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Sobre a “Dominância Financeira” no estudo do capital financeiro: questões
sobre a articulação Centro-Periferia
Marco Antonio M. da Rocha
RESUMO
A disseminação do processo de desregulamentação financeira pelo mundo possibilitou o
desenvolvimento de instrumentos financeiros e formas próprias de associações entre capitais
que, no plano do debate marxista, fez ressurgir a ampla utilização do conceito de capital
financeiro, caído em certo desuso durante os anos de Bretton Woods. O reaparecimento do
conceito também significou mudanças importantes em relação à maneira como os autores do
começo do século tratavam a questão e a forma como direcionavam sua investigação a
respeito dos movimentos concretos das diversas economias nacionais.
As referências ao capital financeiro nos anos pré-crise estiveram presentes, em geral, para
caracterizar formas contemporâneas de centralização do capital-dinheiro e as tendências
presentes nesse movimento – crescimento do capital fictício, crises de crédito, entre outras. O
debate ressalta o desenvolvimento das formas próprias ao capital a juros e homogeneíza as
transformações nos sistemas econômicos nacionais, contingentes em relação às formas de
enfrentamento da concorrência intercapitalista. Em que pese os problemas no tratamento do
capital financeiro pelos autores pioneiros, em muito relacionados à capacidade de diferenciar
o movimento lógico-estrutural da acumulação capitalista de seu movimento histórico-
institucional (contingente), a análise das formas particulares de associação entre capitais –
como a associação entre bancos e indústrias no estudo de Hilferding – possibilitou a estes
autores diagnósticos mais concretos sobre a composição das diversas alianças entre frações de
classe.
Nos casos que exemplificam a forma atual de caracterizar o capital financeiro, principalmente
nos trabalhos influenciados pela Escola da Regulação, demonstrou-se predominante a noção
de regime de acumulação financeirizado ou de dominância financeira no tratamento dos casos
específicos. Essa noção reforça as atenções nas formas de subordinação dos aspectos
particulares às tendências mais gerais da acumulação capitalista em escala mundial, tendo
como resultado uma caracterização do modo de produção capitalista que tende a obscurecer a
articulação entre as diversas clivagens próprias do sistema capitalista mundial, isto é, centro,
semiperiferia e periferia. O artigo visa apresentar uma breve crítica ao conceito de dominância
financeira e uma proposta de interpretação do capital financeiro mais apropriado ao estudo de
sua penetração na periferia.
Palavras-Chave: Marx, Dominância Financeira, Capital Financeiro.
O Autor é mestre e doutorando em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, pesquisador do
Núcleo de Estudos Industriais e Tecnológicos do IE/Unicamp e membro-colaborador do Laboratório de Estudos
Marxistas José Ricardo Tauile – LEMA-IE/UFRJ.
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SOBRE A “DOMINÂNCIA FINANCEIRA” NO ESTUDO DO CAPITAL
FINANCEIRO: QUESTÕES SOBRE A ARTICULAÇÃO CENTRO-PERIFEIRA
1.INTRODUÇÃO
As transformações ocorridas nas últimas décadas do século XX, na sequencia do fim
do regime de Bretton Woods, reanimaram o antigo debate marxista sobre o capital financeiro,
como uma consequência da retomada da hegemonia financeira após o interregno de Bretton
Woods. Embora historicamente esse processo seja passível de compreensão a partir das
tendências mais gerais já apontadas por Marx em O Capital, o processo histórico da retomada
da hegemonia do capital financeiro se fez, sobretudo, a partir da disposição das burguesias
dos países centrais em levar adiante o processo de desregulamentação financeira.
Nesse caso, a interpretação pode ser entendida como um processo que se inicia no
centro capitalista (Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, basicamente) e se
irradia para as demais zonas do sistema capitalista, de forma que burguesias após burguesias
aderem às tendências impostas pelas burguesias centrais de liberar os entraves ao
desenvolvimento das “potencialidades” do modo de produção capitalista. Logo, em um
primeiro ponto de vista, embora a decisão do ritmo e da penetração do processo seja
resultante dos arranjos intraburguesia dos países centrais, o sentido do processo é aquele
apontado pelo devir da própria acumulação capitalista – particularmente do capital a juros.
Ainda que essa interpretação não seja substancialmente equivocada – o que
provavelmente não o é – seu maior problema reside no fato de que as formas de integração no
processo não só são diferenciadas, como as diferenças são fundamentais para se compreender
os graus de diferenciação criados dentro da periferia do sistema, sobretudo em relação à
consolidação da posição dos países ditos semiperiféricos (WALLERSTEIN, 1979). O que não
significa que algum país capitalista tenha permanecido à margem do processo, mas que esse
processo transformou os vínculos sistêmicos entre centro, periferia e semiperiferia; e que
neste contexto, as análises baseadas nas tendências mais gerais do sistema pouco tem a dizer a
respeito das transformações ocorridas nos vínculos entre as diversas clivagens do sistema
Trabalho preparado para a apresentação no I Seminário de Crítica da Economia Política – março de 2012,
Teófilo Otoni, MG.
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capitalista e sobre as formas como as burguesias de alguns países utilizaram o momento
histórico para consolidar sua posição intermediária na divisão internacional do trabalho.
Na disseminação do processo de financeirização pelo sistema capitalista, as formas
de inserção foram fundamentais, por exemplo, no redesenho das zonas regionais de influência
das burguesias semiperiféricas. O resultado deste processo foi consequência dos arranjos de
classe internos a estes países e da trajetória histórica de assimilação das forças produtivas
especificamente capitalistas, entre uma série de outros fatores que podem ser lembrados, mas
que se referem em última instância a uma determinada situação nacional particular.
Tendo isto em mente, vale retornar a questão do ressurgimento do debate sobre
capital financeiro. Como será discutido adiante, em que pese certos determinismos na obra
dos autores pioneiros a destacar a “forma financeira”, boa parte da atenção destes autores –
Hilferding, Bukharin e Lenin – estava focada na análise da situação de classe própria de seus
respectivos países e na organização da disputa intercapitalista no plano internacional,
mantendo no centro da atenção mais nas análises particulares de classe e menos nas
tendências gerais de reprodução da economia capitalista. As escassas referências mais
específicas às reorganizações internas das classes dominantes, em prol do tratamento mais
geral dado ao devir do capital a juros é uma marca específica da retomada do debate sobre
capital financeiro em relação ao período pré-crise de 1929 (HARVEY, 1982).
