Sitientibus vol.6.1 cap_04

6
Sitientibus Série Ciências Biologicas 6 (1): 30-35. 2006. 30 ASPECTOS DA DIVERSIDADE DA VEGETAÇÃO NO TOPO DE UM INSELBERGUE NO SEMI-ÁRIDO DA BAHIA, BRASIL FLÁVIO FRANÇA 1* , EFIGÊNIA DE MELO 1 & JACQUELINE MIRANDA GONÇALVES 2 1 Professor Adjunto/ Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas. 2 Estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UEFS * Author for correspondence: ([email protected]) (Aspectos da diversidade da vegetação no topo de um inselbergue no semi-árido da Bahia, Brasil) – Este trabalho apresenta uma avaliação da diversidade vegetal em um Inselbergue do semi-árido baiano, localizado nas coordenadas 12 o 42’S e 39 o 46’W, com altitude variando entre 310-430 m.s.n.m. O levantamento foi realizado em quatro parcelas de 100m 2 divididas em quadrículas 4m 2 , montadas em diferentes regiões do ápice do inselbergue. Como resultado, registrou- se 34 espécies, sendo Bromeliaceae e Euphorbiaceae as famílias mais ricas. A maioria das espécies foi classificada como fanerófitas (c. 64%). As quatro parcelas juntas formam um grupo similar com Sorensen no valor de 0,360. A espécie mais freqüente e com maior densidade absoluta foi Tillandsia recurvata (Bromeliaceae). Apenas Encholirium spectabile (Bro- meliaceae) cobriu 80%-100% do substrato em duas quadrículas. O índice de Shannon-Wiener total foi de 2,07 nats/indiví- duo, com eqüitabilidade de 0,59. Palavras-chave: Inselbergue, semi-árido, Bahia, flora vascular. (Aspects of diversity of vegetation on the top of an inselberg of semi-arid of Bahia, Brazil) – This paper presents an evaluation of plant diversity on an Inselberg in the semi-arid region of the Bahia state (Brazil), located in 12 o 42’S and 39 o 46’W, at an elevation of between 310 and 430 meters above sea level. The data collection was made in four plots (100m 2 ) divided into 25 sub-plots (4m 2 ), all located on the top of the Inselberg. Of the 34 species collected, the families Bromeliaceae and Euphorbiaceae were the richest ones. Most of species were classified as phanerophyte (c. 64%). The four plots together make up a similar group with Sorensen index = 0.360. Tillandsia recurvata (Bromeliaceae) was the most frequent and dense species. Only Encholirium spectabile (Bromeliaceae) covered 80%-100% of soil in two of the sub-plots. The Shannon-Wiener index for the entire sampled area was 2.07 nats/individual, with 0.59 of equitability. Key words: Inselberg, semi-arid, Bahia, vascular flora. INTRODUÇÃO A grande Depressão Sertaneja Meridional, a maior ecorregião do Bioma Caatinga, apresenta um grande número de Inselbergues graníticos-gnáissicos, particularmente na re- gião de Milagres, uma das 57 áreas desse Bioma consideradas de extrema importância biológica (VELLOSO et al., 2002). O Morro do Agenor, localizado na região de Mila- gres (Município de Itatim), tem sido objeto de um levanta- mento florístico sem delineamento estatístico nos últimos 10 anos, de forma que sua flora é bastante conhecida e bem representada em herbário (FRANÇA et al., 1997). O presente trabalho visa detectar padrões de com- posição e abundância de espécies, complementando os tra- balhos realizados anteriormente na área, com a avaliação da diversidade da vegetação encontrada no topo do Inselbergue, permitindo a sua comparação com outros levantamentos em Inselbergues que estão em andamento. MATERIAL E MÉTODOS A área de estudos está localizada no município de Itatim, Bahia, nas coordenadas 12 o 42’40-43”S, 39 o 46’18- 28”W, com uma altitude variando de 385-420 m.s.n.m. Trata-se de um Inselbergue granítico-gnáissico do tipo dor- so-de-baleia (POREMBSKY & BARTHLOTT, 2000), denominado Morro do Agenor ou Morro da Madeira com uma área de 545.300m 2 . A vegetação dominante no entorno do Insel- bergue é de caatinga convertida em pasto, nas encostas das vertentes encontra-se uma floresta semi-decídua, passando para uma vegetação mais baixa, predominantemente arbus- tiva, nas partes mais íngremes e finalmente convertendo-se em uma vegetação formada por moitas ilhadas na superfície rochosa, sendo esta última o alvo do estudo aqui realizado (FRANÇA et al., 1997). Quatro parcelas de 10m x 10m foram montadas em pontos extremos do ápice do Inselbergue: uma no extremo Leste (I); outra no extremo Oeste (II); uma terceira na face Norte (III); e a última na face Sul (IV). A montagem das parcelas seguiu CONCEIÇÃO (2003), tendo sido cada parcela dividida em 25 quadrículas de 2m x 2m. Em cada parcela, cinco quadrículas foram sorteadas para estudo, que consistiu na identificação das espécies, con- tagem do número de indivíduos, determinação da forma de vida de cada uma e estimativa da cobertura vegetal. No caso de Bromeliaceae, cada roseta foi considerada como um in- divíduo; no caso de Poaceae, considerou-se como indivíduo cada tufo isolável. As classes de cobertura adotadas foram: 0%-10%; 10%-20%; 20%-40%; 40%-60%; 60%-80% e 80%-100%. Em cada quadrícula a porcentagem de substrato sem cober- tura de plantas vasculares também foi estimada.

