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Historia Caribe ISSN: 0122-8803 [email protected] Universidad del Atlántico Colombia Wasserman, Claudia Historiografia sobre a revolução cubana no Brasil Historia Caribe, vol. IV, núm. 12, 2007, pp. 57-76 Universidad del Atlántico Barranquilla, Colombia Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=93701204 Cómo citar el artículo Número completo Más información del artículo Página de la revista en redalyc.org Sistema de Información Científica Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto

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Historia Caribe

ISSN: 0122-8803

[email protected]

Universidad del Atlántico

Colombia

Wasserman, Claudia

Historiografia sobre a revolução cubana no Brasil

Historia Caribe, vol. IV, núm. 12, 2007, pp. 57-76

Universidad del Atlántico

Barranquilla, Colombia

Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=93701204

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UNIVERSIDAD DEL ATLÁNTICO, HISTORIA CARIBE, BARRANQUILLA (COL.) NO. 12, 2007

HISTORIOGRAFIA SOBRE A REVOLUÇÃO CUBANANO BRASIL

CLAUDIAWASSERMAN

Recibido Octubre de 2006Aceptado Marzo de 2007

RESUMEN

Este artículo es el resultado de una investigación que se ocupa de la forma como fuerecepcionada la Revolución Cubana y la imagen de Cuba en Brasil, durante el períodocomprendido entre 1959 y 1989. En este trabajo se introducen algunas consideraciones deorden teórico-metodológico así como conclusiones respecto a las investigaciones publicadas,sin embargo centramos la atención en la historigrafía producida en Brasil sobre la RevoluciónCubana.

PALABRAS-CLAVE

Historiografia brasileira, Revolução Cubana, Imprensa brasileira, Imagem de Cuba.

ABSTRACT

This article is the result of a research that treats about the Cuban Revolution reception andthe image of Cuba in Brazil, sice 1959 and 1989, respectively. In this article, I introducesome theoric and methodologic considerations and conclusions about the prense�s research,but muy attention is on brazilian historiografy about Cuban Revolution.

KEY-WORDS

Brazilian Historiografy, Cuban Revolution, Brasilian Prense, Cuban Image.

UNIVERSIDAD DEL ATLÁNTICO, HISTORIA CARIBE, BARRANQUILLA (COL.) NO. 12, P.P. 57 - 76, 2007

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Esse artigo, cujo objetivo é analisar ahistoriografia brasileira a respeito daRevolução Cubana, é resultado de umapesquisa realizada em jornais e revistasbrasileiros, acerca das notícias e artigossobre a Revolução Cubana, veiculadosentre 1959 e 1970, e posteriormente,sobre Cuba, entre 1989 e o ano 2000.Nesses dois blocos temporais de 11anos procurou-se analisar a recepçãodo processo revolucionário no Brasile a imagem que a grande imprensadifundiu sobre Cuba em nosso país. Osjornais e as revistas consultados foramo Diário de Notícias e a revista OCruzeiro, no período entre 1959 e1970, e os Jornais Zero Hora e Folhade São Paulo e as Revistas Isto É eVeja, do período que vai de 1989 até2000.

Além da análise da recepçãojornalística do processo, também foiestudada a produção de livros e artigosdos intelectuais brasileiros quetrataram desse tema. Jornalistas,historiadores, sociólogos, educadores,psicólogos, líderes religiosos oucomunitários escreveram sobre aRevolução Cubana, sobre as relaçõesde Cuba com o Brasil e a AméricaLatina, sobre a influência exercida peloprocesso na luta política brasileira einternacional, sobre os líderesrevolucionários, como Fidel Castro eChe Guevara, entre outros temasabordados ao longo desses anos, desdea eclosão da Revolução Cubana até opresente. O presente artigo trataespecificamente desses intelectuais,mas permito-me analisarprimeiramente alguns aspectos

metodológicos e resultados daspesquisas na imprensa.

O objetivo da pesquisa em jornais erevistas era conhecer como osbrasileiros receberam a RevoluçãoCubana, qual a imagem que tinham dailha caribenha que ousou desafiar oimperialismo; no caso dahistoriografia, conhecer quais foram aspolêmicas intelectuais suscitadas peloprocesso cubano?

Essa pesquisa de história � a ciênciaque estuda o passado � foi realizadacom os olhos voltados para o tempopresente. Cuba é um país que despertasentimento de atração e de repulsa atéos dias de hoje. Desde a implantaçãodo socialismo na pequena ilha doCaribe, tornou-se improvável a atitudede neutralidade em relação àquelasociedade.

No entanto, esse trabalho não é sobrea Revolução Cubana, e sim sobre ointeresse despertado por ela, sobre osdebates gerados em terras distantesacerca dos episódios vividos emCuba,sobre as possíveis repercussõesdaqueles acontecimentos na sociedadee cultura brasileiras.

Estudar a Revolução Cubana a partirda recepção jornalística (textos eiconografia), diplomática, oficial e daslideranças de movimentos populares epartidos de esquerda significou mudaro enfoque tradicional que visavarefletir o que aconteceu emCuba, paraum enfoque diferente que visa refletiro que as pessoas pensavam que estava

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acontecendo em Cuba, como viamaquele fenômeno, que interpretaçãofaziam e como achavam que aqueleprocesso poderia transformar as suasvidas e as sociedades onde viviam.

O enfoque dessa investigação não estáno processo em si e naqueles que osofreram diretamente, mas enfatiza asinterpretações e as interrogaçõesdaqueles que estavam à distância e quepensavam nas influências que esseprocesso traria para suas própriassociedades, de que forma poderiainfluir no seu cotidiano, tão distante e,ao mesmo tempo, tão próximo. Trata-se de fazer mais a história dos efeitosou das expectativas, do que a históriados acontecimentos. Ao invés deprocurar nos documentos e discursoscubanos, o que aconteceu naquele paísbuscou-se nos jornais e revistas,declarações oficiais e diplomáticas,análises de intelectuais, jornalistas ehistoriadores, líderes religiosos ecientistas sociais o que os brasileirospensavam que estava acontecendonaquele país.

A primeira constatação foi de umagrande desproporcionalidade entre operigo real que Cuba representava parao Brasil e a inquietação, pode-se dizertemor, que a revolução causara nagrande imprensa; e, também, entre aenorme influência que a lutarevolucionária teve sobre as esquerdaslatino-americanas e brasileiras, emparticular, e a escassa reflexãoacadêmica e científica sobre oprocesso. O tratamento da imprensaparecia hiper-dimensionar o �perigo�

do comunismo latino-americano, asesquerdas exaltavam a novidade e acrítica acadêmica era cautelosa eparecia aguardar a melhoroportunidade para manifestar-se.

