Só o perdão cura _modo de leitura_

download Só o perdão cura _modo de leitura_

of 86

Transcript of Só o perdão cura _modo de leitura_

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    1/86

    1

    S O PERDO CURA

    Um livro baseado em Um Curso Em Milagres

    Luiz Marcelo Oliveira

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    2/86

    2

    Curar fazer feliz.

    (T-5, Introduo, 1:1)

    Toda cura liberao do passado.

    (T-13, VIII, 1:1).

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    3/86

    3

    ABREVIAES

    T: livro texto de Um Curso Em Milagres.

    LE: livro de exerccios de Um Curso Em Milagres.

    M: Manual do Professores de Um Curso Em Milagres.

    E: Esclarecimento de termos de Um Curso Em Milagres.

    P:Suplementos a Um Curso Em Milagres: Psicoterapia: Princpios, Processo e Prtica.

    C: Suplementos a Um Curso Em Milagres: A Cano da Orao: Orao, Perdo, Cura

    Estrutura bsica de referncia:

    Livro de Um Curso Em Milagres, captulo, seo, pargrafo, frases.

    Exemplos de referncia:

    T-31, V, 15:1-2.(Um Curso Em Milagres, Livro Texto, captulo 31, seo 5, pargrafo

    15, frase 1 a 2).

    T-28, I, 1:1, 4, 8; 2: 1. (Um Curso Em Milagres, Livro Texto, captulo 28, seo 1,

    pargrafo 1, frases 1, 4 e 8; pargrafo 2, frase 1).

    E-Introduo, 2:5. (Um Curso Em Milagres, Esclarecimento de Termos, pargrafo 2,

    frase 5).

    C-2, II, 1:1-3. (Um Curso Em Milagres, A Cano da Orao: Orao, Perdo e Cura,

    captulo 2, seo II, pargrafo 1, frases 1 a 3).

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    4/86

    4

    AGRADECIMENTOS

    Muito obrigado a Marcos Rodrigues, amigo e terapeuta que me apresentou Um

    Curso Em Milagres, cultivando-o dentro de mim. A Ken Wapnick, amigo e professor

    que me ajudou a reler, corrigir e melhorar este livro, sem mencionar sua vasta e

    inspiradora obra que me ajuda tanto a compreender o contedo do Curso. A Thais

    Gualter, minha esposa e companheira, pelas correes, estmulo, refeies e apoio. A

    Barth e a Joran, pela leitura do original, sugestes e palavras de carinho. A todos os

    estudantes do Curso com quem trilho a jornada de cura. A minha famlia. Aos velhos

    amigos. Aos escritores e artistas. A Lillian Paes, tradutora de UCEM pra nossa lngua.

    A Foundation For A Course In Miracles.

    A Jesus, ao Esprito Santo e a Deus.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    5/86

    5

    SUMRIO

    Prefcio 07

    Sobre o livro Um Curso Em Milagres 07

    CAPTULO 1 - Princpios de Um Curso Em Milagres 10

    1. Uma questo de identidade 11

    2. A cura verdadeira 15

    3. O perdo e a percepo santa 17

    CAPTULO 2 O caminho para a cura 21

    1. Nosso destino final Deus 22

    2. Somos mente ao invs de corpo 23

    3. No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo 26

    4. A cura comea com o perdo 275. Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz 28

    CAPTULO 3 Os doze gestos para o amor 30

    1. Acolher 312. Ouvir 353. Observar o problema 37

    3.1. Traduzir a queixa num pedido de amor 40

    3.2. As idias no deixam a sua fonte 42

    4. Observar a soluo 445. Assumir a escolha 476. Perdoar 49

    6.1. O perdo verdadeiro acontece na mente 54

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    6/86

    6

    7. Aceitar o merecimento 577.1. O que est a altura do nosso merecimento? 60

    8. Re-interpretar o enredo 649. Sonhar feliz 67

    9.1. A verdadeira felicidade 69

    10.Ouvir a Voz do Esprito Santo 7211.Entregar tudo ao Esprito Santo 7412.Amar 78

    Consideraes finais 81

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    7/86

    7

    PREFCIO

    Este livro sugere mais um programa possvel para a prtica da cura. Sua proposta

    se baseia no livro Um Curso Em Milagres, que ensina a nos abrirmos para a Presena do

    Amor. Ele nossa maior referncia e onde se encontra o conhecimento mais profundo.

    Quem se sentir tocado aqui e desejar ir mais longe, deve procurar Um Curso Em

    Milagres. O Curso completo, pois foi concebido por algum que realizou sua inteira

    jornada de cura - Jesus. Eu, porm, sigo aprendendo minhas prprias lies de perdo.

    Desta maneira, Um Curso Em Milagres a nossa referncia matriz.

    Imagino que o motivo de escrever este livro que o Esprito Santo, muitas

    vezes, inspira uma forma especfica de falar para tocar pessoas diferentes em lugares

    diversos e em momentos de vida singulares - embora aprendamos que toda diferena

    ilusria. Fico feliz com aqueles que possam ter lampejos a respeito de seu prprio

    caminho, a partir da leitura deste livro.

    Nosso desejo oferecer um programa simples e aberto. A cura transcende

    normas, regras ou metodologias. Ela se d no ato da entrega, quando abandonamos a

    idia de que sabemos sobre o amor para que simplesmente sejamos amor.

    Sobre o livro Um Curso Em milagres

    H vrios materiais que podem apresentar a histria de Um Curso Em Milagres

    de maneira mais precisa e detalhada que este. De modo geral, ele uma canalizao

    feita por Helen Schucman, com a ajuda de William Thetford, na qual a voz que dita o

    texto se apresenta como Jesus. composto de trs livros: o Livro Texto, o Livro de

    Exerccios e o Manual dos Professores. H ainda dois outros textos, canalizados

    posteriormente: Psicoterapia: propsito, processo e prtica e A cano da orao.

    Aqui vamos nos concentrar na prtica do perdo, apesar de Um Curso Em

    Milagres abarcar muitos outros temas importantes. Escolhemos esse foco com intuito

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    8/86

    8

    de, cada vez mais, experimentarmos liberao em nossa vida cotidiana, embora o

    conhecimento metafsico do Curso tambm nos ajude bastante a compreender a prtica

    do perdo.

    A linguagem usada neste livro de base crist, assim como em Um Curso Em

    Milagres. Entretanto, no o nome que damos s coisas que garante a Presena do

    Amor. Ainda hoje comum eu resistir aos termos cristos. Durante sculos, a religio

    tem sido usada para o controle e para fomentar medo. Assim como eu, acredito que

    alguns leitores possam sentir o mesmo: em seu histrico de vida, receberam supostos

    ensinamentos religiosos, que mais pareciam agressivos ataques liberdade e alegria

    de viver. bvio para todos que a religio, de modo geral, no vem cumprindo o

    propsito a que se prope: comungar, unir, acolher, religar a Deus. Pelo contrrio.Assim como outros empreendimentos, ela tem servido ao ego. Entretanto, condenar a

    religio ou a cristandade tambm fazer um julgamento falso. Sempre que percebermos

    algum tipo de diferena entre ns e os outros, que nos impea de amar, certo que

    tenhamos escolhido a percepo errada. o jogo interminvel de demonizar o que

    parece estar fora de ns, quando, na verdade, somos todos crianas procurando o

    caminho de casa, atravs dos caminhos mais diversos. Padres, bispos, cardeais, pastores,

    freiras, monges; catlicos, evanglicos, espritas, budistas, hindustas, etc, somos todosum s em essncia para alm de nossas diferenas aparentes.

    A cada dia, tenho a impresso de experimentar um pouquinho mais o que a

    palavra perdo significa. Ao longo do tempo que estudo Um Curso Em Milagres, com

    grande curiosidade e dedicao, acreditava captar ser contedo profundamente, mas

    hoje vejo que essa compreenso fruto de uma prtica gradativa, atenta e suave. Antes

    costumava adaptar o contedo do Curso minha prpria interpretao pessoal e meus

    desejos. Por isso, era to mais fcil compreend-lo. Era um encontro com o meu prpriopassado. No queria ouvir o que ele me contava de fato e ainda tenho bastante

    resistncia. s vezes, consigo me abrir e me surpreendo com a magnitude do que est

    sendo apresentado. E a percebo como estava distorcendo o seu contedo a fim de

    adapt-lo ao meu delrio. Neste livro, tentei preservar ao mximo o significado dos

    ensinamentos do Curso.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    9/86

    9

    Em resumo, para aqueles que no tiveram contato com Um Curso Em Milagres,

    compartilho a experincia de que possvel sentir paz. O reencontro com um Deus

    Eternamente Amoroso, ao invs de punitivo e cruel, nos abre caminho para a paz. H

    bastante a fazer no sentido de desobstruir a estrada que leva a esse reencontro. Ns

    mesmos construmos esses impedimentos e, assim, precisamos remov-los. Vamos

    reaprender que nossa tarefa desconstruir uma srie de crenas negativas que temos

    acerca de ns e do mundo. O fato de podermos reassumir a responsabilidade pelo que

    ocorre dentro de nossas mentes nos restaura a conscincia de que podemos escolher

    diferente agora. E, desta vez, escolheremos em nome do amor. Da gentileza, da amizade

    e da ternura.

    Este livro se prope como um convite. E espero que voc o aceite.

    Muita luz, amm.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    10/86

    10

    CAPTULO 1

    PRINCPIOS BSICOS DE UM CURSO EM MILAGRES

    1. Uma questo de identidade

    2. A cura verdadeira

    3. O perdo e a percepo santa

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    11/86

    11

    1. Uma questo de identidade

    Um Curso Em Milagres se baseia na lembrana de nossa verdadeira identidade.

    Neste aspecto, ele muito direto e claro: quem somos ns? Somos Esprito ao invs de

    um corpo. Mas precisamos primeiro compreender o que esses termos significam, pois o

    Curso usa algumas palavras usuais com um sentido diferente do que estamos

    acostumados.

    Em nossa mente, h dois sistemas de pensamento distintos: o sistema de

    pensamento do ego e o sistema de pensamento do Esprito Santo. O Curso nos ensina

    atravs do contraste entre ambos.

    O sistema de pensamento do ego nos informa que somos um eu separado dos

    outros e do universo. Ganhamos um nome e parecemos ter uma identidade singular e

    especfica. Por exemplo, Jos ou Maria. Esse sistema de pensamento se baseia no

    mundo da percepo, representado pelo corpo e pelos sentidos fsicos. Aquilo queparece real o que podemos tocar, cheirar, ouvir, saborear e ver. Existem tambm

    nossas memrias e nossas fantasias, que tambm so constitudas por imagens, cheiros,

    sabores, sons e texturas. A diferena entre aquilo que experimentamos com o corpo, de

    um lado, e nossas fantasias e memrias, do outro, que consideramos, respectivamente,

    uma como vida real e a outra como sonho ou iluso.

    Durante toda a existncia, buscamos viver uma vida boa e evitamos coisas ruins

    segundo nossa escala de valores e preferncias. Neste sentido, passamos boa parte do

    tempo defendendo o ego, este eu separado que consideramos como ns mesmos.

    Precisamos comer, respirar, ganhar dinheiro, evitar doenas, constituir famlia, etc.

