Sociedade Civil e Democratização Da Informação No Contexto Brasileirotransformações, Desafios

18
CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTÃO E PROFISSIONALIZAÇÃO EM ÂMBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES DESAFIOS DE NOSSO TEMPO 1 EIXO TEMÁTICO: 4 – GOVERNANÇA E PARTICIPAÇÃO SOCIAL SOCIEDADE CIVIL E DEMOCRATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO:TRANSFORMAÇÕES, DESAFIOS E ARMADILHAS NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO ATRAVÉS DE NOVAS MÍDIAS DIGITAIS Bernardo Reis Bastos 1 Paula Pessoa de Castro 2 Armindo dos Santos de Sousa Teodósio 3 RESUMO Este trabalho discute em que medida o ambiente virtual tem se constituído em um instrumento da sociedade civil para ampliação da participação popular no contexto brasileiro, por meio da democratização da informação e inclusão digital. Para isso, reflete-se sobre a reconfiguração dos vários atores sociais e suas interações ante as múltiplas transformações na dinâmica da sociedade moderna. Neste contexto, a democratização e a universalização do acesso à informação podem ser compreendidas como soluções para o fortalecimento da sociedade civil, mas enfrentam importantes dilemas. As novas mídias sociais tornam-se cada vez mais incorporados como recursos para a difusão de informações públicas e mobilização social. Porém, as ambiguidades no uso da internet podem limitá-la como ferramenta para inserção dos cidadãos nos espaços digitais. Múltiplos são os entraves sociais, econômicos, políticos, legais e administrativos para a democratização e o acesso do cidadão às informações básicas para a cidadania. Analisa-se, então, a experiência de quatro organizações da sociedade civil pela busca da 1 Pós-Graduada em Gestão em Responsabilidade Social, IEC/PUC Minas Bacharel em Administração, PUC Minas Analista da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos 2 Mestre em Administração, PUC Minas Pós-Graduada em Gestão em Responsabilidade Social, IEC/PUC Minas Bacharel em Comunicação Social – habilitação Jornalismo, UFMG Diretora da Mínimo 2 Comunicação Desenvolvimento e Gestão 3 Doutor em Administração de Empresas, EAESP –FGV Mestre em Ciências Sociais, PUC Minas Bacharel em Ciências Econômicas, UFMG Professor da PUC Minas

Transcript of Sociedade Civil e Democratização Da Informação No Contexto Brasileirotransformações, Desafios

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    1

    EIXO TEMTICO: 4 GOVERNANA E PARTICIPAO SOCIAL

    SOCIEDADE CIVIL E DEMOCRATIZAO DA INFORMAO NO C ONTEXTO

    BRASILEIRO:TRANSFORMAES, DESAFIOS E ARMADILHAS NA

    CONSTRUO DO ESPAO PBLICO ATRAVS DE NOVAS MDIA S DIGITAIS

    Bernardo Reis Bastos1 Paula Pessoa de Castro2

    Armindo dos Santos de Sousa Teodsio3

    RESUMO

    Este trabalho discute em que medida o ambiente virtual tem se constitudo

    em um instrumento da sociedade civil para ampliao da participao popular no

    contexto brasileiro, por meio da democratizao da informao e incluso digital. Para

    isso, reflete-se sobre a reconfigurao dos vrios atores sociais e suas interaes ante as

    mltiplas transformaes na dinmica da sociedade moderna. Neste contexto, a

    democratizao e a universalizao do acesso informao podem ser compreendidas

    como solues para o fortalecimento da sociedade civil, mas enfrentam importantes

    dilemas. As novas mdias sociais tornam-se cada vez mais incorporados como recursos

    para a difuso de informaes pblicas e mobilizao social. Porm, as ambiguidades no

    uso da internet podem limit-la como ferramenta para insero dos cidados nos espaos

    digitais. Mltiplos so os entraves sociais, econmicos, polticos, legais e administrativos

    para a democratizao e o acesso do cidado s informaes bsicas para a cidadania.

    Analisa-se, ento, a experincia de quatro organizaes da sociedade civil pela busca da

    1 Ps-Graduada em Gesto em Responsabilidade Social, IEC/PUC Minas Bacharel em Administrao, PUC

    Minas Analista da Empresa Brasileira de Correios e Telgrafos

    2 Mestre em Administrao, PUC Minas Ps-Graduada em Gesto em Responsabilidade Social, IEC/PUC Minas Bacharel em Comunicao Social habilitao Jornalismo, UFMG Diretora da Mnimo 2 Comunicao Desenvolvimento e Gesto

    3 Doutor em Administrao de Empresas, EAESP FGV Mestre em Cincias Sociais, PUC Minas Bacharel em Cincias Econmicas, UFMG Professor da PUC Minas

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    2

    ampliao da participao cidad atravs das novas mdias, a saber, ABONG, FASE,

    IBASE e CDI, apontando as semelhanas e dessemelhanas a respeito de sua funo

    social e valores defendidos, bem como a relevncia e alcance de sua ao para a

    ampliao e fortalecimento da esfera pblica no Brasil.

    PALAVRAS-CHAVE : Espao Pblico, Sociedade Civil, Novas Mdias, Democratizao

    da Informao.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    3

    1 INTRODUO

    As transformaes na sociedade moderna so diversas e abrangem todos

    os aspectos da vida atual: a poltica, a economia, a cultura, as inovaes tecnolgicas.

