo o SENAI, no Brasil 65% dos fornos são intermitentes, 28% semi-contínuos, 2%

contínuos e 5% de outros tipos de fornos.

Entre todos os fornos utilizados, os fornos túneis são tidos como os mais racionais no

consumo de energia, em função do seu funcionamento contínuo, não havendo o

consumo de energia para aquecimento da estrutura, como feito em fornos intermitentes,

com a queima ocorrendo em um ciclo com aquecimento, queima e resfriamento.

feam

70

2.3.2.4 Acabamento

Essa etapa não é muito usual no setor de cerâmica vermelha, sendo constatada em 16%

dos empreendimentos visitados. Em geral, é realizada nos empreendimentos produtores

de telhas, que aplicam uma resina para embelezamento da peça, conforme Figura 2-36.

Figura 2-36 – Aplicação de resina em telhas no município de Monte Carmelo

2.3.2.5 Inspeção

A inspeção pode ser visual ou por meio de ensaios físicos, como de resistência, de

absorção de água, de granulometria, conforme Figura 2-37, além de medição, para

aferição das dimensões.

Figura 2-37 - Ensaios de resistência, absorção de água e granulometria

feam

71

Em Minas Gerais, 12% dos empreendimentos do setor de cerâmica vermelha, em geral

fabricantes de telhas, possuem laboratório próprio para aplicação dos ensaios citados

acima.

Em blocos estrutural e de vedação são feitos ensaios laboratoriais de determinação das

dimensões, desvio em relação ao esquadro e planeza das faces, massa, absorção de

água e área líquida e resistência a compressão.

Em telhas são realizados ensaios laboratoriais de determinação das dimensões, massa,

absorção de água, permeabilidade, deflexão, torção e tensão de ruptura à flexão.

2.3.2.6 Estocagem

A estocagem dos produtos é realizada em área a céu aberto ou galpão, onde permanece

até sua expedição, conforme Figura 2-38.

Figura 2-38 - Estocagem de tijolos

feam

72

No Estado de Minas Gerais, apenas 7% das empresas armazenam seu produto em local

com cobertura.

2.3.2.7 Expedição

A expedição (transporte) é efetuada por meio de caminhões. As empresas cerâmicas

utilizam veículo próprio ou terceirizado, sendo a última mais comum. Os caminhões

utilizados na expedição trafegam, em média, com dez milheiros de tijolos. O mau

condicionamento e mau empilhamento do produto cerâmico por ocasião do transporte, o

manuseio no carregamento e no descarregamento causam defeitos (lascas e fraturas)

na peça cerâmica.

Em geral, apenas as telhas são mais bem acondicionadas em lotes envoltos por cinta

plástica, que evita o desgaste por atrito e por manuseio individual das peças.

feam

73

3 ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS DECORRENTES DA

FABRICAÇÃO DE CERÂMICA VERMELHA

A fabricação de cerâmica vermelha causa impactos negativos ao ambiente, associados,

principalmente, à queima de combustíveis e à extração da argila.

3.1 Efluentes atmosféricos

Na produção de cerâmica vermelha são emitidos poluentes atmosféricos, gerando

impactos associados ao efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e a chuva

ácida. Tais impactos estão relacionados às atividades de transporte, recepção, manuseio

e mistura de matérias-primas e insumos e ao uso de energéticos (GRIGOLETTI, 2003).

A principal atividade responsável pela emissão de material particulado e gases é a

queima das cerâmicas vermelhas nos fornos. Os gases poluentes liberados durante esse

processo se consistem de uma combinação dos combustíveis utilizados com os

componentes presentes na argila.

A Tabela 3.1 apresenta uma comparação das emissões da queima utilizando-se como

energéticos o carvão mineral (combustível fóssil) e a lenha (biomassa).

Tabela 3.1 - Fator de emissão de poluentes atmosféricos para queima de carvão e lenha

Fator de emissão (kg contaminante/ t combustível)

Contaminante Combustível MP SOx CO HC

Carvão Mineral 10 19 45 10

Lenha 5 0,75 1,3 1,35

MP: Material Particulado; SOx: óxido de enxofre; CO: monóxido de carbono; HC: Hidrocarbonetos. Fonte: CÓRDOVA, 2007.

Conforme se pode observar, o uso da lenha reduz a taxa de emissão de todos os

poluentes. Além disso, quando utilizada de maneira sustentável, por meio de plantios de

espécies exóticas, estoca CO2, principal gás de efeito estufa.

Entretanto, apesar da maior parte do setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas

utilizar como fonte de energia em seu processo de produção, a queima de combustível

feam

74

provenientes da biomassa (lenha, serragem etc.), há considerável emissão de gases

estufa.

Segundo Manfredini & Sattler (2004) há um grande consumo de energia no processo de

produção da indústria de cerâmica vermelha no Brasil, algo em torno de 21% menos que

a indústria do cimento, considerada uma das indústrias com maior consumo energético

do setor industrial.

Em Minas Gerais, em geral, é utilizada lenha ou derivados de madeira, além de outras

biomassas como insumos energéticos, sendo as emissões durante a queima mais

controladas, conforme apresentado na Tabela 3.1. Conforme vários laudos de

automonitoramento de emissões atmosféricas apresentados pelas cerâmicas, no

desenvolvimento deste trabalho, os resultados demonstraram o atendimento ao padrão

de 150 mg/Nm3, estabelecido pela legislação ambiental vigente no Estado de Minas

Gerais (DN COPAM nº 11/1986), sem a necessidade de implantação de sistema de

controle de material particulado.

Em geral para as cerâmicas que possuem licença ambiental no Estado de Minas Gerais,

é exigido automonitoramento na saída da chaminé dos fornos quanto aos parâmetros

material particulado e CO2.

Quando se utiliza combustível fóssil, as emissões são intensificadas principalmente

devido à geração de SOx, sendo necessária a adoção de sistemas de controle como

lavadores de gases, conforme apresentado na Figura 3-1 de um empreendimento

localizado em Morro da Fumaça/SC. Especificamente em Minas Gerais, durante a

elaboração do trabalho não foi encontrado empreendimento detentor de lavador de

gases.

feam

75

Figura 3-1 - Vista do lavador de gases instalado no prolongamento da chaminé do forno de olaria Fonte: CÓRDOVA, 2007.

Além das emissões provenientes da queima, existem as poeiras fugitivas oriundas do

tráfego de veículos e manuseio de matérias-primas e insumos e emissão de gases em

decorrência do transporte de matérias-primas e produtos.

As poeiras fugitivas provenientes do tráfego de veículos podem ser controladas por

aspersão de água por meio de caminhão-pipa ou sistema de aspersão fixo. Empresas

que possuem vias e pátios pavimentados podem utilizar varredeiras, evitando assim o

desperdício de água. A pavimentação de vias e pátios, por si só, contribui muito para a

minimização desse impacto.

As etapas de recepção, manuseio e mistura de matérias-primas e insumos, incluindo-se

a argila e o pó de balão, também geram emissões significativas de material particulado e,

por isso, é necessário controlar esses processos. Entretanto, em Minas Gerais, poucas

são as empresas que realizam esse controle, adotando de modo geral sistemas de

aspersão de água.

Quanto as emissões de gases do transporte, a geração pode ser reduzida com a

diminuição das distâncias percorridas, com utilização de insumos locais, e manutenção

de veículos.

Tendo em vista o porte da grande parcela dos empreendimentos de cerâmica vermelha

no Estado de Minas Gerais, bem como por ser considerada de pequeno potencial

feam

76

poluidor não há exigência de monitoramento da qualidade do ar. Entretanto, em regiões

com alta concentração de empreendimento deste setor produtivo, como é o caso do

município de Igaratinga, seria de importante uma avaliação do nível desse somatório de

fontes de emissão.

Segundo a Resolução CONAMA nº 03/1990 e a Deliberação Normativa COPAM

nº 01/1981, os padrões primários para as concentrações média diária e média

geométrica anual para o parâmetro PTS são, respectivamente, 240μg/m³ e 80μg/m³.

Para o poluente de partículas inaláveis, a média diária é igual 150μg/m³ e a média

aritmética anual igual a 50 μg/m³. A Tabela 3.2 apresenta o Índice da Qualidade do Ar

(IQA) para cada um dos poluentes previstos na Resolução CONAMA nº 03/1990. Deve-

se destacar que os índices de qualidade do ar menores que 50μg/m³ indicam que a

qualidade do ar na região monitorada praticamente não oferece riscos à saúde humana

(CETESB, 2009).

Tabela 3.2 - Índice de qualidade do ar por poluente

PTS

(g/m3)

SO2(1)

(g/m3)

PM10

(g/m3)

CO(2)

(ppm)

O2(3)

(g/m3)

NO2(3)

(g/m3)

Índice de Qualidade

do Ar

Qualidade do Ar

Cor de Referência

0-80 0-80 0-50 0-4,5 0-80 0-100 0-50 Boa

81-240 81-365 51-150 4,6-9,0 81-160 101-320 51-100 Regular

241-375 366-800 151-250 9,1-15,0

161-200 321-1130

101-199 Inadequada

376-625 801-1600

251-420 15,1-30,0

201-800 1131-2260

200-299 Má

626-875 1601-2100

421-500 30,1-40,0

801-1000

2261-3000

300-399 Péssima

≥ 875 ≥ 2100 ≥ 500 ≥ 40,0 ≥ 1000 ≥ 3000 ≥ 400 Crítica

(1) média de 24 horas (2) média máxima de 8 horas (3) valor máximo de 1 hora Fonte: Adaptada CETESB (2009); FEAM (2009)

feam

77

3.2 Resíduos sólidos

O aumento da população mundial e a mudança de seus hábitos consumistas, como a

urbanização das comunidades e o aprimoramento de técnicas cada vez mais modernas

de industrialização, resultaram num aumento significativo no volume dos resíduos

gerados.

A geração de resíduos representa um consumo desnecessário de recursos naturais e

muitas vezes requer a ocupação de solo para a sua disposição. Além disso, os passivos

ambientais criados devido ao armazenamento inadequado de tais não podem ser

negligenciados. Perdas de produto semi-acabado ou acabado devem ser eliminadas ou

reduzidas. Para reduzir essas perdas, em todas as etapas da produção, é importante

que as empresas implantem programas de qualidade e aperfeiçoamento da mão-de-

obra. Quando os resíduos gerados no processo produtivo não são perigosos, podem ser

aproveitados como insumos em outros setores produtivos, o que evita a necessidade de

disposição no solo.

A adequada destinação dos resíduos é um dos grandes desafios da humanidade. A

legislação ambiental determina que o gerador de resíduos industriais é o responsável

pela sua destinação adequada, com tratamento antes da disposição final ou o

armazenamento temporário de forma que não prejudique o meio ambiente

(MALARD, 2008).

Sendo assim, o gerenciamento requer um bom entendimento do processo que dá origem

ao resíduo, ocasionando no desenvolvimento de tecnologias de tratamento efetivas e

programas de treinamento de pessoal para que as práticas inadequadas possam ser

abolidas.

Segundo Ferrari (2004) apud Mozeto & Gomes (2006), a classificação dos resíduos

envolve a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem, de seus

constituintes e características, e da comparação destes constituintes com listagens de

resíduos e substâncias cujo impacto a saúde e ao meio ambiente é conhecido. A

identificação dos constituintes deve ser criteriosa e estabelecida de acordo com as

matérias-primas, os insumos e o processo que lhe deu origem.

feam

78

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) revisou, em 2004, um conjunto de

normas para padronizar a classificação dos resíduos no Brasil. São elas:

NBR-10.004 – Resíduos Sólidos

NBR-10.005 – Lixiviação de Resíduos

NBR-10.006 – Solubilização de Resíduos

NBR-10.007 – Amostragem de Resíduos

Segundo a NBR-10.004, os resíduos podem ser classificados como perigosos (classe I),

ou não perigosos. Estes por sua vez se dividem em não inertes (classe IIA) e inertes

(classe IIB).

Os resíduos classificados como perigosos são aqueles que demonstram periculosidade

por meio de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,

toxicidade e patogenicidade, podendo apresentar riscos à saúde pública, aumentando a

mortalidade ou a incidência de doenças, e efeitos adversos ao meio ambiente quando

manuseados ou dispostos de forma inadequada.

Os resíduos não inertes são aqueles que não se enquadram nas classificações de

resíduos perigosos ou de resíduos inertes, podendo apresentar características de

biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água, com possibilidade de

acarretar riscos à saúde ou ao meio ambiente.

Por sua vez, os resíduos inertes são aqueles que, devido suas características

intrínsecas, não oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente e que, quando amostrados

de uma forma representativa, segundo a NBR-10.007, e submetidos a um contato

dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente,

conforme a NBR-10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a

concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto,

cor, turbidez, dureza e sabor.

