Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods...

8
70 ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013. SOBRE MÉTODOS DE LEITURA DE IMAGEM NO ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA doi: 10.4025/imagenseduc.v3i2.20238 Gustavo Cunha Araujo* Ana Arlinda Oliveira** * Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. [email protected] * Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. [email protected] Resumo O ensaio analisa os métodos de leitura de imagem dos teóricos em arte/educação Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons e Abigail Housen, por considerarmos serem os pioneiros em estudos sobre leitura de imagem no ensino da arte contemporânea. Utiliza como metodologia a revisão bibliográfica pertinente ao tema e discorre sobre as implicações desses métodos para o surgimento da Proposta Triangular para o ensino da arte, ocasionando mudanças teórico-metodológicas neste ensino. As reflexões construídas à luz das teorias que fundamentam este estudo trouxeram importantes apontamentos sobre a temática abordada neste trabalho, contribuindo para o debate educacional sobre o tema. Palavras-chave: Leitura de Imagem. Ensino da Arte. Proposta Triangular. Metodologia. Abstract. About image reading methods in the art education contemporary. The essay analyzes the methods of image reading of the theoreticians in art/education Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons and Abigail Housen, because we believe they are the pioneers in research on teaching reading in the image of contemporary art. Methodology uses as the relevant literature to the subject and discusses the implications of these methods for the emergence of Triangular Proposal for the teaching of art, leading theoretical and methodological changes in this school. The reflections built according to the theories that underlie this study provided important notes about the topic covered in this work, contributing to the educational debate on the subject. Keywords: Image Reading. Art Education. Triangular Proposal. Methodology. Introducão Na pesquisa em questão, analisamos alguns métodos de leitura de imagem no ensino da arte de importantes teóricos da arte/educação, entre os quais ressaltamos Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons e Abigail Housen, por entendermos serem os pioneiros em estudos sobre a leitura de imagem no ensino da arte contemporânea e por terem influenciado o surgimento da Proposta Triangular para o ensino da arte, modificando as práticas teórico-metodológicas para o ensino da arte no Brasil. As reflexões foram construídas em diálogo com autores como (BARBOSA, 2011, 2008, 2002, 1998, 1991, 1988; DAL’MASO, 2011; FELDMAN, 1993; FERRAZ; FUSARI, 2010; KEHRWALD, 2006; LÉLIS, 2004; OSINSKI, 2001; OTT, 1989, 1997; PARSONS, 1998, 1992; SARDELICH, 2006), o que de fato, trouxeram apontamentos sobre o objeto de estudo elencado neste trabalho, contribuindo para pesquisas sobre a temática abordada. Os esclarecimentos teóricos sobre a temática abordada são necessários à pesquisa, uma vez que pretendemos entender que

Transcript of Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods...

Page 1: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

70

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

SOBRE MÉTODOS DE LEITURA DE IMAGEM NO ENSINO DAARTE CONTEMPORÂNEAdoi: 10.4025/imagenseduc.v3i2.20238

Gustavo Cunha Araujo*Ana Arlinda Oliveira**

* Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. [email protected]* Universidade Federal de Mato Grosso − UFMT. [email protected]

ResumoO ensaio analisa os métodos de leitura de imagem dos teóricos em arte/educaçãoEdmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons e Abigail Housen, porconsiderarmos serem os pioneiros em estudos sobre leitura de imagem no ensinoda arte contemporânea. Utiliza como metodologia a revisão bibliográficapertinente ao tema e discorre sobre as implicações desses métodos para osurgimento da Proposta Triangular para o ensino da arte, ocasionando mudançasteórico-metodológicas neste ensino. As reflexões construídas à luz das teorias quefundamentam este estudo trouxeram importantes apontamentos sobre a temáticaabordada neste trabalho, contribuindo para o debate educacional sobre o tema.Palavras-chave: Leitura de Imagem. Ensino da Arte. Proposta Triangular.Metodologia.

Abstract. About image reading methods in the art education contemporary.The essay analyzes the methods of image reading of the theoreticians inart/education Edmund Feldman, Robert Ott, Michael Parsons and AbigailHousen, because we believe they are the pioneers in research on teaching readingin the image of contemporary art. Methodology uses as the relevant literature tothe subject and discusses the implications of these methods for the emergence ofTriangular Proposal for the teaching of art, leading theoretical and methodologicalchanges in this school. The reflections built according to the theories that underliethis study provided important notes about the topic covered in this work,contributing to the educational debate on the subject.Keywords: Image Reading. Art Education. Triangular Proposal. Methodology.

