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Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação São Paulo - SP 05 a 09/09/2016 1 Copa do Mundo 2014: aspectos da cobertura impressa do jornal português Público sobre o Brasil 1 Manoela ALBUQUERQUE 2 Rafael da Silva Paes HENRIQUES 3 Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES Resumo Este artigo tem como objetivo apresentar aspectos encontrados na cobertura jornalística do diário português Público sobre o Brasil durante a realização da Copa do Mundo 2014. Para isso, a partir das pesquisas de três autores, foi feito um levantamento sobre a representação do Brasil e dos brasileiros por jornais portugueses nos últimos anos. Posteriormente, foram realizados dois tipos de análise: análise quantitativa, utilizando a teoria da análise de conteúdo, que permitiu a utilização de todo o material delimitado; e análise qualitativa, baseada na narrativa da derrota e no mito do herói. Palavras-chave Brasil; Copa do Mundo 2014; análise de conteúdo; mito do herói; jornal Público. Introdução Devido à ampla cobertura realizada pela mídia internacional sobre a Copa do Mundo 2014, ao alto nível de espetacularização desse evento e à ligação histórica e linguística entre Brasil e Portugal, escolhemos analisar aspectos da abordagem sobre o Brasil pelo jornal Público, considerado de referência no jornalismo português. Para iniciar este trabalho, foi necessário fazer um levantamento sobre a representação do Brasil, dos brasileiros e de imigrantes pela mídia impressa portuguesa nos últimos anos, no qual utilizamos o resultado das pesquisas de três autores. Nos períodos de pré-analise e análise quantitativa, usamos os conceitos da análise de conteúdo expostos por Laurance Bardin (2007). A análise quantitativa foi realizada por meio de uma análise categorial, na qual o conteúdo de 91 publicações foi dividido. Após o colhimento de dados, foram calculadas porcentagens e criados gráficos para a melhor visualização dos resultados encontrados. Por último, foi realizada uma análise qualitativa, 1 Trabalho apresentado na Divisão Temática de Jornalismo, da Intercom Júnior XII Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2 Bacharela em Comunicação Social Jornalismo, com título obtido em março de 2016, pela Ufes; email: [email protected] 3 Orientador do trabalho. Professor do curso de Jornalismo da Ufes; email: [email protected]

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Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – São Paulo - SP – 05 a 09/09/2016

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Copa do Mundo 2014: aspectos da cobertura impressa do jornal português Público

sobre o Brasil 1

Manoela ALBUQUERQUE2

Rafael da Silva Paes HENRIQUES3

Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES

Resumo

Este artigo tem como objetivo apresentar aspectos encontrados na cobertura jornalística do

diário português Público sobre o Brasil durante a realização da Copa do Mundo 2014. Para

isso, a partir das pesquisas de três autores, foi feito um levantamento sobre a representação

do Brasil e dos brasileiros por jornais portugueses nos últimos anos. Posteriormente, foram

realizados dois tipos de análise: análise quantitativa, utilizando a teoria da análise de

conteúdo, que permitiu a utilização de todo o material delimitado; e análise qualitativa,

baseada na narrativa da derrota e no mito do herói.

Palavras-chave

Brasil; Copa do Mundo 2014; análise de conteúdo; mito do herói; jornal Público.

Introdução

Devido à ampla cobertura realizada pela mídia internacional sobre a Copa do

Mundo 2014, ao alto nível de espetacularização desse evento e à ligação histórica e

linguística entre Brasil e Portugal, escolhemos analisar aspectos da abordagem sobre o

Brasil pelo jornal Público, considerado de referência no jornalismo português.

Para iniciar este trabalho, foi necessário fazer um levantamento sobre a

representação do Brasil, dos brasileiros e de imigrantes pela mídia impressa portuguesa nos

últimos anos, no qual utilizamos o resultado das pesquisas de três autores.

Nos períodos de pré-analise e análise quantitativa, usamos os conceitos da análise de

conteúdo expostos por Laurance Bardin (2007). A análise quantitativa foi realizada por

meio de uma análise categorial, na qual o conteúdo de 91 publicações foi dividido. Após o

colhimento de dados, foram calculadas porcentagens e criados gráficos para a melhor

visualização dos resultados encontrados. Por último, foi realizada uma análise qualitativa,

1 Trabalho apresentado na Divisão Temática de Jornalismo, da Intercom Júnior – XII Jornada de Iniciação Científica em

Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Bacharela em Comunicação Social – Jornalismo, com título obtido em março de 2016, pela Ufes; email:

[email protected]

3 Orientador do trabalho. Professor do curso de Jornalismo da Ufes; email: [email protected]

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baseada na narrativa da derrota e no mito do herói, apresentados por Helal (1998), levando

em consideração as personalidades mais citadas nas publicações.

