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Sistemas alternativos de criação de camarões: policultivo

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Definições

• O policultivo na aqüicultura consiste na criação simultânea de duas ou mais espécies aquáticas em um mesmo corpo d’água, utilizando organismos com diferentes hábitos alimentares e distribuição espacial (Zimmermann e New, 2000).

• O policultivo difere do consórcio, no qual as espécies consorciadas não são criadas no mesmo espaço. Ex: consórcio de carpas com suínos.

Introdução de camarões em policultivo com peixes

• O mercado consumidor de camarões ainda não estábem estabelecido na região e há bom mercado para a colocação de peixes.

• Nesse caso os camarões entram como espécie secundária no policultivo, em nada alterando a tecnologia de produção de peixes.

• A utilização do camarão no policultivo além de agregar valor à produção de peixes, auxilia no estabelecimento de um mercado consumidor de camarões, possibilitando futuramente ao produtor a diversificação da sua produção.

Introdução de peixes em policultivo com camarões

• Quando o mercado consumidor de camarões está bem estabelecido na região e o preço pago pelo produto écompensador.

• Mas ainda assim a introdução de peixes pode vir a agregar valor à produção de camarões. Nessa situação deve-se considerar o camarão como a espécie principal e introduzir peixes em baixas densidades ou confinados em tanques-rede. Mas essas tecnologias ainda estão por ser definidas.

• Do ponto de vista ambiental sempre há vantagens no policultivo: a introdução de peixes filtradores (como tilápias ou carpas) nos viveiros de camarões auxilia na manutenção da estabilidade do fitoplancton.

Vantagens do policultivo camarão - peixe

Do ponto de vista ambiental

• Os camarões, devido ao seu hábito alimentar, consomem uma grande quantidade de resíduos orgânicos produzidos normalmente na piscicultura, melhorando a qualidade da água no viveiro e reduzindo a carga de nutrientes no efluente do mesmo.

• A quantidade de água utilizada no policultivo é a mesma do monocultivo, o que significa uma maior produção total com o mesmo consumo de água.

• A quantidade de ração utilizada no policultivo é a mesma do monocultivo, o que significa uma maior produção total com a mesma quantidade de ração.


Do ponto de vista ambiental

• Peixes filtradores auxiliam a manter a estabilidade das populações fitoplantônicas nos viveiros de policultivo, evitando a formação de blooms de algas e o consequente aumento do pH da água a níveis críticos

• Os camarões e peixes não apresentam riscos de transmissão de doenças entre si.


Do ponto de vista econômico

• Os camarões são animais onívoros. Em policultivo com peixes, se alimentam dos detritos orgânicos produzidos no cultivo e de sobras da ração fornecida aos peixes, dispensando o arraçoamento específico.

• Como os camarões são cultivados em baixas densidades, e habitam o fundo do viveiro, os peixes não são afetados pela sua presença, podendo ser cultivados na densidade normalmente utilizada no monocultivo.

• Em regiões onde já é cobrada a outorga do recurso hídrico, o produtor obtém um aumento na sua produção sem pagar mais pelo uso da água.


Do ponto de vista econômico

• Os camarões alcançam alto preço no mercado, proporcionando uma boa agregação de valor ao cultivo.

• O manejo da despesca dos peixes não afeta os camarões, podendo as duas espécies serem despescadas juntas sem danos a nenhuma delas.

• Os camarões não são exigentes em termos de manejo, não ocasionando gastos adicionais com mão de obra e nem interferindono manejo tradicional da piscicultura.

Estratégias de policultivo

Policultivo com peixes livres

• Os peixes e os camarões são criados livremente dentro do mesmo viveiro, porém ocupando espaços diferentes dentro dos mesmos

Policultivo com peixes confinados

• Os peixes são criados em tanques-rede instalados no interior dos viveiros e os camarões ocupam o espaço do viveiro exterior aos tanques-rede.

Policultivo com o uso de substratos adicionais no viveiro


a) Requisitos para a escolha da espécie de peixe:

• Deve apresentar o mesmo ciclo de produção dos camarões, para que a despesca das duas espécies seja feita simultaneamente.

• Não deve ser predadora dos camarões.