Introducão

Na pesquisa em questão, analisamos algunsmétodos de leitura de imagem no ensino da artede importantes teóricos da arte/educação, entreos quais ressaltamos Edmund Feldman, RobertOtt, Michael Parsons e Abigail Housen, porentendermos serem os pioneiros em estudossobre a leitura de imagem no ensino da artecontemporânea e por terem influenciado osurgimento da Proposta Triangular para oensino da arte, modificando as práticas

teórico-metodológicas para o ensino da arte noBrasil.

As reflexões foram construídas em diálogocom autores como (BARBOSA, 2011, 2008,2002, 1998, 1991, 1988; DAL’MASO, 2011;FELDMAN, 1993; FERRAZ; FUSARI, 2010;KEHRWALD, 2006; LÉLIS, 2004; OSINSKI,2001; OTT, 1989, 1997; PARSONS, 1998, 1992;SARDELICH, 2006), o que de fato, trouxeramapontamentos sobre o objeto de estudoelencado neste trabalho, contribuindo parapesquisas sobre a temática abordada.

Os esclarecimentos teóricos sobre atemática abordada são necessários à pesquisa,uma vez que pretendemos entender que

Page 2: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

71

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

implicações os métodos de leitura de imagenspropostos no ensino da arte elegidos eanalisados neste estudo trouxeram para aProposta Triangular para o ensino de artebrasileiro nos dias atuais, ocasionando mudançasteórico-metodológicas nesse ensino nos diasatuais e, consequentemente, no trabalho deimagens pelo professor de Artes.

O texto encontra-se estruturado em trêspartes, a saber: na primeira, apresentamosbrevemente os métodos de leitura de imagensno ensino da arte de importantes teóricos dessaárea, contudo, sem aprofundar especificamenteem cada método. Em seguida, apresentamosreflexões à luz das teorias que fundamentam estetrabalho, sobre esses métodos relacionados como surgimento da Proposta Triangular,ocasionando mudanças teóricas e metodológicaspara o ensino da arte nos dias atuais. Por fim,são desenvolvidas algumas considerações sobreas reflexões construídas sobre o objeto deestudo exposto neste trabalho.

Optamos pela pesquisa qualitativa, decaráter interpretativo e descritivo (BOGDAN;BIKLEN, 1999; LUDKE; ANDRÉ, 2011), porentendermos que são adequadas para opropósito desta pesquisa. Como pesquisadoresem educação, devemos incorporar novas teoriase conhecimentos, possibilitando a produção denovas interpretações e reflexões.

Um olhar sobre os métodos de leitura deimagens no ensino da arte

O termo leitura de imagens começou a serdiscutido no campo educacional no final dosanos 1970, devido à disseminação de aparelhosaudiovisuais e pelo surgimento de teorias sobre apercepção e psicologia da forma – Gestalt – e dasemiótica (SARDELICH, 2006).

Na medida em que essa discussão foi sedesenvolvendo no cenário educacional doensino da arte, foi sendo necessário umentendimento da leitura visual, ou seja, dacompreensão dos códigos incorporados epresentes nas imagens, o que, de fato, implicouno surgimento, já nos anos 1980, de termoscomo alfabetização visual e gramática visual,ressaltados por autores como Dondis (2003) eBarbosa (1988; 1991) e, mais recentemente,Pedagogia da Imagem e Cultura Visual, porBarros (1997), Barbosa (2002; 2008; 2011) eHernandez (2000).

Nessa discussão, em seu estudo, kehrwald(2006) nos chama a atenção para o termoanalfabetismo visual, pelo fato de, segundo ele,desde a escola, não termos muito contato (ouquase nenhum) com obras de arte, muito menoscom métodos de leitura de imagens que nospudessem “ensinar a ler imagens”.

