Sob Olhar das Erínias Book€¦ · meu amor é derramado sobre a terra. Sou a beleza da terra...

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Gian Felipe

A.Henrique

Sob Olhar das Erínias

1° edição

Porto Alegre Edição dos Autores 2014

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Proibida a reprodução total ou parcial desta obra,salvo para

efeito de divulgação e resenha.Do contrário,os Infratores serão

processados na forma da lei.

Os direitos autorais pertencem única e exclusivamente ao autor

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Em honra da Deusa e do Deus

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Prólogo

Parado no alto de um morro, Arthur, um adolescente

de estatura mediana, todo de branco admirava o alvorecer.

Com um sorriso nos lábios, inspirou fundo o doce frescor

da manhã.

Então, fechou o cenho num ar pensativo e deu as

costas ao sol. Devagar, encaminhou-se ao centro do morro

onde havia um enorme circulo de pedras, em cujo interior

achava-se a estátua, em mármore cinza, de uma bela

mulher madura sentada num trono. Numa das mãos ela

trazia o ramo de um trigo e na outra um cálice. Com uma

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feição terna,a estátua fitava o menino que,tranqüilo,dormia

em seus pés.

No trajeto para tal escultura, Arthur refletiu consigo:

Escolhas. Tudo gira em torno delas: escolhemos

levantar ou não para ir trabalhar e com que pé fazer isso;

que roupa usar, a azul ou a vermelha; o que comer o caro

ou o barato. Enfim, uma infinidade de coisas precisamos

decidir a todo o momento. Contudo, nossas opções não se

referem apenas a essas trivialidades do cotidiano, não.

Algumas vezes devemos tomar decisões bem mais

significativas,se não indispensáveis,cujas conseqüências

cedo ou tarde,retorna,.triplicando nossa infelicidade ou

felicidade.Depende só de nossas ações ,ou falta delas,nessa

nossa jornada chamada Vida...

A três passos da escultura, o rapaz deteve-se e

prestou-lhe uma profunda reverência. Daí voltou a atenção

a uns dizeres dourados que haviam no pedestal,gravados

numa placa de prata.Contente,ele leu:

Meu é o segredo que abre a porta da juventude e

minha é a taça do vinho da vida, que leva à imortalidade

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sagrada. Eu concedo a sabedoria do espírito e,além da

morte,dou a paz,a liberdade e o reencontro com aqueles

que sofreram antes.Não exijo nenhum tipo de

sacrifício,pois,saibam,Eu sou a mãe de todas as coisa e

meu amor é derramado sobre a terra.

Sou a beleza da terra verde e da lua branca entre as

estrelas do céu. Nos mistérios da água chamo os seus

espíritos para que despertem e venham até mim,pois eu sou

o espírito da natureza que dá vida ao Universo.De mim

todas as coisas vêm,e para mim todas elas

retornarão.Existo antes do início e existirei depois do

fim.Sou aquela que é alcançada ao fim do desejo.

Terminado, deu meia-volta e sentou-se na relva verde.

Logo que cruzou as pernas, olhou para o chão e,

perdido em seus pensamentos, continuou:

Há momentos em que a escolha a fazer nos é

fundamental. Como por exemplo, para onde se mudar, qual

carreira seguir, ter filhos ou não, quem amar...

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Depois de mirar o céu azul, o garoto soltou um longo

suspiro. Só então, alegre, porém entristecido, prosseguiu:

Heh, amor... Um sentimento extraordinário que a

todos invade, mas em poucos permanece... - seguiu, logo

que se deitou no chão, pôs as mãos sob a nuca e fechou os

olhos:

Se eu tivesse escolhido senti-lo, pelo menos

experimentado, talvez as coisas pudessem ter sido

diferentes...

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I

19h00min – Escola Estadual Nísia Floresta

Mal o sinal tocara e Arthur, junto de outros

estudantes, adentrou no colégio. Ao parar próximo do

banheiro dos meninos, tirou depressa a mochila das costas

e abriu um dos bolsos externos. De dentro dele pegou o

papel que informa o número da sala e da turma em que

ficara.