    De modo a acompanhar estas alteraes, os vrios atores sociais tambm esto

    continuamente se reconfigurando. H uma crescente demanda, por parte dos cidados,

    para que o Estado atenda adequadamente os interesses sociais. Como se no bastasse,

    a prpria sociedade civil est continuamente mudando. Ela vem se transmutando em

    uma sociedade em redes, com novas estruturas que vo alm das associaes formais,

    na qual a informao um dos principais meios para se alcanar o pleno gozo dos

    direitos, a garantia de uma cidadania, da prestao de contas dos rgos de governo,

    promovendo a transparncia dos atos de autoridades. Logo, surgem uma infinidade de

    organizaes no governamentais - ONGs, dispostas ao enfrentamento dos problemas

    sociais, que se dedicam tambm, como objetivo fundamental ou articulado, promoo

    de incluso social e digital, e democratizao da informao.

    Para tentar compreender em que medida o ambiente virtual tem se

    constitudo em um instrumento da sociedade civil para ampliao da participao popular

    no contexto brasileiro, por meio da democratizao da informao e incluso digital, o

    primeiro captulo abordar os conceitos e origens de termos dicotmicos como espao

    pblico e espao privado e as suas manifestaes nas interaes entre o Estado

    democrtico e a Sociedade Civil. No segundo captulo ser abordada a relao entre as

    sociedades em rede, a universalizao do acesso informao e a democratizao. O

    terceiro captulo debater sobre a informao como direito cidado e sua capacidade de

    se tornar um instrumento de participao e controle social. E, por fim, o quarto e ltimo

    captulo apresentar uma anlise feita a partir das informaes disponibilizadas nos sites

    institucionais de quatro ONGs brasileiras, a saber, ABONG, FASE, IBASE e CDI, cujos

    objetivos incluem a busca da ampliao da participao cidad atravs das novas mdias,

    para ento refletir e levantar questes sobre a capacidade do ambiente virtual favorecer a

    participao e consequentemente fortalecer a posio da sociedade civil na democracia

    brasileira.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    4

    2 AS NOES DE PBLICO E PRIVADO NAS INTERAES ENTRE O

    ESTADO DEMOCRTICO E A SOCIEDADE CIVIL

    Os conceitos dos termos pblico e privado so indissociveis, ainda que

    complexos, variveis, dicotmicos, ambguos e complementares (Grau, 1998; Bobbio,

    1982). No h como analisar o valor da privacidade sem a considerao dos interesses

    coletivos; nem se pode esvaziar o valor do Privado sem interferir no Pblico, j que

    ambos se mesclam, de tal maneira, que no fcil sua distino. Assim, a noo da

    relao Pblico/Privado, composta por termos de conotao complementar e

    contraditria, manifesta-se em perspectivas dicotmicas.

    A primeira perspectiva considera de maneira simplista a distino da coisa

    pblica como aquela no-privada e da coisa privada como aquela no-pblica. Uma

    segunda perspectiva destaca a relao dicotmica entre a sociedade dos desiguais e a

    sociedade dos iguais, referindo-se formao da sociedade na civilizao grega (Cruz,

    2005; Bobbio, 2000; Grau, 1998). Neste universo, a esfera pblica compreende uma

    relao horizontal, a arena na qual ocorre o exerccio da democracia, ou melhor, na qual

    o cidado pode ser ouvido, em que suas ideias podem ser expostas. Dentro da esfera

    pblica no h hierarquia, no existe uma relao de autoridade, todos so iguais e suas

    opinies tm o mesmo valor, devendo ser respeitadas. De modo oposto, a esfera privada

    compreende uma relao vertical, na medida em que se baseia na supremacia dos

    cidados (senhores) sobre os no-cidados (comerciantes, mulheres e escravos).

    O desenvolvimento da era moderna introduziu o Estado e a sociedade civil

    no contexto das relaes polticas, sociais e econmicas. A esfera pblica passa a ser

    confundida com o Estado, ocorrendo uma circunscrio da coisa pblica como de

    propriedade do Estado. Sendo assim, o exerccio do poder se d atravs de normas

    impositivas e coercitivas, caracterizando-se assim como uma relao de desiguais. Em

    sentido contrrio, as relaes de iguais so entendidas como a esfera privada: o conjunto

    de atores sociais e econmicos, compreendidos pela sociedade de mercado (Cruz, 2005;

    Grau, 1998). no surgimento do Estado moderno e Mercado/Sociedade que a coisa

    pblica concebida como objeto poltico e o privado (social e econmico) como no

    poltico.

    Uma terceira perspectiva mostra o Estado moderno como um instrumento

    instaurador e garantidor de interesses privados, ou seja, o aparelho estatal totalmente

    compatvel com o capitalismo e o direito de propriedade. A lgica do Estado , portanto,

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    5

    nessa perspectiva, a lgica do capital, do modelo capitalista de produo. E sendo assim,

    a fim de reduzir os conflitos com os setores excludos da sociedade, o Estado incorpora a

    lgica democrtica um conjunto de instrumentos democrticos de ampliao da

    cidadania e dos direitos trabalhistas (Montao, 1999). a democracia, pois, o sistema

    capaz de legitimar o Estado, conferindo aos indivduos a cidadania e a igualdade poltica.

    A sociedade civil tradicionalmente diferenciada das dimenses das

    esferas econmicas e estatais, constituda por uma dimenso do mundo da vida

    assegurada institucionalmente de direitos (Avritzer, 1994, p.125), sendo precondio

    cultural para o surgimento de identidades coletivas racionais e solidrias capazes de

    desenvolver a capacidade e a responsabilidade de interpretar e atribuir significado

    (Avritzer, 1994, p.126). A teoria da nova sociedade civil, incorporada no Brasil nos anos

    1990, trouxe consigo a recomposio do conceito, bem como superaes e limites ao

    debate democrtico. Esto de volta ao debate democrtico o valor e o papel da ao

    coletiva, tensionando a perspectiva liberal que relaciona a sociedade civil esfera privada

    e o Estado esfera pblica. A anlise torna-se mais complexa por incorporar a

    perspectiva tripartite e diferenciar a sociedade civil do mercado (Silva, 2010; Luchmann,

    2007).