Os jornais e revistas brasileirosutilizados para esse trabalho não foramfonte de informação histórica,inclusive porque existem incontáveispesquisas históricas sobre a RevoluçãoCubana das quais se poderia servir ohistoriador para reconstituir osacontecimentos. Os meios decomunicação brasileiros foram vistoscomo fonte de pesquisa, um �lugar deenunciação� das interpretações que setornavam senso comum na sociedadebrasileira sobre a Revolução Cubana.Não quero dizer com isso que �tudoaquilo que está no jornal diário vai setransformar em senso comum�, ou queo público leitor absorveirrefletidamente aquilo que é veiculadona imprensa. É certo que existe umacerta diferença entre o que é veiculadopela imprensa e aquilo que setransforma em axioma para o grandepúblico, mas é inegável o papelexercido pela mídia na difusão daideologia dominante.

A própria forma de narrar osacontecimentos contribui para aconformação de uma determinadaversão dos fatos: �As estratégiasnarrativas utilizadas na composiçãodas estórias, ou seja, na transformaçãodos eventos em notícias, fragmenta ainformação e legitima uma únicafração da realidade, tornando-a, dessemodo, a verdade dos fatos. Essa

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notícia fragmentária representa arealidade, configura o verdadeiro reale, assim, ao descrever e interpretar ocotidiano desconhecido, legitimaimagens dominantes e contribui paraa composição do cotidiano privado doindivíduo� (DIAS, Heloísa, 1998, p.104).

No caso da narrativa acerca daRevolução Cubana e da imagem deCuba nos anos 1990, a fragmentaçãodas notícias e a forma de apresentar osacontecimentos contribuíam pararepassar à opinião pública brasileira ostemores das classes dominantes acercado socialismo. Cuba foi o primeiro eúnico país latino-americano que, tendorealizado uma revolução contra odomínio oligárquico, acaboutransformando-se em socialista. Estaexperiência impar no subcontinente foimotivo de um sentimento ambivalentepor parte dos povos daAmérica Latina.Por um lado, as elites tinham receio dever Cuba transformada em modelo desociedade e temiam que osmovimentos populares seradicalizassem de maneiraincontrolável. Por outro lado, as classespopulares organizadas em partidos esindicatos passaram a enaltecer oexemplo cubano e tomar aquelarevolução comomodelo a ser seguido.

Esse sentimento ambivalente e ascontradições ideológicas entre as eliteslatino-americanas e as classespopulares foram, ao longo dos últimostrinta anos, motivo de análise epesquisa por parte dos cientistassociais, políticos e historiadores. Cuba

sempre esteve nomeio desses debates,apresentada com roupagemde santooudemônio. É essa tradiçãohistoriográfica que tendeu, em algunscasos, à incorporação dos aspectosideológicos mundiais polarizados dopós-guerra que deve ser discutida,matizada e investigada.

A centralidade cubana nos debatesacerca dos processos de transformaçãosocial na América Latina se deveu,sobretudo ao fato da ilha constituir-secomo uma exceção: um processorevolucionário emmeio ao reformismodominante nos demais movimentospolíticos latino-americanos. Na ilha,diferentemente dos demais países daAmérica Latina, a democraciareivindicada era uma democraciasocial, o desenvolvimento econômicoque demandavam era umdesenvolvimento socialista e onacionalismo significavaantiimperialismo. Por isso, se numprimeiro momento o grupo lideradopor Fidel Castro teve reivindicaçõessemelhantes aos demais movimentosnacionalistas do subcontinente e foisaudado como um passo a mais nadireção da democracia e daharmonização das relações capitalistas,logo em seguida, o movimento passoua ser hostilizado pelas elites e setoresmédios latino-americanos, receosos dever seus próprios países mergulhadosem demandas que podiam ferir osinteresses do sistema. Nas reportagensdo Diário de Notícias e da revistaManchete, nos anos que se seguiram àeclosão da Revolução Cubana, ficavaclaro o apoio dado aos �barbudos

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liderados por Fidel Castro�. Tendoderrubado uma ditadura despótica esanguinária, eles representavam aesperança de democratização num dosmais importantes países do Caribe,ponta de lança do domínio norte-americano na América Central. Noentanto, a medida em que a RevoluçãoCubana foi definindo um perfil cadavez mais distante dos padrõesdemocráticos dos Estados Unidos, osmeios de comunicação foram perdendoo entusiasmo inicial, passando de umapoio discreto a uma oposição violenta.Nos anos 60, a pequena ilha passou aser vista como uma ameaça aocapitalismo à dominação norte-americana.

Trinta anos depois, Cuba não passa deum país que inspira compaixão.Aparentemente, as preocupaçõesatuais com o país não passam demerasespeculações sobre a pobreza, a faltade alimentos e combustíveis e a �faltade democracia�.

Percebe-se assim a importância dosfatores conjunturais externos noâmbito da história latino-americana. Opós-guerra determinara a luta entredois sistemas antagônicos: ocapitalismo e o socialismo. Adependência da América Latina emrelação aos Estados Unidos já erasituação praticamente consolidada emtodos os países nos anos 50/60. Assim,a presença de uma ilha de socialismona América Latina significava orompimento de uma situaçãohegemônica e uma perigosa ameaçapara o domínio norte-americano nos

mercados subcontinentais, além derepresentar uma alternativa para osmovimentos sociais e políticos dosdemais países.

Somava-se a isso, o iminente fracassodos projetos populistas, oumelhor, daspossibilidades de instauração deEstados de bem-estar social naAmérica Latina. João Goulart, noBrasil, Paz Estenssoro, na Bolívia, eJuan Domingos Perón, na Argentinanão haviam conseguido atender asdemandas dos trabalhadores, controlaros movimentos sociais e, ao mesmotempo, convencer as elitesconservadoras de que esse era umcaminho seguro para a continuidade dosistema capitalista. A incapacidade dosgovernantes populistas em conter asituação interna explosiva e a eclosãode um movimento revolucionáriosocialista na ilha de Cuba foram algunsdos fatores que determinaram aescalada de regimes autoritáriosmilitares em quase todos os países daAmérica Latina.

Assim, a conjuntura que inicia em1959 e vai até 1970, objeto de uma dasfases dessa pesquisa, era debipolarização ideológica mundial econseqüente internalização por partedos grupos socais latino-americanosdos fatores que determinavam aGuerraFria. Foi um período de intensamobilização dos movimentos sociais.Trabalhadores urbanos, organizadosem torno do populismo de Vargas nosanos 1950 e do trabalhismo de Goulartnos anos 1960, começaram a construirnovas e poderosas organizações como

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a PUA e o CGT. Os trabalhadoresrurais, organizados nas LigasCamponesas, lideradas por FranciscoJulião, desenvolviam uma luta políticaautônoma e relativamente poderosanos estados da Paraíba e Pernambuco,culminando com a criação daConfederação Nacional dosTrabalhadores Agrícolas. Asmanifestações de cultura popular e aradicalização das classes médiaslançavam estudantes e intelectuaisnuma intensa atividade política.Surgem, na década de 1960, os CentrosPopulares de Cultura (CPCs), cujosmembros defendiam a conscientizaçãodas massas populares através daconstrução de uma cultura nacionalistae revolucionária.