Representações do Brasil, dos brasileiros e de imigrantes por jornais portugueses

A partir de uma análise de conteúdo de matérias publicadas pelo Público e pelo

Diário de Notícias sobre o Brasil, no período de setembro a dezembro de 2012 e no mês de

setembro de 2013, Viana (2014) chegou à conclusão de que a temática cultural foi abordada

em maior número em comparação a outras categorias. Segundo o autor, verificou-se que

22,59% das publicações tiveram uma representação a partir de uma imagem cultural do

país. Nessas matérias, eram ressaltadas as atrações, produções, atores e produtores

brasileiros e parcerias culturais com Portugal.

A “Política” foi a segunda categoria mais explorada pelos dois jornais diários,

totalizando 21,91% das publicações que fazem menção ao Brasil. A categoria “Casos

Pessoais” foi a terceira mais trabalhada pelos jornais, com um total de 18,48% das

publicações. Nesse sentido, o autor concluiu que a imagem do Brasil transmitida no período

analisado foi de um país de cultura, política e de personalidades midiáticas. Os casos

pessoais, segundo Viana (2014), tanto no que diz respeito a figuras políticas quanto a

artistas, também interessam aos portugueses.

O autor acredita que o Brasil esteja sendo representado como sendo um país de

maior sobriedade política, não apenas cultural, em comparação aos anos anteriores. Para

Viana (2014), o Brasil não foi representado de maneira negativa em relação à violência

urbana, corrupção, inoperância das instituições públicas e desigualdade social. A categoria

“Conflitos/Crime” totalizou 5,46% das publicações sobre o país, ocupando o lugar de sexta

mais trabalhada. Quanto à economia, Viana (2014) constatou que os jornais publicaram

grande número de reportagens em relação às possibilidades de negócios/investimentos no

Brasil. A categoria totalizou 16,42% do total de publicações analisadas. Nesse contexto, o

autor confirmou sua hipótese inicial, de que a economia seria um tema bastante abordado, e

concluiu que a imprensa portuguesa disseminou imagens do país como um lugar de

oportunidades para os portugueses, além de valorizar a importância do Brasil no cenário

econômico mundial.

Durante sua análise, Galante (2010, p. 28) pretendia compreender de que maneira a

mídia portuguesa representava os imigrantes e as minorias em suas publicações. No

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processo de escolha de categorias, concluiu-se que era importante incluir o esporte, mesmo

acreditando que este represente uma realidade à parte dos outros temas da sociedade. Nesse

sentido, a autora questionou se havia diferenciação no tratamento de imigrantes ligados ao

esporte.

O corpus de análise de Galante (2010) resultou em 176 matérias publicadas nos

diários Público e Diário de Notícias durante 168 dias, 84 dias em cada jornal. Para

responder a questão levantada sobre o esporte, Galante (2010) usou um método de análise

comparativa de dados relativos, utilizando matérias sobre esporte em comparação com as de

outras categorias. Na análise, foram consideradas variáveis que apresentam dados

representativos: “Seção”, “Gênero”, “Localização”, “Título e fotografia na 1ª página”,

“Estatuto” e “Comportamento associado”, das quais apresentaremos os resultados das

consideradas mais relevantes para este trabalho.

Foi constatado pela autora que os jornais concentram grande porcentagem de

notícias na editoria de esporte, em ambos, aproxima-se a 37%. A porcentagem restante se

dividia em seis categorias: “Atual”, “Artes”, “Destaque”, “Espaço Público”, “Grande

Reportagem”, “Local e Portugal”. Segundo Galante (2010), dentro do gênero jornalístico

“entrevista” o jornal Público acumula uma porcentagem de 60% sobre esporte, sobrando

40% para as outras categorias. O Diário de Notícias, por sua vez, apresentou o gênero

apenas na editoria de esporte. Com base nesses dados, a autora concluiu que os jornais

analisados produzem peças mais elaboradas sobre imigrantes quando o tema é esporte.

Quanto às matérias localizadas na 1ª página, a autora concluiu que o jornal Público

tem a porcentagem de 30% relacionada ao esporte, e o Diário de Notícias, 23,5%. A

porcentagem restante, nos dois casos, fica distribuída entre outras 12 categorias:

“Criminalidade”, “Clandestinidade”, “Economia”, “Política”, “Educação”, “Legalização”,

“Desemprego”, “Prostituição”, “Religião”, “Arte”, “Tráfico” e “Outros”. Sobre as

fotografias na 1ª página, Galante (2010) constatou que raramente os imigrantes e as

minorias étnicas têm espaço para fotografias nos jornais, mas nas vezes em que isso

acontece, são fotografias relacionadas ao esporte.

