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Pedro T. Gomes

Ana C. Botelho

Gaspar S. Carvalho

sistemas dunares do litoral de esposende

esposendeMinistrio da Cincia e da Tecnologia

Cincia Viva

Sistemas dunares do litoral de Esposende

Pedro T. Gomes Ana C. Botelho Gaspar S. Carvalho

Ministrio da Cincia e da Tecnologia

Cincia Viva

Ministrio da Cincia e da Tecnologia

Cincia Viva

Esta obra foi subsidiada integralmente pelo programa Cincia Viva, iniciativa Biologia no Vero 2001, Ministrio da Cincia e Tecnologia

Arranjo grfico: Lus Cristvam Fotografias: Pedro T. Gomes

Sistemas dunares do litoral de Esposende Universidade do Minho

@ Pedro T. Gomes, Ana C. Botelho, Gaspar S. de Carvalho, 2002

ISBN:

Depsito legal: Impresso em: 2000 exemplares Reservados todos os direitos. O contedo desta obra est protegido pela Lei, que probe a reproduo, plgio, distribuio ou comunicao pblica, no seu todo ou em parte, duma obra literria, artstica ou cientfica, ou a sua transformao, interpretao ou execuo artstica em qualquer tipo de suporte ou divulgada atravs de qualquer meio sem a expressa autorizao dos autores

Indice

Introduo

Como utilizar este guia O esturio

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Geomorfologia do segmento costeiro de Esposende A praia e os sistemas dunares

Formao de um sistema dunar

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Degradao de um sistema dunar

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A flora e a fauna das dunas do litoral de Esposende

Guia fotogrfico da flora vascular das dunas de Esposende

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IntroduoNo mbito das actividades organizadas em Agosto / Setembro de 2001 no decorrer da iniciativa Biologia no Vero (Cincia Viva, Ministrio da Cincia e Tecnologia), sentiu-se a necessidade de dotar os participantes de uma obra de apoio s visitas efectuadas. Embora existam bons guias de identificao adaptveis situao nacional trata-se, na maior parte dos casos, da traduo de originais em lngua inglesa, nem sempre aplicveis nossa fauna e flora. Para a fauna do litoral existem actualmente duas boas obras de referncia em lngua portuguesa (Saldanha, 1997 e Costa, 1999). No que respeita avifauna, so de recomendar as obras de Farinha e Costa (1999) e ______ (19__), esta ltima correspondente a um guia ingls traduzido para portugus. Embora de aplicao genrica ao territrio nacional, no podemos deixar de referir ainda o excelente guia ilustrado de identificao de anfbios da autoria de Ferrand de Almeida et al (2001). Este livro surge ento como uma tentativa modesta de fornecer informaes sobre a flora caracterstica dos sistemas dunares do litoral de Esposende, transmitindo simultaneamente alguns conhecimentos que ajudam a perceber um pouco da complexa geomorfologia da regio. Este guia foi pensado como um livro que o leitor pode transportar durante as suas deambulaes pelo litoral, no se pretendendo, no entanto, com ele efectuar um levantamento exaustivo das espcies animais e vegetais que a ocorrem. Para esse efeito so de recomendar, entre outras, as excelentes obras de Saldanha (1997) e Sanmartn e Canzobre (1998) que se indicam na bibliografia. Uma vez que a flora constitui aquilo que esse tipo de visitante poder apreciar mais facilmente, sem recurso a equipamento especial, uma maior nfase foi dada componente vegetal das comunidades naturais da regio, nomeadamente vegetao vascular das dunas. A vida animal, embora abundante, implica uma disponibilidade de tempo e equipamento que o leitor a que este pequeno guia se destina normalmente no possui. Por isso, apenas algumas espcies mais caractersticas ou de observao corrente sero abordadas. Este guia est organizado em trs seces distintas. Numa primeira4

seco, pretendese dar uma ideia muito geral das caractersticas geomorfolgicas da regio e dos sistemas naturais que nesta se encontram. Para que a obra no ultrapasse as dimenses de um pequeno guia a transportar no bolso, esta abordagem necessriamente muito superficial e destina-se apenas a fazer o enquadramento das espcies que se descrevem na seco seguinte. A segunda seco foi concebida como um guia fotogrfico para a identificao das plantas superiores (herbceas e algumas arbustivas) mais caractersticas dos sistemas dunares do litoral de Esposende. Na terceira seco foi organizado um pequeno glossrio, onde se d o significado dos termos tcnicos que foi necessrio referir ao longo do texto. Uma vez que o nmero de espcies vegetais vasculares existentes nos sistemas dunares no ultrapassa a centena de exemplares, possvel simplificar o seu processo de identificao. As plantas mais caractersticas das dunas esto representadas por uma fotografia, acompanhada por uma pequena descrio que acompanha a imagem da planta, onde se indicam caracteres florais, de frutificao ou vegetativos que podem ajudar no diagnstico. Na organizao das pginas da segunda seco adoptou-se o critrio utilizado na excelente obra de Sanmartn e Canzobre (1998), procurandose facilitar ao mximo o reconhecimento das plantas, atravs de uma organizao que agrupa as plantas em funo da cor das suas flores. Obviamente que uma classificao deste tipo tem as suas limitaes, principalmente na distino de plantas de espcies muito semelhantes. Nesses casos, a identificao dever socorrer-se da pequena descrio que acompanha a imagem da planta, onde se indicam caracteres florais, de frutificao ou vegetativos que podem ajudar no diagnstico. Este sistema permite porm uma consulta fcil do guia, sem exigir conhecimentos prvios de taxonomia vegetal, factor que nos pareceu importante para a motivao de quem se inicia na identificao de plantas. Pretende-se, alm disso, que a identificao dos animais e plantas seja efectuada sem necessidade de recolha de exemplares. Os sistemas litorais so frgeis e muito vulnerveis. O seu usufruto e conhecimento da fauna e flora a estes associadas no pode implicar a sua destruio. Muitos dos txones existentes nas zonas litorais esto presentemente ameaados e a5

sua recolha pode ao nvel local, pr em causa as suas populaes.

Como utilizar este guiaConcebido para utilizao apenas durante a poca de florao das plantas, a identificao da flora litoral feita de uma forma muito simples. O primeiro critrio para a identificao a cor das suas flores. Apesar da variabilidade de cores que a corola de uma mesma planta pode apresentar, estas foram agrupadas em cinco grandes categorias: - Flores brancas: inclui todas as flores brancas, creme, rosa muito plido, azul muito plido e todas as flores de cor indefinida mas de aspecto esbranquiado.

- Flores azuladas: flores com dominante nitidamente azul, incluindo o roxo forte e o violeta, mesmo claro.

- Flores avermelhadas: todas as flores com dominante nitidamente vermelha, incluindo o rosa, o alaranjado, o prpura e o vermelho-violeta.

- Flores amarelas: inclui flores amarelas, amarelo-plido, amarelo esverdeado e todas aquelas que apresentem uma clara dominncia da cor amarela no seu perianto.

de salientar que no mundo vegetal a tonalidade das estruturas florais no se limita a estas cinco cores estabelecidas, sendo a variao de cores e tons extremamente rica. A cor da flor de muitas plantas varia mesmo ao longo do tempo, perdendo a intensidade medida que amadurece. A cor das estruturas florais varia tambm com factores como a intensidade luminosa a que a planta est exposta. Numa mesma planta podem mesmo surgir flores de cores distintas ou, numa nica flor, as ptalas podem apresentar a face interna com cor diferente da externa. Dentro de um mesmo grupo de cor, as espcies esto organizadas por6

- Flores verde-acastanhadas: incluem-se neste grupo todas as plantas de cor pouco definida, inclusivamente sem perianto.

famlia, seguindo a ordem relativa utilizada na Flora Iberica e na Flora Europaea. A famlia a que cada espcie pertence est indicada no topo de cada pgina. Sempre que possvel, fornecem-se os nomes vulgares mais comuns, bem como os vrios sinnimos. Para alm da cor da corola, a forma floral, caractersticas dos frutos e aspectos vegetativos da planta podem ser usados como complemento identificao. A breve descrio completa a informao visual com informaes relevantes sobre a espcie (distribuio, habitat e poca de florao, entre outras). O texto que acompanha cada fotografia pretende apenas ajudar na identificao correcta de cada espcie, no sendo de forma alguma uma descrio exaustiva dos seus caracteres morfolgicos. Procurou-se apenas apresentar aqueles que, sendo observveis in loco (mesmo recorrendo ajuda de uma pequena lupa de bolso), permitam confirmar a presena da espcie apresentada. A terminologia taxonmica, por ser pouco acessvel a grande parte dos visitantes a que este guia se destina, foi traduzida para termos mais percetveis por todos. Os termos tcnicos que no nos pareceu legtimo alterar surgem no Glossrio devidamente explicados. Se este pequeno guia suscitar no visitante que o utiliza o interesse e respeito pela natureza e em especial pelo sistema dunar, estar plenamente satisfeita a preteno dos autores.

Vero 2001

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Geomorfologia do segmento costeiro de EsposendeAs formas de terreno (geoformas) do segmento costeiro de Esposende incluem-se no limite ocidental da zona costeira do concelho de Esposende, estando o seu limite oriental (mais interior) na arriba fssil do monte de S. Loureno (figura 1). A arriba um indicador de que o mar l chegou e os depsitos arenosos que se encontram associados com esta, datados pelo mtodo da luminescncia, levam a supr que cerca de 200 000 anos o mar j tinha alcanado a regio em que esta se encontra, isto , muitos milhares de anos antes do nascimento de Cristo. O mar teve, desde ento, avanos e recuos (transgresses e regresses). A mais significativa para este segmento costeiro foi uma regresso durante a qual se gerou um sistema lagunar, pantanoso, que recebia gua do mar de vez em quando (so as diatomcias, algas microscpicas siliciosas, associadas aos seus depsitos turfosos que o provam). Esses depsitos ter-se-o formado durante um perodo relativamente longo da nossa histria, tendo os mais antigos cerca de 1500 anos e os mais recentes apenas uma centena, levando as suas idades a inclu-los no Holocnico (perodo da histria da Terra que inclui os acontecimentos ocorridos h menos de 10 000 anos). Posteriormente, sobre os depsitos lagunares acumularam-se as areias das dunas que so as geoformas mais caractersticas do segmento.

Considera-se que os sistemas dunares deste segmento costeiro foram gerados durante a Pequena Idade do Gelo, que ocorreu entre os sculos XV-XVI e os meados do sculo XIX. O mar estaria ento mais afastado da8

Figura 1: Esposende com o Monte de S. Loureno por fundo

rea (regresso), o que permitiu a instalao de uma povoao em Fo, cujo cemitrio, posteriormente, foi coberto pelas areias das dunas (necrpole medieval de Fo). O sistema dunar constitui uma duna frontal, que bem notria entre Cepes (norte), Praia do Belinho e Foz do Neiva. Esta duna est presentemente a ser degradada pela aco do mar, que nela talhou uma arriba que recua aceleradamente. Os efeitos da aco do mar so particularmente evidentes nos locais em que o cordo dunar frontal se encontra fragilizado pela passagem de linhas de gua, ocorrendo frequentes galgamentos do mar. So exemplos destas situaes a Praia do Belinho, a Praia de S. Bartolomeu do Mar e a Praia de Rio de Moinhos. Ao mesmo tempo, as areias das praias so substitudas por cascalhos (fig. 2), que aumentam de extenso e volume de ano para ano, acompanhando o avano do mar para o interior (migrao das praias).