Já os anos que se seguiram à queda domuro de Berlim e ao fracasso dosocialismo real, trouxeram a tonanovas realidades, abalaram velhascertezas e, sobretudo, transformaramantigos perigos e ameaças aocapitalismo em problemas secundáriose de menor importância.Genericamente a recepção daRevolução no Brasil definiu Cubacomo uma ameaça e um perigo nosanos 60 e como umproblema particulare interno nos anos 90.Através da cobertura jornalística dadaà Revolução Cubana pudemosperceber que nos anos 60 as elitestemiam a instauração do socialismo na

América Latina e eram contrárias à viarevolucionária cubana, mas, nutriamuma certa admiração pela Revolução,especialmente no que se referia aodiscurso anti-imperialista. Nos anos90, as elites vêem Cuba comcompaixão e desprezo, mas continuamtendo um certo temor e preferiam queesse país - o único socialista domundointeiro - estivesse em outro continenteou em outra galáxia.

Existiu, portanto, uma duplicidade desentimentos envolvidos no processo derepulsa e admiração: ao longo dos anos60, por exemplo, além da intensaadmiração pelo processo cubano, ospartidos de esquerda, especialmente ocomunista, e movimentos popularestambém tinham críticas edesenvolviam contrariedades emrelação à revolução; ao passo queatualmente, desde 1989, a crítica aoautoritarismo e à rigidez do regimecubano não é monolítica e o paíscontinua atraindo grande admiração.

A reconstituição do impacto causadopor um fenômeno social de um país emoutros, é tarefa difícil devido àvariedade das fontes e dos sentimentoshumanos, nem sempre documentados.No entanto, permite uma análiseglobal, que toma o sistema-mundocomo o âmbito mais adequado para oentendimento desse e de outrosprocessos históricos 1 . Nesse tipo de

1 Essa análise está baseada nas teorias explicativas de Immanuel Wallerstein � El moderno sistema mundial,México, Siglo XXI, 1998., e inspirada em artigo recente do professor Carlos Aguirre Rojas sobre o neozapatismo,escrito em fevereiro do ano 2000, em sua residência, enquanto a UNAM encontrava-se ocupada pela polícia,texto digitado e enviado por email.

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análise, a polêmica da dinâmica entreos fatores internos e externos ésubstituída por uma interpretaçãoglobal, transcendendo o limitado pontode vista local ou nacional. SegundoWallerstein, a dinâmica planetária docapitalismo nos permite entender osprocessos locais e específicos de certasépocas e regiões dentro de umaperspectiva global. Inclusive pode-seafirmar que somente essa dinâmicaglobal e planetária do capitalismopossibilita a compreensão daextraordinária propagação, influênciae eco internacional da RevoluçãoCubana. Essa perspectiva de análise,que se coaduna com a idéia de umainterconectividade histórica2 , oumelhor, de que cada fato, ou fenômenohistórico, deva ser analisado a partirdas múltiplas conexões que estabelececom vários pontos do sistema-mundo,independente de sua amplitudeespacial específica, também introduza necessidade de analisar essesmesmos fatos e fenômenos comoelementos da �longa duraçãohistórica�. Segundo Carlos Aguirre, aoreferir-se ao neozapatismo, observaque �... es necesario abrir siempregenerosamente el abanico temporal de

nuestro examen, incorporando anuestras explicaciones estas visionesde mucho más largo alientotemporal�3 . Dentro dessa perspectivade longa duração, a recepção de umfenômeno localizado geo-temporalmente, passa a explicar asconexões existentes entre várias partesdo globo entre si, o comprometimentode políticas oficiais e diplomáticas deoutros países da América Latina comos Estados Unidos, as conexões jáexistentes entre grupos e partidos deesquerda latino-americanos e asrelações entre as classes e frações emcada país.

Aomesmo tempo, o estudo da imagemde Cuba no Brasil dos anos 1990permite entender alguns problemasenfrentados pela pequena ilhacaribenha socialista depois da quedado Muro de Berlim, do fracasso dosocialismo real e da decadência dasrelações comerciais entre Cuba e ospaíses do leste europeu, especialmentea União Soviética. Mas esse estudotambém revela as preocupações daimprensa brasileira e da opiniãopública como um todo com os

2 A idéia de que a tarefa do historiador é a de explorar as �connected histories� está baseada nas palestrasproferidas pelo historiador francês Serge Gruzinski em Porto Alegre (novembro de 2000), onde apresentou otexto �Os mundos misturados da Monarquia e outras connected histories�. Neste polígrafo Serge Gruzinski fazreferência ao historiador português, Sanjay Subrahmanyam, que explora essa metodologia para entender asmúltiplas conexões do império português. Adotamos aqui a idéia de que, mais do que uma história comparativa,a recepção da Revolução Cubana permitiria proceder uma análise de história conectiva, onde misturam-se oselementos, causais e de efeito, de vários mundos: o socialista soviético, o capitalista norte-americano e o latino-americano como um todo e, particularmente, os países e regiões. Ao mesmo tempo, devem aparecer as conexõescom a África, em processo revolucionário, que recebeu igualmente as influências da Revolução Cubana e quepossivelmente aparecerá na imprensa latino-americana ou na fala dos revolucionários brasileiros.3 AGUIRREROJAS, Carlos Antonio.Chiapas, América Latina y el sistema-mundo capitalista.México, fevereirode 2000, texto digitado e enviado por email, p. 6.

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problemas relativos à democratizaçãopolítica.

A crítica intermitente ao regime deFidel Castro nos anos 1990 teverelação com temas que eramespecíficos da sociedade brasileira,como o retorno à democracia, após 20anos de regimemilitar; a reestruturaçãodas esquerdas, depois da anistia; aprimeira eleição para a presidência darepública, após a ditadura; e oimpeachment do presidente eleito, sobacusação de corrupção. Tambémsobressai um grande interesse pelosavanços sociais do socialismo e aspossibilidades abertas pela necessidadede Cuba em encontrar novos parceirose romper como bloqueio comercial dosEstados Unidos.

Nesse sentido, a repercussão dosepisódios internacionais na imprensabrasileira permite entender problemasda época, não apenas relacionadosàquele episódio, mas toda culturapolítica que seleciona, organiza econstrói um cenário onde o �evento�explica as disputas sociais, políticas eideológicas internacionais e locais.