No processo produtivo de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais são gerados os

seguintes resíduos sólidos industriais: material cru fora de conformidade, quebras de

produto final e cinzas do processo de combustão, conforme fluxograma apresentado na

feam

79

Figura 3-2. Em outros Estados brasileiros também pode haver a geração de lodo dos

decantadores instalados para tratar o efluente líquido do lavador de gases.

Figura 3-2 – Geração de resíduos na fabricação de cerâmica

3.2.1 Material cru fora de conformidade

O material cru fora de conformidade (Figura 3-3) é determinado visualmente pelos

funcionários quando o material já moldado passa pela esteira após o corte ou quando

não atinge especificações necessárias durante a secagem.

Pelo fato de ser cru, não tendo sido queimado, ele é constituído basicamente de argila e

água, portanto é totalmente reaproveitado no processo.

O material cru fora de conformidade gerado após o corte é imediatamente retornado

para o misturador que se localiza no mesmo ambiente. O material cru fora de

conformidade gerado durante a secagem é direcionado para o depósito de argila.

Argila

Extrusão

Corte

Secagem

Material cru fora de conformidade

Material cru fora de conformidade

Forno

Manuseio

Estocagem

Expedição

Cinzas

Quebra de Produto

Quebra de Produto

Quebra de Produto

feam

80

Figura 3-3 - Material cru fora de conformidade

Trata-se de um resíduo classe IIB, portanto inerte. Conforme o levantamento realizado, a

geração desse resíduo corresponde em média a 4% da geração de produto. Ressalta-se

que ele é totalmente reaproveitado no processo, entretanto sua geração implica em

menor produtividade e perda energética, aumentando portanto o custo total do

empreendimento.

3.2.2 Quebras de produto final

As quebras de produto final (Figura 3-4) são geradas em função do incorreto manuseio,

estocagem e expedição.

Produtos com pequenos defeitos podem ser comercializados como produto de segunda

linha a um preço inferior, assim como produtos fora de especificação, dependendo de

sua utilização futura.

Os “cacos” de produtos podem ser moídos e reutilizadas no processo ou na conformação

dos pátios dos próprios empreendimentos. Além disso, podem ser destinados para

reciclagem, visando à fabricação de agregado graúdo (CÓRDOVA, 2007).

feam

81

Figura 3-4 - Tijolos quebrados

Trata-se de um resíduo classe IIB, portanto inerte. Segundo levantado nas visitas

técnicas, as perdas correspondem a aproximadamente 10% da produção final, sendo 5%

referente a produtos fora de especificação e 5% de cacos.

Apesar de não precisar de controle acurado para seu armazenamento, é importante

estocá-lo em local delimitado, prática pouco encontrada nas cerâmicas do Estado de

Minas Gerais.

3.2.3 Cinzas

As cinzas são geradas durante a queima de combustível nos fornos. A taxa de geração

depende do tipo de combustível utilizado, assim como da tecnologia do forno cerâmico.

Em média são gerados 5 kg/milheiro de produto.

Segundo Córdova (2007), as cinzas resultantes da queima de biomassa são

classificadas como resíduo inerte, portanto podem ser dispostas diretamente sobre o

solo, entretanto deve-se ter o cuidado destas não se dispersarem durante o manuseio e

em decorrência da ação de ventos. As cinzas provenientes da queima do carvão mineral

e outros combustíveis fósseis, são classificadas como resíduo não inerte, possuindo uma

quantidade excessiva de enxofre e ferro, que podem prejudicar plantações, além de

apresentarem muita resistência à decomposição, portanto necessitam de controle mais

acurado, devendo ser armazenadas em local adequado.

feam

82

Em geral, os empreendimentos mineiros armazenam as cinzas na própria boca do forno,

devido sua baixa geração, até serem destinadas, portanto não foi encontrado grandes

estoques desse resíduo durante as visitas técnicas. A Figura 3-5 apresenta um

armazenamento mais satisfatório, em caçamba.

Figura 3-5 - Armazenamento de cinzas em caçambas

Uma alternativa interessante encontrada em alguns empreendimentos, é a mistura das

cinzas à argila, entretanto não há estudos que comprovem se essa medida prejudica a

fabricação da cerâmica vermelha.

3.2.4 Outros resíduos

Além dos resíduos provenientes do processo, nas empresas de maior porte há grande

quantidade de resíduos de escritório, como papel e plástico e resíduos perigosos como

aqueles contaminados com óleo.

Com relação aos resíduos perigosos como latas e bombonas impregnadas de óleo e

tinta, óleo usado, lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias e resíduo ambulatorial, é

necessário armazená-los em local apropriado, com cobertura, impermeabilização e com

bacia de contenção para eventuais vazamentos.

feam

83

A maior parte desses resíduos pode ser reaproveitada, como o óleo (re-refino) e as

lâmpadas fluorescentes (reciclagem e retirada do mercúrio), entretanto alguns são

destinados para incineração, caso dos resíduos ambulatoriais.

3.3 Efluentes líquidos

No processo de fabricação da cerâmica vermelha não são gerados efluentes líquidos

industriais, com exceção de empreendimentos que possuem lavador de gases, para

controle das emissões atmosféricas, caso não encontrado no Estado de Minas Gerais.

No processo industrial de cerâmica vermelha é adicionada água nos corpos de argila

para a extrusão e moldagem, e para a moagem por via úmida, entretanto, toda a água é

absorvida no processo.

Numa indústria dessa tipologia existem as águas pluviais e as águas da aspersão de

vias e pátios, que têm ligação direta com o processo industrial, uma vez que telhados,

equipamentos, e as próprias vias e pátios acumulam grande quantidade de pó inerente

ao processo produtivo. Nas indústrias, também são gerados efluentes sanitários e

provenientes da lavagem de peças e máquinas, quando aplicável.

As águas pluviais podem causar erosões e carregamento de partículas sólidas, podendo

acarretar o assoreamento das fontes de águas superficiais. As águas de lavagem de vias

internas e pátios têm por objetivo evitar a ressuspensão do material particulado. Tanto as

águas pluviais quanto as de lavagem das vias e pátios devem ser coletadas por

canaletas de drenagem e destinadas a caixas de decantação e bacias de infiltração.

Conforme o levantamento realizado neste trabalho, cerca de 6% das cerâmicas no

Estado de Minas Gerais não possuem sistema de tratamento de esgoto sanitário, sendo

estas empresas de pequeno porte, ou olarias. As demais, em geral possuem sistema

constituído de fossa séptica e de filtro anaeróbio, sendo que algumas possuem mais de

um sistema. O destino final do efluente tratado pode ser um sumidouro ou a rede

municipal.

Quanto aos efluentes provenientes da lavagem de peças e veículos, eles são gerados

em apenas 2% dos empreendimentos que, portanto, necessitam implantar caixa

separadora de óleo/água. O efluente tratado pode ser destinado para um córrego, para a

feam

84

drenagem natural do terreno, para bacia de decantação, para a rede municipal de esgoto

sanitário, para fossa séptica, entre outros. Entretanto, em inúmeros casos, o local da

lavagem é inadequado, não atendendo às normas pertinentes.

3.4 Ruído

As emissões de ruído ocorrem em várias fases do processo de fabricação, sendo mais

intensificadas nas instalações de moagem, mistura e prensagem, e nas atividades de

transporte de veículos e máquinas, tanto de matérias-primas como de produtos

acabados e resíduos.

Visando minimizar tais emissões, o setor pode adotar as seguintes práticas (CETESB,

2008):

Encapsulamento de equipamentos ou construção de paredes de proteção;

Instalação de paredes duplas;

Substituição de ventiladores de alta rotação por ventiladores maiores de baixa

rotação, quando aplicável;

Transferência de equipamentos, portas ou janelas de instalações ruidosas para

um local distante da vizinhança mais próxima;

Realização de manutenção de equipamentos, observando a necessidade de

lubrificação ou troca de peças;

Estabelecimento de limites de horários para realização de determinadas

atividades, como a movimentação de caminhões e o transporte de materiais.

Conforme constatado nas visitas técnicas, em geral, essas práticas não são adotadas.

Entretanto, empreendimentos que realizam o automonitoramento de ruído no entorno do

empreendimento vêm apresentando resultados abaixo dos limites estabelecidos na Lei

Estadual nº 10.110/1990.

Dessa maneira, pode-se concluir que o ruído gerado nas cerâmicas tem maior relevância

ocupacional do que ambiental, afetando, principalmente, os trabalhadores. Nesse caso,

feam

85

deve-se adotar protetores auriculares, conforme exigência do Ministério do Trabalho,

condição raramente constatada durante as visitas técnicas.

3.5 Impacto visual

Uma unidade de fabricação de cerâmica vermelha provoca impacto visual, decorrente

dos grandes depósitos de argila, resíduos e emissões, necessitando, portanto, de

medidas para sua atenuação. Para mitigação deste impacto, em geral, se adota um

cinturão verde e jardins. O cinturão verde também tem a função de reter a pressão

sonora e material particulado carreado.

Conforme o levantamento realizado, 38% das cerâmicas possuem cinturão verde,

entretanto em sua maioria insatisfatórios, com muitos espaços entre as espécies

plantadas.

Quanto aos jardins, apenas 13% das empresas os possuem, demonstrando que

minimizar o impacto visual gerado pela tipologia ainda não é prioridade.

Outro fator que contribui para o impacto visual da atividade é a ausência de infra-

estrutura básica da maioria dos empreendimentos, que muitas vezes não possuem

sequer delimitação de terreno, ficando totalmente expostos, proporcionando também

insegurança para a comunidade local. A Figura 3-6 ilustra um terreno sem limites

territoriais.

feam

86

Figura 3-6 – Vista de uma empresa sem delimitação na área de seu forno, com armazenamento de lenha no sistema viário do município

3.6 Impacto na extração da argila

Os principais impactos relacionados ao uso de recursos naturais dizem respeito à

degradação das áreas de extração da matéria-prima, ao esgotamento do recurso, e à

geração de rejeitos lançados ao solo ou corpos d’água.

A extração de argila pode ocorrer manualmente ou de maneira mecanizada. Nas

pequenas empresas e olarias do Estado de Minas Gerais, as argilas são extraídas

manualmente, sendo que os demais empreendimentos usam equipamentos

mecanizados. O uso de equipamentos mecanizados pode ocorrer em extrações

exclusivas de argila ou em extrações de argila/areia.

Essa atividade é normalmente exercida em leitos de curso d’água, em áreas de várzeas,

inundação ou em barrancos. Para a extração da argila e areia são utilizadas dragas de

sucção, carregadeiras, caminhões e/ou peneiras estacionárias.

Neste tipo de empreendimento existe pouca mão-de-obra e esta, quando existe, não é

especializada. As unidades de apoio são inadequadas ou simplesmente inexistentes. E

em sua maioria, estes empreendimentos não possuem um responsável técnico e tem

dificuldade para se adequar a regularização ambiental.

feam

87

Essas e outras características acentuam os impactos ambientais causados por essa

atividade. Entretanto, a exploração de argila/areia provoca danos, na maioria dos casos,

reversíveis, desde que devidamente planejados e avaliados. Abaixo são identificados os

principais impactos ambientais ocasionados pela extração da argila/areia.

Alteração/descaracterização da paisagem;

Supressão da vegetação, incluindo a mata ciliar;

Intervenção em Área de Preservação Permanente;

Deposição de areia nas margens dos cursos d’água;

Alteração topográfica com formação de lagos nas faixas marginais;

Geração de ruído e poeiras, em virtude da operação de equipamentos de

extração, carregamento e transporte;

Implantação de infra-estrutura de produção e apoio de forma precária;

Desestabilização de taludes, provocada principalmente pelo revolvimento do

fundo dos corpos d' água, extração efetuada próxima das margens e, ainda, a

declividade do terreno, associada ao tipo de solo que compõe os taludes;

Alterações da qualidade da d’água, pelo aumento da cor, turbidez e presença de

óleos e graxas;

Acúmulo ou disposição inadequada de resíduos;

Afugentamento da fauna, em função da remoção da vegetação, modificação na

estrutura do solo, geração de ruídos e o próprio desenvolvimento da atividade;

Assoreamento e alargamento do curso d’água;

Carreamento de sólidos pelas águas pluviais e efluentes;

Desbarrancamento das margens;

Revolvimento do fundo do curso d’água;

Alteração das calhas nos cursos d’água provocadas pelo emprego de

equipamentos de desagregação sobre os leitos dos cursos d'águas, eliminando

feam

88

barramentos naturais ou introduzindo bancos de sedimentos, que podem interferir

na direção e na velocidade do fluxo d' água;

Compactação do solo provocada pela movimentação de equipamentos de

extração, carreamento e transporte, interfere na permeabilidade do solo, ou

mesmo impede a sua reabilitação natural, contribuindo para o arraste de

sedimentos para os corpos d' água.