Na desembocadura do rio Cvado pode observar-se outra forma, a restinga (cabedelo) de Ofir, de que as dunas so uma parte integrante (fig. 3). Actualmente no se dispe de informaes que permitam indicar a poca em que esta restinga se comeou a formar. Dotada de mobilidade, a posio da desta geoforma face a Esposende tem variado muito ao longo dos anos, sendo particularmente evidente na actualidade. No estranho ao movimento das restingas no sentido do continente ou ao longo dos esturios (exemplo, o movimento da restinga do rio Douro), a subida do nvel do mar que actualmente se verifica, facto9

Figura 2. Praia com cascalhos (Belinho, Junho 2000)

considerado um indicador dessa subida. H que distinguir a migrao das restingas e das praias, do seu emagrecimento em areias. Admite-se que as fontes de alimentao tm vindo a esgotar as suas reservas, sobretudo as situadas na plataforma continental. posto em causa o efeito de reteno das areias pelas barragens, como causador do emagrecimento das praias e restingas. Aquela situao bem notria na restinga de Ofir, aps os temporais. A mobilidade da restinga bem evidente na representao esquemtica patente na figura 4, em que se compara o nvel aproximado da mar alta em trs pocas distintas (1957, Fevereiro 2001 e Agosto 2001). Salienta-se a ntida aproximao da ponta da restinga em relao margem interior e o alargamento acentuado da entrada do rio, particularmente evidente no ano 2001.

Figura 3: A restinga de Ofir, vista a partir do Monte de Faro (Agosto 2000)

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campo de paliadas

Es po

Figura 4: Posio do nvel de mar alta na zona costeira frente a Esposende em Agosto 2001 (mancha amarelada); a linha vermelha representa a posio do nvel de mar alta em Fevereiro de 2001 (dados obtidos por GPS, com preciso de 3m); a linha branca tracejada representa a posio da linha de costa em 1957 (posio inferida por fotointerpretao aps correco e referenciao) 11

sentido provvel da deriva

se nd eRio Cv

regio de acreosentido da deriva

regio de eroso

Hotel de Ofirregio de eroso

ado

O esturioLocais de encontro entre as guas continentais e as guas marinhas, os esturios apresentam uma grande variabilidade das suas caractersticas fsicas, principalmente aquelas que dependem ou so influenciadas pelas mars. As mais evidentes so a salinidade e o nvel de gua, que apresentam oscilaes dirias apreciveis. Devido enorme variao que as caractersticas fsicas dos esturios apresentam, constituem ambientes agrestes para a fauna e a flora. Existem relativamente poucos organismos capazes de viver em permanncia num esturio; a vida a s possvel mediante adaptaes estruturais, fisiolgicas ou comportamentais que lhes permita lidar com um meio ambiente de grande variabilidade fsica e qumica.

Do ponto de vista fsico, os esturios so caracterizados pela mistura, em graus muito diversos, de guas de origem continental com guas marinhas. As diferenas de salinidade que usualmente se verificam entre estes dois tipos de guas faz com que estes lquidos se possam comportar como massas de gua independentes, com uma certa dificuldade em se misturarem mutuamente. Essas diferenas fazem-se sentir ao nvel da densidade (as guas marinhas so geralmente mais densas e mais frias do que as continentais) e da capacidade de transporte de materiais em suspenso, para referir apenas as caractersticas mais evidentes. Estes aspectos vo afectar, por exemplo, a capacidade de transporte sedimentar, transformando os esturios em zonas de acumulao de sedimentos, quer de origem fluvial quer de origem marinha. Por esse motivo se considera12

Figura 5: Grupo de pilritos (Calidris alpina), espcie migratria muito abundante nos esturios europeus.

que os esturios constituem verdadeiras armadilhas de materiais, no sendo fcil mobilizar partculas que nestes entrem. Como resultado, aos esturios surgem normalmente associados sapais e juncais, resultantes da colonizao de zonas onde as condies so favorveis deposio de sedimentos finos. Pelo mesmo motivo se verifica, geralmente, um elevado grau de assoreamento nos esturios resultante da acumulao dos sedimentos, quer provenientes do mar, quer de montante. Apesar de constituirem apenas 2% da superfcie do planeta, os esturios constituem os sistemas naturais com maior produtividade natural, albergando e alimentando uma grande diversidade animal. No entanto, so tambm zonas de grande sensibilidade e fragilidade a todas as aces destrutivas de origem antropognica, nomeadamente poluio aqutica.

A praia e os sistemas dunaresO movimento dos sedimentos ao longo das praias, como os que se observam ao longo da faixa costeira do concelho de Esposende provocado pela energia ligada ondulao marinha. Quando os fundos so baixos, a ondulao rebenta e liberta essa energia, dando origem a dois tipos fundamentais de correntes. A corrente longitudinal (ou longilitoral), que se desloca sensivelmente paralela praia e a corrente em zigzag, que se movimenta segundo o pendor da praia.

N dire odeFigura 6: Esquema exemplificativo da deriva litoral e sua relao com a direco dominante da ondulao. 13

rv ia

So estas correntes que transportam os sedimentos postos em suspenso pela agitao das guas do mar provocadas pela rebentao. O sentido da corrente longitudinal depende da obliquidade da crista das ondas relativamente praia (figura 6); a deslocao da gua com os sedimentos em suspenso, pela corrente longitudinal, designa-se por deriva sedimentar. Na faixa costeira do concelho de Esposende, a deriva sedimentar faz-se de norte para sul porque, em geral, as cristas das ondas vm do quadrante noroeste. Este facto pode ser inferido junto dos espores (estruturas da engenharia e de defesa da faixa costeira construdas perpendicularmente a esta) como o representado na figura 7, dado que a norte destes se acumula areia (zona de acreo), constituindose uma praia em cunha (largura mxima junto do esporo), enquanto que a sul se observa uma zona de eroso (os sedimentos ficaram retidos a norte da estrutura). Isto significa que os espores s defendem da aco do mar a rea situada a norte (barlamar) e no a situada a sul (sotamar).

As praias so geoformas costeiras sujeitas a variabilidade na sua largura e espessura de sedimentos, dependente das situaes de agitao das guas do mar e da alimentao em areias que a corrente longitudinal transporta (na dependncia da agitao e das fontes de alimentao). Por vezes verifica-se uma inverso da deriva, nem sempre de explicao14

Figura 7: Esporo situado imedaitamente a sul das torres de Ofir (Junho 2001)

segura. Um exemplo desta situao a restinga de Ofir, que cresce de sul para norte. Outro exemplo situa-se no esporo curvo, a norte de Ofir, cuja forma curva deforma a ondulao (difraco da onda) e provoca uma deriva de sul para norte, quando a ondulao vem de noroeste (crista das ondas orientadas de sudoestenoroeste). Esta situao acelerou a eroso da praia em frente s residncias construdas a norte de Ofir e o colapso do enrocamento que as procurava defender do mar. Nas praias que se formam como resultado dos movimentos de sedimentos acima descritos possvel individualizar trs zonas distintas: - a zona sublitoral (ou pr-praia), compreendendo as regies permanentemente cobertas pela gua do mar;

- a zona entremars ou intermareal (praia propriamente dita), que compreende a parte inclinada da praia, percorrida pelo jacto da rebentao, que est compreendida entre os limites da mar alta e da mar baixa;

No vero, o perfil transversal tende a ficar suave, a partir do continente. Durante o inverno, o perfil tende a ser mais abrupto, devido forte agitao das guas do mar durante os temporais. Nessa poca do ano, os sedimentos que constituem as praias so mais grosseiros do que no vero. A maior agitao marinha desloca os sedimentos mais finos, abandonando nas praias apenas os mais grosseiros num processo de seleo por dimenses. No sector norte do segmento costeiro de Esposende, surgem elementos geolgicos de grande interesse natural: os afloramentos de xistos e quartzitos. De ano para ano, a superfcie visvel desses afloramentos tem aumentado, como consequncia da eroso costeira. Como consequncia directa da recente exposio desses afloramentos, verifica-se que fauna e flora a estes associados relativamente pobre, quando comparada com a existente noutras regies com afloramentos15

- a zona supramareal (ou antepraia), correspondente rea permanentemente emersa, acima do limite atingido pela gua quando das mars altas de guas vivas e no atingida pela gua do mar durante os temporais.

rochosos, como por exemplo a praia da Amorosa situada a norte do rio Neiva (fig. 8).

Apesar disso, nas praias de S. Bartolomeu do Mar, Belinho e Castelo do Neiva a superfcie de afloramentos aprecivel e, principalmente na mar baixa, constituem um ponto de interesse na paisagem costeira deste segmento. A abundncia de vida associada s praias deste tipo tal que no seria possvel a sua abordagem num guia deste tipo. Para o leitor interessado recomenda-se a consulta de Saldanha (1995), um excelente livro de referncia sobre a flora e fauna submarina da costa portuguesa. No limite interior das praias podem observar-se geoformas de areia acumulada pelo vento as dunas que se associam constituindo dunas de formas diferentes. As dunas resultam da diminuio da capacidade de transporte da areia pelo vento a partir de uma fonte de alimentao de sedimentos, como uma praia, e dos obstculos que encontram no seu trajecto. As dunas podem ser classificadas em dunas frontais, dunas parablicas, barcanes, dunas transversais e dunas em domo. Na praia alta pode desenvolver-se uma duna embrionria (degrau de praia).

Figura 8: Afloramentos rochosos da Pedra Alta, Castelo do Neiva (Agosto 2000)

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Figura 9: Dunas parablicas - dunas com forma de crescente (ou de parbola em plano) cuja concavidade fica voltada para o lado de onde vem o vento

Figura 10: Barchanes - dunas com a mesma forma das parablicas, mas concavidade fica do lado oposto quele de onde vem o vento. (No se dispe de palavra portuguesa para as designar, comeando a usar-se as palavras barcane ou barcana).

Figura 11: Dunas transversais dunas alongadas, mais ou menos paralelas umas s outras; separamnas depresses hmidas, interdunares, nas quais pode surgir gua durante a poca das chuvas

Segundo uma direco mais ou menos paralela praia, que acompanha, forma-se geralmente uma duna frontal. Esta duna pode ser originada por obstculos como a vegetao ou ripados (obstculos construdos com troncos de rvores, tbuas, restos de vegetais) para deter17

o avano das areias provocado pelo pelos ventos sobre os terrenos situados no interior da faixa costeira. Como meio ambiente, para alm da relativa mobilidade dos sedimentos, as dunas caracterizam-se pela existncia de um gradiente de salinidade entre as zonas mais prximas e as mais afastadas do mar e por diferenas muito marcadas entre a zona frontal, delimitada pelo topo da duna, e as regies por esta protegidas. Basicamente, pode definir-se o ambiente entre a praia alta e o topo da duna frontal como hmido salino, no qual os organismos (animais e plantas) correm um elevado risco de enterramento e arrastamento (pelo mar e pelo vento), enquanto que as zonas situadas para alm das dunas frontais constituem ambientes secos, onde se registam temperaturas dirias elevadas durante a estao quente. No concelho de Esposende existe uma duna frontal, possivelmente medieval, a ser degradada pela aco do mar. A florestao, a agricultura e a construo de habitaes sobre as dunas tem tornado difcil a classificao das suas dunas para alm da duna frontal; no foi ainda possvel garantir a existncia de outro tipo de dunas.