Após a obtenção dos dados expostos acima e outros, a autora avaliou ser pertinente

fazer uma análise a partir da categoria “Comportamento associado”, que diz respeito a

valores negativos, positivos e neutros. Em uma análise mais abrangente, Galante (2010)

averiguou que o comportamento negativo associado ao grupo de imigrantes e minorias

étnicas era predominante nos dois jornais. Em seguida, o Diário de Notícias apresentou

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mais notícias de comportamento neutro, e o Público, de comportamento positivo. No caso

do esporte, a situação praticamente é invertida. A autora mostra que o comportamento

positivo é percebido em 70,4% das notícias relacionadas à categoria, seguido de 65,2% de

comportamento neutro e apenas 7,8% de comportamento negativo. Nas publicações do

Público, foi constatado que 93% das notícias relacionadas ao esporte tinham

comportamento positivo, o que significa que a maioria das notícias sobre imigrantes

avaliadas como positivas são relacionadas ao esporte.

Para Galante (2010, p. 67-68) os resultados apresentados “[...] não deixam qualquer

dúvida de que há diferenças significativas no tratamento noticioso dado aos esportistas face

ao resto dos cidadãos objecto de investigação”. Segundo a autora, em um panorama geral, é

possível afirmar que os imigrantes e minorias étnicas, na maior parte dos casos, não são

representados na primeira página dos jornais ou em notícias de profundidade do tema e que

são associados a comportamentos negativos, exceto quando retratados no esporte. “Os

jornais, mesmo que ‘de referência’, revelam-se, assim, veículos e reprodutores dos

estereótipos dominantes”.

Maíra Ribeiro e Carla Cerqueira (2009) realizaram uma pesquisa sobre a

representação das imigrantes brasileiras por dois jornais regionais, o português Diário do

Minho e o italiano L’Adige. Segundo as autoras, a nacionalidade dos jornais foi escolhida

porque os dois países, Portugal e Itália, receberam grande fluxo imigratório. Sobre o gênero

feminino, Ribeiro e Cerqueira afirmam que se tornou evidente em uma investigação inicial

que existe grande assimetria de gênero no que diz respeito a essa representação.

Um exemplo disso é a categoria “Ocupação por Sexo”, que no Diário do Minho

demonstrou grande diferente entre homens e as mulheres. Em relação às brasileiras, 24,2%

delas foram identificadas como trabalhadoras sexuais, sendo que a ocupação de 39,4% não

foi identificada. Já os homens, tiveram apenas 1,1% de ocupações não identificadas, sem

contar que, nas identificadas, 98,8% eram relacionadas ao esporte. Nesse contexto, as

mulheres brasileiras foram representadas associadas a aspectos considerados negativos pela

sociedade, como prostituição, tráfico, etc. e com menor quantidade de informação sobre

elas. Os papeis socialmente valorizados ocupados por mulheres representam 18,2%.

Ribeiro e Cerqueira (2009) concluem que os esportistas, em maioria homens, têm

tratamento diferenciado em relação às outras ocupações. Eles recebem tratamento

individualizado e nominal, com estatuto de profissional ou especialista na área, além de

serem associados, majoritariamente, a comportamentos positivos. Os homens que possuem

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outras ocupações, por sua vez, têm uma representação menos favorecida. Apesar de eles

serem ainda tratados de maneira individualizada e nominal, são representados com baixo

estatuto e associados a comportamentos negativos. As autoras afirmam que as

representações dos imigrantes e das imigrantes brasileiras no regional Diário do Minho

seguem as tendências encontradas em outros estudos sobre a mesma temática. Ribeiro e

Cerqueira (2009, p.1921) acreditam que “[...] os estereótipos ‘jogadores de futebol’ e

‘prostitutas’ continuam a marcar a agenda mediática, seja ela local, nacional ou

internacional”.

Análise categorial

Para nortear esta etapa e a análise qualitativa que será apresentada a seguir,

utilizamos a teoria de análise de conteúdo, a partir dos métodos expostos por Laurence

Bardin (2007). Essa escolha se justifica porque, a partir desses métodos, foi possível fazer

uma análise abrangente do corpus da pesquisa. Depois fazermos a pré-coleta, que consistiu

em uma leitura superficial de textos, seguida de anotações informais, foi realizada a coleta

das publicações do Público. A priori, as páginas que continham informações pertinentes

foram fotocopiadas e organizadas por ordem cronológica. Em um segundo momento, foi

realizada uma leitura mais aprofundada dos textos, permitindo que se chagasse ao número

de 91 publicações sobre o Brasil e brasileiros relacionadas ao Mundial de 2014.

Para realizar a análise quantitativa dos dados, foi necessário categorizar as

publicações para que elas pudessem ser transformadas em porcentagens. Em um quadro, os

dados encontrados nas 91 publicações foram organizados da seguinte maneira: “Dia”;

“Gênero”; “Tema”; “Editoria”; “Imagens”; “Assinaturas”; e “Personalidades”. Com o

objetivo de encontrar porcentagens a partir das categorias estabelecidas, foram realizadas

contagens das variáveis de cada categoria. No caso de “Gênero” e “Tema”, as variáveis

foram previamente estabelecidas e todas foram mantidas. As variáveis de “Editoria” foram

reproduzidas tal como classificou o jornal. Os gêneros jornalísticos utilizados foram:

“Artigo de Opinião”; “Crônica”; “Entrevista”; “Comentário”; e “Reportagem”. Já os temas,

foram: “Crimes/Conflitos”; “Cultura”; “Esporte”; “Mobilidade”; “Obras”;

“Política/Geopolítica”; “Sociedade”; e “Turismo”.

