Sobre a Poliginia Do Chefe Indígena e Sua Relação Com a Esfera Política

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    PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICATÍTULO: Sobre a poliginia do chefe indígena e sua relação com a esfera política: uma

    leitura clastriana das etnografias Kaingang e ApurinãBeneficiário: Vitor Fernando Ferreira

      Orientadora: Artionka Manuela Ges !apiberibe

    Re!"o:"ste trabalho prop#e um debate acerca da poliginia praticada pelo chefe indígena de duas

    sociedades indígenas$ os kaingang e os apurinã$ olhando por um %i&s clastriano a relação

    'ue este tipo de associação matrimonial ('ue & pri%il&gio de alguns membros do grupo$ se

    não somente do chefe) tem com o andamento das esferas políticas destas sociedades*

    Atra%&s de uma an+lise etnolgica de estudos recentes acerca destas sociedades$ o intuito &

    tra,er -s lu,es da contemporaneidade as teses de .ierre !lastres$ mostrando sua

    aplicabilidade e dando uma no%a articulação - Antropologia política e tentar apro/im+0la ao

    estruturalismo*

    Pa#a$ra%c&a$e:.oliginia$ "tnologia indígena$ .ierre !lastres$ Antropologia .olítica$ 1roca O'(eti$o: )no "á*i"o "eia +á,ina-2 presente trabalho tem como foco a teoria de .ierre !lastres$ desen%ol%ida na obra 3A

    sociedade contra o "stado4$ segundo a 'ual e/istem sociedades 'ue se organi,am de tal

    maneira 'ue aparentam apresentar resist5ncias contra um poder centrali,ado$ daí a ideia de

    3sociedade contra o "stado4* .ara ele$ o poder político & uma necessidade social$ onde

    ha%er sociedade humana h+ poder político$ por&m ele mostra 'ue as formas 'ue este poder 

     pode se manifestar são %ari+%eis$ di%idindo0o em duas conformaç#es: o poder coerciti%o e o

     poder não0coerciti%o* 6as sociedades das 1erras 7ai/as$ temos a manifestação dessa forma de poder não0

    coerciti%o por interm&dio da figura de um chefe indígena 'ue não possui meios de coerção

    e autoridade política$ e%itando0se assim a centrali,ação do poder 'ue & dissipado pela

    sociedade* "sse chefe apresenta um grupo características 'ue lhe são prprias como ele &

    um mediador de pa,$ & generoso com os seus bens$ doando0lhes$ & um bom orador e possui

    o pri%il&gio da poliginia$ sendo esta fundamental para a manutenção da ordem política de

    tais sociedades* 2 intuito &$ por meio de etnografias contempor8neas das populaç#es

    Kaingang e Apurinã$ as 'uais ser%iram de base para as refle/#es de .ierre !lastres$ testar o

    alcance desta teoria nos dias atuais*

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    A 'uestão 'ue este pro9eto se coloca &: tomando como 9usta a tese de !lastres$ a poliginia

     praticada pelo chefe indígena permaneceria sendo um recurso de manutenção do

    ordenamento político para as sociedades indígenas a'ui em 'uestão As 'uest#es correlatas

    a esta são$ portanto$ compreender se & possí%el falar ho9e em chefia indígena nos termos

     postos por !lastres$ e$ se tal chefia relaciona0se a um tipo particular de regime de

    casamento Al&m disso$ o pro9eto se prop#e a in%estigar o lugar da ag5ncia feminina nessas

    uni#es e dentro da política e/ercida nestas sociedades*

    Introd!./o e J!tificati$a:"sta empreitada se mostra %+lida$ pois ainda & encontrado traços do 'ue !lastres en/ergou

    l+ nas d&cadas de ; e ; nas etnografias recentes dos kaingang e dos apurinã* "sta

    relação poliginica sempre & %ista como prestígio de poucos$ conferindo0se o car+ter de

     pri%il&gio*"m sua dissertação de mestrado 'ue trabalha com le%antamento de dados etnogr+ficos

    acerca do parentesco$ tipos de matrim@nio e nomeação$ Veiga (;>) em sua tese de doutorado$ 'ue contou com le%antamento de dados

    etnogr+ficos e pes'uisa documental$ para se fa,er um estudo a cerca da memria apurinã$