Porém, podem ser aplicadas medidas mitigadoras e de controle nos impactos ambientais

gerados pela atividade cerâmica. O empreendimento planejado desde a fase de sua

concepção, quando são avaliadas as potencialidades da jazida e estudada a sua

viabilidade econômica, e se definindo as medidas para extração que reduzam a geração

de resíduos e proporcionem a sua reutilização racional e progressiva, tem, em princípio,

maior probabilidade de sucesso, aliado a um significativo ganho ambiental.

Citam-se a seguir, as medidas consideradas preponderantes para viabilização de

empreendimentos minerários dentro de uma estrutura de sustentabilidade ambiental:

Proteção das áreas de preservação permanente, e implantação de PRAD (Projeto

de Recuperação de Áreas Degradadas) por meio de um programa de recuperação

vegetal com espécies preferencialmente nativas, o que pode estimular também a

recuperação da fauna local;

Manejo da fauna, por meio da captura, o trato e a reintrodução de espécies da

fauna local;

Estocagem de solo orgânico para futura recuperação das áreas degradadas e

revegetação da área lavrada de maneira que os estoques fiquem protegidos de

agentes de erosão e fora das áreas de preservação permanente, para serem

reutilizados na composição da área durante e após o tratamento de extração;

Implantação de sistema de contenção de sólidos em suspensão, provenientes da

água de retorno do processo;

Adoção de extração em circuito fechado quando realizada no leito do rio ou em

sua várzea, sem interferência em suas margens;

Implantação de caixa separadora de água/óleo, para direcionamento de possíveis

vazamentos de óleos provenientes das máquinas e equipamentos;

feam

89

Controle da poeira gerada em virtude do tráfego de veículos, por meio de

aspersores de água e instalação de barreira vegetal nos entornos da cava e do

pátio de estocagem;

Implantação de sistema de drenagem adequado, nas frentes de lavra e nos pátios

de estocagem de forma a conduzir as águas pluviais para tanques de decantação

antes da liberação para o meio externo;

Extração de areia, em leito de cursos d’água, com distância segura, a montante e

jusante de pontes;

Manutenção periódica dos motores para evitar vazamento de óleo no solo e

cursos d’água;

Elaboração de plano de recuperação das áreas mineradas e respectivo plano de

fechamento de mina;

Implantação de coleta e destinação adequada dos resíduos;

Realização de florestamento de área igual à impactada;

No caso de lagos remanescentes, estabilização de taludes marginais por meio de

suavização dos cortes, seguido de revegetação.

feam

90

4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL

Em Minas Gerais, a normatização do licenciamento ambiental é definida pela

Deliberação Normativa COPAM nº 74/2004.

De acordo com esta Deliberação, os empreendimentos são classificados em seis

classes, conforme o potencial de impacto ao meio ambiente, conjugado como porte.

Dependendo do seu enquadramento, o empreendimento pode ser passível de licença

ambiental, ou Autorização Ambiental de Funcionamento ou dispensado do processo de

regularização ambiental.

Para o caso específico de fabricação de cerâmica vermelha, o potencial

poluidor/degradador geral é pequeno, segundo o código da atividade B-01-03-1:

Fabricação de telhas, tijolos e outros artigos de barro cozido, exclusive de cerâmica,

portanto as empresas podem ser enquadradas em três classes distintas, conforme sua

capacidade instalada:

Classe 1: Matéria-prima processada acima de 2.400 t de argila/ano e abaixo de

12.000 t de argila/ano;

Classe 2: Matéria-prima processada igual ou superior a 12.000 t de argila/ano ou

igual e inferior a 50.000t de argila/ano;

Classe 4: Matéria-prima processada superior a 50.000 t de argila/ano.

Dessa forma, empresas enquadradas na classe 1 e 2 são passíveis de Autorização

Ambiental de Funcionamento, enquanto para as demais classes é exigida a licença

ambiental.

As empresas não passíveis de regularização ambiental no nível estadual são aquelas

que processam matéria-prima igual ou inferior a 2.400 t de argila/ano.

Para o caso em que são utilizados resíduos na fabricação de cerâmica vermelha, não há

código específico na Deliberação Normativa nº 74/2004, sendo atualmente adotado o

código genérico F-05-15-0 “Outras formas de tratamento ou de disposição de resíduos

não listadas ou não classificadas”.

feam

91

Diferentemente do código específico para fabricação de cerâmica vermelha, este possui

potencial poluidor/degradador geral grande, portanto os empreendimentos são passíveis

exclusivamente de obtenção da licença ambiental, podendo ser enquadrados em três

classes, conforme o número de empregados e área útil:

Classe 3: Área útil inferior a 1 ha e número de empregados inferior a 20;

Classe 6: Área útil superior a 5 ha ou número de empregados superior a 100;

Classe 5: Demais intervalos.

A Figura 4-1 apresenta a distribuição de empreendimentos de cerâmica vermelha no

Estado de Minas Gerais, por classe e código, nos termos da DN COPAM nº 74/2004.

Figura 4-1 – Distribuição dos empreendimentos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais por classe e código conforme a DN COPAM nº 74/2004

Em relação ao código “F-05-15-0” há necessidade de revisão dos critérios de adoção

para o setor de cerâmica vermelha, haja vista as implicações positivas do uso de

resíduos na fabricação de cerâmica vermelha.

Neste contexto, a utilização de pó de balão, conforme já mencionado no trabalho, não

apresenta malefícios ao processo produtivo e ao produto final. Ao contrário, sua

utilização reduz o uso de insumos energéticos e argila, além de configurar como uma

destinação correta desse resíduo que ainda gera problemas de gerenciamento para as

siderúrgicas, com seus imensos passivos ambientais. O armazenamento desse resíduo

nas cerâmicas vermelhas deve ser adequado, em local com delimitação, cobertura, aviso

feam

92

de segurança e piso impermeabilizado. Além disso, é necessário, durante o processo de

queima nos fornos, garantir a destruição dos constituintes indesejáveis, como os fenóis,

assim como a incorporação destes à matriz sinterizada, de modo a evitar o arraste por

meio líquido no uso e descarte final de novos produtos.

Em Minas Gerais, 19% dos empreendimentos não estão regularizados junto ao COPAM,

seja por meio de Certidão de Não Passível de Licenciamento, Autorização Ambiental de

Funcionamento, ou por Licença de Operação. Essa porcentagem refere-se aos 626

empreendimentos que estão cadastrados no SIAM. Entretanto, conforme já mencionado,

estima-se a existência de aproximadamente mil cerâmicas no Estado, o que elevaria o

índice de empresas irregulares.

Conforme o levantamento realizado (Figura 4-2), 24% dos empreendimentos possuem

Certidão de Não Passível de Licenciamento, 45% possuem Autorização Ambiental de

Funcionamento e 12% possuem Licença de Operação.

Figura 4-2 – Distribuição dos empreendimentos de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais por licenciamento

Dos empreendimentos que possuem Licença de Operação, 45% vêm cumprindo

integralmente suas condicionantes.

Com referência aos programas de automonitoramento, contemplados nas

condicionantes, tem-se:

Apenas 5% dos automonitoramentos de efluentes atmosféricos realizados não

vêm apresentando resultados dentro dos padrões estabelecidos pela

feam

93

DN COPAM nº 11/1986. Ressalta-se que apenas 23% dos empreendimentos

realizam automonitoramento;

Sistemas de tratamento de esgoto sanitário de 22% dos empreendimentos que

realizam automonitoramento não têm apresentado eficiência, segundo os padrões

de lançamento estabelecidos na Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-

MG nº 01/2008. Ressalta-se que apenas 10% dos empreendimentos realizam

automonitoramento;

Apenas 3% dos empreendimentos que realizam automonitoramento de ruído

ultrapassaram os limites estabelecidos na Lei Estadual nº 10.100/1990. Ressalta-

se que apenas 34% das empresas realizam o automonitoramento.

A regularização ambiental por meio de Autorização Ambiental de Funcionamento não

estabelece frequências para monitoramento. Entretanto, embora não exigido

explicitamente na concessão de uma AAF, o empreendedor assina um Termo de

Responsabilidade onde declara que as instalações de seu empreendimento estão aptas

a operar de acordo com todas as condições e parâmetros ambientais legalmente

vigentes, dispondo de sistemas de gerenciamento dos aspectos ambientais, incluindo o

controle de ruídos, de emissões atmosféricas, de efluentes líquidos e de resíduos

sólidos.

Para um empreendimento comprovar estar de acordo com a legislação, necessita

realizar o automonitoramento para verificação da eficiência de seus sistemas de controle

ambiental, o que não vem acontecendo na maioria dos empreendimentos detentores de

Autorização Ambiental de Funcionamento.

Para que o licenciamento ambiental, inclusive a Autorização Ambiental de

Funcionamento, tenha eficácia, é fundamental seu acompanhamento após a emissão do

certificado, por meio, principalmente de monitoramentos e fiscalizações.

Para o caso de extração de argila, o potencial poluidor/degradador geral é médio,

segundo o código A-03-02-6, portanto as empresas podem ser enquadradas em três

classes, conforme sua produção bruta:

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94

Classe 1: Produção bruta menor ou igual a 12.000 t/ano;

Classe 3: Produção bruta maior que 12.000 t/ano e menor ou igual a 50.000 t/ano;

Classe 5: Produção bruta superior a 50.000 t/ano.

Em Minas Gerais, existem 492 empreendimentos de extração de argila cadastrados no

SIAM. Do total, 182 não estão regularizados junto ao COPAM, seja por meio de

Autorização Ambiental de Funcionamento, ou por Licença de Operação. Além disso, 302

possuem Autorização Ambiental de Funcionamento e 8 possuem Licença de Operação.

A Figura 4-3 ilustra essa situação em porcentagens.

Figura 4-3 – Distribuição dos empreendimentos de extração de argila em Minas Gerais por licenciamento

Com referência a utilização de água no empreendimento, 69% das empresas de

cerâmica vermelha captam água de poços subterrâneos, cisternas, surgências ou cursos

d’água superficiais, sendo necessário portanto a obtenção de outorga ou certidão de uso

insignificante.

As Deliberações Normativas CERH nº 09/2004 e CERH nº 34/2010 estabelecem

critérios que definem os usos considerados insignificantes no Estado de Minas Gerais,

que são de 1 ℓ/s ou 0,5 ℓ/s para águas superficiais, dependendo da localização das

Unidades de Planejamento e Gestão ou Circunscrições Hidrográficas do Estado de

Minas Gerais e 10 m3/dia ou 14 m3/dia para águas subterrâneas, também em função da

localização das UPGRH’s.

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95

Em todo o Estado de Minas Gerais, 40% dos empreendimentos de cerâmica vermelha

estão regularizados quanto ao uso de recursos hídricos, seja de águas superficiais ou

subterrâneas. Por outro lado, 29% das empresas não possuem outorga ou certidão de

uso insignificante, quando aplicável. Os 31% restantes, utilizam água proveniente da

concessionária, não necessitando de outorga.

feam

96

5 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO SETOR

A avaliação ambiental do setor de cerâmica vermelha do Estado de Minas Gerais

realizada no desenvolvimento deste trabalho foi precedida de extensa revisão da

literatura existente, de pesquisa junto ao acervo técnico da FEAM e em dados e

informações, obtidos durante as visitas técnicas realizadas em 178 empresas,

sistematizados em check lists, contendo informações referentes ao processo produtivo,

aos sistemas de controle ambiental, aos dados administrativos, aos resultados de

automonitoramento, entre outros.

Conforme levantamento realizado no SIAM, em Minas Gerais existem 626

empreendimentos de cerâmica vermelha cadastrados. Embora suspeita-se que no

Estado existam aproximadamente 1000 empresas, o trabalho baseou-se no universo de

626 cerâmicas. A partir desse número foi estabelecida uma amostra representativa para

os parâmetros a serem analisados.

Para tal foi utilizado o método de amostragem aleatória simples sem reposição, com

estratificação por SUPRAMs, considerando as diversas formas em que o

empreendimento se encontra em relação ao licenciamento ambiental. Portanto, o

universo foi dividido entre as empresas que possuem Licença de Operação, Autorização

Ambiental de Funcionamento, aquelas que não são passíveis de licenciamento e as

irregulares. Com um erro de estimação igual a 0,12 e nível de significância igual a 0,10,

foi obtida uma amostra de 207 empreendimentos a serem visitados.