As publicações do Público sobre o Brasil na Copa de 2014 ficaram divididas,

majoritariamente, entre as editorias “Desporto” (48,35%) e “Destaque” (45,05%).

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Eventualmente, publicações que fazem parte do corpus apareceram em outras editorias,

como “Cultura” e “Opinião”, o que representa 6,69% do total de publicações. Geralmente,

as publicações na editoria “Destaque” aparecem nas primeiras páginas do jornal e as de

“Desporto”, nas últimas. Isso significa que grande parte das publicações que envolvem o

Brasil ou brasileiros na Copa de 2014 recebeu destaque do jornal, aparecendo nas primeiras

páginas. O que representa, em números, 45,05% das publicações ou 41 textos em destaque.

Além disso, veremos a seguir que a editoria não determinou o tema das publicações. Isto é,

estar na editoria “Desporto” não significa que os assuntos retratados sejam exclusivamente

esportivos, bem como estar em “Destaque” não significa não ter como tema principal o

esporte. Dessa maneira, conclui-se que diversos assuntos que envolviam o Brasil durante a

realização do megaevento poderiam interessar aos portugueses.

Como já foi mencionado, apesar de as publicações terem ficado dividias entre duas

editorias, os temas abordados foram diversos. Previsivelmente, o tema mais frequente foi

“Esporte” (56,04%), seguido de “Sociedade” (27%). Já os temas “Crimes/Conflitos”

(4,39%), “Cultura” (2,19%), “Mobilidade” (1,19%), “Obras” (2,19%),

“Política/Geopolítica” (5,49%) e “Turismo” (2,19%) tiveram porcentagens individualmente

pouco expressivas. Apesar disso, é possível afirmar que o Público abordou diversos

assuntos sobre o Brasil e a sociedade brasileira, já que 44% das publicações trataram de

temas para além do esporte.

Gráfico 1 – Publicações por tema

Fonte: elaborado pela autora

Esporte56%

Sociedade26%

Política /Geopolítica

6%

Crimes /Conflitos5%

Obras2%

Turismo2%

Cultura2%

Mobilidade1%

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Na editoria Desporto, os temas aparecem com as seguintes porcentagens: “Esporte”

(59,09%); “Sociedade” (31,81%); “Crimes/Conflitos” (4,54%); “Política/Geopolítica”

(2,27%); “Mobilidade” (2,27%); e os temas “Cultura e Turismo” não foram abordados. Já

na editoria Destaque, os temas ficaram distribuídos da seguinte maneira: “Esporte”

(56,09%); “Sociedade” (21,95%); “Crimes/Conflitos” (4,87%); “Política/Geopolítica”

(7,31%); “Turismo” (4,87%%); e os temas “Cultura e Mobilidade” não aparecem.

Gráfico 2 – Comparativo de editorias por temas

Fonte: elaborado pela autora

A análise a partir das personalidades tornou-se importante devido à possibilidade de

se identificar um hibridismo temático das publicações, isto é, quando uma personalidade

política é mencionada em uma publicação sobre esporte ou vice-versa, como veremos a

seguir.

Entre as publicações de “Esporte” (56%), foram encontradas personalidades

políticas em 10%. As personalidades citadas nessas publicações foram a presidente Dilma

Rousseff ou Dilma, com cinco menções, e o ex-presidente Lula, com duas menções.

Foram encontradas menções a personalidades políticas em 21% das publicações de

Sociedade (26%), o que representa, em comparação à totalidade do corpus, 5,41% de

publicações sobre sociedade que mencionam personalidades políticas. No caso do tema

Sociedade, a presidente Dilma (quatro menções) novamente foi a mais citada.

Em “Sociedade”, foram encontradas menções a personalidades esportivas

(jogadores, técnicos, árbitros, etc.) em 33%, das publicações, o que representa 8,79% do

total de publicações. As personalidades esportivas que foram mencionadas nas publicações

59,09%

31,81%

4,54% 2,27% 2,27%

56,09%

21,95%

4,87% 7,31% 4,87%

50%

16,66%

33,33%

Desporto Destaque Outras

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de Sociedade foram: Luiz Felipe Scolari, Neymar, Thomas Müller, Cristiano Ronaldo,

Joachim Löw, Zico, Miroslav Klose, Khedira, Pelé, Tostão e Garrincha.