    A multiplicao de interesses, culturas e territrios marginalizados e

    divergentes do contexto nacional impulsionou o surgimento de movimentos sociais com o

    intuito de afirmar identidades alternativas, de modo a promover sua integrao e

    legitimidade na sociedade civil; migrando-se de uma forma de democracia voltada

    representao poltica a uma direcionada participao (Castells, 2000). Assim sendo,

    em uma interpretao mais ampla, a teoria do Estado como detentor do controle social e

    da sociedade civil como mercado deveria ser substituda pela concepo de uma

    sociedade ativa sociopoliticamente (Santos, 1999; Avritzer, 1994; Grau, 1998).

    Os processos participativos da sociedade civil enfrentam limitaes que se

    originam nas estruturas estatais pouco comprometidas com os processos de

    democratizao, na burocratizao, na penria de recursos, na ineficcia, na

    instabilidade dos projetos que pressupem a parceria com o Estado e, ainda, na

    exigncia de qualificao tcnica e poltica que deveria estar vinculada manuteno da

    autonomia e da capacidade de representao efetiva. no interior da prpria sociedade

    civil que ocorre o confronto entre diferentes projetos polticos, concepes e interesses

    na democracia (Dagnino 2002, apud RIizek, 2002; Cepik, 2000; Grau, 1998). crise da

    democracia e da legitimidade do Estado acrescenta-se a falta de credibilidade do

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    6

    sistema poltico, fundamentado na concorrncia aberta entre partidos (Castells, 2000,

    p.297). Os governos vm perdendo sua confiabilidade perante o cidado comum. As

    relaes entre os movimentos sociais, os partidos polticos e o Estado formam novos

    padres que ocupam espaos alternativos entre a poltica institucionalizada e a poltica

    no-institucionalizada (Silva & Oliveira, 2011).

    3 SOCIEDADE EM REDES: A DEMOCRATIZAO E A UNIVERSA LIZAO DO

    ACESSO INFORMAO

    As transformaes no cenrio social da vida humana levaram transio

    de uma sociedade industrial para uma sociedade informacional (Castells, 1999). A

    sociedade dos tempos atuais resultante de diversas transformaes no mbito poltico,

    social e econmico; cabe ressaltar, a peculiar e rpida convergncia de tecnologias que

    proporcionaram uma interface de diferentes tcnicas, uma reorganizao do modo de

    vida do indivduo (Aun, 2001). Esse processo de desconstruo e reconstruo do mundo

    conferiu informao um novo significado, uma essncia jamais percebida antes. Surge,

    ento, uma sociedade da informao, absolutamente inconstante e mutvel, na qual a

    sobrevivncia de instituies e indivduos est relacionada capacidade de prever

    oportunidades e de antecipar ameaas: vivemos uma nova era localizada em um mundo

    altamente mutvel e que obriga diariamente os indivduos a compreenderem situaes

    que lhes so complexas e que evoluem de forma imprevisvel (Aun, 2001, p. 11).

    No obstante, mudanas profundas ocorreram em toda a sociedade, no

    apenas no mbito tcnico e econmico, mas retratadas em drsticas alteraes sociais.

    Novas formas e canais de comunicao moldam o estilo de vida de milhes de pessoas.

    O advento do computador chegou a esferas at ento intocveis, substituindo o trabalho

    mental pela informao (Kumar, 1997), que torna-se uma ferramenta para a

    conscientizao poltica, social e ambiental. A ampliao e universalizao de uma

    cultura digital a cibercultura (Lvy, 2000) vm reduzindo a distncia entre pessoas e

    aumentando o acesso ao conhecimento, constituindo-se assim, uma sociedade

    interconectada. A informao, o conhecimento e o uso adequado da informao e do

    conhecimento sero pilares fundamentais, fontes de controle e riqueza na economia

    digital. O futuro est condicionado pela forma como as novas tecnologias de informao

    e comunicao sero assimiladas, assim como pelo xito e rapidez dessa absoro

    (Brito, 2006, p.110).

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    7

    Em mbito global, a informao tornou-se base essencial para o progresso

    da civilizao e da sociedade. Novas relaes sociais so plasmadas, novos fruns de

    debate so construdos, outra realidade se apresenta: a constituio de uma rede

    informacional de relacionamentos que abarcam no s uma regio, mas todo o planeta.

    O desenvolvimento de um pas est relacionado com a disseminao e compreenso da

    informao pelos cidados. Os recentes avanos tecnolgicos nas reas de informtica e

    de comunicao esto transformando o mundo e agregando valor informao acessvel

    disponibilizada de forma universal.

    Em dimenses individuais, observa-se o sentimento de solido e

    isolamento, a busca por uma identidade comum, acarretando relaes conflituosas e a

    emergncia de movimentos sociais contra a lgica capitalista, em uma tendncia histrica

    para que a rede seja a principal forma de organizao social (Castells, 1999). O conceito

    de rede est relacionado interconexo de atores sociais numa estrutura aberta, capaz

    de extenso ilimitada e integrao de novos atores que compartilham os mesmos cdigos

    de comunicao. As redes, em uma estrutura horizontal, flexvel, dinmica, concedem

    autonomia, desconcentram o poder e so catalisadoras para a cooperao, a

    participao e a democracia (Faria & Tenrio, 2004; Martinho, 2002).

