Sociologia Classica

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7/21/2019 Sociologia Classica http://slidepdf.com/reader/full/sociologia-classica-56e02e9b1d935 1/223 SOCIOLOGIA GERAL ALESSANDRO EZIQUIEL DA PAIXÃO Série Fundamentos da Sociologia

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Pensadores, Sociologia Clássica, entendendo a sociedade e o indivíduo.

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SOCIOLOGIA GERAL

ALESSANDRO EZIQUIEL DA PAIXÃO

Série 

Fundamentos

da Sociologia

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Sociologia geral

[Alessandro Eziquiel da Paixão][Alessandro Eziquiel da Paixão]

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Série 

Fundamentos

da Sociologia

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1ª edição, 2012

Foi feito o depósito legal.

Informamos que é de inteira responsabilidade do autor a emissão de conceitos.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ouforma sem a prévia autorização da Editora Ibpex.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei n° 9.610/1998 epunido pelo art. 184 do Código Penal.

Av. Vicente Machado, 317 – 14º andarCentro – CEP 80420-010 – Curitiba – PR – BrasilFone: (41) [email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Paixão, Alessandro Eziquiel da

Sociologia geral [livro eletrônico] / Alessandro Eziquiel

da Paixão. – Curitiba: Ibpex, 2012. – (Série Fundamentos da

Sociologia)

2 MB ; PDF

Bibliografia.

ISBN 978-85-7838-972-7

1. Sociologia 2. Sociologia – Estudo e ensino I. ítulo.

II. Série.

12-14349 CDD-301.7

Índices para catálogo sistemático:

1. Sociologia : Estudo e ensino 301.7

[Conselho editorial]

Dr. Ivo José Both (presidente)

Dra. Elena Godoy 

Dr. Nelson Luís Dias

Dr. Ulf Gregor Baranow 

[Editor-chefe] Lindsay Azambuja

[Editor-assistente]  Ariadne Nunes Wenger

[Editor de arte] Raphael Bernadelli[Análise de informação] Adriane Beirauti

[Revisão de texto] Filippo Mandarino

[Capa] Raphael Bernadelli; Regiane Rosa

[Projeto gráfico] Bruno de Oliveira

[Iconografia] Danielle Scholtz

[Ilustrações] Marcelo Lopes

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Sumário[...][...]

Apresentação, 9

Introdução, 11

  [[11]]  Contexto histórico do aparecimentoda sociologia, 15

  [[22]]  A institucionalização da sociologia:

Comte e Durkheim, 41

  [[33]]  A sociologia de Karl Marx, 79

  [[44]]  Max Weber e a racionalidade, 113

  [[55]]  Indivíduo e sociedade, 145

  [[66]]  A sociologia e a sociedade contemporânea, 173

Considerações finais, 201

Referências, 205

Bibliografia comentada, 211

Gabarito, 213

Nota sobre o autor, 221

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“Espera-se do sociólogo que, à medida do profeta, dê respostas últi-

mas e (aparentemente) sistemáticas às questões de vida ou de morte

que se colocam dia a dia na existência social. E é-lhe recusada a

 função, que ele tem direito de reivindicar, como qualquer cientista,

de dar respostas precisas e verificáveis apenas às questões que está

em condições de colocar cientificamente: quer dizer, rompendo com

as perguntas postas pelo senso comum e pelo jornalismo.” 

Pierre Bourdieu (1994, p. 36-37)

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Apresentação[...][...]

Este livro traz uma introdução geral ao estudo da sociologia,

tanto no que se refere aos conceitos básicos de autores clássi-

cos quanto em relação à aplicação desse referencial teórico nainterpretação da realidade social. Assim, não é um livro essen-

cialmente “teórico”, mas procura dar conta da aplicação dos

conceitos vistos.

A obra está organizada em seis capítulos. Os quatro primei-

ros são mais teóricos. Os outros dois procuram uma leitura

sociológica da realidade, sem, no entanto, deixar de levantarconceitos teóricos importantes.

O capítulo 1 aborda o surgimento da sociologia no âmbito

do contexto histórico da sociedade capitalista e do advento da

ciência como forma de explicação do mundo.

O capítulo 2 apresenta a institucionalização da sociologia

como ciência, analisando o seu caráter positivista. ambém sãoabordadas nesse capítulo as obras de Auguste Comte e Émile

Durkheim. Especialmente em relação a este último, são anali-

sados alguns dos seus principais conceitos e contribuições para

a sociologia.

O capítulo 3 traz a obra do alemão Karl Marx e sua aná-

lise do capitalismo. Nesse capítulo, é trabalhada a concepção

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materialista da história, o que possibilita compreender a aná-

lise que Marx faz do capitalismo e buscar os elementos para

entender o seu conceito de ideologia.

No quarto capítulo é abordada a obra de Max Weber, partin-

do de seu conceito de ação social para se chegar à sua concep-

ção metodológica: a sociologia compreensiva e a construção

de tipologias. Aqui também é vista a análise que Weber faz da

sociedade capitalista.

O capítulo 5 apresenta alguns conceitos básicos em socio-

logia: socialização, cultura, instituições sociais e identidade.Apesar de parecer um capítulo estritamente teórico, os concei-

tos apresentados são problematizados e analisados à luz da ex-

periência cotidiana.

O capítulo 6 proporciona uma análise sociológica da socie-

dade contemporânea, com base na categoria trabalho. Podemos

afirmar que esse capítulo constitui um “exercício sociológico”,pois recupera vários pontos vistos anteriormente.

  O “exercício sociológico” realizado no último capítulo

apresenta a mesma lógica das atividades apresentadas no final

de cada capítulo, principalmente as atividades de reflexão e as

atividades aplicadas. Nessas atividades é importante o compar-

tilhamento das experiências, mesmo com aqueles que não sãocolegas de estudo. Um debate com uma pessoa sobre determi-

nada atividade proposta pode apresentar outras problematiza-

ções e mesmo esclarecimentos de pontos de vista.

