Slavoj Žižek Como Comecar Do Comeco

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Como começar do começo Atualizado e Publicado em 11 de maio de 2009 Slavoj Žižek, New Left Review n. 57, Maio-Junho 2009 Num pequeno artigo maravilhoso, "Notas de um publicista" – escrito em fevereiro de 1922, quando os bolcheviques, depois de terem vencido a guerra civil contra todas as expectativas, tiveram de retroceder à Política da Nova Economia (NEP) e abrir amplo espaço para a economia de mercado e a propriedade privada – Lênin faz uma analogia com um alpinista obrigado a descer, numa primeira tentativa de escalar montanha desconhecida, para recomeçar a escalada. Com a analogia, comenta o significado da retirada, como etapa de um processo revolucionário; e diz que é possível fazer uma retirada sem, com isso, trair a causa: "Imaginemos um homem que está escalando montanha muito alta e íngreme que jamais foi escalada. Imaginemos que o homem já superou dificuldades e perigos sem precedentes e já alcançou altura muito acima de qualquer ponto que outros homens já tenham alcançado, mas ainda não chegou ao cume da montanha. E o homem, num certo momento, percebe que está em posição na qual o avanço e não só é dificil e perigoso, mas evidentemente impossível".[1] Nessas circunstâncias, Lênin escreve: "Ele é forçado a dar meia volta, descer, procurar outro caminho, mais longo talvez, mas caminho pelo qual possa chegar ao pico. Pode acontecer de a descida, de altura jamais antes alcançada por ninguém, seja ainda mais perigosa e difícil que a subida, para nosso alpinista imaginário — pode escorregar a qualquer momento; não consegue ver exatamente onde põe o pé; não há a exaltação que sempre se sente ao subir, firme, direto à meta etc. Para descer é preciso amarrar-se firmemente; é preciso andar muito devagar, e descer, descer, descer, cada vez mais se distanciando da meta; e ninguém sabe onde termina essa descida tão extremamente perigosa e dolorosa; nem se haverá outra trilha mais segura e mais curta, que leve mais diretamente ao cume." Nada mais natural, para esse alpinista nessa situação, que ter "momentos de desânimo". O mais provável é que esses momentos aconteçam cada vez mais frequentemente, e mais difíceis de suportar, se o alpinista ouve as vozes dos que estão em terra firme e que, "por telescópio e de distância segura, assistem à perigosa retirada: são vozes que soam com mal disfarçada alegria. Ninguém nem se preocupa com disfarçar as risadas, e muitos gritam: "Vai despencar! Vai cair a qualquer momento! Bem-feito! Esse lunático!". Outros fingem, fazem como "Judas Golovlyov, o hipócrita dono de terras no romance de Saltykov-Shchedrins, A família Golovlyov: "Torcem as mãos e reviram os olhos para o céu, como se dissessem: 'Quanto nos doi ver justificados nossos piores temores! Mas não pedimos tantas vezes, nós, que passamos a vida a planejar escaladas criteriosas, que a escalada não fosse iniciada antes de termos prontos nossos planos?! E nós tantas vezes protestamos veementemente contra essa trilha, que esse lunático agora está obrigado a abandonar

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Slavoj Žižek Como Comecar Do Comeco

Transcript of Slavoj Žižek Como Comecar Do Comeco

  • Como comear do comeo Atualizado e Publicado em 11 de maio de 2009

    Slavoj iek, New Left Review n. 57, Maio-Junho 2009

    Num pequeno artigo maravilhoso, "Notas de um publicista" escrito em fevereiro de 1922, quando os bolcheviques, depois de terem vencido a guerra civil contra todas as expectativas, tiveram de retroceder Poltica da Nova Economia (NEP) e abrir amplo espao para a economia de mercado e a propriedade privada Lnin faz uma analogia com um alpinista obrigado a descer, numa primeira tentativa de escalar montanha desconhecida, para recomear a escalada. Com a analogia, comenta o significado da retirada, como etapa de um processo revolucionrio; e diz que possvel fazer uma retirada sem, com isso, trair a causa:

    "Imaginemos um homem que est escalando montanha muito alta e ngreme que jamais foi escalada. Imaginemos que o homem j superou dificuldades e perigos sem precedentes e j alcanou altura muito acima de qualquer ponto que outros homens j tenham alcanado, mas ainda no chegou ao cume da montanha. E o homem, num certo momento, percebe que est em posio na qual o avano e no s dificil e perigoso, mas evidentemente impossvel".[1]

    Nessas circunstncias, Lnin escreve:

    "Ele forado a dar meia volta, descer, procurar outro caminho, mais longo talvez, mas caminho pelo qual possa chegar ao pico. Pode acontecer de a descida, de altura jamais antes alcanada por ningum, seja ainda mais perigosa e difcil que a subida, para nosso alpinista imaginrio pode escorregar a qualquer momento; no consegue ver exatamente onde pe o p; no h a exaltao que sempre se sente ao subir, firme, direto meta etc. Para descer preciso amarrar-se firmemente; preciso andar muito devagar, e descer, descer, descer, cada vez mais se distanciando da meta; e ningum sabe onde termina essa descida to extremamente perigosa e dolorosa; nem se haver outra trilha mais segura e mais curta, que leve mais diretamente ao cume." Nada mais natural, para esse alpinista nessa situao, que ter "momentos de desnimo". O mais provvel que esses momentos aconteam cada vez mais frequentemente, e mais difceis de suportar, se o alpinista ouve as vozes dos que esto em terra firme e que, "por telescpio e de distncia segura, assistem perigosa retirada: so vozes que soam com mal disfarada alegria. Ningum nem se preocupa com disfarar as risadas, e muitos gritam: "Vai despencar! Vai cair a qualquer momento! Bem-feito! Esse luntico!". Outros fingem, fazem como "Judas Golovlyov, o hipcrita dono de terras no romance de Saltykov-Shchedrins, A famlia Golovlyov: "Torcem as mos e reviram os olhos para o cu, como se dissessem: 'Quanto nos doi ver justificados nossos piores temores! Mas no pedimos tantas vezes, ns, que passamos a vida a planejar escaladas criteriosas, que a escalada no fosse iniciada antes de termos prontos nossos planos?! E ns tantas vezes protestamos veementemente contra essa trilha, que esse luntico agora est obrigado a abandonar

  • (olhem, olhem, ele deu meia volta! Queria subir e est descendo! Demora horas para dar um passo! E o quanto nos recriminaram sempre que recomendamos moderao, cautela!). Se tanto recriminamos e censuramos esse doido, e tanto tentamos avisar para que no o seguissem, que no o imitassem, que no o ajudassem, s o fizemos porque cremos e confiamos no nosso grande plano para escalar essa montanha. Nunca permitimos que nosso grande plano fosse desmoralizado!"

    Felizmente, Lnin continua, nosso alpinista imaginrio no ouve todas essas vozes dos 'sinceros amigos' da ideia da escalada. Se as ouvisse, "provavelmente teria nuseas". "E a nusea, como se diz, no ajuda ningum a manter a cabea clara e o p firme, sobretudo quando se escalam montanhas muito altas."

    Claro que nenhuma metfora prova coisa alguma: "todas as analogias tm p quebrado". Lnin continua a falar sobre a situao real pela qual passava a recm-nascida repblica sovitica:

    "O proletariado da Rssia alcanou altura gigantesca em sua revoluo, no s se comparada a 1789 e 1793, mas tambm se comparada a 1871. Temos de fazer o inventrio do que fizemos e do que no fizemos, o mais desapaixonadamente possvel, o mais claramente, o mais concretamente possvel. Se o fizermos, conseguiremos manter claras as ideias. No teremos nuseas, nem iluses, nem desiluses, nem desnimo."

    Depois de enumerar as conquistas do Estado sovitico em 1922, Lnin explica o que no foi feito:

    "Ainda nem terminamos de construir as fundaes de uma economia socialista, e os poderes hostis do capitalismo moribundo ainda nos podem roubar o que j fizemos. Temos de avaliar isso claramente e de admiti-lo seriamente; nada mais perigoso que a iluso (a vertigem, sobretudo em montanhas muito altas). E no h absolutamente coisa alguma de terrvel, coisa alguma que justifique sequer o mnimo desnimo, se se admitem essas verdades amargas. Sempre dissemos e repetimos a verdade elementar do marxismo que os esforos conjugados dos trabalhadores de vrios pases avanados so indispensveis para a vitria do socialismo. Ainda estamos ss, em pas atrasado e mais arruinado do que tantos. Mas j fizemos muito."

    Mais que isso, Lnin observa: "preservamos intacto o exrcito das foras proletrias; preservamos ntegra sua habilidade de manobra; mantivemos a cabea clara e podemos calcular sobriamente onde, quando e at onde prosseguir na retirada (antes de podermos saltar ainda mais adiante); onde, quando e como voltar ao trabalho para terminar o que ficou por terminar". E conclui:

    "Fracassam os Comunistas que imaginem que seria possvel levar a termo a construo de novos tempos, obra to grande quanto construir as fundaes de uma economia socialista (sobretudo em pequeno pas de camponeses), sem jamais errar, sem ter de bater em retirada vrias vezes, sem vrias vezes modificar o que ficou sem fazer ou foi mal feito. Comunistas sem iluses no cedem ao desnimo nem decepo. Eles preservam a fora e a flexibilidade para "comear do comeo" outra vez, outra vez, aproximando-se passo a passo de completar as tarefas mais difceis. Esses comunistas no fracassam (e o mais provvel que cheguem onde desejem

  • chegar)."

    "Fracasse melhor."