    Scherer-Warren (2002) enfatiza o carter articulador dessas redes, as

    quais, mediante as trocas de elementos pelas suas interconexes, promovem o

    fortalecimento mtuo de seus membros e multiplicando-se em novas unidades, que por

    sua vez, estimulam o engajamento de todo o conjunto. Este processo essencial,

    segundo sua percepo, para o fortalecimento da esfera pblica, emancipao e o

    desenvolvimento local. Tidas como forma de organizao capaz de conferir maior eficcia

    aos movimentos sociais, as redes so mais adequadas a um contexto de novas e mais

    amplas possibilidades de comunicao e articulao (Silva, 2010). E no contexto da

    sociedade da informao, uma sociedade em rede, que estas relaes conflituosas e

    repletas de ambiguidade se evidenciam. Uma sociedade a cada instante mais dinmica e

    suscetvel a inovaes.

    No entanto, percebem-se srios obstculos na insero brasileira neste

    contexto mundial. Mltiplos so ainda os entraves sociais, econmicos, polticos, legais e

    administrativos que, diante de nossa sociedade, impedem o alcance da democratizao

    do conhecimento e acesso ao cidado de informaes bsicas para cidadania. Ainda

    temos um longo caminho pela frente se quisermos garantir o direito dos cidados

    informao no Brasil (Cepik, 2000, p.11)

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    8

    Ademais de todos os pontos positivos destacados, a universalizao do

    acesso s tecnologias de informao e de comunicao tornou-se uma panaceia para os

    dilemas da sociedade civil organizada. A questo da dicotomia excluso/incluso digital e

    sua relao com a incluso/excluso social esto presentes no iderio de diversos

    defensores da democratizao da informao (Almeida Jnior, 2005). Da mesma forma

    que disponibilizar o acesso informao digital no garante a incluso digital, o vnculo

    com a incluso social fundamental para que a incluso digital represente passos em

    direo participao em uma sociedade democrtica (Piconez, 2006; Silva Filho, 2003).

    Para Iizuka (2003), h uma relao de influncia entre excluso social e excluso digital.

    Todavia, no parece ser nica e exclusiva. Sabe-se que a excluso social no se

    constitui parte da realidade social, econmica e poltica (Iizuka, 2003, p.40). Ela pode,

    provavelmente, influenciar e ser influenciada pela excluso social.

    Enormes so os desafios desse novo milnio. H ainda um vasto nmero

    de excludos sociais, a persistncia de conflitos de interesses da maioria contra a minoria

    em suas diversas dimenses (racial, tnica, religiosa, etc) e as velhas disputas entre os

    donos do capital e os trabalhadores (Castells, 1999; Moore, 1999; Kumar, 1997). A

    tecnologia no neutra; no boa ou ruim. Ela no inocente ou inevitvel, baseada

    em decises humanas, podendo promover mudanas sociais, polticas, econmicas e

    culturais, ora positivas, ora negativas. H uma dualidade da tecnologia, composta de dois

    discursos antitticos, um relacionado dominao e outro emancipao. No se pode

    negar o papel da internet como ferramenta de interao e mobilizao. Reflete-se neste

    trabalho sobre sua supervalorizao como veculo de informao e democratizao.

    Novas e velhas tecnologias coexistem, a internet favorece a criao de novos meios de

    interao, mas mesmo ante a essas novas e inmeras possibilidades, as aes geradas

    a partir da internet dificilmente substituiro por completo as presenciais. O que ocorre, na

    verdade, uma nova possibilidade de articulao entre aes online e presenciais

    (Pereira, 2011).

    4 A INFORMAO COMO DIREITO DO CIDADO E INSTRUMENT O PARA

    PARTICIPAO E CONTROLE SOCIAL

    O direito informao um aspecto fundamental da democracia. Trata-se

    de um direito simultaneamente individual e coletivo, onde devem ser analisadas as

    prerrogativas dos movimentos legais, que se traduzem na cidadania e isonomia. Ambas

    so pr-requisitos para o exerccio de papis sociais reais (como se candidatar ao

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    9

    governo ou receber benefcios e recursos do Estado); remetendo ao direito igualdade

    de participao, a no s gozar de direitos e obrigaes como tambm de pertencer a

    uma comunidade, uma identidade nacional (Cepik, 2000). Sendo assim, a prtica da

    cidadania, tanto na conquista dos direitos polticos quanto dos civis e sociais passa

    necessariamente pela questo do acesso e uso de informao (Arajo, 2001, Santos &

    Martinez, 2000). neste sentido que as prticas informacionais devem considerar o

    processo democrtico participativo, e no obstante, permitir a formao de um sujeito

    social consciente e capaz de implementar aes polticas em diferentes nveis,

    desenvolvendo assim, uma cidadania ativa (Arajo 2001, p.17).

    O crescente aumento da demanda por informaes de carter

    governamental impulsionou nos ltimos anos o Estado desenvolver uma infraestrutura

    que permitisse atender as reivindicaes dos cidados. A economia informacional em

    rede levou a esfera pblica a desenvolver e disponibilizar ferramentas que no s

    transformem o cidado em ativo na busca pela informao, mas que tambm possa

    participar da construo da informao e com isso ser ativo no processo de fiscalizar e

    garantir um rumo democrtico para seu pas, estado ou cidade (Ribeiro, 2012). Por um

    lado, a sociedade civil reivindica a ampliao de sua presena nas polticas pblicas. Mas

    como ela prpria dinmica e tem criado estruturas no convencionais em movimentos e

    grupos sociais, tem tambm demandando novas formas de representao. As

    associaes e os movimentos sociais esto ampliando o seu repertrio de atuao e

    assumindo papis de representao nos espaos institucionais que foram criados em

    funo das reivindicaes e mobilizaes sociais (Luchmann, 2011).