• Deve ocupar preferencialmente a coluna d’água do viveiro.


b) Principais espécies utilizadas:

• Tilápias• Carpa comum (Cyprinus carpio) • Ornamentais: acará-bandeira (Pterophyillum scalare) e kinguio

(Carassius auratus)

Além dessas:

• Carpa prateada (Hypophthalmichthys molitrix) – fitoplanctófaga• Carpa cabeça grande (Aristichthys nobilis) – zooplanctófaga• Carpa capim (Ctenopharyngodon idella) – herbívora


c) Principais requisitos para o manejo:

• Geralmente considera-se o peixe como a espécie principal e o camarão como a espécie secundária no policultivo.

• Os camarões devem ser introduzidos no viveiro pelo menos uma semana antes dos peixes.

• Na despesca devem ser destacadas equipes em separado para os peixes e os camarões. Estes devem ser lavados e abatidos assim que são despescados.

Policultivo com peixes livresd) Vantagens

• O piscicultor não tem necessidade de alterar o manejo do seu cultivo, jáque os camarões se adaptam bem ao mesmo.

• Custo de implantação mais baixo.

e) Desvantagens

• Ocorrem interações negativas entre os peixes e os camarões, principalmente durante a fase de muda destes, reduzindo sua sobrevivência.

• Uddin (2007) observou que a sobrevivência de camarões foi significativamente menor em policultivo do que em monocultivo, ao passo que para tilápias ocorreu exatamente o inverso.

• Há necessidade da despesca ocorrer simultaneamente e de haver a separação das espécies despescadas.


a) Escolha das espécies

• A gama de espécies utilizadas é bem maior. Há necessidade de pesquisas sobre as mesmas.

• Podem ser utilizadas espécies com ciclo mais curto do que o do camarão (lambaris, peixes ornamentais), já que sua despesca pode ocorrer independentemente da despesca dos camarões.

• Podem ser utilizadas espécies de ciclo mais longo em recria, antes de serem transferidas para a etapa de crescimento final em viveiros ou gaiolas.

• Podem ser utilizadas espécies potencialmente predadoras do camarão. Ex: pacu (Piaractus mesopotamicus) (Wicki et al.,1998).

Policultivo com peixes confinadosb) Principais requisitos para o manejo

• O manejo pode ser feito considerando tanto os peixes como os camarões como a espécie principal.

• Os camarões devem adentrar o viveiro assim que este é preenchido com água, para evitar a proliferação de predadores como larvas de insetos. A instalação dos tanques-rede pode ocorrer em qualquer fase posterior.

• No caso dos camarões não serem arraçoados, há uma tendência dos mesmos a se agregarem sob os tanques-rede. Daí a importância de se distribuir estes uniformemente por todo o viveiro.

• A despesca não precisa ocorrer simultaneamente. Os tanques rede devem ser retirados antes da despesca dos camarões.


c) Vantagens:

• Maior produtividade. Tidwell et al. (2000) informam que o policultivo de camarões e tilápias confinadas aumenta a produtividade total em 81% em relação ao monocultivo de ambas as espécies.

• Maior facilidade de manejo na despesca dos animais.

• Reduz as interações negativas entre os peixes e os camarões, aumentando a sobrevivência destes.

• O sistema permite uma variedade muito grande de combinações entre as densidades dos camarões e a dos peixes confinados, espécies utilizadas, níveis de intensificação do policultivo e introdução de uma terceira espécie livre, havendo necessidade de pesquisas sobre todos esses aspectos.


d) Desvantagens:

• Maior investimento inicial com a aquisição dos tanques-rede e com adaptações no viveiro, principalmente com relação ao aumento da profundidade.

• Maior exigência com a qualidade da água, tornando necessário muitas vezes o uso de aeradores artificiais ou o aumento da renovação da água no viveiro.

• Os peixes confinados exercem um menor controle sobre a densidade de fitoplancton do que peixes livres.

• Há necessidade de maior cuidado na escolha das espécies em cultivo, sempre utilizando pelo menos uma espécie filtradora com vistas à manutenção da estabilidade do fitoplancton.

Adição de substratos artificiais no viveiro de policultivo

• O uso de substratos artificiais no monocultivo de peixes e camarões tem sido preconizada por diversos autores (Azim etal. 2002, Tidwell et al. 2000). No policultivo começou a ser estudado recentemente por Uddin et al. (2006).

Tipos de substratos:

• Estacas de bambu (Uddin, 2007)• Telas de polietileno (Tidwell et al., 2000)

Vantagens do uso de substratos artificiais no policultivo

• Abrigo e proteção, reduzindo antagonismos entre as espécies em policultivo e aumentando a produção (Tidwell and Bratvold, 2005 apud Uddin, 2007).