Entretanto, iniciadas as visitas técnicas verificou-se que os empreendimentos que não

são passíveis de licenciamento e autorização ambiental de funcionamento

(em geral olarias) têm técnicas bem rudimentares, muitas vezes possuindo como mão-

de-obra apenas o próprio dono, além de não terem as informações necessárias para

preenchimento do check list. Dessa forma, essas empresas foram eliminadas da

amostragem, tornando-se necessário refazer o cálculo9.

Sendo assim, a amostra das empresas a serem visitadas foi reduzida para 162, com erro

de estimação igual a 0,15, nível de significância igual a 0,10 e com variância

populacional igual a 0,25.

9 Já havia sido feitas 16 visitas técnicas em empreendimentos não passíveis de licenciamento.

feam

97

Dessa forma, das 178 visitas realizadas, 16 foram em empreendimentos não passíveis

de licenciamento, 88 em empresas detentoras de AAF, 31 em empreendimentos que

possuem Licença de Operação e 42 em cerâmicas irregulares.

Foi elaborada uma revisão bibliográfica específica com vistas à complementar e balizar

os dados obtidos no trabalho, tendo como referência livros, revistas técnicas, artigos e

informações disponíveis na internet, teses, dissertações, publicações em geral, bem

como uma análise da legislação vigente. Estes aspectos considerados na revisão de

literatura foram bastante importantes para a fundamentação teórica e metodológica dos

procedimentos de avaliação adotados.

As visitas técnicas ocorreram entre os meses de junho de 2010 e abril de 2011. Para a

coleta dos dados foi elaborado um check list, cujo modelo encontra-se no Anexo A.

O check list foi preenchido nas visitas técnicas com base em constatações visuais e nas

informações transmitidas pelo representante do empreendimento. Para cada

empreendimento foi preenchido um check list, de modo que, no final, foram elaborados

178, ressalvando que 16 referem-se a olarias não passíveis de licenciamento.

Devido ao enorme volume de dados obtidos, todo o conteúdo dos check lists foi

transposto para uma planilha do programa Excel, de modo a facilitar a obtenção de

informações sobre determinado assunto e não somente os dados referentes a uma

determinada empresa. Foram elaborados tabelas e gráficos a partir dos dados

compilados os quais estão inseridos neste trabalho.

Com os dados levantados foram feitas avaliações da extração de argila, dos recursos

energéticos, do gerenciamento de resíduos sólidos e das emissões atmosféricas.

Baseando-se nos resultados das avaliações citadas, juntamente com a análise do

licenciamento ambiental, foi elaborado um Plano de Ação para adequação ambiental e

energética do setor no Estado de Minas Gerais.

feam

98

5.1 Extração da argila

O presente trabalho baseou-se na coleta de dados nas unidades produtivas de cerâmica

vermelha, portanto apenas algumas áreas de extração de argila foram visitadas, sendo

em geral inseridas dentro do complexo de produção de cerâmica vermelha.

Embora a argila usada nas indústrias de cerâmica vermelha seja um recurso

considerado abundante, a sua explotação gera a degradação de áreas naturais. O uso

de métodos mais adequados na exploração das jazidas garante a otimização do uso da

argila e a possibilidade de reabilitação da área após o esgotamento dessas jazidas.

Existem dois tipos de empreendimento de extração de argila. O primeiro realiza apenas a

extração da argila, enquanto o segundo tem como atividade principal a extração de

areia, que por sua vez tem como subproduto a argila.

Os empreendimentos enquadrados no primeiro tipo provocam menor impacto ambiental,

pois removem apenas camadas de solo mais superficiais, enquanto empreendimentos

que extraem areia atingem o lençol freático.

A extração de argila pode ser feita tanto de maneira manual quanto de forma

mecanizada, sendo a primeira limitada a pequenos volumes, portanto de menor impacto

ambiental.

Em Minas Gerais, existem inúmeras extrações manuais de argila por meio de pá em

áreas de várzeas (Figura 5-1). Essas extrações praticamente não geram impacto

ambiental, podendo-se dizer que seu maior impacto é o visual, que por sua vez não é

muito relevante, tendo em vista que a cava possui pequenas dimensões e situa-se

distante de comunidades.

feam

99

Figura 5-1 – Extração manual de argila em área de várzea

Essas pequenas jazidas normalmente se localizam dentro de olarias e são operadas por

apenas um funcionário ou pelo proprietário.

Conforme o levantamento realizado nas indústrias de cerâmica vermelha, 49% dos

empreendimentos extraem argila de jazida própria, 48% compram de terceiros e os 3%

restantes possuem jazida, mas complementam seu uso com argila de terceiros.

Dessas jazidas, poucas possuem controles ambientais como os citados no item 3-6.

Apesar de serem em geral, de pequeno porte, podem provocar impacto significativo, pois

muitas vezes estão situadas próximas umas das outras, potencializando os danos ao

meio ambiente.

Quanto à situação legal das jazidas, foi apresentado no Capítulo 3, que 37% dos

empreendimentos são irregulares e 61% possuem Autorização Ambiental de

Funcionamento, situações que podem explicar a falta de controle ambiental nas jazidas.

Dessa forma, conforme observado nas visitas técnicas, a obtenção de AAF não significa

operações com controle ambiental, uma vez que na prática esses empreendimentos não

são fiscalizados pelo órgão ambiental para acompanhamento de suas atividades.

Muitas vezes, as indústrias e proprietários de jazidas não possuem orientação técnica

quanto à regularização ambiental. Em conversas com proprietários, pôde-se perceber

feam

100

que se tem a idéia do certificado de AAF ser suficiente e comprobatório do desempenho

ambiental da atividade. Entretanto, mesmo sendo dispensados do licenciamento

ambiental, são passíveis de obrigações para tornar o empreendimento viável do ponto

de vista ambiental, tanto que para obtenção da AAF é necessário assinar um Termo de

Responsabilidade, e ART do consultor ou responsável afirmando estarem aptos a

operarem conforme as legislações ambientais pertinentes.

Uma prática bastante comum no setor é a contratação de consultores ambientais para

obtenção da AAF, que acabam cumprindo o combinado, mas não orientam os

empreendedores sobre medidas mitigadoras e cumprimento de legislações.

Dessa forma, grande parte dos empreendimentos regularizados opera de maneira

inadequada, não mitigando os impactos inerentes a sua atividade.

A principal ferramenta para minimização do impacto da extração de argila para

abastecimento de cerâmicas vermelhas é a redução do consumo desta matéria-prima.

A incorporação de outras matérias-primas ou resíduos à argila é uma estratégia viável

para diminuir o consumo de argila, diminuir custos de produção e reduzir impactos da

extração. No entanto, boa parte das indústrias ainda não despertou para essa vantagem.

Para mistura de resíduos à massa cerâmica, é importante considerar sua origem, no que

se refere não apenas à sua composição química (pelo fato da emissão de poluentes

aéreos, quando submetidos ao processo de queima), mas também à distância do

fornecedor, que pode proporcionar aumento do consumo energético com transporte,

além de emissões de CO2.

Alguns dos resíduos que podem ser utilizados na mistura com a argila são aqueles

provenientes de processos siderúrgicos como o pó de balão, lama de alto-forno e escória

de alto-forno.

Em algumas regiões do Estado de Minas Gerais, em virtude da disponibilidade e

empenho de empresários do setor, alguns resíduos são bastante utilizados. Como

exemplo, pode-se citar o município de Igaratinga, onde praticamente todas as empresas

fazem uso do pó de balão, tendo percebido seus benefícios.

feam

101

Diversos outros resíduos industriais também podem ser utilizados, com destaque para as

quebras de produtos geradas dentro das próprias cerâmicas, que com devida moagem,

podem ser incorporadas a massa.

Uma vez que a argila é um recurso natural abundante e muitas vezes um subproduto da

extração da areia, seu preço de venda é baixo quando comparado a outros materiais

minerados, fato que inibe a procura por substitutos dessa matéria-prima.

O preço médio de venda da argila, sem considerar o frete do transporte, encontra-se no

intervalo de R$5,00 a R$7,00 a tonelada. Uma vez que na maior parte dos casos a jazida

está localizada próxima a indústria, o valor do frete não é alto, sendo que o preço médio

da tonelada do material com o frete situa-se no intervalo de R$10,00 a R$15,00.

De forma geral, as argilas plásticas, em virtude de suas características de

trabalhabilidade e importância na formulação de diversas massas, obtêm os preços mais

elevados.

Considerando a tendência de aprimoramento competitivo da mineração de argila no

país, com ganhos de escala e na qualidade das matérias-primas ofertadas, e a

necessária incorporação dos custos ambientais, pode-se estimar que os preços a médio

e longo prazo das argilas comercializadas devem acompanhar os valores internacionais,

situando-se na faixa entre R$10,00/t e R$20,00/t.

Já para as argilas beneficiadas, por meio da composição de misturas de argilas, uma

referência de projeção de preços pode ser indicada a partir das massas empregadas na

produção de revestimentos cerâmicos de Santa Gertrudes/SP, comercializadas em torno

de R$ 30,00/t a R$ 35,00/t (COELHO, 2009).

Dessa forma, o preparo da matéria-prima na própria jazida configura-se como um avanço

incremental importante que agregaria tecnologia e valor ao produto mineral e

corresponderia à complementação das práticas rotineiras de lavra com etapas de

beneficiamento e composição de misturas das argilas, o que tradicionalmente é realizado

dentro das cerâmicas.

Segundo o levantamento realizado, anualmente o setor de cerâmica vermelha no Estado

de Minas Gerais consome aproximadamente nove milhões de toneladas de argila.

feam

102

Quanto à quantidade de argila consumida mensalmente, quase metade dos

empreendimentos, ou 47%, utiliza menos de 500 toneladas, demonstrando o pequeno

porte das jazidas. A Figura 5-2 apresenta a distribuição do consumo de argila no Estado

de Minas Gerais.

Figura 5-2 – Distribuição do consumo mensal de argila por porcentagem de empreendimentos no

Estado de Minas Gerais

De modo geral, as minas de argila do Estado de Minas Gerais carecem de investimentos

em modernizações tecnológicas e gerenciais necessárias ao aprimoramento do sistema

de produção envolvendo pesquisa mineral, lavra e beneficiamento. Em geral, não

existem programas de certificações quanto à qualidade e gestão ambiental, sendo que a

maioria dos empreendimentos opera de maneira informal ou em desacordo com a

legislação mineral e ambiental, colocando em risco tanto o controle e a recuperação

ambiental das áreas mineradas, quanto o próprio abastecimento das cerâmicas.

Um fator complicador do processo de extração é a realização inadequada de pesquisas

geológicas, que no setor geralmente são usadas apenas para atender exigências do

Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM.

Se as cavas individuais configuram degradações restritas, a aglomeração de

empreendimentos em certas regiões tem provocado um impacto acumulativo

considerável, sobressaindo, entre outros, processos de desmatamento, assoreamento

feam

103

de drenagem, formação de pequenos lagos, pilhas abandonadas de argila e de material

estéril, e taludes expostos sujeitos à erosão.

Assim como diversos segmentos mineradores, as cavas abandonadas configuram como

um dos maiores impactos da extração de argila. A falta de estrutura e conhecimento da

legislação, aliado ao baixo índice de fiscalizações, contribuem para que essas áreas não

sejam recuperadas.

Segundo a Deliberação Normativa nº 127/2008, toda área minerada deve ser

recuperada, sendo para isso elaborado Plano Ambiental de Fechamento de Mina -

PAFEM.

O fechamento da mina deve ser planejado desde a concepção do empreendimento, de

forma a garantir que após o fechamento da mina os impactos ambientais, sociais e

econômicos sejam mitigados e a área esteja em condições seguras e estáveis.

5.2 Recursos energéticos

O setor de cerâmica vermelha é grande consumidor de energia, sendo que o custo total

da queima é responsável por aproximadamente 40% do custo total do produto para

indústrias que utilizam fornos intermitentes, fato que coloca essa tipologia industrial como

uma das que possui maiores índices de custo de energia versus custos de produção.

A lenha é o principal combustível utilizado no setor, mas sua participação na composição

do uso de insumos energéticos vem reduzindo nos últimos anos. Algumas indústrias têm

substituído esse insumo, sempre que possível, por outras biomassas de menor custo,

tais como pó de serragem e resíduos de outros processos industriais como sabugo de

milho, palha de café e bagaço da cana. Ressalta-se que não existe uma insatisfação dos

proprietários das indústrias com a lenha, mas com o aumento constante no preço deste

insumo, o que os faz optar pelo uso, em paralelo, de outras alternativas.