    Todas as nossas iniciativas e os nossos pensamentos se ocupam de como podemos ser

    felizes e como podemos evitar o fracasso. A nossa referncia sempre o eu. Se o eu

    estiver bem, ok. Se o eu estiver mal, preciso mudar. Se o eu sentir prazer, ok. Se o

    eu sentir dor, preciso remediar. Acreditamos fortemente que somos este corpo. E,

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    12/86

    12

    assim, preciso defend-lo de todas as ameaas existentes num mundo hostil e

    perigoso.

    Alm de satisfazer as necessidades fsicas aparentes, precisamos conferir status

    nossa prpria imagem pessoal. Talvez esse status venha na forma de umreconhecimento profissional, um casamento bem-sucedido, uma conquista invejvel,

    uma qualidade tica, uma habilidade surpreendente, um prmio honroso, etc. No

    importa a forma que tome, o ego exige uma imagem de sucesso. Pois, como vimos, esse

    sistema de pensamento se baseia exclusivamente na idia de que somos indivduos

    separados dos outros e, ento, devemos parecer mais especiais que eles, a fim de realar

    essa diferena. Existe sempre alguma espcie de comparao, pois o julgamento a

    base desse sistema de pensamento. No intuito de parecermos mais especiais que osoutros, vamos julg-los. Em muitos casos, at agiremos como vtimas para nos

    sentirmos mais especiais.

    O sistema de pensamento do Esprito Santo, porm, nos informa que somos

    Esprito, em essncia. O termo Esprito quer dizer que somos eternos, sem forma,

    para alm do tempo e do espao, perfeita Presena de Amor e unidade com o Todo.

    Essa a nossa verdadeira identidade, no o ego. No Esprito, somos todos Um. No

    existe o meu esprito e o seu esprito. Aquilo a que algumas religies chamam de

    esprito no se aplica aqui: a projeo de qualquer imagem, no mbito fsico ou no,

    uma forma particularizada de ego. O Esprito no se vincula a nada do mundo da

    percepo, onde parece haver seres separados.

    O Esprito Santo vai nos lembrar que esta nossa verdadeira identidade, no o

    ego ou o eu. Ele vai nos ensinar que tudo o que chamamos de vida no passa de um

    sonho da nossa mente. Ao contrrio do ego, que acredita existir alguma diferena entre

    a nossa experincia acordados e o sonho, o Esprito Santo nos ensina que todo o mundo

    da percepo um sonho, inclusive a idia de eu. Qualquer experincia aonde exista

    alguma espcie de separao um mero sonho. como se a mente estivesse dormindo e

    sonhando que algum.

    Nossa verdadeira realidade estar junto a Deus num estado mental para alm de

    qualquer idia de separao. Neste estado, no somos um corpo, nem um ego, nem um

    eu separado. No somos Jos ou Maria. Tambm no existe mundo, universo ou

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    13/86

    13

    qualquer coisa exterior a ns mesmos. No existe nenhuma diferena entre ns e os

    outros, pois estamos unidos em Esprito. E por que, ento, parece to certo que sejamos

    Jos ou Maria?

    Porque em algum momento nfimo da eternidade, nossa mente teve um pequenopensamento de separao, a exemplo de: - como seria se eu fosse separada da minha

    Fonte? Assim, ela comeou a sonhar com um mundo aonde essa separao fosse

    possvel. Entretanto, tudo no passa de um sonho ilusrio. Por isso, a vida no sonho

    to efmera e evanescente, mudando sem parar e culminando na morte. Na verdade, esta

    no a Verdadeira Vida.

    Neste sonho, aonde a separao parece ter ocorrido, o ego vai experimentar o

    sofrimento pela primeira vez, embora o sofrimento seja tambm ilusrio. Quando temos

    conscincia da unio com Deus, impossvel sofrer. Estamos em paz e nos sentimos

    plenos. A vida no ego, contudo, sofrimento, pois essa a nica forma que ele tem

    de se diferenciar de Deus, que absoluta plenitude e ausncia de limite. Para se

    acreditar um eu separado, o ego precisa de um limite. De forma simples, o que nos

    confere um limite: o amor ou a dor? A dor nos avisa que o nosso corpo foi invadido e a

    nossa propriedade est sendo ameaada. No amor, contudo, somente h partilha e

    comunho. Qualquer espcie de limite desaparece.

    fcil observar como o sonho, inventado pelo ego, traz consigo a idia de

    sofrimento. Ele baseado no princpio da escassez, que estabelece a falta como

    fundamento. Basta olhar para a nossa rotina: precisamos comer devido fome, beber

    devido sede, precisamos de algum devido necessidade de companhia, precisamos

    de dinheiro pra comprar objetos ou contratar servios, etc. Nossas aes so todas

    dirigidas para preencher algum tipo de falta que estamos sentindo. E nem sempre essa

    falta precisa se expressar na forma de uma necessidade fsica, mas tambm em

    exemplos como: - eu no sou bom suficiente pra fazer isso; eu no sei fazer as coisas

    direito; eu no sei manter um relacionamento estvel; eu no sou capaz de conseguir um

    emprego, etc.

    Por isso, o Esprito Santo vai nos propor uma maneira de encontrarmos uma

    sada verdadeira para todos os nossos problemas: o perdo, que age no sentido de

    liberar toda a imensa carga de culpa que sentimos diante dos conflitos que estamos

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    14/86

    14

    projetando. Conforme acreditamos na escassez, acabamos atacando o outro - como se

    no existisse o suficiente pra todos, fortalecemos a idia de que s um pode ganhar,

    jamais o conjunto. Toda essa guerra que ocorre dentro de nossa mente guarda uma

    quantidade enorme de culpa inconsciente, pois, no ntimo, meu corao sabe que estou

    atacando o meu irmo, no importa quem seja.

    Toda essa culpa, na verdade, deriva apenas daquele nfimo instante em que

    decidimos nos separar de Deus. Um Curso Em Milagres tem uma forma didtica e

    simblica de descrever esse antigo momento: primeiro, acreditamos que ele de fato

    tenha ocorrido; segundo, comeamos a nos sentir culpados por termos cometido um

    ataque contra Deus, ao nos decidirmos separar Dele; terceiro, comeamos a sentir medo

    de que Ele venha a nos atacar de volta, nos punindo e nos destruindo. Isso o queocorre no nosso inconsciente. Essa a estrutura que carregamos por toda nossa

    existncia, acreditando que estamos separados dos outros, que os estamos atacando e

    que seremos atacados de volta. Embora esse instante parea ter ocorrido h milhares de

    anos, continuamos escolhendo reencen-lo a cada segundo.

    Assim, o perdo desfaz todas essas crenas. Corrige essa percepo equivocada:

    nunca nos separamos de nossa Fonte Infinita, nunca A atacamos, nem nunca seremos

    atacados de volta. Tudo isso foi apenas um pesadelo que sonhamos enquanto

    dormamos sobre o Seu Colo. Continuamos inocentes como sempre. O perdo nos

    oferece a percepo correta de que somos um com a Fonte.

    O Curso prope corrigir nossa percepo baseada no ego, desvelando a

    percepo carinhosa do Esprito Santo que nos aguarda. Ele nos lembra de nossa

    verdadeira identidade. No interior do sonho, a deciso a favor de qual guia seguir

    sempre nossa. No entanto, o Curso absolutamente claro: se decidirmos pelo ego, o

    resultado ser um pesadelo de sofrimento e dor. Podemos crer que haja algum benefcio

    em viver num mundo de separao, mas ele incapaz de nos satisfazer, pois anuvia a

    conscincia de nossa verdadeira identidade eterna, amorosa e imutvel. Conforme nos

    disponibilizamos ao Esprito Santo, Ele age como mediador entre realidade e sonho,

    facilitando um despertar gradual e gentil.

    Neste momento da jornada, ainda temos um enorme medo de Deus, pois receb-

    Lo em toda sua vastido perder qualquer idia de que sejamos um eu separado. Aos

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    15/86

    15

    poucos, vamos reconhecendo por experincia prpria que perder esse eu liberdade e

    descanso. O Esprito Santo nos revela suavemente que Deus quer o nosso abrao, no o

    nosso fim. Ento, sorrimos pra Ele, convidando-O a retornar ao lugar de onde nunca

    saiu: nosso corao.

    Nada real pode ser ameaado.

    Nada irreal existe.

    Nisso est a paz de Deus.

    (T-Introduo, 2:2-4)

    2. A cura verdadeira

    Todos ns estamos precisando de cura. Apegados ao sistema de pensamento do

    ego, confundimos qual a nossa verdadeira identidade e isso j a doena. A cura que o

    Curso prope a correo de nossa percepo sobre quem ns verdadeiramente somos.

    Diferentemente das iniciativas do ego, que buscam curar o corpo por consider-

    lo algo real, o Esprito Santo vem nos ensinar que a cura verdadeira est na mente. Ele

    oferece um caminho definitivo, no maneiras paliativas de aliviar a dor. A cura

    verdadeira se baseia sempre em corrigir a percepo errada, transformando-a na

    percepo correta. Como vimos antes, em nossa mente, temos o poder de escolher entre

    a percepo errada do ego e a percepo correta do Esprito Santo.

    O princpio da doena a crena no corpo como nossa suposta identidade. A

    mente que acreditou que tenha se separado de Deus, comea a sonhar que seja um ego,circunscrito por um corpo, lutando pra sobreviver. Conforme o ego se alimenta da

    culpa, vamos sonhar que o corpo adoece, se degenera, envelhece e morre. Isso parece

    assustador, caso de fato nos identifiquemos com o corpo, como se ele fosse nosso

    verdadeiro ser. Neste sentido, o ego deseja a vulnerabilidade, j que precisa provar que

    o corpo de fato exista.

    A origem da doena a culpa. Fica fcil ver como qualquer tipo de escassez

    um castigo contra si mesmo e contra os outros. Quem sofre se maltrata e acusa o

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    16/86

    16

    mundo. A doena sempre envolve algum grau de julgamento e acusao. Assim, ela

    um libi com intuito de demonstrar que algo fora est me atacando e eu no tenho culpa.

    Pareo vtima de um ataque externo, embora o ataque venha de minha prpria mente.

    Ele pode parecer vir de um vrus, uma bactria, uma pane misteriosa do organismo.

    Pode parecer vir na forma de uma dificuldade em ganhar dinheiro, encontrar um

    parceiro, realizar-se no trabalho, amar a famlia, etc. Tudo isso d consistncia ao ego,

    uma vez que agora parece haver a realidade de algo fora (o universo) e de algo dentro

    (o eu). Neste sentido, o ego aliado da doena, pois ela o ajuda a persuadir que o

    corpo seja real.

    Todas as solues a favor da cura, propostas pelo ego, so baseadas no medo e

    na reparao do corpo. Assim, elas apenas reforam a causa da doena, embora de fatopaream ameniz-la. Nosso ego pode ser to sutil que mascara o fato de que sua

    proposta de cura s a afirmao da doena. Se a cura verdadeira corrigir nossa

    percepo errada de que sejamos um corpo, como poderia a cura confirmar o corpo

    como nossa prpria identidade? Isso o oposto da cura. Ainda sim, o Esprito Santo vai

    atuar de maneira gradual e gentil, at onde podemos aceitar Sua ajuda sem medo. Nem

    sempre estamos dispostos a abrir mo da idia de que sejamos um corpo, ento Ele nos

    acompanhar nos passos que estejamos dispostos a dar, nos ensinando atravs do amor,nunca atravs do sacrifcio.