O estudo que se segue visa discutir as implicações envolvidas nesse tratamento das
formas de expansão do capital financeiro, sobretudo quando a análise recai sobre as formas de
inserção da zona periférica no sistema capitalista. A primeira seção procura apresentar as
principais contribuições sobre a “Dominância Financeira”, sobretudo aquelas que têm como
influência a Escola Francesa da Regulação, enfocando nos principais problemas relativos a
esta questão. A segunda seção procura apresentar uma interpretação a respeito da leitura e do
encaminhamento das análises realizados pelos autores pioneiros no tratamento do capital
financeiro, ressaltando as tensões presentes na obra destes autores em relação ao movimento
histórico-institucional (específico, contingente) e o movimento lógico-estrutural (geral,
imanente). A terceira seção apresenta uma tentativa de interpretação teórica do capital
financeiro que resulte em um arcabouço mais próprio às análises das realidades mais
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específicas. As considerações finais retomarão as discussões referentes ao que foi apresentado
nas demais seções.
2. O REGIME DE ACUMULAÇÃO COM DOMINÂNCIA FINANCEIRA
A noção de “Regime de Acumulação”, utilizada por um grupo relativamente grande
de autores, embora represente uma ideia geral bem compreendida, encontra uma série de
divergências em sua interpretação que dificultam uma delimitação teórica muito precisa.
Entretanto é possível demarcar algumas noções consensuais sobre a definição de regime de
acumulação. Sobretudo porque geralmente são essas noções que estão por detrás das análises
que se servem do conceito de regime de acumulação financeirizado.
François Chesnais (2002) apresenta uma boa síntese sobre as noções básicas
envolvidas na definição de um regime de acumulação. Em primeiro lugar está a ideia da
essencialidade institucional na “superação momentânea dos limites imanentes do modo de
produção capitalista” (idem, p.1), isto é, da existência de compromissos entre classes acerca
da estabilização dos mecanismos de reprodução do capital, materializado em um conjunto de
instituições formais que contem os conflitos de classe e regula as formas de apropriação da
mais-valia. Subentendendo que todo esse conjunto defina certa regularidade nas formas de
acumulação de capital, em sua concepção mais ampla, envolvendo não só reinversão de mais-
valia mais também outras formas, como “apropriação, punção e centralização em direção a
centros de acumulação mais fortes que outros” (idem, p.8).
A breve descrição sobre regime de acumulação permite definir as dimensões básicas
envolvidas no que se entende por regime de acumulação “financeirizado” ou de “dominância
financeira”. O regime de acumulação financeirizado tem como marco fundamental os
processos de descompartimentalização, desregulação e desintermediação financeira
(CHESNAIS, 2002; 2005). Esses processos são fundamentais na compreensão das novas
configurações dos acordos entre classes dominantes e na formação do arcabouço institucional
próprio ao suporte do regime de acumulação.
Como descompartimentalização se enquadra os fenômenos relativos à integração das
diferentes funções financeiras e dos diferentes mercados para essas atividades, processo
apoiado na concentração das atividades em grandes empresas financeiras que atuam nos
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diversos segmentos do setor financeiro. Chesnais (2005) diferencia o processo de
descompartimentalização interna – referente ao fim da segmentação do setor bancário – da
externa – referente à liberalização do acesso aos mercados nacionais de títulos, crédito e
câmbio para operadores estrangeiros. Processo que, por sua vez, permitiu que a concorrência
levasse a cabo a concentração de capital horizontalmente dentro do sistema financeiro.
A desregulação refere-se ao processo de perda do controle sobre as atividades
financeiras pelas autoridades nacionais, devido não só a capacidade de o capital financeiro
impor politicamente sua hegemonia removendo os controles existentes como também ao
surgimento de novos produtos financeiros que escapavam aos controles existentes. Em outros
termos, foi o processo de liberalização dos diversos mercados financeiros à utilização das
inovações instituídas pelo setor financeiro – como os mecanismos de ressecuritização - e ao
acesso dos grandes investidores institucionais.
O processo de desintermediação financeira está relacionado ao aumento da
importância de instituições financeiras não bancárias como emprestadoras, sendo o fato
substancial o aumento da importância do capital-dinheiro proveniente não só das novas
formas de centralização de capital, mas também os fundos líquidos das grandes empresas
(CHESNAIS, 2005; PLIHON, 1999). Todos esses processos estão interligados, permitindo o
aumento da liquidez dos investimentos devido à possibilidade de entrar e sair dos diversos
mercados financeiros com pronta facilidade. Do mesmo modo, o surgimento de novos
produtos financeiros, entre os quais as dívidas públicas dos diversos países integrados nesse
processo, permitiu a multiplicação dos diversos mercados financeiros, condição necessária
para reforçar a liberalização do acesso aos mercados. Em linhas gerais, o encadeamento
desses três processos representam o exercício da hegemonia do capital financeiro na
integração das diversas economias nacionais, ou como argumenta Chesnais (2005: 45):
Mas o conteúdo efetivo dessa integração resulta, de maneira concreta, das decisões
tomadas e das operações efetuadas pelos gestores das carteiras mais importantes e
mais internacionalizadas. A personificação dos “mercados” (seu antropomorfismo)
não é trivial. Exprime, simultaneamente, ao menos três dimensões do poderoso
crescimento da finança. A primeira concerne ao movimento de autonomia relativa da
esfera financeira em relação à produção, mas sobretudo em face da capacidade de
intervenção das autoridades monetárias. A segunda relaciona-se ao caráter fetiche,
perfeitamente mistificador, dos “valores” criados pelos mercados financeiros. A
terceira remete ao fato de que são operadores que delimitam os contornos da
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mundialização financeira e decidem quais agentes econômicos, pertencentes a quais
países e em quais tipos de transações, participarão.
Desse modo, o desenvolvimento histórico do capital portador de juros, encontra
correspondência em seu desenvolvimento lógico-estrutural, tal qual expresso em seu devir –
centralização, sofisticação das formas de crédito, autonomização e crescimento do capital
fictício, etc – e adquire existência concreta em formas institucionais que garantem a
reprodução ampliada desse processo, como também a contenção de parte dos conflitos ao
atrelar a poupança de uma parcela dos trabalhadores aos rendimentos do capital financeiro.
Embora haja uma diferença significativa sobre a opinião de diversos autores em relação à
possibilidade dessas características cumprirem os requisitos necessários à caracterização de
um regime de acumulação, é aceito que os processos descritos representam a imposição da
hegemonia do capital financeiro em plano global e de sua autonomia relativa em relação à
produção (CLEVENOT, 2006).