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Introdução[...][...]

Este livro não almeja fazer de seu leitor ou leitora um sociólogo

ou socióloga. Sua pretensão é, sim, a de iniciá-lo(la) no estudo

da sociologia. Esta aparece, muitas vezes, como uma “ciência”dominada por todos. Afinal de contas, quem não sabe como a

família se organiza na nossa sociedade, qual é nossa estrutura

política, como se dão as relações de trabalho em que estamos

ou poderemos estar inseridos? Essas respostas podem, sim, ser

dadas pelo senso comum. Contudo, não serão consideradas

explicações sociológicas. Isso porque os problemas levantados

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pela sociologia não são necessariamente sociais. As questões

trazidas por ela são problemas teóricos, construídos com base

na análise de aspectos históricos, econômicos, culturais e so-

ciais, presentes no nosso cotidiano. E as respostas dadas tam-

bém levam em conta esses mesmos aspectos considerados nas

problematizações.

Dessa forma, o maior desafio da análise sociológica é com-

preender a maneira pela qual os vários níveis de experiência

humana, processos econômicos, culturais, políticos e tecnoló-

gicos contribuem para a conformação de uma estrutura socialespecífica.

Os temas abordados nas próximas páginas não se consti-

tuem em respostas “últimas e sistemáticas” sobre a estrutura

social. Longe dessa pretensão, o que intentamos é levar o leitor

ao desenvolvimento de uma perspectiva sociológica, ao mesmo

tempo que procuramos apresentar conceitos e problematiza-ções básicas da análise e explicação sociológicas.

Alguns aspectos também merecem ser destacados em rela-

ção ao histórico da disciplina de sociologia no sistema educa-

cional brasileiro. No Brasil, o ensino de sociologia passa por

 várias fases. O primeiro momento que é possível identificar

ocorre no início da República, quando o ensino de sociologiaera vinculado à disciplina de moral. Nos anos 1930, a criação

dos cursos superiores de Ciências Sociais na Escola Livre de

Sociologia e Política de São Paulo e a fundação da Universidade

de São Paulo dão maior fôlego à disciplina. Ocorre o desenvol-

 vimento de pesquisas e a preocupação de formação de quadros

intelectuais para o desenvolvimento do país. ambém passa a

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existir uma preocupação com a formação de professores secun-

dários (principalmente para a escola normal). Nesse período,

o que dá força à sociologia é a sua presença na escola normal

como disciplina que poderia retirar a educação de um estado

pré-científico.

A Reforma Capanema (1942), no governo Vargas, retira a

obrigatoriedade da disciplina, e ela desaparece dos currículos

das escolas secundárias, permanecendo nos cursos superiores.

Nas décadas de 1950 e 1960, com a democratização, a sociolo-

gia volta a fazer parte dos currículos, para novamente ser reti-rada no período da ditadura militar. Com a abertura política

nos anos 1980, a sociologia volta timidamente a aparecer como

disciplina escolar.

Entre 1997 e 2001, tramitou uma proposta de inclusão

da sociologia como disciplina obrigatória no ensino médio.

Contudo, o então presidente Fernando Henrique Cardoso vetou a aprovação da lei, usando como argumentos a falta de

profissionais da área, o aumento dos gastos públicos que a in-

clusão da disciplina acarretaria e o fato de que os conteúdos

em questão já estavam contemplados de alguma maneira em

outras disciplinas.

O capítulo mais recente desse histórico é a inclusão da so-ciologia, assim como da filosofia, entre as disciplinas obrigató-

rias em todas as séries do ensino médio, o que abrirá um amplo

mercado de trabalho para a atuação docente na sociologia.

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Contexto histórico do

aparecimento da sociologia[Capítulo 1][Capítulo 1]

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A sociologia pode ser definida, de forma simples, como a ciên-

cia que estuda as sociedades. Ela é produto da tentativa de com-

preensão da realidade social com base na ciência e na razão.

Contudo, os homens sempre formularam explicações sobre a

sua realidade, que nem sempre eram baseadas na ciência. Neste

capítulo estudaremos como foi construída a tentativa de visãocientífica da realidade social. Mas, além de ser produto dessa

tentativa científica de compreensão da realidade, a sociologia

é também produto de transformações históricas. E esse será o

segundo ponto abordado no capítulo.

Com base nesses dois pontos – a abordagem científica da reali-

dade e as transformações históricas –, construiremos ao longodo caminho um conceito de sociologia.

[1.1][1.1]

A construção de uma abordagemA construção de uma abordagemcientífica da realidadecientífica da realidade

A sociologia é uma ciência relativamente recente. Comparadacom outras ciências, podemos dizer que é uma das mais

novas que existem. A tentativa de compreender cientificamente

a realidade social começa a se desenvolver a partir de fins do

século XVIII, na Europa. É nesse tempo que surgem os pri-

meiros trabalhos que começam a apresentar uma perspectiva

sociológica, como resultado de uma sociedade que passava a

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sofrer profundas transformações. Mas, antes de falarmos delas,

é necessário entender o que significa “compreender cientifica-

mente a realidade social”.

O que parece óbvio, mas é importante como condição para

o surgimento da sociologia, é o uso da ciência para explicar a

realidade. É claro que utilizar a ciência para explicar o mundo

não é condição apenas para o surgimento da sociologia, mas

para todas as ciências.

Na nossa sociedade, é muito comum nos valermos dos co-

nhecimentos científicos para explicar e compreender a reali-dade que nos cerca. Por exemplo, vemos todos os dias que o

Sol nasce de um lado do horizonte, atravessa o céu e se põe do

outro lado. O que nossa percepção nos diz é que a erra fica

parada enquanto o Sol se move. Contudo, sabemos que não é

o Sol que se move ao redor da erra, mas a erra que gira em

torno de si mesma e, em última instância, do Sol. Essa respostaou explicação é a ciência que nos dá, apesar de os nossos sen-

tidos nos dizerem o contrário. Ela, em certa medida, contradiz

o que percebemos e vemos, mas sabemos que a resposta dada

pela ciência é a correta.