    Ele vai nos lembrar que toda doena mental. O corpo no tem absolutamente

    nenhum poder de deciso, exceto a mente. A verdadeira cura a correo da percepo

    errada dentro da mente. Comeamos a caminhar para a cura no instante em que

    iniciamos o processo de lembrana de nossa verdadeira identidade, como Esprito. S

    em pesadelos, poderamos sonhar com a idia de que ramos um corpo frgil, indefeso e

    vulnervel a toda espcie de agonias. Mas isso no real. Nossa realidade est em Deus.Assim como Ele, somos eternos, invulnerveis, amorosos, imutveis, perfeitos e plenos.

    Essa a nossa verdadeira segurana.

    Ns, estudantes do Curso, podemos passar muitos anos tentando fazer alguma

    transigncia ou algum acordo entre a cura da mente e a cura do corpo. Conforme nosso

    apego ao ego grande, costumamos comear nossa jornada de cura acreditando que o

    objetivo final seja curar o corpo, como, por exemplo, erradicar doenas ou extinguir

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    17/86

    17

    todos os problemas do nosso enredo. Mas isso impossvel, caso no curemos a

    verdadeira causa da doena: sem a percepo correta a respeito de quem realmente

    somos, no podemos ter resultados definitivos. Sim, possvel curar o corpo por

    algum tempo no interior do sonho. Vemos isso atravs dos avanos da medicina clssica

    ou espiritual. Entretanto, esse tipo de cura no dura, pois a mente no curou a causa

    da doena e, cedo ou tarde, ela tende a voltar. Sua causa a absurda crena de que haja

    algum valor na dor.

    O processo de cura verdadeira pedir ajuda ao Esprito Santo para lembrarmos

    quem verdadeiramente somos. De fato, no somos um corpo, exceto em pesadelos de

    dor e misria. Enquanto acreditarmos nisso, quase no vamos perceber que uma parte de

    ns deseja a doena. Como o corpo poderia parecer ser real sem ela? Sem o limite? Sema fora da gravidade? Sem a morte? O ego precisa usar o sofrimento pra nos convencer

    de que sejamos um corpo e esconder todo o fardo de culpa que carregamos em segredo.

    Mas qualquer sonho aonde ocorra mudanas de qualquer ordem uma iluso. O nosso

    Ser no est aprisionado em nada transitrio, instvel e voltil, tampouco limitado por

    sentimentos de culpa, medo e carncia.

    O processo de cura verdadeira nos traz inocncia e impecabilidade. O caminho

    do Esprito Santo nos despertar do sonho gentilmente atravs da liberao da culpa.

    Jamais houve pecado, nem atacamos Deus, exceto num pesadelo. No precisamos sentir

    culpa pelo que no aconteceu. De modo idntico, ningum nunca nos atacou tambm.

    Apenas estivemos sonhando um enredo de guerra, assassinato e morte. Ningum precisa

    pagar por um sonho ingnuo como esses. Tudo que se precisa fazer corrigir a

    percepo, expondo o sonho tal como : um mero sonho.

    Nenhuma iluso pode ameaar a realidade de que continuamos no colo de Deus,

    como sempre. Ele nunca nos expulsou do Paraso. Ns nunca O abandonamos. Nosso

    querido vnculo continua puro e total. impossvel que jamais tenha existido alguma

    mcula entre Ns. Essa lembrana nos faz ir para alm de qualquer idia de doena ou

    sade, que se baseie no corpo como referncia.

    3. O perdo e a percepo santa

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    18/86

    18

    O perdo o meio de cura proposto pelo Esprito Santo. Age de modo muito

    simples: se toda doena se origina da culpa, o perdo o gesto capaz de liber-la. No

    importa qual a forma que a doena assuma, qualquer espcie de escassez se origina daausncia de perdo, que pode se expressar em problemas fsicos, profissionais,

    financeiros, afetivos, familiares, conjugais, etc.

    O Esprito Santo vai utilizar tudo que o ego forjou a favor do milagre, que

    acontece quando trocamos a percepo errada pela percepo santa. Deste modo, Ele

    vai nos ajudar a perdoar tudo o que estvamos condenando antes. Conforme

    acreditamos que exista algum fora de ns, Ele vai nos lembrar de que, como vemos o

    outro, vemos a ns mesmos. No momento que liberamos o mundo de toda carga de

    culpa, ficamos livres tambm. Ao contrrio, sempre que julgamos algum como

    causador de nosso sofrimento, estamos considerando que tambm podemos ser o

    causador do sofrimento de algum. Essa idia implica que devamos ser perigosos,

    ameaadores e perversos, justificando toda a culpa que sentimos, manifesta em

    problemas, conflitos, doenas ou dificuldades.

    H alguns estgios que precisamos compreender no que diz respeito didtica

    do Curso. Primeiro, num instante nfimo e antigo, nossa mente desejou se separar de

    Deus, que nossa perfeita e absoluta plenitude. Como se separar de Deus impossvel,

    nossa mente precisou adormecer e sonhar. Segundo, nossa mente se dividiu em trs

    instncias: o tomador de deciso, o ego e o Esprito Santo. Terceiro, nossa mente se

    identificou fortemente com o ego, que lanou mo de vrios mecanismos de defesa

    contra a conscincia da natureza ilusria do sonho e da nossa verdadeira identidade,

    relegando, assim, o Esprito Santo a uma voz quase inaudvel.

    O tomador de deciso a instncia que decide tudo o que vai ocorrer no roteiro

    do sonho e tambm qual guia devemos seguir. Ele definiu todo o roteiro do filme, de

    maneira que o sonho j foi sonhado e j aconteceu, embora o experimentemos de

    maneira linear. Essa instncia, de modo geral, nos inconsciente. Na maioria das vezes,

    ns nos preocupamos exclusivamente com o roteiro do sonho, quando, na verdade, ele

    j foi escrito. Isso no significa que no exista a possibilidade de mudana do roteiro do

    filme, mas que todas as mudanas possveis no roteiro j ocorreram tambm. E todas

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    19/86

    19

    essas mudanas do roteiro carregam consigo a dualidade (prazer e dor, alegria e tristeza,

    sucesso ou fracasso, etc.). Enquanto houver alguma identificao de nossa parte com o

    corpo, a conseqncia ser experimentarmos resultados ambguos. Ora vamos estar

    alegres, ora tristes, ora satisfeitos, ora insatisfeitos, etc.

    O ego, como j vimos, a instncia da mente que acredita num eu separado.

    Essa crena faz nascer todo o mundo da percepo, na verdade, um sonho ilusrio,

    onde parecem existir seres e objetos separados. Este universo o palco da culpa, do

    medo e da raiva, pois seu principio bsico o princpio da escassez. Parece no haver

    suficiente pra todos: comida, dinheiro, afeto, oportunidades, petrleo, etc. No importa

    a forma que o ego assuma para simbolizar a falta, ela vai estar l, pois ele a quer

    exatamente ali. Sem ela, o ego no pode existir, pois a falta o limite que o ego precisapra existir. Na ausncia de falta, nosso ego desaparece.

    OEspritoSanto a nossa lembrana de Deus, que nos fica guardada pra sempre

    at o instante de nos abrirmos pra ela. Quando nossa mente se pensou separada de Deus,

    esse pensamento foi corrigido de imediato pelo Esprito Santo, a resposta de Deus para

    a crena na separao. Neste aspecto, o Esprito Santo um mediador entre o sonho e a

    realidade. Ele nos ajuda a realizar o caminho de volta pra casa. Utiliza os nossos

    smbolos de medo e os transforma em smbolos de perdo.

    No mundo da percepo, o Esprito Santo nos ajuda a transformar nossos

    relacionamentos especiais, enraizados no dio especial e no amor especial. Esses

    relacionamentos partem da idia de que algum tenha o poder de nos destruir, no caso

    do dio especial, ou o poder de nos fazer plenos, no caso do amor especial. Em ambos

    os casos, existe um forte apelo crena na separao, pois algum fora parece ter o

    poder de nos ferir ou a capacidade de nos completar. H uma tendncia a considerar

    que o outro possui algo que nos falta e, assim, tanto no dio especial, quanto no amor

    especial, precisamos ter raiva do outro. Ele tem a obrigao de nos dar o que nos falta,

    caso contrrio, jamais pode ser amado por ns. Claro que isso no amor, pois o

    Amor Verdadeiro no estabelece restries ou limites. J no relacionamento santo,

    compreendemos, com a ajuda do Esprito Santo, que o outro traz a chave da nossa cura

    e ns lhe trazemos a dele. S podemos voltar pra casa juntos e qualquer idia de

    separao entre ns apenas adia o milagre. Como podemos deixar de amar aquele que

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    20/86

    20

    veio nos curar? S podemos sentir gratido. Esse relacionamento santo a cura do

    relacionamento especial.

    A cura, portanto, no tem a ver com a forma do relacionamento, mas com o

    propsito que estabelecemos pra ele. O propsito do ego se baseia em interessesseparados e exclusivistas. Ele no considera a possibilidade de ser feliz em conjunto,

    ento, v o outro como um adversrio. J o propsito do Esprito Santo se baseia em

    interesses compartilhados, nos ensinando que a nica ddiva real a comunho.

    Com o tempo, vamos compreendendo que a maior parte de nossa culpa

    inconsciente, de maneira que no podemos perceb-la. Ela se manifesta nos nossos

    relacionamentos especiais na forma de sintomas, problemas ou situaes desagradveis.

    Nosso ego vai nos dizer que a culpa do mundo, mas o Esprito Santo vai nos lembrar

    que nada acontece por acaso sem nossa vontade ou consentimento. Se qualquer episdio

    desagradvel acontecer no nosso enredo, certo que o tenhamos pedido pra acontecer,

    com base na nossa culpa inconsciente. Nosso tomador de decises j o havia escolhido,

    embora essa escolha no se apresente a ns de maneira consciente. Entretanto, temos o

    poder de escolher o modo com o qual olhamos pros acontecimentos, decidindo a favor

    do ego ou do Esprito Santo. Neste momento, escolhemos entre sofrimento e alegria,

    respectivamente.

    O milagre acontece quando o perdo desarma uma percepo de julgamento,

    transformando-a numa ddiva. O enredo do filme j foi escrito e filmado, mas podemos

    escolher v-lo pela tica do Esprito Santo ao invs da do ego. Isso nos vai liberando de

    toda nossa culpa inconsciente, que nos fez projetar um pesadelo, transformando-o num

    sonho feliz. Esse o atalho do Esprito Santo.

    A escolha a favor da percepo santa nos abre caminho para o despertar suave egradual. Quando conclumos nossas lies de perdo, todo resduo de culpa liberado e,

    assim, retiramos todas as barreiras contra a Presena do Amor. Neste momento,

    decidimos aceitar a nossa identidade iluminada, junto ao poder de nossa mente de

    projetar smbolos de perdo e ddivas de amor.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    21/86

    21

    CAPTULO 2

    O CAMINHO PARA A CURA

    1. Nosso destino final Deus.2. Somos mente ao invs de corpo.3. No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo.

    4.