• Produção de perifiton que desempenha importante papel na melhoria da qualidade da água e na alimentação das espécies cultivadas (Uddin, 2007).

Importância do perifiton

a) Na melhoria da qualidade da água do viveiro

• Promove a retirada de sólidos totais da coluna d’água, recicla nutrientes, absorve amônia e produz oxigênio.

• Permite o desenvolvimento de bactérias nitrificantes em um ambiente mais rico em oxigênio (coluna d’água) e não apenas no fundo do viveiro onde seu desenvolvimento é muito mais lento.

b) Como fonte de alimento suplementar

• O perifiton é utilizado diretamente como alimento por espécies onívoras e herbívoras como os peixes.

• Devido à rápida reciclagem de nutrientes, apresenta alto grau de regeneração após o consumo.

• Favorece o desenvolvimento de comunidades bentônicas que servem como alimento para espécies onívoras e detritívoras como os camarões.

Importância do perifiton

c) Como alimento de alta qualidade nutricional

• O perifiton é uma complexa mistura de organismos autotróficos e heterotróficos e sólidos em suspensão, que promovem rápida reciclagem de nutrientes.

• Isso o torna um alimento mais rico do que o fitoplancton para as espécies filtradoras. As tilápiascrescem melhor se alimentando do perifiton do que do plancton filtrado (Azim et al. 2002).

Aumento de produção devido ao uso de substratos artificiais no policultivo

Uddin (2007): Policultivo de camarões e tilápias livres utilizando estacas de bambu como substrato (5 por m2) - Bangladesh

—————————————————————————————————S/ substratos C/ substratos Acréscimo

—————————————————————————————————Produção de tilápia (kg ha-1) 1.702 2.445 44%Sobrevivência de tilápia (%) 55 60 9%Produção de camarões (kg ha-1) 62 141 127%Sobrevivência de camarões (%) 20 35 75%—————————————————————————————————

Policultivo com peixes confinadosPindamonhangaba - 2008

• Área de viveiro povoada: 1.500 m2

• Tipo de policultivo: Com tilápias confinadas em 12 tanques-rede de 1 m3

• Povoamento com tilápias com 30 g – 2400 peixes• Densidade média de 200 peixes m-3

• Povoamento com camarões (juvenis com 0,2 g) – 5.144 camarões• Espécie: Camarão da Malásia• Densidade: aproximadamente 35 camarões 10 m-2

• Os camarões entraram em 29.01.08

• As tilápias entraram 35 dias após os camarões (em 04.03.08)

Policultivo com peixes confinadosPindamonhangaba - 2008

• Despescas de camarões em junho e setembro de 2008• Despesca das tilápias em setembro de 2008

Tilápias:

• Produção total: 2.100 tilápias ou 1.260 kg• Peso médio em torno de 0,6 kg• Sobrevivência de 87,5 %

Camarões:

• Produção total: 4.050 camarões ou 68,1 kg• Peso médio: 16,8 g• Sobrevivência: 78,7 %• Produtividade: 454 kg ha-1

CONCLUSÕES

• O policultivo configura uma excelente alternativa para aumentar a produção aquícola de forma sustentável.

• O confinamento de peixes abre muitas possibilidades para a realização do policultivo, devendo serem estimuladas mais pesquisas a respeito.

• O uso de substratos nos viveiros de policultivo com peixes livres deve ser pesquisado e estimulado, pois possibilita o aumento da produção com baixo investimento, melhorando a sustentabilidade do sistema.

Referências bibliográficasAzim, M.E., Wahab, M.A., Verdegem, M.C.J., van Dam, A.A., van Rooij, J.M., Beveridge

M.C.M. 2002. The effects of artificial substrates on freshwater pond productivityand water quality and the implications for periphyton-based aquaculture. Aquatic

Living Resour. 15: 231-241

Tidwell J.H., Cycle, S., Van Arnum, A., Weibel, C. 2000. Production response of freshwater prawns Macrobrachium rosenbergii to increasing amounts of artificial substrate in ponds. J. World Aquac. Soc. 31, 452-458

Uddin, S. 2007. Mixed culture of tilapia (Oreochromis niloticus) and freshwater prawn

(Macrobrachium rosenbergii) in periphyton-based ponds. PhD Thesis, WageningenUniversity, The Nethelands, 215 p.