Após se certificar quais eram, lançou a mochila às

costas e pôs-se a procurá-los. Pela escola ser pequena, logo

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encontrou a turma. Ao contrário da grande maioria a

derredor, seus colegas já haviam entrado em aula e, pela

voz da professora berrando nomes, a chamada iniciada.

Era o primeiro dia de aula. E Arthur estava um tanto

temeroso quanto a isso. Passou boa parte da vida escolar

noutro colégio, e agora ter que se adaptar a novas regras

dum outro lugar,a professores diferentes e a uma nova

turma,não era nada animador.Teria de começar tudo de

novo. É fato que já fora aluno do Nísia Floresta, estando

familiarizado com a escola em si, mas isso já fazia muito

tempo e certamente os professores não seriam mais os

mesmos. E mesmo que fossem não se recordariam dele.

Além disso, os colegas de antes sem duvida não seriam os

de agora.

É... Os próximos cinco meses serão bem

longos...,pensou Arthur, desanimado.

Quando iria bater na porta, deteve-se. Aí sacudiu a

cabeça com força,afastando os pensamentos negativos.Que

isso, Arthur?!Se entrar com esse espírito, vai atrair o que

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não quer!Em vez de preocupar-se em se vai ser aceito ou

não, vai ser muito melhor tentar me dar bem com eles.

Quem gostar gostou. Até porque... - e apertou com força o

pentagrama pendente em seu peito - Eu nunca estou

sozinho...

Então, animado e confiante, bateu na porta.

- Entra! – gritou a professora.

Ao fazê-lo, todos voltam à atenção nele.

- Sim? – pergunta a mestra, sentada à sua mesa.

- Fui transferido, e...

- Ah, o aluno novo... – disse ela, interrompendo o

outro bruscamente, logo que fita o caderno de chamada: -

Arthur, certo?

- É.

- Ok. Vá escolher um lugar e seja bem-vindo.

- Obrigado. Qualquer um?

- Uhum. Não se preocupe, os donos deles não voltam

mais. Pararam de vir lá por maio.

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Enquanto a professora retomava a chamada, o garoto

acomodara-se numa carteira rente a parede. Não se

considerava bagunceiro o bastante para alojar-se no fundo

da sala, nem quieto demais para ficar lá frente. Sim, ali

estava bom. A turma do meio fazia mais seu perfil.

No momento em que a chamada foi findada, chegou

uma garota ruiva.

- Acabei de terminar a chamada, Agnes. Levou falta.

– avisou a professora, austera.

De pressa, a guria tirou o celular do bolso e olhou-o.

Então, contrariada, disse:

- São sete e dez sora! Tem mais cinco minutos de

tolerância!A senhora tinha que esperar mais um pouco

antes de fazer a chamada!

- Correto, se estivéssemos na semana passada! O

tempo limite pós-sinal mudou, agora é de cinco minutos.

Deram o aviso na sexta. Saberia se tivesse vindo...

De cenho fechado, a menina rumou ao seu assento.

Jogou com força o fichário sobre a sua mesa e arrastou a

cadeira. Então atirou-se pesadamente nela.

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- Não é obrigada a ficar, sabia?!- advertiu a

professora, seca, mirando a adolescente.

Emburrada, desviou o olhar da professora, cruzou os

braços e nada respondeu.

- Muito bem! – soltou a mestra, voltando à atenção a

classe. – Precisarei de dois voluntários pra me acompanhar

à biblioteca e ajudar a trazer alguns livros de história.

Quem se candidata?

Cinco levantaram a mão. Dentre eles, Arthur, o único

homem a se apresentar.

- Que vergonha... Nenhum dos guris, salvo o colega

novo, prontificou-se a ajudar. Tenho pena das mulheres de

vocês. Vão varrer a casa e trocar o chuveiro!

- A minha faz mesmo! – exclamou um lá do fundo. –

Ai dela se eu chegar e a comida não estiver pronta e a casa

limpa, do só de tapa na cara dela!