Formao de um sistema dunarUm modelo clssico da evoluo de uma praia e do sistema dunar que a acompanha aceita que esse sistema alimentado pelas areias da praia actual transportadas pelo vento. Essa evoluo desenvolver-se-ia em vrias fases, repartidas no tempo, iniciando-se pela movimentao dos sedimentos de menor dimenso depositados na praia pelas guas do mar e que so deslocados para o interior por aco do vento. O atrito gerado pelo contacto entre o vento e a superfcie da praia leva reteno local da carga de sedimentos que este transporta, dando origem a um gradiente nas dimenses dos gros de areia, da praia para o interior. Os sedimentos de maiores dimenses ficam retidos na praia baixa enquanto que os de menores dimenses so movimentados para o interior. O atrito com a superfcie da praia trava o movimento dos sedimentos, dando origem a montculos de areia mvel que tendem a deslocar para o interior, podendo dar origem a dunas mveis (parablicas ou barcanes). Este modelo clssico no pode, no entanto, ser aplicado em situaes em que se reconhece que os vrios elementos de um segmento costeiro tm idades18

diferentes, uma vez que as dunas que actualmente se observam se edificaram em pocas distintas (caso das dunas de Esposende e do sul de Espinho). Apesar disso, este modelo constitui uma referncia til quando se analisa a vegetao dunar. Desvios a este modelo podem inclusiv ser usados na avaliao da tendncia evolutiva das praias, indicando as plantas que se desenvolvem na duna acontecimentos recentes que, em conjunto com outros indicadores, permitem avaliar a regresso ou expanso destas.

Figura 12: Vista area de uma duna frontal. visvel, em primeiro plano, uma duna embrionria de contornos irregulares em desenvolvimento no degrau de praia

Na zona da praia em que se observam os sistemas dunares, a influncia do mar sobre as condies ambientais muito forte, traduzindose em termos de salinidade e manifestandose directamente, por submerso durante as mars altas de guas vivas, e indirectamente, atravs da asperso por ar hmido salgado (salsugem). No entanto, a influncia directa do mar diminui em funo da distncia ao nvel mdio de mar alta. A partir de um determinado valor, as condies ambientais tornam-se compatveis com a vida vegetal superior, permitindo a instalao das primeiras plantas. Estas iro travar o movimento das areias para o interior desde que no sejam destrudas pelo pisoteio ou pela aco do mar. Nestas condies podem permitir o crescimento das dunas em altura e favorecer a estabilizao da faixa costeira.

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A primeira comunidade vegetal que se instala muito simples, dominada por uma planta muito resistente salinidade (tolera submerses peridicas por gua do mar) e instabilidade do substrato. Tratase da gramnea Elymus farctus, planta perene de crescimento muito rpido, cujas longas razes fixam com eficcia as areias mveis onde se desenvolve. Muito flexvel, o seu rizoma estende-se rapidamente por extenses apreciveis, colonizando toda a praia alta desde que no haja perturbaes do processo. Infelizmente, a sua distribuio coincide com as preferncias dos banhistas, levando sua quase completa destruio nas praias mais frequentadas. Esta gramnea surge acompanhada por outras plantas anuais como Salsola kali e Cakile maritima, tirando partido de locais temporariamente ricos em matria orgnica. Surgem em grandes quantidades em locais onde ocorrem frequentes galgamentos marinhos ou onde descargas orgnicas so efectuadas na praia, geralmente atravs de pequenas linhas de gua. Estas plantas, apesar de poderem acumular quantidades apreciveis de areia, pouco contribuem para o aumento em altura e a estabilizao da duna. Por serem plantas anuais, o seu efeito apenas se faz sentir durante o seu perodo de crescimento activo; aps o seu desaparecimento, a areia acumulada novamente movimentada pelo vento. Em locais com maior humidade edfica, podem tambm desenvolverse povoamentos de Honkenya peploides, planta carnuda20

Figura 13: Povoamento misto de Elymus farctus e Honkenya peploides numa duna embrionria.

frequentemente indicada como sendo a primeira espcie vegetal a instalarse numa duna em formao. No entanto, a sua distribuio limita-se a locais onde a gua doce est prxima.

O substrato nesta zona apresenta uma grande mobilidade, podendo eventualmente ser submerso pelas guas do mar, durante os temporais de inverno. Este conjunto de condies faz com que apenas E. farctus, de crescimento vertical muito rpido e tolerante submerso por gua do mar, a consiga viver em permanncia. Tomando como referncia a linha onde surgem as primeiras plantas, geralmente possvel encontrar povoamentos puros desta gramnea numa faixa com 10 a 15 m de largura. O estabelecimento desta espcie vai funcionar como obstculo ao vento que, na passagem, travado e a sua carga de areia a depositada. Forma-se assim gradualmente uma elevao, cujo crescimento em altura vai depender fundamentalmente do desenvolvimento de E. farctus e que chega a ultrapassar 1 m de altura. Esta fase pode durar vrios anos. Atingida uma certa estabilidade, o que surge ao fim de 3-4 anos, desenvolvem-se no topo desta pequena duna pequenos povoamentos de Otanthus maritimus, Calystegia soldanella e Euphorbia paralias, que levam ao aumento do seu crescimento vertical. A duna vai continuar a crescer em altura, formando estas plantas povoamentos densos e contnuos. Formase assim uma plataforma arenosa dominada por E. farctus, designada por duna embrionria ou degrau de praia. Na sua rectaguarda21

Figura 14: Povoamento de Cakile maritima a crescer num galgamento que esteve activo no inverno anterior (norte da Praia dos Marretas, Torreira, Agosto 2000)

aparecem tufos de Ammophila arenaria, que podem contribuir para a formao de pequenos montculos de areia, designadas por nebkas. As nebkas distinguem-se dos montculos residuais da duna frontal porque, ao contrrio do que nessas acontece, os tufos de A. arenaria so vigorosos e em crescimento. Ao abrigo das nebkas vo surgir pequenos povoamentos de outras espcies, como o caso de Leontodon taraxacoides, Crucianella maritima e novos ps de A. arenaria. Este tipo de geoforma costeira ocorre em praias onde o fornecimento de areia constante, em que o mar no se encontra em progresso para o interior. Constitui a primeira defesa activa da costa, uma vez que constitui o incio do processo de formao e crescimento dunar. tambm a zona mais frgil da duna. Sujeita influncia constante do mar, quer atravs do efeito directo das ondas nas mars altas, quer da humidade salgada ou salsugem, quer do perigo de enterramento constante, no um local fcil para a vida vegetal, o que se traduz no nmero reduzido de espcies vegetais que a vive em permanncia. Em equilbrio delicado com as condies do meio, a sua integridade o garante da estabilidade do sistema dunar que se estende para o interior. tambm a zona da duna em que os efeitos do homem mais se fazem sentir. O pisoteio pelos banhistas, o trnsito de veculos agrcolas e de lazer levam destruio da vegetao e contribuem para pr as areias em movimento, eliminando assim o primeiro obstculo que o mar encontra pela frente. No litoral de Esposende, como consequncia de um processo avanado de eroso, acentuado por todo um conjunto de obras costeiras (como os espores), a duna embrionria quase no visvel. Admite-se que o sistema que acabou de se descrever tenha constitudo a primeira fase do sistema de formao das dunas (paleodunas) do concelho de Esposende. Actualmente estas so destrudas e degradadas pela aco do mar, que nelas modelou uma arriba que est a recuar, e pelo pisoteio de origem humana. Ao destruir a cobertura vegetal natural das dunas, o pisoteio permitiu a abertura pelo vento de corredores elicos e blowouts. O vento aproveita os corredores elicos para criar dunas mveis alimentadas pelas prprias areias da duna frontal, que pouco a pouco vai ficando reduzida a montculos residuais (hummocky dunes), coroadas por tufos de A. arenaria. Como consequncia da remoo de areia pelo vento, esses tufos vo morrendo, por no resistirem exposio das suas razes.22

Na rectaguarda da duna embrionria observa-se uma duna frontal ou cordo frontal de dunas, que se pode estender por vrios quilmetros da faixa costeira (entendida como o sistema praia + duna frontal). A vegetao que a se encontra dominada por A. arenaria e inclui um nmero variado de outras espcies tais como Silene littorea, Euphorbia paralias, Eryngium maritimum e Pancratium maritimum, entre outras. Os mecanismos de formao da duna frontal no so bem conhecidos e sobre as pocas em que actuaram no se dispe de informaes seguras. Tudo leva a crer que a geoforma designada por duna frontal tenha sido gerada em pocas diferentes. Por exemplo, as dunas de Ofir seriam de idade medieval, como referido anteriormente, enquanto que a duna frontal de outros segmentos costeiros, como o que se situa entre a Praia de Mira e a Praia da Tocha, a sul de Aveiro, seriam dunas antrpicas, de ripado, formadas pelo vento como consequncia da florestao das dunas em meados do sculo XX. Para l do topo da duna frontal, forma-se um ambiente mais seco e abrigado do vento, onde se desenvolve uma comunidade vegetal bastante mais complexa. Esta zona dominada por Artemisia crithmifolia e Helichrysum picardii, acompanhadas por Vulpia alopecurus, Corynephorus canescens, Medicago marina, Malcomia littorea e Anagalis monelli, referindo apenas as plantas mais evidentes. Esta zona caracteriza-se pela maior estabilidade do substrato arenoso, o que permite o desenvolvimento de uma comunidade mais complexa, composta por plantas anuais e arbustivas. Atingindo esta fase, a forma dunar est perfeitamente definida, apresentando a praia um perfil suave. Este perfil corresponde passagem gradual de um ambiente marinho para um ambiente terrestre, representando as vrias manchas vegetais fases de um gradiente ntido. Mantendo-se as condies que levaram sua origem, este sistema ir evoluir no sentido da estabilizao das zonas mais recuadas, com um aumento gradual da diversidade e da biomassa vegetal, caso os factores da dinmica das guas costeiras no perturbem a evoluo (tempestades, subida do nvel do mar, dfice de areia na alimentao das praias por interrupo da deriva litoral, como por exemplo nas situaes criadas pelos espores).

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No litoral de Esposende, as dunas fixas situadas para l do cordo dunar frontal so pouco abundantes e em mau estado de conservao. A presso humana via empreendimentos urbansticos, construo de acessos rodovirios s praias e a utilizao dos terrenos para fins agrcolas levaram sua quase completa destruio. Nos locais onde a influncia directa do Homem no foi to destrutiva, a aco do mar tem completado o cenrio de degradao e tem avanado para o interior com destruio do sistema dunar frontal. A praia do Belinho constitui um bom24

Figura 15: Aspecto da vegetao que se desenvolve na face abrigada da duna frontal e que se estende pelas dunas interiores

exemplo desta situao, como resultado da construo de um pequeno esporo na foz do rio Neiva que acelerou a migrao e emagrecimento da praia a sul deste, com consequente destruio da duna frontal.