    aponta em seu trabalho a relação de pri%il&gio 'ue a poliginia ocupa%a o espaço$ mas 'ue

    ho9e se torna raridade:3D considerado um costume antigo dos Apurinã um homem casar com %+rias

    mulheres$ -s %e,es$ irmãs* Esto$ afirmam ho9e$ era especialmente %+lido para os

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    chefes$ tu/auas* + algumas poucas histrias de mulheres casadas com dois

    homens* 6os tempos presentes$ são raros casamentos assim$ ainda 'ue ocorram

    em alguns casos* 2 casamento de um homem com %+rias mulheres &$ no entanto$ a

    origem de %+rias parentelas atuais$ como as dos Francelino$ no !atipari$ a da

    comunidade São os&$ no 1aca'uiri ou da 6o%a Vista$ no .eneri*4 (Schiel$ C>>$

     p* =)Enseri os apurinã neste trabalho$ pois ao 'ue parece num le%antamento preliminar de

     bibliografia$ as relaç#es poligínicas estão cada %e, mais instintas e 'ue elas foram

    importantes e %istas no passado como pri%il&gio no passado$ mas atualmente ela acontece

    em pou'uíssima escala e o resultado 'ue ela dei/ou & 'ue os grupos conseguem se

    identificar atra%&s de um ancestral masculino em comum$ o 'ual constituía e mantinha uma

    família políginica*A ideia a'ui & %er se as ideias de poder$ chefia$ sociedade primiti%a$ "stado$ entre outras

    categorias tra,idas pelo autor conseguem se manter mesmo sem (ou contando com muito

     pouco) o elemento da poliginia e tra,er o 'uestionamento se esta alteração no andamento

    social seria o contato da sociedade apurinã com sociedades com "stado$ como a nossa$

    fa,endo com 'ue a sua condição de sociedade primiti%a não e/ista mais ou se & uma

    conformação de resposta e controle 'ue uma sociedade primiti%a poderia adotar no caso de

    acontecer contatos com sociedades 'ue pregam a ideia do uno$ 'ue são as sociedades

    dotadas do "stado*;!lastres apresenta a ideia de uma aparente troca nas sociedades indígenas sulamericanas

     para a formação destes líderes conferidos de poder não coerciti%o em 'ue estes dariam

     pala%ras e bens ao grupo e este lhe permitiria casar com mais de uma mulher em troca* Mas

    !lastres trabalha com uma ideia de ruptura da troca no 'ue di, respeito - esfera política$

     pois obser%a0se um pri%il&gio do chefe indígena$ não h+ mais reciprocidade nos elementos

    'ue fundam o social (bens$ pala%ras e mulheres)$ sempre h+ mo%imentos unidirecionais

    configurando uma não troca na esfera política$ criando o conceito denominado pelo autor 

    1 Estou aqui me utilizando dos conceitos do próprio Clastres em que as

    sociedades primitivas seriam as sociedades múltiplas com várias divisões e

    pequenas para manter a coesão e a não diferenciação entre grupos, enquanto

    que as sociedades de Estado seriam aquelas do uno, grandes, dotadas de

    classes diferenciadas em que haveria a relação de comando e oedi!ncia entre

    elas"

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    de circuitos prprios dos elementos* A'ui se obser%a uma apropriação dos termos utili,ados

     por H&%i0Strauss em seu li%ro 3As estruturas elementares do parentesco4 'ue para ele le%a

    -s associaç#es e relaç#es 'ue estabelecem a comunicação dando origem ao social e sua

    reprodutibilidade*

    A ideia desta proposta & de mostrar se esta esfera política dessas sociedades contra o"stado realmente fa,em o mo%imento de negação da troca e mostrar em especial se a

     poliginia praticada pelo chefe realmente interrompe o ciclo de trocas$ tra,endo as ideias de

    troca$ reciprocidade e d+di%a suscitadas nos trabalhos de H&%i0Strauss e Marcel Mauss