Nessa perspectiva, utilizadas e consonânciacom textos escritos ou não, as imagensnecessitam de serem “lidas”, pois

é preciso levar em conta que as obras dearte nos remetem, muitas vezes, a objetosjá vistos, a formas ou fatos do cotidiano epassamos a identificar aspectos comunsentre os mesmos. Essas nuanças passamdespercebidas a um olhar desacostumado.No entanto, um olhar educado para ver[...] perceberá as semelhanças e diferenças,fará analogias e, por consequência,identificará as inter-relações, isto é, ointertexto (KEHRWALD, 2006, p. 28-29).

Nessa citação, a autora utiliza o termointertexto para se referir a dois textos quandotrabalhados juntos na educação: o textoescrito/verbal e o texto visual/imagético.

Decodificar um texto é entrar em suatrama, na sua textura, no seu tecido, ler umtexto pictórico é adentrar em suas formas,linhas, cores, volumes e particularidades,na tentativa de desvelar um código milenarque muitas vezes não está explícito, nos édesconhecido e, por vezes, nos assusta.Por ser um sistema simbólico, derepresentação, a subjetividade contida naarte proporciona uma infinidade deleituras e interpretações que dependem asinformações do leitor, das suasexperiências anteriores, das suas vivências,lembranças, imaginação, enfim, do seurepertório de saberes (KEHRWALD,2006, p. 24-25).

Desse modo, em diálogo com Calado (1994,p. 55), as imagens “[...] enquanto sistemassimbólicos são ricas e instáveis, o que quer dizerque comportam um grande número de níveis designificação”. Quando inserida nas artes visuais,é relevante pontuar que “aprender a ler oscódigos do sistema de representação das artesvisuais é tão importante quanto o entendimentodos sistemas numéricos e de escrita”(KEHRWALD, 2006, p. 28).

Page 3: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

72

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

Sobre esse assunto, Araújo & Oliveira(2012) esclarecem que a leitura de imagem serelaciona diretamente com o estudo doalfabetismo visual, pelo fato de ser importante enecessário o indivíduo buscar compreender acomunicação de informações ou ideias por meioda decodificação dos elementos figurativospresentes nas imagens, o que vai serfundamental para o ato de se comunicarvisualmente na sociedade contemporânea.

Estudar o alfabetismo visual écompreender melhor os significados erepresentações que as imagens, em seusmais diferentes níveis e formas, podemnos oferecer, analisadas no contextoeducativo, por meio de métodos de leiturade imagens de áreas como as Artes Visuais(ARAÚJO; OLIVEIRA, 2012, p. 95).

Nesse sentido, ampliam-se aqui asdiscussões em torno dos métodos de leitura deimagem voltados para o ensino da arte, queinfluenciaram o surgimento da PropostaTriangular, modificando as práticasteórico-metodológicas para o ensino da arte noBrasil.

Para iniciarmos, apresentamos algunsconceitos de métodos de leitura de imagens queentendemos ser os mais pertinentes para oensino de arte contemporâneo, surgidosinicialmente nos anos de 1970 nos EstadosUnidos. Tal recorte temporal deve-se ao fato deser a partir desse momento que os estudos sobrea leitura de imagem na arte e educação foramproduzidos no contexto educacional.

Nessa linha de pensamento, nos anos 1970o teórico Edmund Burke Feldman, em sua obraintitulada Becoming Human Through Art: AestheticExperience In The School propõe uma metodologiade leitura de imagem no ensino da arte quedeveria ser aprendida pelo indivíduo por meioda técnica, da crítica e da criação (FELDMAN,1993), ou seja, “[...] sua metodologia propõeformar um olhar crítico e trabalhar a construçãode uma pessoa mais crítica em termos de arte”(LÉLIS, 2004, p. 40).

Nesse método, a obra de arte deveria seranalisada por um método comparativo deleitura: a leitura de duas ou mais obras visuais,com o objetivo do indivíduo apontar asdiferenças e semelhanças visuais entre as obrasanalisadas, seguindo quatro estágios de análises,como pode ser visto na tabela 1:

Tabela 1. Método de leitura de imagem de Edmund Feldman.

Estágios Descrição

Descrever Identificar o que se vê na obravisual, apenas o que está evidente.

AnalisarIdentificar na obra elementos dacomposição visual, estabelecendorelações entre os elementos.

InterpretarDar sentido ao que observou naobra, procurando identificar quaisos sentidos, ideias, sentimentos eexpressões intencionadas peloautor.