    A cura comea com o perdo.

    5. Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    22/86

    22

    1) Nosso destino final Deus.

    Deus a nossa natureza original, a nossa essncia. Quando compreendermos enfim

    que no somos o ego, perceberemos a ns mesmos apenas como Presena de Amor,

    eterna, sem forma, infinita. Mas, no meio da estrada para a cura, vamos ter apenas

    alguns vislumbres do que a nossa essncia. O Esprito Santo vai nos propiciar bons

    lampejos da nossa verdadeira identidade, livre e plena, contudo ainda vamos ter grande

    dificuldade em abrir mo do ego e da noo de que sejamos um corpo separado. Assim,

    esses lampejos sero breves. No entanto, eles sero fortes o suficiente para nos fazer

    iniciar o processo de cura.

    Estar com Deus uma experincia direta, pois est alm do campo intelectual,

    verbal ou simblico; vivida totalmente de vez, sem gradaes ou matizes. Por isso, o

    Curso nos diz que Deus conhecido atravs da revelao direta. Estar com Ele

    tambm uma experincia universal, pois est no corao de todos os seres, sem exceo,

    uma vez que Ele a nossa essncia. Assim, Ele est disponvel pra todos, a toda hora e

    em todo lugar, ultrapassando nomes, conceitos, crenas, culturas, contextos ou

    ideologias. Transcende o tempo, o espao e a forma. Ele simplesmente .

    Uma teologia universal impossvel, mas uma experincia universal no s

    possvel como necessria. para essa experincia que o curso est dirigido (E-

    Introduo, 2: 5-6).

    Quando falamos de Deus e do amor a que Ele est associado, estes so apenas

    nomes que damos a uma experincia inominvel. Deus no um conceito, tampouco

    uma palavra, de maneira que pouco importa como O chamamos. A experincia direta

    atravs da qual nos lembramos eternos, sem forma, infinitos, plenos e amorosos nos

    leva memria de quem somos.

    Deus desconhece restries pelo simples fato de que desconhece a diferena. Ele

    no v o corpo ou o ego, que se baseiam na idia de separao. Como ele poderia ver

    diferena se Nele somos todos um? Essa igualdade total s pode ocorrer numa dimenso

    para alm da forma, do tempo e do espao. Para alm do corpo e do ego, somos paz e

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    23/86

    23

    comunho absoluta. Por isso, enquanto nos percebermos como um indivduo,

    negaremos a percepo de que sejamos um com Deus.

    Deus a Causa. Assim, chamado de Pai, a Fonte Causadora da Vida. Ns, o Filho

    de Deus, somos o Seu Efeito. Somos idnticos ao nosso Pai, mas isso no quer dizer quesejamos idnticos na forma, sim em essncia. Ele no tem forma, pois infinito. Como

    vimos, o mundo da percepo, onde parecem haver formas diferentes umas das outras,

    apenas um sonho do Filho de Deus. A natureza de Deus est para alm deste mundo.

    Deus total. No posso senti-Lo se estabeleo limites. Neste sentido, no h meio

    termo. Ao limitar, porque j me decidi pelo ego e renunciei conscincia do Amor de

    Deus. Entretanto, Ele jamais se vinga. Permanece sempre disponvel, mesmo que

    escolhamos o ego, turvando a percepo de que Ele esteja conosco. Nunca nos pune ou

    exige o nosso sacrifcio. O poder de aceit-Lo ou neg-Lo absolutamente nosso.

    Em suma, por mais que tentemos descrev-Lo, no mximo, apontamos para Ele,

    mas a Sua definio impossvel: palavras so smbolos e Deus uma experincia

    direta e real.

    No busques o teu Ser em smbolos. No pode existir nenhum conceito para

    representar o que tu s. (T-31, V, 15:1-2).

    2) Somos mente ao invs de corpo

    Em princpio, precisamos compreender que no existe nenhum mundo l fora.

    Eu, assim como qualquer um, no sou um corpo, mas uma mente. Precisamos

    distinguir os trs nveis diferentes apresentados pelo Curso: Esprito, mente e corpo. O

    Esprito nossa verdadeira identidade eterna, infinita, imutvel e unida a Deus como

    Cristo. A mente o nvel aonde exercitamos a escolha de nos percebermos unos com

    Deus ou nos percebermos separados Dele - gerando, assim, um sonho onde aparentamos

    ser um eu diferente dos outros. O corpo apenas uma projeo da mente identificada

    com o ego, a fim de simbolizar a separao. O corpo incapaz de escolha e tudo que lhe

    ocorre vem da mente. Alm disso, a mente no a mesma coisa que o crebro, segundo

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    24/86

    24

    Um Curso Em Milagres. Ela no est restrita ao crebro. ela que projeta todo o

    mundo da percepo: o universo, os outros corpos, o organismo, etc. O crebro apenas

    recebe os comandos que a mente lhe fornece.

    Como sou uma mente, no h nada exterior a mim mesmo, embora a percepoinsista em dizer que sou um corpo. A identificao com o ego tenta nos convencer de

    que existe um mundo l fora, com leis prprias, autnomas e irreversveis. Parecemos

    ser espectadores das leis desse mundo, que estava aqui bem antes de termos nascido.

    Essa a grande farsa, que precisamos desconstruir. O mundo no existe. Ele

    apenas uma projeo mental, semelhante projeo de um filme numa tela de cinema.

    A nossa mente inventou o mundo, no o contrrio. Assim como o mundo l fora no

    existe, o ego tambm no existe. Aquilo que chamamos de eu tambm se trata de uma

    fico. Somos uma mente, no um corpo.

    Neste sentido, tudo que acontece no mundo est acontecendo dentro da nossa

    prpria mente e no devemos culpar ningum fora. o filme que nossa mente est

    projetando. nossa escolha. No h nada fora nos forando a escolher o que

    escolhemos ver. A estratgia do ego exatamente esconder que o poder de escolha da

    mente. Pois, se isso ficar claro, ns nos reconhecemos mente, no ego e, assim,

    estamos livres.

    Na verdade, essa a nossa grande crise. Quando assumimos a responsabilidade pelo

    mundo que vemos, reconhecemos que toda guerra interior. Isso pode gerar duas

    reaes distintas: um sentimento de culpa to grande que preciso negar que esse fato

    seja verdade (mantendo o mesmo ciclo de procurar culpados enquanto sou a aparente

    vtima de tudo) ou reconhecer o imenso poder que tenho de modificar o contedo de

    minha prpria mente, conforme decido pelo ego ou pelo Esprito Santo.

    Mais uma vez, no existe nada l fora. um truque do ego: simular um universo

    com leis autnomas sobre o corpo, que, por sua vez, tenta adaptar-se da melhor maneira

    possvel.

    Quando tenho um problema, costumo buscar a chave de sua soluo fora. Isso

    satisfaz ao ego, que no quer a soluo. Se quero resolver algum problema, a primeira

    coisa que devo fazer me voltar para dentro da mente. Ela criou o problema e ela pode

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    25/86

    25

    solucion-lo, pois tanto o problema quanto a soluo no existem so projees

    mentais. A busca pela soluo do lado de fora sempre infrtil. Quando busco fora,

    acredito que o ego seja real e que o universo tambm. Acredito que o mundo me

    contenha e que sou um corpo. E agora no existe soluo. Pareo no ter escolha, nem

    poder de deciso.

    Entretanto, quando estou consciente do quanto os meus pensamentos podem

    modificar a percepo que tenho do mundo, comeo a entender que o problema e a

    soluo so apenas projees mentais. Decido aquilo que acontece no interior da minha

    mente. Ningum mais pode fazer isso por mim. Eu sou responsvel, no mais ningum.

    No sentido oposto, o ego nos tenta convencer do contrrio. Porque ele precisa nos

    persuadir de que somos um corpo, no uma mente. S num corpo, ele pode ser vtimado mundo. Quando me reconheo mente, entretanto, no posso ser vtima: sou o diretor

    do meu prprio filme. Sou aquele quem decide acerca de qual professor deve me

    ensinar sobre o roteiro de minha existncia: o ego ou o Esprito Santo.

    Comeo a compreender que no h nada pra consertar do lado de fora. A nica

    coisa que preciso corrigir minha prpria percepo do mundo. Se rejeito, acuso ou

    condeno, o que h dentro de minha prpria mente que no consigo aceitar? Que

    justificativa estou usando pra expulsar o dio que sinto e pra blasfemar os outros?

    Nosso ego pode ser muito convincente em justificar o ataque aos outros.

    Aquilo que a minha mente j contm o que vejo, no o contrrio. Mais uma vez, o

    mundo l fora no existe. Eu sou o nico que pode escolher entre a percepo

    equivocada do ego e a percepo correta do Esprito Santo. No sou um corpo, sim uma

    mente. E, assim, posso escolher aquilo que vejo.

    Nossa tarefa desconstruir a idia de que sejamos um corpo ao invs de umamente. No primeiro caso, nos consideramos um indivduo separado dos outros. No

    segundo caso, nos consideramos uma mente unida aos outros, o que implica dizer que

    somos um. Por incrvel que parea, percebemos que temos uma enorme resistncia em

    desconstruir a idia de que sejamos um indivduo. H um desejo secreto de sermos

    separados, a fim de que nos sintamos mais especiais.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    26/86

    26

    3) No sabemos curar. Precisamos da ajuda do Esprito Santo.

    Nossas tcnicas, crenas, teorias, modelos ou mtodos no so capazes de nos curar.

    Todas elas se baseiam numa tentativa de reparar alguma falta que o ego sente. Por isso,

    se quisermos a cura, precisamos antes reconhecer que no sabemos curar. Caso

    contrrio, j o teramos feito. quando damos conta de que no sabemos como curar

    que a cura pode acontecer.

    No cometas o equvoco de acreditar que compreendes o que percebes, pois o seu

    significado est perdido para ti. (...) Enquanto pensares que conheces o seu significado,

    no vers necessidade de perguntar isso a Ele [Esprito Santo]. (T-11, VIII, 2:3 e 5 chaves nossas).

    A cura est diretamente associada ao perdo. No mundo dual, o apego ao ego gera

    doena e a entrega ao Esprito Santo promove cura. Neste sentido, podemos at dizer

    que a doena uma iluso, j que o ego tambm . Por outro lado, a disponibilidade

    para o perdo a cura. como um fluxo de amor que, quando no interrompido,

    transborda livremente. A dor ou o conflito, contudo, so sinais de que o amor foi

    interrompido. Contudo, bom lembrar que o verdadeiro lugar da cura a mente e,

    assim, ela transcende a idia de um corpo saudvel ou doente.

    Podemos brincar com as palavras e dizer que a cura o oposto da culpa. Estamos

    presos crena no pecado, mesmo se expressa em contedos religiosos, jurdicos,

    normativos ou morais. No importa: o que fazemos parece errado, esprio, nojento e,

    em conseqncia, passvel de punio. O ego adora se punir e tambm punir aos outros.

    Esse o comeo da doena.