Quando ficamos doentes, nossa reação pode ser procu-

rar um médico, porque é ele o profissional que detém os co-nhecimentos necessários para nos livrar da doença. Contudo,

podemos também nos valer de outros procedimentos, como

procurar uma benzedeira, fazer uma “simpatia” ou tomar um

remédio caseiro. Nesse caso, para enfrentar o problema (do-

ença), podemos adotar uma conduta baseada na ciência (ir ao

médico), mágica ou religiosa (ir a uma benzedeira ou fazer uma“simpatia”) ou tradicional (tomar um remédio caseiro).

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Assim, nem sempre recorremos à ciência para orientar nos-

so comportamento. Muitas vezes usamos outras formas de ex-

plicação para compreender os fenômenos que nos cercam.

Há algum tempo, era comum ver em algumas casas garrafas

cheias de água sobre o medidor de energia elétrica. Acreditava-

se que tal expediente diminuía o consumo de energia elétrica.

Será que isso era mesmo verdade? Outro exemplo foi a história

do “chupa-cabra”. Vários jornais, noticiários de rádio e progra-

mas de televisão divulgaram matérias sobre a aparição de um

animal desconhecido, que atacava rebanhos na zona rural, chu-pando-lhes o sangue até a morte. Muitas pessoas diziam ter vis-

to o “chupa-cabra”, mas sua existência nunca foi comprovada.

Apesar dos exemplos de utilização de elementos não cien-

tíficos e não racionais para entender o mundo, na nossa socie-

dade a forma de explicação científica é a dominante, ou, dito

de outra maneira, é a forma legítima, aceita como verdadeira.Agora, imagine como os fenômenos eram interpretados quan-

do a ciência ainda não era a forma predominante e legítima de

explicar a realidade. Para entender como se davam essas expli-

cações não científicas e como os homens passaram a interpretar

a realidade de outro modo, investiguemos um pouco a Idade

Média europeia.

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1919

[1.2 ][1.2 ]

A Idade Média e o predomínio da féA Idade Média e o predomínio da féDurante a Idade Média europeia, que durou aproximadamente

mil anos (do século V ao século XV), os homens utilizavamprincipalmente a religião e a tradição para explicar e organi-

zar seu mundo. anto é que esse período é também conheci-

do como Idade das Trevas. O filme O nome da rosa demonstra

como se davam essas explicações. A história do filme se passa

no final da Idade Média, na Europa. O personagem principal

é um monge franciscano chamado William de Baskerville,que pretende explicar as coisas de modo científico e racional.

William é chamado até um mosteiro onde estão acontecendo

algumas mortes misteriosas: todos os internos que leem um li-

 vro tido como proibido acabam morrendo. Os monges do mos-

teiro constroem uma explicação para as mortes baseada na reli-

gião e na fé: acreditavam que todos os que liam o livro morriamporque estavam cometendo um pecado. Uma vez proibido pela

Igreja, aqueles que liam o livro acabavam morrendo em virtude

do pecado cometido. A morte era então uma consequência do

pecado, que despertava a fúria divina. Investigando as mortes,

William descobre que elas não eram um castigo divino, mas que

o livro era envenenado. Os monges morriam porque tomavamcontato com o veneno contido em suas páginas. Entretanto, não

aceitam a explicação racional de William e continuam acredi-

tando na explicação baseada na fé e na religião. Em O nome da

rosa encontramos a essência das explicações durante a Idade

Média. Não só no caso de mortes como as ocorridas no filme,

mas em relação a toda a vida cultural e social, o predomínio

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da fé impedia visões mais científicas sobre a sociedade. Nesse

tempo, o poder da Igreja era muito forte, e ela dominava tanto a

política como as ideias. odo questionamento ou conduta que

fosse contra as regras estabelecidas por ela era considerado um

pecado e, por isso, deveria ser evitado e combatido.

As explicações baseadas na fé perduraram durante quase

todo o período. Mas aos poucos os homens foram procurando

outras formas de explicação. Nessa procura, dois movimentos

ocorridos na Europa são essenciais para o desenvolvimento

de uma perspectiva científica e racional: o Renascimento e oIluminismo.

[1.3][1.3]

O Renascimento e o IluminismoO Renascimento e o IluminismoO predomínio da fé e da religião como formas de explicação

e organização da vida social dura até meados do século XV,

quando começa a perder força. A partir do século XVI, princi-

pia na Europa, um movimento chamado Renascimento se cons-

tituiu em uma tendência cultural laica (isto é, não religiosa),

racional e científica (Falcon, 1994). Era inspirado na cultura

greco-romana e não aceitava os valores e as concepções da

Idade Média. Ou seja, os renascentistas rejeitavam as explica-ções baseadas na fé, no misticismo, na tradição e passaram a

buscar outras explicações para as coisas que aconteciam. Esse

movimento influenciou as artes, a ciência, a literatura e a filo-

sofia. Um exemplo da perspectiva renascentista sobre a socie-

dade está na obra de Nicolau Maquiavel (1469-1527), intitula-

da O príncipe, em que procura investigar a realidade de forma

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realista, mais especificamente as relações de poder. A obra de

Maquiavel (1973) é uma espécie de manual para o governante,

em que o autor separa a moral cristã de uma moral política.

Ou seja, afirma que, para o governante conquistar e manter o

poder, precisa ter uma conduta racional tendo em vista o fim

que pretende, mesmo que para isso tenha de usar métodos não

aceitos pela Igreja, como a violência e a crueldade.