Degradao de um sistema dunarDependente do volume de areias transportado pela deriva litoral para o fornecimento de areia que alimenta o processo de evoluo dunar, este sistema muito sensivel a qualquer modificao nos mecanismos de transporte de sedimentos das zonas que lhe so adjacentes. Alteraes profundas na dinmica destes processos levam inevitavelmente a alteraes nos sistemas dunares. Da mesma forma, a sua estabilidade est intimamente ligada conservao do coberto vegetal. A destruio da vegetao, ou a sua ausncia, levam a uma movimentao das areias para o interior, sobretudo sob aco do vento e dos galgamentos pelo mar. Em situaes em que se verifica um avano do mar, o processo inverso ao da formao das dunas ir verificar-se. Em primeiro lugar, iro desaparecer as duas primeiras faixas da duna embrionria. Situadas a uma cota mais baixa, so efectivamente as zonas mais frgeis e que iro sofrer mais depressa as aces destrutivas do jacto da rebentao. Praias nesta situao apresentam um perfil truncado, que da vegetao original apenas mantm alguns tufos de O. maritimus e montculos residuais com A. arenaria a morrer. Numa fase mais avanada, todo o sistema dunar frontal ir ser atingido, podendo mesmo levar destruio total da duna mais prxima do mar, comeando por nela se modular uma arriba que vai recuando gradualmente. No litoral de Esposende, o sistema dunar est a ser destrudo pela aco do mar e pelas obras de defesa costeira (espores). Retendo a norte (barlamar) as areias transportadas pela deriva sedimentar (orientada nortesul) os espores provocam a sul (sotamar) uma rea de eroso que faz recuar uma arriba modelada na frente do sistema dunar, cujas areias so, deste modo, retiradas para alimentar a deriva sedimentar. Os galgamentos do mar atravs da duna frontal e o pisoteio da vegetao dunar favorecem a sua degradao, destabilizando as comunidades vegetais e abrindo corredores elicos que levam as areias para o interior, muitas vezes sob a forma de dunas mveis. A duna frontal fica reduzida a montculos residuais25

(hummocky dunes), com tendncia a desaparecer, o que j se verifica nas reas dos galgamentos do mar (praia do Belinho, ribeira de Peralta, ribeira da Ramalha - Aplia).

A flora e a fauna das dunas do litoral de EsposendeAs caractersticas ambientais do litoral, nomeadamente no que respeita elevada salinidade, ventos fortes, reduzida capacidade de reteno de gua do solo arenoso aliada sua grande mobilidade, impacto das partculas slidas sobre os organismos, forte insolao e aquecimento do solo, entre outros, condicionam a vida animal e vegetal. Na faixa mais prxima do mar, os problemas que se colocam aos organismos dizem respeito maior salinidade do ar e da gua e ao elevado risco de enterramento pelas areias mveis. Mais para o interior, mas ainda antes do topo da duna, a submerso pelo mar deixa de ser um risco mantendo-se, no entanto, os problemas da elevada salinidade e da mobilidade das areias. Ao abrigo da duna frontal, a influncia do mar no se faz sentir directamente, sendo o vento, a carncia em gua e as elevadas amplitudes trmicas dirias e anuais os factores determinantes. O gradiente mar/terra condiciona fundamentalmente a colonizao vegetal. Como no so dotados do mesmo grau de mobilidade dos animais, as plantas que colonizam o meio ambiente dunar vem-se obrigadas a suportar um conjunto varivel de situaes que varia no s diariamente como ao longo das estaes do ano, sendo vrias as estratgias por estas adoptadas para resolver os problemas colocados. Na primeira linha vegetal, o risco de submerso por gua do mar e enterramento pelas areias elevado. Da que s plantas altamente resistentes consigam colonizar essa zona, de que a gramnea Elymus farctus constitu um dos melhores exemplos. Para alm de tolerar submerses temporrias por gua do mar, o seu crescimento vertical to rpido que s consegue sobreviver em locais onde haja um fornecimento contnuo de areia (as suas razes ficam rapidamente expostas e a planta morre). Esta espcie, juntamente com Honckenya peploides, so as nicas plantas dunares que vivem em permanncia na primeira parte da praia. Outras plantas que com estas partilham a zona so anuais, ou seja, apenas se desenvolvem durante a Primavera / Vero. Com o final do26

perodo de crescimento activo, as plantas adultas morrem, sobrevivendo ao inverno sob a forma de sementes. o caso de Cakile maritima e Salsola kali, que se desenvolvem em locais onde se verificam grandes acumulaes de detritos orgnicos, como nos galgamentos marinhos. Juntamente com estas plantas anuais, desenvolvem-se localmente povoamentos de Polygonum maritimum que, tal como as plantas acima referidas, surgem em zonas ricas em compostos azotados (de origem orgnica).

Do ponto de vista faunstico, esta zona constitui a transio entre os ambiente marinho e o terrestre. Sujeita periodicamente aco directa das vagas, nela se acumulam grandes quantidades de detritos orgnicos que alimentam muitos detritvoros. Um dos animais mais tpicos desta faixa o crustceo Talitrus saltator, mais conhecido por pulga-da-areia, bem como o ispode Sphaeroma serratum frequentes entre os detritos deixados pelas vagas durante a mar alta. Atrados por estes detritos e pela fauna de pequenas dimenses a estes associados, pequenas aves como pilritos, borrelhos e at gaivotas frequentam a praia quando os banhistas as abandonam.27

Figura 16: Aspecto de uma praia durante o inverno, com grande acumulao de detritos a marcar o nvel atingido pelas vagas durante a mar alta

Um pouco mais para o interior, fora do alcance das vagas, outras espcies vegetais vem acompanhar E. farctus. o caso de Calystegia soldanella, Otanthus maritimus, Euphorbia paralias e Pancratium maritimum, no meio das quais surgem os primeiros ps de Ammophila arenaria. No seu conjunto, as faixas de vegetao acima descritas constituem a duna embrionria j referida anteriormente. Para alm da mobilidade sedimentar, esta faixa caracteriza-se tambm por uma grande secura, resultado no da falta de gua mas da salinidade elevada que esta apresenta. Para alm de tolerarem muito bem a elevada concentrao em sais do meio em que vivem, estas plantas apresentam em comum adaptaes que lhes permitem no s retirar gua de um meio onde esta escassa como tambm reduzir as perdas por evaporao. Por exemplo, E. farctus apresenta folhas lineares, lisas e brilhantes na face superior e enrugadas como um fole na face inferior; a superfcie brilhante est impermeabilizada por uma pelcula cerosa que reflecte a luz solar excessiva e isola as clulas foliares da aco directa da salsugem enquanto que a face inferior, enrugada, cria um ambiente abrigado e hmido onde as trocas gasosas se do, minimizando as perdas de gua. Eryngium maritimum apresenta folhas largas e finas, revestidas por uma28

Figura 17: Sphaeroma serratum, pequeno ispode que habita as areias da praia

espessa camada cerosa que lhes d um aspecto brilhante. As plantas do gnero Euphorbia resolvem o problema da falta de gua aumentando a tenso osmtica interna pela produo de substncias responsveis pelo aspecto leitoso da sua seiva. Otanthus maritimus, pequena planta vulgarmente conhecida por cordeirinhos-da-praia, apresenta um tomento branco, lanoso, sobre toda a sua superfcie que a protege da forte insolao, mantendo simultaneamente uma fina camada de ar hmido em torno dos seus caules e folhas. Para alm dos pequenos crustceos atrs referidos, a fauna associada a esta regio no muito diversificada. Utilizada fundamentalmente por pequenos insectos, que se alimentam de detritos orgnicos transportados pelo vento, esta zona tambm local de passagem de organismos maiores (lagartos, pequenos roedores e carnvoros de pequeno porte) que a frequentam em busca de alimento. tambm o local de repouso de bandos de aves aquticas que, inclusiv, a podem nidificar como o caso dos borrelhos, pequenas aves limcolas que fazem os seus ninhos directamente na areia (figuras. 18 e 19).

Figura 18: Grupo de borrelhos (Calidris sp) procurando alimento na frente das ondas

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Para l do topo da duna, que dominado pela gramnea Ammophila arenaria, a maior estabilidade das areias permite o desenvolvimento de uma flora abundante, que enche a duna de cores vivas no perodo de florao. O maior afastamento face ao mar e o abrigo que a duna frontal fornece leva a um aumento das amplitudes trmicas a que a regio das dunas interiores fica sujeita. No admira pois que as plantas que a se desenvolvem apresentem caractersticas tpicas de ambientes secos e quentes, nomeadamente ao nvel das folhas (de pequenas dimenses e estreitas, muitas vezes revestidas por uma cutcula cerosa, brilhante), existncia de revestimentos pilosos e desenvolvimento de uma certa suculncia como forma de armazenamento de gua. Apesar do abrigo proporcionado pela duna frontal, o vento ainda se faz sentir com fora, o que condiciona o crescimento vegetal. As poucas rvores e arbustos que se conseguem desenvolver so de pequenas dimenses, frequentemente retorcidos e tombados segundo a direco dos ventos dominantes. comum o crescimento em tufos densos, em almofada, como forma de resistir aos efeitos da fora do vento. A maior diversidade vegetal significa tambm mais disponibilidade de alimento e, como resultado, a fauna dessas zonas abundante, principalmente ao nvel dos insectos. O escasso abrigo disponvel, bem como a abundncia de predadores levou ao desenvolvimento de formas cuja visualizao no fcil. Embora abundantes e de dimenses por vezes apreciveis, muitos dos organismos que vivem nas dunas no so30

Figura 19: Ninho de borrelho (Calidris sp)

fceis de encontrar. Bem camuflados ou de hbitos nocturnos, os organismos dunares revelam surpresas ao visitante mais paciente. O sapo de unha negra (Pelobates cultripes), que relativamente abundante no litoral de Esposende, disso um bom exemplo (figura 20).

Durante o dia vive enterrado nas areias das dunas interiores (o nvel fretico encontra-se relativamente prximo da superfcie e assim consegue obter a humidade de que necessita para viver) deslocando-se superfcie durante a noite, em busca dos invertebrados de que se alimenta. No sendo exclusivamente dunar, este anfbio constitui um dos exemplos de espcies ameaadas pela destruio acelerada dos sistemas dunares pelo crescimento imobilirio que destri no s as zonas onde vive habitualmente como tambm as suas reas de reproduo (depresses dunares que, durante a estao chuvosa, ficam inundadas por gua doce). A grande abundncia de espcies vegetais herbceas favorece a presena de uma rica fauna de insectos e moluscos, maioritariamente herbvoros, que por sua vez alimentam uma grande variedade de insectvoros (insectos e vertebrados). O pouco desenvolvimento em altura da vegetao fornece um abrigo reduzido a estes animais, o que os torna potencialmente vulnerveis a predadores de maiores dimenses, como os rpteis e as aves. No pois de estranhar a existncia de numerosas formas que facilitam aos organismos a tarefa vital de passar despercebido num ambiente de cores claras. Insectos to abundantes como os31

Figura 20: Pelobates cultripes (sapo-de-unha-negra)

gafanhotos (figura 21) apresentam uma colorao que lhes permite confundirse completamente com a areia o mesmo se passando com algumas aranhas (figura 22).

Figura 22: Exemplo de camuflagem na duna: gafanhoto da famlia Acrididae

Figura 22: Exemplo de camuflagem na duna: aranha da cor da areia com a sua pequena presa. 32

Figura 23: Larva de Empusa pennata (uma das espcies de louvaadeus existentes nos sistemas dunares).

Figura 24: Adulto de Empusa pennata (uma das espcies de louvaadeus existentes nos sistemas dunares). 33

Num misto de defesa e estratgia de aproximao, tanto a larva como o adulto de Empusa pennata (uma das espcies de louva-a-deus que vive nas dunas) apresentam uma forma que lhes permite facilmente passar por galhos secos ou confundirse com a folhagem verde (figuras. 23 e 24). No entanto, so excepes a esta regra animais como a larva de Hyles euphorbiae, borboleta do grupo dos Esfingdeos (figura 25). Alimentandose das folhas de Euphorbia paralias, no s imune aos efeitos txicos da seiva dessa planta como tira partido dessas substncias txicas para se proteger dos seus predadores. O seu colorido brilhante funciona ento como um aviso a potenciais predadores para o seu mau paladar e potencial toxicidade. Neste caso, a melhor estratgia dar nas vistas, para evitar tentativas de ingesto que se sero desagradveis para o predador poderiam ser fatais para a larva. A mesma sorte no tem o insecto adulto, borboleta nocturna de dimenses relativamente grandes, que apresenta colorao e comportamento discretos.