    Como a doena incomoda, procuramos remdios ou solues exteriores. O

    problema que procuramos a cura a partir da perspectiva do ego, que o fomentador da

    doena e seu fiel protetor. Essa busca infrtil tambm se apresenta de maneiras muito

    diversas: seguir uma rigorosa ritualstica espiritual, pagar promessas, aferrar-se a

    crenas, criar teorias, fazer mandingas enfim, lanar mo de uma srie de mgicas.

    Na verdade, no sabemos o caminho da cura. Se soubssemos, no estvamos

    sofrendo. O Esprito Santo dirige a cura e tudo que podemos fazer Lhe entregar nossa

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    27/86

    27

    pequena disponibilidade. Ele nos ensina uma percepo bem mais generosa de ns

    mesmos e dos outros. Ele tem a chave para liberar o fluxo interrompido, que se

    transformou em dor devido nossa luta contra aquilo que natural.

    A senha, portanto, pra cura assumir: - eu no sei curar. assim que damos espaopara o Esprito Santo agir e liberar todos os ns que pareciam impossveis de desatar.

    Seu trabalho sempre no sentido de nos lembrar de que no somos um indivduo.

    Quanto mais apegados idia de que somos um individuo, mais adoecemos. Diluindo o

    ego, o processo de cura comea.

    4) A cura comea com o perdo.

    Todo conflito s pode existir aonde no houve perdo. Mais uma vez, a palavra

    perdo no tem substncia alguma o que importa o sentimento de liberao que

    nasce diante daquilo que parecia um problema. O perdo, de que falamos aqui, no tem

    nada a ver com moralidade, sim com uma deciso mental de escolher a inocncia ao

    invs do julgamento.

    A mente que projeta o conflito contm o conflito. Tudo o que ns percebemos est

    no interior da nossa mente e, portanto, torna-se algo nosso. O perdo fundamental

    por isso. O conflito jamais est fora. No adianta afastar-se do problema, como se ele

    estivesse fora.

    Em geral, aquilo que no perdoamos algum aspecto de nosso enredo pessoal que

    precisa ser integrado. Esse aspecto excludo, representado por uma pessoa ou um

    episdio especfico, precisa encontrar um lugar no nosso corao; caso contrrio, insiste

    na forma de um problema repetitivo, que reaparece de tempos em tempos, com apenas

    uma roupagem diferente.

    Como dissemos, no somos um corpo ou um ego, sim uma mente. Nada

    preciso fazer no plano externo. Tudo acontece dentro. Aquele que vejo como causador

    do sofrimento apenas uma projeo mental minha. Eu o vejo assim porque preciso de

    algum para culpar pela minha prpria infelicidade. esse sofrimento que me confere

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    28/86

    28

    uma identidade: uma sensao de que o meu ego existe. Sem sofrimento, o ego no tem

    do que se queixar e desaparece. Sem o sofrimento, redescubro que no sou um

    indivduo, tampouco um corpo.

    Como a nossa mente ainda est apegada a padres negativos de culpa e medo,precisamos eleger pessoas no nosso enredo pessoal, a fim de lanar-lhes a

    responsabilidade por nosso sofrimento. Mas isso s um truque do ego. Ele pensa que,

    se jogar a culpa pra fora, vai livrar-se dela. A questo que ns no somos um corpo e,

    ento, no existe fora. Ao lanar a culpa pra fora, o ego no faz nada alm de

    identificar-se com a culpa, pois a mantm dentro da mente. Culpar algum fora ou a si

    prprio d no mesmo. A culpa continua no mesmo lugar: na mente. Por isso, o perdo

    atua como cura dentro da mente. Desfaz os pensamentos de ataque que eu tinha arespeito daquela pessoa ou situao. Se vejo algum tipo de conflito, na mente que ele

    precisa ser resolvido. E, tambm dentro da mente, o conflito encontra uma soluo.

    5) Atravs do perdo, preparamos a mente para o sonho feliz.

    O perdo facilita a aurora de um sonho feliz. Um filme mais suave e alegre. Pelo ato

    do perdo, liberamos a culpa e passamos a ver o divino. Muitas vezes aforma do sonho

    no importa, mas o contedo do sonho se transforma em flor.

    Em primeiro lugar, tu vais sonhar com paz e ento despertars para ela. A tua

    primeira troca do que fizeste pelo que queres a troca dos pesadelos por sonhos felizes

    de amor. (T-13, VII, 9:1-2).

    Como j vimos, todo o mundo a que chamamos de mundo real apenas um

    sonho, assim como tambm a noo de um eu separado. Nossa realidade estar unido

    a Deus, numa dimenso eterna, sem forma, imutvel, infinita e para sempre amorosa.

    Enquanto ainda nos identificarmos com um ego, como se fossemos um indivduo

    diferente dos outros, nossa mente estar adormecendo e sonhando. Neste aspecto,

    podemos sonhar um pesadelo, cujo enredo nos aparece cheio de dio e medo, ou

    podemos sonhar um sonho feliz, cujo enredo se apresenta como uma oportunidade de

    perdo e partilha.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    29/86

    29

    Nossa tarefa, ento, inocentar toda espcie de vida. Um trabalho firme e motivado

    no sentido de des-culpabilizar o mundo. Observando nosso apego ao ego e que

    conseqncias ele nos tem reservado, comeamos a compreender de onde vem a dor.

    Nosso maior apego talvez seja esse insistente jogo de vitimizao, ao qual parecemos

    estar submetidos sem poder de escolha e que, no inconsciente, temos um estranho

    prazer em jogar. Parece haver uma parte de ns que se deleita com os problemas e

    orgulha-se da dor. Pois a dor o estandarte que ego carrega como triunfo sobre Deus.

    O sonho feliz significa que iniciamos o processo de desconstruir a idia de que

    sejamos um corpo, um ego ou um indivduo separado. O resultado disso que nos

    abrimos para uma percepo mais vasta de ns mesmos e do universo. O Esprito Santo

    recebe de ns carta branca pra atuar na nossa mente, ajudando-nos a remover osbloqueios conscincia da Presena do Amor. E suavemente vamosrelembrando nossa

    verdadeira identidade eterna e plena.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    30/86

    30

    CAPTULO 3

    12 GESTOS PARA O AMOR

    1. Acolher

    2. Ouvir

    3. Observar o problema

    4. Observar a soluo

    5. Assumir a escolha

    6. Perdoar

    7. Aceitar o merecimento

    8. Re-interpretar o enredo

    9. Sonhar feliz

    10. Ouvir a Voz do Esprito

    11. Entregar tudo ao Esprito Santo

    12. Amar

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    31/86

    31

    1) Acolher

    Todos ns queremos colo. Em algum nvel, nos sentimos rejeitados, excludos ou

    estrangeiros. Entretanto, quando buscamos colo, pressupomos que seremos atacados,

    como diversas vezespareceu acontecer em nossa existncia. Logo, estamos em dvida

    quanto a nos abrirmos. H inmeras fantasias de que, se revelarmos como nos sentimos

    no ntimo, seremos julgados e punidos. No podemos compartilhar aquilo que nos aflige

    nem aquilo que desejamos profundamente, pois prevemos que seremos crucificados.

    Ento, o medo cala o nosso corao.

    O primeiro gesto para a cura cultivar um espao de confiana onde possamosamolecer as defesas e nos abrirmos outra vez. De modo geral, nos achamos diante de

    um jri, mesmo que interno. como no mito do julgamento final: o deus vingativo

    condena cada defeito impuro do seu filho, com uma lista detalhada de todos os seus

    pecados, embora Deus jamais possa faz-lo. Assim, diante de um juiz, no diante de um

    amigo, como podemos nos abrir?

    Quem confia em algum relacionamento j realiza um avano sem precedentes.

    Pode ser um relacionamento com qualquer pessoa: famlia, terapeuta, cnjuge, amigo,

    colega de trabalho, animal de estimao, etc. Parece pouco, porque o nosso ego avalia

    os grandes avanos pelo sensacionalismo e pelo estrondo. O fato de iniciarmos uma

    relao com algum, orientada pela inocncia, no pelo medo ou pela condenao,

    uma enorme mudana na maneira de se relacionar. uma verdadeira revoluo.

    Esse primeiro gesto decisivo para o incio da cura. Pode ser adiado no tempo,

    mas sem ele o processo no acontece. Todos ns precisamos de um olhar de ternura

    para que comecemos a lembrar quem somos. Parecemos presos a problemas. Estamos

    sentindo medo. Num relacionamento baseado na confiana, porm, temos a chance de

    lembrar que tudo isso pode ser diferente. O acolhimento, portanto, nos recorda que

    existe um jeito amigo e calmo de se relacionar com o mundo. E isso no demonstrado

    em palavras, sim no corao do prprio relacionamento. Simplesmente aceitamos que

    tanto eu quanto o outro somos Deus, embora tenhamos esquecido. Em essncia, j

    somos perfeitos. Acolher permitir o repouso e a naturalidade. Ento, ns nos sentimos

    queridos, amados, aquecidos. Tambm desenvolvemos um grande sentimento de

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    32/86

    32

    aceitao por ns mesmos e pelos outros, estabelecendo um relacionamento carinhoso

    com o mundo.

    Num mbito didtico, interessante pensarmos em dois tipos de relacionamento

    que proporcionam acolhimento, embora eles sejam o mesmo em essncia. O primeiro o nosso relacionamento direto com Deus, que a Fonte Infinita de Amor, enquanto

    todas as outras fontes aparentes so efmeras. Este colo que todos buscamos, no ntimo,

    o colo de Deus. O segundo o relacionamento com o outro, que, neste mundo, o

    meio para alcanarmos Deus.

    No nosso relacionamento com Deus, ns nos voltamos para um espao interior

    vasto e infinito. O Manual dos Professores, do Curso, at nos sugere que reservemos um

    perodo breve dedicado comunicao com o Esprito Santo pela manh e outro noite.

    Esses pequenos vislumbres de como ser embalado no colo de Deus agem como um

    abrao caloroso que proporciona alegria, paz e afeto. Neste instante, ns nos sentimos

    verdadeiramente amados e nosso corao transborda com o desejo de repassar esse

    amor a quem nos rodeia. Para tal, necessrio que nos disponibilizemos pra experincia

    de que somos para alm do corpo e do ego. Encontramos dentro de ns o altar onde nos

    reconhecemos eternos, imutveis e infinitos. Redescobrimos nossa ligao permanente

    com a Matriz da Vida. Temos o lampejo de que somos um com o Todo. O Esprito

    Santo e Jesus podem nos ajudar bastante nestes momentos de recolhimento.

    J dentro do sonho, o nosso relacionamento com o outro o atalho para o

    reencontro com Deus. Conforme acreditamos que somos corpos separados, um vnculo

    amoroso com o outro re-integra algo que parecia separado. Esse relacionamento santo

    no porque nos vemos como dois corpos separados, mas sim porque nele reside a fora

    de nossa unio de propsito, que ocorre no nvel da mente. Apenas juntos podemos

    lembrar que somos Um. Deus o encontro entre dois irmos. Por isso, o Curso sempre

    nos ensina que o templo do Esprito Santo um relacionamento. Estendendo a mo para

    algum, estendo a mo pra Deus e, ento, recebo a ajuda que pareo dar. O interessante

    de um relacionamento que ele pode nos revelar toda a nossa prpria culpa

    inconsciente, projetada sobre o outro. Em momentos de contemplao ou recolhimento

    nem sempre essa culpa se torna manifesta.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    33/86

    33

    Antes de podermos acolher qualquer um, precisamos nos sentir plenamente

    amados por Deus, que nunca deixou de nos amar, embora tenhamos esquecido. Essa

    lembrana de que sejamos sem forma, sem tempo e sem espao nos traz a conscincia

    de que o sonho uma iluso e de qual o nosso verdadeiro lar.