    Lnin em seu melhor momento Beckett, tomando a fala de Worstward Ho: "Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor."[2] Sua concluso comear do comeo deixa claro que no se trata de andar devagar e reforar o que tenha sido conseguido, mas de retroceder ao ponto inicial: preciso comear do comeo, no do ponto a que se tenha chegado na tentativa em curso. Em termos de Kierkegaard, um processo revolucionrio no progresso gradual, mas movimento repetitivo, movimento de repetir o incio, outra vez, outra vez.

    Georg Lukcs concluiu sua obra-prima pr-marxista, Teoria do Romance (LUKCS, Georg [1916]. A teoria do romance. So Paulo: Editora 34, 2000) com a famosa frase: "A viagem terminou. Comea a caminhada."

    o que acontece no momento da derrota: a viagem de uma determinada experincia revolucionria terminou, mas a verdadeira caminhada, o trabalho de comear outra vez, apenas comea. A disposio para a retirada, contudo, de modo algum implica abertura no-dogmtica em direo a outros, a admitir ideias dos competidores polticos, "Estvamos errados, vocs tinham razo no que diziam. Ento, agora vamos unir foras." o contrrio disso.

    Lnin insiste em que esses momentos so tempos em que indispensvel a mxima disciplina. Em fala dirigida ao 11 Congresso dos Bolcheviques, alguns meses depois, em abril de 1922, Lnin argumentou:

    "Quando todo um exrcito (falo em sentido figurado) est em retirada, no pode ter a mesma moral que enquanto avana. A cada passo, sente-se algum tipo de desnimo, de depresso (...). A mora o mais srio perigo; terrivelmente difcil bater em retirada depois de algum grande avano, porque as relaes so completamente diferentes. Numa avanada vitoriosa, at a disciplina relaxa, todos empurram adiante como que por vontade sua. Na retirada, contudo, a disciplina tem de ser mais consciente e cem vezes mais necessria, porque quanto o exrcito est em retirada, no sabe nem pode ver em que ponto ter de parar. S v retaguarda; nessas circunstncias, basta, s vezes, apenas uma ou outra voz de pnico, para gerar a debandada. O perigo ento imenso. Quando o exrcito est em retirada, as metralhadoras so mantidas engatilhadas e, se a retirada em ordem degenera em debandada desorganizada, vem a ordem para atirar; correta, alis."

    As consequncias daquele momento eram muito claras para Lnin. Em resposta aos 'sermes' contra a NEP, dos mencheviques e socialistas-revolucionrios ("A revoluo foi longe demais. O que voc diz hoje ns j dizemos h muito tempo, permita-nos repetir que..."), ele disse ao 11 Congresso:

    Respondemos: " o caso de p-los ante um peloto de fuzilamento, por dizerem o que dizem. Ou contm a prpria manifestao, ou, se insistirem em repetir em pblico o que tm dito, nas atuais circunstncias, quando nossa posio to mais difcil do que quando estvamos sob ataque direto dos Guardas Brancos, ento vocs sero os

  • nicos responsveis se forem tratados como tratamos os piores e mais daninhos Guardas Brancos."[3]

    Esse 'terror vermelho' contudo, absolutamente diferente do 'totalitarismo' stalinista. Em suas memrias, Sndor Mrai oferece definio precisa da diferena.[4] Mesmo nas fases mais violentas da ditadura leninista, quando os que faziam oposio revoluo foram brutalmente privados do direito de manifestar-se (em pblico), jamais perderam o direito ao silncio: foi-lhes permitido o exlio interior. Um episdio do outono de 1922, quando, instigados por Lnin, os bolcheviques organizavam o infame "Vapor da Filosofia", muito eloquente. Quando Lnin soube que um velho historiador menchevique cujo nome estava na lista dos intelectuais a serem expulsos havia abandonado a vida pblica e se retirara para a vida privada, muito doente, para morrer em casa, Lnin no apenas excluiu seu nome da lista: ordenou tambm que lhe fosse fornecida quota extra de bnus de alimentao. Dado que o inimigo desistira da luta poltica, a animosidade de Lnin desapareceu. No stalinismo foi diferente; at o silncio era considerado barulhento demais. Stalin exigia mais que massas que manifestassem apoio em enormes manifestaes pblicas: os artistas e cientistas tambm tinham de comprometer-se, participar ativamente, assinar proclamaes oficiais, ajudar nas conversas de gabinete sempre a favor de Stalin e do marxismo oficial. Se, na ditadura leninista, algum podia ser fuzilado pelo que dissesse, na ditadura stalinista qualquer um podia ser fuzilado tambm pelo que no dissesse. E assim foi at o fim: at o suicdio, ltimo desesperado esforo para conseguir calar, foi condenado por Stlin, como ltima e mais grave traio ao partido. Essa distino entre o leninismo e o stalinismo reflete diferenas na atitude geral de um e outro em relao sociedade: para Stlin, a sociedade era uma campo de luta impiedosa pelo poder, luta abertamente admitida; para Lnin, o conflito s vezes quase imperceptivelmente redefinido como luta entre uma sociedade 'saudvel' e, do outro lado, o que todas as sociedades humanas sempre excluram vermes, insetos, traidores vistos como subumanos. Uma separao sovitica dos poderes?