Transcript of Sitientibus vol.6.1 cap_04

Page 1: Sitientibus vol.6.1 cap_04

Sitientibus Série Ciências Biologicas 6 (1): 30-35. 2006.

30

Aspectos dA diversidAde dA vegetAção no topo de um inselbergue no semi-árido dA bAhiA, brAsil

Flávio França1*, EFigênia dE MElo1 & JacquElinE Miranda gonçalvEs2

1Professor Adjunto/ Universidade Estadual de Feira de Santana, Departamento de Ciências Biológicas.2Estudante do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UEFS

*Author for correspondence: ([email protected])

(Aspectos da diversidade da vegetação no topo de um inselbergue no semi-árido da Bahia, Brasil) – Este trabalho apresenta uma avaliação da diversidade vegetal em um Inselbergue do semi-árido baiano, localizado nas coordenadas 12o42’S e 39o46’W, com altitude variando entre 310-430 m.s.n.m. O levantamento foi realizado em quatro parcelas de 100m2 divididas em quadrículas 4m2, montadas em diferentes regiões do ápice do inselbergue. Como resultado, registrou-se 34 espécies, sendo Bromeliaceae e Euphorbiaceae as famílias mais ricas. A maioria das espécies foi classificada como fanerófitas (c. 64%). As quatro parcelas juntas formam um grupo similar com Sorensen no valor de 0,360. A espécie mais freqüente e com maior densidade absoluta foi Tillandsia recurvata (Bromeliaceae). Apenas Encholirium spectabile (Bro-meliaceae) cobriu 80%-100% do substrato em duas quadrículas. O índice de Shannon-Wiener total foi de 2,07 nats/indiví-duo, com eqüitabilidade de 0,59.

Palavras-chave: Inselbergue, semi-árido, Bahia, flora vascular.

(Aspects of diversity of vegetation on the top of an inselberg of semi-arid of Bahia, Brazil) – This paper presents an evaluation of plant diversity on an Inselberg in the semi-arid region of the Bahia state (Brazil), located in 12o42’S and 39o46’W, at an elevation of between 310 and 430 meters above sea level. The data collection was made in four plots (100m2) divided into 25 sub-plots (4m2), all located on the top of the Inselberg. Of the 34 species collected, the families Bromeliaceae and Euphorbiaceae were the richest ones. Most of species were classified as phanerophyte (c. 64%). The four plots together make up a similar group with Sorensen index = 0.360. Tillandsia recurvata (Bromeliaceae) was the most frequent and dense species. Only Encholirium spectabile (Bromeliaceae) covered 80%-100% of soil in two of the sub-plots. The Shannon-Wiener index for the entire sampled area was 2.07 nats/individual, with 0.59 of equitability.

Key words: Inselberg, semi-arid, Bahia, vascular flora.

introdução

A grande Depressão Sertaneja Meridional, a maior ecorregião do Bioma Caatinga, apresenta um grande número de Inselbergues graníticos-gnáissicos, particularmente na re-gião de Milagres, uma das 57 áreas desse Bioma consideradas de extrema importância biológica (vElloso et al., 2002).