Logo, a passagem se faz da hegemonia do capital financeiro para a materialização de
formas institucionais próprias ao desenvolvimento das potencialidades do devir do capital
portador de juros. Primeiramente, em relação à subsunção da esfera produtiva às finanças, o
que institucionalmente se concretizou através da criação de mecanismos de coerção das
decisões de produção às exigências do capital financeiro. Em segundo lugar, em relação à
disseminação mundial do aparato institucional necessário à imposição local da hegemonia do
capital financeiro em nível mundial.
Embora a disseminação total das formas mais desenvolvidas do capital financeiro
seja entendida por muitos autores como pouco provável fora do âmbito anglo-saxão, a
abertura e liberalização dos mercados financeiros impuseram, especialmente às economias
periféricas, formas concretas de subsunção do capital local ao capital financeiro global. Os
mecanismos de subordinação são caracterizados principalmente pelos efeitos das altas e
baixas dos fluxos de capitais e à aquisição de parte do controle sobre os sistemas produtivos
nacionais pelas instituições internacionais que controlam a centralização do capital-dinheiro.
Há uma determinada questão metodológica envolvida nessa interpretação,
principalmente em relação à evolução dos vínculos sistêmicos do modo de produção
capitalista, que dificulta a compreensão da diferenciação interna à periferia a partir do
processo de financeirização. As questões envolvidas em método podem ser sintetizadas a
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partir de duas problemáticas gerais, uma a respeito dos diversos arranjos de classe envolvidos
na montagem e evolução de um sistema industrial na periferia e outra questão a respeito da
importância da concorrência intercapitalista em descrever formas diferentes de inserção no
processo de financeirização a partir da disposição das burguesias locais em defender seus
espaços de acumulação. Em ambos os casos, são processos mediados por circunstancias
específicas, e portanto, somente podem ser compreendidas a partir da referência a situações
contingentes ao processo, isto é, que não estão previstas no devir das leis de tendências.
Em grande parte estes problemas estão envolvidos no conceito utilizado de capital
financeiro e de “dominância financeira”. A caracterização de um regime de acumulação por
vezes pressupõe a disseminação de mecanismos característicos da “regulação” de um regime,
que tendem a reproduzir a lógica já definida pelo movimento das economias centrais,
resultando em análise que negligenciam os mecanismos de defesa das classes dominante em
seus espaços nacionais, de grande importância historicamente em descrever a estabilização de
diferentes graus de clivagem dentro do sistema capitalista mundial – tal como o
estabelecimento de uma semiperiferia e a expansão de sua zona regional de influência. Essa
tendência já havia sido exposta por Jessop (1995: 320):
Although the regulation approach has been applied to a wide range of integral
economic phenomena, its principal strengths and most distinctive contributions are in
the field of macro-economics. This does not imply that it adopts a narrow macro-
economic perspective: its heuristic and explanatory power consists above all in its
concern with the regularization of macro-economic arrangements (accumulation
regimes), various types of economic crisis, and the nature and role of social modes of
economic regulation in economic stabilization, crisis-management, and the transition
between accumulation regimes. Moreover, while all regulation theorists eschew
teleological explanations for social modes of economic regulation and many reject ex
post functionalist accounts, there is a strong emphasis on the emerging institutional
complementarities at lower levels that sustain an accumulation regime, the character
of which is often taken for granted (especially in historical rather than prospective
studies).
Tomando um processo em particular, como a desintermediação financeira, é possível
exemplificar melhor a crítica. A passagem das finanças intermediadas para a economia dos
fundos próprios – como denominou Plihon (1999; 2005) – representou a mudança do modo de
controle sobre as grandes corporações, uma mudança significativa em relação ao controle das
grandes corporações no regime da acumulação anterior. Em oposição à autonomia dos
executivos das grandes corporações em relação aos acionistas pulverizados e com pouca
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capacidade de controlar as decisões1, o regime de acumulação financeirizado haveria
instituído investidores institucionais com capacidade de controlar as decisões dos
administradores, através de mecanismos institucionais de despersonificação das decisões
individuais das grandes empresas – identificados com os padrões apropriados de corporate
governance – obrigando-as a assumirem uma lógica comum, de redução do escopo de
atividades, redução do compromisso com investimentos de longo prazo, etc.; em suma, o
alinhamento com os princípios da maximização do valor acionário que davam primazia ao
controle dos acionistas sobre a conduta da empresa.
O alinhamento das diversas economias nacionais com esse processo foi não só
heterogêneo, como também o controle acionário sobre as empresas fora do âmbito anglo-
saxão já era concentrado ao ponto dessas mudanças pouco afetarem a estrutura de propriedade
das empresas de capital aberto e seu padrão de tomadas de decisão. Além da concentração da
estrutura de propriedade das empresas de capital aberto, a “economia de fundos próprios” já
era uma realidade prévia a financeirização, no sentido que grande parte dos países de
industrialização tardia durante seu processo de catch up criaram “investidores institucionais”
que compunham a estrutura de propriedade de diversas empresas; e nesse caso, a
financeirização resultou muito mais da reorganização destes mecanismos no interior das
economias nacionais do que a modificação substancial no padrão de financiamento das
grandes empresas2.
O ponto fundamental é a pouca preocupação entre o movimento histórico que
encontra respaldo no devir do modo de produção capitalista e o movimento histórico
contigente, cujo um dos problemas fundamentais é a articulação das formas particulares
assumidas pela concorrência intercapitalista, sobretudo quando mediado pela evolução do
sistema estatal que compõe o sistema capitalista mundial, tomado também como um
componente fundamental na definição das formas de desenvolvimento do sistema capitalista
como um todo (HOPKINS e WALLERSTEIN, 1982).
1 Tal como descrito por Berle e Means (1985), independente da questão se o livro de Berle e Means em questão
realmente representasse uma boa descrição da relação entre administradores das grandes corporações e seus
financiadores no capitalismo posterior aos anos 1930. 2 O caso brasileiro representa bem esta questão. A maioria dos mecanismos de controle externo pelos acionistas
foi vetada durante a discussão da Lei das S.A. e os principais “investidores institucionais” que participam do
controle e propriedade das grandes empresas são instituições financeiras públicas (ROCHA, 2011).
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Apesar das críticas passíveis de serem feitas ao tratamento do capital financeiro pelos
autores do início do século XX, uma parte das tensões presentes na obra destes autores
provinham de preocupações semelhantes às críticas apresentadas. A seção seguinte visa
realizar uma interpretação do método adotado por estes autores – Hilferding, Bukharin e
Lenin – com o intuito de recuperar pontos importantes para a análise das articulações
particulares entre as frações de classe que compõem o capital financeiro.