Vamos acompanhar uma passagem de O príncipe, em que

Maquiavel afirma que na esfera política a crueldade pode ser

uma virtude, enquanto a piedade pode se tornar prejudicial aogovernante:

Cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel:

apesar disso, deve cuidar de empregar convenientemente esta pie-

dade. César Bórgia era considerado cruel, e, contudo, sua cruelda-

de havia reerguido a Romanha e conseguido uni-la e conduzi-la à

 paz e à fé [...]. Não deve, portanto, importar ao príncipe a qualifi-cação de cruel para manter os seus súditos unidos e com fé, porque,

com raras exceções, ele é mais piedoso do que aqueles que por mui-

ta clemência deixam acontecer desordens, das quais podem nascer

assassínios ou rapinagem. É que estas consequências prejudicam

todo um povo, e as exceções que provêm do príncipe ofendem ape-

nas um indivíduo. E, entre todos os príncipes, os novos são os quemenos podem fugir à fama de cruéis, pois os Estados novos são

cheios de perigo. (Maquiavel, 1973, p. 75)

Dessa maneira, é possível notar como os ensinamentos e

os dogmas da Igreja são contestados pelas reflexões feitas por

Maquiavel. E essa contestação vai adquirir uma dimensão cada

 vez maior.

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A partir da segunda metade do século XVIII, a Europa pre-

sencia outro movimento intelectual que procura enfatizar a ra-

zão e a ciência para explicar o universo. Esse movimento ficou

conhecido como Iluminismo, o que rendeu ao século XVIII a

denominação de Século das Luzes, pois pretendia lançar “luzes”

sobre os aspectos da realidade que estavam encobertos. Com

o Iluminismo, o homem e a razão são colocados no centro do

universo, e a abordagem científica ganha novo impulso. Como

a ciência “ganha força”, a sociedade também passa a ser vista de

outra maneira. As “luzes” lançadas na sociedade deixam à mos-tra novos elementos (Falcon, 1994). Com o Iluminismo, vários

estudiosos deram sua contribuição à reflexão científica e siste-

mática da realidade social, como o pensador francês Voltaire

(1694-1778), que defendia a razão e combatia o fanatismo reli-

gioso. Outro pensador francês que realizou importantes refle-

xões sobre a sociedade foi Jean-Jacques Rousseau (1712-1778),que estudou as causas da desigualdade social e defendeu a de-

mocracia como forma de governo. Na área de organização po-

lítica, Montesquieu (1689-1755) defendia a criação de poderes

separados (legislativo, executivo e judiciário), da mesma ma-

neira como temos hoje, indo contra o chamado direito divino

dos reis absolutistas (Falcon, 1994).

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Quadro 1.1 − Formas de explicação da realidadeQuadro 1.1 − Formas de explicação da realidade

Religião, fé e tradiçãoReligião, fé e tradição Abordagem científicaAbordagem científica

Predominam até meados doséculo XV.

Utilizam elementos não

científicos.

A partir do século XVI, com

o Renascimento, e do século

XVIII, com o Iluminismo.

Baseada na observação da

realidade.

odas essas contribuições indicam que a observação siste-mática estava predominando sobre elementos religiosos e a tra-

dição como meio de explicar a realidade, aproximando-se de

uma abordagem científica.

[1.4 ][1.4 ]

Começando a definir sociologiaComeçando a definir sociologiaMas o que garrafas de água em cima do medidor de ener-

gia, “chupa-cabras”, monges morrendo em mosteiros da Idade

Média, o Renascimento e o Iluminismo têm a ver com a so-

ciologia? É o uso da razão e da ciência para explicar o mundo.

Com o advento da ciência, as explicações baseadas na fé e na

tradição foram, pouco a pouco, sendo substituídas por formasracionais e científicas de conhecimento. E a maneira como os

homens viviam em sociedade, as relações que estabeleciam, os

distúrbios e os problemas ocorridos em suas vidas passaram

também a ser alvo de uma abordagem científica.

Nessa altura, já podemos começar a construir uma definição

para sociologia. Sociologia é a ciência que estuda a interação do

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indivíduo com a sociedade, as relações que ele mantém, a sua

inserção na coletividade. É o estudo da vida social, dos grupos

e das sociedades. Assim, ela nos ajuda a compreender melhor

as questões relativas à nossa organização social e à forma como

 vivemos coletivamente. Ela nos ajuda a responder questões

que aparecem no nosso cotidiano, bem como a formular novas

questões. Por exemplo: Por que existe tanto desemprego? Será

que as mudanças na forma de produzir têm relação com o au-

mento ou a diminuição do número de ofertas de emprego? A

 violência urbana é um problema que se resolve apenas com oaumento do número de policiais nas ruas? Existe relação entre

pobreza e violência? Por que o Brasil é um país tão rico com

tantos pobres?

Será que nossas respostas a essas perguntas são baseadas na

observação de como esses fatos se construíram ou responde-

mos com base naquilo que achamos que seja a resposta correta?Isso não significa que a sociologia vai nos dar a resposta certa

para tudo. O que é importante é utilizá-la para ter outra visão

dos fatos que ocorrem.

Dessa forma, mais do que uma ciência, a sociologia deve ser

utilizada para conceber novas visões da sociedade e das nossas

relações. Isso quer dizer que deve servir para construirmos umaperspectiva sociológica. Estudar sociologia não deve ser apenas

adquirir conhecimentos ou decorar teorias. É necessário pen-

sar sociologicamente, ou seja, ver os fatos que acontecem em

nossa vida sob outra perspectiva, fugindo das visões rotineiras,

usuais e preconceituosas. Vamos utilizar aqui o exemplo do de-

semprego. Será que o fato de um indivíduo estar empregado

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depende somente de sua força de vontade e dedicação? O desem-

prego pode ser causado pela introdução de novas tecnologias na

empresa em que ele trabalhava, que substituem trabalhadores

por máquinas, ou pela economia da região, que passa por um

período de recessão. Ou ainda pode se dar pela competição no

mercado de trabalho, que exige mais qualificação.