    A passagen de Lnin a Stalin foi necessria? A resposta hegeliana sempre evocar a necessidade retroativa: dado que a passagem aconteceu e Stalin venceu, a passagem foi necessria. A tarefa de um historiador dialtico ver o devir dessa passagem, expor a contingncia de uma luta que poderia ter tido final diferente, como Moshe Lewin tentou fazer em Lenins Last Struggle.

    Lewin chama a ateno, primeiro, para o quanto Lnin insistiu em dar plena soberania s entidades nacionais que compunham o Estado sovitico motivo pelo qual no surpreende que, em carta ao Politburo de 22/9/1922, Stalin tenha abertamente acusado Lnin de "liberalismo nacionalista".

    Segundo, Lewin chama a ateno para o quanto Lnin enfatizava a importncia de definirem-se aspiraes modestas: no o socialismo, mas cultura, alfabetizao para todos, eficincia, tecnologia; sociedades cooperativas, nas quais os camponeses pudessem vir a ser convertidos em "comerciantes alfabetizados" no contexto da NEP. Claro que esse modo de ver muito diferente do "socialismo em um s pas". A

  • modstia nos objetivos vrias vezes surpreendentemente clara: Lnin ri vrias vezes de todas as tentativas de "construir o socialismo"; brinca vrias vezes com as questes das deficincias do partido, e insiste em que a poltica dos sovietes sempre teria muito de improvisao, a ponto de citar Napoleo: "Nos engajamos. Do resto, cuidamos depois." bem conhecida a luta final de Lnin contra o poder da burocracia do Estado. Conhece-se menos, como Lewin observa com perspiccia, a tentativa de Lnin para impor a quadratura, ao crculo da democracia e da ditadura do Estado-partido, com sua proposta para constituir-se um novo corpo dirigente, a Comisso de Controle Central. Embora admitisse plenamente a natureza ditatorial do regime sovitico, Lnin tentou criar, na cpula, alguma espcie de equilbrio entre diferentes elementos, um "sistema de controle recproco que tivesse a mesma funo em comparao apenas aproximativa que tem a separao dos poderes num regime democrtico." Um Comit Central ampliado, que fixaria as linhas mais gerais da poltica e supervisionaria todo o aparelho do partido. Essa Comisso de Controle Central deveria: "atuar para controlar o Comit Central e seus vrios subgrupos o Comit Poltico, o Secretariado, o Comit de Organizao (...). A independncia do CCC estaria assegurada, porque seria diretamente ligado ao Congresso do Partido, sem mediao do Politburo e de seus rgos administrativos ou do Comit Central."[5]

    Peso e contrapeso, diviso de poderes, controles recprocos essa foi a desesperada resposta que Lnin tentou oferecer pergunta: "quem controla os controladores?". H algo de delrio, de fato fantasmtico, nessa ideia de uma Comisso Central de Controle: um corpo educativo, independente, controlador, quase 'apoltico', composto dos melhores professores e tecnocratas, para fiscalizar o Comit Central 'politizado' e seus rgos em resumo, expertise neutra, para que os executivos do partido no sassem da linha. Tudo isso, dependente da verdadeira independncia do Congresso do Partido de fato j minada pela proibio de subgrupos, que permitia que o aparato da cpula partidria controlasse o Congresso e calasse os crticos, expurgados como 'grupistas' ou divisionistas. O que mais espanta a ingenuidade com que Lnin confia nos especialistas, muito espantosa, de fato, se se pensa que ideia oferecida por algum que sempre foi muito profundamente consciente de que a luta poltica tudo invade e de que no h posio neutra.

    A direo em que soprava o vento j estava aparente na proposta de Stalin, em 1922, de simplesmente proclamar o governo da Repblica Socialista Sovitica Federativa e o governo das repblicas da Ucrnia, Belarus, Azerbaijo, Armnia e Gergia: "Se essa deciso for confirmada pelo CC do PCR, no ser tornada pblica; ser comunicada aos CCs das repblicas para informao aos rgos soviticos, aos comits centrais executivos ou aos congressos soviticos daquelas repblicas antes da convocao do Congresso dos Sovietes de toda a Rssia, ao qual ser declarado como desejo daquelas repblicas."[6]

    A interao entre cpula e bases no apenas j est abolida e a mais alta cpula impe sua vontade mas, acrescentando o insulto injria, a cena montada como o

  • oposto do que diz: o CC impe o desejo que as bases apresentaro ao CC como desejo das bases.