Uddin, S., Azim, M.E., Wahab, A., Verdegem, M.C.J. 2006. The potential of mixedculture of genetically improved farmed tilapia (Oreochromis niloticus) andfreshwater giant prawn (Macrobrachium rosenbergii) in periphyton-based systems. Aquac. Res. 37, 241-247

Wicki, G.A.; Martinez, M.C.; Wiltchiensky, E.; Maizels, P.; Panne Huidobro, S.; Luchini, L. 1998 Production assay for polyculture of freshwater shrimp (Macrobrachium

rosenbergii, Palaemonidae) and pacu fish (Piaractus mesopotamicus Characidae). Natura Neotropicalis, 29 (1): 69-78.

Zimmermann, S.; New, M.B. 2000. Grow-out systems polyculture and integrated culture. In: NEW, M.B. and VALENTI, W.C. Sustainability of freshwater prawnculture. Freshwater Prawn Culture: The Farming of Macrobrachium rosenbergii. London, Blackwell Science, p. 187-202

Programa policultivoIP-APTA-SAA

Instituições envolvidas:

Instituto de Pesca – APTA – SAA – SP

Centro de Aqüicultura da UNESP – JaboticabalPólo APTA Nordeste Paulista – SAA - SP

Pólo APTA Vale do Paraíba – SAA - SPPólo APTA Noroeste Paulista – SAA - SP

Programa policultivo – Objetivos

• Realizar pesquisas com camarões de água doce em policultivo;

• Difundir técnicas de policultivo em palestras junto a produtores e associações;

• Estimular a realização de policultivos experimentais com produtores associados;

• Discutir o estado da arte do policultivo e direcionar as novas pesquisas

Programa policultivo – Realizações em 2008

• Consolidação dos policultivos experimentais com produtores associados em Tremembé e São José do Rio Pardo (SP);

• Início de pesquisa sobre policultivo com peixes confinados em Pindamonhangaba (SP);

• Palestra para produtores em Votuporanga (SP)

• Definição das primeiras parcerias

• Apresentação dos primeiros resultados – Aquaciência2008

Programa policultivo – Metas para 2009

• Ampliar o número de produtores associados;

• Segunda fase da pesquisa sobre policultivo com peixes confinados em Pindamonhangaba;

• Construir a homepage do Programa

• Realizar uma reunião de trabalho com os parceiros para discussão dos resultados parciais

POLICULTIVO EM TREMEMBÉ (SP)2007-2008

• Área de viveiros povoada: 6.000 m2

• Povoamento com tilápias (alevinos com 5 g) – 25.500• Densidade aproximada: 4 peixes / m2

• Povoamento com camarões (juvenis com 0,06 g) –18.000

• Espécie: Camarão da Malásia• Densidade: 3 / m2

• As tilápias entraram 30 dias após os camarões

POLICULTIVO EM TREMEMBÉ (SP)2007-2008

• Despesca: Tilápias com 5 meses após o povoamento e camarões com 6 meses

• Tilápias: Sobrevivência de 79%; Peso médio não disponível. Ver fotos.

• Produção total: 20.100 tilápias que foram transferidas para outro viveiro

• Camarões:

Sobrevivência de 54,8%Total produzido: 170 kg ou 9.864 camarõesPeso médio: 17,2 gProdutividade: 283 kg/hectarePreço médio de venda: R$ 15,00 / kgReceita total dos camarões: R$ 2.550,00Custo das pós-larvas: R$ 1.080,00

POLICULTIVO EM S.J. RIO PARDO (SP)2007-2008

• Área de viveiro povoada: 1.500 m2

• Povoamento com tilápias (alevinos com 8 g) – 50.000• Densidade aproximada: 33 peixes / m2

• Povoamento com camarões (pós-larvas com 0,01 g) –21.000 camarões

• Espécie: Camarão da Amazônia• Densidade: 14 / m2

• As tilápias entraram 15 dias após os camarões

POLICULTIVO EM S.J. RIO PARDO (SP)2007-2008

• Despescas seletivas de tilápias a partir do segundo mês, com 45 g e novos povoamentos com tilápias de 20 g, mantendo a mesma densidade

• Tilápias com 5 meses após o povoamento e camarões com 6 meses• Despescas de camarões a partir do terceiro mês

Tilápias:

• Produção total: 63 mil tilápias juvenis• Peso médio em torno de 45 g• Sobrevivência de 90 %

Camarões:

• Produção total: 16.800 camarões ou 42,3 kg• Peso médio: 2,4 g• Sobrevivência de 80,4 %• Produtividade: 282 kg/hectare• Preço médio de venda: R$ 10,00 / kg• Receita total: R$ 423,00

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