O impacto da Revolução Cubana nospaíses latino-americanos evidenciou-se em todos os aspectos dessassociedades. Todos os espectrospolíticos foram atingidos pelaRevolução, desde a extrema direita, atésetores esquerdistas mais radicais; aeconomia latino-americana foi afetada;as relações externas passaram aenfrentar grandes desafios; houvealteração na vida cotidiana, com a

introdução de novos vocábulos,adotados pela população sem muitacrítica, como, por exemplo, aexpressão �cubanizar�, ou a introduçãode uma nova bebida no cardápio dajuventude boêmia, a �Cuba Libre�,mistura de rum com coca-cola. Tantoos autores que trataram do tema daRevolução Cubana como nosdepoimentos pessoais sobre a época,existe um consenso em afirmar oalcance impressionante de seuimpacto. Esse impacto foi muitomaiordo que aquele causado pela RevoluçãoRussa na Europa.

Conforme Emir Sader (1991) isso sedeve à existência de �condições sociaismais homogêneas� na América Latinados anos 1960, do que na Europa dosanos 1910/20. A América Latina viviauma época de crise revelada pelosproblemas comuns de seudesenvolvimento: questão agrária,dependência externa, deterioração dascondições das políticas públicas eextensão dos regimes ditatoriais.

No entanto, o impacto causado pelaRevolução Cubana em todos osaspectos da sociedade brasileira elatino-americana foi desproporcionalàs tentativas de explicá-la. ARevolução Cubana foi fartamentenoticiada e discutida, criticada pelaimprensa nacional, amplamentedebatida pelo movimento estudantil;citada, aplaudida e copiada pelosmilitantes dosmovimentos de esquerdae rechaçada pela direita. No entanto, oprocesso não teve o mesmo impactonos meios acadêmicos e científicos

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brasileiros, ao menos em termos depesquisa e produção de conhecimentosmais elaborados do que àquelesadvindos dos debates políticos econjunturais.Sendo a história um saber que concernea meios muito mais amplos do que osrestritos aos historiadores �milhões deestudantes dotados de manuais damatéria, a televisão e os jornais quediscutem o passado com ares depropriedade, os políticos que falam dahistória para justificar, corroborar,desqualificar ou excluir, igrejas querecriam suas próprias versões, atéturistas que visitam castelos e museus;todos se interessam pela história e,muitas vezes, constróem suas própriasversões da matéria � alguns temasespecíficos foram apropriados muitomais amplamente pela opinião pública,muitas vezes desprovida de crítica, doque pelos cientistas sociais. Esse éjustamente o caso da RevoluçãoCubana no Brasil.

A análise do percurso historiográficoda Revolução Cubana no Brasil nãopode, neste sentido, ficar restrita àprodução científica dos historiadoresde ofício, porque foram produzidosmuitos textos jornalísticos, de carátermeramente informativo, que acabaramconsagrando-se como referênciasclássicas do tema. Como exemplo,podem ser citados os trabalhos deFernando Moraes (1976) e LoyolaBrandão (1978).

Neste sentido, a historiografia sobre aRevolução Cubana no Brasil estádividida entre reportagens

jornalísticas, ensaios de humanistas(artistas, professores, profissionaisliberais e teólogos) e trabalhos deciências sociais (história, sociologia,política e economia). Uma dasjustificativas da pequena quantidade detrabalhos científicos e acadêmicos,talvez seja do início da ditadurabrasileira e uma conseqüente censurade jornalistas, professores epesquisadores. A Revolução Cubananão era objeto de estudo em cursossecundários e tampouco fazia parte docurrículo nos cursos universitários dehistória ou sociologia. ProvavelmenteFlorestan Fernandes tenha sido opioneiro; desenvolveu um curso sobreCuba e a Revolução, na PUC, SãoPaulo, no primeiro semestre de 1979.Repetiu o curso no segundo semestrepara os alunos do noturno e depois oofereceu na USP, na forma de cursolivre. Das anotações realizadas pelosalunos e dos seus roteiros de aulasurgiu um dos mais notáveis livrosproduzidos por cientista socialbrasileiro sobre o episódio ocorrido nailha, �Da Guerrilha ao Socialismo: aRevolução Cubana� (1979). Odepoimento de Florestan Fernandes noinício de seu livro revela, de certomodo, a causa de uma produçãoacadêmica tão pequena. Ele confessouque relutou em aceitar a publicação dosroteiros do curso: �... pois penso queCuba e a revolução cubana estãomuito acima de um trabalho modestoe relativamente improvisado�(FERNANDES, 1979, p. 1).

A maior parte dos escritos brasileirossobre a Revolução Cubana está

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localizada no final da década de 1970,sendo que o primeiro texto tenha sido,provavelmente, o de Almir Matos, de1961. Depois, o livro de FernandoMoraes, de 1976. Em 1978 surgiramos trabalhos de Loyola Brandão, JorgeEscosteguy e, em 1979 o de FlorestanFernandes, seguido pelo livro deBlanco e Dória da coleção �Tudo éHistória�, da Editora Brasiliense, e olivro de Emir Sader, em 1985.

É muito provável que a concentraçãode publicações nos anos de 1978 e1979 estivesse relacionada com doisfatores: a distensão da ditadurabrasileira e a própria dinâmica doprocesso revolucionário, que, a essasalturas, consolidara uma posiçãogeopolítica no continente.

Também é importante observar queFernando Moraes, que publicou em1976, foi o segundo jornalistabrasileiro a entrar em Cuba emmissãoprofissional (ele não foi comocorrespondente de um órgão deimprensa, mas para fazer umareportagem independente e, nessascondições, ele foi pioneiro). O primeirojornalista em missão de trabalho foiMilton Coelho, para a RevistaRealidade, em 1968.

Entre os escassos trabalhos de caráteracadêmico destacam-se os já citadosestudos de Emir Sader, FlorestanFernandes e Blanco e Dória, mastambém existem estudos que sepreocupammais com as relações entrea Revolução Cubana e o processopolítico brasileiro. Entre eles, o livro

de Tania Quintaneiro, de 1988, frutoda dissertação de mestrado da autora;o artigo de Emir Sader, no livrocoordenado por Daniel Aarão ReisFilho,História doMarxismo noBrasil:o impacto das revoluções, de 1991, eo mais recente de todos, o estudo deDenise Rollemberg sobre o apoio deCuba à guerrilha brasileira, de 2001.