O Morro do Agenor, localizado na região de Mila-gres (Município de Itatim), tem sido objeto de um levanta-mento florístico sem delineamento estatístico nos últimos 10 anos, de forma que sua flora é bastante conhecida e bem representada em herbário (França et al., 1997).

O presente trabalho visa detectar padrões de com-posição e abundância de espécies, complementando os tra-balhos realizados anteriormente na área, com a avaliação da diversidade da vegetação encontrada no topo do Inselbergue, permitindo a sua comparação com outros levantamentos em Inselbergues que estão em andamento.

mAteriAl e métodos

A área de estudos está localizada no município de Itatim, Bahia, nas coordenadas 12o42’40-43”S, 39o46’18-28”W, com uma altitude variando de 385-420 m.s.n.m. Trata-se de um Inselbergue granítico-gnáissico do tipo dor-so-de-baleia (PorEMbsky & barthlott, 2000), denominado

Morro do Agenor ou Morro da Madeira com uma área de 545.300m2. A vegetação dominante no entorno do Insel-bergue é de caatinga convertida em pasto, nas encostas das vertentes encontra-se uma floresta semi-decídua, passando para uma vegetação mais baixa, predominantemente arbus-tiva, nas partes mais íngremes e finalmente convertendo-se em uma vegetação formada por moitas ilhadas na superfície rochosa, sendo esta última o alvo do estudo aqui realizado (França et al., 1997).

Quatro parcelas de 10m x 10m foram montadas em pontos extremos do ápice do Inselbergue: uma no extremo Leste (I); outra no extremo Oeste (II); uma terceira na face Norte (III); e a última na face Sul (IV).

A montagem das parcelas seguiu concEição (2003), tendo sido cada parcela dividida em 25 quadrículas de 2m x 2m. Em cada parcela, cinco quadrículas foram sorteadas para estudo, que consistiu na identificação das espécies, con-tagem do número de indivíduos, determinação da forma de vida de cada uma e estimativa da cobertura vegetal. No caso de Bromeliaceae, cada roseta foi considerada como um in-divíduo; no caso de Poaceae, considerou-se como indivíduo cada tufo isolável.

As classes de cobertura adotadas foram: 0%-10%; 10%-20%; 20%-40%; 40%-60%; 60%-80% e 80%-100%. Em cada quadrícula a porcentagem de substrato sem cober-tura de plantas vasculares também foi estimada.

Page 2: Sitientibus vol.6.1 cap_04

JanEiro-Março 2006] 31França et al. – vEgEtação do toPo dE uM insElbErguE

As formas de vida de Raunkiaer seguem as defini-ções propostas em MuEllEr-doMbois & EllEnbErg (1974).

A coleta do material testemunho seguiu Mori et al. (1989), tendo sido depositado no Herbário HUEFS. O siste-ma de classificação adotado é o de cronquist (1981).

O cálculo do índice de Shannon-Wiener e de sua equitabilidade segue Pinto-coElho (2000) e KrEbs (1989), utilizando-se para o cálculo o logarítmo neperiano. A den-sidade absoluta foi calculada conforme KrEbs (1989), tendo sido calculado o número de indivíduos de cada espécie divi-dido pela área total amostrada (80m2).

A similaridade entre as parcelas foi calculada utili-zando-se o índice de Dice (= Sorensen), com o agrupamento feito pelo método UPGMA, conforme rohlF (1997).

resultAdos

Foram coletadas 34 espécies no ápice do Inselber-gue (Tabela 1), sendo Bromeliaceae e Euphorbiaceae as famílias mais ricas com seis espécies (c. 16%) e com qua-tro espécies (c. 11%), respectivamente (Fig. 1). As parcelas apresentaram de 10 a 23 espécies, sendo que a parcela II, aquela localizada na face Norte do Inselbergue, contabilizou um total de 23 espécies, enquanto que a parcela III, locali-zada no extremo Oeste do dorso do afloramento, apresentou apenas 10 espécies.

A maioria das espécies registradas é fanerófita (c. 64%), tendo sido registrado apenas quatro terófitas (c. 12%), três hemicriptófitas e três epífitas (c. 9%), além de duas ca-méfitas (c. 5%), sendo estas Nanuza plicata (Velloziaceae) e Aosa rupestris (Loasaceae) (Fig. 2).