Em relação ao uso de biomassas e recursos não-renováveis como o óleo BPF, o

primeiro, por ser um recurso renovável, apresenta maiores vantagens frente o segundo.

Além disso, as biomassas estão distribuídas em todo o território do

Estado, proporcionando fácil acesso, geração de empregos e redução de impactos com

o transporte.

feam

104

Segundo relato dos ceramistas do Estado de Minas Gerais, a combinação de lenha ou

derivados com outros insumos energéticos, têm se configurado como uma técnica

interessante, haja vista a redução do custo e manutenção das propriedades da queima.

A redução do consumo de energia é uma estratégia importante para reduzir impactos e

custos. Algumas iniciativas de empresas de maior porte, como o uso do calor do forno

para a secagem artificial e investimentos em eficiência energética, tem se mostrado

bastante vantajosas, entretanto ainda estão distantes das micro e pequenas empresas.

Por sua vez, as micro e pequenas indústrias devem buscar otimizar seus processos e

qualificar sua mão-de-obra, para reduzir perdas desnecessárias em todas as etapas do

processo, pois, de forma direta ou indireta, acabam desperdiçando energia.

Como exemplo, diversas empresas utilizam a lenha como combustível sem controle

acurado, deixando-a secar ao ar livre por períodos bem inferiores ao desejável de

aproximadamente três meses. Dessa forma, usam a lenha com alto teor de umidade,

proporcionando redução do PCI do combustível. A lenha recém cortada possui

aproximadamente 60 a 70% de umidade, enquanto a lenha deixada ao ar livre possui

entre 15 a 25% de umidade.

Algumas ações de simples execução podem ajudar na redução do consumo de energia

como o desligamento dos motores em períodos ociosos, realização de manutenção

periódica preventiva das máquinas e utilização de motores que operem com 70% a 90%

da capacidade.

Segundo o SENAI, a utilização de portas duplas nos fornos reduz aproximadamente em

10% o consumo de combustível. Outro fator de extrema importância para redução do

custo energético é o controle da curva de temperatura, cujo equipamento essencial é o

termopar, que vem sendo implantado por parte do setor no Estado de Minas Gerais.

Durante a queima é importante controlar a velocidade com que a temperatura aumenta

ou diminui ao longo do tempo. Deve-se ter esse cuidado devido à expansão e contração

que as peças sofrem durante o aquecimento ou resfriamento. A combinação do tempo

total de queima com a temperatura, além de ter influência no consumo de energia, é

fundamental na qualidade final do produto. Entretanto, não existem tempos nem curvas-

feam

105

padrão de temperatura, uma vez que esses parâmetros variam com o tipo de forno,

argila e com a eficiência de queima.

A maneira mais eficiente de se economizar energia é a utilização de fornos contínuos.

Segundo relatos de empreendedores, após a instalação do forno tipo hoffmann, o

consumo de combustível reduziu pela metade. Entretanto, a implantação desses fornos

exige grande investimento financeiro, realidade distante da maioria dos

empreendimentos do setor.

Durante a queima ocorrem perdas, cujo percentual está diretamente relacionado ao tipo

de forno utilizado. Enquanto no forno tipo túnel as perdas são de 1% aproximadamente,

no forno tipo hoffmann esse percentual está entre 8% e 9% e nos fornos intermitentes

como o paulistinha esse percentual está entre 16% a 18% (ANICER, s.d.). No entanto,

outros fatores também podem ser responsáveis por prejuízos durante a queima, como a

carência de controles de tempo e temperatura e o manuseio do produto.

A Tabela 5.1 apresenta o consumo médio dos insumos energéticos mais utilizados pelas

cerâmicas no Estado de Minas Gerais, segundo dados coletados nas visitas técnicas.

Tabela 5.1 – Consumo médio dos principais insumos energéticos utilizados em Minas Gerais por produção de cerâmica vermelha

Insumo energético Consumo médio (kg/t)

Lenha eucalipto 290

Lenha nativa 330

Pó de serragem 170

Cavaco 190

Bagaço de cana 390

Sabugo de milho 360

Pallets de madeira 210

Palha de café 350

Tendo em vista a falta de estrutura de muitas cerâmicas visitadas, valores de consumo

de energéticos discrepantes como um empreendimento que citou utilizar apenas 15 kg

de lenha por tonelada de produto não foram considerados para determinação do

consumo médio.

feam

106

A utilização dos insumos energéticos depende bastante da disponibilidade geográfica

onde são fabricados ou gerados em relação à cerâmica. Dessa forma, por exemplo, em

regiões produtoras de milho, os ceramistas utilizam em abundância o sabugo, biomassa

com alto poder calorífico, entretanto seu uso em regiões mais distantes não é vantajoso

devido aos custos de transporte. O mesmo ocorre com o bagaço de cana e a palha de

café.

Há uma tendência de alguns insumos energéticos considerados “alternativos”

começarem a ser utilizados em alguns empreendimentos do Estado, como o capim

elefante. Segundo informado por um empresário do setor, há previsão do seu

empreendimento utilizar somente este combustível na queima, sendo que as mudas já

foram plantadas para seu abastecimento. Devido ao seu alto poder calorífico, o consumo

dessa biomassa, da ordem de 0,75m3/milheiro, é relativamente baixo quando comparado

a outros insumos como a lenha.

Insumos com alto poder calorífico são bastante atrativos para utilização na queima. A

Tabela 5.2 apresenta o PCI médio dos principais combustíveis usados nas cerâmicas do

Estado de Minas Gerais.

Tabela 5.2 – Poder Calorífico Inferior de combustíveis

Combustível Poder Calorífico

(kcal/kg)

Lenha Nativa (*) 3.100

Lenha de reflorestamento (*) 3.100

Pó de Serragem (**) 2.500

Cavaco (**) 2.500

Palha de café (***) 2.950

Pallets de Madeira (***) 3.000

Bagaço de cana 2 (*) 2.130

Sabugo de Milho(**) 2.900

Fonte: (*) Cemig, 2009 (**) Manfredini & Sattler, 2005 (***) SENAI, 2008

Além dos insumos energéticos citados, em algumas regiões do Estado de Minas Gerais

vem crescendo a aplicação de resíduos industriais à massa cerâmica, sendo o mais

relevante o pó de balão. Sua aplicação reduz bastante o consumo de outros insumos

feam

107

energéticos mais onerosos, entretanto é necessária a garantia da destruição dos fenóis

no processo de queima, evitando assim sua incorporação nas peças e nas emissões de

gases.

A busca por eficiência energética ainda caminha a passos lentos em Minas Gerais,

entretanto algumas ações já são encontradas, conforme identificado durante as visitas

técnicas. A seguir são apresentadas diversas medidas que podem ser adotadas para se

obter economia de energia térmica.

Acondicionamento adequado da argila e demais insumos, com controle da

umidade;

Melhoria no processo de combustão por meio de regulagem e ajuste da relação

ar/combustível;

Recuperação de calor no caso de fornos intermitentes;

Melhoria do isolamento térmico nas portas dos fornos;

Mistura de resíduos na massa cerâmica, como o pó de balão;

Controle da queima por meio da instalação de termopar;

Revestimento interno dos fornos com fibra cerâmica.

Além do desperdício de energia, a falta de controle adequado, falta de equipamentos de

monitoramento da temperatura (termopar), e principalmente a falta de qualificação da

mão-de-obra utilizada no processo, também proporcionam defeitos nos produtos após a

queima, gerando assim mais despesas para os empreendimentos.

O aproveitamento do calor dos fornos para secagem das peças configura-se também

como grande medida de eficiência energética. Nessa fase, alguns fatores são decisivos

para a economia de energia:

Recuperação de ar quente do forno, da fase de resfriamento, extraindo o ar por

meio de exaustores e injetando nos secadores, com utilização de ventiladores

para a circulação interna do ar dentro do secador. É de fundamental importância

que a estufa tenha uma chaminé para a retirada do ar úmido, e se garanta a

drenagem da água condensada.

feam

108

Isolamento da tubulação que transporta o ar quente do forno para o secador de

forma a permitir uma menor perda de calor para o ambiente, sendo a recuperação

mais eficiente.

Vedação das portas da estufa, para evitar a saída de calor e umidade, e a entrada

de ar frio o qual é prejudicial ao secar o material.

5.3 Resíduos sólidos

No processo produtivo de cerâmica vermelha são gerados principalmente resíduos em

decorrência da quebra de produto, perdas nas etapas de moldagem e secagem, além

das cinzas originadas na queima.

As perdas tanto do produto antes da queima, quanto após a queima podem ser

causadas por uma série de fatores, sendo alguns mais facilmente controlados.

A ausência de ensaios tecnológicos para determinação da composição da massa

cerâmica e para determinação da mistura de argilas na proporção ideal configura-se

como fator importante para a quebra de produto, pois dependendo da mistura utilizada é

obtido um produto de baixa resistência, com trincas e empenamentos. A adoção de

ensaios tecnológicos é prática incomum na maioria das cerâmicas do Estado de Minas

Gerais.

Em muitos casos ocorrem deficiências e precariedade no processo de produção,

principalmente em decorrência do tratamento térmico, pelo uso de fornos de baixa

eficiência, que pode resultar num produto inadequado às normas técnicas, com baixa

resistência. No Estado de Minas Gerais apenas 16% dos empreendimentos possuem

fornos de alta eficiência.

Outra constatação diretamente relacionada às quebras de produto é o excesso de

manuseio das peças no decorrer do processo produtivo. A maior parte das empresas

possui lay-out impróprio com má disposição de equipamentos, ocasionando em

movimentações desnecessárias, aumentando, portanto, a probabilidade de perdas.

O armazenamento inadequado de produtos e peças para secagem também contribui

bastante para perdas. A Figura 5-3 ilustra uma forma de armazenamento inadequado em

feam

109

piso irregular, com grande estoque e a Figura 5-4 um depósito com piso uniforme,

concretado e sem obstruções, que reduz o índice de acidentes.

Figura 5-3 – Depósito de tijolos queimados com piso irregular, a céu aberto

Figura 5-4 – Armazenamento de tijolos crus em piso concretado e sem obstruções

O transporte externo do produto também é inadequado muitas vezes, em geral por falta

de cuidado quando do seu armazenamento nos caminhões. Uma medida bastante útil

para minimização desse problema é o uso de embalagens.

feam

110

Dessa forma, as principais medidas para redução da geração de quebras são:

Realização de ensaios tecnológicos das argilas;

Substituição de fornos intermitentes por fornos contínuos;

Armazenamento do produto e de peças cruas em local delimitado, organizado,

com piso uniforme e coberto;

Organização da área operacional;

Uso de embalagens nos produtos finais;

Treinamento e conscientização da mão-de-obra.

Embora durante a aplicação do check list os empreendimentos tenham informado o

percentual de perdas no processo produtivo, em geral esse controle não é realizado. A

maioria das empresas não tem controle das quantidades geradas e estocadas de seus

resíduos, dificultando o acesso a informação relativa às perdas.

Muitos proprietários afirmam que as quebras ocasionadas nas etapas de moldagem e

secagem de peças não configuram como perdas, uma vez que esses materiais retornam

para o processo, entretanto não levam em conta a perda da produtividade, o que

demanda maior custo principalmente em virtude da energia e mão-de-obra utilizadas.

Dessa forma, reduzir as perdas nessas etapas é de fundamental importância para

redução dos custos de produção.

Além do controle das perdas, as etapas do gerenciamento de resíduos de

armazenamento e destinação final também apresentam problemas no setor cerâmico.

Em geral, os resíduos quebras de produtos queimados e cinzas são armazenados de

forma desorganizada (Figura 5-5) e algumas vezes dispostos em bota-foras (Figura 5-6).

Apesar de serem resíduos não perigosos, necessitam de certo controle de

armazenamento, além de terem destinações adequadas.

feam

111

Figura 5-5 – Disposição de cacos de tijolos em talude, com ocorrência de carreamento para via de trânsito

Figura 5-6 – Disposição de cacos de tijolos em bota-fora

Uma estratégia que pode ser explorada pelas indústrias no que diz respeito às quebras

de produtos é seu aproveitamento como lastro de pavimentação, aterro para construção

ou britagem para produção de agregado graúdo.

Praticamente todas as empresas visitadas costumam usar os resíduos de quebras de

produto como aterro no próprio local e conformação de vias. Quanto aos produtos

feam

112

acabados, com poucos defeitos, são vendidos como material de segunda, para usos

menos nobres, como muros ou paredes rebocadas.

As quebras de produtos podem ser reutilizadas no próprio processo cerâmico, sendo

para isso necessário sua moagem. No levantamento realizado foi constatado apenas um

empreendimento que realiza essa operação.