A bibliografia sobre a RevoluçãoCubana produzida no Brasil, divididaentre reportagens e obras de conteúdohistórico ou político épredominantemente descritiva elaudatória. Os estudos jornalísticosrevelam uma certa perplexidade dosobservadores estrangeiros, além derevelarem também muita curiosidadee desconhecimento sobre o sistemaimplantado na ilha. Ao mesmo tempo,observa-se uma quantidadeimpressionante de axiomas construídosem relação à Revolução Cubana.Enquanto as agências internacionais eos grandes órgãos da imprensabrasileira estavam integrados àestratégia de desmoralização do regimecubano, Emir Sader observa que �Adifusão da imagem de Cuba e de suasteses se fazia por diversos canais,alternativos às grandes agênciasinternacionais de informação...�(SADER, 1991, p. 172). Ao Brasilchegavam notícias de jornalistas,turistas, combatentes de movimentossociais, intelectuais que compareciamà congressos e outros. Além disso, atradução de algumas obras foifundamental na difusão da imagem deCuba e seu processo, como porexemplo, o �Revolução na Revolução�

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de Régis Debray e �Furacão sobreCuba� de Jean Paul Sartre. O sistemaeducacional cubano e o sistema desaúde no país exerceram especialfascínio sobre a esquerda latino-americana e brasileira, em particular.Sobre a experiência de alfabetizaçãoimplantada na ilha, desde os primeirosanos de revolução, foram lançadoslivros, publicados muitos artigos emrevistas especializadas e tambémforam feitas reportagens quecontribuíram para a construção daimagem do processo revolucionário naopinião pública brasileira.

Simultaneamente, os brasileiroslidavam com a ambivalência entre asposições do poder executivo e dadiplomacia brasileira, em relação à ilhade Cuba: quando o presidentebrasileiro Jânio Quadros condecorouChe Guevara com a Ordem doCruzeiro do Sul, o país foi sacudidopor viva indignação contra o presidentepela sua ousadia; na mesma época, ospassaportes brasileiros advertiam queo documento não era válido para entrarem Cuba.

O país estava imerso em contradições.Influenciado pelo clima debipolarização ideológica, envoltonuma grande efervescência cultural ena mudança nas relações interpessoais(relacionadas aos reclames pelaigualdade feminina, o advento da pílulaanticoncepcional e a revolução sexualdos anos 1960), observava-se aomesmo tempo, algumas tendênciasretrógradas, como a proibição do uso

da roupa de praia de duas peças. Essascontradições vividas pelo Brasilrefletiram-se na produção bibliográficaa respeito deste episódio internacionalque causara tanto impacto nessasmesmas contradições. Observa-se, porisso, uma ambivalência da bibliografiaem relação ao processo, interpretadocomo modelo a ser seguido, ou comouma ameaça à segurança nacional.

No prefácio de �A Ilha�, de FernandoMorais, Antônio Callado, observava o�tom polêmico� de quase toda abibliografia publicada sobre Cuba:�Todas as orações, no que se escrevesobre Cuba, têm cláusulas restritivas,a favor ou contra� (CALADO inMoraes, 1985, p. XX). Essascontradições expressavam-se emvários aspectos da bibliografia sobreCuba: a incorporação dos aspectosideológicos do pós-guerra; atransposição dos problemas cubanospara o Brasil e uma atraente, mas nemsempre eficaz comparação entre asduas realidades; a repulsa aosocialismo soviético e a tentativa deencontrar semelhanças com Cuba oudiferenças bem marcantes; amitificação das principais figurasrevolucionárias, como Che Guevara eFidel Castro, bem como uma forteambivalência em relação a eles;dificuldades de pesquisa na ilha e deobter informações confiáveis; dúvidas,indagações, críticas veladas; e outrostemas, cuja característica principal ecomum a todos eles, era a dasimultânea atração e repulsa,admiração e desprezo.

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Outro dado importante do percursobibliográfico sobre a RevoluçãoCubana no Brasil é a concepção dehistória revelada pelos autoresbrasileiros na descrição e interpretaçãodo processo cubano. Os relatoshistóricos, entre eles destacam-se ostextos jornalísticos de Almir Matos ede Loyola Brandão, e o texto didáticode Emir Sader, �ARevoluçãoCubana�,de 1985, tiveram uma preocupaçãodescritiva e evolutiva; descreveram osacontecimentos numa linha unívoca,desde a independência até o final dosanos 60, sempre com objetivo de ligaros fatos uns aos outros (José Marti,Júlio Antonio Mella, guerrilha,socialismo), como se os caminhospercorridos pelos guerrilheiros fossempraticamente inevitáveis. AbelardoBlanco e Carlos Dória, no pequenolivro da coleção �Tudo é História�, daEditora Brasiliense, revelam essa idéiade continuidade: �Fidel Castro, em seucurto exílio após o ataque ao quartelde Moncada, cumpriudeliberadamente o mesmo roteiroantes feito por José Martí. Quandodesembarcou do iateGramna em1953,proveniente do México, estavarealizando um plano frustradoconcebido pelo dirigente comunistaJúlio Antonio Mella cerca de duasdécadas antes. Sem dúvida, parcelasexpressivas do povo cubano viam noscombatentes do Movimento 26 deJulho os continuadores da obradaqueles heróis e nada mais natural,portanto, que eles também se vissemassim� (BLANCO & DÓRIA, 1982,p. 8-9). Além de destacar uma linha decontinuidade nas lutas populares em

Cuba, os autores também ressaltarama ruptura com o imperialismo.

Outra preocupação de boa parte dahistoriografia foi a de ressaltar averacidade dos fatos e das descriçõescontemporâneas: �Andávamos só poronde eles queriam? Não. Colocaramdiversas vezes, à nossa disposição,carros, com ou sem chofer, para iraonde quiséssemos.� (BRANDÃO,1978, p. 44). A idéia que circulava noBrasil, sobre as reportagens favoráveisa Cuba, era de que os viajantes sóhaviam visto aquilo que os cubanosdeixavam ver e de que haviam sidosubmetidos à lavagem cerebral e outrasbobagens. No livro de JorgeEscosteguy, o prefácio adverte para atentativa do autor de �capturar averdade nas entrelinhas dereportagens dirigidas e relatosfalseados...� (ESCOSTEGUY, 1978, p.XIII).

Mesmo correndo o risco de �comprargato por lebre�, a opinião públicabrasileira parecia ter imensacuriosidade sobre o episódio. Levandoem consideração o número deexemplares de �A ilha de Fidel Castro�vendidos por Fernando Morais (22edições até 1985, com a venda de 171mil livros), é possível admitir quemuitos ansiavam por saber doacontecimento para além das notíciasveiculadas pelos grandes órgãos daimprensa brasileira. Fruto de umaopção pessoal do jornalista, o livro temuma narrativa descritiva e laudatória.Apresenta os fatos do cotidiano dopaís, a cultura, relações com o mundo,

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o racionamento, um país sem favelas,a nova escola, a imprensa, a saúde, amulher, eleições, justiça, reformaagrária, economia e a revoluçãoonipresente.