Figura 25: Larva de Hyles euphorbiae (borboleta das eufrbias) 34

No s por proteco face a predadores mas tambm no que respeita s condies agrestes do meio ambiente dunar, muitos animais tiram partido da noite para realizarem o seu perodo de actividade. o caso de muitos aracndeos, insectos e um grande nmero de vertebrados, nomeadamente anfbios que se enterram durante o dia e se tornam activos ao final da tarde ou durante a noite. Uma visita nocturna a um sistema dunar revela um panorama bem diferente do diurno, podendo verificar-se a existncia de uma diversidade animal a este associado cuja presena, durante o dia, no fcil de adivinhar.

Figura 26: Os animais de maiores dimenses so discretos e a sua presena nas dunas detecta-se mais facilmente pelos vestgios da sua passagem do que por observao directa (rasto de coelho-bravo, Oryctolagus cunniculus, na duna frontal)

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Figura 25: Erodius lusitanicus (Insecto da Ordem dosColeptero, famlia ___)

Figura 27: Grilo da areia (Insecto da Ordem dos Ortpteros, famlia Gryllidae)

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Figura 27: Bicha-cadela das areias (Insecto da Ordem dos Dermpteros)

Figura 28: Tentyria heydeni (Insecto da Ordem dosColeptero, famlia ___)

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Figura 29: A cincidela (Cincidella sp) um dos predadores activos nos sistemas dunares.

Figura 30:Adulto e larva (imagem menor) de Formiga-leo (Myrmeleon formicarius).

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Figura 31: Sapo corredor (Bufo calamita)

Figura 32: Caracol (Theba pisana) sobre Artemisia crithmifolia

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A Flora dunar

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CruciferaeBunias cakile L. Cakile maritima Scop.

Carqueja mansa

Planta anual, de 7 a 40 cm de altura, ramificada desde a base e carnuda. Folhas sinuadas ou lobuladas com 3 a 10 lobos alternos. Flores com as spalas de 3-5 mm e ptalas de 4-10 mm, violceas, rosadas ou brancas. Fruto em silqua quase comprimida, com dois artculos sobrepostos, o inferior persistente e o superior caduco. Planta nitrfila, vive em areias martimas nitrificadas, nomeadamente em locais que num passado recente sofreram galgamentos marinhos. Boa acumuladora de areia, embora o seu efeito s se faa sentir durante a fase vegetativa (com a morte da planta a areia acumulada volta a ser movimentada). Florao: Maro a Dezembro

Roripa nasturtium-aquaticum (L.)Hayek

Cruciferae

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Nasturtium officinalle R.Br.

Agrio

Planta vivaz, semi-terrestre, de 20-100 cm de altura, enraizante nos ns, de ramos robustos e ascendentes. Folhas pecioladas, as inferiores com 1 a 3 segmentos e as superiores com 5 a 9 ou mais. Segmentos de forma arredondada ou elptica. Flores com spalas de margem denticulada e ptalas totalmente brancas ou com a unha violcea. Fruto em silqua inserida segundo um ngulo maior ou igual a 90, arqueada, mais ou menos comprimida e com sementes dispostas em duas sries. Vive em locais hmidos, fazendo parte da vegetao associada s pequenas linhas de gua que desembocam na praia. Florao: Maio a Setembro

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ThymelaceaeDaphne gndium L.

Trovisco

Planta vivaz, lenhosa, com altura at 2 m e muito ramificada. Os ramos so delgados e peludos com a casca castanho avermelhada, tornando-se grisalha. Folhas sem plos, de forma linear a linearoblanceolada. Inflorescncias em panculas terminais, com 10 a 60 flores. Flores com hipanto pouco maior que as spalas, verde ou purpreo, persistente e com plos densos. Spalas de forma ovado-obtusa, de cor creme. Fruto em drupa de forma ovoide e cor vermelha Vive em matos, terrenos incultos ou outeiros ridos. Nas dunas, surge nos terrenos de transio para a floresta ou cultivos. Florao: Julho a Outubro

Plantaginaceae

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Plantago coronopus L

Diabelha

Planta anual ou bienal, com uma ou poucas rosetas de folhas. Folhas com 3 a 20 x 0,5 a 3 cm, de forma linear a espatulada, divididas at mais do meio do limbo, raramente s dentadas ou inteiras. Possui vrios escapos. Inflorescncia em espiga, com brcteas prolongadas em ponta, menores ou iguais que o clice. As spalas posteriores so ciliadas e as ptalas possuem 0,8 a 1,4 mm. Fruto em pixdio. Planta ruderal, ocorre em rochedos e areias do litoral. Nas dunas, surge nas zonas correspondentes s dunas fixas interiores. Florao: quase todo o ano

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PolygonaceaePolygonum maritimum L.

Polgono da praia

Planta vivaz, lenhosa s na base, com os caules at 50 cm de altura, deitados sobre o solo. Folhas alternas, carnudas, de forma elptica tendo a margem enrolada e nervos salientes na margem inferior. O pecolo est inserido por baixo de uma crea que frequentemente mais comprida que os entrens, castanho-avermelhada s na base. As flores, rosadas ou esbranquiadas, surgem nas axilas das folhas, solitrias ou em grupos de 2-4. Frutos em aqunios escuros e brilhantes. Planta nitrfila, habita areias e cascalhos martimos, em locais onde se verifica acumulao de detritos de origem orgnica. Comum em locais que estiveram sujeitos a galgamentos marinhos. Florao: Maro a Julho

Caryophyllaceae

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Cerastium diffusum Pers

Planta anual at 30 cm, com abundantes plos glandulares curtos acompanhados de outros eglandulares. Folhas de 5 a 20 mm, peludas, as basilares de forma oblanceolada a espatulada e as superiores ovadas ou elpticas. Inflorescncias em geral de maior longitude que o resto do caule em dicsios com os ramos desiguais. Flores com as spalas iguais ou maiores que as ptalas e estas bilobadas at 1/3. Fruto em cpsula pequena (< 7 mm), maior que o clice, recta ou quase. Surge nas areias fixas a partir da face interior da duna frontal. Florao: Maio a Setembro

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CaryophillaceaeHonchenya peploides (L.) Ehrh Arenaria peploides L.

Sapinho da praia

Planta vivaz herbcea de 10 a 25 cm de altura, desprovida de plos e carnuda. Com os caules deitados sobre o solo e enraizantes nos ns. Folhas opostas, ovado-oblongas, com uma s nervura e de margem transparente. Flores solitrias que surgem nas axilas das folhas ou em cimeiras terminais; ptalas branco-esverdeadas, igualando as spalas nas flores masculinas e menores nas femininas. Fruto em cpsula com dimetro entre 6-10 mm, maior que o clice, que contm sementes castanho escuras e brilhantes. Planta nitrfila, habita a duna embrionria em conjunto com E. farctus, em locais onde a humidade elevada (proximidade de linhas de gua). Florao: Maio a Setembro

Caryophyllaceae

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Polycarpon tetraphyllum (L.)L.

Mollugo tetraphylla L.

Saboneteira

Planta anual, raramente bienal, sem plos, com os caules delgados simples ou muito ramificados. Folhas de forma oval ou oval-oblonga e obtusas, com uma pequena ponta rgida no pice e margem spera. Inflorescncia em cimeira frouxa, ramificada. Flores at 2 mm com spalas terminadas em ponta curta e ptalas brancas transparentes, que no ultrapassam as spalas. Planta ruderal; vive em terrenos arenosos e rochosos. Nas dunas pode ser muito abundante em todo o sistema interior de areias fixas. Florao: Abril a Setembro

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CaryophyllaceaeSilene niceensis All.

Planta de vida curta, com altura at 60 cm, robusta, peluda e frequentemente glandulosa. Folhas com 8 a 30 mm, de forma linearlanceolada a linear, frequentemente curvas. Flores dispostas em monocsios simples ou compostos, com o clice no contrado na garganta, peludo, glanduloso e com 10 nervos. As ptalas so bipartidas com os segmentos de forma oblongo-linear, brancas ou rosa-plido. Fruto em cpsula com 6 dentes, de 6-9 mm, de forma ovoide. Surge na duna frontal, podendo estender-se um pouco para o interior. Florao: Fevereiro a Setembro

Cistaceae

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Cistus salviifolius L.

Saganho-mouro

Planta vivaz, lenhosa, at 90 cm de altura. Muito ramosa, com plos moles que formam um enfeltrado mais ou menos denso, mas no viscosa. Folhas de forma ovada ou ovado-oblonga, peninervias, de margem rugosa e com plos estrelados em ambas as pginas. O pecolo alargado e cilndrico, sem estpulas. Flores solitrias ou em cimeiras de at 4 flores. Flores com 5 spalas caducas na frutificao e ptalas brancas. Fruto em cpsula de forma globosa, com plos fracos e densos, quase negra. Tpica de solos frescos, arenosos ou argilosos. Nos sistemas dunares uma das poucas espcies arbustivas que se desenvolve nas dunas interiores. Florao: Abril a Junho

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UmbeliferaeHydrocotyle bonariensis Lam

Chapus

Planta vivaz, semi-terrestre, de caules rastejantes, pouco enraizante nos ns. Folhas largamente pecioladas, arredondadas, com 15 a 20 nervuras e de margem crenada. Inflorescncia igualando ou excedendo as folhas, em ramos verticilados, cada um com verticilos de flores, constituindo umbelas irregulares. Frutos com 1,5-3,5 mm, pedicelados. Subspontnea nas areias do litoral, em locais onde a humidade edfica elevada. A sua presena est associada proximidade de linhas de gua doce. Originria da Amrica do Sul. Florao: Julho a Setembro

Umbeliferae

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Seseli tortuosum L.

Planta vivaz, herbcea, de 10 a 75 cm de altura, sem plos e muito ramosa desde a base. Possui os ramos grossos e tortuosos. Folhas divididas at nervura mdia em 3 a 4 segmentos de forma linear-lanceolada a oblongo-obovada. Inflorescncia em umbela com as brcteas livres e margem membrancea. As umbelas so frouxas, com 4-11 raios compridos (at 35 mm), com plos finos e pouco densos na face interna. Ptalas brancoamareladas. Fruto ovoide, com plos finos. Comum em rochas e areias das dunas interiores. Florao: Maio a Agosto.

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CompositaeConyza canadensis (L.) Cronq. Erigeon canadensis L.

Avoadinha

Planta anual de 30-150 cm de altura, ramosa, com aspecto peludo e spero. Folhas alternas, de forma linearlanceolada, inteiras ou serradas, com plos finos apenas nas margens e nervuras da pgina inferior. Inflorescncia em captulos pequenos, com 4-7 mm , reunidos em pancula ampla. As brcteas involucrais no tm plos, ou quase, e o receptculo n. As flores marginais possuem uma lgula de 0,5 a 1 mm, branca ou purpurescente. Frutos em aqunios com tufo de plos branco-acastanhados Ocorre em campos cultivados, areias e locais ruderalizados. Comum ao longo de todo o sistema de dunas interiores. Originria da Amrica do Norte. Florao: Abril a Novembro

CompositaeMatricaria maritima L.