Entre as seis personalidades mais mencionadas, considerando todas as publicações

analisadas, cinco são do esporte. Luiz Felipe Scolari foi quem mais apareceu nas

publicações, com 30 menções; seguido de Neymar, com 25 menções; e Dilma Rousseff,

com 17 menções.

Narrativa da derrota e o mito do herói

O pesquisador Ronaldo Helal (1998) escreveu o artigo “Mídia, Construção da

Derrota e o Mito do Heró”i, no qual abordou questões sobre narrativas de construção de

conquistas e derrotas, e sobre a representação social dos ídolos modernos, utilizando como

estudo de caso a atuação de Ronaldinho (o fenômeno) na Copa de 1998.

[...] a dramatização de um fato é, frequentemente, mais importante do que o fato em

si na compreensão dos princípios que norteiam o imaginário coletivo [...] um olhar

cuidadoso sobre o material jornalístico impresso nos ajuda a entender os recursos

acionados pela mídia na construção da trajetória mítica do herói na modernidade

(HELAL, 1998, p.1).

Helal (1998, p.2-3) menciona o popular, o massificado ou o espetacular, o público

passivo e os atores ativos como figuras presentes dentro da cultura da modernidade. “[...]

ao mesmo tempo em que fazem parte de dimensões sócio-existenciais diferenciadas,

coexistem dentro de um universo integrado onde uma parte não faz sentido sem a outra”.

Segundo o autor, o megaevento da Copa do Mundo é um momento de reflexão quanto ao

significado do futebol para o Brasil. Ele explica que em 1998 havia a particularidade de a

seleção brasileira ter a possibilidade da conquista do pentacampeonato antes da virada do

século, o que supostamente consagraria o Brasil como o país do melhor futebol do mundo.

No caso da Copa de 2014, podemos dizer que o desafio do Brasil era conquistar uma vitória

em casa, o que não ocorreu em 1950.

No entanto, em 98, o Brasil foi derrotado pela França. Segundo Helal (1998, p.4),

havia especulações de que o jogo havia sido “vendido”. Sendo assim, “[...] os brasileiros

foram, pouco a pouco, construindo as razões para a derrota e terminaram por eleger um

vilão: a mercantilização do futebol”.

Em relação aos ídolos, o autor diz que estes são fundamentais para a sustentação dos

eventos de massa. Helal (1998, p. 6) faz uma comparação entre ídolos do esporte e os ídolos

de outros universos. Os últimos seriam ídolos reconhecidos por seu talento próprio; já os

primeiros, são aqueles têm o sucesso condicionado ao desempenho do seu oponente. Sendo

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assim, o autor afirma que as competições esportivas acontecem dentro do próprio universo

do espetáculo.

Esta característica “ídolo-herói” acaba por transformar o universo do futebol em um

terreno extremamente fértil para a produção de mitos e ritos relevantes para a

comunidade. Dotados de talento e carisma, o que os singulariza e os diferencia dos

demais, estes ‘heróis’ são paradigmas dos anseios sociais e através das narrativas de

suas trajetórias de vida, uma cultura se expressa e se revela (HELAL; MURAD

apud HELAL, 1998, p.7).

Durante a Copa de 98, o autor considerou que os brasileiros apostaram as esperanças

em suas figuras principais: Romário e Ronaldinho. Helal conta que, com a saída de

Romário da competição, as atenções voltaram-se para Ronaldo, o que o tornou o foco do

noticiário esportivo durante o megaevento, incluindo diversas especulações sobre a sua

carreira e vida pessoal. A construção da figura do Ronaldinho herói, segundo Helal (1998),

sustentou-se a partir de características como o talento, a humildade, a ambição, a juventude,

a riqueza precoce, etc., atreladas ao sucesso como atleta.

Podemos afirmar que o técnico Luiz Felipe Scolari e o jogador Neymar foram as

personalidades esportivas mais mencionadas nas publicações analisadas. Por isso, tornou-se

importante investigar as narrativas criadas pelo Público protagonizadas por essas figuras.

Com base na análise de Helal (1998), vamos utilizar fragmentos de publicações, em ordem

cronológica – de maneira que se possa acompanhar as expectativas em torno da competição

até o seu fim – para descobrir se as principais personalidades brasileiras da Copa 2014 para

o jornal se encaixam ou não naquilo que o autor concluiu.

“O guião de Dilma e Blatter falhou. Agora é tempo de Scolari” (SOUSA, 2014,

p.11) é o título de uma publicação do dia 12 de junho incluída no gênero “Comentário”, na

qual o autor fala sobre as intenções da realização da Copa do Mundo no Brasil, do ponto de

vista político e econômico. No próprio título, ele cita Dilma, presidente do país; Blatter,

presidente da FIFA; e Scolari, técnico da seleção brasileira, o que sintetiza todo o texto. Na

publicação há a afirmação de que a projeção política e econômica não vai acontecer,

portanto, as esperanças deveriam ser depositadas no dirigente da seleção brasileira. E, mais

do que isso, a responsabilidade do sucesso na Copa foi atribuída a ele.

