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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português Ensino Médio, 1º ano EM Apólogo, fábula e alegoria: o símbolo e a moral.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias - Português

Ensino Médio, 1º ano EM

Apólogo, fábula e alegoria: o símbolo e a moral.

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LÍNGUA PORTUGUESA, 2º Ano do Ensino MédioAPÓLOGO,FÁBULA E ALEGORIA: O SÍMBOLO E A MORALA RAPOSA E AS UVAS

O LEÃO E O RATINHO

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A FÁBULA

A fábula é um gênero ficcional bastante popular e existe há mais ou menos 2.800 anos.Tradicionalmente, as fábulas eram narrativas orais e não se sabe ao certo quem as criou.

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Embora muito antigas, continuam a ser

contadas e lidas, porque ensinam,

alertam sobre algo que pode acontecer

na vida real, criticam comportamentos

humanos, ironizam os homens.

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A estrutura da fábula tem servido a muitas versões e

reescrituras, muitas delas com intenção humorística.

Na maioria das vezes, os fabulistas usam animais como

personagens de suas histórias, tornando-os uma espécie de

símbolo: a formiga, representando o trabalho; o cordeiro, a

inocência; o burro, a estupidez; a raposa, a astúcia; etc.

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É BOM SABER QUE...

a) O narrador de uma fábula é um observador.

b) O tempo verbal predominante é o pretérito perfeito do indicativo.

c) A linguagem utilizada é a variedade padrão.

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d) O público a que se destina(1) é o infanto-juvenil. (1) PRIORITARIAMENTE

e) O suporte desse gênero textual, para atingir o público a que se destina, é veiculado à publicação em livros, jornais, revistas, em sites na Internet e ainda pode ser contada oralmente.

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OS GRANDES FABULISTAS

A fábula nasceu no Oriente e foi reinventada

no Ocidente pelo escravo Esopo, que criava

histórias baseadas em animais para mostrar como

agir com sabedoria. Suas fábulas, mais tarde,

foram reescritas em versos, com um acentuado

tom satírico, pelo escravo Fedro.

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Contudo, o grande responsável pela divulgação e

reconhecimento da fábula no Ocidente moderno foi o

francês Jean de La Fontaine, um poeta que conhecia muito

bem a arte e as manifestações da cultura popular.

Motivado pela natureza simbólica das fábulas, La

Fontaine criava suas histórias com um único objetivo: tornar

os animais o principal agente da educação dos homens.

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JEAN DE LA FONTAINE

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Para isso, os animais são colocados numa situação humana exemplar, tornando-se uma espécie de símbolo. Por exemplo : a formiga, representa o trabalho ; o lobo, o poder despótico; e assim por diante [...]

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PARA AQUELES QUE SÃO LOUCOS POR FÁBULAS

Para aqueles que são aficionados por fábulas e querem conhecer outras, antigas e modernas, sugerimos a leitura dos seguintes livros:Fábulas de La Fontaine; Fábulas, de Monteiro Lobato; Esopo – Fábulas Completas; Fábulas fabulosas e Novas fábulas fabulosas, de Millôr Fernandes.

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ESTRUTURAS DAS FÁBULAS

Através das fábulas, podemos fazer duas leituras independentes: a) A narrativa propriamente dita cuja estrutura narrativa sempre se repete: situação inicial; obstáculo; tentativa de solução; resultado final.

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b) Moral: linguagem temática, dissertativa. Ela pode ser usada e analisada independentemente da fábula. A fábula nos leva a dois mundos: o imaginário, o narrativo, fantástico; o real, dissertativo, temático. Na verdade, a fábula é um “estudo sério sobre o comportamento humano”, a ética e a cidadania.

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Exemplo: O LEÃO E O RATINHO (Monteiro Lobato)

Ao sair do buraco viu-se o ratinho entre as patas do leão. Estacou, de pelos em pé, paralisado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal nenhum.- Segue em paz, ratinho; não tenhas medo do teu rei.Dias depois, o leão caiu numa rede. Urrou desesperadamente, debateu-se, mas quanto mais se agitava mais preso no laço ficava.

Atraído pelos urros, apareceu o ratinho.

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- Amor com amor se paga – disse ele lá consigo e pôs-se a roer as cordas. Num instante, conseguiu romper uma das malhas. E como a rede era das tais que rompida a primeira malha as outras se afrouxam, pode o leão deslindar-se e fugir.

Mais vale paciência pequenina do que arrancos de leão.

Monteiro Lobato. Fábulas, 1994.

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ALEGORIA

Uma alegoria é uma representação tal que transmite um outro significado em adição ao significado literal do texto. Em outras palavras, é uma coisa que é dita para dar a noção de outra, normalmente por meio d’alguma ilação moral.

É bastante fácil confundir a alegoria com a metáfora, pois elas têm muitos pontos em comum.

Para melhor entender o que seja uma alegoria, podemos citar alguns exemplos.