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Margaas da praia; Malmequer da praia

Planta herbcea, de caules at 80 cm de altura, quase sem plos. Folhas alternas, divididas at nervura mdia em 2 a 3 segmentos curtos e carnudos. Inflorescncia em captulos com pedunculo. O invlucro possui brcteas com margem membrancea sca dispostas em vrias filas. O receptculo n, com as flores marginais femininas de lgula branca, e flores do disco hermafroditas, tubulosas e amarelas. Fruto em aqunio mais ou menos comprimido lateralmente, com 3 costas e glndulas resinferas no pice e tufo de plos curtos. Vive em areias e rochedos martimos. Florao: Julho a Setembro

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AmaryllidaceaePancratium maritimum L.

Narciso das areias; lrio das areias

Planta vivaz, bolbosa, de porte herbceo, com altura at 50 cm e cor cinzentoazulada. Folhas de 20 a 60 x 1 a 2 cm, de forma oblongo-linear, maiores que o escapo. Escapo achatado e robusto. Flores brancas, reunidas em umbela com espata membrancea seca. O perianto afunilado, com o tubo comprido. Tpalas com forma linearlanceolada e nervura dorsal verde. Possui uma coroa com 12 dentes triangulares. As suas sementes so negras, grandes mas muito leves, o que permite a sua disperso por aco do vento. Nas sistemas dunares, comum a partir da duna frontal. Florao: Maio a Setembro

Scrophulariaceae

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Bellardia trixago All.

Flor do ouro

Planta anual at 70cm, erecta, peluda e glandulosa. Folhas opostas, de forma linearlanceolada, com a margem grosseiramente crenada. Flores em espiga densa. O clice possui 4 dentes triangulares curtos e a corola apresenta cor purpura e branca ou amarela. Fruto em cpsula de forma subglobosa. Frequente ao longo dos sistemas dunares interiores. Florao: Abril a Julho

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EuphorbiaceaeEuphorbia paralias L

Morganheira das praias

Planta vivaz, lenhosa, de 20 a 70 cm de altura, com vrios caules, um tanto carnuda e sem plos. Quando quebrada produz um ltex branco, txico. Folhas grossas, cinzento-azuladas na face inferior e lustrosas na superior. As folhas mdias so de forma oblonga ou oblanceolada, as superiores de forma lanceolada a ovada e as inferiores, menores, de forma elptica ou lanceolada. Pleocsio com 3 a 6 raios, 2 a 3 vezes bifurcado. As brcteas do dicsio esto livres e o ciato possui 2 mm. Os nectrios tm apndices amarelos ou alaranjados. Surge na duna frontal, imediatamente antes do seu topo, na face voltada para o mar, podendo estender-se para o interior. Florao: Maro a Outubro

Euphorbiaceae

59

Euphorbia portlandica L.

Mama-leite

Planta bienal, podendo atingir 40 cm de altura, com vrios caules avermelhados ou amarelados, sem plos. Folhas de forma oblanceolada a espatulada, inteiras ou irregularmente dentadas. As folhas mdias inseremse segundo um ngulo pximo de 90 e as inferiores so bruscamente curvas para baixo e caducas. Pleocsio denso com (2) 4 a 5 (6) raios. As brcteas do dicsio so livres e o ciato possui de 1,5 a 1,8 mm. Os nectrios tm um apndice em forma de pequeno chifre de cor amarela. Vive nas areias e rochedos do litoral. Nas dunas surge na face interior da duna frontal, podendo penetrar um pouco para o interior. Florao: Abril a Junho / Julho

60

ChenopodiaceaeSalsola kali L

Barrilheira

Planta anual, podendo atingir 1 m de altura, ramificada, sem plos ou com os plos rgidos. Os ramos possuem estrias purpreas ou verdes. Folhas alternas, de forma cilndrica, com as margens membranceas secas e plos finos, e pice foliar espinhoso. As brcteas esto inseridas num ngulo de 90 e as bractolas tm forma ovadotriangular, terminando com ponta em espinho. Flores solitrias ou em glomrolos de at 4, com o estigma maior que o estilete. Planta nitrfila, surge nos areais do litoral associada a acumulaes de detritos orgnicos. Abundante em regies sujeitas a galgamentos recentes, de que um bom indicador. Florao: Maio a Setembro

Crassulaceae

61

Sedum acre L.

Uva de co

Planta vivaz, herbcea, sem plos e apresentando-se deitada sobre o solo. Folhas de forma triangular-ovada, oblonga ou subsfrica mas sempre mais largas na base, com uma pequena ponta rgida no pice. Inflorescncia em forma de cimeira com at 20 flores. Flores com spalas at 5 mm, lanceoladas e ptalas geralmente com o dobro do tamanho, lanceoladas, agudas e de cr amarelo intenso. Fruto em folculo dilatado Vive terrenos pobres, areias, muros. Nas dunas, surge ao longo do sistema interior de areias fixas. Florao: Maio a Agosto

62

CistaceaeXolantha guttata (L.)Raf. Tuberaria guttata (L.)Fourr; Helianthemum guttatum (L.)Mill

Planta anual, at 40 cm de altura, direita ou ascendente, com plos fracos e densos. Folhas de forma obovada a lanceolada ou oblonga, as folhas superiores apresentam forma linear ou lanceolada, com 3 nervos principais. Inflorescncia frouxa, em geral com plos densos e com as flores longamente pediceladas. Flores com 5 spalas desiguais e ptalas que geralmente apresentam uma mancha escura na base. Vive em solo cido, principalmente arenoso. Nas dunas, ocorre por todo o sistema de dunas interiores. Florao: Abril a Julho

Gencianaceae

63

Centaurium maritimum (L.) Fritsch Erythraea maritima (L.)Pers.

Planta anual ou de vida curta, com os caules at 15cm de altura. Com as folhas basais caducas e as superiores de forma eliptico-oblonga. Flores de cor amarela, com o clice at 3/4 do tubo da corola e esta com os lbulos de forma elptica, subagudos. Estames inseridos no pice ou no tero superior do tubo da corola. Estilete dividido et sua metade em dois estigmas. Fruto em cpsula duas vezes mais longa que o clice. Florao: Maio a Julho.

64

RubiaceaeCrucianella maritima L

Granza das praias

Planta vivaz, lenhosa, com os caules at 50 cm de altura, esbranquiados e sem plos. Folhas surgindo 4 em cada verticilo, de forma ovado-lanceolada, firmes e espessas, terminadas em ponta rgida. Inflorescncia em espiga densa, com 1 a 3 cm. As brcteas so livres e as duas bractolas de cada flor apresentam-se aderentes at metade. Corola de cor amarela, com 5 lobos e tubo comprimido. Vive nas areias e rochedos do litoral. Nas dunas os seus primeiros ps surgem prximo do topo da duna frontal, em zonas mais abrigadas, estendendo-se depois para a zona interior. Florao: Maro a Setembro

Carpobrotus edulis (L.) N. E. Br.

Aizoaceae

65

Choro

Planta perene, quase arbustiva. Os caules, deitados sobre o solo e muito ramificados, podem atingir um comprimento de 2m ou mais. Folhas estreitas, curvadas para cima e com ponta aguda, muito carnudas e de seco triangular. Podem ser de cor verde ou adquirir um tom avermelhado. Flores solitrias, com 8-10cm de dimetro, amarelas ou rosa. Tpalas com os lbulos desiguais. Estames numerosos e com os filamentos amarelos. Fruto carnudo, comestvel. Sementes com mucilagem. Florao: Maro a Abril.

66

CompositaeAetheorhiza bulbosa (L.) Cass. Crepis bulbosa (L.)Tausch

Condrilha de Dioscrides

Planta vivaz, com rizoma, de porte herbceo e com altura at 50 cm. Folhas de forma elptica a obovada, estreitando-se progressivamente para o pecolo, de margem dentada. Um a oito captulos com as brcteas involucrais dispostas em vrias linhas, com plos glandulosos anegrados que se estendem sobre o escapo e com o receptculo alveolado, sem brcteas interflorais. Flores com lgula amarela. Fruto em aqunio, com 4 sulcos e tufo de plos brancos. Coloniza areias e rochedos do litoral, sebes e margens de campos. Nas dunas surge logo a seguir ao topo da duna frontal, na sua face interior, onde se mistura com os tufos de Ammophila arenaria. Florao: Fevereiro a Junho

Compositae

67

Andryala integrifolia L.

Tripa de ovelha; alface do monte

Planta bienal at 70 cm de altura, com vrios caules delgados que possuem plos moles, formando um enfeltrado mais ou menos denso.. Folhas da base de forma oblonga a oblanceolada, dentadas a divididas e as folhas superiores de forma oblongo-linear a oblanceolada, em cunha, inteiras a divididas. Captulos reundos em corimbo frouxo. Invlucro de brcteas com plos glandulosos e receptculo alveolado com sedas compridas. Flores liguladas de cor amarela. Fruto em aqunio com tufo de plos cinzentos, que cai como um todo. Vive em terrenos arenosos, pedregosos ou ridos, incultos e muros. Nas dunas distribuise por todo o sistema dunar interior. Florao: Junho a Agosto

68

CompositaeArctotis calendula L.

Arctotheca calendula (L.)Levyns

Erva gorda

Planta anual sem caule ou com caules folhosos deitados sobre o solo. Folhas divididas em segmentos at mais de meio do limbo, com o segmento terminal arredondado e muito maior que os laterais, com plos finos na pgina superior, tendo na pgina inferior plos moles que formam um enfeltrado denso e esbranquiado. Inflorescncia em captulos com 3-5 cm. Invlucro de brcteas dispostas em vrias linhas, as externas herbceas com margem membranosa seca e apndice terminal, as internas membranosas secas. O receptculo nu, suportando flores marginais com lgula amarelo plido na margem superior e purpurescente na inferior, e flores do disco de corola tubulosa de tom escuro. Planta originria da frica do Sul, vive em stios arenosos, ridos. Florao: Maro a Junho

CompositaeA. campestris L. ssp. maritima Arcangeli. Artemisia crithmifolia L

69

Madorneira

Planta vivaz, lenhosa, de caules algo aromticos, com altura at 80 cm, de cor vermelho-acastanhada e sem plos. Folhas quase sem plos e com o limbo dividido at nervura mdia. As basais so pecioladas, as caulinares mdias no possuem pecolo e as caulinares superiores no se apresentam divididas. Inflorescncia disposta em captulos reunidos em pancula, com pednculo curto. As flores so todas tubulares, sendo as marginais femininas ou nulas e as do disco hermafroditas, de corola amarela a avermelhada. Abundante nas dunas interiores, de que constitui, em conjunto com Helichrysum italicum, a vegetao dominante. Endemismo Europeu. Florao: Setembro a Outubro

70

Compositae

Helichrysum foetidum (L.) Cass.

pecolo. Os captulos esto agrupados em inflorescncias densas. As brcteas so cor de palha e brilhantes, e o involucro nu, albergando s flores tubulares. Fruto em cipselas, apenas miudamente verrugosas. Habitat: matos, lugares hmidos, areias martimas. Originria da frica do Sul Florao: Junho a Setembro

Planta de vida curta, de 20 a 100 cm de altura, robusta, vertical e ftida. Folhas alternas, largas e planas, de cor verde.As folhas perdem os plos na pgina superior quando se tornam adultas mas possuem um enfeltrado de plos esbranquiado na pgina inferior. As superiores tm forma lanceolado-cordiforme, e envolvem parcialmente o caule, as inferiores so de forma oblonga e possuem

Helichrysum italicum (Roth) G.Don.