No mesmo dia, foi publicado um artigo de opinião com o seguinte título: “O avião

de Scolari vai levantar voo e se não chegar ao ‘hexa’ vai ter que explicar porquê”. A linha

fina diz: “A selecção do Brasil, recordista de títulos e a jogar em casa para acabar com

trauma de 1950, é mais favorita do que nunca, apesar de os craques não abundarem”. Mais

uma vez, o técnico recebe a responsabilidade.

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No dia 13 de junho, após o 3 a 1 do Brasil contra a Croácia, a publicação da página

2 e editoria “Destaque” tem o seguinte título, em letras grandes em negrito: “Neymar e

árbitro empurram o Brasil para a Vitória na estreia” (CURADO, 2014, p. 2). Na linha fina,

é dito que a equipe de Scolari, com exceção de Neymar, ainda não convenceu. Em um

quadro, o jogador é descrito como protagonista de uma polêmica indevida, um dos

principais candidatos ao título de melhor jogador, jogador que mais brilhou na Copa das

Confederações e um grande talento.

“Todos querem ser Neymar” (PÚBLICO, 2014, p. 49) é o título de uma crônica

com o tema “Sociedade”, publicada na editoria “Desporto”, no dia 18 de junho. Essa

publicação explicita a ideia de herói construída socialmente, embora não atribua

características ao jogador, e sim às pessoas que o idolatram e vestem a sua camisa como

uma fantasia de super-herói.

É um sonho dos sete aos 77. No Brasil, todos querem ser a estrela maior que há-de

envergar a camisola da “canarinha”. Parece que nasceram com as bolas nos pés e

que os gritos da “torcida” serviram de canção de embalar. Seja Mundial ou não, a

camisola da seleção é indumentária obrigatória. Assistir ao vivo aos jogos do

Mundial é um sonho distante, só à disposição daqueles que podem pagar por um

bilhete para entrar nas luxuosas arenas milionárias. Também não passa de um sonho

chegar a representar a seleção. Mas esse vai-se disfarçando. Basta uma “camiseta” e

nem tem de ser oficial. O melhor mesmo é que com a camisola da “canarinha”,

todos se sentem Neymar. Dos sete aos 77. Da criança ao vendedor de cerveja.

(PÚBLICO, 2014, p. 49)

Figura 1 – Título e fotos da publicação

Fonte: Público (2014, p. 49)

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Já no dia 24 de junho, o Público apresentou Neymar como a solução para a

insegurança do Brasil, no título de uma publicação: “Quando o Brasil tremeu, Neymar

resolveu o problema a Scolari” (ANDRADE, 2014, p. 6), referindo-se ao jogo contra a

seleção de Camarões. No entanto, Neymar fez os dois primeiros gols, e Fred e Fernandinho

outros dois. No corpo do texto, há uma narrativa do segundo gol de Neymar no jogo:

O Brasil voltava a denotar fraqueza, Scolari abria os braços, mas [...] quando os

brasileiros necessitam, há Neymar: aos 35’, o avançado pegou na bola, deixou um

adversário para trás e, à entrada da área, rematou para o fundo da baliza. O quarto

golo de Neymar na competição terminava com atrevimento africano (ANDRADE,

2014, p. 6).

Na mesma publicação, o atacante Fred é apresentado como vilão, mesmo após

marcar um gol:

Com tudo a zero entre mexicanos e croatas no intervalo, o Brasil não precisava se

preocupar com a diferença de golos, mas no início da segunda parte surgiu um dos

momentos mais desejados por Scolari. Depois de ameaçar aos 47’, o mal-amado

Fred (em fora-de-jogo) fez de cabeça o 3-1 (ANDRADE, 2014, p. 6).

Na publicação de título “E se o Brasil não for assim tão favorito?” (RIBEIRO, 2014,

p. 42), a fragilidade de Neymar vem à tona: “A imagem de Neymar agarrado em lágrimas a

Scolari correu o planeta, deixando perceber a fragilidade emocional que existe entre alguns

elementos da selecção brasileira”. Mais do que a fragilidade de alguns elementos, foi

constatada a fragilidade do elemento principal da seleção, e Fred é citado novamente de

maneira negativa: “Fred tem estado quase sempre ausente nos processos ofensivos e torna-

se gritante a dependência em relação a Neymar, que fez metade dos golos do Brasil”.

Em 5 de julho, dia seguinte à vitória do Brasil sobre a Colômbia por 2 a 1, foi

publicado um artigo com o título: “Para o Brasil o melhor ataque veio da defesa” (VAZA,

2014, p. 44). No primeiro parágrafo, Neymar é retratado como artista, enquanto os outros,

como guerreiros. “Ninguém esperava o ‘jogo bonito’ deste Brasil de Scolari, mais luta e

menos arte, com dez guerreiros e um artista (Neymar)”. Nesse caso os outros jogadores são

reconhecidos pela garra, mas ao mesmo tempo, mesmo com um bom resultado, ainda

perdem o brilho para o artista Neymar.