3. CAPITAL FINANCEIRO E FINANCEIRIZAÇÃO NA ABORDAGEM CLÁSSICA
A diferença quanto ao tratamento das classes sociais entre os dois momentos de
concentração da análise marxista no estudo sobre o capital financeiro foi apontada
inicialmente por David Harvey (1982). Segundo o autor, haveria duas concepções sobre o
capital financeiro, uma baseada no processo de circulação do capital portador de juros e outra
baseada na análise sobre a institucionalização de um bloco de poder no interior da burguesia,
associando organicamente diferentes frações da burguesia (idem, 1982: 316). A observação de
Harvey diz muito a respeito das questões negligenciadas por cada enfoque. Entretanto, se a
opção dos estudos sobre financeirização foi adotar um enfoque totalizante do processo, muitas
vezes colocando em segundo plano a análise concreta de classes, os trabalhos sobre capital
financeiro e imperialismo no começo do século ao partir de situações históricas específicas
apresentaram tensões típicas do método, principalmente em relação à associação entre teoria e
história.
O uso do termo capital financeiro se popularizou no debate a partir da obra de R.
Hilferding. Embora o apego ao caso alemão tenha acabado por ter obscurecido o plano
original da obra do autor, não foi por acaso que sua análise embasou uma série de estudos
posteriores em outros países. Hilferding procurou desenvolver a análise marxista da
concentração e centralização do capital, incluindo o papel desempenhado pela concorrência
intercapitalista e o sistema de crédito no interior desses processos (ZONINSEIN, 1990). Ao
decorrer da análise concreta do processo, Hilferding encontrou a manifestação de tendências
já apontadas por Marx do capital evoluir para formas associativas3 mediante a centralização,
3 Nos Manuscritos Econômicos-Filosóficos, por exemplo, Marx (2004:48) apontava a mesma tendência: “a
concorrência só é possível porque os capitais se multiplicam e, sem dúvida, em muitas mãos. A formação de
muitos capitais só é possível mediante uma acumulação multilateral porque, em geral, o capital só surge por
acumulação, e a acumulação multilateral transforma-se necessariamente em [acumulação] unilateral”.
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em alguns casos internalizando institucionalmente os conflitos entre capital a juros e capital
em função ao longo do ciclo econômico.
Nesse sentido, Hilferding recupera de Marx a interpretação de que concentração e
centralização somente podem ser considerados como processos inerentemente recíprocos a
partir do desenvolvimento das formas particulares de capital – capital industrial, capital
comercial e capital portador de juros – e das formas de associação entre capitais criadas pela
centralização. Este tema será discutido com maiores detalhes na seção seguinte; porém, a
questão central já contida no trabalho de Hilferding (1985), é que o processo de centralização
tem como efeito também a crescente supressão das formas particulares de capital pela
crescente associação entre blocos de capital. Em outras palavras, afasta-se o caráter antitético
aparente entre capital industrial e capital a juros, e portanto, há também uma modificação
fundamental na forma em que se dá a concorrência, na qual sua estrutura passa a depender
menos da empresa individual e mais do capital social como um todo – nacionalmente
constituído. Nesse sentido que tanto Hilferding como Lênin associaram essa evolução ao fim
da chamada livre concorrência.
A tendência à fusão das formas particulares do capital através dos próprios nexos
sistêmicos necessários para o desenvolvimento ulterior do modo de produção capitalista foi,
entre os pontos abordados por Hilferding, provavelmente o que ganhou maior destaque nas
obras posteriores; como pode ser observado, por exemplo, na obra de Lênin através da
alternância entre o uso do termo Capital Financeiro e Capital Monopolista4. Isso revela que,
apesar da generalização que por vezes exibe a obra de Hilferding, por trás das formas
contingentes de constituição do capital financeiro, o autor segue Marx ao expor como
tendência imanente do sistema evoluir para formas associativas de capital (BRAGA e
MAZZUCHELLI, 1981; LEBOWITZ, 2005).
Em sua definição mais abrangente, é a esse processo que Hilferding denomina de
Capital Financeiro, isto é, o capital industrial que mantém sua forma capital-dinheiro através
do sistema de crédito e do mercado de títulos (HILFERDING, 1985). Dito isto, a confusão
4 Ao criticar a interpretação de Hilferding, Lênin argumenta que a “definição não é completa porque não indica
um dos aspectos mais importantes: o aumento da concentração da produção e do capital em grau tão elevado que
conduz, e tem conduzido, ao monopólio. Mas em toda a exposição de Hilferding em geral, e em particular nos
capítulos que precedem aquele de onde retiramos esta definição, sublinha-se o papel dos monopólios
capitalistas” (LÊNIN, 1982:610).
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entre atividades industriais e bancárias desempenhadas pela mesma associação de capitais
passa a ser uma questão secundária, entendendo o Capital Financeiro como uma forma mais
geral da atividade capitalista que reúne em uma mesma estrutura empresarial, os vínculos de
financiamento e controle necessários para a execução de empreendimentos de grande porte, e
com capacidade de exercer influência sobre uma série de empresas ao longo da cadeia
produtiva que, mesmo não possuindo participação acionária direta, se tornam dependentes
dessas estruturas através de relações de suporte técnico e financeiro. Nas palavras de
Hilferding (1985: 219):
Chamo de capital financeiro o capital bancário, portanto o capital em forma de
dinheiro que, desse modo, é na realidade transformado em capital industrial. Mantém
sempre a forma de dinheiro ante os proprietários, é aplicado por eles em forma de
capital monetário – de capital rendoso – e sempre pode ser retirado por eles em forma
de dinheiro. Mas, na verdade, a maior parte do capital investido dessa forma nos
bancos é transformado em capital industrial, produtivo (meios de produção e força de
trabalho) e imobilizado no processo de produção. Uma parte cada vez maior do capital
empregado na indústria é capital financeiro, capital a disposição dos bancos e, pelos
industriais.
Embora se reconheça que a situação atual represente um descolamento muito
superior entre o capital financeiro e sua contrapartida imobilizada ao que Hilferding poderia
supor, se defende a ideia de que o descolamento – e em última instância, a autonomia relativa
– embora seja descrita como uma possibilidade do modo de produção capitalista, não
representa algo imanente ao desenvolvimento do sistema.
O deslocamento do processo de concorrência, das empresas individuais para o capital
social como um todo, observada por Hilferding e também apontada por Lênin, foi peça
fundamental na montagem da interpretação do imperialismo de N. Bukharin. Em A Economia
Mundial e o Imperialismo, Bukharin buscar compreender a associação direta do capital
financeiro ao crescente intervencionismo estatal na condução da industrialização, que
dependeu, sobretudo, da explicação da crescente politização da economia experimentada a
partir do período imediatamente anterior à Primeira Guerra (ALTVATER, 1987). Mais
especificamente, no sentido da identificação entre a industrialização e a questão nacional.