    ("nsaio sobre a I+di%a)* .or ha%er este deslocamento de mão Bnica de mulheres & possí%el

    assumir 'ue a troca não e/iste em dado ní%el "m um artigo de C>>J pela re%ista Mana$ o

     professor Marcos Hanna tra, um elemento bem interessante: !lastres nega a troca e a

    reciprocidade$ mas implicitamente ele a sustenta* 1udo isso$ pois Hanna tra, a ideia de uma

    ruptura da ideia de reciprocidade com a ideia de simetria$ as duas não precisam estar em

    con9unto*2 meu recorte se basear+ num estudo de etnografias recentes de duas tribos brasileiras: os

    kaingang e os apurinã* 1al escolha não foi feita por mero acaso* "las são citadas na obra de

    !lastres $ pois 9untam as características da chefia indígena sul0americana (fa,edor de pa,$

    generoso$ com dom oratrio e polígino)$ mas e/iste um ponto em comum nestas duas

    sociedades: a caça constitui a base da alimentação e somente bons caçadores são capa,es de

    sustentar famílias poliginas e serem os potenciais chefes de suas sociedades* !om isto$ pretendo mostrar como estão situados os elementos elencados por !lastres nos dias atuais*

    Mais do 'ue uma ideia de refutação ou afirmação das teorias de .ierre !lastres$ o presente

    trabalho %isa tra,er o trabalho do autor para a contemporaneidade* D de conhecimento 'ue

    !lastres suscita muitos debates$ admiradores e refutadores de sua obra$ mas & ineg+%el o

    car+ter o ino%ador de suas ideias para a Antropologia e para as construç#es de bases

    epistemolgicas*

    0etodo#o,ia"ste trabalho consiste na reali,ação de leituras e an+lises de obras de alguns autores$ como

    3A sociedade contra o "stado4 de .ierre !lastres e 3As "struturas "lementares do

    .arentesco4$ de !laude H&%i0Strauss* 2 intuito & reali,ar uma pes'uisa abordando a teoria

    metodolgica empregada por estes autores e tentar um di+logo entre essas obras*Al&m disso$ ser+ empregado tamb&m a reali,ação de um le%antamento de etnografias

    recentes das sociedades kaingang e apurinã com o ob9eti%o de se fa,er um estudo de cunho

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    etnolgico para dar embasamento e %erificação se a contribuição e aplicabilidade de

    !lastres permanece %+lida nos dias atuais e se pode ler o pensamento de tal autor por um

    %i&s um tanto 'uanto estruturalista* 6a obra de !lastres$ me focarei nas características apresentadas pela figura do líder sem

     poder coerciti%o$ cada uma delas apoiada em um dos elementos 'ue fundam o social (os bens$ as pala%ras e as mulheres)* 1ais elementos suscitam as ideias le%antadas por H&%i0

    Strauss anteriormente em sua obra 3As "struturas "lementares do .arentesco4$ por&m

    !lastres fala 'ue na esfera política das sociedades indígenas sulamericanas$ estes elementos

    se comportam e se relacionam de maneira distinta marcada por uma não troca*!om tal ideia em mente$ me debruçarei com dados etnogr+ficos das sociedade kaingang e

    apurinã 'ue trabalham principalmente nas associaç#es de parentesco$ tipos de matrim@nio$

    relaç#es familiares$ organi,ação política$ entre outros temas 'ue possam parecer rele%antes

    no recorte 'ue e/plore este lado de 'ue a poliginia praticada pelo chefe indígena & %ista

    como um pri%il&gio deste e 'ue essa condição mant&m relaç#es de pro/imidade e

    sustentação da esfera política dessas sociedades $ mas 'ue são marcadas por uma não troca

     9ustamente por ha%er um mo%imento de mão0Bnica de um dos elementos 'ue fundam o

    social (as mulheres estão indo e/clusi%amente do grupo para o chefe$ caracteri,ando uma

    não troca)* !olocarei em 'uestão se tal teoria & realmente sustent+%el inserindo outros

    elementos de discussão le%antados por artigos e trabalhos atuais da 'uestão$ os 'uais boa

     parte ainda ser+ pes'uisada*"ste trabalho$ em suma$ consiste basicamente de uma an+lise terica metodolgica dos

    escritos de .ierre !lastres$ tentando manter %i%a sua instigante obra$ tendo apoio de artigos

    de car+ter terico 'ue discutem a rele%8ncia do autor e de um estudo etnolgico em 'ue se

     possa traçar uma ligação entre o tipo de matrim@nio le%antado como pri%il&gio da figura do

    chefe indígena (a poliginia) com a organi,ação político0social das sociedades kaingang e

    apurinã*

    Ati$idade de +e1!ia +ro,ra"ada:Metas semestrais:C Semestre de C>;J:

    ;* He%antamento bibliogr+fico de estudos tericos sobre o tema 'ue insiram o debate sobre

    a obra de !lastresL

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    C* .ossí%el reali,ação de disciplinas 'ue trabalhe com temas como parentesco$ associação

    do político e relaç#es familiares$ etnologia brasileira (ou sulamericana)$ entre outrosL* "scolha de etnografias contempor8neas 'ue trabalhem com dados sobre casamentos

     polig8micos$ ha%endo a possibilidade de ampliação do escopo da pes'uisaL

    * "studo etnolgico 'ue bus'ue focar nas relaç#es familiares$ tipos matrimoniais$associaç#es de parentesco$ ordenamento sociopolítico das sociedades Kaingang e

    ApurinãLJ* Heitura das obras tericas 'ue darão o embasamento de minha pes'uisa: 3A Sociedade

    contra o "stado4$ de .ierre !lastres$ 3As "struturas "lementares do .arentesco4$ de

    !laude H&%i0Strauss$ e 32 "nsaio sobre a d+di%a4$ de Marcel MaussL=* Heitura e estudo etnolgicos para conte/tuali,ar e garantir os fundamentos tericos

    trabalhadosL?* An+lise preliminar das relaç#es estabelecidas e do debate at& então empreendido a cerca

    das ideias clastlianas em detrimento aos dados etnogr+ficos e -s discuss#es tericas

    encontradas em artigos e obras de outros autoresLN* "laboração do relatrio parcial

    (Iei/ando claro 'ue os seis primeiros itens das metas semestrais do C semestre de C>;J 9+ se

    encontram em andamento desde fe%ereiro de C>;J e 'ue a bolsa ser+ necess+ria para consolidar$ dar 

    %iabilidade e continuidade nesta pes'uisa inicial)*

    ; Semestre de C>;=:

    ;* .rosseguimento no estudo das obras de cunho etnolgico eOou tericoLC* .ossí%el seleção de mais obras etnogr+ficas e artigos 'ue se relacionam com o tema$

     para tentar uma maior abertura ao recorte selecionadoL* .ossí%el reali,ação de disciplinas 'ue trabalhe com temas como parentesco$ associação

    do político e relaç#es familiares$ etnologia brasileira (ou sulamericana)$ entre outrosL23 2rgani,ação final da discussão le%antada pelos dados etnolgicos e pelas teorias

    trabalhadasL43 "laboração e entrega do relatrio final

    Crono,ra"a da ati$idade di$idido no 56 "ee de $i,7ncia da 'o#a:

    Set* 2ut* 6o%* Ie,* an* Fe%* Mar* Abr* Mai*

    un*

    He%antamento bibliogr+fico deestudos tericos

    8 8 8 8 8 8

    Peali,ação de disciplinas 'uetrabalhe com os temas

    8 8 8 8 8 8 8

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    selecionados"scolha das etnografiascontempor8neas

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    Peali,ação do estudoetnolgico das sociedade

    Apurinã e kaingang

    8 8 8 8

    Heitura das obras tericas 8 8 8 8Heitura e estudo etnolgicos para conte/tuali,ar e garantiros fundamentos tericostrabalhados

    8 8 8 8

    An+lise preliminar dasrelaç#es estabelecidas e dodebate at& então empreendido

    8 8 8

    "laboração do relatrio parcial 8 8 8

    .rosseguimento no estudo dasobras de cunho etnolgicoeOou terico

    8 8 8

    .ossí%el seleção de mais obrasetnogr+ficas e artigos 'ue serelacionam com o tema

    8 8

    2rgani,ação final da discussãole%antada pelos dadosetnolgicos e pelas teoriastrabalhadas

    8 8

    "laboração do relatrio final 8

    Bi'#io,rafia9:

    !HAS1P"S$ .ierre*  A sociedade contra o Estado – pesquisas de antropologia política.

    "dição !osac 6aifQ .ort+til* São .aulo: !osac 6aifQ$ C>; R;

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     TTTTTTTTTTTTTTTTTTTTTT*  As estruturas elementares do parentesco. J* ed* .etrpolis:

    Vo,es$ C>>< R;;R;