JulgarEmitir juízo de valor sobre a obra,se ela é importante ou não, se temqualidade estética.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Ao contrário dos demais estágios analisadosposteriormente, Edmund Feldman cita o últimoestágio, “julgar”, que segundo ele, é o qual oindivíduo emitirá julgamento, entendimento daobra observada, informando se a mesma temqualidade estética em sua composição visual, ounão.

Nessa sequência breve, na década de 80surge um método que propunha odesenvolvimento estético e o conhecimento daarte, baseado na produção artística, crítica,estética e história da arte (OTT, 1989; 1997),através de seis estágios, descritos na tabela 2:

Tabela 2. Método de leitura de imagem de Robert William Ott.

Estágios Descrição

Aquecer/Sensibilizar

Preparação do material visual/obrade arte que será apreciado.

Descrever Descrever os aspectos formais daimagem.Analisar os conceitos formais da obra

Page 4: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

73

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

Analisar visual, como o artista organizou a suacomposição visual.

InterpretarO leitor interpreta a obra visual,apontando que sentimentos lhe sãotrazidos, ideias ou sensações.

FundamentarÉ ampliado ao leitor o conhecimentoda obra visual por meio do contexto,da história da obra.

Revelar O fazer artístico (produção) sobre aobra observada.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Este método ficou conhecido como ImageWatching, “olhando imagens”, do teórico RobertWilliam Ott, sistematizado em sua obra ArtEducation: An International Perspective. Lélis (2004,p. 41) apresenta uma análise interessante dessemétodo:

No primeiro estágio o aluno deverá apenasolhar o objeto e descrevê-lo. No segundo,deverá destacar os elementos e a estruturada linguagem plástica, para perceber comoa composição foi feita. No terceiro, oeducando fará diversas interpretações doobjeto, expressando seu sentimento emrelação a ele. No quarto momento, oconhecimento do aluno será ampliadocom informações sobre o objeto, o artistae o conjunto de sua obra, utilizando oacervo bibliográfico da escola, da família eda comunidade, bem como o materialdidático-pedagógico do professor. Naúltima etapa, o aluno, agora maisinformado e suficientemente afastado daobra como modelo e referência, cria umnovo trabalho, usando qualquer linguagemartística, seja ela verbal, gestual (cênica),plástica ou musical.

Contudo, interessante notar nessa citaçãoque a autora não ressalta o primeiro estágiopontuado por Robert Ott, aquecimento/sensibilização, talvez pelo fato de não considerarcomo primeiro estágio a preparação da obra dearte que será apreciada, o que de fato, vai aoencontro com os estágios propostos pelosteóricos Edmund Feldman e Abigail Housenque, também, não citam esse aquecer/sensibilizar em seus métodos.

Seguindo esse raciocínio, nos anos 1980,Michael Parsons, em sua obra Compreender a Arte(PARSONS, 1992) propôs um método que sebaseava na compreensão das imagens pelapessoa em diferentes cinco estágios,apresentados na tabela 3:

Tabela 3. Método de leitura de imagem de Michael Parsons.

Estágios Descrição

Favoritismo/Preferência/

Gosto Pessoal

Seleção de uma obra visual ou partedela que goste.

Beleza/Realismo

Escolha de imagens ou obrasvisuais que são “bonitas” ou o temaé “bonito”.

ExpressãoA expressão do artista é importantepara compreender as intenções deleao produzir a obra visual; quesentimentos, ideias ou sensações aobra expressa.

Estilo/FormaInteresse pelo estilo e composiçãovisual da obra, buscando relacionarcom a expressividade dela.

Juízo/Interpretação/

Autonomia

Entender a validade da obrasegundo seu contexto social ehistórico, buscando compreenderos sentidos e experiência que elatrazem ao leitor.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Na tabela 3 é interessante observar que oprimeiro estágio, favoritismo/preferência/ gostopessoal, é semelhante ao estágio deaquecimento/sensibilização de Robert Ott, aocitar a seleção de uma obra de arte ou qualquerparte dessa obra para a apreciação por parte doindivíduo.

É possível notar também, nessa mesmatabela, similaridade entre os estágiosinterpretação, de Robert Ott e EdmundFeldman, com o estágio expressão, de MichaelParsons, ao informar que por meio da expressãodo artista da obra, é possível compreender assuas ideias, sentimento e sensaçõesintencionadas na obra.