    ato e terror

    Outro trao das batalhas finais de Lnin para o qual Lewin chama a ateno uma surpreendente ateno polidez e civilidade. Dois incidentes haviam perturbado Lnin profundamente, naquele momento: num debate poltico, o representante de Moscou na Georgia, Sergo Ordzhonikidze, havia atacado fisicamente um membro do CC georgiano; e o prprio Stalin havia ofendido Krupskaya verbalmente (depois de descobrir que ela entregara a Trotsky uma carta na qual Lnin propunha um pacto contra Stalin). Esse ltimo incidente levou Lnin a escrever seu famoso apelo: "Stalin grosseiro demais. A grosseria, embora possa ser tolerada entre ns comunistas, intolervel num secretrio-geral. Por isso, sugiro que os camaradas pensem em algum modo para remover Stalin do posto que ocupa e indicar para substitu-lo algum muito diferente dele, sem sua arrogncia, mais tolerante, mais leal, menos adulador, mais respeitoso com os camaradas e menos impulsivo."[7] Mas a proposta de criar-se um Comisso Central de Controle e sua preocupao com a civilidade de modo algum devem fazem pensar em amolecimento liberal. Em carta para Kamenev desse mesmo perodo, Lnin escreve claramente: " grande erro pensar que a NEP marca o fim do terror; temos de recorrer ao terror e ao terror econmico." Esse terror contudo, que sobreviveria planejada reduo do aparelho do Estado e da Cheka, sempre seria mais ameaa que realidade.

    Como Lewin conta, Lnin procurava meios "pelos quais todos que agora [em tempos de nova poltica econmica] querem ir alm dos limites autorizados pelo Estado aos empresrios e comerciantes" pudessem ser lembrados "com tato e polidez" de que essa arma extrema ainda existe.[8] Lnin acertou, nesse ponto: a ditadura est sempre associada ao excesso (constitutivo) do poder (do Estado) e, nesse nvel, no h neutralidade possvel. A questo crucial : quem se excede, nesse excesso? Nunca ns; sempre eles.

    "Sonhando", para usar expresso do prprio Lnin, sobre como operaria sua Comisso de Controle do Comit Central, em artigo de 1923 ("Menos melhores, mas melhores melhores"), o ltimo texto que escreveu, Lnin sugere que esse corpo recorreria a:

    "truques semi-humorsticos, recursos engenhosos, cenas de representao, truques ou algo desse tipo. Sei que os sisudos e graves Estados da Europa Ocidental ficariam horrorizados com essa ideia e nenhum funcionrio decente atraver-se-ia sequer a cogitar coisa semelhante. Espero contudo que ns ainda no nos tenhamos convertido em burocratas idnticos a eles e que, entre ns, a discusso dessa ideia nos faa rir. De fato, por que no combinar utilidade e prazer? Por que no recorrer a truques humorsticos ou semi-humorsticos para expor o que seja ridculo, tantas vezes to danoso, ideias semi-ridculas, semidanosas etc.?"[9]

  • No quase um duplo 'cmico', do 'srio' poder executivo concentrado no CC e no Politburo? Truques, cenas, inverso da razo um sonho maravilhoso, mas, mesmo assim, utopia.

    A fraqueza de Lnin, argumenta Lewin, foi que ele viu o problema da burocratizao, mas subestimou seu peso e sua real dimenso: "a anlise da sociedade feita por Lnin baseou-se em apenas trs classes sociais operrios, camponeses e a burguesia sem considerar o aparelho do Estado como elemento social distinto, num pas que estatizara os principais setores da economia."[10]

    Os bolcheviques logo perceberam que seu poder poltico carecia de base social especfica: praticamente toda a classe trabalhadora em cujo nome os bolcheviques exerciam o poder fora dizimada na Guerra Civil. Os bolcheviques governavam, de certo modo, num vcuo de representao social.

    Contudo, ao se imaginarem como puro poder poltico que impunha seu desejo a toda a sociedade, no deram a devida ateno ao modo como uma vez que agia como proprietria de fato, ou agia como fiel depositria do proprietrio ausente, das foras de produo a burocracia estatal "viria a ser a verdadeira base social do poder": "No h qualquer 'puro' poder poltico, destitudo de qualquer fundao social. Um regime tem de encontrar alguma outra base social, alm do prprio aparelho de represso. O 'vcuo' no qual o regime sovitico parecia estar em suspenso foi rapidamente preenchido, ainda que os bolcheviques no tenham percebido ou tenham querido no ver."[11]

    Pode-se admitir que essa base teria bloqueado o projeto leninista de um Comit Central de Controle. verdade que, de modo anti-economicista e determinista, Lnin insiste na autonomia do poltico; mas o que Lnin no percebe, em termos de Badiou, no como cada fora poltica representa alguma fora ou classe; o que Lnin no v como essa fora poltca de representao est diretamente inscrita no prprio nvel representado, como fora social de pleno direito.