Sociologia é o estudo das sociedades e da organização da vida

social. Com a sociologia é possível abordar cientificamente a rea-

lidade social, as interações entre os indivíduos, as relações quemantêm entre si e com outros grupos. O conhecimento científico

possibilitado por esse estudo permite o desenvolvimento de uma

perspectiva sociológica.

Até aqui vimos como a mudança nas formas de interpreta-

ção do mundo foi essencial para o surgimento da sociologia erefletimos sobre transformações nas formas de olhar o mundo e

na mentalidade dos homens. Mas as mudanças não ocorreram

apenas no campo das ideias. Outras transformações na socieda-

de também foram importantes para o surgimento da sociologia.

Entre elas, duas foram essenciais para essa ciência. rata-se das

“duas grandes revoluções” dos séculos XVIII e XIX na Europa: aRevolução Francesa e a Revolução Industrial, as quais impuse-

ram novos problemas para os pensadores da época.

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2626

[1.5][1.5]

As “duas grandes revoluções”As “duas grandes revoluções” e a consolidação do capitalismoe a consolidação do capitalismo

A Revolução Francesa, em 1789, significou o fim do feu-dalismo na Europa, promovendo profundas transformações na

economia, na vida política e nas formas culturais. O objetivo

era transformar a maneira como a sociedade daquela época se

organizava. A revolução significava, sobretudo, a ascensão de

uma nova classe ao poder: a burguesia. A França de então era

uma sociedade feudal marcada pelos privilégios da nobreza edo clero, enquanto o chamado terceiro Estado  (formado pela

burguesia e por outros grupos sem privilégios) sustentava a

sociedade por meio de impostos e tributos feudais. A nobreza,

constituída por aproximadamente 500 mil pessoas numa po-

pulação de cerca de 23 milhões, constituía uma camada privi-

legiada, que recolhia impostos mas era isenta de pagá-los e queparticipava das decisões políticas do chamado Estado absoluto 

ou Antigo Regime (Hobsbawn, 1981).

O Estado absoluto se fundamentava na concentração de to-

dos os poderes nas mãos do rei. A palavra do rei era a lei e as

razões do Estado deveriam prevalecer sobre tudo. Apesar de já

apresentar uma “razão de Estado”, como vimos no exemplo deMaquiavel, o Absolutismo se apoiava também no direito divino

dos reis: eles eram os representantes de Deus na terra, tendo

assim o direito de governar como quisessem, já que sua palavra

era sagrada. Dessa forma, o rei governava sem nenhum impe-

dimento à sua autoridade, uma vez que concentrava todos os

poderes. E é claro que governava sempre a favor dos interessesda nobreza, já que ele também era um nobre.

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A ascensão econômica da burguesia era prejudicada por esse

tipo de regime. Além dos impostos que pagava à nobreza, a bur-

guesia se deparava com uma série de taxas, restrições e proibi-

ções impostas pelo Estado absoluto. A Revolução Francesa sig-

nificou o fim dos privilégios da nobreza, a destruição do Antigo

Regime e a ascensão da burguesia ao poder. Estava estabeleci-

da, assim, uma nova ordem social, sob o lema da “Liberdade,

Igualdade e Fraternidade”. A Revolução também afetou o poder

eclesiástico, confiscando terras e transferindo para o Estado as

funções tradicionalmente controladas pela Igreja, como a edu-cação e a organização da cultura. Com as modificações promo-

 vidas pela revolução, estava aberto o caminho para a burguesia

estabelecer uma nova ordem social (Bluche; Rials; ulard, 1989;

Hobsbawn, 1981).

A Revolução Industrial se iniciou na Inglaterra no final do

século XVIII e se disseminou por toda a Europa durante o sé-culo XIX. Assim como a Revolução Francesa, a Industrial oca-

sionou um grande número de transformações econômicas e

sociais, intimamente ligadas às inovações tecnológicas – como

novas fontes de energia e a mecanização dos processos de pro-

dução – e a novas formas de organizar o trabalho. Ao transfor-

mar o processo de produção, o modo de vida das pessoas tam-bém foi afetado (Hobsbawn, 1981; Arruda, 1994). A Revolução

Industrial não foi, portanto, apenas a introdução e a criação de

novas tecnologias. Com ela se iniciou o processo de industria-

lização, e os artesãos, que antes produziam em suas casas com

suas ferramentas, passaram a trabalhar sob as ordens do em-

presário capitalista e se sujeitaram a novas formas de conduta

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2828

e relações de trabalho. A produção, antes feita de forma arte-

sanal pelos mestres artesãos, passou a se dar num ritmo fabril,

com o emprego das inovações tecnológicas. A máquina de fiar,

uma das principais invenções do período, era capaz de produ-

zir 80 quilos de fio de uma só vez sob os cuidados de um único

trabalhador. O que antes demorava dias para ser feito poderia

agora ser produzido em algumas horas. Os artesãos saíram de

suas oficinas e foram trabalhar nas primeiras fábricas (Arruda,

1994; Huberman, 1986). O lar como unidade de produção foi

substituído pela fábrica. Nas oficinas eles tinham o controle daprodução e do tempo de trabalho; nas fábricas passaram a ser

submetidos à imposição de longas jornadas sob as ordens de

um patrão, mudando radicalmente a forma de vida habitual.

Além da questão do horário, a produção na fábrica era mais

organizada. Com a divisão das funções, o artesão, que antes

fazia o produto todo, passou a ser responsável por apenas umaparte da elaboração desse produto. Os trabalhadores perderam,

assim, o saber sobre seu trabalho, pois passaram a apenas exe-

cutar ordens estabelecidas. Se antes o artesão era um mestre no

seu ofício, pois dominava totalmente a produção de um obje-

to, com a utilização das máquinas e a divisão das funções na

fábrica ele se transformou em alguém que apenas operava asmáquinas (Marx, 1968).