Neymar também sofreu uma polêmica lesão no jogo contra a Colômbia, causada

pelo jogador Juan Juñiga, e as especulações ficaram em torno das intenções do adversário e

da recuperação do atacante brasileiro para que ele pudesse seguir no campeonato. No dia 6

de julho, na editoria de “Desporto”, o título de uma publicação foi: “’E agora?, questionam-

se os brasileiros após a perda de Neymar” (CURADO, 2014, p. 49), depois da notícia de

que o jogador provavelmente não poderia voltar a jogar na Copa 2014. No primeiro

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parágrafo, Zuñiga é mencionado com sendo o inimigo número um dos brasileiros. Sobre

ele, foi dito o seguinte:

Responsabilizado pelo drama de Neymar, Juan Zuñiga, que tem sido vítima de

ameaças de morte e insultos racistas nas redes sociais, lastimou a lesão de seu

colega brasileiro, mas rejeitou ter tido intencionalidade ou maldade no lance

(CURADO, 2014, p. 49).

No dia seguinte, em 7 de julho, uma publicação veio com o título: “Brasil menos

pressionado pode beneficiar de efeito Neymar” (CURADO, 2014, p. 36). No primeiro

parágrafo, a responsabilidade recai sobre o treinador: “Neymar já não está com a seleção

brasileira e é tempo do treinador Luiz Felipe Scolari ensaiar o plano B para enfrentar a

Alemanha, nas meias-finais do Mundial, esta terça-feira, em Belo Horizonte”. No decorrer

do texto, aparece o seguinte trecho: “A lesão de Neymar, pela forma dramática como

ocorreu, com o jogador a chorar de dor no revaldo do Castelão, em Fortaleza, acabou por

retirar ao conjunto de Scolari sua principal estrela”. Neymar é novamente apresentado como

a estrela da seleção e o técnico Luiz Felipe Scolari como o responsável pelo grupo

desfalcado.

Em momento de desolamento dos brasileiros, Fred é apontado novamente como

vilão, no dia 8 de julho, o título de uma das publicações é: “Scolari precisa dele como nunca

mas Fred tarda a encontrar-se” (TULHA, 2014, p. 36). Na linha fina, a complementação da

ideia: “O avançado do Fluminense é, para já, o segundo pior ponta-de-lança titular do Brasil

em mundiais”. Já o primeiro parágrafo, volta-se novamente para a lesão de Neymar:

Os rumores de que, graças a uma injecção milagrosa, Neymar poderia recuperar a

tempo de jogar a final do Mundial de 2014, no Maracanã, chegaram a fazer milhões

de brasileiros acreditar num milagre, mas o cenário saiu de cena tão depressa quanto

entrou (TULHA, p. 36).

“O Brasil não estava preparado para uma Alemanha tão perfeita” (VAZA, 2014, p.

36) foi o título de uma publicação do dia 9 de julho, dia seguinte à vitória da Alemanha

sobre o Brasil por 7 a 1. Na linha fina, a seguinte frase: “Germânicos são os primeiros

finalistas do Mundial, depois de trucidarem a equipa de Luiz Felipe Scolari com uma

goleada histórica”.

Ao longo do texto, foi feita uma comparação com a Copa de 2002, quando Brasil e

Alemanha se enfrentaram.

Só que esse Brasil tinha os “R”, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho, e este nem sequer

tinha Neymar, afastado do jogo por uma joelhada nas costas. Se a presença de

Neymar, e de Thiago Silva (castigado) teriam feito a diferença? Quando uma equipa

perde por sete, a resposta tem de ser não (VAZA, 2014, p. 36).

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Pouco depois, busca-se apontar os culpados pela derrota do Brasil, bem como se fez

na Copa de 1950, quando o Brasil também foi sede do megaevento:

Se, em 1950, havia um culpado, o guarda-redes Barbosa que sofreu o golo uruguaio,

em 2014 haverá vários. Se calhar, o primeiro será Zuñiga, o colombiano que atirou

Neymar para fora da Copa. Mas muitos se seguirão, a começar pelo próprio Scolari

e suas opções, mas também por todos que estiveram em campo: Fred, o avançado

que não marca golos, Fernandinho, o médio que dá bolas ao adversário, David Luiz

e Dante, os centrais que não protegem o guarda-redes Júlio César (VAZA, 2014,

p.36).