    O ltimo combate de Lnin contra Stalin traz todas as marcas de uma tragdia clssica: no foi melodrama no qual um 'mocinho' enfrenta um 'bandido'; foi tragdia na qual o heroi entende que est em luta com sua progenitura; e que j tarde demais para deter o trgico desdobramento de decises passadas; e erradas.

    Um outro caminho

    Ento, em que p estamos hoje, depois do dsastre obscur* de 1989? Como em 1922, as vozes dos que vivem na segurana das plancies inferiores riem seu riso malicioso, de ns e nossa volta: "Bem-feito, lunticos que tentaram impor sua viso totalitria toda a sociedade!". Outros disfararo a risada maliciosa; e gemero e erguero os olhos para o ceu, e diro: "Quanto nos doi ver confirmados nossos piores temores! Como foi nobre [e 'tica'] a viso de vocs, de uma sociedade justa! Nosso corao est com vocs! Mas a razo nos diz que vocs deliram e que seus planos s geraro mais misria e mais totalitarismos!"

  • Ao mesmo tempo em que rejeitamos qualquer solidariedade ou acordo com essas vozes sedutoras, ns definitivamente temos de recomear do comeo. No para construir outra vez a partir das fundaes do momento revolucionrio do sculo 20, que durou de 1917 a 1989, ou, mais precisamente, at 1968 mas para descer at o ponto inicial da escalada e escolher outro caminho.

    Mas que caminho?

    O problema crucial, definidor do marxismo ocidental, foi a falta de sujeito revolucionrio: como se explica que a classe trabalhadora no complete a passagem do em-si para o para-si e no se tenha constitudo, ela mesma, como agente revolucionrio? Essa questo foi usada como principal razo de ser da referncia do marxismo ocidental psicanlise, que foi evocada para explicar os mecanismos libidinais inconscientes que impediram a constituio da conscincia de classe que se inscrevem no prprio ser ou na situao social da classe trabalhadora.

    Desse modo, salvou-se a verdade das anlises socioeconmicas marxistas: no houve motivo para deixar engordar as teorias revisionistas sobre a asceno das classes mdia. Pela mesma razo, o marxismo ocidental tambm se engajou em pereno busca de outros que pudessem desempenhar a funo de agentes revolucionrios, com o subestudo substituindo a classe trabalhadora que j no havia: camponeses do Terceiro Mundo, estudantes, intelectuais, os excludos. bem possvel que essa busca desesperada pelo agente revolucionrio seja o modo de fazer surgir seu exato oposto: o medo de encontr-lo, de v-lo onde ele j cresce e esperneia. Contar com que outro far o nosso servio sempre meio para racionalizar nossa inao.

    Contra tudo isso, Alain Badiou sugeriu que ns reafirmemos a hiptese comunista. Escreveu: "Se temos de abandonar a hiptese comunista, ento no vale mais a pena fazer coisa alguma com vistas ao coletiva. Sem o horizonte do comunismo, sem essa Ideia, nada mais h no devir histrico e poltico que interesse a um filsofo." "Mas", prossegue Badiou:

    "agarrarmo-nos Ideia, afirmar a existncia da hiptese, no significa que essa primeira modalidade de apresentao, focada na propriedade e no Estado, deva ser mantida inalterada. Tarefa filsofica, de fato, dever, ajudar uma nova modalidade de existncia da hiptese a vir luz."[12]

    Deve-se ter cuidado para no ler essas linhas com olhos kantianos, entendendo o comunismo como Ideia regulatria e, assim, ressuscitando o espectro do 'socialismo tico', com a igualdade como princpio a priori ou axioma. Em vez disso, deve-se cuidar para manter precisa referncia a um conjunto de antagonismos sociais que geram a carncia de comunismo; a boa velha noo marxiana de comunismo no como ideal, mas como movimento que reage a contradies reais. Tratar o comunismo como Ideia etrea implica que a situao gera o comunismo tambm

  • etria, que o antagonismo ao qual o comunismo reage est a e sempre estar a. Da falta s um pequeno passo para uma leitura desconstrutiva do comunismo que concluir que o comunismo no passa de sonho de presena, de abolio de toda a representao alienante; um sonho que implica alimentar sua prpria impossibilidade. Por mais que seja muito fcil rir da noo de fim-da-histria de Fukuyama, a maioria hoje fukuyamista. O capitalismo liberal democrtico est aceito como frmula da melhor sociedade possvel; s resta torn-lo mais justo, mais tolerante e coisa e tal. Aqui surge pergunta simples mas pertinente: se o capitalismo liberal , se no a melhor, pelo menos a menos pior das formaes sociais, por que ns simplesmente no nos conformamos, no nos resignamos a ele como adultos? Por que no o aceitamos, de fato, de todo o corao? Por que insistir na hiptese comunista, contra todas as probabilidades?

    lasse e comuns

    No basta continuar a crer na hiptese comunista: preciso localizar os antagonismos que h na realidade histrica e que fazem daquela hiptese uma urgncia para a prtica. A nica questo crucial hoje : o capitalismo global carrega contradies suficientemente poderosas a ponto de impedir que o capitalismo global reproduza-se indefinidamente? Quatro contradies esto vista: a terrvel ameaa da catstrofe ambiental; a apropriao indevida da propriedade privada pela chamada propriedade intelectual; as implicaes socioticas dos desenvolvimentos tecnocientficos, sobretudo a biogentica; e, por ltimo mas no menos importante, as novas formas de apartheid social novos muros e novos ghettos.