Seguramente, Nikolai Bukharin foi primeiro quem percebeu melhor a importância da
questão, ou pelo menos buscou construir uma teoria mais bem estruturada sobre esse ponto.
De acordo com Bukharin (1984), os conglomerados ao controlarem diversos elos das cadeias
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produtivas, internalizam grande parte da divisão social do trabalho em um pequeno número de
estruturas empresariais coligadas, solidarizando a condução da política econômica em cada
país com a sorte desses conglomerados.
O fator determinante nessa dinâmica é a internacionalização do capital dos países
centrais. A concorrência capitalista ao se internacionalizar solidariza os interesses nacionais
em torno da sobrevivência das empresas locais e contra a concorrência estrangeira, no sentido
da elevação do capital social. Sendo assim, a concorrência internacional também é deslocada
para uma posição de objeto de interesse público mais geral, sendo amplamente apoiada em
um conjunto de políticas e instituições de Estado para o suporte da concorrência entre
conglomerados. Como uma resposta ao padrão de concorrência imposta pelos próprios
conglomerados, ocorre o que o autor denominou de “processo de nacionalização do capital”
(BUKHARIN, 1984:72), isto é, o deslocamento da concorrência intercapitalista para o âmbito
da concorrência entre sistemas econômicos nacionais.
Desse modo, atingido certo nível de centralização do capital dentro das fronteiras
nacionais, seu processo de internacionalização acaba por induzir a aceleração dos processos
de centralização em outros espaços nacionais, resultando na consolidação de capitais
nacionais em associação competindo internacionalmente entre si. O início da industrialização
dos latters comers, sob essa perspectiva, marca também o início da industrialização como uma
peça-chave da política de Estado. Que viria a se materializar em um sistema formado por
grandes conglomerados e associações comerciais, inserido em uma estrutura de suporte
público à indústria. A necessidade de lidar com a internacionalização do capital das
economias em estágio mais avançado de industrialização impôs a aceleração da formação dos
conglomerados nacionais, como reação política às rivalidades suscitadas pela concorrência
intercapitalista.
A breve digressão feita sobre a obra de N. Bukharin está relacionada com a
importância de compreender como, uma vez constituído materialmente, o Capital Financeiro
passa, através da concorrência, também a determinar suas manifestações concretas
posteriores. Desse modo, Bukharin seguiu o princípio metodológico de partir da compreensão
de um fenômeno social como um momento de um determinado todo, que por um lado
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determina o todo e é simultaneamente determinado pelo desenvolvimento do todo, isto é,
desempenha o papel de produto e produtor do todo5.
Lênin compreende que a partir deste processo a política mundial só poderia se guiada
por blocos do grande capital reunidos nacionalmente – as “oligarquias financeiras” nacionais.
O autor também aponta que ao longo do ciclo econômico, são justamente os setores com
suporte do “capital financeiro” que comandam o processo de concentração, resultando em
uma seleção em que os grandes monopólios tendem a se consolidar durante as crises, e a
buscar aplicações fora dos limites fronteiriços, se impondo como modo predominante da
organização da produção capitalista em nível global. Reconhecendo nesse processo inclusive
a fundação de monopólios controlados pelo Estado – a estatização de algumas empresas e
setores – como forma de defesa das burguesias locais sobre a investida do capital financeiro
estrangeiro, argumentação cuja influência de Bukharin pode ser reconhecida. Principalmente,
no sentido da nacionalização das formas de concorrência e das transformações das formas
específicas de manifestação do capital financeiro – como, por exemplo, a grande empresa
estatal6.
Como percebeu Bukharin e Lênin, a expansão do capital financeiro acelera o
processo de formação de arranjos entre as diversas frações de classe em torno da defesa de
seus espaços de acumulação. No entanto, as formas de monopolização do capital – que para
os autores em questão está diretamente relacionada com o capital financeiro7 - não são
realizadas a partir do abstrato, mas a partir do nível de desenvolvimento das forças produtivas
e do arranjo de classes presentes em uma realidade nacional. Expondo de forma diferente, o
processo de formação do capital financeiro pode partir da associação entre setor bancário e
indústria sob a hegemonia do capital portador de juros, ou pode ser realizado através da
“financeirização” da burguesia industrial pela diversificação de suas formas de apropriação da
5 Como aponta Karel Kosik (1976:49): “Esta recíproca conexão e mediação da parte e do todo significam a um
só tempo: os fatos isolados são abstrações, são momentos artificialmente separados do todo, os quais só quando
inseridos no todo correspondente adquirem verdade e concreticidade. Do mesmo modo, o todo de que não foram
diferenciados e determinados os momentos é um todo abstrato e vazio”.
6 Este ponto é desenvolvido em Rocha (2011).
7 No período posterior a Segunda Guerra, sobretudo por conta da regulação sobre o setor financeiro, dos
problemas contidos na obra de Hilferding e da influência das obras de P. Baran e P. Sweezy, o conceito de
Capital Financeiro foi substituído por Capital Monopolista, adotando o conceito sugerido por Lênin, embora
substancialmente, represente muitas das tendências já descritas pelos autores anteriores.
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mais-valia ou ainda sob a forma de fundos públicos de centralização de capital-dinheiro sob
comando da burguesia industrial.
Novamente, o problema está em separar o que é próprio do movimento da lei geral
de acumulação, e portanto, imanente ao modo de produção capitalista, daquilo que é
específico as condições de realização das tendências da acumulação capitalista, e por
oposição, contingente a manifestação histórico-institucional das tendências do modo de
produção capitalista (LEBOWITZ, 2005). Logo, uma parte significativa das críticas possíveis
às duas abordagens sobre capital financeiro reside na mesma questão, porém incorrendo em
erros opostos, isto é, tomar o movimento geral como um padrão de conformação das
estruturas econômicas ou tomar a conformação de estruturas específicas imediatamente como
a realização do movimento geral de acumulação capitalista. A próxima seção busca contribuir
para organizar a discussão em torno do que é específico e do que é geral ao desenvolvimento
do capital financeiro.