Desde o começo do campeonato, foi atribuída ao técnico Luiz Felipe Scolari a

responsabilidade pelo sucesso da seleção brasileira, independentemente da qualidade dos

adversários enfrentados. Após a derrota do Brasil por 7 a 1, Neymar ficou isento dessa

responsabilidade, primeiro porque não pôde participar do jogo, depois porque sua atuação

sempre foi reverenciada ao longo do campeonato. Mesmo sem seu principal jogador, não

houve abono da culpa de Scolari e ficou concluído que a seleção brasileira não teve bom

desempenho. Mesmo com os vilões Fred e Zuñiga, o responsável pelo fracasso foi o

técnico. Com o resultado da Copa de 2014, todos da seleção, principalmente Scolari,

queriam ser o herói que se machucou na batalha e, sem culpa nenhuma, foi impedido de

voltar para salvar os companheiros da derrota. Nesse contexto, surge a hipótese de quem

seria o responsável pelo sucesso, se o resultado fosse positivo: Neymar.

Considerações finais

Foi perceptível, desde o primeiro contato com as publicações, no período de pré-

análise, que o jornal havia dado destaque ao país durante a realização do megaevento da

Copa 2014, porque grande parte das publicações apareceu nas primeiras páginas do jornal.

Além disso, posteriormente, descobrimos que 48,05% das publicações ficaram na editoria

“Destaque”. Outro fato que pode indicar o destaque dado pelo jornal foi a utilização de

fotos ou ilustrações em 73,62% das publicações, sendo que 40,3% estão em publicações de

temas diferentes do esporte. Esse destaque direcionado ao megaevento esportivo não foi

surpreendente, uma vez que nas pesquisas apresentadas no capítulo 3 já indicavam que o

esporte relacionado ao Brasil, especialmente o futebol, já tinha espaço no jornal. Para

recordar, Galante (2010) constatou que os imigrantes recebiam destaque no jornal quando

estavam relacionados ao esporte e, quando isso acontecia, eles eram representados

majoritariamente de maneira positiva.

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Por outro lado, outros temas além do esporte tiveram uma porcentagem expressiva e

o tema “Sociedade” foi o segundo mais recorrente, com 27% de publicações. Fazendo uma

comparação com a análise realizada por Viana (2014), podemos afirmar que os temas

“Cultura” (2,19%) e “Política” (5,49%) tiveram aparecimento menos expressivo durante a

realização do megaevento. Por outro lado, a partir das menções a personalidades, foi

possível constatar que houve hibridismo temático nas publicações. Notou-se, também, que

as editorias “Deporto” e “Destaque” abrangeram temas diversificados.

Após a obtenção dos nomes Scolari e Neymar como personalidades mais

mencionadas nas publicações do corpus, percebeu-se que havia sido construída uma

narrativa específica em que as duas figuras apareciam como protagonistas. Dessa maneira,

foram encontrados trechos que exemplificavam uma narrativa espetacularizada, envolvendo

os jogadores e o técnico da seleção brasileira. Nesse sentido, podemos afirmar que a

narrativa da derrota e o mito do herói são recorrentes em espetáculos esportivos, como

Helal (2008) identificou no caso de Ronaldinho em 1998, e que ela foi utilizada pelo

Público, durante a cobertura da Copa 2014, com a figura de Neymar.

Referências

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Porto, p.6, 24 jun. 2014.

CERQUEIRA, Carla; RIBEIRO, Maíra. As imigrantes brasileiras no jornalismo impresso

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Acesso em: 2 jul. 2015.

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______. Brasil menos pressionado pode beneficiar efeito Neymar. Público, Porto, p.36, 7 jul. 2014.

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2014.

GALANTE, Susana M. M. As representações dos imigrantes e minorias étnicas no jornalismo

português: análise comparativa entre o Diário de Notícias e o Público, 2010. Dissertação.

Universidade da Beira Interior, Covilhã. Disponível

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Acesso em: 2 jul. 2015

HELAL, Ronaldo . Mídia, Construção da Derrota e O Mito do Herói. Motus Corporis (UGF),

Universidade Gama Filho, Rio d, v. 5, n. 2, p. 141-155, 1998.

Público, Porto, 25, n. 8826. p. 14, 12 jun. 2014.

______, Porto, 25, n. 8827. p. 12, 13 jun. 2014.

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RIBEIRO, João Ruela. E se o Brasil não for assim tão favorito?. Público, Porto, p.42, 4 jul. 2014.

SOUSA, Hugo Daniel. O guião de Dilma e Blatter falou. Agora é tempo de Scolari. Público, Porto,

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TODOS querem ser Neymar. Público, Porto, p. 49, 18 jun. 2014.

TULHA, Ana. Scolari precisa dele como nunca mas Fred tarda a encontrar-se. Público, Porto, p.36,

8 jul. 2014.

VAZA, Marco. O Brasil não estava preparado para uma Alemanha tão perfeita. Público, Porto,

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VIANA, B.. A imagem do Brasil na mídia impressa portuguesa: Um estudo do caso Diário de

Notícias e Público.Ciberlegenda, 0, ago. 2014. Disponível em:

<http://www.uff.br/ciberlegenda/ojs/index.php/revista/article/view/696/366>. Acesso em: 3 Jul.

2015.