As quatro parcelas juntas formam um grupo similar com Sorensen no valor de 0,360. O par formado pelas parce-las III-IV mostrou similaridade com o índice de Sorensen de 0,414, enquanto que o par de parcelas I-II mostrou ser o mais similar com índice de Sorensen de 0,581 (Fig. 3).

As espécies mais freqüentes foram Tillandsia recur-vata (Bromeliaceae), que foi registrada em sete quadrículas (35%), e Encholirium spectabile (Bromeliaceae), registrada em seis quadrículas (30%). Três espécies foram registradas em quatro quadrículas (20%): Aechmaea lingulata, Tillan-dsia streptocarpa (Bromeliaceae) e A. rupestris. As demais espécies ocorreram em menos que três quadrículas, sendo que 43% das espécies ocorreram em uma única quadrícula (Tabela 2).

Em termos de cobertura, 45% das quadrículas amostradas apresentaram 80%-100% do substrato sem ve-getação vascular, sendo que em duas quadrículas 100% do substrato estava sem vasculares. Apenas E. spectabile cobriu 80%-100% do substrato, em duas quadrículas, apresentando cobertura de 10%-80% em outras três quadrículas. Três es-pécies apresentaram cobertura entre 40%-60%: A. lingulata e Tabebuia impetiginosa (Bignoniaceae) em uma quadrícu-la, além de Goniorrhachis marginata (Caesalpiniaceae) em duas quadrículas. A maioria das espécies cobriu apenas de 0%-10% do substrato (c. 82%) (Tabela 3).

Tabela 1. Espécies encontradas nas quatro parcelas.

Família Espécie Testemunho

Amaranthaceae Gomphrena vaga Mart. E. Melo et al. 1481

Arecaceae

Syagrus coronata (Mart.) Becc. Não coletada

Syagrus vagans (Bondar) Hawk. F. França et al. 1636

Asteraceae Trixis vauthieri DC. F. França et al. 1406

Bignoniaceae Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Stand. F. França et al. 1404

Bromeliaceae

Aechmea lingulata (L.) Baker F. França et al. 1399

Encholirium spectabile Mart. ex Schult.f. F. França et al. 1487

Hohenbergia leopoldohorstii Gross, Rauh & Leme

F. França et al. 1400

Tillandsia recurvata L. E. Melo et al. 1482Tillandsia sptreptocarpa Baker E. Melo et al. 1403

Tillandsia usneoides L. E. Melo et al. 1630

Cactaceae

Cactaceae indet. Não coletadaMelocactus salvadorensis Werdern. F. França et al. 1815

Pilosocereus gounellei (F.A.C. Weber) Byles et Rowley

F. França et al. 1489

Celastraceae Maytenus rigida Mart. F. França et al. 1722

Euphorbiaceae

Acalypha amblyodonta Muell Arg. Não coletada

Acalypha brasiliensis Muell. Arg. F. França et al. 1457

Croton echioides Baill. E. Melo et al. 1483Tragia volubilis L. E. Melo et al. 1383

Fabaceae Centrosema brasilianum (L.) Benth. F. França et al. 1483

Caesalpiniaceae Goniorrhachis marginta Taub. F. França et al. 1855

Loasaceae Aosa rupestris (Gard.) Weingend F. França et al. 1389

Lythraceae Ammania sp. Não coletada

MalvaceaeHerissantia crispa Não coletadaSida galheirensis (L.) Briz. F. França et al. 1460

Olacaceae Schoepfia brasiliensis A. DC. E. Melo et al. 1582

PoaceaePoaceae sp. 1 Não coletadaPoaceae sp. 2 Não coletadaPoaceae sp. 3 Não coletada

Portulacaceae Portulaca halimoides L. E. Melo et al. 1420

Rubiaceae Mitracarpus villosus Cham. E. Melo et al.1594

Turneraceae

Turnera calyptrocarpa Urban E. Melo et al.1413

Turnera chamaedryfolia Cambes. E. Melo et al. 1405

Velloziaceae Nanuza plicata (Mart.) L.B.Smith E. Melo et al. 1477

Page 3: Sitientibus vol.6.1 cap_04

32 sitiEntibus sériE ciências biologicas [Vol. 6

Tabela 2. Número de indivíduos por espécie por quadrícula.