A metodologia proposta por AbigailHousen se refere ao desenvolvimento dacompreensão dos estágios de leitura de imagempelo indivíduo, em quatro fases, indicadas natabela 4:

Tabela 4. Método de leitura de imagem de Abigail Housen.

Estágios Descrição

Descritivo/Narrativo/

Como a obra visual foi feita, suacomposição, como o artista a

Page 5: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

74

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

Construtivo produziu.

ClassificativoQuem é o artista que produziu aobra, em que ano e época aobra foi feita, quais os materiaise procedimentos utilizados nasua produção.

Interpretativo Que sensações, ideias ousentimentos a obra expressa.

Recriativo Fazer artístico baseado namesma obra visual observada.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Nessa tabela que os estágios interpretação,de Edmund Feldman e Robert Ott, e o estágioexpressão, de Michael Parsons, são semelhantesao estágio interpretativo, de Abigail Housen, aopontuar quais intenções do artista estãoexpressas na obra visual por ele produzida.

Ao olharmos para as metodologiasanalisadas, concordamos com Iavelberg (2003)quando ressalta que todas essas propostas sereferem, basicamente, aos aspectos estruturaisdo desenvolvimento estético, portanto, dacomposição e linguagem visual da obra.Contudo, a Proposta Triangular para o ensino daarte, complementa esse desenvolvimento aoincluir a contextualização, além de ter sido aresponsável pela incorporação do termo “leiturade imagem” ao vocabulário dos professores deArtes (KEHRWALD, 2006).

A Proposta Triangular para o ensino da arte

As metodologias para a leitura de imagemno ensino da arte enunciadas neste trabalho,surgidas ao longo dos anos na história do ensinoda arte, particularmente a partir da década de1970, e que influenciaram teórico emetodologicamente as práticas pedagógicas paraeste ensino nas escolas brasileiras, tiveram comoprincipal impulsionador o movimento de arte eeducação surgido nos Estados Unidos nos anos1960, conhecido como DBAE – Disciplined BasedArt Education (BARBOSA, 1988, 1991;OSINSKI, 2001; RIZZI, 2002), que trabalhoudiversas formas de se pensar arte por meio doconhecimento e pelo desenvolvimento do fazerartístico, da leitura da obra de arte e da suahistória.

Nesse sentido, podemos afirmar que essaspropostas e estudos sobre a leitura da imagemno ensino da arte foram fundamentais para queuma metodologia deste ensino no Brasil fossecriada. Inicialmente com o nome deMetodologia Triangular e, posteriormente,

assumindo outras denominações comoAbordagem e Proposta Triangular, teve napesquisadora em arte/educação Ana MaeBarbosa a sua principal pioneira e referência nosestudos sobre leitura da imagem na arte eeducação no Brasil. Na tabela 5, elencamos essaProposta para melhor entendimento:

Tabela 5. Proposta Triangular para o ensino da arte, de Ana Mae Barbosa.

EixosNorteadores

Descrição

Contextuali-zação

Contextualização da obra de arte.Conhecer/analisar a história daobra e o contexto de sua produção,bem como o artista e época em quefoi produzida, relacionando-a como contexto atual, pensando a obrade arte de uma forma mais ampla,para, consequentemente, ampliar oconhecimento em arte.

Leitura daObra de arte/

Apreciação

Apreciação, percepção,sensibiliza-ção, leitura de imagempor meio da gramática visual.Conhecer os elementos visuais daobra, para descobrir e discutirquestões que ela revela. Conhecer aobra e compará-la com obras eartistas de outras épocas ou não,interpretando-a subjetivamente.

Fazer artístico

Momento de criação, produção, derepresentação e expressão artística.A obra observada é uma boareferência para estimular oindivíduo a criar artisticamente,experimentando diferenteslinguagens, sem que seja uma cópiaou modelo estereotipado da obraobservada. Deve-se preservar acriatividade e a livre expressão nacriação de uma nova obra.

Fonte: Elaborada pelos autores.

De acordo com a tabela 5, podemos notarque o eixo contextualização da PropostaTriangular, de Ana Mae Barbosa, é similar aosestágios fundamentar, de Edmund Feldman, edescritivo/narrativo/construtivo e classificativo,de Abigail Housen, ao contextualizar a obra dearte, os artistas, suas obras, época da produçãoda obra, entre outros, fundamentais para aampliação do conhecimento em arte.