    Um Filho de Deus s feliz quando sabe que est com Deus. Esse o nico

    ambiente em que ele no vivenciar tenso, porque o seu lugar. tambm o nico

    ambiente digno dele, porque seu prprio valor est alm de qualquer coisa que ele possa

    fazer. (T-7, XI, 2: 6-8).

    Esse o nico colo perfeito. Entretanto, o reencontro definitivo com Deus est

    no fim da jornada, no momento em que conclumos nossas lies de perdo. Durante o

    processo de cura, o Esprito Santo lembrar que nosso valor no depende daquilo que

    fazemos ou conquistamos. Este o sentido de: seu prprio valor [do Filho de Deus]

    est alm de qualquer coisa que ele possa fazer. Nossa natureza sem forma, estvel,

    eterna e inocente garante o nosso valor real, independentemente dos graus de

    especialismo que o ego possa inventar.

    No so as coisas fora que podem nos acolher, mas o fato de as entregarmos

    conduo do Esprito Santo. Neste mundo, podemos fluir com Ele ao caminhar, comer,

    fazer amor, jogar bola, viajar, trabalhar, conversar, etc. No a atividade em si que

    garante o vnculo, contudo a disponibilidade para senti-Lo. Todas as atividades so

    ilusrias, mas o seu contedo de amor pode ser real, caso peamos a ajuda Dele.

    Esse acolhimento, portanto, uma mera extenso do Amor do Cu. De repente,

    o Amor nos chega at alcanar quem nos rodeia. Ou mesmo, vemos o Amor em quem

    nos rodeia e Ele nos toca. No somos corpos, sim uma mente unificada; portanto, no

    importa de onde o Amor parea ter vindo, pois Ele sempre vem da mesma Fonte.

    Aceit-Lo talvez seja o nosso gesto mais generoso. Racionalmente parece bvio

    e fcil. Mas o nvel de culpa e medo em nossa mente ainda to grande que achamos

    no merec-Lo. Quando decidimos dizer: - aceitamos o Amor Infinito de Deus;

    redescobrimos a fonte da cura e agora podemos estend-la. Sem isso, nos relacionamos

    com os outros atravs de nossas prprias expectativas e carncias, cobrando-lhes que

    sejam diferentes e adiando a chance de cultivar uma relao santa. Isso o que o

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    34/86

    34

    Esprito Santo vem nos relembrar: o acolhimento nasce do seio de um relacionamento

    gentil cujo propsito conjunto.

    Se buscarmos no outro o esteio seguro para nos preencher de amor, nos

    frustraremos duramente. Esse amor do dar para receber um jogo de barganha doego, que maquia o princpio da escassez. Quem ama no fala pelo ego, que age sempre

    pelo sentimento de falta e carncia e, assim, no conhece a integridade do amor.

    Riqueza, elogio, reconhecimento, aprovao, status, destaque, enfim, no tm o

    poder de nos preencher. Tudo isso neutro, apenas mais uma inveno da mente, cujo

    significado estabelecido por ns. No mundo, isso parece necessrio e claro que

    respeitamos esse sentimento. Enquanto nos acreditarmos corpos, precisaremos de todas

    essas coisas ou assim parecer. Entretanto, se insistirmos em buscar amor no plano

    externo, ficaremos presos a um tipo de busca inglria e dolorida. O desejo nunca cessa,

    porque a causa do desejo nunca satisfeita. Sempre que buscamos alguma coisa fora,

    parece-nos que o objeto do desejo tem a capacidade de nos satisfazer. Mas essa

    sensao de falta maior e logo retorna, nos impelindo a uma nova busca. S o acesso

    ao amor rompe esse ciclo do desejo. A causa do desejo o sentimento de incompletude,

    que s o amor pode satisfazer. Isto , a causa do desejo a sensao de falta de amor.

    Buscar satisfazer essa falta no plano exterior procurar no lugar errado.

    Sem essa conscincia, prosseguimos buscando a satisfao fora, sem nunca a

    alcanarmos de fato. No h descanso. como um vcio. O acolhimento parece

    impossvel, pois a sensao de falta enorme. Ao invs de paz, ficamos ansiosos. E isso

    justifica julgar, roubar e at matar. Isso justifica tratar o outro como adversrio, no

    como amigo. Pois de onde o ego olha, no possvel ser feliz em conjunto.

    O Esprito Santo nos ensina que s h acolhimento verdadeiro quando nosdisponibilizamos para a percepo correta de ns mesmos e do mundo. Neste sentido, o

    acolhimento real nasce no interior de um relacionamento, quando dois ou mais se

    lembram que so Cristo. No instante em que deitam mansamente no colo de Deus e,

    ento, reconhecem mutuamente a sua natureza inocente e imaculada. Na verdade, o

    outro Deus, embora nem sempre consigamos v-lo assim. Por isso, a confiana num

    relacionamento to importante: desvenda Cristo em ns.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    35/86

    35

    Por incrvel que parea, temos medo de receber o amor do Esprito Santo. um ato

    de coragem e humildade aceitarreceb-lo. Alis, a nica forma eficaz de acolher a si

    e ao outro. Em princpio, difcil reconhecer que ns mesmos, devido culpa,

    fortalecida por crenas flagelantes e proibitivas, erigimos barreiras contra o amor.

    Julgamos no merec-lo e, assim, nos decidimos pela escassez. Deus nunca nos puniu,

    ns mesmos o estamos fazendo, acreditando que somos separados Dele.

    Aceitar o acolhimento do Esprito Santo nosso primeiro ato de generosidade. E s

    acharemos esse acolhimento quando nos voltarmos pra Deus. Podemos at dar-Lhe

    outro nome, mas s essa Fonte Infinita nos acolhe verdadeiramente. Todas as outras

    possibilidades podem ser meios para alcanar o colo perfeito, mas, em si mesmas, no o

    oferecem. Dar-se carinho, aquecer, amar: aprender que s amor a proteo real. Aquicomea a cura.

    2) Ouvir

    Ouvir com presena tem uma enorme fora curativa. O ego, como de costume,

    questiona a eficcia do simples ouvir, porque no parece haver nada de especial. No

    entanto, uma forma de vnculo profundo: quem escuta abre as portas da alma. Quando

    vem do corao, nos sentimos totalmente acolhidos e aceitos. uma das maiores ofertas

    que podemos oferecer.

    No importa se a prtica da escuta volta-se para si mesmo ou para o outro. Em

    ambos os casos, conforme j vimos, somos uma mente e no um corpo. Logo, tudo faz

    parte de nosso aprendizado. No h nenhum mundo l fora. O que o corao diz ou oque o outro diz sempre nos ensina algo precioso sobre ns mesmos. O importante que

    ouamos a alma, o que nem sempre significa ouvir as palavras.

    O problema que, de modo geral, nossos hbitos no tm sido favorveis escuta

    presente. A enorme quantidade de informao, a pressa e o super estmulo de imagens e

    sensaes (publicidade, tv, cinema, internet, jogos eletrnicos, etc) dificultam nossa

    capacidade de ouvir o interior. Esse um gesto primitivo e simples. Porm, temos

    entulhado uma considervel quantidade de lixo mental que nos impede de ouvir com

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    36/86

    36

    presena. Basta alguns minutos em silncio e nossa cabea no pra: preocupaes,

    contas a pagar - o passado e o futuro. E, quanto menos ouvimos nossa alma, mais

    precisamos de coisas exteriores pra nos dizer o que devemos fazer. No devemos fazer

    nada: ouvir suficiente. Toda resposta est disponvel num lugar silencioso dentro de

    ns, onde o Esprito Santo nos fala. Todavia, o ego atrai o barulho e o caos, pois assim

    nos faz crer que o mundo seja real e nos faz esquecer que somos uma mente.

    Costuma ser muito difcil ouvir as verdadeiras intenes do nosso ego. preciso

    muita prtica e honestidade para ouvir suas demandas. Nosso ego evita a clareza e a

    transparncia, pois, quando percebemos suas reais intenes, desnudamos todo o dio

    escondido sob um complexo sistema de defesa. No costuma ser agradvel quando

    comeamos a ouvir a voz do ego como ela de fato . Exige maturidade perceber oquanto carregamos sentimentos de mgoa, inveja e vingana, disfarados sob a forma de

    argumentos racionais ou comentrios despretensiosos. Entretanto, neste instante, a voz

    do Esprito Santo nos lembra do perdo e da inocncia que jamais perdemos, apesar de

    todo hino de morte que possamos ter sonhado cantar. Ouvir o interior permite

    reconhecer a inquietude do nosso ego e a serenidade de nosso Esprito. Para que isso

    acontea, preciso dar tempo ao corao. preciso parar e esperar.

    Eu no preciso fazer nada, exceto no interferir. (T-16, I, 3:12).

    Essa nossa dificuldade inicial. O ego gosta do domnio e da destreza. Mas quem

    quer se curar de verdade logo aprende que est seguro quando no sabe o caminho;

    segue por vias misteriosas, sem a antiga falsa sensao de controle. Do no saber, nasce

    o caminho verdadeiro.

    No preciso considerar o que devo fazer, porque, quando escuto o Esprito Santo,

    torna-se impossvel eu fazer algo errado. A caminhada orientada por algo muitoMaior. A forma do aprendizado totalmente varivel, embora o contedo seja idntico

    (amar). Nossa parte limpar o terreno para a escuta. Essa nossa tarefa mais trabalhosa.

    Nem sempre as palavras dizem o que o corao sente. s vezes, o que dizemos nos

    afasta do que sentimos, num movimento de defesa para abafar o problema. No so as

    palavras necessariamente que nos comunicam sobre o interior. a linguagem do

    corao.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    37/86

    37

    Quando ouvimos essa linguagem sem censura ou julgamento, compreendemos que

    no existe pecado, tampouco condenao. A verdadeira escuta preserva nossa inocncia,

    mesmo se nos julgamos o contrrio. Acolher o que o corao diz ouvir sem culp-lo.

    Esse jeito de escutar um estado de conscincia cativo e libertador. Uma grande forma

    de acolhimento: um abrao no que est para alm das palavras. Ouvir com inocncia

    um gesto transformador. Sobretudo quando nos voltamos para a inocncia original que

    mora dentro de todos ns.

    3) Observar o problema

    Com freqncia, parecemos presos a um problema, do qual nos queixamos.

    Sentimos insatisfao em algum aspecto da existncia. Temos uma dificuldade diante da

    qual nos sentimos impotentes e vtimas das circunstncias. E acreditamos que ela seja

    real e autnoma.