Parcela I Parcela II Parcela III Parcela IV

Espécie 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20Acalypha amblyodonta 4 2Acalypha brasiliensis 4 1Aechmea lingulata 4 6 7 1Ammania sp. 6Aosa rupestris 1 1 1 1Cactaceae indet. 1Centrosema brasiliana 3 1 1Croton echioides 1 1 2Encholirium spectabilis 15 7 1 10 2 12Gomphrena holosericea 1Goniorrhachis marginata 2 1 2Herissantia crispa 1Hohenbergia leopoldohorstii 3 1Maytenus ilicifolia 1Melocactus salvadorensis 2 1Mitracarpus villosus 6 2 5Nanuza plicata 2Pilosocereus gounnelei 1Poaceae sp. 1 5 1Poaceae sp. 2 1Poaceae sp. 3 15Portulaca halimoides 66Shoepfia brasiliensis 1Sida galheirensis 6 2Syagrus coronata 1Syagrus vagans 1Tabebuia impetiginosa 1 3Tillandsia recurvata 100 10 36 4 11 23 68Tillandsia sptreptocarpa 11 3 10 1Tillandsia usneoides 1Tragia volubilis 1 1Trixis vauthieri 1 2Turnera calyptrocarpa 2Turnera chamaedryfolia 1 1 1Total de indivíduos/quadrícula 7 16 117 20 11 13 45 23 15 0 12 1 15 12 0 73 41 7 89 1

Fig. 1. Famílias mais ricas. Fig. 2. Espectro biológico das espécies amostradas.

Page 4: Sitientibus vol.6.1 cap_04

JanEiro-Março 2006] 33França et al. – vEgEtação do toPo dE uM insElbErguE

Tabela 3. Classes de cobertura por espécies por quadrícula e de substrato sem vasculares: número de quadrículas em que a espécie aparece e o quanto do substrato que ela cobria.

Espécie 0-10 10--20 20--40 40--60 60--80 80--100 Total

Acalypha amblyodonta 1 1 2Acalypha brasiliensis 2 2Aechmea lingulata 1 2 1 4Ammania sp. 1 1Aosa rupestris 4 4Cactaceae indet. 1 1Centrosema brasiliana 3 3Croton echioides 3 3Encholirium spectabilis 1 1 1 2 5Gomphrena holosericea 1 1Goniorrhachis marginata 1 2 3Herissantia crispa 1 1Hohenbergia leopoldohorstii 1 1 2Maytenus ilicifolia 1 1Melocactus salvadorensis 2 2Mitracarpus villosus 3 3Nanuza plicata 1 1Pilosocereus gounnelei 1 1Poaceae sp. 1 2 2Poaceae sp. 2 1 1Poaceae sp. 3 1 1Portulaca halimoides 1 1Shoepfia brasiliensis 1 1Sida galheirensis 2 2Syagrus coronata 1 1Syagrus vagans 1 1Tabebuia impetiginosa 1 1 2Tillandsia recurvata 7 7Tillandsia sptreptocarpa 4 4Tillandsia usneoides 1 1Tragia volubilis 2 2Trixis vauthieri 1 1 2Turnera calyptrocarpa 1 1Turnera chamaedryfolia 3 3Substrato sem vasculares 2 2 1 2 4 9 20

Fig. 3. Similaridade entre as parcelas.

T. recurvata também foi a espécie que apresentou maior densidade absoluta (c. 3,15 indívíduos/m2), seguida por Portulaca halimoides (Portulacaceae) com 0,83 indví-duos/m2 e E. spectabile com c. 0,58 indivíduos/m2. A par-cela IV, localizada mais ao sul, foi a que apresentou maior densidade absoluta (c. 10,55 indivíduos/m2), enquanto que a parcela III, aquela mais ao oeste, foi a que apresentou me-nor densidade absoluta (c. 2 indivíduos/m2) (Tabela 2).

O índice de Shannon-Wiener em cada parcela de 100m2 variou de 1,46-1,94 nats/indivíduo, com uma equi-tabilidade que variou de 0,41-0,54. Considerando o total amostrado, somando-se as quatro parcelas de 100m2, ob-teve-se o valor de Shannon-Wiener de 2,07 nats/indivíduo, com equitabilidade de 0,59.