As cinzas em geral são doadas para aplicação em plantações, entretanto sua

composição não é conhecida pela maioria dos produtores. Para utilização desse resíduo

como adubo, deve-se realizar a caracterização do mesmo, além de certificá-lo junto ao

Ministério da Agricultura. Em virtude dos inúmeros combustíveis utilizados nos fornos de

Minas Gerais, a composição das cinzas varia entre os empreendimentos, devendo,

portanto, cada um ter seu próprio estudo. Por exemplo, no caso de utilização de restos

de madeira como insumos energéticos, é necessário certificar que as madeiras não

foram fabricadas com compostos químicos.

Uma alternativa interessante encontrada em algumas empresas do setor é a utilização

das cinzas no reboco das portas dos fornos cerâmicos. Outra aplicação encontrada foi

sua mistura à massa cerâmica, entretanto não existem estudos que permitam saber se

tal uso prejudica o processo.

A geração de cinzas nas empresas é bastante pequena, portanto pode-se dizer que esse

resíduo não configura como grande problema, entretanto deve haver um gerenciamento,

com armazenamento adequado e destinação segura. Seu armazenamento pode ser

efetuado em bags, na própria boca do forno, em caçamba, entre outros. No entanto,

muitas vezes as cinzas são dispostas de maneira desorganizada, conforme

Figura 5-7.

feam

113

Figura 5-7 – Armazenamento de cinzas sem controle

Com relação às perdas de produto cru, as mesmas são 100% retornadas ao processo,

mas muitas vezes são armazenadas sem nenhum controle nos empreendimentos.

5.4 Emissões atmosféricas

As principais emissões atmosféricas em uma cerâmica vermelha decorrem da queima

dos insumos energéticos. Além dessas, existem também emissões associadas ao

manuseio e transporte de insumos e produtos.

Tendo em vista que os empreendimentos mineiros utilizam em geral biomassa como

combustível nos fornos, as emissões de material particulado são mais controladas, não

havendo necessidade de implantação de sistema de despoeiramento para atendimento

aos padrões estabelecidos na DN COPAM nº 11/1986, conforme relatórios de

automonitoramento.

Em geral, as SUPRAMs exigem automonitoramento na saída da chaminé dos fornos

para os parâmetros material particulado e CO2, adotando como legislação para

estabelecimento de limites de emissão a DN COPAM nº 11/1986. Entretanto as

Resoluções CONAMA nº 382/2006 e 436/2011, legislações nacionais para emissões

atmosféricas em fontes fixas, estabelecem padrão para o parâmetro NOx, em processos

de geração de calor a partir da combustão externa de derivados de madeira, situação

feam

114

encontrada na maioria do setor cerâmico no Estado de Minas Gerais. Esse parâmetro

não está contemplado na deliberação, portanto não vem sendo exigido pelas SUPRAMs.

Em virtude do processo cerâmico, além da crescente utilização de resíduos e

combustíveis alternativos é recomendável o monitoramento deste parâmetro.

Segundo constatado nas visitas técnicas, em geral as emissões nos fornos cerâmicos

não apresentam coloração, com exceção dos minutos finais do processo de queima

(Figura 5-8). Entretanto tal fato decorre da falta de controle do processo e ineficiência

dos fornos, uma vez que se deve a combustão incompleta da queima ocasionada pela

falta de oxigênio no forno. Dessa forma, no processo está sendo utilizada maior

quantidade de combustível que o necessário.

Figura 5-8 – Emissão atmosférica em chaminé de um forno de cerâmica vermelha

Essa constatação explica porque alguns empreendimentos emitem essa fumaça, ao

contrário de outros. Durante as visitas técnicas observou-se que fornos menos eficientes

emitem maior quantidade de fumaça e material particulado, conforme pode ser verificado

em um forno tipo caieira na Figura 5-9.

feam

115

Figura 5-9 – Emissão atmosférica em forno tipo caieira

Assim como relatado para outras etapas e objetivos do processo, a falta de controle

operacional e mão-de-obra desqualificada são determinantes para ocorrência dessas

emissões, ressalvando que o tipo de combustível e forno também tem grande

interferência na quantidade de efluentes atmosféricos emitido.

Há alguns anos atrás a prática de queimar pneus inservíveis nos fornos cerâmicos era

comum. Nos dias atuais, esse uso diminuiu consideravelmente, mas ainda são

encontrados casos de utilização desses resíduos como complementação de insumo

energético. Esse uso confere aos fornos emissões atmosféricas de coloração escura,

prejudicando principalmente as comunidades próximas.

A utilização de resíduos, seja como insumos energéticos ou misturados à massa

cerâmica, configura-se em uma prática interessante no aspecto de reaproveitamento e

minimização da disposição final, entretanto durante a queima, alguns resíduos podem

desprender gases tóxicos, dependendo dos seus constituintes.

A situação mais comum de utilização de resíduos no Estado de Minas Gerais é a mistura

de pó de balão à massa cerâmica, que parece não comprometer a qualidade do ar nas

regiões vizinhas, baseando-se nos resultados de automonitoramento de efluentes

feam

116

atmosféricos apresentados pelos empreendimentos, embora seja necessária uma

avaliação do ar das regiões influenciadas para comprovação dessa suspeita.

O tráfego de veículos, recepção e manuseio de insumos e produtos também são fontes

de emissões atmosféricas, embora menos intensas que os fornos. Para minimização

dessas emissões, destacam-se as seguintes medidas:

Adoção de sistema de cobertura da argila transportada em caminhões durante o

transporte da jazida para o local de beneficiamento;

Implantação de uma barreira vegetal (“cerca viva”) para a contenção de dispersão

de material particulado;

Umidificação das áreas de acesso e trânsito de empilhadeiras para evitar emissão

de material particulado para a atmosfera.

Durante as visitas técnicas realizadas constatou-se ainda em fase de testes, a operação

do processo de esmaltação em um empreendimento. Nesse processo, ocorre formação

de compostos orgânicos voláteis, devendo ser avaliado a necessidade de

implementação de lavador de gases.

A indústria cerâmica no mundo é uma grande emissora de CO2, principal gás estufa,

tendo em vista o óleo e o coque serem os principais combustíveis utilizados. Além das

emissões de CO2, as cerâmicas que utilizam combustíveis fósseis emitem quantidade

significativa de NOx e SO2, responsáveis pela chuva ácida.

Em Minas Gerais, não foi encontrada empresa que utilize óleo e poucas usam coque

como combustível complementar. Por outro lado, a utilização de lenha, principal

combustível utilizado no Estado, somente confere benefícios caso haja reposição

florestal. Há alguns anos atrás, o setor cerâmico era responsável por parte do

desmatamento em Minas Gerais, entretanto quando comparado ao setor siderúrgico,

maior desmatador, sua parcela era mínima, de modo a não ter visibilidade e fiscalizações

periódicas.

Atualmente a lenha é utilizada por cerca de 50% dos empreendimentos, sendo que

segundo informações coletadas nas visitas técnicas, apenas 12% das empresas do

Estado usam lenha de origem nativa.

feam

117

Dessa forma, em relação à queima da lenha, majoritariamente originada de plantações

de eucalipto, o CO2 gerado na combustão é absorvido pela própria biomassa cultivada

para produzir a madeira. É importante ressaltar que pouquíssimas empresas do setor

têm plantio de eucalipto.

Diversos resíduos utilizados no processo, como pó de serragem, cavaco, bagaço de

cana, sabugo de milho, palha de café, entre outros, também configuram como

alternativas para redução das emissões de gases de efeito estufa. Entretanto o uso

desses insumos está ligado à sua disponibilidade regional.

Na cerâmica existem diversas fontes de dióxido de carbono associadas a emissões de

combustíveis e emissões de processo. As emissões do processo são sempre mais

diminutas quando comparadas às emissões do combustível. Em regra, e função do

produto e subsetor da cerâmica em análise, as emissões da combustão representam

cerca de 70 a 100% das emissões totais de dióxido de carbono e os restantes 0 a 30%

são oriundos do processo (materiais carbonatados). Entretanto, em Minas Gerais

especificamente, no setor de cerâmica vermelha a utilização de carbonatos é mínima,

sendo encontrados em algumas argilas.

Conforme Stachera & Casagrande (2007), para produzir cada tijolo são emitidos 0,95 kg

de CO2, entretanto não é mencionado o peso do tijolo adotado. Considerando o peso

médio de um tijolo como 3 kg, por tonelada de produto fabricado, são emitidos 316 kg de

gás carbônico.

Segundo Almeida, et.al (2007), em média são emitidos 123 kg CO2/t para a telha e

acessórios e 111 kg CO2/t para o tijolo, conforme estudo realizado em cerâmicas de

Portugal. Nesse estudo não são mencionados os combustíveis utilizados na fabricação

de cerâmica vermelha em Portugal.

O cálculo das emissões de CO2 em uma cerâmica baseiam-se na seguinte fórmula geral,

conforme Almeida, et.al (2007):

Emissões de CO2 = dados da atividade x fator de emissão x fator de oxidação (5.1)

Na prática a diferença entre o consumo aparente de combustível e o retido em produtos

não energéticos é o que existe de carbono disponível para ser emitido na combustão.

feam

118

Porém nem todo carbono é oxidado, uma vez que a combustão nunca é total, ficando

uma fração do carbono não oxidado contido nas cinzas. A fração do carbono oxidado

varia conforme o combustível utilizado. Na metodologia adotada, esta correção é feita

pela multiplicação de um fator chamado de fator de oxidação sugerido pelo IPCC

(MAFRA et. al., 2006). Na Tabela 5.3 são apresentados alguns fatores de oxidação.

Tabela 5.3 – Fatores de oxidação para alguns combustíveis

Combustível Coeficiente de oxidação

Gás natural 0,99

Lenha 0,88

Bagaço de cana 0,88

GLP 0,99

Óleo combustível 0,99

Coque petróleo 0,99

Carvão vegetal 0,99

Fonte: Adaptado MAFRA et. al, 2006.

Haja vista que aproximadamente 96% do combustível utilizado nas cerâmicas de Minas

Gerais provêm de biomassa, para o cálculo de emissões de CO2 foi adotado coeficiente

de oxidação igual a 0,88, conforme a Tabela 5.3.

A Tabela 5.4 apresenta fatores de emissões para diversos combustíveis obtidos no

Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC (2006).

Tabela 5.4 – Fatores de emissão para alguns combustíveis segundo o IPCC

Combustível Fator de emissão para

CO2 (kg/GJ) Fator de emissão para

CO2 (kg/kg)

Bagaço de cana 109,6333 0,9777

Coque de petróleo 100,8333 3,5412

Coque de carvão mineral 108,1666 3,1270

Gás natural 56,1000 2,8846

Lenha de reflorestamento 104,8660 1,3611

Lenha nativa 104,8660 1,3611

Óleo combustível 77,3666 3,1062

Outras biomassas 100,0000 1,2213

feam

119

Para elaboração dos cálculos foram utilizados fatores de emissão de 1,3611 kg/kg para a

lenha, correspondente a 50% do combustível usado no Estado de Minas Gerais10,

0,9777 para bagaço de cana, correspondente a 2,7% do total de combustível e 1,2213

(outras biomassas) para os 47,3% dos combustíveis utilizados.

Os dados da atividade constante na fórmula 5.1 para cálculo das emissões de CO2

referem-se ao consumo de combustível por tonelada de produto fabricado. Dessa forma

foram utilizados os dados da Tabela 5.1, ou seja, lenha de eucalipto (290 kg/t), lenha

nativa (330 kg/t), bagaço de cana (390 kg/t) e para outras biomassas, média ponderada

de 208 kg/t.

Emissões de CO2 = [(290 kg/t *0,38) + (330 kg/t *0,12) + (390 kg/t *0,027) + (208 kg/t

*0,473)] * [(1,3611 kg/kg*0,50) + (0,9777*0,027) + (1,2213*0,473)] *0,88

Emissões de CO2 = 292,47 kg/t

No ano de 2009 foram produzidas aproximadamente 8 milhões de toneladas de produtos

de cerâmica vermelha em Minas Gerais, de acordo com o tratamento estatístico

realizado no trabalho. Dessa forma, por ano são emitidos pelo setor aproximadamente

2.339.760 toneladas de CO2.

Essas emissões referem-se a queima de combustíveis, portanto ainda há as emissões

associadas ao processo de calcinação de carbonatos presentes na argila.