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O mais conhecido exemplo de alegoria é provável que seja O Mito da Caverna, de Platão. O autor referia-se aos mitos e superstições de seus contemporâneos, comportamento que ficou representado pela alegoria da caverna em que as pessoas ficariam presas e imóveis, sem jamais poder contemplar diretamente o que acontecia fora dali.

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O mito da caverna

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A Bíblia está repleta de alegorias, o próprio Cristo

ensinava por meio delas. Mas antes mesmo do Novo

Testamento, encontramos muitas alegorias, e muitos talvez

considerem uma das mais belas a que faz a comparação da

história de Israel ao crescimento de uma vinha no Salmo 80.

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Imagem: A Bíblia / Vortix / Public Domain.

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SALMO 80

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Os ditados populares são alegorias contextualizadas

“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

“Mais vale um pássaro na mão que dois voando.”

“Casa de ferreiro, espeto de pau.”

Etimologicamente, o grego allegoría significa “dizer o outro”, “dizer alguma coisa diferente do sentido literal” (allos, “outro”, e agoreuein, “falar em público”).

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APÓLOGO

Gênero alegórico que consiste numa narrativa que ilustra uma lição de sabedoria, utilizando personagens de índole diversa, reais ou fantásticas, animadas ou inanimadas.

Servem de exemplos clássicos os apólogos de Fedro e Esopo. Confunde-se facilmente com a fábula, embora esta se concentre mais em relações que envolvem coisas e animais, e com a parábola, que se ocupa mais de histórias entre homens e figuras alegóricas com sentido religioso. Hegel considera-a uma forma de parábola.

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=787&Itemid=2

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“Pode-se considerar o apólogo como uma parábola

que não utiliza apenas, e a título de analogia, um

caso particular, a fim de tornar perceptível uma

significação geral, de tal modo que ela fica

realmente contida no caso particular que, no

entanto, só é narrado a título de exemplo especial.”

(Estética, II, 2c, Guimarães Editores, Lisboa, 1993,

p.223).

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No século XVII, na Espanha, fizeram escola os apólogos de Los Sueños, de Quevedo, e Coloquio de los perros, de Cervantes. Ficaram célebres entre nós, os Apólogos Dialogais (1712), de D. Francisco Manuel de Melo. Como todos os apólogos, têm por fim interferir de alguma forma com o comportamento social e moral dos homens, modificando-o pelo exemplo, se possível.

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=787&Itemid=2

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No século XIX, registram-se os Apólogos (1820), de João Vicente Pimentel Maldonado, poeta menor do arcadismo, inspirado nas fábulas de La Fontaine, e “Um Apólogo”, de Machado de Assis (incluído na coletânea Várias Histórias, 1896). Os Contos Tradicionais Portugueses, compilados por Teófilo Braga, são, na maior parte, verdadeiros apólogos.

http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id=787&Itemid=2

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O apólogo é uma narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética, através do uso de personalidades de índole diversa, imaginárias ou reais, que podem ser tanto inanimadas como animadas.

Bem parecido com a fábula em sua estrutura, o apólogo é um tipo de narrativa que personifica os seres inanimados, transformando-os em personagens da história.

Diversos autores consideram que se pode observar o apólogo como uma parábola que não utiliza apenas, e a título de analogia, um caso particular a fim de tornar perceptível uma significação geral.

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Imagens da Esquerda para direita: (a) Carl Heinrich Bloch (1834–1890) / O Sermão da Montanha / United States Public Domain (b) James Tissot /  The “Sermon of the Beatitudes” (1886-96), da série ”The Life of Christ” , Brooklyn Museum / Public Domain.

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Exemplo:

Um Apólogo (Machado de Assis)

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?

— Deixe-me, senhora.

— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Por que lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.

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Imagem: Uma agulha com linha / Saurabh R. Patil / Creative Commons - Atribuição - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Não Adaptada

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— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.

— Mas você é orgulhosa.

— Decerto que sou.

— Mas por quê?

— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?

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Imagem: A agulha enfiada / Jorge Barrios / GNU Free Documentation License.

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— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...

— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...

— Também os batedores vão adiante do imperador.

— Você é imperador?

— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

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Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:

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— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.

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Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:

— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.

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Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

— Anda, aprende, tola. Cansaste em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo, 1984, pág. 59.

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ATIVIDADES

Escreva um apólogo que tenha por personagens dois seres inanimados,como, por exemplo,um lápis, uma borracha, um giz e um apagador,um chinelo velho, um sapato novo uma carta e um e-mail. Por meio de um diálogo entre os personagens, mostre ações deles que, no final ilustrem uma lição de sabedoria ou ética. A linguagem empregada deve estar de acordo com a variedade padrão da língua. Faça um rascunho e só passe seu texto a limpo depois de realizar uma revisão cuidadosa. Refaça o texto , se necessário. E BOA PRODUÇÃO TEXTUAL !!!

Fonte:Português e Linguagem, de Willian Cereja e Thereza Cochar. Vol. 1.

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