Page 5: Sitientibus vol.6.1 cap_04

34 sitiEntibus sériE ciências biologicas [Vol. 6

discussão

Comparando-se a presente lista de espécies com aquela apresentada por França et al. (1997), houve um acréscimo de pelo menos quatro espécies à lista do Mor-ro do Agenor: Acalypha amblyodonta (Euphorbiaceae), Ammania sp. (Lythraceae), Goniorrhachis marginata (Ca-esalpiniaceae) e Herissantia crispa (Malvaceae). Porém, no referido trabalho, foram registradas 40 espécies nos ambientes do ápice do Inselbergue, enquanto que compa-rando com o levantamento realizado em outro Inselbergue localizado no município de Feira de Santana (França et al., 2005), foram registradas 48 espécies localizadas apenas no afloramento rochoso.

Os resultados destes trabalhos sugerem que o es-tudo aqui apresentado, onde foram registradas apenas 34 espécies, não amostrou a totalidade de espécies presentes, sendo essa avaliação prejudicada, pois os outros trabalhos não foram feitos com a mesma metodologia aqui emprega-da, tornando impossível precisar a porcentagem do total de espécies que foram amostradas. Considerando o trabalho de França et al. (1997), que foi realizado no mesmo local que o levantamento aqui apresentado, estima-se que foram amostradas c. 75%-85% do total de espécies nas parcelas.

A maioria das espécies registradas apresenta uma distribuição ampla (c. 47%), ocorrendo na Bahia e em ou-tros estados do nordeste: Turnera calyptrocarpa, T. cha-maedrifolia (Arbo, 2000); Tabebuia impetiginosa (GEn-try, 1992), Acalypha amblyodonta, A. brasiliensis, Tragia volubilis (GovaErts et al., 2000), Trixis vauthieri (Hind, 2003), Syagrus coronata (Noblick, 1991), Portulaca ha-limoides (OlivEira, 2001), Shoepfia brasiliensis (SlEuMEr, 1984), N. plicata (SMith & ayEnsu, 1976), T. recurvata, T.

sptreptocarpa (SMith & Downs, 1977), A. lingulata (SMi-th & Downs, 1979), Centrosema brasiliana (SoloMon, 2005), Gomphrena vaga (SoloMon, 2005). Espécies com distribuição restrita à Caatinga (c. 18%) foram: Maytenus rigida (rEissEk, 1861), G. marginata (quEiroz, 2004); Sida galheirensis (SoloMon, 2005), Pilosocereus gounne-lei (taylor & zaPPi, 2004), A. rupestris (wEigEnd, 2005) e E. spectabile (Forzza, 2001). Espécies com distribuição restrita à Bahia (c. 12%) foram: Croton echioides (Gova-Erts et al., 2000), Hohenbergia leopoldo-horstii (lEME & Marigo, 1993), Syagrus vagans (noblick, 1991), Melocac-tus salvadorensis (taylor & zaPPi, 2004). Espécies tidas como ruderais (c. 9%) foram: H. crispa (lorEnzi I, 2000), Mitracarpus villosus (lorEnzi, 2000), Tillandsia usneoides (lorEnzi, 2000).

Considerando-se as formas de vida, observou-se que a grande maioria das espécies amostradas é constitu-ída por fanerófitas (64%), incluindo epífitas e suculentas, sendo que o número de espécies de outras formas de vida não ultrapassou 15% das espécies amostradas. Este resul-tado corresponde ao que foi encontrado em França et al. (2005), onde 54% das espécies amostradas são fanerófitas, enquanto que as outras formas de vida não ultrapassaram 20% das espécies amostradas. Interessante notar a ausência de lianas, fato que diferencia do amostrado em França et al. (2005), que apresentou seis espécies de lianas.

A alta freqüência de Fanerófitas em Inselbergues do semi-árido brasileiro, com amostragens apresentadas aqui e em França et al. (2005), contrastam fortemente com aqueles amostrados na África (cf. sEinE, 1996), onde as te-rófitas são normalmente mais numerosas.

referênciAs bibliográficAs

arbo MM. 2000. Estudios sistemáticos en Turnera (Turneraceae) II. Se-ries Annulares, Capitatae, Microphyllae y Papilliferae. Bon-plandia 14: 1-82.

ConcEição A. 2003. Ecologia da vegetação em afloramentos rochosos na Chapada Diamantina, Bahia, Brasil. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, São Paulo.

cronquist A. 1981. An integrated system of classification of flowering plants. New York: Columbia University Press.

Forzza R. 2001. Filogenia da tribo Puyeae Wittm. e revisão taxonô-mica do gênero Encholirium Mart. ex Schul. & Schult. f. (Pitcarnioideae - Bromeliaceae). Tese de Doutorado, Univer-sidade de São Paulo, São Paulo.