O IPCC determina fatores de emissão para a fabricação de cerâmica, entretanto

somente no processo da calcinação de carbonatos presentes na argila, bem como da

adição de aditivos. Conforme o Guia de Orientações para Registro Público de Emissões

de Gases de Efeito Estufa de Empreendimentos do Estado de Minas Gerais – Parte II

(FEAM, 2010), as emissões de CO2 da produção de cerâmica são calculadas a partir da

seguinte equação:

Emissões de CO2 = ∑(M * F) (5.2) Onde: M = Massa de carbonato consumido F = Fator de emissão de carbonato utilizado

10

Desses 50%, 38% referem-se à lenha de eucalipto e 12% a lenha de origem nativa.

feam

120

Para o cálculo são utilizados os seguintes fatores de emissão padrões dos carbonatos

disponíveis:

Tabela 5.5 - Fatores de emissão sugeridos para consumo de carbonatos

Carbonato Fator de emissão para CO2

(kg/kg)

Carbonato de cálcio 0,439

Dolomita 0,477

Carbonato de sódio (Barrilha) 0,414

Carbonato de magnésio (Magnesita)

0,521

Siderita 0,380

Ankerite 0,480

Rodocrosita 0,380

Fonte: Adaptado de Guia de Orientações para Registro Público de Emissões de Gases de Efeito Estufa de Empreendimentos do Estado de Minas Gerais – Parte II

Devido à diversidade de argilas utilizadas e a falta de dados referentes ao consumo de

carbonatos nas cerâmicas, esse cálculo não foi realizado, mas estima-se que essas

emissões sejam insignificantes comparadas as emissões da queima de combustíveis,

uma vez que os carbonatos são mais freqüentemente encontrados na cerâmica branca,

apesar de aparecerem em alguns tipos de argilas usadas para cerâmica vermelha.

Também são geradas emissões de gases estufa em decorrência do transporte de

veículos e operação de maquinário. Estas podem ser minimizadas com utilização de

insumos de regiões próximas às cerâmicas, de modo a reduzir a distância percorrida

pelos veículos, além da realização de manutenção preventiva.

Dessa forma, a melhoria da eficiência energética e opções de mitigação de gases

estufas existem em todas as etapas de uma cerâmica. Como exemplos pode-se citar o

uso de fornos mais eficientes, o controle de processos, a troca de combustível, a parcial

substituição da argila, a recuperação do calor do forno na secagem, entre outros.

feam

121

6 CONCLUSÕES

De maneira geral, o setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais, apesar de

ter grande apelo social e ser gerador de renda e empregos, se apresenta com processos

produtivos semi-artesanais com elevado índice de desperdício, problemas ambientais e

falta de profissionalização de sua estrutura produtiva e administrativa.

A busca da qualidade do produto final por meio do controle do processo produtivo, não é

um pensamento internalizado pela maioria das empresas, visto que práticas de

procedimento usual como ensaios de caracterização na argila e necessidade de estocar

a argila para a cura ou aeração geralmente não são adotadas.

Em Minas Gerais, as indústrias de cerâmica vermelha são bastante heterogêneas no

que diz respeito ao volume de produção, tecnologias utilizadas, tipos de produtos e

condições de trabalho, entretanto as micro e pequenas empresas são predominantes,

fato que explica em parte a falta de estruturação do setor.

A atividade de cerâmica vermelha promove impactos ambientais negativos por ser

grande extratora de matéria-prima não renovável, a argila, pelo grande consumo de

energia e também pelo uso tradicional de lenha nativa, apesar desse último estar

diminuindo nos últimos anos.

Dentre os impactos citados, o mais significativo está relacionado à extração da argila, em

virtude da degradação da área lavrada. Em geral, os empreendimentos não têm a

preocupação no uso correto da extração, seja por falta de conhecimento ou negligência.

Entretanto, boa parte das argilas que abastecem o setor, é proveniente de extrações em

pequena escala, cuja área pode ser recomposta com facilidade se comparada a jazidas

de metais e pedras.

Além disso, a argila é encontrada em todo o Estado de Minas Gerais, tornando o setor

descentralizado, assim como o impacto causado pela sua extração.

Muitas vezes a argila é um subproduto da extração de areia que abastece o setor de

construção civil, o que a torna de baixo valor econômico. Aliado a isso, a grande oferta

dessa matéria-prima, faz que com que o setor não busque alternativas em outros

insumos ou resíduos que possam ser substitutos da argila.

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122

Outro fator que pode estar contribuindo para o impacto da extração de argila no Estado

de Minas Gerais é o tipo de licenciamento obtido pelos empreendimentos. Cerca de 60%

das jazidas possuem Autorização Ambiental de Funcionamento, modalidade bastante

interessante, criada para agilizar o processo de regularização ambiental, mas que no

caso da extração de argila, não vem obtendo bons resultados, uma vez que a maioria

dos empreendimentos detentores de AAF não possuem sistemas de controle

adequados, muito em virtude da falta de acompanhamento do órgão ambiental. Além

disso, 37% das jazidas do Estado estão em situação irregular, potencializando a

degradação provocada pelo setor.

Outro impacto relevante, mas que vem sendo minimizando ao longo dos anos é o

consumo de lenha de origem nativa como combustível nos fornos, que quando realizado

de maneira não sustentável, promove desmatamentos sem reposição adequada.

Felizmente, não só a lenha vem sendo substituída por outros insumos energéticos, como

seu consumo proveniente de florestas plantadas de eucalipto vem crescendo. Dessa

forma, o uso da lenha que ainda configura como principal energético do setor vem se

tornando um fator positivo, uma vez que se trata de recurso renovável, pode ser

produzido localmente e funciona com sumidouro de CO2, principal gás estufa. Aliado a

isso, sua produção local favorece a economia dos municípios e gera empregos.

A fabricação de produtos de cerâmica vermelha requer grande quantidade de

combustível para queima. Tecnologias de produção ineficientes e excessivo consumo de

combustível são bastante comuns, sendo que reduzindo o consumo, conseqüentemente

reduz-se o custo de produção, além de conservar reservas e diminuir níveis de poluição.

Um dos fatores que influenciam a queima dos produtos cerâmicos é o tipo de forno

utilizado. Conforme revisão bibliográfica e dados obtidos no trabalho, verificou-se que os

fornos mais econômicos são dos tipos túnel e hoffmann, enquanto os menos eficientes

são os do tipo caieira, bastante usados nas pequenas olarias. Em Minas Gerais, dentre

os vários tipos de fornos existentes, o trabalho demonstrou que o forno intermitente tipo

abóboda é o preferido, por ser considerado relativamente econômico e de fácil operação.

Por outro lado, nos fornos intermitentes é mais comum a obtenção de um produto mal

queimado, com trincas, quebras e manchas.

feam

123

No entanto, a maioria dos empreendimentos não tem recurso financeiro disponível para

implantação de fornos contínuos. Dessa forma, sem incentivos externos, dificilmente

trocarão sua tecnologia, mas, diversas medidas de simples implementação podem ser

adotadas para redução do consumo, não só de combustível como de energia elétrica,

tais como melhoria no processo de combustão por meio de regulagem e ajuste da

relação ar/combustível, melhoria do isolamento térmico nas portas dos fornos, mistura de

resíduos na massa cerâmica, como o pó de balão, revestimento interno dos fornos com

fibra cerâmica, controle da queima por meio da instalação de termopar, além da

utilização de resíduos como insumos energéticos.

Ainda nesse contexto, pode-se citar a utilização de secadores artificiais para melhor

aproveitamento energético, uma vez que o calor gerado nos fornos é desperdiçado.

Entretanto, assim como no caso dos fornos contínuos, o custo de implantação é alto.

Conforme constatado ao longo do trabalho, resíduos de outras indústrias, como bagaço

de cana, sabugo de milho, palha de café, pó de serragem e cavacos, vêm ganhando

espaço no setor pela sua oferta em determinadas regiões do Estado e alto poder

calorífico, além do preço quando comparados a lenha.

Esses usos permitem uma destinação útil desses resíduos, que anos atrás configuravam

como passivos ambientais nos empreendimentos geradores. Por outro lado, resíduos

provenientes de indústrias moveleiras como pó de serragem e cavacos, só podem ser

utilizados desde que sejam provenientes de madeiras que não tenham sido tratadas com

produtos químicos tóxicos.

A geração de resíduos sólidos no processo produtivo de cerâmica vermelha decorre

principalmente da ausência de técnicas de produção sustentável. Essa geração é

ocasionada, principalmente, por perdas nas etapas do processo produtivo, que podem

ser minimizadas com controle de qualidade e aperfeiçoamento da mão-de-obra.

Todos os resíduos gerados podem ser reutilizados no processo ou usados em outras

tipologias industriais. Entretanto, ainda são encontrados grandes volumes desses

resíduos nas empresas, sendo que, embora não sejam resíduos perigosos, necessitam

de armazenamento adequado, fato não constatado na maioria dos empreendimentos.

feam

124

Com relação aos efluentes atmosféricos, em virtude das biomassas serem os insumos

energéticos mais utilizados no Estado, as emissões provenientes dos fornos cerâmicos

não são intensas, sendo que nenhuma empresa visitada possuía sistema de

despoeiramento, mas cerca de 95% dos relatórios de monitoramento realizados

apresentaram resultados abaixo do limite estabelecido na legislação ambiental

pertinente.

Por outro lado, em determinadas visitas técnicas foram constatadas emissões nas

chaminés dos fornos de coloração escura, podendo ser em virtude da combustão

incompleta da lenha ou da utilização de resíduos como pneus inservíveis.

Apesar de utilizar biomassa como combustível nos fornos, o setor de cerâmica vermelha

no Estado de Minas Gerais, emite grande quantidade de CO2, tendo sido estimado no

ano de 2009 mais de dois milhões de toneladas. Entretanto, diversas medidas como uso

de lenha plantada, fornos mais eficientes, controle de processos, troca de combustível,

parcial substituição da argila e recuperação do calor do forno na secagem podem

minimizar essas emissões.

Com relação à utilização de resíduo na fabricação da cerâmica vermelha, recomenda-se

a revisão da DN COPAM nº 74/2004 para adequação do código referente ao setor, em

virtude de estar sendo adotado um código genérico de potencial poluidor grande, quando

em geral o uso dos resíduos é positivo, por estar aproveitando um passivo de outros

empreendimentos. Ressalta-se, no entanto, que a utilização de resíduos deve ser

balizada por meio de análises do tijolo com a incorporação do resíduo, assim como do

resíduo propriamente dito, além de haver um gerenciamento adequado do mesmo,

principalmente quanto seu armazenamento temporário. O uso de termopares para

controle da queima desses resíduos nos fornos também é uma ferramenta importante

para verificar a destruição térmica dos componentes indesejáveis como os fenóis no

caso do pó de balão e a incorporação destes à matriz sinterizada, de modo a evitar o

arraste por meio líquido no uso e descarte final de novos produtos.

Em geral, as condições do ambiente de trabalho das cerâmicas são precárias. Apenas

as grandes indústrias oferecem melhores condições e possibilidades de aperfeiçoamento

para os funcionários. É necessário que haja uma conscientização do setor da

importância desses fatores para se obter aumento de produtividade, redução de perdas

feam

125

e desenvolvimento da qualidade do produto, e, como conseqüência, a melhoria do

desempenho ambiental do setor.

Além disso, muitas vezes as unidades cerâmicas oferecem riscos para a comunidade

local, por não possuírem delimitação em seus terrenos, que se confundem com o espaço

público.

É extremamente importante que os empreendimentos do setor observem em iniciativas

ambientais, não apenas a obrigação de estar em conformidade com a legislação e

órgãos ambientais, mas também a possibilidade de reduzir custos e aumentar sua

produtividade.

O setor de cerâmica vermelha em Minas Gerais tem um papel importante na economia

do Estado, tendo cenário otimista, uma vez que a construção civil está em ascensão no

país. Por outro lado, o setor, em sua maioria, enfrenta dificuldades para crescer de

maneira sólida, podendo ser citados os seguintes aspectos:

Falta de incentivos financeiros;

Falta de especialização da mão-de-obra;

Ausência de controle da qualidade na produção;

Alta taxa de perdas de produtos;

Baixo número de empreendimentos com certificação, ocasionando em falta de

confiabilidade dos consumidores;

Ausência de ensaios laboratoriais tanto do produto quanto das matérias-primas,

sendo no geral usada a experiência adquirida e inspeção visual;

Falta de planejamento, principalmente com relação à compra de matérias-primas

e insumos.

Visando melhorar a produtividade e atender as normas técnicas, as cerâmicas podem

implementar diversas ações, como:

Realizar o sazonamento das argilas;

Controlar o processo de mistura das argilas, mantendo uma regularidade;

feam

126

Realizar ensaios laboratoriais das argilas e produto acabado;

Realizar manutenção preventiva nos equipamentos;

Monitorar e homogeneizar a alimentação da mistura no caixão alimentador;

Controlar a umidade de extrusão;

Manter uma curva padrão de temperatura da queima;

Monitorar umidade e temperatura de secagem.