4. DESENVOLVIMENTO GERAL E FORMAS ESPECÍFICAS DO CAPITAL
FINANCEIRO
Além da análise das formas iniciais do desenvolvimento capitalista, Marx também
fez uma série de importantes considerações a respeito dos limites encontrados para o
desenvolvimento ulterior da grande indústria. As contradições presentes em seu
desenvolvimento foi o processo fundamental de transformação das demais instituições
econômicas e de subordinação à sua forma capitalista. Em um primeiro momento, isso é
válido inclusive para a esfera financeira, que no decorrer do desenvolvimento das forças
produtivas modifica fundamentalmente sua natureza, no sentido de estreitar os vínculos entre
capital industrial e capital a juros. De acordo com a interpretação de Marx é a grande indústria
que revoluciona os vínculos entre capital industrial e capital a juros, responsáveis pelo
desenvolvimento do capital financeiro propriamente dito.
Segundo Marx, o significado da grande indústria foi a possibilidade da subsunção de
facto do trabalho a produtividade do capital. O crescimento da produtividade, nesse caso,
ficou sujeita apenas aos limites impostos pelo próprio capital, particularmente, aos limites
impostos pelo crescimento do capital constante e pelo aumento do tempo de circulação.
Ambos os efeitos, ao incidirem sobre o tempo de rotação do capital (MARX, 1973b), impõem
14
como limite ao desenvolvimento das forças produtivas o crescimento do tempo de rotação do
capital empregado.
No caso do aumento do capital constante, os efeitos se devem ao aumento da
proporção entre trabalho morto – incorporado no capital fixo - e trabalho vivo – ou seja,
capital variável. O que leva, entre outras coisas, a necessidade de aumento da quantidade de
capital-dinheiro retirado diretamente do processo de produção capitalista, “entesourado” para
a reposição futura desse capital fixo; e em paralelo, um acréscimo crescente do ativo
imobilizado, do ponto de vista do capitalista individual. O aumento do capital fixo também se
traduz em um crescimento da massa de mercadorias produzidas, e na crescente dificuldade de
colocá-las no mercado. O incremento da massa de mercadorias colocadas no mercado implica
em um maior tempo de circulação, resultando em termos práticos também em um aumento do
tempo de rotação do capital. Em termos financeiros, o aumento mais que proporcional do
capital em relação às vendas significaria um incremento do turnover de capital da empresa. A
implicação direta seria uma tendência ao crescimento dos gastos relacionados com a
realização das mercadorias, que se traduz em um aumento na proporção entre trabalho
produtivo e improdutivo.
Como apontado por Marx, a ampliação da produção capitalista estaria sujeita a um
aumento da quantidade de capital-dinheiro retirado do processo de circulação de mercadorias,
tendo como resultado o acirramento da instabilidade do sistema, particularmente em relação a
situação de liquidez corrente das empresas. Nesse contexto, o avanço das forças produtivas
necessita estar em compasso com a ampliação da estrutura financeira que lhe dá suporte.
Particularmente, o desenvolvimento do capital financeiro está estritamente vinculado com a
necessidade do sistema em remanejar as posições líquidas entre os capitalistas, imposta pelo
crescimento do capital constante.
Logo, o aumento da proporção entre trabalho morto, incorporado no capital fixo, e
trabalho vivo – expressão da Lei Geral da Acumulação Capitalista – tem como consequências
a crescente desproporção entre a quantidade de capital-mercadoria e capital-dinheiro que
entram no processo de circulação. O desenvolvimento subsequente do sistema financeiro é em
parte a forma como a contradição engendra sua superação, a partir da organização de formas
institucionais de remanejamento do capital-dinheiro “ocioso” e disperso.
15
Esse processo traz consigo transformações importantes no funcionamento do sistema
capitalista. A organização do mercado acionário mais especificamente implica na modificação
da forma de avaliação do capital fixo, na qual se abre a possibilidade da autonomização da
relação entre o valor dos ativos e a representação mobiliária de seus respectivos valores, e a
tendência crescente de sua avaliação estar cada vez mais baseada nas expectativas em relação
ao seu rendimento futuro. Esta negociação de posições entre capital-dinheiro e capital em
funções permite, em primeiro lugar, que o aumento do capital constante seja grande o
suficiente para que, apesar do aumento da composição orgânica, a massa de lucro produzida
seja grande o suficiente para compensar qualquer outra tendência. Em outros termos,
possibilita a operação das economias internas necessária para elevar suficientemente a
produtividade do trabalho, ou seja:
Si aumenta la masa y con ella la suma de valor del capital empleado, esto sólo
representa por el momento la concentración de mayor capital en una sola mano. Pero
es precisamente esta masa mayor, empleada por una sola mano – a la que casi siempre
corresponde, además, una masa absolutamente mayor, aunque relativamente más
pequeña, de trabajo empleado – la que permite esta economía del capital constante. Si
nos fijamos en el capitalista individual, vemos que aumenta, principalmente con
respecto al capital fijo, el volumen de la inversión necesaria de capital; pero con
referencia a la masa de la materia elaborada y del trabajo explotado disminuye en
términos relativos. (MARX, 2001: 100)
Em paralelo, a troca de posições entre capital-dinheiro e capital em funções leva a
troca de posições de propriedade, em que o título de propriedade sobre parte do capital
produtivo é cedido, de modo que a concentração de capital pela acumulação individual vai
dando espaço ao comando centralizado sobre o capital de vários capitalistas. Desta forma, o
mercado acionário acirra outra tendência já apontada por Marx:
No se trata ya de una simple concentración, idéntica a la acumulación, de los medios
de producción y del poder de mando sobre el trabajo. Se trata de la concentración de
los capitales ya existentes, de la acumulación de su autonomía individual, de la
expropiación de unos capitalistas por otros, de la aglutinación de muchos capitales
pequeños para formar unos cuantos capitales grandes. Este proceso se distingue del
primero en que sólo presupone una distinta distribución de los capitales ya existentes y
en funciones; en que, por tanto, su radio de acción no está limitado por el incremento
absoluto de la riqueza social o por las fronteras absolutas de la acumulación. (MARX,
1973a: 529)
O desenvolvimento conjunto das formas particulares de capital – capital industrial,
comercial e bancário – portanto, articula essa estreita relação entre concentração e
centralização como fenômenos ligados pelo mesmo processo. Nesse sentido, a concentração e
16
centralização são diretamente relacionadas com o crescimento dos vínculos entre as diversas
frações da burguesia. Esta relação é acelerada pela possibilidade da aparente duplicidade que
a existência do capital adquire no processo de circulação a partir do mercado de títulos. O
descolamento da representação mobiliária do capital e aquilo que ela representa produz a
aparência de autonomia da esfera financeira em relação à produtiva, porém a criação de graus
de autonomia não deve ser tomada em relação a outras frações da burguesia, mas em relação
às formas particulares adquiridas pelo capital em seu processo de acumulação.