Outra similaridade encontrada nessaProposta com as metodologias de leitura deimagem analisadas neste manuscrito, se refere aoeixo fazer artístico, que encontra consonância

Page 6: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

75

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

com os estágios revelar, de Robert Ott, erecriativo, de Abigail Housen, referindo-se àprodução artística baseada na obra visualobservada.

Essa proposta surgiu no final da década de1980, tendo sido colocada em prática no Museude Arte Contemporânea da Universidade de SãoPaulo, no período de 1987 a 1993. SegundoBarbosa (1991), um currículo que atendesse asreais necessidades de aprendizagem econhecimento em arte deveria relacionar atriangulação: fazer arte (criação/produção), aanálise ou decodificação da obra de arte (leiturade imagens/apreciação) e contexto ouinformação (História da Arte/contextualização).

No entanto, a Proposta Triangular ganhoureconhecimento na educação básica nas escolasbrasileiras no momento em que os ParâmetrosCurriculares Nacionais (PCN) a consideramcomo importante concepção orientadora dasmudanças curriculares. Contudo, os PCN, nosegmento de Arte, denominam essa Propostacomo produção, fruição e reflexão(KEHRWALD, 2006), o que, de fato, não deixade se assemelhar aos eixos contextualizar, leiturae fazer dessa mesma Proposta.

Importante ressaltar que no início desteséculo, o ensino da arte vem se caracterizandocomo um ensino multi e interculturalista, muitodevido aos estudos sobre a diversidade e culturavisual surgidos nos últimos anos (BARBOSA,2002, 2008, 2011; DAL’MASO, 2011;HERNANDEZ, 2000), influenciando teórico emetodologicamente o ensino da arte, no quetoca à interpretação de imagens, importantespara os processos de ensino e aprendizagem emarte (BARBOSA, 2002; 2008).

Na esteira dessas reflexões, podemosafirmar que o debate educacional no ensino daarte nos dias atuais sobre a Proposta Triangularestá voltado para a questão da cultura visual, damultiplicidade de imagens presentes numasociedade cada vez mais tecnológica e imagética,à qual estamos inseridos e pertencemos,influenciando as práticas pedagógicas dosprofessores de Artes, que passam a ser sujeitosimportantes na mediação do processo deconstrução do conhecimento do alunorelacionado à arte sobre o mundo visual.

Considerações finais

O objetivo deste ensaio foi analisar osmétodos de leitura de imagem de importantesteóricos da arte/educação, como EdmundFeldman, Robert Ott, Michael Parsons e AbigailHousen, por entendermos serem os pioneirosem estudos sobre leitura de imagem no ensinoda arte contemporânea, buscando entender quaisimplicações trouxeram para a PropostaTriangular no ensino da arte, ocasionandomudanças teórico e metodológicas para esteensino nas escolas brasileiras, voltadas para otrabalho com a leitura de imagens pelo professorde Artes.

Desse modo, podemos afirmar que asconcepções desses autores acerca da leitura deimagem no ensino da arte são voltadas para aestética da leitura visual, apresentando orasimilaridades com os eixos norteadores daProposta Triangular, ora discrepâncias, mas,contudo, direcionados a um mesmo objetivo:contribuir para a construção do conhecimentoem arte.

Esses métodos de leitura e análise deimagens contribuíram para a mudança naspráticas pedagógicas do professor de Artes, aoenfatizar a interpretação das imagens e suassignificações, colocando-o como importantemediador no processo de ensino e aprendizagemdo aluno para o trabalho com imagens nas aulasde Artes.

De acordo com as reflexões construídasneste texto, é possível afirmar que essaspropostas, na verdade, tinham o objetivo deorientar os professores de Artes paratrabalharem com leitura de imagens em sala deaula, o que, de fato, se tornou mais significativano início do século 21, com o avanço de estudossobre a Cultura Visual, quando a PropostaTriangular passou a enfatizá-la cada vez mais naeducação escolar.

Referências

ARAÚJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Leitura deimagens e alfabetismo visual: revendo algunsconceitos. Revista Domínios da Imagem, v.5, n. 10, p. 89-96, 2012.

ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: umapsicologia da visão criadora. 16. ed. São Paulo:Pioneira Thomson Learning, 2005.

Page 7: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

76

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.

BARBOSA, A. M. A cultura visual antes dacultura visual. Educação. Porto Alegre, v. 34, n.3, p. 293-301, 2011.

______. A. M. Arte/Educaçãocontemporânea: consonâncias internacionais.São Paulo: Cortez, 2008.

______. Inquietações e mudanças no ensinoda arte. São Paulo: Cortez, 2002.

______. Arte-educação: conflitos/acertos. SãoPaulo: Max Limonad, 1988.

______. A imagem no ensino da arte. SãoPaulo: Perspectiva, 1991.

______.Tópicos/Utópicos. Belo Horizonte:C/Arte, 1998.

BARROS, A. M. Da pedagogia da imagem àspráticas do olhar: uma busca de caminhosanalíticos. 1997. 536f. Tese (Doutorado emEducação)-Universidade Federal do Rio deJaneiro, Rio de Janeiro, 1997.

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K.Investigação qualitativa em educação: umaintrodução à teoria e aos métodos. Tradução deMaria João Alvarez. Porto: Porto Editora, 1999.

CALADO, I. A utilização educativa dasimagens. Porto: Porto Editora, 1994.

DAL’MASO, E. M. Ensino da arte sob a óticade professoras e alunos do ensino médio.2011. 171f. Dissertação (Mestrado emEducação)-Universidade Federal de MatoGrosso, Cuiabá, 2011.

DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual.2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FELDMAN, E. B. Metodologia de trabalho.São Paulo: USP, 1993.

FERRAZ, M. H. C T. e FUSARI, M.. F. R. Artena educação escolar. 4. ed. São Paulo: Cortez,2010.

HERNANDEZ, F. Cultura visual, mudançaeducativa e projeto de trabalho. Porto Alegre:Artmed, 2000.

IAVELBERG, R. Para gostar de aprenderarte: sala de aula e formação de professores.Porto Alegre: Artmed, 2003.

KEHRWALD, I. P. Ler e escrever em artesvisuais. In: NEVES, I. C. B.; et al. (Orgs.). Ler eescrever: compromisso de todas as áreas. 7. ed.Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006, p.23-33.

KELLNER, D. Lendo criticamente: em direçãoa uma pedagogia pós-moderna. In: SILVA, T. T.(Org.). Alienígenas na sala de aula: umaintrodução aos estudos culturais em educação.Petrópolis: Vozes, 1995, p. 104-131.

LÉLIS, S. C. C. Poéticas visuais emconstrução: o fazer artístico e a educação (do)sensível no contexto escolar. 2004. 191f.Dissertação (Mestrado emEducação)-Universidade de Campinas,Campinas, 2004.

LUDKE, M.; ANDRE, M. Pesquisa emeducação: abordagens qualitativas. 13. ed. SãoPaulo: EPU, 2011.

OSINSKI, D. R. B. Arte, história e ensino:uma trajetória. São Paulo: Cortez, 2001.

OTT, R. W. Aprendendo a olhar: a educaçãoorientada pelo objeto em museus e escolas. SãoPaulo: MAC, 1989.

______. Ensinando crítica nos museus. In:BARBOSA, A. M. (Org.). Arte-Educação:leitura no subsolo. São Paulo: Cortez, 1997.

PARSONS, M. Mudando direções na artecontemporânea. São Paulo: SESC-SP, 1998.

______.Compreender a arte. Lisboa: Presença,1992.

RIZZI, M. C. S. Caminhos Metodológicos. In:BARBOSA, A. M. (Org.). Inquietações emudanças no ensino da arte. São Paulo:Cortez, 2002, p. 63-70.

SARDELICH, M. E. Leitura de imagens, culturavisual e prática educativa. Cadernos dePesquisa, v. 36, n. 128, p, 451-472, 2006.

Recebido em: 23/03/2013Aceito em: 21/05/2013

Page 8: Sobre métodos de leitura de imagem no ensino da arte contemporânea / About image reading methods in the art education contemporary

77

ARAUJO, G. C.; OLIVEIRA, A. A. Imagens da Educação, v. 3, n. 2, p. 70-76, 2013.