A idéia de �elaboração penosa�constituía-se como uma outracaracterística presente na historiografiaa respeito da Revolução Cubana noBrasil. Os textos ressaltavam ograndioso sacrifício necessário parafazer a Revolução e para manter oprojeto idealizado pelosrevolucionários. Referiam-se aoheroísmo dos revolucionários e aossacrifícios enfrentados pelo povocubano em função do racionamento,determinado pelo bloqueio econômicodos Estados Unidos. Um exemplo desacrifício imposto pelo racionamentoestá descrito demodo gracioso no livrodeMoraes, quando ele observa que, �Àcusta do racionamento, quem quiserfazer um galanteio a uma cubana develevar-lhe de presente uma dúzia debobbies plásticos para enrolarcabelos� ... �O racionamento fezdesaparecerem os bobbies domercado,o que criou uma situação engraçada:pode-se ver pelas ruas mulheres comos cabelos enrolados com latinhas detalco vazias ou cilindros de papelhigiênico, transformados em bobbies�.(MORAES, 1985, p. 44). JorgeEscosteguy, em �Cuba Hoje. 20 Anosde Revolução�, discute os problemascubanos após duas décadas depersistência revolucionária e diz que,�Estão presentes, igualmente, osproblemas e as marcas de um passado

de muito sacrifício� (ESCOSTEGUY,1979, p. 22).

Quarenta anos depois de iniciado oprocesso revolucionário, a idéia dosacrifício permanecia presente nabibliografia sobre Cuba. Trata-se dorelato de Ivaldino Tasca e RicardoPérez no livro �Cuba não briga com ocozinheiro: revolução 40 anos�, de1999. O livro reúne documentos,depoimentos e relatos sobre a situaçãocubana. Na contra-capa, é descrito umepisódio, que deu título ao livro erefletia a idéia de sacrifício.Convidados para o almoço numa casacubana, os convivas depararam-se comuma estranha combinação culinária,supostamente arroz com frango, que adona da casa explicou: �a coisa estádifícil, mas sempre se inventa. A cordo arroz foi graças aos polivitamínicosdistribuídos no posto de saúde; o saborfoi obtido através de dois cubos decaldo de galinha presenteados pelasvizinhas (seu filho os enviou dosEstados Unidos) e este sólido queparece frango são pedaços da partemais consistente de um repolho�.(TASCAePÉREZ, 1999, contra-capa).Essa idéia de sacrifício ajudou aconstruir correlatamente uma imagemde coragem, heroísmo e demerecimento.

Outro viés interessante dahistoriografia sobre Cuba no Brasil dizrespeito às relações internacionais,estabelecidas pelo país a partir daimplantação do socialismo. Nestesentido, o tema das relações entre Cuba

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e os demais países socialistas,sobretudo a União Soviética, aparececomo relevante. Em FernandoMoraessobressai a idéia de uma �outrasolidariedade�, além daquelaproveniente do mundo capitalista e dapossibilidade de um melting potcultural, sem a intervenção das �forçasdo progresso tecnológico e industrial�.Moraes observa uma espécie decosmopolitismo revolucionário: �Àsseis horas da tarde de uma agitadasegunda-feira, o bar do HotelNacional, parece uma AssembléiaGeral dos Países Socialistas, NãoAlinhados e Inimigos do Capitalismo:de um lado, três mongóis bebem vodca� vieram aCuba estabelecer convêniosagropecuários; no balcão, umdiplomata búlgaro conversa com umjornalista romeno; três membros doPartido do Trabalho do Congo tomamdaiquiri junto à porta esperanto vagarumamesa; junto com um guia cubano,um jurista do Vietnã do Norte tentainutilmente falar espanhol�(MORAES, 1985, p. 36-37). Osjornalistas brasileiros que visitavamCuba surpreendiam-se ao escutar nasruas de Havana, com uma certafreqüência, palavras russas comotovaritch (camarada), niet (não) eoutras, mescladas ao espanhol. Alémdas boas relações entre Cuba e o restodo mundo socialista, a historiografiabrasileira ressaltava a influênciaexercida pela cultura da EuropaOriental em Cuba e discutia sobre osbenefícios advindos da proximidade esobre os possíveis danos que essainfluência poderia causar ao país.

Ainda no campo das relaçõesinternacionais, o tipo de vínculo comos Estados Unidos e oantiimperialismo cubano aparecemcomo temáticas em todas asabordagens. Almir Matos, porexemplo, no livro publicado em 1961,recupera a história da ocupaçãoimperialista, desde a Emenda Platt(1901), passando pelo íntimorelacionamento norte-americano comos ditadores Gerardo Machado eFulgêncio Batista, até a invasão deCuba em 1961, na praia Girón.Também aborda a resistência aoimperialismo como uma característicahistórica do povo cubano. JorgeEscosteguy, quase 20 anos mais tarde,discute o mesmo problema em umcapítulo intitulado: �As agruras de umsocialismo a 90 milhas dos EstadosUnidos�. Escosteguy relaciona aresistência �ao boicote, às agressões,à invasão, à libreta, ao êxodo detécnicos e à propaganda imperialista�ao apoio que o povo cubano forneceuao processo revolucionário(ESCOSTEGUY, 1979, p. 28) e cita orefrão de uma guaracha de CarlosPuebla: �Si a mi vecino no lê gustacomo yo vivo, pues que se mude, puesque se mude� (ESCOSTEGUY, 1979,p. 99).

Florestan Fernandes tratava a questãodo imperialismo em termos de�situação neocolonial durável oupermanente�, pressupondo doisaspectos conjugados: �a desagregaçãodo antigo sistema colonial e afrustração da emancipação nacional�.

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Basicamente, Fernandes interpretava aevolução das relações de Cuba com osEstados Unidos da seguinte forma: �Aproximidade espacial e a facilidadecom que os dinamismos da economianorte-americana especializaramCuba, convertendo-a em uma feitoriaagroindustrial moderna, impuseramaos Estados Unidos o problemapolítico de como impedir a evoluçãonacional cubana e de como procederpara formalizar, diplomática e�legalmente� (sob uma aparência deconsenso) a satelização política deCuba� (FERNANDES, 1979, p. 37 e39).

Numa abordagem posterior a 1979, aodiscutir os processos revolucionárioslatino-americanos e suasconseqüências, Florestan Fernandesincorporava ao debate sobre aRevolução Cubana questões como: aincapacidade das elites dominantescubanas em promover a�descolonização completa� e apresença de uma �exploraçãocapitalista dual�, na qual as classesdominantes locais se unem às naçõesmais poderosas para uma �brutalpilhagem sem fim� (FERNANDES,1981, p. 98). Sua análise remete aoproblema da situação neocolonial deCuba e do posicionamento daburguesia insular diante das condiçõesconcretas dos anos 1950. Para ele, asituação neocolonial cubanaconsolidou-se demodomais acentuadodo que nos demais países latino-americanos porque ao longo doprocesso de independência (1868/1895) a burguesia cubana recuara

diante do �risco provável de ter delevar a revolução mais longe�. Issoresultou em posições antinacionais ereacionárias da burguesia, bem comonuma aliança mais orgânica entre essae os interesses dos Estados Unidos.Fernandes observava que a principallição do processo cubano seriaentender como �um erro pensar que aburguesia possa movimentar-se comcerta liberdade através de umapossível �reforma do capitalismo��.(FERNANDES, 1981, p. 102). Oumelhor, segundo a visão de FlorestanFernandes, a Revolução Cubanaconstituiu-se como uma�revolução emavanço, que tem de desagregar edestruir toda a ordem preexistente atéao fundo e até ao fim, para lançar asbases da formação e da evoluçãohistóricas de um novo padrão decivilização� (FERNANDES, 1981, p.104).