Compositae

71

Perptua das areias

Planta vivaz, lenhosa e aromtica. De caules com 20 a 50 cm de altura, angulosos. Folhas alternas, de forma linear e cor esverdeada ou esbranquiadas devido aos plos moles que formam um enfeltrado mais ou menos denso. Inflorescncia em captulos dispostos em corimbo denso. As brcteas do invlucro so numerosas e imbricadas e o receptculo nu. Flores todas com a corola tubulosa, amarela, sendo as marginais femininas e as do disco hermafroditas. Fruto em aqunio castanho escuro. Muito comum nas dunas fixas interiores, onde pode constituir a vegetao dominante em conjunto com Artemisia crithmifolia. Florao: Maio a Setembro

72

CompositaeLeituga dos montes

Leontodon taraxacoides (Vill.)Mrat

Planta bienal arrosetada ou anual com 1 a numerosos escapos. Folhas de forma linear-oblanceolada a oblongo-oblanceolada, de margem dentada a dividida at mais de meio do limbo, com plos simples e rgidos. Inflorescncia em captulo solitrio, com o invlucro de brcteas linear-lanceoladas com plos rgidos. Receptculo alveolado e sem brcteas com flores de lgula amarela. Frutos em aqunios castanhos, dimrficos. Vive em locais ruderalizados. Nos sistemas dunares surge a partir do topo da duna frontal, estendendo-se para as dunas interiores. Florao: Maro a Junho

Otanthus maritimus (L.)Hoffmanns Diotis maritima (L.)Sm

Compositae

73

Cordeiros da praia

Planta vivaz, herbcea ou lenhosa, com altura at 50 cm, ascendente, robusta, com plos longos e brancos. Folhas de forma oblonga ou oblongolanceolada, inteiras ou crenuladas, carnudas e sem pecolo. Inflorescncia em captulos reunidos em pequenos corimbos terminais. As brcteas involucrais so numerosas e as flores, amarelas, so todas hermafroditas e tubulosas Fruto em aqunio, comprimido, sem tufo de plos ou escamas. Surge na duna frontal, na mesma zona de E. paralias, formando uma faixa esbranquiada, mais ou menos contnua, imediatamente abaixo do topo desta duna. Florao: Junho a Setembro

74

Compositae

Reichardia gaditana (Willk)Coutinho

Planta herbcea de caules at 50 cm, desprovidos de plos. Folhas acinzentadas, as basilares de forma oblongo-lanceolada com pecolo alado e as caulinares sem pecolo e envolvendo parcialmente o caule. Inflorescncia em captulos, em nmero de 1 a 5. O invlucro possui brcteas dispostas em vrias filas, com a margem membrancea, tendo as externas uma ponta curta e rgida. O receptculo nu e suporta flores com lgula de cor amarelo-dourada e purpurescente na base, as lgulas externas apresentam-se vermelhas por fora. Fruto em aqunio, rugoso transversalmente, com tufo de plos. Vive em areias e rochedos do litoral. Nas dunas surge ao longo de todo o sistema de dunas fixas do interior. Florao: Abril a Junho

LeguminosaeMedicago marina L.

75

Planta vivaz, com plos moles formando um enfeltrado esbranquiado. Caules at 50cm, deitados sobre o solo. Folhas com trs fololos de forma obovada. Inflorescncia com 5 a 12 flores. O clice peludo e tem 5 dentes quse iguais; a corola de cor amarela e de dimenso 6-8mm. Fruto em vagem enrolada em espiral. Comum a partir da duna frontal. Florao: Abril a Setembro.

76

ScrophulariaceaeLinaria polygalifolia Hoffmanns&Link ssp. polygalifolia

Ansarina

L. caesia (Pers.)Chav ssp. decumbens (Lange)Lanz

Planta anual ou bienal, de caules herbceos, geralmente simples, podendo alcanar 60 cm de altura,. Folhas alternas ou surgindo em verticilos, estreitas e de forma linear. Flores dispostas em cachos densos e curtos, que alongam na frutificao. O clice est partido desigualmente em 5 e a corola, de cor amarela raiada de castanho-avermelhado, possui um esporo com 9-12 mm. Fruto em cpsula de forma quase globosa. Frequente nos sistemas dunares, a partir da vertente interior da duna frontal. Endemismo Europeu. Florao: Maro a Novembro

Cruciferae

77

Malcolmia littorea (L.)R.Br.

Cheiranthus littoreus L.

Goivinho da praia

Planta vivaz, lenhosa s na base e com 10 a 40 cm de altura. Os numerosos ramos estreis apresentam-se esbranquiados devido presena de plos moles. Folhas de forma linear, as basilares quase no tm pecolo. Inflorescncia de 5 a 20 flores com spalas laterais dilatadas na base e ptalas de cor purprea ou brancas, com a unha comprida. Fruto em silqua, com uma srie de sementes. Frequente nas zonas abrigadas da duna frontal, estendendo-se para o interior. Florao: Janeiro a Outubro

78

CaryophyllaceaeSilene littorea Brot.

Planta anual, com altura at 20 cm, com plos densos.Os caules apresentam-se direitos ou ascendentes. Folhas de forma linear, as inferiores apresentam-se algo oblongas ou espatuladas e as superiores lanceoladas. Flores agrupadas em monocsios ou solitrias, com o clice de forma quase cilndrica, no contrado na garganta, e ptalas bipartidas de cor rosada. Fruto em cpsula com 6 a 9 mm, de forma ovide e com 6 dentes. Surge na duna frontal, em povoamentos que podem compreender um nmero aprecivel de indivduos. Florao: Maro a Setembro

CaryophyllaceaeSilene scabriflora Brot. ssp. gallaecica Talavera

79

Planta anual, de 20 a 40 cm de altura, ascendente ou deitada sobre o solo. Possui plos longos, finos, deitados sobre a superfcie e brilhantes o que confere superfcie um brilho semelhante ao da seda. Folhas variando na forma de espatuladas a largamente elpticas, terminadas em ngulo obtuso ou em curva arredondada. Inflorescncia em monocsio de trs a cinco flores. O clice varia de obcnico a quase cilndrico e peludo. As ptalas so bipartidas, de cor vermelha. Fruto em cpsula com 6,5 a 9 mm, de forma quase ovoide. Vive nas areias das dunas interiores e em fissuras de rochas do litoral. Endmica do NW da Pennsula Ibrica. Florao: Abril a Agosto

80

GeraniaceaeErodium cicutarium L.

Bico de cegonha

Planta anual, com altura at 60 cm, peluda e um tanto ftida. Os caules so de colorao verde ou avermelhada. As folhas apresentam 1 a 3 fendas que se prolongam at nervura central e as estpulas so coradas; Flores dispostas em cimeiras, com 3 a 12 flores cada uma. As ptalas so duas vezes maiores que o clice, de cor rosado-purpura, lils ou brancas. Frutos em monocarpos fechados, que se destacam desde a base para o pice. Vive em terrenos cultivados, locais arenosos ou ruderalizados. Nos sistemas dunares, surge dispersa pelas dunas interiores, fixas. Florao: Fevereiro a Julho

Primulaceae

81

Anagallis arvensis L.

Morrio

Planta herbcea, anual ou vivaz, podendo atingir uma altura de 40 cm, direita ou deitada e com os ns inferiores enraizantes. Folhas opostas, sem pecolo, de forma ovado-oblonga ou lanceolada, pontuadas por numerosas glndulas. As superiores podem surgir em verticilos. A flor apresenta o clice com uma ampla margem membrancea e (4)5 dentes em forma de quilha. A corola de cor vermelha com um anel azulado na garganta ou azul com anel avermelhado, apresentando-se raramente branca. Fruto em pixdio. No exclusiva das dunas, surgindo tambm em terras cultivadas e incultas. Nas areias do litoral pode surgir por toda a extenso das dunas interiores Florao: Fevereiro a Outubro

82

GentianaceaeCentaurium chloodes (Brot.)Samp. Erythraea chloodes (Brot.)Gr. et Godr

Planta anual ou bienal at 10 cm de altura, com vrios caules e sem plos. Folhas sem pecolo. As da roseta basilar desaparecem cedo e as caulinares tm forma oblonga, so carnudas e possuem uma nervura. Trs a dez flores reunidas em cimeira com a forma de corimbo, mais ou menos frouxa. O clice, com comprimento igual ao do tubo da corola, tem cinco segmentos lineares, e a corola de um rosa intenso. Estilete curto com dois estigmas que caem espontneamente. Vive nas areias e arrelvados do litoral. Endemismo Europeu Florao: Julho a Agosto

Convolvulaceae

83

Calystegia soldanella (L.)R.Br.

Convolvus soldanella L.

Couve marinha

Planta vivaz, herbcea, rastejante. Folhas em forma de rim, algo carnudas, com a ponta obtusa ou emarginada e as aurculas arredondadas. Bractolas de forma ovadoarredondada, obtusas. Os segmentos do clice apresentam forma ovada e a corola, com 32 a 52 mm de cor rosada ou vermelha. Abundante na duna embrionria, podendo estender-se um pouco para o interior da duna frontal. Florao: Abril a Julho

84

ValerianaceaeCentranthus calcitrapa (L.)Dufresne

Planta anual, com altura at 75 cm, de caules simples ou ramificados, sem plos. Folhas recortadas, com segmentos de inteiros a serrados com os dentes orientados para a ponta. Inflorescncia disposta em cimeira composta com as inflorescncias parciais em captulos densos. O clice possui dentes de forma linear, enrolados para dentro na florao e abertos na frutificao. A corola, com cinco lobos, de cor rosada ou branca, e possui uma dilatao ou esporo curto que no excede a base do tubo. Planta ruderal, surge ao longo de todo o sistema dunar interior. Florao: Fevereiro a Setembro

Polygonaceae

85

Rumex bucephalophorus L

Azeda de co

Planta anual ou bienal, podendo atingir os 40cm de altura, com um a vrios caules. Folhas de forma ovada a linear-lanceolada, inteiras. As inferiores tm pecolo e as superiores no. Inflorescncia disposta em cachos com 10 a 25 cm. Os pedicelos frutferos podem adquirir duas formas, uns delgados e curtos, outros compridos, articulados perto da base e arqueados. Valvas do fruto dentadas, com os dentes maiores que 1mm. Vive em stios secos ou pedregosos. Nos sistemas dunares muito abundante na face interior da duna frontal, dando duna um aspecto avermelhado na sua poca de florao. Florao: Abril a Junho

86

Lythraceae

Lythrum junceum Banks & Solander

Planta herbcea, vivaz, com altura at 70 cm, de caules ramificados desde a base e desprovida de plos. Folhas de forma elptica a linearoblonga, a maioria disposta alternadamente. Hipanto cilndrico, tingido de vermelho na parte mais prxima do eixo. Spalas membranceas secas e ptalas de cor prpura, por vezes brancas ou creme na base. Fruto em cpsula. Vive em locais hmidos. Nas dunas surge associada vegetao que acompanha as linhas de gua. Florao: Fevereiro a Outubro

LeguminosaeAnthylis vulneraria L. ssp. iberica (W.Becker)Jalas

87

Vulnerria

Planta herbcea, bienal, com os caules de 20 a 40 cm de comprimento, ramificados e deitados sobre o solo. Folhas inferiores frequentemente simples, de forma elptica ou oblonga e as restantes (ou todas) com 3 a 9 fololos dispostos aos pares, sendo o fololo terminal geralmente maior que os laterais. Inflorescncia em forma de captulo, com 2 brcteas inseridas junto s flores. O clice dilatado mas contrai-se no ponto terminal, tendo 5 dentes desiguais. A corola de cor vermelha. Fruto em vagem com 1 a 2 sementes. Vive nas areias das dunas interiores, onde surge disperso no meio de outras plantas. Florao: Maro a Agosto

88

ScrophulariaceaeAntirrinum majus L.

