Sociolinguística i

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28/06/2015 Sociolinguística - Parte I Tânia Maria Alkmim No capítulo de Sociolinguística I, Alkmim traça um panorama da evolução da abordagem do estudo linguístico, apresentando, de forma simplificada, os principais teóricos e suas teorias, bem como os conceitos centrais da sociolinguística. Um dos primeiros trabalhos desenvolvidos no estudo da linguística foi feito pelo alemão Augusto Schleicher (18--) (linguística pré-saussuriana/século XIX). Schleicher propõem que a linguística é uma ciência natural, de forma que a linguagem desenvolver-se-ia como uma planta ao: nascer, crescer e morrer. Para ele, a linguagem era um organismo natural. Assim, a orientação biologizante de Schleicher afastava a consideração de ordem social da linguística. Tal teoria foi bastante criticada, justamente por apresentar inúmeras falhas. O século XX foi bastante importante para os estudos linguísticos, visto que passou a ressaltar a relação entre linguagem-sociedade. Fazendo com que as considerações relacionadas à natureza social, histórica e cultural fossem excluídas. Tem-se, então, a divisão básica dos estudos da linguagem: a linguística pré-saussuriana e a linguística pós-saussuriana (ou linguística saussuriana). Foi Saussure (1916) quem definiu língua como objeto central da linguística. De acordo com o autor, a língua opõe-se a fala. Sendo ainda, a língua subjacente à atividade da fala. Outrossim, a língua é um sistema invariante que pode abstraído as variações observáveis na fala. Saussure dedicou-se a estudo dos fenômenos linguísticos internos – a língua – já a Estilística ocupa-se do estudo dos fenômenos linguísticos internos. Assim, distanciando-se do fato social (da comunicação). Homogeneidade.

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28/06/2015Sociolingustica - Parte ITnia Maria Alkmim

No captulo de Sociolingustica I, Alkmim traa um panorama da evoluo da abordagem do estudo lingustico, apresentando, de forma simplificada, os principais tericos e suas teorias, bem como os conceitos centrais da sociolingustica. Um dos primeiros trabalhos desenvolvidos no estudo da lingustica foi feito pelo alemo Augusto Schleicher (18--) (lingustica pr-saussuriana/sculo XIX). Schleicher propem que a lingustica uma cincia natural, de forma que a linguagem desenvolver-se-ia como uma planta ao: nascer, crescer e morrer. Para ele, a linguagem era um organismo natural. Assim, a orientao biologizante de Schleicher afastava a considerao de ordem social da lingustica. Tal teoria foi bastante criticada, justamente por apresentar inmeras falhas.O sculo XX foi bastante importante para os estudos lingusticos, visto que passou a ressaltar a relao entre linguagem-sociedade. Fazendo com que as consideraes relacionadas natureza social, histrica e cultural fossem excludas. Tem-se, ento, a diviso bsica dos estudos da linguagem: a lingustica pr-saussuriana e a lingustica ps-saussuriana (ou lingustica saussuriana). Foi Saussure (1916) quem definiu lngua como objeto central da lingustica. De acordo com o autor, a lngua ope-se a fala. Sendo ainda, a lngua subjacente atividade da fala. Outrossim, a lngua um sistema invariante que pode abstrado as variaes observveis na fala. Saussure dedicou-se a estudo dos fenmenos lingusticos internos a lngua j a Estilstica ocupa-se do estudo dos fenmenos lingusticos internos. Assim, distanciando-se do fato social (da comunicao). Homogeneidade. Meillet (1906) foi outro importante terico aluno de Saussure, um dos precursores da Sociolingustica. Para ele, a linguagem era um fato social, uma vez que a lngua no existiria sem (ou fora da) a fala. Dessa forma, o autor afasta-se das ideias propostas por Saussure. Cabe salientar que diferentemente do que acreditava Saussure, Meillet acreditava que a historia das lnguas no podia ser separada da historia da cultura e sociedade.Bakhtin (1929) foi um dos principais crticos teoria de Saussure. Para o linguista russo, a verdadeira substncia da lngua no constituda atravs da analise de um sistema abstrato de forma lingustica (fenmenos lingusticos internos estudados por Saussure) e nem pela enunciao isolada, mas sim pelo fenmeno social da interao verbal realizada pela enunciao ou enunciaes. A interao verbal uma realidade fundamental da lngua.Outro linguista russo de bastante relevncia Jakobson (1960), que tambm se opunha as ideias propostas por Saussure. Para Jakobson a homogeneidade