Pelo exposto, o setor de cerâmica vermelha no Estado de Minas Gerais ainda tem muito

a evoluir, precisando para isso de incentivos externos, devido sua dificuldade de

aperfeiçoamento. Quando comparado a outros setores industriais, o impacto ambiental

da cadeia produtiva até a fabricação da cerâmica é baixo, entretanto o elevado número

de empreendimentos potencializa esse impacto, sendo necessárias ações para reverter

esse quadro atual.

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127

7 PLANO DE AÇÃO

Visando promover o avanço tecnológico e ambiental nos empreendimentos, haja vista

que o setor tem muito a evoluir, foi elaborado o Plano de Ação descrito a seguir.

Divulgação dos resultados por meio de seminário / work shop, para o público alvo:

Sociedade Civil, SISEMA, Ministério Público / Poder Judiciário, Estado e o Setor

Industrial.

Elaboração de cartilha educativa / orientativa direcionada para o setor produtivo.

Promover estudos para aplicação de resíduos de outras tipologias industriais,

tanto na incorporação à massa cerâmica, quanto na queima nos fornos,

considerando aspectos ambientais e econômicos.

Analisar o uso de pó de balão na fabricação de tijolos no município de Igaratinga,

baseando-se em testes laboratoriais e realizar estudo da qualidade do ar nesse

município para averiguação da influência da utilização em larga escala desse

resíduo.

Discussão acerca da classificação dos empreendimentos que utilizam resíduos

industriais em seus processos, na Deliberação Normativa COPAM nº 74/2004.

Sugere-se a adoção de um código específico para a utilização de resíduos na

fabricação de cerâmica vermelha ou incorporação dessa aplicação no código já

existente para cerâmica vermelha na deliberação, com algumas modificações.

Realização de balanço de massa de carbono, contemplando os tijolos crus e

queimados, para maior precisão do cálculo das emissões de CO2 do setor de

cerâmica vermelha.

Avaliação de fornos cerâmicos por meio da dinâmica de queima para

estabelecimento de um padrão operacional durante a produção, que permita

garantir a incorporação dos resíduos siderúrgicos na massa da argila e obter

produtos de qualidade frente as exigências das normas de tijolos de vedação.

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128

Estudo sobre o impacto causado pelo setor de extração de argila no Estado de

Minas Gerais, haja vista o grande número de empreendimentos irregulares e

detentores de Autorização Ambiental de Funcionamento.

Intensificação das fiscalizações nas jazidas de extração de argila.

Introduzir, em princípio, como condicionante no licenciamento ambiental dos

empreendimentos de cerâmicas vermelhas a adoção no caso do processo

produtivo com mistura de resíduos à argila, a exigência do controle de

temperatura dos fornos, com uso de termopares e a apresentação do

monitoramento das curvas de queima, nos relatórios enviados às SUPRAM’s.

Além disso, na condicionante referente ao programa de automonitoramento de

efluentes atmosféricos sugere-se a inserção do parâmetro NOx.

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129

REFERÊNCIAS

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131

________.Resolução CONAMA nº 382, de 26 de dez. 2006. Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas, janeiro, 2007.

________. Resolução CONAMA nº 436, de 22 de dez. 2011. Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas instaladas ou com pedido de licença de instalação anteriores a 02 de janeiro de 2007, dezembro, 2011.

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135

ANEXOS

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136

ANEXO A - Check list aplicado nas visitas técnicas

GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL

CHECK LIST Nº

RV Nº

AF Nº

Projeto: Plano de Ação para Adequação Ambiental e Energética das Indústrias de Cerâmica Vermelha no Estado de

Minas Gerais

Levantamento realizado em: às horas

Nome do empreendimento:

Nome fantasia:

Número do Processo FEAM:

Microempresa: Sim Não

Endereço:

Município:

Coordenadas Geográficas (UTM): (X): (Y):

Localização: Zona Urbana: Industrial Residencial Mista

Margem de rodovia

Zona Rural: APP Reserva Legal

Localizado em Área de Proteção Ambiental? Sim Não Especificar?

Bacia Hidrográfica: Curso D’Água:

Terreno Próprio ou Arrendado:

Operação Desde:

Área Útil: Área Total:

Número de Empregados:

Utilizam EPI: Sim Não Parcialmente

Horário de Funcionamento: horas/dia dias/mês

Última vistoria realizada pelo órgão ambiental fiscalizador:

Auto de Infração: Sim Não Quantos: Ultimo:

Obs.:

Classificação DN 74/2004 (código):

Certificado ISO: Sim ( ) Não

Certificação do Produto: Sim ( ) Não

Possui Registro no IEF: Sim Não Validade:

Fonte de Abastecimento de Água

Concessionária Local: Qual? Outorga: Sim Não Vazão outorgada:

Poço subterrâneo: Quantos? Outorga: Sim Não Vazão outorgada:

Curso d’água: Qual? Outorga: Sim Não Vazão outorgada:

Consumo Médio de Água:

Obs.:

Declaração do Corpo de Bombeiro: Validade:

Autorização Ambiental de Funcionamento nº Validade:

Licença de Operação nº: Validade: Condicionante: Sim ( ) Não

Cumprimento das Condicionantes: Total Parcial (especificar Obs.) Descumprimento Total

Obs.

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Número de Fornos (Tipo):

Capacidade Total Instalada (t/mês) e/ou (unidades/mês):

Produção Média (t/mês) e/ou (unidades/mês):

Produção de Cerâmica em 2009(t) e/ou (unidades):

Produto (Dimensões): Blocos ( ); Telhas ( );

Lajotas ( ); Tijolos ( );

Tubos ( )

Preço:

Destino:

Classificação do produto quando utilizado resíduos como matérias-primas (ABNT):

Obs.:

ARGILA

TIPO DE ARGILA

Quantidade de Argila Plástica (%):

Quantidade de Argila Não plástica (%):

EXTRAÇÃO DA ARGILA

Própria Terceiros

Localização da extração:

Extração regularizada: Sim Não

Consumo mensal de argila (t):

Consumo em 2009 (t):

Consumo de argila por tonelada de cerâmica (t/t) e/ou t/unidades:

Preço de compra (t):

ARMAZENAMENTO

Fechado Semi-aberto Ao ar livre

Sistema de Controle: Sim Não Especificar:

Obs.:

COMBUSTÍVEL

COMBUSTÍVEL UTILIZADO 1:

Consumo mensal (m3):

Consumo 2009 (m3):

Consumo do combustível (m3/t de cerâmica):

COMBUSTÍVEL UTILIZADO 2:

Consumo mensal (m3):

Consumo 2009 (m3):

Consumo do combustível (m3/t de cerâmica):

COMBUSTÍVEL UTILIZADO 3:

Consumo mensal (m3):

Consumo 2009 (m3):

Consumo do combustível (m3/t de cerâmica):

Óleo Combustível para abastecimento de veículos ou máquinas

Armazena: Sim Não

Armazenamento: Tanque Tambor Coberto Piso impermeável Bacia contenção

Capacidade (m3) ou (L):

Licenciado: Sim Não

Obs.:

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138

PÓ DE BALÃO

Utilização de Pó de Balão: Sim Não

Consumo mensal (t):

Preço de compra (t):

Consumo em 2009 (t):

Quantidade utilizada na carga (%):

Fornecedor:

Manuseio Pó de Balão:

Caçamba Pá carregadeira Caminhão Correia transportadora

Sistema de Armazenamento: Silo Galpão Caçamba Diretamente no solo

Outros ( )

Capacidade:

Performance: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Quantidade Estocada:

Obs.:

Utilização de outro resíduo na mistura da carga: Sim Não Especificar:

Consumo mensal (t):

Preço de compra (t):

Quantidade utilizada na carga (%):

Fornecedor:

Sistema de Armazenamento:

Obs.:

Consumo de energia elétrica (kWh):

Consumo de água na fabricação das cerâmicas (m3/t):

PROCESSO

QUEIMA

Quantidade queimada por ciclo:

Duração do ciclo:

Temperatura:

Obs.:

SECAGEM

Instalação:

Duração:

Temperatura:

Obs.:

ARMAZENAMENTO DO PRODUTO

Galpão: fechado Semi-aberto Ao ar livre

Obs.:

MONITORAMENTO DO PRODUTO

Visual: Sim Não

Ensaios Físicos: Sim Não Especificar: Período:

Obs.:

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EFLUENTES ATMOSFÉRICOS

FORNOS

Sistema de Controle: Sim Não Especificar:

Performance visual das emissões na chaminé: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Monitoramento: Sim Não Resultados atendem a legislação: Sim Não

Percentual de CO2 no gás do forno:

Obs.:

EFLUENTES LÍQUIDOS

EFLUENTES SANITÁRIOS

Instalação: Tanque séptico Filtro ETE Outro (Especificar):

Destino Final: Sumidouro Rede Municipal Drenagem natural Córrego Outros

Monitoramento: Sim Não Resultados atendem a legislação: Sim Não Parcialmente

Obs.:

ÁGUAS PLUVIAIS

Instalação: Canaletas Caixas de decantação ( ) Bacias de Decantação ( )

Bacias de decantação impermeabilizadas: Sim Não

Destino Final: Rede municipal Córrego Drenagem natural Outros (Especificar):

Performance visual: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Monitoramento: Sim Não Resultados atendem a legislação: Sim Não Parcialmente

Obs.:

EFLUENTES DA OFICINA MECÂNICA (Lavagem de Peças ou Veículos)

Instalação: Destino Final: Rede Municipal Córrego Drenagem natural Outros

Perfermonce Visual: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Monitoramento: Sim Não Resultados atendem a legislação: Sim Não Parcialmente

Obs.:

RESÍDUOS

CINZAS

Sistema de Armazenamento: Silo Galpão Caçamba Diretamente sobre o solo Outros

(Especificar):

Performance: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Destino Final: Venda Doação Reutilização Especificar destino:

Quantidade Estocada:

Caracterização do resíduo (Classificação ABNT-NBR 10.004):

Quantidade gerada por tonelada de cerâmica (t/t) e/ou (t/unidades):

Obs.:

PRODUTOS DANIFICADOS (FORA DE ESPECIFICAÇÃO)

Sistema de Armazenamento: Silo Galpão Caçamba Diretamente no solo Outros

(Especificar)

Performance: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Destino Final: Venda Doação Reutilização Especificar destino:

Quantidade Estocada:

Caracterização do resíduo (Classificação ABNT-NBR 10.004):

Quantidade gerada por tonelada de cerâmica (t/t) e/ou (t/tijolos):

Obs.:

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MATERIAL CRU FORA DE CONFORMIDADE

Sistema de Armazenamento:

Destino Final: Venda Doação Reutilização Especificar destino:

Quantidade Estocada:

Caracterização do resíduo (Classificação ABNT-NBR 10.004):

Quantidade gerada por tonelada de cerâmica (t/t) e/ou (t/tijolos):

Obs.:

OUTROS RESÍDUOS

Especificar:

Sistema de Armazenamento:

Performance: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Destino final:

Caracterização do resíduo (Classificação ABNT-NBR 10.004):

Quantidade gerada por tonelada de cerâmica (t/t) e/ou (t/tijolos):

Obs.:

VIBRAÇÕES/RUÍDOS

Principais fontes:

Medidas mitigadoras:

Monitoramento: Sim Não Resultados atendem a legislação: Sim Não Parcialmente

Obs.:

ÁREAS VERDES

Cinturão Verde

Existente: Sim Não Quantidade: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Obs.:

Jardins Paisagísticos

Existente: Sim Não Quantidade: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Obs.:

SISTEMA VIÁRIO E PÁTIOS

Vias delimitadas: Sim Não Parcialmente

Vias sinalizadas: Sim Não Parcialmente

Vias pavimentadas: Sim Não Parcialmente

Pátios delimitados: Sim Não Parcialmente

Pátios pavimentados: Sim Não Parcialmente

Tem varrição: Sim Não Aspersão das vias: Sim Não Tipo: pipa fixa

Performance: Satisfatória Razoável Insatisfatória

Acúmulo de pó nas vias: Sim Não Alguns pontos isolados

Obs:

Observações Gerais:

Nome do representante da empresa:

Cargo: Assinatura:

Nome do Técnico da FEAM: Assinatura:

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ANEXO B - Localização das cerâmicas vermelhas de Minas Gerais por bacia hidrográfica

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ANEXO C - Localização das cerâmicas vermelhas de Minas Gerais por SUPRAMs