Slow Cars - Saborear a condução e a paisagem
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Texto: Victor Lamberto | Fotos: Arquivo
Com este conceito, que procura o usufruto mais susten-tado e pleno do territrio, advogmos o usufruto pleno das amplas paisagens alentejanas, dos seus saberes e sabores, de uma forma lenta, por espaos tradicio-nais, com automveis clssicos (e.g. Passeio de Primavera pela Rota dos Mrmores em Renault 4) - um passeio slow numa viatura slow, por uma regio slow com gastronomia slow sabo-reada em espaos slow -, tendo como base o projecto Geoturis-mo Slow do Slow Food Alentejo.
No mbito desta aproximao, que congrega os conceitos de Geoturismo (turismo ligado s especificidades do territrio, tendo como ponto de partida o seu contexto geolgico, camada de informao primordial para a compreenso do espao que percorrido) e de Slow (de Slow Travel, forma de viajar num ritmo adequado apreenso da cultura local, permitindo que o visitante se torne parte integrante do territrio, contactando com a populao local e compreendendo o espao que percorre), os Slow Cars surgem como uma das ferramentas ideais para o usufruto pleno do territrio que se visita.
E como? Bem, os Slow Cars, nomeadamente os automveis clssicos, ao serem viaturas com capacidade para envolver e
Slow Cars
entreter o condutor a velocidades que no sejam proibitivas, permitem o prazer de uma conduo contemplativa, que exige ateno, mas premeia a conduo hbil e estimula os sentidos dos seus condutores. Ao contrrio de uma conduo em modo fast - um automvel moderno muito rpido e desligado da estra-da, da paisagem, do condutor, do prazer, e uma pressa em che-gar ao destino que leva a esquecermo-nos amide do prazer que podemos ter na viagem , defendemos o modo slow - viaturas que estimulam os nossos sentidos e envolvem as nossas apti-des, e uma conduo que permite e estimula a interaco entre o condutor, o carro, a estrada e a paisagem, sem ter que ser acelerado at velocidades ilegalmente elevadas ou perigosas Eis, pois, por que adoramos clssicos, slow cars sem prazo de validade, que advogam o prazer de uma conduo contemplati-va, plena de prazer, viaturas que no nos divorciam do acto de conduzir (como sucede com os modernos automveis, com os seus inmeros gadgets)...
E, curiosamente ou no, assim como h cada vez mais pessoas que se deliciam com sabores tradicionais elaborados a partir de produtos bons, limpos e justos, sazonais e locais, ao ritmo da natureza (princpios Slow Food), existem, tambm, cada vez mais condutores aderindo ao que chammos de Slow Cars, ve-culos que recuperam uma forma de conduo mais lenta, com habilidade, ateno e sagacidade, possibilitando uma experin-cia de conduo mais personalizada e livre, ligada paisagem.
Acreditando ns que a velocidade destri a conexo com a pai-sagem, com o territrio que se percorre e visita, os slow cars permitem inverter esta tendncia, restaurando essa ligao pri-mordial. , desta forma, fomentada a estada prolongada, com tempo suficiente para ir mais alm do que o que consta dos guias, estimulando a visita, a descoberta, a explorao e o usu-
fruto do territrio e das suas singularidades, por vezes em risco de desaparecimento ou descaracterizao (e.g. pequenos produ-tores, acepipes pouco conhecidos, singulares espaos tradicio-nais de restaurao, mercados de rua), permitindo ao ocupan-te de um slow car tornar-se parte do local que visita, apreciar recantos nicos, conversar e procurar entender as pessoas, os seus modos de viver e espaos, participar nas actividades locais e contribuir para o desenvolvimento dessas comunidades, mui-tas vezes afastadas das rotas habituais.
Os slow cars estimulam uma nova (e antiga!) aproximao ao espao e ao tempo - aumentam a interao com o territrio, o passeio torna-se um momento para relaxar, o tempo passa a sobrar em vez de faltar, uma relao mais ntima com as comunidades locais e paisagens envolventes encorajada -, o que favorece escolhas conscientes! E esta aproximao, inserida no Geoturismo Slow, constitui-se como uma forma de estar que potencia a sustentabilidade, as economias locais e uma verda-deira nova experincia ao visitante.
Por oposio ao consumista usa e deita fora, os slow cars podem aliar amide a poupana (sobretudo em tempo de crise como o que agora atravessamos) ao prazer prolongado no espao e no tempo, por estradas secundrias, paisagens, espaos, pro-dutores e modos de produo menos conhecidos, afastados dos lugares-comuns, no massificados, acarinhando a proximida-de, dando a conhecer saberes e produtos locais, promovendo um turismo sustentvel, disseminado pelo territrio, estimulando economias locais, a auto-estima das populaes e a preservao de patrimnio e paisagem locais importa interagir com as pai-sagens que produzem os sabores da regio que se visita, pois a boa gastronomia a paisagem na panela (Josep Pla).
Refira-se que os amantes de clssicos esto, em grande parte,
Retomamos o tema dos Slow Cars, aps uma primeira parte aqui publicada em Novembro passado. Nesse pri-
meiro texto apresentmos o Slow Food como um movimento com mais de 100.000 membros distribudos por
mais de 100 pases, cuja filosofia tem vindo a expandir-se para outras reas (e.g. Slow Fashion, Slow Cities, Slow
Travel), e que agora, com o envolvimento directo do Alentejo, chega aos carros, com os Slow Cars.
Saborear a conduo e a paisagem
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especialmente equipados para esta aproximao aos territ-rios que visitem (e.g. conduo consciente, sensibilidade para o patrimnio, respeito pelo ambiente, desejo de descoberta, pai-xo pelas suas viaturas), o que permitir, com facilidade, o usu-fruto pleno e transversal de uma regio e das suas singulari-dades, por estradas secundrias, a baixas velocidades E estes passeios em slow cars, se repetidamente realizados, podero dar azo a formas de promoo do territrio diferenciadoras, ao ritmo da natureza e do territrio, com benefcios diversificados para as comunidades locais (e.g. produtores, espaos gastro-nmicos, ferros-velhos), podendo outrossim, e por exemplo, fomentar o interesse por clssicos e o aparecimento de peque-nas oficinas especializadas no restauro e manuteno dos mes-mos, e respectivas aces de formao profissional, a criao de pequenas empresas de animao turstica que utilizem slow cars, a instalao de espaos interpretativos incorporando estas viaturas (e.g. a R4 como elemento indissocivel da paisagem alentejana).
A terminar, refira-se que o Slow Food Alentejo prosseguir no aprofundamento do seu projecto Geoturismo Slow, em desen-volvimento desde 2000 (e.g. palestras, passeios, artigos, encon-tros, tertlias), nomeadamente na vertente Slow Cars agora abordada passeios slow em viaturas slow por territrios slow com gastronomia slow saboreada em espaos slow -, atravs
da realizao de um conjunto de passeios centrados na gastro-nomia local (a que chamamos eat-inerrios) e de outros even-tos, que devero envolver parcerias diversas (e.g. 4.Clube.Portu-gal, Dirio do Sul, autarquias, produtores) e que anunciaremos atempadamente.