    Observar o problema nos ajuda a v-lo exatamente na forma em que ele se

    apresenta. Como somos uma mente, no um corpo, observamos o problema dentro de

    ns. O que me gera dificuldade? O que parece estar no mundo l fora que me irrita? O

    que enfim eu odeio?

    A forma do problema diz muito a respeito de quais bodes expiatrios eu uso para

    justificar minha raiva interna. Pode ser um membro familiar, um chefe, um colega de

    trabalho, um cnjuge, etc. Pode ser a falta de dinheiro, de perspectiva, de paz, de tempo,

    de felicidade; sempre uma falta queparece exterior.

    Tudo isso me informa qual o enredo tenho escolhido para representar meu prprio

    sofrimento. E, claro, esse enredo conta sobre minha prpria identidade como ego: o que

    considero admirvel e o que considero desprezvel; quem o mocinho e quem o

    bandido.

    O mundo nos parece muito real e suas experincias mais ainda. Na nossa jornada de

    perdo, iniciamos o processo de cura a partir de nossa histria especfica. A forma dela

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    38/86

    38

    muito singular, embora o contedo seja idntico s histrias de outras pessoas: a busca

    pelo amor.

    Neste momento, ainda no nos demos conta de que pode ser diferente. Em geral,

    ns nos esquecemos que podemos escolher a favor do amor ao invs do medo, j que oproblema est em nossa mente, no fora.

    Neste estgio do processo de cura, o gesto de observar o problema parte dos temas

    especficos de nosso enredo pessoal at chegarmos ao contedo universal, o amor. No

    fim, o nico problema que precisa ser transformado a nossa deciso de culpabilizarao

    invs de amar. E essa deciso se encontra na mente, no fora dela. Entretanto, o

    problema que vivemos nos parece muito convincente e real. Como no culpar o

    problema? Como no culpar o pai severo, a me insuficiente, o chefe chato, o colega de

    trabalho invejoso, o marido ausente, a esposa queixosa? Parece-nos evidente que o

    problema est fora ao invs de dentro de nossa mente. Ora, o outro que assim, no

    eu o ego acusa ele tem de mudar, porque ele o problema.

    O gesto de observar o problema importante no porque seja real ou tenha valor,

    mas porque, no momento, tem valorprans.

    Ningum pode escapar das iluses a no ser que olhe para elas, pois no encar-las

    a forma de proteg-las. (T-11, V, 1:1).

    O problema uma defesa, que nosso ego inventa, para evitar a conscincia da

    Presena de Deus. como uma cortina de fumaa para despistar o fato de que somos

    Esprito, no um corpo. Porm, todo problema do ego pode ser transformado em ddiva

    pelo Esprito Santo. Qualquer relao de dio pode se tornar um relacionamento santo,

    dependendo da deciso interna. No h nada no mundo que seja inerentemente mau ou

    bom. Embora o universo tenha sido projetado pelo ego, cujo objetivo era separar, ele

    pode ganhar um novo propsito por parte do Esprito Santo. o modo pelo qual nos

    relacionamos com o mundo que nos faz sofrer ou sorrir. Todo problema, em sua origem,

    guarda um julgamento contra algum. A culpabilizao a causa do problema: jogar a

    culpa pra fora no resolve, pois ela continua dentro da mente.

    Quando culpo o outro, o problema parece estar fora e no tem mais como ser

    resolvido, a no ser que o outro mude. E agora no depende de mim. H uma parte

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    39/86

    39

    dentro de ns que deseja ver o problema fora porque, assim, no precisamos mover uma

    palha: ora, a culpa do outro mesmo. O ego precisa ser vtima. No pode se deparar

    com o fato de que o caos de sua prpria vida um reflexo de como v a si mesmo, no

    de como o outro o trata.

    Na verdade, este o problema principal: o ego me diz que no sou responsvel pelo

    mundo que vejo que ele existe fora e, em essncia, sou sua vtima. Contudo, o mundo

    um mero reflexo de como vejo a mim mesmo. No posso receber dele aquilo que no

    lhe tenha dado; no posso ver nada que eu mesmo no tenha colocado l.

    H uma maneira muito delicada e suave de observar o problema. Em breve,

    compreendemos o quanto escolhemos o outro para representar o inimigo de nossa

    felicidade. Estamos insatisfeitos conosco mesmos e o usamos pra abafar esse

    sentimento.

    Em princpio, porm, interessante que apenas observemos tudo o que nos

    incomoda e nos atrapalha. Numa postura curiosa de pesquisador, contemplamos o filme

    de nosso sofrimento. Sentamos e assistimos: com todas as letras, qual o problema de

    fato? Quem me incomoda? Que sentimento esse? De quem pareo ter dio? Basta

    observar o problema com presena e, ento, vemos claramente. Precisa apenas ser um

    gesto sem julgamento.

    Neste instante, nossa atitude no nos impele a consertar o problema. No preciso.

    Primeiro, olhamos para exatamente como ele se apresenta, sem neg-lo, diminu-lo ou

    exager-lo. Aguardamos que ele nos conte o que deseja contar e evitvamos ouvir. E

    agora que o problema ganhou o espao digno pra se expressar j no fala com a mesma

    violncia de antes. A defesa contra o simples gesto de observar o problema desperdia

    muito mais energia do que v-lo como ele . Sem culpa.

    Se olharmos para o mundo, desprovidos de nossas incansveis justificativas,

    percebemos que o problema muito simples. No cerne da queixa, havia um: - estou

    com medo. Ou: - sinto muito raiva disso e etc.

    A idia de observar o problema nada tem a ver com ser detalhista e analtico. Tais

    mincias j fazem parte do olhar sofisticado do ego que, na verdade, deseja no ver o

    que .

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    40/86

    40

    A anlise da motivao egtica muito complicada, muito obscura e nunca feita

    sem o envolvimento do teu prprio ego. (T-12, I, 2:1).

    No necessrio ir muito longe. O corao muito modesto e tem desejos infantis.

    Podem estar disfarados, cobertos de ouro, mas, em essncia, so desejos totalmentecomuns, como a fantasia de ser amado e querido ou especial e idolatrado. s isso.

    Quando chegamos a essa concluso, percebemos o quanto somos iguais. Desejamos o

    mesmo: amor.

    Neste mundo, todos estamos travando uma dura batalha. assim que nasce nosso

    verdadeiro sentimento de compaixo. Estamos identificados com severos padres de

    carncia e falta. Todos ns. E, embora estejamos relembrando que tudo isso se trata de

    um sonho, sabemos que essa conscincia nos chega aos poucos, no tempo certo de

    florescermos.

    3.1 Traduzir a queixa num pedido de amor

    Sempre que nos queixamos estamos acusando algum por nossa prpria dor. uma tentativa tola de nos livrarmos do problema lanando-o sobre outro. Contudo,

    como j vimos, a culpa permanece em nossa prpria mente, no sendo de fato liberada.

    Toda queixa acontece devido ao princpio de escassez do ego: se um ganha, o

    outro tem que perder. A existncia se torna uma guerra de ou eu ou voc. Tudo vira uma

    questo de sobrevivncia. J que no existe o bastante para todos e algum tem de se

    sacrificar, que no seja eu.

    Na verdade, portanto, toda queixa um pedido de amor. Num relacionamento de

    casal, por exemplo, uma esposa pode acusar o marido de ser indiferente e egosta, mas,

    no ntimo, apenas sente falta da sua presena. A diferena que, na queixa, h um jeito

    arrogante de condenar o outro, acompanhado de um enredo exaustivo que busca

    justificar quem est certo e que nunca chega soluo. No pedido de amor, por outro

    lado, h um jeito manso e receptivo. Compreendemos que estamos nos sentindo

    incompletos e carentes, reconhecendo da o motivo de estarmos reclamando. Nossa

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    41/86

    41

    queixa no vem pelo fato de o outro agir como age. O problema principal nos vermos

    incompletos, nos identificando com um corpo cheio de necessidades urgentes e um ego

    cheio de fantasias especiais, exigindo que algum as preencha inteiramente

    semelhante a um beb.

    Neste sentido, traduzir a queixa num pedido de amor traz luz o princpio da

    escassez que gera o comportamento acusatrio. Culpamos o outro por nosso sentimento

    de privao, criado por nossa prpria crena na falta. Decidimos acreditar que os

    recursos e os bens no so suficientes, e, em essncia, que no existe amor bastante para

    todos neste mundo, embora isso no seja verdade at mesmo dizemos que Deus no

    ama a todos. No pedido de amor, entretanto, compreendemos que esse sentimento de

    escassez surgiu do interior de nossa prpria mente, quando decidimos acreditar quesomos um corpo e um ego sem poder de deciso, refm do sacrifcio e da insuficincia.

    Assim, preparamos o terreno para relembrarmos nosso poder de deciso de escolher

    entre o princpio da escassez (no qual o ego ensina que impossvel que todos ganhem

    em conjunto) e o princpio da partilha (no qual o Esprito Santo ensina que o nico

    ganho verdadeiro o ganho de todos).

    Quando resgatamos a conscincia de que no h necessidade de sacrifcio ou

    privao de qualquer espcie (nem do outro nem de si), nosso corao acalma e a

    certeza de paz se fortalece. Passamos a ficar atentos s justificativas insanas do ego para

    culpar o outro e sua crena de que s um pode ganhar. A antiga compulso por vitria

    e domnio cede ao sentimento de comunho e partilha.

    Quando estamos hipnotizados pela queixa, responsabilizamos o outro pelo

    conflito, agindo como se fossemos vtimas. Quando, porm, traduzimos a queixa num

    simples pedido de amor, temos a chance de perceber nossa prpria responsabilidade em

    nos identificarmos com um ego carente: acredito que o outro precisa fazer o que desejo

    para me sentir pleno e, desta maneira, exponho o modo como me vejo - incompleto e

    dependente. E isso, em geral, transforma uma exigncia hostil num convite humilde.

    Fica mais fcil ver a fragilidade do prprio ego, gritando exasperado por amor. Torna-se

    evidente que todas as nossas exigncias so criadas pela nossa prpria percepo

    distorcida de no nos reconhecermos ntegros.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    42/86

    42

    O amor no est fora. E o pedido por ele expe o quanto ainda o busco fora e

    custa de algum. Ainda sim, mais claro que a queixa, pois escancara como estou me

    privando de amor no interior de minha prpria mente. H uma enorme diferena entre: -

    voc no me faz feliz; e: - me ajude a ser feliz, porque no estou conseguindo sozinho.

    Isso o que evitamos olhar. Quem est nos privando do amor, se ele vem do nosso

    corao? Por que no reconhecemos no nosso interior o amor pelo qual estamos

    pedindo?

    3.2 As idias no deixam a sua fonte

    Permanecemos bastante atentos quilo que dizemos e vivenciamos. Com

    freqncia, as nossas palavras e as nossas lembranas servem para manifestar como

    vemos a ns mesmos e ao mundo. Muitas vezes, algumas delas insistem em voltar e isso

    d indcios de como tais idias so fortes na nossa mente, embora procuremos neg-las.