Erva bezerra; bocas de lobo; coelhinha

Planta vivaz, herbcea, podendo alcanar os 2 m de altura, direita ou tortuosa. Normalmente sem plos, mas pode apresentar plos fracos ou glandulosos na inflorescncia. Folhas de forma linear a ovada, estreitando progressivamente para a base em pecolo. Flores dispostas em cachos densos, com os pedicelos curtos. O clice menor que o tubo da corola e esta, de cor rosada ou purprea, apresentanda no limbo superior 2 lbulos e no inferior 3. Fruto em cpsula de forma oblonga. Vive em muros, rochas e terrenos martimos. Nos sistemas dunares, surge dispersa pelas dunas interiores, fixas. Florao: Maro a Setembro

Scrophulariaceae

89

Scrophularia frutescens L.

Planta

90

UmbeliferaeEryngium maritimum L.

Cardo martimo

Planta vivaz, herbcea e robusta. Os caules, com 15 a 60 cm so verticais, de tonalidade branca ou cinzentoazulada e com medula. Folhas sem plos, firmes e algo espessas, com 3 a 5 lobos e dentes grosseiros com espinho. As folhas caulinares envolvem parcialmente o caule. Inflorescncia disposta em captulos, quase globosos e com pednculo, de cor azulada. Vive nos sistemas dunares, onde surge na duna frontal, podendo estender-se um pouco para o interior. Florao: Maio a Setembro

Primulaceae

91

Anagallis monelli L.

Morrio azul

A. linifolia L.

Planta vivaz, herbcea ou lenhosa, podendo atingir 50 cm de altura, vertical, ascendente ou deitada. Folhas opostas, as superiores surgem em verticilos de 3(4 a 5), sem pecolo, de forma ovada a linear. O pedicelo florfero maior que a folha da axila. O clice, com 3,5 a 7 mm, tem 5 dentes em forma de quilha com uma ampla margem membrancea seca e a corola pode apresentar cor azul, vermelha ou branca. Fruto em pixdio. Vive em locais secos e descampados e nas dunas interiores, fixas, onde muito abundante. Florao: Maro a Julho (Setembro)

92

OrobanchaceaeOrobanche arenaria Borkh

Erva toira das areias

Planta herbcea, vivaz, com altura at 50 cm e peluda, com plos glandulosos. Folhas de forma oblongo-lanceolada, at 20 mm. Inflorescncia em espiga com as flores dispostas na axila de uma brctea e acompanhadas de 2 bractolas lineares. O clice tem os segmentos pouco maiores que o tubo e a corola, azul-violceae e de 20 a 30 mm, apresenta-se afunilada. Surge nas dunas interiores, onde parasita Artemisia sp. e Leontodon sp. Florao: Maio a Julho

Campanulaceae

93

Lobelia urens L.

Loblia brava

Planta vivaz, herbcea, quase em forma de roseta, de caule at 60 cm de altura, erecto, practicamente sem plos. Folhas dentadas, as inferiores com peciolo e de forma oblongoespatulada, as superiores sem pecolo e oblongo-lanceoladas ou linear lanceoladas. Flores reunidas em cacho com brcteas lineares. Clice partido em 5. A corola, de cor azul ou prpura, possui o limbo bilabiado sendo os dois lobos do lbio superior menores que os trs do inferior. Vive em stios hmidos. Nas dunas, surge na proximidade de linhas de gua ou depresses hmidas. Florao: Junho a Outubro

94

CaryophyllaceaeHerniaria ciliolata Melderis subsp. robusta Chaudhri H. ciliata sensu Willk

Planta vivaz, com caules at 30cm, dietados sobre o solo e ramificados. Entrens at 2cm, robustos e com plos densos. Folhas at 7 x 3 mm, carnudas, de forma eliptica a quase orbicular e tonalidade verde clara. Surgem duas estpulas por n, de base firme algo espessa e de margem e topo com plos finos. Flores de 1,7 a 2mm , com 5 spalas de margem pouco espessa e flexvel, terminadas num plo curto. Utrculo igual ou ligeiramente maior que as spalas. Vive nas dunas interiores e rochas perto do mar Florao: Maio a Agosto

Gramineae

95

Ammophila arenaria (L.)Link

Estorno

Planta vivaz, rizomatosa, de porte herbceo, com 50 a 100 cm de altura, e colmos robustos, verticais sem plos. Folhas enroladas, com plos fracos e densos no interior, sem plos, lisas e brilhantes no exterior. A lgula apresenta-se pouco espessa e flexvel. Inflorescncia disposta em tirso denso, com espiguetas de uma s flor, comprimidas lateralmente e com o eixo peludo. Fruto em cariopse, sulcada na face interna. Surge nas nebkas e topo da duna frontal, estendendo-se para o interior embora com menos vigor. Necessita de um fornecimento constante de areia fresca para crescer em boas condies e frutificar. Florao: Abril a Junho.

96

GramineaeAira canescens (L.)

Corynephorus canescens (L.) Beauv.

Planta vivaz, formando um tufo, de cor algo cinzento-azulada e com os colmos at 50cm de altura, delgados. Folhas estreitas, rgidas e algo speras ao tacto. Surgem enroladas longitudinalmente sobre si mesmas e so semelhantes a sedas, terminando em ponta fina. A lgula aguda. Inflorescncia em pancula com 210cm, de forma ovoide-oblonga e com as espiguetas de 3-4mm e duas flores. As glumas so quase iguais e surgem mais compridas que as flores. Frutos em cariopse. Florao: Junho a Agosto.

Elymus farctus (Viv.)Melderis ssp. boreoatlanticus (Simonet & Guinochet)Melde Agropyrum junceum (L.)P.Beauv

Gramineae

97

Feno das areias

Planta vivaz, rizomatosa, com caules rgidos e sem plos, podendo atingir os 60 cm de altura. As folhas, rgidas e com nervuras proeminentes, podem ser enroladas ou planas. A face superior apresentase relativamente lisa e brilhante enquanto que a inferior apresenta um conjunto de fendas longitudinais em todo o seu comprimento que aumenta significativamente a rea til para a realizao de trocas gasosas com o meio exterior. As flores desenvolvem-se numa espiga com o eixo frgil, desarticulando-se facilmente na maturao.As espiguetas no tm plos e dispe-se encostadas ao eixo. Planta de crescimento vertical rpido, tpica da duna embrionria, tolerante a submerses temporrias por gua do mar. Florao: Junho a Julho

98

GramineaeLagurus ovatus L.

Rabo de lebre

Planta anual com 10 a 50 cm de altura, vertical ou ascendente. Os ramos possuem plos fracos e densos e podem ser solitrios ou reunidos em grupo, simples ou ramificados nos ns inferiores,. Folhas planas, macias e peludas. Inflorescncia disposta em tirso denso, felpudo, com pednculo longo. As espiguetas possuem uma flor e esto comprimidas lateralmente, com o eixo peludo. Frequente em todo o sistema dunar, para o interior da duna frontal. Florao: Maro a Junho

Gramineae

99

Phleum arenarium L.

Planta anual, com caules at 30 cm de altura, delgados e sem plos. As folhas, speras nas margens, podem ser planas ou com as margens enroladas longitudinalmente para a pgina superior. A lgula termina de forma mais ou menos aguda. Inflorescncia disposta em tirso de forma ovoide, com as espiguetas de uma s flor comprimidas lateralmente. Vive em solos arenosos, areias ou cascalhos martimos. Frequente ao longo do sistema de dunas fixas interiores. Florao: Maio a Junho

100

GramineaeVlpia

Vulpia alopecuros (Schousboe)Dumort.

Planta annual, de 10-70 cm de altura, com vrios caules e formando um tufo mais ou menos direito, por vezes rastejante. Folhas planas. Inflorescncia disposta em cacho com 5 a 20 cm, pouco ramificada. As espiguetas so muito maiores que os pedicelos, e possuem 4 a 9 flores frteis. Fruto em cariopse de forma elipsoide. Vive em locais secos prximos do litoral, areias martimas. Constitu uma das plantas tpicas do sistema de dunas interiores do litoral de Esposende, surgindo logo a partir da duna frontal, que tambm coloniza. No entanto, como morre logo a seguir florao s visvel at finais de Julho / incio de Agosto. Florao:Maio a Julho / Agosto

CiperaceaeCyperus capitatus Vandelli

101

Juna

Planta vivaz, rizomatosa, de porte herbceo. Com o caule quase rolio, at 30 cm de altura, sem plos. Folhas com prolongamento em forma de dedo de luva, com a bainha fechada. Inflorescncia condensada, em forma de captulo e com um involucro de 3 a 6 folhas. Glumas terminadas em ponta curta e rgida. Fruto em aqunio. Vive nas areias do litoral, ocorrendo dispersa ao longo do sistema dunar interior. Florao: Abril a Agosto

A

Glossrio

Agudo: diz-se de um rgo laminar quando as margens confluem no pice segundo um ngulo agudo.

Alterno: que se dispe sucessivamente mas s um de cada vez ao longo de um eixo. Aqunio: fruto seco, que no abre espontneamente na maturao e com uma semente; o pericarpo no adere semente. Artculo: poro compreendida entre duas articulaes consecutivas.

Axila: vrtice do ngulo formado por um rgo com o eixo em que se insere. B

Aurcula: expanso de forma semelhante de uma orelha, que se encontre na base de certos rgos laminares.

Bolbo: caule curto, geralmente subterrneo, com a gema rodeada por folhas carnudas escamas e a poro axial prato ou disco muito reduzida. Bolboso: que tem ou produz bolbos. Brctea: folha modificada de cuja axila sai a flor, ou situada prximo da flor ou da inflorescncia. C Bractola: brctea de segunda ordem.

Caduco: que cai espontneamente.

Cacho: inflorescncia cujas flores, providas de pedicelos, se inserem ao longo de um eixo comum.

Clice: conjunto das peas florais externas (spalas).

Captulo: inflorescncia globosa ou achatada no cimo, de flores reunidas num receptculo comum, rodeada, em regra, por um invlucro de brcteas.

Cpsula: fruto seco, que abre espontneamente na maturao, com vrias sementes. Cariopse: fruto seco, que no abre naturalmente na maturao e com uma semente; o pericarpo aderente semente.

Carnudo: com consistncia firme, mais ou menos suculento e fcil de cortar. 102

Carpelo: cada uma das unidades que compem o conjunto de rgos femininos da flor. Ciato: inflorescncia do gnero Euphorbia com flores unissexuais e nuas, circundadas por um invlucro. Cimeira: inflorescncia com o eixo principal de crescimento limitado, terminando numa flor, assim como os laterais. Ciliado: provido de plos finos.

Cipsela: aqunio.

Colmo: caule cilndrico com os ns bem marcados, a que correspondem tabiques internos, e os entrens mais ou menos revestidos pelas bainhas das folhas. Cnico: em forma de cone. Cordiforme: em forma de corao estilizado.

Corimbo: inflorescncia na qual as flores, devido ao desigual comprimento dos eixos, se situam mais ou menos ao mesmo nvel. Coroa: apndice em forma de taa. Corola: conjunto de ptalas, livres ou unidas.

Crenado: provido de recortes arredondados na margem. D

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