    O termo participao, por sua complexidade, no deve ser analisado de

    maneira simplista. Contrapondo a concepo presente na literatura que ope a

    institucionalizao e a participao, Avritzer (2008) lana o conceito de instituies

    participativas, entendidas como formas diferenciadas de incorporao de cidados e

    associaes da sociedade civil na deliberao sobre polticas (Avritzer, 2008). O autor

    analisa experincias brasileiras recentes de desenhos participativos e faz a diferenciao

    entre 3 formas pelas quais os cidados ou associaes da sociedade civil participam das

    decises polticas. A primeira, denominada de baixo para cima, permite livre entrada

    qualquer cidado no processo de participao, e tem no oramento participativo brasileiro

    sua melhor representao. Essa forma tambm tratada em Luchmann (2007) pela

    perspectiva da democracia participativa. A segunda, denominada partilha de poder,

    congrega atores estatais e atores da sociedade civil em participao simultnea, como no

    caso dos conselhos de sade, meio ambiente etc. Luchmann (2007) destaca nesta forma

    o carter de da democracia representativa. A terceira d-se pelo processo de ratificao,

    onde os atores da sociedade civil no participam da deciso, mas so publicamente

    chamados a referenci-la, como no caso dos planos diretores municipais. Os resultados

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    10

    mostram que os diferentes desenhos apresentam resultados diferentes em relao sua

    capacidade democratizante, sua efetividade em termos de participao e

    dependncia do sistema poltico. Tatagiba e Teixeira (2006) fazem ainda a distino

    entre o lugar da participao no projeto poltico do governo e dos prprios movimentos

    sociais, alertando para o risco de que a instrumentalizao da participao leve

    despolitizao, ao esvaziamento do campo poltico, o que pode ser prejudicial para a

    dinmica social democrtica.

    Os rgos governamentais assumiram a importncia de introduzir as

    tecnologias de informao e comunicao TICs, e assim surgiu um sistema misto de

    governo tradicional e governo eletrnico na comunicao e interao do governo com a

    sociedade (Brito, 2006). O governo eletrnico tem um papel essencial ma transparncia

    dos atos pblicos, (Prado & Loureiro, 2005). Promover accountability pressupe a

    existncia de trs fatores: informaes consistentes, transparentes e em linguagem

    acessvel aos cidados; uma melhor prestao de contas por parte dos governantes; e a

    instituio de mecanismos de punio e recompensa de acordo com o comportamento

    dos mesmos. Porm, o governo eletrnico, por si s, no promove a transparncia,

    podendo se tornar exclusivamente mais um canal de comunicao com o cidado.

    Contudo, alm da existncia de mecanismos institucionais que favoream o

    accountability (Prado & Loureiro, 2005, p. 4), necessria a implementao de polticas

    pblicas consistentes de disponibilidade de informaes ao cidado; caso contrrio

    poder se transformar em mero programa de governo eletrnico. Embora o carter

    tecnolgico do governo eletrnico seja importante (principalmente no que tange a

    capacidade potencial de oferta de servios), a dimenso poltica-institucional o fator

    primordial nas definies de transparncia e criao de condies de responsabilizao

    dos governos.

    O isolamento entre a tecnologia que disponibiliza informaes e os

    mecanismos para que elas sejam utilizadas pelos cidados pode implicar

    na manuteno da opacidade informacional e para a configurao de um tipo de

    transparncia informacional que reforam prticas clientelistas e o exerccio do

    paternalismo do Estado, atuando em sentido contrrio s prticas emancipatrias

    (Cardoso, Bemfica & Reis, 2000, p.74). Ante a este risco, o resultado pode ser um

    conjunto de redes personalistas que se estendem por toda a sociedade, ameaando as

    prticas da democracia e representao cidad, e criando uma gerao de excludos, o

    oposto de todo o propsito original.

    H autores como Einsenberg (1999) e Iizuka (2003) que concordam com a

    relevncia da democratizao da informao, transparncia e accountability na

    sociedade civil organizada. No contexto das Organizaes No Governamentais, at que

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    11

    ponto incluso social pode favorecer a incluso digital? Ser que de alguma maneira,

    esta ltima est limitando a existncia, o funcionamento e a participao dessas

    organizaes no mbito local de sua atuao?

    5 QUATRO INICIATIVAS DE DEMOCRATIZAO DA INFORMA O NO

    CONTEXTO BRASILEIRO

    No mundo e de modo mais peculiar, no Brasil uma pluralidade de

    organizaes da sociedade civil ampliam a luta pelos direitos dos cidados, com foco

    especial na incluso social e digital e pelo fortalecimento da participao cidad da

    governana em seus diferentes nveis de governo. As novas mdias digitais so canais

    que, sobretudo a partir da ltima dcada do sculo XX, tornam-se cada vez mais

    incorporados como recursos e para os quais se desenvolvem estratgias especficas,

    visando a difuso de informaes pblicas e mobilizao social. Os espaos pblicos de

    interao e manifestao, a praa pblica, ainda representada preponderantemente pela

    TV e mdias offline, comeou a ceder espao e ateno para os media digitais interativos

    (Brito, 2006). Consequncia clara desta tendncia so as manifestaes ocorridas em

    julho de 2013 no Brasil, articuladas sobretudo pelas redes sociais, e suas consequncias

    polticas.