proposta por Saussure no pode ser tida como certa, j que os usurios da lngua participam de uma vasta gama de situaes comunicativas, nas quais, por vezes, devem ser adotadas diferentes formas de comunicao. Dessa forma, o autor identifica os fatores comunicativos: o remetente, a mensagem, o destinatrio, o contexto, o canal e o cdigo. Ao levar em considerao tais fatores possvel entender porque Jakobson no concorda com a viso de homogeneidade postulada por Saussure.Marcel Cohen (1956) tambm foi um importante linguista. Para o autor, levar em considerao fenmenos lingusticos que se realizam no contexto varivel dos acontecimentos sociais era crucial. Uma de suas propostas era considerar as variaes lingusticas como, por exemplo, a variedade urbana e a variedade rural, as diferentes classes sociais, os estilos de linguagem (formal e informal), a linguagem de determinados grupos: o jargo dos estudantes, de marginais, de profissionais de uma determinada rea. Cabe ressaltar que Cohen concordava com Saussure ao afirmar que havia a necessidade de separar os aspectos internos e externos ao fazer um estudo das lnguas.Benveniste (1963) considerado um dos principais linguistas contemporneos. Para o linguista francs dentro da, e pela lngua, que o individuo e a sociedade mutuamente se determinam. Afirma, ainda, que a partir do exerccio da linguagem, pela utilizao da lngua que o homem constri sua relao com a natureza e com os demais homens. Ou seja, a linguagem se realiza dentro de uma lngua, que possui uma estrutura lingustica definida e particular e inseparvel de uma sociedade definida e particular. Assim, lngua e sociedade no podem ser concebidas uma sem a outra. De acordo com o autor, lngua e sociedade so grandezas distintas e tentar encontrar uma relao homognea traar uma viso simplista das coisas. Com isso, Benveniste ressalta que a relao entre lngua e sociedade d-se uma vez que a lngua o instrumento de analise da sociedade, j que lngua contm a sociedade. Uma prova disso, segundo o autor, que a lngua o instrumento de comunicao e que deve ser comum a todos os membros da sociedade. Por fim, o autor observa que atravs da lngua que o homem situa-se em uma classe, seja de autoridade ou produo. Assim Benveniste atrela a questo da sociedade e plano geral da construo do humano, especificamente, no plano das relaes estabelecidas pela vida social.De acordo com William Bright (1966), a sociolingustica deve demonstrar a covariao sistemtica das variaes lingusticas e sociais. Assim, seria papel da sociolingustica relacionar as diferentes as variaes lingusticas encontradas em uma mesma estrutura social (comunidade). Com isso, Bright ressalta que o objeto de estudo da sociolingustica a variedade lingustica. Ainda, Bright estipula fatores socialmente definidos que esto relacionados com a diversidade lingustica: identidade social do emissor ou falante, identidade social do receptor ou ouvinte, o contexto social e o julgamento social. Assim, de forma interdisciplinar deu-se inicio dos estudos sociolingusticos como se conhece hoje. Em um contexto histrico, ao passo que a sociolingustica florescia; a teoria formalista de Chomsky tambm se tornava conhecida. Hymes (1962) preocupado em compreender, descrever e interpretar o comportamento lingustico no contexto cultural dedicou sua pesquisa etnografia da fala (etnografia da comunicao). Trabalhando com auxilio de outras reas do conhecimento como, por exemplo, a psicologia. Procurando definir as funes da linguagem a partir da observao da fala e das regras sociais da prpria comunidade lingustica. Buscou entender o papel do homem, mulher e crianas em uma comunidade X. Com sua pesquisa acabou por estabelecer os princpios tericos e metodolgicos da etnografia da comunicao. Labov (1963) precursor da Teoria Variacionista (ou Teoria da Variao). Trabalhou com os fatores sociais a fim de explicar a variao lingustica. Idade, sexo, ocupao, origem tnica e atitude foram alguns aspectos observados pelo autor em seus estudos. Preocupou-se, em especial, com questes ligadas pronncia. Os primeiros autores a pesquisarem sob o termo sociolingustica vieram de diferentes reas de estudo, o que solidificou a vertente indisciplinar desse campo de estudo. No que se refere sociolingustica pode-se afirmar que seu objeto de estudo a lngua falada em seu contexto social situao real de uso. Destarte, uma comunidade de fala se caracteriza no por pessoas que falam do mesmo modo por indivduos que se relacionam, por