Com exceção de Agnes, todos riram.

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- Não mente Paulo – largou um, do outro lado da sala.

– Dar em quem? Se nem “ficar” tu consegue!

- É eu não preciso!Divirto-me bastante “pegando” a

tua mãe! – respondeu Paulo, bravo.

Imediatamente a turma dividiu-se em duas partes: a

turma das gargalhadas (HAHAHA!!!) e o grupo do

“Báááhhh”!!!

-Tá, já chega os dois! – ordenou a professora. – Mas

se quiserem continuar a conversa, podem ir pra rua! –

concluiu, apontando à porta.

Zangados, os rapazes entreolharam-se e se

aquietaram. Paulo retomou a conversa com seus amigos

enquanto o outro recomeçou o diálogo com sua namorada.

- Ótimo. – dirigindo a entrada, a mestra seguiu-

Vamos, Arthur e Bárbara.

A jovem sentada ao lado de Agnes voltou-se a ela e,

de gozação, disse:

- Acordou de TPM hoje, hein?

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- Ah, não enche, Rosana! – seguiu ainda irritada, sem

olhar para a garota - Não tô boa...

- O que houve?Brigou de novo com o Cristhian?

- Devia largar aquele mané! – afirmou a adolescente

sentada atrás de Agnes. – Tu era mais tranqüila e livre

antes de ficar com ele. Agora só vive estressada e grudada

nele.

- Querem me deixar em paz?! – vociferou Agnes,

batendo com força o punho na mesa.

- Ui, ta brava a gatinha! – falou um babaca lá do meio

da sala, cercado de amigos mais babacas ainda. – Quer que

eu te amanse?

Enraivecida com a provocação, a menina se levantou

num salto, pegou a cadeira com as duas mãos e

arremessou-a no pateta.

Por rapidamente terem se afastado do palerma, e este

se jogado no chão, o “cadeirasso” não acertou ninguém.

Mas fez um barulhão e deixou todos pasmos.

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- O que foi isso?!- gritou a professora, entrado a

passos largos, acompanhada de Arthur e Bárbara,

carregados de livros.

- Foi a Agnes, sora! – acusou na hora o bocó,

apavorado, pondo-se em pé. – Ela é louca!Tocou a cadeira

em mim!

- Porque mereceu, imbecil! – exclamou, exasperada, a

guria. – Vai mexer com a vó!

- Agnes, Pablo, já pra direção! – mandou a mestra,

indicando a saída. – E me esperem lá!Tentem não se matar

no caminho, por favor!

Encarando Pablo, a garota bufou, e, a passos pesados,

saiu andando. Instintivamente, Arthur e Bárbara saíram da

porta. Logo que ela passou por Arthur, ele fitou-a e, sério,

pensou: ”Garota maluca.”

- Ta esperando o que, Pablo? – questionou a

professora, severa, observando que ele ainda não havia ido.

- Na-Nada. – respondeu o guri, tremendo-se todo.

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Alcançado o limiar da entrada o garoto parou e, por

cima do ombro, perguntou:

- A-A senhora não vem...?

A turma caiu na risada.

- Todo cagado! – berrou um lá do fundo.

- Tsc!Vai a m#@$, Marcelo! – retorquiu Pablo,

bravo.

- É hoje! – exclamou a professora, junto dum gesto

pro alto. – Anda Pablo!E fecha a porta!

Foi-se.

- Bárbara e Arthur, podem largar os livros ali. –

proferiu a mestra, apontando para uma carteira fazia.

Depois de obedecerem , a professora agradeceu e

mandou-os de volta a seus lugares. Aí, de sua mesa,

apanhou um maço de folhas de ofício, virou-se a uma das

garotas sentadas a frente e disse:

- Natasha, distribua pra mim. – continuou, em seguida

que passou as folhas a guria – As respostas das questões

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encontram-se da página 65 a 106. Se alguém ficar sem

livro, sente junto com o colega. Fazer em folha separada,

mas entregar junto com a folha das perguntas. Sete pontos

se entregar ainda hoje e quatro se amanhã.