    Por motivos relativos relevncia e participao na sociedade brasileira

    foram destacadas quatro ONGs para esta anlise: a FASE (Federao de rgos de

    Assistncia Social e Educacional), o IBASE (Instituto Brasileiro de Anilses Sociais e

    Econmicas), a ABONG (Associao Brasileira de Organizaes No-Governamentais) e

    o CDI (Comit para Democratizao da Informtica). A coleta de dados primrios e

    secundrios foi feita nos sites institucionais, com o objetivo de tentar compreender as

    seguintes questes: H semelhanas e dessemelhanas no discurso das mesmas quanto

    seus objetivos, princpios e projetos? O que pode ser constatado ao se fazer uma

    analogia entre os dilemas dos tericos e os discursos da prtica? Paralelamente,

    mediante os recursos da Internet, emerge na esfera governamental, novas formas de

    deliberao democrtica, como o oramento participativo. Ora, em que medida a ao

    dessas ONGs pode fortalecer a participao do cidado nos novos espaos pblicos

    digitais?

    Ao se comparar as perspectivas de cada uma das entidades passvel

    uma percepo, ainda que implcita, que h semelhanas e dessemelhanas entre as

    quatro organizaes:

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    12

    QUADRO 1: COMPARAES ENTRE ONGS MISSO, VALORES E PRINCPIOS NA

    DEMOCRATIZAO DA INFORMAO.

    ONG Misso Princpios e Valores Relevncia da

    Democratizao da

    Informao para

    alcanar suas

    metas

    FASE Construo de uma

    sociedade

    democrtica por

    meio de uma

    alternativa de

    desenvolvimento

    sustentvel.

    Incluso social;

    participao cidad;

    desenvolvimento

    sustentvel;

    transparncia dos atos

    de governo; defesa da

    democracia e

    fortalecimento da

    sociedade civil.

    Como meio de

    produo de

    conhecimento;

    universalizao do

    acesso e

    transparncia na

    prestao de contas

    (accountability) das

    aes de

    organizaes

    governamentais e

    no-governamentais

    e na formao de

    redes

    informacionais.

    IBAS

    E

    Construo da

    democracia,

    combatendo

    desigualdades e

    estimulando a

    participao cidad.

    Cidadania ativa e

    participativa, defesa da

    democracia,

    transparncia dos

    governantes; construo

    de uma esfera pblica e

    fortalecimento da

    sociedade civil.

    ABON

    G

    Defender a

    articulao,

    integrao,

    afirmao e

    autonomia, de ONGs

    que buscam a

    ampliao da

    cidadania,

    construo de

    democracia e

    garantia de direitos

    universais.

    Estado como promotor

    do Bem comum;

    participao

    democrtica e

    autnoma das ONGs;

    construo de uma

    esfera pblica universal.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    13

    CDI Promover a incluso

    social de populaes

    menos favorecidas,

    utilizando as

    tecnologias da

    informao e

    comunicao como

    um instrumento para

    a construo e o

    exerccio da

    cidadania.

    Defesa da Incluso

    social pela Incluso

    Digital, integrando

    educao, tecnologia,

    cidadania e

    empreendedorismo.

    Incluso digital para

    o desenvolvimento

    social.

    Fonte: construdo pelos autores.

    Observa-se, que com relao s trs primeiras (FASE, IBASE e ABONG),

    h um discurso similar pautado pela democratizao da informao em um mbito mais

    amplo, abrangendo a construo de uma sociedade mais forte e coesa, de um espao

    pblico universal e democrtico, como defende diversos autores (Cepik, 2000; Cabral,

    1994; Takahashi, 2000; Iizuka, 2003). Por outro lado, embora deixe claro suas

    preocupaes com a formao de cidados, o CDI restringe seu foco exclusivamente nos

    dilemas da Incluso Digital para fazer Incluso Social, uma defesa de certo modo

    simplista de uma tica de alfabetizao digital para os pobres, como foi observado por

    Iizuka (2003).

    Enquanto nas trs primeiras percebe-se uma estrutura organizacional mais

    horizontal e mais flexvel, assemelhada aos movimentos sociais, nesta ltima evidencia,

    mesmo que de forma no to visvel, uma estrutura mais vertical e hierarquizada, mais

    parecida com o que tradicionalmente percebe-se no sistema empresarial e nos rgos

    governamentais. Destarte, surgem questionamentos quanto s formas de implementao

    das propostas polticas dessa organizao, visto que o formato empresarial pode trazer

    srias implicaes para a capacidade de estabelecer relaes mais participativas e

    horizontais com as comunidades envolvidas em seus projetos, tendo desdobramentos

    importantes para a democratizao do prprio acesso s novas mdias e tambm sua

    legitimidade frente aos pbicos que busca representar. Enfim, perduram importantes

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    14

    dvidas sobre questes como Como suas aes so introduzidas na comunidade? Ser

    que so inseridas com a efetiva participao de todos e considerando as reais

    necessidades da mesma? Ou seriam baseadas, apenas, em projetos pr-definidos e

    tomadas de deciso de cima para baixo? Estes so importantes dimenses a se

    considerar na comparao de diferentes organizaes no governamentais no contexto

    nacional.

    evidente a relevncia das tecnologias para a democratizao da

    informao e o essencial papel das organizaes pblicas governamentais ou no no

    desenvolvimento de redes comunitrias e na constituio de uma sociedade rica em

    capital social. Sobretudo em pases como o Brasil, no qual a formao de uma

    sociedade civil forte e coesa ainda est em maturao, se percebe a importncia da

    disposio e vontade poltica desses agentes em dar primazia promoo de

    emancipao das comunidades e cidados (Frey, 2003, p. 182).