meio de redes comunicativas diversas e que orientam seu comportamento verbal atravs de um mesmo conjunto de regras. Ao estudar qualquer comunidade lingustica fcil constatar a existncia de variedades lingusticas, ou seja, todas as comunidades so caracterizadas por formas distintas de falar. Assim, o conjunto de variedades lingusticas chamado de repertrio verbal. Dessa forma, ao estar um contexto formal uma reunio, por exemplo tende-se a usar um tipo de repertrio lingustico, ao passo que, por exemplo, estar entre amigos, muitas vezes, as mesmas pessoas, que estavam em um contexto formal, usaram outro repertrio lingustico. Ainda, o repertrio lingustico pode ser constitudo pela funo que o individuo ocupa no contexto social sendo possvel que determinados indivduos tenham apenas um repertrio. Assim, pode-se se afirmar que nenhuma lngua homognea. Portanto, todas as lnguas apresentam um conjunto de variedades.No que diz respeito s variedades lingusticas, essas podem ser descritas a partir de dois parmetros: a variao geogrfica (diatpica) e a variao social (diastrtica). A variao geogrfica est relacionada com ao espao geogrfico. Um exemplo de fcil entendimento tem-se ao pensar nas diferenas do portugus do Brasil e o portugus de Portugal. A variao no apenas vista no plano fontico, mas tambm no plano gramatical e lexical. Ao pensar no contexto brasileiro, existem variaes bastante significativas se compararmos o nordeste do pas e o sul do pas. Por sua vez, a variedade social est ligada a caractersticas que tem haver com a identidade dos indivduos e com a organizao sociocultural da comunidade de fala. Fatores como idade, sexo, classe social, situao ou contexto social. Fishman (1972) ressalta que uma situao definida pela coocorrncia de dois ou mais interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada, comunicando sobre um determinado tpico, num contexto determinado. Assim, tm-se as ideias de formalidade e informalidade. Por exemplo, em uma defesa de tese existe a necessidade de certa formalidade, visto que se busca a aprovao. J as mesmas pessoas envolvidas na situao anterior, em uma situao de comemorao tero uma postura diferente, mais relaxada, o que possibilita o uso informal da lngua. Com isso, as variedades lingusticas utilizadas pelos participantes das situaes devem corresponder s expectativas sociais convencionais. Existe, ainda, o que Fishman chama de mudana metafrica, que seria, em linhas gerais, a mudana de variao lingustica sem que tenha ocorrido uma mudana de situao ou contexto comunicativo, por exemplo, um pai falando com uma filha Onde a senhora pensa que vai?. O uso da palavra senhora est carregado de ironia. O autor ainda ressalta que se aprende a falar na convivncia, aprende-se a utilizar as variaes lingusticas.As variaes lingusticas relacionadas ao contexto so denominadas variaes de estilstica ou registro. A terminologia para se referir a tais mudanas muda bastante: estilo formal, informal, coloquial, familiar, pessoal. Os parmetros de variao lingustica so diversos. No ato de interagir verbalmente, um falante utilizar uma variedade lingustica relativa a sua regio de origem, classe social, idade, escolaridade, sexo, etc. e segundo a situao em que se encontrar.No que diz respeito estrutura social, existe uma hierarquia em relao s variaes lingusticas. De acordo com Alkmim, h sempre uma ordem valorativa das variaes lingusticas em uso, que reflete a hierarquia dos grupos sociais. Dessa forma, algumas so consideradas inferiores enquanto outras superiores. A sociedade de tradio ocidental oferece o uso da variedade de prestigio, tambm chamada de variedade padro. Cabe salientar que a variedade padro norma culta ou lngua culta no como se faz crer muitas vezes, uma lngua original. O que se chama de variedade padro o resultado de uma atitude social que delimita dentre os muitos modos de fala da comunidade qual forma de falar a correta. A forma padro geralmente coincide com os hbitos lingusticos dos grupos dominantes, com determinadas regies geogrficas. Fishman afirma que a variedade padro representaria o ideal de homogeneidade em meio realidade lingustica. Alm disso, vale ressaltar que foi uma vez considerada forma padro deixou de ser. Por exemplo, despois, hoje considerada uma variedade desprestigiada, era amplamente utilizada em 1500. Assim, no existem lnguas inferiores ou pobres em vocabulrio. Cada lngua d a possibilidade de seu usurio poder expressar suas opinies de forma plena.