Os caracteres de revolucionário, deanticapitalista e de antiimperialistaatribuídos por Florestan Fernandes àRevolução Cubana, eramcompartilhados por outros autores.Porém, muitos deles, assim como opróprio Fernandes, atribuíam oaprofundamento do processorevolucionário ao comportamentoreativo da burguesia cubana e dosEstados Unidos, por um lado, e aocrescente radicalismo das classespopulares, por outro.

Ainda no campo das relaçõesinternacionais, encontra-se o excelentetrabalho desenvolvido pela sociólogaTaniaQuintaneiro. Publicado em1988,

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o livro �Cuba e Brasil: da Revoluçãoao Golpe (1959 � 1964). Umainterpretação sobre a política externaindependente� é fruto da dissertaçãode mestrado da professora, defendidaem 1982, em Minas Gerais. Suareflexão está direcionada para apolítica externa brasileira no períodoem questão e as condições criadas pelaRevolução Cubana para umposicionamento internacional maisindependente. Nas primeiras páginasde seu trabalho, Quintaneiro observaa desproporcionalidade entre aimportância do processo para o Brasile a escassez de estudos: �Cuba passouentão a fazer parte do quotidianobrasileiro. O papel catalizador que arevolução desempenhou na políticabrasileira, tanto em nível nacional,como o envolvimento de amplossetores sociais e políticos, quanto aoda definição das linhas diretrizes dapolítica exterior, tem sidoinsuficientemente estudado�.(QUINTANEIRO, 1988, p. 12).

A abordagem de Tania Quintaneiro évoltada para a recepção oficial daRevolução Cubana, sobretudo no quediz respeito ao Itamarati e às relaçõesinternacionais estabelecidas nesteperíodo e em função do episódioexterno. Observa, por exemplo, quedurante o governo Jânio Quadros, oposicionamento internacional doBrasilapresentava uma clara inclinaçãoterceiro-mundista, contrariandorelativamente o esquema dealinhamento automático com osEstados Unidos e decidindo pela nãointervenção em Cuba. Esse

posicionamento modificou-se com aruptura das relações diplomáticas econsulares com o governo de FidelCastro em 1964 e com o apoio dado àdecisão tomada na IX Reunião deChanceleres, convocada pelaOrganização dos Estados Americanos(OEA), de condenar o regime cubano(QUINTANEIRO, 1988, p. 13 e 14).Enquanto na primeira fase estavam emjogo as perspectivasdesenvolvimentista e nacionalista, nopós � 1964, a política externa brasileiraesteve fortemente permeada peladoutrina de segurança nacional e pelanoção de contra-insurgência, na qualCuba era considerada como pivô doproblema.

Dentro da concepção teórica deQuintaneiro, ressalta a importânciaatribuída aos problemas de relaçõesinternacionais gerados pela RevoluçãoCubana e seus desdobramentos:�Mesmo que as atitudes do Presidente(Jânio Quadros) pudessem sercaracterizadas pelo personalismo,pela ousadia e extravagância, suarenúncia não poder ser interpretadaapenas como conseqüência de um�estilo�, senão também, comoresultado da campanha contra apolítica externa de seu governo,campanha esta que encontrou nahomenagem a Guevara, o mise-em-scène perfeito para a finalização dodrama�. (QUINTANEIRO, 1988, p.59). Seu estudo está evidentementemais centrado na recepção daRevolução Cubana por parte dosministros de relações internacionais, depolíticos da direita e do

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posicionamento dos governantesbrasileiros em relação ao episódio,embora a recepção por parte daesquerda esteja brevemente analisada.

O artigo de Emir Sader, intitulado�Cuba no Brasil: influências daRevolução Cubana na EsquerdaBrasileira�, aborda especificamente otema da recepção da RevoluçãoCubana pela esquerda brasileira elatino-americana: �... nenhum país docontinente passou incólume pelosurgimento da Revolução Cubana, eprovavelmente a história dasesquerdas de cada país tenha nele ummarco decisivo em sua trajetória.�.Caracteriza o período de eclosão daRevolução Cubana como um períodoparticularmente propício aos processosde recepção, devido à crise docapitalismo na América Latina(discussões sobre questão agrária,dependência externa, deterioração daspolíticas públicas e extensão dosregimes ditatoriais). Chega a falar emcondições relativamente homogêneasem todo o subcontinente. (SADER,1991, p. 160-161).

Sader elabora uma série de elementospara entender qual o perfil daRevolução Cubana que aportou noBrasil: �representou a atualização darevolução para a esquerda brasileira�(167); �legitimação da heterodoxiapolítica e ideológica� (168);�articulação entre anticapitalismo eantiimperialismo, ruptura comEstadosUnidos� (168); �estratégia da guerrade guerrilha baseada no campo� (169);�incorporação da dimensão de

�solidariedade internacional� (169);�ética da dedicação revolucionária,sacrifício da própria vida...� (171);�ênfase no papel da vanguarda� (171).

Segundo ele, alguns outros aspectosderam forma à imagem da Revoluçãopara a esquerda brasileira, entre eles,a campanha de erradicação doanalfabetismo, o sistema educacionalcubano, retratado fartamente por livrossobre o assunto, a reforma agrária e areforma urbana, temas caros à esquerdacontinental, afirmação daindependência de Cuba diante dosEstados Unidos; os sucessos nosplanos esportivo, artístico e cultural(SADER, 1991, p. 172).

O próprio Sader incorpora a idéia deheroísmo e de sacrifício, jámencionadas anteriormente, masressalta que Cuba passou a ser vista demodo heróico por resolver de formaradical os problemas comuns a todosos países latino-americanos, sobretudoàqueles problemas reclamados demodo mais insistente pela esquerdasubcontinental.