    Mas no se pode observar na anlise das informaes disponibilizadas no

    site como as ONGs interferem, incentivam ou apoiam as aes prticas de participao

    cidad, como, por exemplo, o oramento participativo digital. Considera-se que h riscos

    em limitar o exerccio da democracia ao uso indiscriminado e sem objetivo concreto das

    redes eletrnicas, na medida em que podem servir como estmulo ao isolamento e

    atomizao dos cidados (Frey, 2003). Logo, as formas alternativas de representao

    cidad devem ser complementares s formas tradicionais e estas no so substituveis,

    conforme destacado por Pereira (2011).

    6 CONSIDERAES FINAIS

    Diversas so as demandas no atendidas e as insatisfaes recentemente

    manifestas pela sociedade civil, principalmente quando se analisa o contexto brasileiro. O

    amadurecimento e desenvolvimento de novas formas de movimentos sociais, alm do

    fortalecimento das organizaes da sociedade civil so, para vrios autores, a

    oportunidade para a emancipao social e construo de uma esfera pblica democrtica.

    Neste sentido, crucial a democratizao da informao. Em uma repblica democrtica

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    15

    (no sentido amplo do termo), sem a garantia do acesso e universalizao das

    informaes, impossvel aos cidados exercer seus direitos e cobrar mais transparncia

    (accountability) das organizaes governamentais. Por outro lado, evidente o grande

    nmero de excludos digitais que ameaam a consolidao desse espao pblico. Ao

    considerarmos o carter ambguo da Internet, questiona-se em que medida se torna um

    instrumento para a democratizao da informao e incluso digital, ou um mecanismo

    de controle e atomizao dos indivduos.

    H uma diversidade de dilemas os quais as ONGs tm enfrentado: as

    divergncias de identidades, algumas pouco condizentes com os seus prprios valores; a

    dificuldade na obteno de recursos e riscos inerentes a se tornarem dependentes ou

    cooptadas por outras instituies; os perigos e impactos do discurso da eficcia pelas

    prticas do gerencialismo. Por outro lado, indubitvel sua capacidade de integrao

    dos atores em redes de articulao, visando o desenvolvimento social local e global

    (mediante parcerias com instituies estatais e no-estatais, fruns de discusso

    nacionais e internacionais).

    Todavia, surgem algumas questes ainda pouco exploradas e que

    merecem ser objeto de estudos nesta rea, especialmente sobre o ponto de vista das

    organizaes e movimentos sociais. H que se questionar e pesquisar como essas

    organizaes se comportam diante dos dramas da excluso digital e da urgncia de se

    constituir uma sociedade da informao democrtica. E, relacionada a esta questo,

    qual o papel e a contribuio das novas formas constituintes dos movimentos sociais,

    altamente relacionadas s redes virtuais? Ser que a proposta das ONGs de

    democratizao e incluso est realmente indo ao encontro das necessidades explcitas

    e, principalmente, implcitas dos cidados? De modo simultneo, surgem movimentos de

    dentro do prprio aparelho estatal, como o oramento participativo, agora em sua verso

    digital, a favor da democracia e da deliberao cidad. Em que medida estas aes

    esto promovendo uma democracia participativa, particularmente no ambiente virtual da

    Internet? Perguntas a serem includas na agenda de pesquisas futuras desta rea.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    16

    REFERNCIAS

    ALMEIDA JNIOR, Oswaldo Francisco de. gora informacional. So Paulo: APB, 1999. (Ensaios APB, 67). ARAUJO, Eliany Alvarenga de. Informao, sociedade e cidadania: prticas informacionais de organizaes no governamentais ONGs brasileiras. Informao & Informao, Universidade Estadual de Londrina, v.6, n.1 , p.31-54, jan./jun.2001. AUN, Marta Pinheiro. A informao e o seu papel contemporneo na construo da cidadania. Disponvel em Acesso em 15 ago 2006. AVRITZER, Leonardo. Sociedade civil e democratizao. Belo Horizonte: Livraria Del Rey, 1994. 308p. _________________. Instituies participativas e desenho institucional: algumas consideraes sobre a variao da participao no Brasil democrtico. Revista Opinio Pblica, Centro de Estudos de Opinio Pblica, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, vol. 14, n 1, p. 43-64, jun 2008. BOBBIO, Norberto. Estado, governo, sociedade: para uma teoria geral da poltica. 9. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2001. 173p. ________________. O conceito de sociedade civil. Rio de Janeiro: Edies Graal, 1982. 77p. BRITO, Jos Augusto Pereira. Cibercidadania: A virtualizao na comunicao pblica contempornea. Organicom, Revista Brasileira de Comunicao Organizacional e Relaes Pblicas, Universidade de So Paulo, So Paulo, ano 03. n. 04, 1 semestre de 2006, pp- 106-123. CABRAL, Ana Maria R. Movimentos sociais, informao e cidadania. Caminhos, n.8/9, p.37-39, jun. 1994. CARDOSO, Ana Maria Pereira, BEMFICA, Juliana do Couto, REIS, Alcenir S. Entre a imagem e a ao: a produo de informao governamental para gesto de polticas de assistncia social. Informtica Pblica. Belo Horizonte, ano 2, n. 1, p. 67-79, maio, 2000. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 2. ed So Paulo: Paz e Terra, 1999. 617p. ________________. O poder da identidade. 2. ed. So Paulo: Paz e Terra, 2000. 530p. CEPIK, Marco. Direito Informao: situao legal e desafios. IP -Informtica Publica (Prodabel), v.2, n.2, p. 43-56, dez.2000. CRUZ, Maurcio Stunitz. Pblico e Privado: O surgimento e a evoluo dos conceitos. Disponvel em: . Acesso em 7 dez 2005 EINSENBERG, J. Internet popular e democracia nas cidades. Informtica Pblica, ano 01, no. 1, pp. 43-56, jun/1999.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    17