- E se não entregar nunca?! – gritou um aluno.

- O que tua acha? – interpelou ela, áspera, dirigindo-

se a porta – Podem começar. E arrumem as cadeiras nos

lugares!

O sinal para o segundo período soara.

Pátio da Escola – Bloco B

Quase toda uma turma achava-se fora de sala. Alguns

tagarelavam, outros namoravam,e uns poucos solitários

fumavam,falavam ao celular, ou se não assentado no

corredor, ouviam música.

Cristhian conversava animadamente com seus amigos

quando Vera, uma mulher rechonchuda de aspecto severo,

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avistou-os. Então, ela torceu a cara e rumou a eles.

Gesticulando furiosamente, esbravejou:

- Todo mudo pra dentro!Acham que aqui é “a casa da

mãe Joana?!"

- Vai dormir veia! – exclamou Cristhian, anexo dum

gesto, provocando risotas dos colegas e ações semelhantes

amigos.

- Tão rindo de que, pestes?!- bradou a mulher ainda

mais nervosa, enquanto a cambada zombava dela. – Passem

já pra dentro!

- Volta pro teu véio, Vera! – berrou Cristhian, antes

de entrar correndo na sala, acompanhado dos amigos.

O restante da garotada fez o mesmo. Enquanto a

galera ia sentando, Vera, encolerizada, bateu a porta e

soltou:

- Vocês devem ter um bicho carpinteiro na bunda que

não deixa vocês pararem quietos mesmo!Será que ainda

não sabem que nas trocas de disciplina deve-se permanecer

na sala?!

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- O professor não vem nunca! – reclamou um.

- Isso não é desculpa!Cada um deve fazer sua parte! –

replicou Vera. – Bem... O que vim dizer mesmo...?Ai,

vocês me deixaram tão louca que até esqueci o recado!

- Quando a idade chega... – caçoou Cristhian,

esparramado na cadeira.

- Tu me respeites, rapazinho! – advertiu ela,

apontando para o adolescente. – E senta direito guri!Aqui

não é a tua casa!

A contragosto , Cristhian obedeceu.

- Ah, lembrei!- largou a mulher. – O professor Leon e

a professora Patrícia não vieram, portanto, esse período

será vago. Só terão o próximo.

A classe comemorou como se o Brasil tivesse

ganhado a Copa do Mundo.

- É isso!Tchau pra vocês!- disse Vera, saindo.

Mas aí ela retornou e gritou:

- Fiquem na sala!

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- “Larga”, Vera! – exclamou Cristhian, ao mesmo

tempo em que seus amigos, atirando bolinhas de papel

nela.

- E aí Cristhian, “vamo” dá uma “banda” depois no

CTG? – perguntou um dos amigos dele, assentado ao lado.

- Não vai dá, Ramiro. Hoje eu e a Agnes vamos

dormir cedo... - concluiu, com um sorriso travesso.

- Vai só “chenelhar” ,então?! – indagou outro dos

seus parceiros, este, sentado à frente do garoto. - Na casa

da guria, NE???

- Heh, não vai dar. Os velhos dela tão na “baia” e eles

não vão com a minha cara. Mas o meu véio tá de ronda

noturna nesse mês e o hospital botou a coroa pra atender a

emergência durante a noite.

- Bem certinho... – comentou o que se encontrava

adiante de Cristhian, todo taradão.

- Ahã! – concordou o jovem, satisfeito.

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Sala de aula de Arthur

Quando o sinal do terceiro período bateu, entrou

Agnes e Pablo. Ambos de “cara amarrada”.

Logo que ela ocupou o seu lugar, Rosana indagou:

- Eaí, como foi lá?

- Ah, nada de mais. Tá tudo bem.

- Ó, guardamos pra ti. - comunicou a amiga detrás

dela, estendendo o livro de História. – As folhas com as

perguntas estão aí debaixo da mesa...