A questão desloca-se então para o fato que o capital financeiro é capital que se
autonomiza de suas determinações “verdadeiramente sociais”8 (PAULANI, 2009), adquiridas
no processo de produção/circulação. A forma autônoma adquirida pelo capital só é possível
pela sua aparente duplicidade, como capital em sua forma concreta específica, dotado de suas
determinações formais – capital produtivo e capital-mercadoria – e como título de
propriedade sobre mais-valia a ser realizada pelo mesmo capital; e só possível mediante os
vínculos concretos e necessários criados por esse capital em seu processo de valorização. O
desdobramento da existência do capital permite que capitalistas detentores de capital-dinheiro
troquem suas posições líquidas contra parcelas de capital fixo de outros capitalistas, dando
origem a um conjunto de associações entre os diversos capitais, no qual a posse sobre o
capital não muda mais sim sua apresentação formal e, com isto, os vínculos com outros
capitais necessários ao seu processo de valorização.
Vale notar, que a princípio o resultado do processo é basicamente o mesmo que foi
descrito independente se ocorre através da renegociação dos títulos de propriedade no
mercado de valores, ou se ocorre pelo desenvolvimento do sistema bancário de crédito de
longo prazo, em que ativos são dados como garantias em contrapartida. Há entre as diversas
formas de financiamento uma série de diferenças relacionadas à forma como são criados e
exercidos os direitos de propriedade sobre o capital cedido. O importante, neste caso, é
8 O interpretação utilizada pode ser resumido na seguinte afirmação da autora (PAULANI, 2009): “A existência
desses dois tipos de formas sociais [concreta e geral], que foi a maneira encontrada por Marx para traduzir o
caráter antitético da moderna sociedade burguesa, implica a existência de uma tensão permanente entre dois
pólos, tensão que só se resolve pela reposição dessa mesma tensão num nível superior, o que acaba por exigir
nova resolução (reposição) e assim por diante. No fundo, como veremos, a relação de oposição entre essas
formas e, por isso, a tensão permanente que reina entre elas, deriva do fato de que a sociedade moderna põe
como concreto e efetivo, aquilo que é geral. (...) Essa observação é importante porque explica por qual razão as
formas verdadeiramente sociais [específicas ao modo de produção capitalista] tendem, por sua lógica, a se
autonomizar das formas sociais das quais são antípodas, tentando, a cada passo, se desvencilhar dos entraves
concretos que impedem sua plenitude e criando assim novos níveis de tensão e novas formas de autonomização”.
17
analisar as formas gerais de desenvolvimento da estrutura, independente da superestrutura
jurídica que lhe dá cobertura. Nesse sentido, crédito é sempre encarado como centralização de
capital, Hussein (1976:11) chama atenção para esse fato ao afirmar que:
One of the main shortcomings of the descriptive literature on the periodisation of
Capitalism is that it threats a particular form of the relationship between the industrial
and financial capital as the essential form of the relationship. This tendency is present
in Lenin and Hilferding, both of them rely heavily on the German example for the
description and they treat the intimate relationship between banks and firms, more
pronounced in Germany than in the Anglo-Saxon countries, as the essential form of
the relationship between industrial and financial capital. One of the important
advantages of analyzing the relationship between industrial and financial capital in
terms of credit is that it allows us to analyse the relationship between the two forms of
capital in its diversity.
Em termos analíticos, pode-se organizar o processo histórico sobre a constituição do
Capital Financeiro a partir da criação dos mecanismos de centralização de capital, típicos da
passagem dos complexos manufatureiros para a industrialização pesada. Como foi dito, a
passagem para este estágio requer, primeiramente, lidar com o longo prazo de maturação dos
investimentos de grande porte, assim como a construção dos mecanismos institucionais de
centralização do capital.
Dito isto, a forma “financeira” do capital pode ser entendida como um
desenvolvimento necessário para que o capital alcance proporções mais elevadas de
composição técnica, tendo como resultado do processo a elevação da massa de lucro
produzida e a maior participação dos setores com maior produtividade na formação da taxa
média de lucro. Com efeito, a forma “Financeira” introduz no sistema uma série
determinações sobre a concorrência que uma vez posta historicamente, passa a dominar o
modo de produção, passando, através da formação da taxa média de lucro, a definir as
composições técnicas minimamente necessárias ao processo de valorização. Nesse caso, Marx
é enfático em afirmar os efeitos sobre a taxa média de lucro:
Las masas del valor total producido varían según las distintas magnitudes de los
capitales totales invertidos respectivamente en A, B, C y D. Por eso, la formación de
la cuota general de ganancia no implica solamente una diferencia en cuanto a las
cuotas de ganancia de las distintas esferas de producción cuya simple media se tratase
de sacar, sino que se trata de saber cuál es el peso relativo con que estas distintas
cuotas de ganancia entran en la formación de la media. Y esto depende de la magnitud
relativa del capital total de la sociedad en cada esfera de producción o de la parte
alícuota del capital total de la sociedad que representa el capital invertido en cada
esfera especial de producción. (Marx, 2001: 168)
18
A questão também pode ser posta como a maneira pela qual as taxas médias de
lucros constituídas nacionalmente, através do mercado mundial determinam as condições
mínimas para os empreendimentos capitalistas equivalentes alhures. Neste caso, pode-se
considerar o processo de equalização das taxas de lucro no mercado mundial como uma
hipótese auxiliar a de Bukharin, no sentido em que o desenvolvimento econômico – nos
marcos do capitalismo – requer a constituição de forças produtivas pelo menos equivalentes
àquelas presentes nas economias centrais. Logo, a internacionalização dos capitais com maior
grau de desenvolvimento – o que significa uma maior composição técnica – tende a
pressionar pela equalização de uma nova taxa média de lucro entre países9. Assim como
sugerido por Bukharin, a constituição dos meios necessários à elevação da composição
técnica do capital social como um todo, ou seja, a elevação da taxa média de lucro nacional ao
nível requerido pelo mercado mundial gera, via concorrência, um mecanismo de solidarização
dos interesses de classe em torno da elevação do capital social. Logo, o processo, utilizando o
termo de Bukharin, “nacionaliza” a concorrência intercapitalista10.
O desenvolvimento posterior deste processo requer a criação de um mercado
acionário suficientemente grande para permitir a troca de posições líquidas como forma de
garantir o aumento contínuo da composição técnica do capital. Como argumenta A. Hussein,
o alongamento do período de turnover dos empreendimentos capitalistas implica no
desenvolvimento necessário de formas de crédito não resgatáveis e livremente negociáveis.