    FARIA, Valdeir Martins de; TENORIO, Fernando Guilherme. Cidadania, Desenvolvimento Local e Redes Sociais: Um Estudo em Minas Gerais. XXIX ENANPAD - Encontro da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao, 2005, Braslia-DF. Disponvel em Acesso em 29 set. 2006. FREY, Klaus. Desenvolvimento sustentvel local na sociedade em rede: o potencial das novas tecnologias de informao e comunicao. Revista de Sociologia Poltica, Curitiba, 21, p. 165-185, nov. 2003. GRAU, Nuria Cunill. Repensando o pblico atravs da sociedade: novas formas de gesto pblica e representao social. Rio de Janeiro: Revan, 1998. 302p. IIZUKA, Edson Sadao. Um estudo exploratrio sobre a excluso digital e as organizaes sem fins lucrativos da cidade de So Paulo. Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, 2003, 156 f. Dissertao (Mestrado) Fundao Getlio Vargas, Ps Graduao em Administrao Pblica e Governo. KUMAR, Krishan. A Sociedade da Informao.In: Da sociedade ps-industrial a ps-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporneo. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1997. Cap 2, p.18-47. LVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. So Paulo: Ed. 34, 2000. 260p. LUCHMANN, Ligia Helena Hahn. Associaes, participao e representao: combinaes e tenses. Lua Nova, CEDEC, So Paulo, n. 84, pp. 353-364, 2011 . __________________________. A Representao no Interior das Experincias de Participao. Lua Nova, CEDEC, So Paulo, n. 70, PP. 213-222, 2007 . MARTINHO, Cssio. Redes uma introduo s dinmicas da conectividade e autoorganizao. Braslia: WWF Brasil, 2003. Disponvel em . Acesso em 31 set.2006. MONTAO, Carlos. Das "lgicas do Estado" s "lgicas da sociedade civil": Estado e "terceiro setor" em questo. Servio Social & Sociedade, So Paulo SP , v.20, n.59 , p.47-79, mar.1999. MOORE, N. A sociedade da informao. In: MOORE, N. A informao: tendncias para o novo milnio. Braslia: IBICT, 1999. p.94-108. PEREIRA, Marcos Ablio. Internet e mobilizao poltica: os movimentos sociais na era digital. IV Congresso da COMPOLTICA Associao Brasileira de Pesquisadores em Comunicao e Poltica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 13 a 15 de abril de 2011. Disponvel em Acesso em agosto de 2013. PICONEZ, Stela C. Bertholo. Incluso social e incluso digital: elementos dinamizadores da inteligncia coletiva e os desafios permanentes da educao bsica. Momento do Professor: revista de educao continuada, So Paulo, ano 3, n.1, p.36-44, verso 2006. PRADO, Otvio; LOUREIRO, Maria Rita. Governo Eletrnico, Transparncia e Democracia: a publicizao das contas pblicas das capitais brasileiras. XXIX ENANPAD - Encontro da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Administrao, 2005, Braslia-DF. Disponvel em Acesso em 29 set. 2006.

  • CONGRESSO INTERNACIONAL GOVERNO, GESTO E

    PROFISSIONALIZAO EM MBITO LOCAL FRENTE AOS GRANDES

    DESAFIOS DE NOSSO TEMPO

    18

    RIBEIRO, Manuella Maia. As relaes entre Governo e Sociedade Civil atravs da Web: Modelos de Relacionamento na Esfera Pblica Virtual. Escola de Administrao de Empresas de So Paulo, 2012, 170 f. Dissertao (Mestrado) Fundao Getlio Vargas, Ps Graduao em Administrao Pblica e Governo. RIZEK, Cibele Saliba. Sociedade Civil e espaos pblicos no Brasil. Revista Brasileira de Cincias Sociais v.18, n.58, p.161-165, 2002. SANTOS, Boaventura de Souza. A reinveno solidria e participativa do Estado. In: PEREIRA L.C.L. et al. (Orgs.). Sociedade e Estado em transformao. So Paulo: UNESP, 1999. SANTOS, Plcida Leopoldina Ventura Amorim da Costa; MARTINEZ, Vincio Carrilho. A rede e o conhecimento. Informao & Informao, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, v.5, n.2 , p.111-124, jul./dez.2000 SCHERER-WARREN, Ilse. Redes e Sociedade Civil Global. In: HADDAD, Srgio (Orgs). ONGs e universidades: Desafios para a cooperao na Amrica Latina. So Paulo: Abong; Peirpolis, 2002, 148p. SILVA, Marcelo Kunrath; OLIVEIRA, Gerson de Lima. A face oculta(da) dos movimentos sociais: trnsito institucional e interseco Estado-Movimento uma anlise do movimento de Economia Solidria no Rio Grande do Sul. Sociologias, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ano 13, no 28, pp. 14-16, set./dez. 2011. SILVA, Marcelo Kunrath. De volta aos movimentos sociais? Reflexes a partir da literatura brasileira recente. Cincias Sociais Unisinos, So Leopoldo, 46(1):2-9, janeiro/abril 2010 SILVA FILHO, Antnio Mendes da. Os trs pilares da incluso digital. Revista Espao Acadmico, Universidade Estadual de Maring, Maring, PR, Ano 3, n.24 mai 2003. Disponvel em < www.espacoacademico.com.br/024/24amsf.htm > Acesso em 30 out 2006. TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da informao no Brasil: livro verde. Braslia: Comisso Nacional de Energia Nuclear, 2000. 203p. TATAGIBA, Luciana; TEIXEIRA, Ana Cludia Chaves. Participao e Democracia: Velhos e novos desafios. Civitas, PUCRS, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 223-240, jan.-jun. 2006.