Sader desenvolve, ainda quebrevemente, uma �cronologia darecepção� a partir de dois aspectos: aaquisição de uma identidade própria,por parte da Revolução Cubana, quediz respeito às mudanças internas quevão ocorrendo conforme são travadasas lutas políticas no país einternacionais; e, o outro aspecto, dizrespeito às transformações do processopolítico brasileiro e da esquerda nopaís, sobre a qual a influência da

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Revolução Cubana operou conforme aconjuntura específica. Nestacronologia, Sader tenta estabelecerquais os efeitos políticos da recepçãoda Revolução Cubana nos partidos eorganizações de esquerda, conforme odesenrolar do próprio processorevolucionário cubano e as disputastravadas no Brasil. Os períodosestabelecidos por Sader são: - daeclosão da Revolução Cubana, em1959, até o Golpe Militar de 1964, noBrasil; - dos anos 1970 até meados dosanos 1980; - demeados dos anos 1980,mais especificamente quando dorestabelecimento de relaçõesdiplomáticas entre Cuba e Brasil, em1985, e os desdobramentos daPerestroika, até os anos 1990.

Segundo a visão de Emir Sader nesseartigo, �Cuba significou para aesquerda brasileira, desde seusurgimento como processorevolucionário, a referência socialistamais importante.� ... �Cuba seguesendo um tema polêmico dentro daesquerda e no cenário ideológico maisgeral da sociedade brasileira. Asmentiras do silêncio em relação aosdesenvolvimentos sem precedentes noplano social que o socialismo tornoupossível em Cuba fazem com que odebate seja inevitavelmenteapaixonado� e �Daí a dificuldade deavaliação de uma influência que temsido poderosa no transcurso de maisde três décadas e que nada leva a crerque deixe de continuar assim nasdécadas seguintes.� (SADER, 1991, p.181 e 183).

Numa pesquisa recente, publicada em2001, a historiadora DeniseRollemberg trata de uma temáticaparticularmente interessante no campodas influências da Revolução Cubanana esquerda brasileira. Trata-se de �OApoio de Cuba à luta Armada noBrasil. O treinamento guerrilheiro�.Ela explora muito pouco a ricadocumentação disponível, mascontribui para desvendar alguns dosepisódios mais obscuros da ditadurabrasileira, como, por exemplo, oextermínio doGrupo dos 28 (ouGrupoda Ilha ou Grupo Primavera), umacisão do III Exército da AliançaLibertadora Nacional (ALN): �A voltados guerrilheiros do Grupo da Ilha foidramática. À medida que chegavam,eram rapidamente pegos pelarepressão e, em muito pouco tempo, oMOLIPO foi massacrado. Erammortes anunciadas. Se a repressãohavia condenado todos os militantesque treinavam em Cuba à morte, nocaso do Grupo dos 28 parece terhavido uma determinação aindamaiorpara dizimá-lo� (ROLLEMBERG,2001, p. 59).

Denise ainda destaca importanteinfluência exercida por Cuba nas LigasCamponesas, lideradas por FranciscoJulião, evidenciando que a opção pelaluta armada não foi exclusiva doperíodo pós-1964 ou se constituiusempre como uma reação ao regimerepressivo. Também traz à luz, atravésdos depoimentos de ex-militantes ecombatentes, o papel exercido poralgumas lideranças nacionalistas,

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como Leonel Brizola, por exemplo,que segundo ela pretendia �reeditar aexperiência cubana no Brasil�, atravésdo Movimento NacionalistaRevolucionário (MNR), umaorganização que não chegou a seconsolidar. (ROLLEMBERG, 2001, p.29).

O texto de Denise Rollemberg, bemcomo os trabalhos mencionados deEmir Sader, Tânia Quintaneiro eFlorestan Fernades são fruto depesquisa em fontes primária e/ou dereflexão acadêmica, interpretações darealidade cubana e brasileira que vãoalém de impressões jornalísticas oumemórias de viagens. Isso nãodesqualifica o trabalho dos jornalistasque se aventuravam na descrição doepisódio, mas coloca outro patamar narecepção da Revolução Cubana noBrasil. Significa, em primeiro lugar,que a partir de meados dos anos 1980,as ciências sociais brasileiras,particularmente historiadores esociólogos puderam pesquisar e refletirsobre a Revolução Cubana,interpretando-a como um processo enão apenas como um episódio. Não foinecessariamente o distanciamentotemporal que permitiu essasinterpretações, mas, sobretudo asmudanças na conjuntura brasileira, adistensão da ditadura e a possibilidadede acesso a arquivos e a pessoas queestiveram em Cuba, em treinamento,por exemplo.

A segunda observação diz respeito aofato de que essa produção acadêmicatem foco nas relações entre Cuba e a

América Latina, especialmente Brasil.Esses pesquisadores estudaram umepisódio internacional para entenderquestões relativas ao desenvolvimentodas idéias socialistas no Brasil, àposição de independência assumida noâmbito das relações internacionais, àsperspectivas desenvolvimentistas enacionalistas da burguesia brasileira eos problemas e obstáculos vividos pelaesquerda brasileira no período daditadura militar. Evidentemente trata-se de um posicionamento teórico, mastambém, deve-se ressaltar asemelhança entre àquelas análisesjornalísticas e essas, acadêmicas, noque se refere ao fato de que ambospretendem, de um modo ou de outro,entender como aquele episódio ouprocesso cubano podia transformar avida e a sociedade em que viviam.

A produção intelectual e acadêmicabrasileira sobre Cuba tentou, ao longoda sua história, entender seus possíveisefeitos sobre as lutas sociais no Brasil.As interrogações acerca do futuro e dasperspectivas revolucionárias da ilhaestiveram sempre envolvidas, narealidade, pelas inquietudes acerca dofuturo nacional e das expectativasgeradas a partir das influências daRevolução Cubana.

Atualmente a produção sobre aRevolução Cubana no Brasil estáconcentrada nos Programas de PósGraduação das Universidadesbrasileiras e aborda uma gama muitovariada de temas, onde sobressaí apreocupação com a persistência doregime, do socialismo e as

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transformações econômicas e políticassofridas pelo país após a queda dosocialismo. Destacam-se �Cuba e o diaposterior: a polêmica dos intelectuaisem torno ao destino do socialismo nailha�, de Idália Morejón Arnaiz; �Astensões entre criação artística eideologia na produção teatral cubanados últimos quarenta anos�, deGuillermoLoyolaRuiz, ambos daUSP,SP, apresentados no VI Encontro daAssociaçãoNacional de Pesquisadoresde História Latino-americana eCaribenha (ANPHLAC) em julho de2004; a dissertação de Mestrado,

defendida em julho de 2004 na PUC,RS, por Roselena Leal Colombo,intitulada �Cuba � colapso do lesteeuropeu: Reinserção Internacional eReformas Estruturais na RevistaEconomia y Desarrollo � (1996-2000)�. Por enquanto, esses estudoscompõem um pequeno mosaico depreocupações de jovens pesquisadoresbrasileiros a respeito de Cuba. Maspode revelar, sobretudo o permanenteinteresse por esse país e pelo seudestino entre os intelectuais brasileirose latino-americanos.