    Deve-se observar que h uma diferena qualitativa nesse ltimo problema, a questo de se separarem excludos e includos, em relao aos outros trs, que chama a ateno para o domnio do que Hardt & Negri designam como "o comum" substncia partilhada de nosso ser social, cuja privatizao ato violento ao qual indispensvel resistir, pela fora se necessria.

    Primeiro, h o comum da cultura, as formas imediatamente socializadas do capital cognitivo: basicamente a linguagem, nossos meios de comunicao e educao, mas tambm a infraestrutura partilhada (transporte pblico, eletricidade, correios etc. Se se permitir o monoplio a Bill Gates, teremos chegado situao absurda na qual um indivduo privado ser proprietrios do tecido (em software) de nossa rede bsica de comunicao. Segundo, h os comuns da natureza exterior, ameaados pela explorao e pela poluio do petrleo s florestas e todo o habitat natural. E, terceiro, h os comuns da natureza interior, a herana biogentica da humanidade.

    O que rene todas essas lutas a conscincia do potencial destrutivo que se mobiliza que inclui o risco de auto-aniquilamento da prpria humanidade se se deixa correr solta a lgica capitalista que cercou esses comuns.

  • Essa referncia aos "comuns" que permite ressuscitar a noo de comunismo: permite ver e faz-ver o cerco progressivo dos comuns como um processo de proletarianizao dos que so excludos de sua prpria substncia; processo que tambm aponta para a explorao. A tarefa hoje renovar a economia poltica da explorao por exemplo, a explorao dos "trabalhadores cognitivos" annimos, pelas empresas.

    Contudo, s a quarta contradio, na referncia aos excludos, justifica o termo comunismo. Nada pode ser mais privado que um Estado que veja os excludos como ameaa e cuide de mant-los excludos, distncia segura.

    Em outras palavras, na lista acima de quatro contradies, a contradio entre excludos e includos a contradio crucial: sem ela, as demais perder o gume subversivo. A ecologia passa a ser questo de desenvolvimento sustentvel; a propriedade intelectual vira complexo desafio legal; a biogentica vira questo tica. Pode ser ecologista sinceramente empenhado na defesa do meio ambiente; pode-se lutar por noes mais amplas de propriedade intelectual, combater o copyrigh na propriedade dos genes, sem, nem por isso, tomar posio na oposio entre includos e excludos. Ainda mais: pode-se formular qualquer dessas lutas em termos dos includos ameaados pelos excludos que poluem. Assim, no se chega a nenhuma universalidade; no mximo, chega-se s questes 'do privado' em termos kantianos. Corporaes como Whole Foods e Starbucks continuam a gozar dos favores dos liberais mesmo que ambas as empresas combatam qualquer atividade sindical. O truque que vendem produtos 'progressistas': caf feito com gros comprados de empresas que praticam 'comrcio justo", veculos 'verdes' carssimos etc. Em resumo, sem que se considere a oposio includos e excludos, facilmente teremos um mundo no qual Bill Gates homem que faz trabalho humanitrio, que combate a pobreza e a doena; e no qual Rupert Murdoch digno ambientalista, porque mobiliza centenas de milhes de outros ambientalistas mediante seu imprio miditico.

    preciso acrescentar aqui, para andar alm de Kant, que h grupos sociais que, por no terem lugar definido na ordem 'privada' da hierarquia social, qualificam-se para defender diretamente o que do interesse de todos: so, como diz Jacques Rancire, "a parte dos sem-parte" (fr. "la part des sans-part") do corpo social.

    Qualquer poltica realmente emancipatria* gerada pelo curto-circuito entre a universalidade do uso pblico da razo e a universalidade da "parte dos sem-parte". Esse j era o sonho comunista do jovem Marx aproximar a universalidade da filosofia e a universalidade do proletariado. Desde a antiga Grcia, j h nome definido para a intruso dos excludos no espao sociopoltico: democracia. A predominante noo liberal de democracia tambm lida com os excludos, mas de modo radicalmente diferente: visa a inclu-los sempre como vozes minoritrias. Devem-se ouvir todos os lados, considerarem-se todos os interesses, todos os modos de vida; devem-se respeitar todas as culturas e todas as prticas e por a vai. Essa democracia obcecada por proteger minorias: culturais, religiosas, sexuais etc. A frmula da democracia aqui a negociao paciente e a construo de acordos. A

  • primeira vtima, a, a posio de universalidade incorporada nos excludos. A nova poltica emancipatria no ser ato de nenhum agente social particular, mas combinao explosiva de diferentes agentes. O que une todos, nesse caso, que, diferente da imagem clssica dos proletrios que nada tinham a perder "alm de suas cadeias", todos estamos sob risco de perder tudo.