A concrete example is of help here in illustrating the relationship between the forms of
credit and the effect of credit on different branches of production. Though shares in
companies have existed since the inception of Capitalism in European countries, it is
the development of public utility and transport companies which led to the
establishment of a wide market for equities. The establishment of public utility and
9 Apesar de não ter escrito o livro sobre o Mercado Mundial – presente no plano original de seu trabalho – Marx
(2001: 151) apresenta o seguinte raciocínio sobre a tendência a equalização da taxa de lucro entre países: “De lo
que se trata, en esta sección, es de exponer, concretamente, de qué modo se establece una cuota general de
ganancia dentro de um país. Es evidente, sin embargo, que al comparar las distintas cuotas nacionales de
ganancia no hay más que poner en ralación lo expuesto anteriormente con lo que se exponga aquí. Lo primero es
examinar la diferencia existente en cuanto a las cuotas nacionales de plusvalía, después de lo cual deberá
considerarse, a base de estas cuotas de plusvalía dadas, la diversidad de las cuotas nacionales de ganacia”.
10 O problema principal na hipótese de Bukharin é que implícito está o fato de que a organização das economias
no núcleo capitalista seguiu o rumo da constituição do Estado-Nacional, hipótese que dificilmente pode ser
explicada a partir das necessidades imanentes da reprodução do capital. Por outro lado, Hobsbawn (2009)
argumenta no sentido de que as reivindicações presentes nos movimentos de constituição dos Estados-Nacionais
da Europa Central – e Japão – continham clara a idéia de organização da sociedade burguesa como um fim, logo,
longe de representar um determinismo econômico, a expansão do capitalismo conferia sentido a totalidade dos
diferentes processos de constituição dos Estados-Nação, isto é, as referidas “Revoluções Burguesas”.
19
transport companies was conditional on the equity finance: irredeemable credit,
because of the large volume of money expenditure required and because of the fact
that the ratio of fixed capital to circulating capital was high and the period of turnover
of the fixed capital very long. All these account for the fact that the availability of a
particular form of credit: equities, was the condition of the existence of the public
utility and transport companies. (HUSSEIN, 1976:10)
Em suma, o desenvolvimento da dominância econômica do capital financeiro no
plano local requer a constituição de organizações especializadas na centralização do capital
creditício e na concessão de empréstimos de longo prazo; e o desenvolvimento de um
mercado de capitais, cujo peso do capital nacional seja preponderante11, o caso oposto seria a
simples subordinação plena do país as estruturas capitalistas dos países centrais, caso típico de
economias com pouco desenvolvimento das forças produtivas. O resultado observável do
processo é o crescente caráter associativo dos grandes empreendimentos econômicos,
caracterizado por grandes empresas atuando de forma diversificada através da associação com
outras organizações através da participação acionária em outras empresas, estrutura típica dos
conglomerados – ou Holding Companies. Como argumenta Delilez (1974:79):
O conglomerado constitui, concretamente, apenas um momento privilegiado de
formação de novos grupos ainda embrionários a partir de atividades industriais. Esse
momento assegura a ‘promoção’ dos capitais à categoria de capital financeiro (através
da ‘holding’), preservando durante certo tempo a sua relativa independência. Mas é
evidente que esta independência só pode ser passageira, porque o acesso ao grau de
capital financeiro acaba, mais tarde ou mais cedo, por conduzir ao afrontamento, à
negociação e à integração no ‘clube’ dos grupos financeiros já instalados.
A formação dos conglomerados industriais no período Pós-Guerra motivou uma série
de confusões na literatura contemporânea sobre o papel do Estado, em especial das empresas
públicas, e de outras instituições responsáveis pela centralização do capital. Dando origem a
debates sobre capital monopolista, capital monopolista de Estado, burguesia de Estado e
outras interpretações que geralmente erravam por se apegar às aparências adquiridas pelo
processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Entretanto, mutatis mutantis,
o processo em questão nestas obras se refere ao mesmo tratado antes da Primeira Guerra, isto
é, a relação entre centralização e a formação de formas superiores de organização capitalista
em que a distribuição da mais-valia entre lucro, renda e juros é internalizada em uma mesma
11
Entretanto, esse processo, assim como afirma Hussein (1976:15), não é passível de ser definido em um modelo
geral: “There is not a general schema of the development of the conditions of the existence of the dominance of
the finance capital, the history of each of the conditions has to be constructed on the basis of the concrete
analysis”.
20
estrutura de controle sobre o processo de produção/circulação, o que se pode denominar de
capital financeiro.
Em síntese, o processo de formação do capital financeiro, entendido como resultado
do processo de centralização e com a formação de associações entre diferentes frações de
capital que tornam secundárias as diferentes formas de apropriação da mais-valia pode ser
compreendido como um fenômeno próprio do devir do modo de produção capitalista. As
formas específicas que este processo assume, ao contrário, são passíveis de compreensão
apenas com referência as realidades particulares.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O artigo buscou comparar dois enfoques diferentes para o mesmo processo,
destacando alguns problemas comuns a ambos. Embora o enfoque sobre a “dominância
financeira” tenha demonstrado grande capacidade explicativa dos fenômenos que acirraram a
crise atual do sistema capitalista, a não diferenciação do gradiente de possibilidades de
inserção no regime de acumulação dificulta compreender a heterogeneidade dos efeitos da
crise sobre as diversas clivagens do sistema capitalista. Enquanto os estudos pioneiros sobre
capital financeiro perderam de vista as tendências que norteavam os processos de
monopolização e os fatores que definiam sua materialização em formas particulares.
Tanto em um caso como no outro, a separação dos elementos da análise e o esforço
para definir o geral e o particular são elementos necessários à compreensão das
transformações recentes do capitalismo. Se o conceito de dominância financeira foi útil para a
descrição das tendências mais gerais, o conceito demonstrou-se um tanto vago para as
análises particulares, sobretudo, em relação aos conflitos de classe provenientes da
disseminação do regime de acumulação.
Tomando em comparação o enfoque do Sistema-Mundo, o conceito de regime de
acumulação financeirizado apresenta uma série de problemas metodológicos em relação ao
tratamento dos vínculos decorrentes da divisão internacional do trabalho e de sua evolução.
Neste caso, pesa significativamente a ausência de uma abordagem mais adequada à questão
nacional e às classes sociais. Embora o foco “macro-econômico” da análise tenha servido para
antever os efeitos econômicos da crise, o balanço posterior dos seus impactos deve
21
necessariamente levar em consideração tantos as classes como a disputa intercapitalista
revestida pelos estados nacionais.
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