- Tsc!Não vou fazer m#@$ nenhuma! – replicou,

olhando feio para a professora. - Só me “queimo” pro

diretor. O Pablo que começou e ela não disse nada. Ainda

bem que o Cassiano é tri. Ah,nem sei por que ainda venho

na aula dessa véia...

- Tá, tu pode até não gostar da sora, mas precisa dos

pontos se quiser passar. – lembrou a menina às costas da

garota.

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- Hum... É, fiquei com vermelho no boletim. Tá bom

Gabriele, me passa essa bosta! – disse, pegando o livro.

Como 5% da turma estava concentrada na tarefa, 60%

interessada em papear e 40% preocupada em catar cola sala

a fora (e até fora dela) ninguém percebeu Arthur

observando Agnes.

“Impulsiva e desbocada”, cogitou ele consigo “E isso

deve ser só o começo... Essas roqueiras são tudo da pá

virada mesmo...”, concluiu, antes de retornar a atenção ao

trabalho.

- Já vai bater para o recreio. – avisou a professora, em

pé perante a classe, pronta para ir. - Quem não terminou

pode levar o livro para casa, mas, sem falta, me tragam

amanhã! Porém, se forem entregar ainda hoje, eu estarei na

3008 depois. Arthur e Bárbara recolham pra mim, por

favor.

Mal o trio deixou o recinto, o sinal tocou. Agnes e

suas amigas foram as primeiras a sair. Avistaram Cristhian,

acompanhado dos amigos, vindo em direção delas.

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- E aí, amor. - cumprimentou o adolescente, antes de

meter as mãos no traseiro de Agnes e beijá-la.

Desgrudando os lábios (mas não as mãos) dela, ele,

melosamente, cochichou:

- Tá com fome...?

- Ahã... - respondeu a outra, toda boba, com os braços

em torno do pescoço dele.

- Então vamo lá pro barzinho da tia, que te compro

alguma coisa, tá?

- Tá... – concordou a menina, sorridente, antes de

voltarem a se beijar.

Saindo da biblioteca, Arthur enxergou Agnes e

Cristhiam de mãos dadas, dentre a gurizada, dobrar o

corredor que levava ao bloco B.

- Christian! – murmurou a si, surpreso, antes de

desagradáveis recordações tomarem-lhe a mente...

Era recreio na escola Nísia Floresta; crianças

risonhas corriam pra lá e pra cá brincando de pega-pega,

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já outras pulavam corda, amarelinha ou se não apenas

conversavam animadamente entre si. Contudo, a grande

maioria delas divertia-se nos brinquedos (balanços,

gangorras, escorregadores, etc.) esparsos pelo pátio.

Sob a sombra de uma árvore frondosa, Arthur sentou-

se num banco de pedra. Aí pôs sua lancheira no colo e

abriu-a. Nesse momento, chegaram cinco meninos...

Um deles adiantou-se e, de olho no embrulho no

interior da merendeira, adjacente a uma maçã, interpelou:

- O que é isso aí, Arthur?

- Dois sanduíches, Cristhian. – respondeu o garoto,

sério.

- De quê?

- Salame e frango.

- Divide aí com a gente.

- Não vai dá pra todos Só tem dois sanduíches, e

somos seis...

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- Claro que dá!É só partir em pedaços pequenos. Se

não sabe fazer, deixa que eu reparto. Claro, você fica com

a parte maior...

- Não. Sai fora!

- Ah, não vai se fazer né Arthur?Só dessa

vez!Prometo que tu vai ficar com a maior parte. E tem

mais, se libera aí, prometo não te incomodar mais!

Tão logo Arthur fitara o chão para pensar, os

amiguinhos de Cristhian começaram a pressionar dizendo

coisas como: “É, ele ta falando sério!”, ”Vamos lá Arthur,

libera o comes!” “Divide aí, pó!”, etc...

Aí o menino encarou Cristhian e soltou:

- Não acredito em você!

- Se não quer por bem... Peguem ele, pessoal!

Arthur saiu correndo, mas foi pego pelo braço e

derrubado numa rasteira. Dois o seguraram firme contra o

chão.

- Saiam de cima de mim! – berrou Arthur.