Este trecho, do historiador Leo Huberman, ilustra como os

trabalhadores passaram a experimentar outro tipo de relação

com o trabalho após a Revolução Industrial:

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2929

 Mas os dias longos, apenas, não teriam sido tão maus. Os trabalha-

dores estavam acostumados a isso. Em suas casas, no sistema do-

méstico, trabalhavam durante muito tempo. A dificuldade foi adap-

tar-se à disciplina da fábrica. Começar numa hora determinada,

 para, noutra, começar novamente, manter o ritmo dos movimentos

da máquina – sempre sob as ordens e a supervisão rigorosa de um

capataz – isso era novo. E difícil. (Huberman, 1986, p. 177-178)

A industrialização é acompanhada pela urbanização da so-

ciedade. Em pouco tempo, entre 1780 e 1860, a Inglaterra pas-

sou de país com pequenas cidades e de população predominan-temente rural para um país com grandes cidades e indústrias.

Um elevado número de camponeses deixava suas propriedades

pressionados pela privatização das áreas comuns dos feudos. A

perda das propriedades, aliada à mecanização da agricultura,

provocou um êxodo rural que contribuiu ainda mais para o

inchaço das cidades (Arruda, 1994).As cidades que se formavam não tinham uma estrutura de

moradias, de serviços sanitários e de saúde para suportar o gran-

de número de pessoas que emigrava do campo. Imagine inú-

meras pessoas chegando a uma cidade onde não existem casas

para morar, nem médicos, nem escolas suficientes; e, apesar

das indústrias, não existia emprego para todo mundo. Novos

problemas apareceram, como o aumento da prostituição, do

alcoolismo, do suicídio e da criminalidade, e surgiram surtos

epidêmicos de tifo e cólera.

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Com essas transformações – industrialização, crescimento

das cidades, êxodo rural – começou a surgir uma nova classe

social, urbana e intimamente ligada à industrialização: o prole-

tariado. Essa classe era constituída por aquele enorme número

de trabalhadores assalariados das novas indústrias nas cidades.

É claro que, com todos os problemas que surgiram nas novas

cidades com o processo de urbanização – violência, alcoolis-

mo, criminalidade, falta de moradia, de saúde, de saneamento

básico –, as condições de vida do proletariado eram muito pre-

cárias (Huberman, 1986). Naquele tempo não existia nenhu-ma lei que protegesse os trabalhadores e que garantisse direitos

importantes, como salário mínimo, jornada máxima de traba-

lho por dia e por semana, férias e todos os demais benefícios

que hoje existem. Quem precisasse trabalhar para sobreviver

era obrigado a aceitar as condições impostas pelos patrões. Os

trabalhadores se sujeitavam, então, às mais precárias condiçõesde trabalho que podiam existir: longas jornadas, salários bai-

xos, más condições de higiene, falta de segurança, entre outras

(Marx, 1968).

E não pense que eram apenas os homens adultos que tra-

balhavam. A indústria empregava um grande número de mu-

lheres e crianças, que recebiam salários menores, e assim o lu-cro do patrão era maior. Muitas crianças com idade inferior a

8 anos trabalhavam em troca de apenas alojamento e comida

(Arruda, 1994).

As péssimas condições de vida e de trabalho dadas à clas-

se trabalhadora não foram aceitas passivamente e levaram a

 várias reações dos trabalhadores, desde manifestações mais

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descontroladas, como destruição de máquinas, sabotagem no

trabalho, roubos e explosão de algumas oficinas, até iniciati-

 vas mais organizadas, como o movimento cartista* e as trade

unions* *. Estas últimas foram se organizando cada vez mais e

mudando seu teor, culminado na criação dos sindicatos. No

campo das ideias também surgiram críticas ao capitalismo e ao

desenvolvimento industrial, que propunham reformas sociais e

a construção de uma sociedade mais justa (Arruda, 1994).

Assim como a burguesia da Revolução Francesa quis aca-

bar com os privilégios da nobreza, os trabalhadores tambémqueriam enfrentar os proprietários das indústrias – isto é, os

burgueses –, que lucravam com seu trabalho enquanto eles

empobreciam cada dia mais. Mas quem eram os burgueses e

qual a relação que tinham com os trabalhadores? Já vimos que

na Revolução Francesa eram eles que queriam (e conseguiram)

acabar com os privilégios da nobreza. Mas, e agora, o que elesqueriam?

Ora, o surgimento das fábricas, associado com as inovações,

como o tear mecânico e a máquina a vapor de James Watt***,

* Movimento cartistaMovimento cartista: movimento organizado pela Associação dosOperários da Inglaterra, entre os anos de 1837 e 1848, que exigia me-lhores condições de trabalho, tais como: limitação da jornada de tra-balho e do trabalho feminino, extinção do trabalho infantil, saláriomínimo. Recebeu essa denominação porque suas reivindicações eramfeitas em forma de cartas às autoridades.

** Trade unionsTrade unions: organizações dos operários das fábricas inglesas duran-te a segunda metade do século XIX, que mais tarde evoluíram para ossindicatos.

*** Em 1769, James Watt desenvolve na Inglaterra um equipamento mo-

 vido a vapor de água que seria como um motor para impulsionar má-quinas. Começa aqui a substituição da força humana pela energia me-cânica.