    A grande ameaa sermos reduzidos a um sujeito cartesiano abstrato, despossudos de todo o nosso contedo simblico, com nossa gentica manipulada, vegetando em meio ambiente no qual a vida seja impossvel. Essa tripla ameaa nos torna todos proletrios, reduzidos a "subjetividade sem substncia", como Marx escreveu nos Grundrisse. A figura da "parte dos sem-parte" confronta-nos com a verdade de nossa posio. E o desafio tico-poltico nos reconhecermos nessa figura.

    De certo modo, estamos todos excludos da natureza, tanto quanto de nossa substncia simblica. Hoje, j somos todos potencialmente homo sacer*, e o nico modo para evitar de sermos todos excludos e agir preventivamente.

    [1] V. I. Lenin, Notes of a Publicist, publicao pstuma, no Pravda, 16/4/1924; Collected Works, vol. 33, Moscou 1966, pp. 2047.

    [2] Samuel Beckett, Worstward Ho, Nohow On, London 1992, p. 101.

    [3] Lnin, "11 Congresso do PCR", Collected Works, vol. 33, pp. 2813.

    [4] Sndor Mrai, Memoir of Hungary: 19441948, Budapest 1996.

    [5] Moshe Lewin, Lenins Last Struggle [1968], Ann Arbor, 2005. pp. 1312.

    [6] Apud Lewin, Lenins Last Struggle, Appendix 1, pp. 1467.

    [7] Lewin, Lenins Last Struggle, p. 84.

    [8] Lewin, Lenins Last Struggle, p. 133.

    [9] Lenin, Better Fewer, But Better, Collected Works, vol. 33, p. 495. Na internet, em http://www.marxists.org/archive/lenin/works/1923/mar/02.htm [em ingls].

    [10] Lewin, Lenins Last Struggle, p. 125.

  • [11] Lewin, Lenins Last Struggle, p. 124.

    * Fr. no original: "desastre obscuro". A expresso aparece no ttulo do livro de Alan Badiou, 1998, D'un dsastre obscur sur la fin de la vrit d'tat. , tambm, expresso de Malarm, em "Le tombeau de Edgar Alan Poe: "Calme bloc ici-bas ici-bas chu d'un dsastre obscur" (NT).

    [12] Alain Badiou, The Meaning of Sarkozy, London and New York, 2008, p. 115.

    * Ver, por exemplo, em entrevista de Jacques Rancire, em http://www.philomag.com/article,entretien,jacques-ranciere-il-n-y-a-jamais-eu-besoin-d-expliquer-a-un-travailleur-ce-qu-est-l-exploitation,375.php: "A viso marxista da ideologia declarou que os dominados e os explorados eram submissos por falta de saber, por ignorarem sua situao no seio do sistema. Ao mesmo tempo, supunha que a situao dos dominados e explorados dentro do sistema produzia a ignorncia da situao. Em resumo, os dominados eram dominados or serem ignorantes e eram ignorantes por serem dominados. Pierre Bourdieu aperfeioou o cerco, com sua teoria da reproduo. Essa viso 'progressista' sempre me pareceu simples retomada da teoria platnica da caverna: um modo de manter cada um em seu canto e de justificar o poder dos letrados. Mesmo em trabalho carregado de boas intenes, dirigido por Bourdieu, A Misria do mundo, h duas vozes: a voz dos que vivem em bairros difceis e expressam o prprio sofrimtento, e a do socilogo que explica o sofrimento. sempre a mesma oposio formulada por Aristteles entre a voz que expressa e o discurso que argumenta. O que sempre me saltou aos olhos, desde que comecei a trabalhar sobre a histria do pensamento operrio que ningum jamais precisou explicar a um operrio o que seja a mais-valia ou a explorao. O problema do operrio no "tomar conscincia" da explorao. O problema do operrio , exatamente, conseguir "ignorar" a explorao, quero dizer, conseguir desfazer-se da identidade que a explorao lhe impe e ver-se como capaz de viver num mundo sem explorao. Esse, precisamente, o significado da palavra "emancipao" (NT).

    * Em latim no original. Literalmente, "homem banido", ou "amaldioado". conceito complexo, que d ttulo a AGAMBEN, Giorgio, O Poder soberano e a Vida Nua. Homo Sacer. Lisboa: Bertrand (NT).