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- Levantem ele. – ordenou Cristhian, apanhando os

sanduíches.

Ergueram Arthur de frente para Cristhian. O

primeiro debatia-se muito, desesperado para se soltar, mas

foi inútil. A força de dois contra um venceu.

- Por culpa tua caíram o chão. – proferiu a peste,

apresentando o lanche. – Não queremos mais. Toma de

volta!

Esboçando um sorriso maldoso, ele esmagou a

merenda no rosto do menino.

Em meio às risadas debochadas dos companheiros,

Cristhian largou:

- Palerma!

Feito isso, deu meia-volta e foi-se.

Arthur, junto de um berro de ódio e dor, saiu

correndo.

Quando Arthur, em aula, lia tranquilamente um livro

intitulado “Wicca Essencial” de Paul Tuitéan e Estelle

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Daniels, Cristhian e seus amigos inventaram de

arremessar aviãozinhos de papel nele.

- Querem parar! – exclamou Arthur, exasperado, por

cima do ombro.

Em quanto seus amigos caiam na risada, Cristhiam

debochou:

- Cuidado, se o Arthur se invocar, pode mandar os

amigos dele, as Fadas e Duendes, nos pegarem!Ou quem

sabe jogar uma maldição na gente!Hahaha!

A gozação foi geral. Então Arthur levantou-se

depressa e vociferou para Cristhian:

- Vocês se amaldiçoam sozinhos!

Aí partiu em disparada da sala.

Junto de uma penca de alunos, Arthur deixou a

escola. Distraído na leitura de um livro Wiccano, não

notou a aproximação de Cristhian e seus amigos. Estes,

montados em bicicletas.

O energúmeno, unido a um empurrão, berrou:

- Tchau, bobalhão!

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Os amigos do diabinho ao passarem pelo garoto,

estatelado no chão, falaram coisas como “Pamonha!”,

”Esquisito!”, ”Bocó!”, e outras do tipo.

Arthur senta-se e, irado, começou a bater na terra.

De volta ao presente...

O jovem socou a parede perto dele e, entre dentes,

murmurou:

- Cristhian... Pensei que tivesse ido pra longe...

De repete o celular tocou. Atendendo-o, indagou:

-Quem é?!Ah, e aí, Apolo!O que

manda?Amanhã?Claro!Que hora?Tá. Mas por que da

urgência...?É, entendo. Cinco minutos e já se foi todos os

créditos. Então tá, conversamos melhor amanhã. Até.

A poucos passos da biblioteca, uma adolescente

deixou cair uma pilha de livros de matemática. De

imediato, Arthur guardou o celular e foi ajudá-la.

- Obrigada. – agradeceu a guria.

- De nada. – devolveu, apanhando alguns exemplares.

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II

09h00min – Casa de Artur – Quarto dele

O despertador tocou. Após um bocejo junto de uma

espreguiçada,Arthur levantou,apanhou o relógio barulhento

de cima da mesa de cabeceira e desligou-o. Depois de botar

o objeto de volta no lugar, abriu a janela.

Nesse momento, uma brisa leve e agradável passou

por seu rosto, ao mesmo tempo em que os feixes cálidos do

sol penetravam com intensidade no aposento, inundando-o

de luz.

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De olhos fechados, esboçando um fino sorriso,

inspirou com prazer o ar a sua volta e, soltando-o

lentamente, pensou: Bom dia, Grandes Deuses!

Encaminhou-se ao guarda-roupa, donde pegou uma

toalha felpuda e vestes limpas. Escolheu boas roupas: hoje

iria sair. Largou tudo sobre a cama, calçou os chinelos e, de

cima de sua escrivaninha, apanhou um cesto abarrotado de

frutos e flores diversas. Daí foi para o pátio.

Pôs a cesta ao pé de uma árvore e se prostou rente a

ela. Então tocou a grama com carinho,fechou os olhos e

curvou a cabeça;daí declamou:

“Grande Deusa,

Senhora que dá toda a vida,

Dê-me hoje e todos os dias,

A força dos Céus,