França F, E MElo & c santos. 1997. Flora de Inselbergs da região de Milagres, Bahia, Brasil: I. Caracterização da vegetação e lista de espécies de dois Inselbergs. Sitientibus 17: 163-184.

França F, E MElo, a santos J MElo, M MarquEs, M silva Filho, l Mo-raEs & c Machado. 2005. Estudos ecológico e florístico em ilhas de vegetação de um Inselbergue no semi-árido da Bahia, Brasil. Hoehnea 32(1): 93-101.

gEntry AH. 1992. Bignoniaceae - part II (Tribe Tecomeae). Flora Neo-tropica monograph 25(2): 1-370.

govaErts r, d Frodin & a radcliFFE-sMith. 2000. World checklist and bibliography of Euphorbiaceae (and Pandanaceae). Lon-

don: Royal Botanic Gardens, Kew.hind D. 2003. Flora de Grão-Mogol, Minas Gerais: Compositae (Astera-

ceae). Bol. Bot. Univ. São Paulo 21(1): 179-234.krEbs C. 1989. Ecological methodology. New York: Harper & Row, Pub-

lishers.lEME E & l Marigo. 1993. Bromeliads in the Brazilian wilderness. Rio

de Janeiro: Marigo Comunicação Visual.lorEnzi H. 2000. Plantas daninhas do Brasil. Nova Odessa, Editora

Plantarum.Mori s, l Mattos-silva, g lisboa & l coradín. 1989. Manual de ma-

nejo do herbário fanerogâmico. 2a ed. Ilhéus: Centro de Pes-quisas do Cacau.

MullEr-doMbois d & h EllEnbErg. 1974. Aims and methods of vegeta-tion Ecology. New York: John Wiley & Sons.

noblick L. 1991. The indigenous palms of the state of Bahia, Brazil. Tese de Doutorado. University of Illinois, Illinois (Chicago).

olivEira A. 2001. Portulacaceae do estado da Bahia. Dissertação de mestrado, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

Pinto-coElho R. 2000. Fundamentos em ecologia. Porto Alegre: Artes Médicas Sul.

PorEMbsky s & w barthlott. 2000. Inselbergs: biotic diversity of iso-lated rock outcrops in tropical and temperate regions. Ber-lin: Springer-Verlag.

Page 6: Sitientibus vol.6.1 cap_04

JanEiro-Março 2006] 35França et al. – vEgEtação do toPo dE uM insElbErguE

quEiroz LP. 2004. Biodiversidade da família Leguminosae na Caatin-ga da Bahia: florística, biogeografia e disseminação. Rela-tório Final do Projeto CNPq, processo 470221/01-1. Feira de Santana: UEFS.

rEissEk s. 1861. Celastrineae. In: c Martius & a EichlEr (eds.). Flora Brasiliensis 11(1): 1-36.

rohlF F. 1997. NTSYS-pc: numerical taxonomy and multivariate analysis system. Setauket (New York): Exeter Sofware.

sEinE r. 1996. Vegetation von Inselbergen in Zimbabwe, Archiv natur-wissenschaftlicher Dissertation, Band 2. Wiehl: Martina Galun-der Verlag.

slEuMEr ho. 1984. Olacaceae. Flora Neotropica monograph 38: 1-159.sMith lb & J downs. 1977. Tillandsioideae (Bromeliaceae). Flora Neo-

tropica Monographs 14(2): 663-1492.

sMith LB & J downs. 1979. Bromeliaceae (Bromelioideae). Flora Neo-tropica Monographs 14(3): 1493-2142.

sMith lb & E ayEnsu. 1976. A revision of American Velloziaceae. Smith-sonian Contr. Bot. 50: 1-172.

soloMon J. 2005. W3Tropicos. Disponível em <http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html>. Acesso em 31 maio 2005.

taylor n & d zaPPi. 2004. Cacti of Eastern Brazil. London: Royal Bo-tanic Gardens, Kew.

vElloso a, E saMPaio & F ParEyn. 2002. Ecorregiões propostas para o Bioma Caatinga. Recife: Associação Plantas do Nordeste/Ins-tituto de Conservação Ambiental The Nature Conservance.

wEigEnd M. 2005. The Loasaceae Web Page. Disponível em <http://www.biologie.fu-berlin-de/sysbot/weingend>. Acesso em 30 maio 2005.