    Em Um Curso Em Milagres, um valioso princpio o de que as idias no

    deixam a sua fonte. Grosso modo, tudo que est em nossa mente dividida no pode

    desaparecer pelo fato de jogarmos pra fora. Uma boa analogia no plano externo o que

    fazemos com o lixo, quando no o reciclamos. No existe fora. E, a fim de ignoramos

    esse fato, o ego utiliza diversos mecanismos defensivos. Os smbolos, os conceitos ou

    as recordaes que carregamos fazem parte do corolrio de nossa mente, mesmo que

    recorramos a frases como: isso j no importante pra mim; no penso mais nisso;

    nunca mais eu quis fazer aquilo, etc. A mente s compreende a incluso das idias.

    Portanto, se voltamos com freqncia a um tema especfico, mesmo que queiramos

    minor-lo, ele ainda est presente. Se algum personagem insuportvel reaparece no

    nosso filme, porque continuamos carregando-o em nossa mente. Ainda no o

    perdoamos.

    Observar o problema ficar atento ao que acontece em nossa atividade mental.

    Os smbolos, os temas, as palavras, os episdio, as vivncias recorrentes ajudam muito a

    entender como conceituamos o mundo e a ns mesmos. Por exemplo, posso ter fortes

    ideais pacifistas, participar de campanhas contra a guerra e falar continuamente de como

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    43/86

    43

    a violncia algo absurdo e intolervel. Ainda sim, a guerra que habita em minha

    mente.

    Tudo isso nos lembra que, se estamos presos a um problema, no por meio da

    negao que vamos transform-lo. Os mecanismos de defesa atrapalham a observaodo problema exatamente como ele se apresenta. Todos esses mecanismos parecem

    muito racionais e lgicos. So artifcios egicos minuciosos na prtica de esconder o

    que realmente .

    O problema no desaparece assim. O perdo que transforma o problema numa

    ddiva. Mas, para perdoar, preciso antes reconhecer que houve alguma espcie de

    acusao. necessrio observar a quantidade de sentimentos negativos que guardamos

    em nossa mente e depositamos em nossos adversrios, inimigos e desafetos (em geral,

    quem est mais perto). O dio no est l, mas dentro. Ningum fora tem o poder de me

    fazer odiar, exceto se decido assim.

    O Esprito Santo parte dos nossos smbolos de dio e os transmuta em smbolos

    de amor. A guerra travada no interior da prpria mente comea a ser pacificada

    exatamente no mesmo lugar.

    Como de fato vem a ser estranha essa guerra contra ti mesmo! (...) to certo

    que ters medo daquilo que atacares como certo que amars o que perceberes sem

    pecado. (T-23, Introduo, 2:1 e 4).

    O problema, portanto, sempre um acontecimento onde h um algoz e uma

    vtima. Na nossa histria pessoal, ns nos identificamos ao papel da vtima, recorrendo

    a um sem-nmero de argumentos pra convencer o quanto temos sido injustiados. E

    isso mantm a guerra no interior da nossa mente para, todos os dias, a reencenarmos

    com testemunhas diferentes. O problema no termina enquanto mocinho e bandido

    apenas invertem o papel, mas quando, enfim, percebem que so amigos e co-

    participantes de um mesmo propsito: amar.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    44/86

    44

    4) Observar a soluo

    Quando observamos o problema com presena (briga com cnjuge, familiares,

    conflito no trabalho, dvidas, problemas de sade, luto, etc), podemos ver a soluo de

    imediato. O gesto de no julgar desnuda naturalmente a raiz do conflito. No preciso

    fazer nada. Basta ver com o mnimo de resistncia. O ego, entretanto, costuma gritar por

    razo e justia. Como j vimos, ele no quer a soluo, sim um roteiro onde se confirma

    como vtima.

    Quando esperamos o ego silenciar, porm, reconhecemos que todo problema nasce

    de um erro de percepo. S na mente, existe soluo. No fora. Por isso, a curaverdadeira ocorre na mente. Qualquer problema que vivenciamos apenas um erro de

    percepo, que esconde uma resposta bvia e amorosa. Podemos cham-la de milagre,

    recorrendo linguagem do Curso. possvel escolher diferente. A primeira coisa

    efetiva a fazer , em aparncia, nada fazer: no tentar mudar nada fora, sim a mente.

    Essa a escolha real.

    O milagre nada faz. (...) Ele no acrescenta, apenas retira. (...) O milagre apenas

    mostra que o passado se foi e o que se foi verdadeiramente no tem efeitos. (...) Todos

    os efeitos da culpa j no esto mais aqui. (T-28, I, 1:1, 4, 8; 2: 1).

    O milagre acontece sempre que modificamos de uma percepo de julgamento

    tpica do ego para uma percepo de perdo, oferecida pelo Esprito Santo. O problema,

    portanto, j traz a semente da cura. Enquanto essa semente no for regada, ele insiste em

    aparecer como se existisse fora, como se tivesse vida prpria e no houvesse nenhum

    investimento de nossa parte.

    Perceber o mundo atravs do julgamento refora o problema e a idia de separao.

    O ego, que se alimenta do papel de vtima, aproveita o conflito para gritar ao mundo o

    quanto vem sendo lesado injustamente. Alm disso, esse tipo de atitude exclui a

    responsabilidade da prpria pessoa em escolher. A postura de vtima uma posio

    muito atraente para quem no quer assumir a prpria responsabilidade. Quando

    ouvimos o enredo da vtima, parece-nos que ela no tem escolha. Isso tudo que o ego

    quer: esconder que somos uma mente e temos um vasto poder de escolha.

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    45/86

    45

    O ego deseja o aparecimento de um nmero infinito de problemas, pois assim d

    realidade e consistncia s iluses. Ele venera a dor e o desconforto, a queixa e a

    lstima, a doena e a morte, a misria e a falta. Pois tudo isso nos faz crer que no temos

    opo. O mundo parece ser real. Ele est l fora e no podemos fazer nada em relao a

    isso. E, assim, nos perdemos no filme como se ele fosse real, ignorando que somos o

    diretor de nossa mente, no o personagem impotente que vive cercado de problemas.

    Entretanto, embora o ego negue a todo custo, o poder de deciso sempre nosso.

    Ningum pode escolher por ns o modo como percebemos o mundo. Temos a opo de

    pedir ajuda ao Esprito Santo para que Ele nos ajude a corrigir nossa percepo

    equivocada, materializada num problema especfico. O problema no est fora e, logo,

    precisa ser corrigido na mente, que o seu lugar de origem.

    Como estamos muito presos ao vcio do ego de julgar e punir, precisamos do apoio

    do Esprito Santo para nos apresentar uma nova maneira de ver: onde havia um

    problema agora nascer uma soluo. Esse milagre se inicia sempre com uma mudana

    interior da mente, que desiste de acusar o que parecia estar fora e responsabiliza-se pelo

    que v. Uma vez que assume a responsabilidade pelo que v, assume tambm o poder

    de ver diferente. O dio que antes projetava pra fora reconhecido como uma escolha a

    favor da crena na separao, que considera o outro como empecilho. Agora, porm,

    compreendemos que esse tipo de pensamentojo problema. Na verdade, nunca houve

    nenhum problema fora, apenas esse. O problema sempre aparece quando escolho o

    pensamento de que eu sou separado do outro e a realizao de nossos desejos parece

    algo excludente. Portanto, necessrio que, antes de o problema se apresentar, eu tenha

    decidido crer na separao e na escassez. Esse o hino do ego. Por outro lado, posso

    reconhecer a raiz do problema, voltando-me pra minha mente e decidindo diferente.

    Essa percepo amorosa, ao invs da percepo acusatria, depende apenas de nossa

    disponibilidade, no de nossa ao. Quando tentamos resolver um problema, comum

    que recorramos s solues do ego, que no so solues verdadeiras. Neste sentido,

    observar a soluo diz respeito a apenas observar com presena, sem absolutamente

    tentar resolver nada. Quem tenta resolver o ego, que, na verdade, pretende dar

    realidade e consistncia ao problema. Por outro lado, podemos oferecer nossa

    disponibilidade de ver e ouvir de acordo com o que o Esprito Santo nos apresenta. E

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    46/86

    46

    essa uma percepo muito diferente da do ego. O Esprito Santo nos mostra a soluo

    clara e simples: transformar a prpria mente, pois aquilo que ela v o que ela guarda.

    Esta a soluo: perdoar onde antes havia dio. Simplesmente porque compreendemos

    que aquilo que damos o que recebemos em todo precioso segundo. O mundo apenas

    um espelho de nossa mente. E o problema apenas um reflexo de nossa prpria

    confuso interna. A soluo olhar pra dentro e se perdoar. Pois, se o universo nos

    parece catico ou hostil, um mero retrato de nossa mente.

    A tendncia do nosso ego pensar que observar a soluo, de acordo com o Esprito

    Santo, significa no ser prtico. Entretanto, exatamente o contrrio. Nossa ansiedade

    em resolver problemas atrapalha nossa capacidade de ver a soluo. E, assim,

    ingressamos num ciclo onde, quanto mais tentamos resolver problemas, mais eles semultiplicam. Esse o objetivo do ego.

    Meios como a orao, a meditao ou o mero silenciar podem ajudar muito a

    sintonizar o Esprito Santo, embora haja muitas outras formas de faz-lo. O mais

    importante, porm, reservarmos um tempo no qual esperamos o ego calar e nos

    disponibilizamos a ouvir a Voz Serena do Esprito Santo, nos orientando a como pensar

    e agir. Nossa prpria percepo muito viciada e parcial. Todavia, no precisamos

    optar por ela. Temos todo o poder de escolher ouvir o Esprito Santo, ao invs do ego, e

    o resultado de ouvir cada um desses professores diametralmente oposto. O Esprito

    Santo fala em nome do amor, da verdade e da comunho. O resultado disso s pode ser

    o sentimento de paz. O ego, por outro lado, fala em nome do medo, do dio e da

    separao. O resultado disso s pode ser a ausncia de paz.

    Sempre que um problema nos aparece, certo que o procuramos. E eis uma

    nova chance de escolher o Esprito Santo ao invs do ego, a inocncia ao invs do

    julgamento, a soluo ao invs do problema. O conflito s existe no interior de nossa

    mente e negar isso adiar a soluo.

    Agora fica cada vez mais claro que temos o poder de escolher. Estamos diante

    de uma bifurcao e preciso decidir qual guia queremos seguir. No h como ouvir o

    ego e o Esprito Santo ao mesmo tempo. Quando um fala, o outro cala. tempo de

    assumir a escolha, pois me reconheo como aquele que decide a respeito de minha

  • 7/28/2019 S o perdo cura _modo de leitura_

    47/86

    47

    prpria percepo. E, assim, resgato a conscincia de que toda soluo nasce no interior

    de mim mesmo.

    5) Assumir a escolha

    Como temos observado, fazemos escolhas o tempo todo.

    Entretanto, apenas duas escolhas so de fato possveis: optar pelo sistema de

    pensamento do ego ou pelo sistema de pensamento do Esprito Santo. Entre essas duas

    possibilidades, costumamos escolher o sistema de pensamento do ego. De modo geral,no estamos em paz e isso fruto de uma deciso realizada na mente.

    Conforme o Curso afirma claramente, no podemos ser conduzidos por eventos

    exteriores a ns mesmos. Nossa poder de deciso determina todas as situaes nas quais

    nos encontramos. No existe acaso ou a