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3232

fez a produção aumentar enormemente. Com isso aumenta-

ram o lucro do dono da fábrica e o acúmulo de capital, isto é,

de dinheiro. Começou, dessa forma, a se consolidar o sistema

capitalista, que desintegrou os costumes e as tradições até en-

tão existentes. O sistema capitalista é baseado na propriedade

privada e na busca do lucro. Nesse caso, o primeiro objetivo da

produção de mercadorias não é necessariamente a satisfação

das necessidades, mas a obtenção do lucro. E tudo passa a ser

organizado com vistas a esse objetivo*. O capitalista, ou bur-

guês, é aquele que tem a propriedade dos meios de produção,ou seja, das fábricas, das máquinas, das ferramentas, das ter-

ras. A classe trabalhadora, ou proletariado, são aqueles que não

possuem meios de produção e necessitam vender a sua força

de trabalho ao capitalista. Configura-se, assim, uma sociedade

de classes: de um lado, a classe dos proprietários e, de outro, a

classe dos não proprietários.

* Nos próximos capítulos, falaremos mais sobre o capitalismo e veremosas diferentes interpretações que os teóricos da sociologia deram a esse

sistema econômico.

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3434

sociedade exigia outras respostas, ou seja, respostas científicas

e racionais. oda essa nova realidade, que englobava a urbani-

zação, a industrialização, a consolidação do sistema capitalista,

o surgimento da nova classe de trabalhadores que empobrecia

enquanto a burguesia enriquecia, e todos os problemas resul-

tantes dessa situação apareciam aos homens da época como

um “caos social”. A sociedade parecia desorganizada, sem leis

ou normas para seguir. Como a tradição e a religião não con-

seguiam mais dar conta das questões e desafios colocados pela

nova ordem, começou a ser pensada uma ciência que conse-guisse dar respostas e saídas para essa situação: a sociologia.

Acompanhe um trecho que sistematiza a relação entre a so-

ciologia, os efeitos da Revolução Industrial e o surgimento do

capitalismo:

 A sociologia constitui em certa medida uma resposta intelectual às

novas situações colocadas pela Revolução Industrial. Boa parte deseus temas de análise e de reflexão foi retirada das novas situações,

como, por exemplo, a situação da classe trabalhadora, o surgimento

da cidade industrial, as transformações tecnológicas, a organização

do trabalho na fábrica, etc. É a formação de uma estrutura social

muito específica – a sociedade capitalista – que impulsiona uma

reflexão sobre a sociedade, sobre suas transformações, suas crises,seus antagonismos de classe. Não é por mero acaso que a sociologia,

enquanto instrumento de análise, inexistia nas relativamente está-

veis sociedades pré-capitalistas, uma vez que o ritmo e o nível das

mudanças que aí se verificam não chegavam a colocar a sociedade

como um “problema” a ser investigado. (Martins, 2006, p. 16)

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3535

SínteseSínteseVimos como o estudo científico da relação indivíduo-sociedade

é um desenvolvimento relativamente recente, datado de fins do

século XVIII. Um desenvolvimento-chave foi o uso da ciênciapara compreender o mundo – a ascensão de uma abordagem

científica ocasionou uma mudança radical na forma de inter-

pretação e explicação do mundo. Assim, as explicações basea-

das na religião e na tradição foram dando espaço para tentati-

 vas de conhecimento racionais e científicas.

O cenário que deu origem à sociologia abarcou uma sériede mudanças introduzidas pelas “duas grandes” revoluções

dos séculos XVIII e XIX: a Revolução Francesa e a Revolução

Industrial. Ambas acarretaram um grande número de mudan-

ças na sociedade e nas ideias, surgindo daí a necessidade de no-

 vas respostas para os problemas à medida que iam aparecendo.

Dessa forma, a sociologia se constrói como uma aborda-gem da relação indivíduo-sociedade, promovendo, ainda hoje,

a possibilidade de um “outro olhar” sobre a realidade social.

Indicação culturalIndicação cultural

O NOME da rosa. Direção: Jean-Jacques Annaud. Produção: Bernd

Eichinger. Itália/Alemanha/França: 20th Century Fox Film Corporation,1986. 130 min.

Durante a Idade Média, um monge franciscano chega a um

mosteiro europeu para investigar uma série de mortes misteriosas.

Neste filme é possível perceber um momento em que explica-

ções baseadas na fé e na religião cedem lugar para as explicações

científicas e racionais. Porém, como é um momento de transição,

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ainda não existe o predomínio de uma das formas, que passam a

travar um jogo de forças.

Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1) Durante a Idade Média europeia a Igreja dominava tanto o

campo das ideias como das relações sociais. Nesse contexto,

as formas de explicação dos fenômenos e a organização da

 vida social que predominavam eram:

a) obtidas mediante a observação dos fatos e fenômenos

que ocorriam.b) baseadas numa tentativa de explicação científica, já que

a Igreja dominava e por isso detinha os conhecimentos

científicos da época.

c) marcadas pela influência da fé e da religião, que eram

consequências do domínio da Igreja sobre a sociedade.

d) racionais e científicas, uma vez que a sociedade já nãoaceitava outro tipo de explicação.

2) A Revolução Francesa é um dos acontecimentos importan-

tes para o surgimento da sociologia. Essa importância se

deve ao fato de:

a) transformar a sociedade, quebrando os privilégios feu-dais e colocando uma nova classe em evidência: a bur-

guesia.

b) reafirmar o poder da Igreja e da nobreza, uma vez que

eram esses grupos que promoveriam o desenvolvimento

da sociedade.

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c) fortalecer o Estado Absolutista, o que favorecia a bur-

guesia e o desenvolvimento do capitalismo.

d) reafirmar o “direito divino dos reis”, pois daria a ele a

condição de fazer as transformações necessárias para

pôr fim aos privilégios dos nobres.

3) Sobre a Revolução Industrial e a sua importância para a for-

mação da sociologia, é correto afirmar que:

a) as inovações tecnológicas desse período ficaram res-

tritas apenas ao âmbito da produção, não acarretando

maiores implicações sociais.b) possibilitou a melhora das condições de vida dos tra-

balhadores, já que a produção de mercadorias cresceu

muito.

c) ocasionou um grande número de transformações eco-

nômicas e sociais, intimamente ligadas às inovações tec-

nológicas.

d) significou apenas a introdução e a criação de novas tecno-

logias, sem maiores consequências para a ordem social.

4) Analise as seguintes afirmações sobre a importância das

“duas grandes revoluções” para o surgimento da sociologia:

I. As duas revoluções provocam um período de estabili-dade social, o que permitiu à sociologia se desenvolver

tranquilamente.

II. As transformações provocadas por essas duas revoluções,

tanto no campo das ideias como na sociedade, desafia-

ram os pensadores a formular uma explicação científica

da realidade social.

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III. As revoluções ajudaram a sociologia a se aproximar da

religião e, assim, a produzirem, juntas, uma nova expli-

cação da realidade.

IV. Não tiveram tanta importância para o surgimento da so-

ciologia, já que essa ciência tem suas origens dentro do

meio religioso e místico.

V. Elas desorganizaram a sociedade, o que foi crucial para

o surgimento de uma ciência que pudesse resolver os

novos problemas que surgiram decorrentes dessas revo-

luções.São verdadeiras as seguintes afirmações:

a) I e II.

b) II e V.

c) III e IV.

d) I, II e III.

5) Considere as seguintes afirmações sobre o conceito de so-ciologia:

I. A sociologia limita-se a uma coleção de conhecimentos

sobre a realidade social.

II. O seu estudo deve servir também para construir uma

nova visão da realidade social.

III. Aborda a relação do indivíduo com a coletividade, pro-

curando perceber a maneira como se dão as interações

na vida coletiva.

IV. Podemos afirmar que é, de origem, uma ciência urbana,

capitalista e tem seu berço na Europa.

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V. Já é uma ciência pronta, isto é, já tem todo o seu referen-

cial teórico desenvolvido e não existem divergências na

interpretação dos dados sociais.

São verdadeiras as seguintes afirmações:

a) I, II e III.

b) II, III e IV.

c) II e III.

d) I, IV e V.

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagem

Questões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Com base nas reflexões contidas neste capítulo, discuta, em

grupo, quais foram as consequências para a sociedade da

mudança de local de trabalho da casa para a fábrica, provo-

cada pela Revolução Industrial. Após a discussão, faça uma

síntese das conclusões formuladas.

2) A sociologia pode ser considerada uma “ciência da crise”.

Retome a citação de Martins (2006, p. 16), reproduzida na

p. 34 deste livro, e relacione a instabilidade da sociedade

capitalista que se formava com o surgimento da sociologia.

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática

  Como foi visto, a sociologia não deve ser apenas uma co-

leção de conhecimentos e teorias sobre a realidade social.

Ela deve servir para que formemos uma “visão sociológica”

do mundo. Com base nesse princípio, exercite essa “visão’

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por meio de uma pesquisa. Converse com o trabalhador ou

trabalhadora de uma indústria (pode ser pai, irmão/irmã,

 vizinho/vizinha) e procure obter dele ou dela as seguintes

informações:

a) Qual o produto fabricado na indústria em que trabalha.

b) Qual parte do produto ele ou ela fabrica.

c) Que tipo de conhecimento está envolvido na tarefa que

realiza.

d) Indague da pessoa se ela seria capaz de, sozinha, fabricar

o produto inteiro.

Após obter essas informações, faça uma pequena relação

das respostas obtidas com o que aconteceu com os primeiros

trabalhadores das fábricas na época da Revolução Industrial.

Guarde uma cópia dessa conclusão para retomá-la no final do

curso.

 

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A institucionalização da sociologia:

Comte e Durkheim[Capítulo 2][Capítulo 2]

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4242

Como vimos no capítulo anterior, a sociologia surgiu na Europa

como uma resposta intelectual e prática para as transformações

na ordem social que as duas “grandes revoluções” provocaram.

Era uma resposta intelectual, pois as transformações desafia-

 vam os pensadores a formularem novas explicações para uma

nova ordem, sob um olhar científico e racional. Mas era tam-bém uma resposta prática, uma vez que as transformações tra-

ziam novos problemas concretos à sociedade e era preciso en-

contrar saídas para tais problemas.

Veja como Florestan Fernandes, um dos grandes sociólogos

brasileiros, reflete sobre o surgimento e o desenvolvimento da

sociologia:

Ela nasce e se desenvolve como um dos florescimentos intelectuais

mais complicados das situações de existência das modernas socie-

dades industriais e de classes. E seu progresso, lento mas contínuo,

no sentido do saber científico-positivo, também se faz sob a pressão

das exigências dessas situações de existência, que impuseram, tanto

ao pensamento prático quanto ao pensamento teórico, tarefas de-masiado complexas para as formas pré-científicas de conhecimento.

(Fernandes, 1977, p. 11)

Como demonstra o trecho acima, à medida que novos pro-

blemas iam aparecendo, novas respostas foram sendo necessá-

rias. Isso significa que as primeiras interpretações e formulações

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4343

sobre a vida social não eram definitivas, assim como ainda não

o são. Respostas mais simples foram substituídas por respostas

mais complexas, que foram se aprimorando cada vez mais. Em

outras palavras, a sociologia foi construindo um corpo de in-

terpretações.

Ao longo deste capítulo, acompanharemos a instituciona-

lização da sociologia como ciência, numa discussão que passa

pela definição de seu objeto e pela diferenciação da sociologia

das outras ciências. Veremos concomitantemente as aborda-

gens sociológicas construídas por dois fundadores da sociolo-gia: Auguste Comte e Émile Durkheim.

[2.1][2.1]

A institucionalização da sociologia:A institucionalização da sociologia:seu campo de atuaçãoseu campo de atuaçãoComo a nova ordem social se mostrava com vários problemas,

as respostas dadas pela ciência que começava a se formar apre-

sentavam um caráter conservador. Os primeiros pensadores

 viam as mudanças ocorridas na sociedade apenas pelo lado

da desorganização e dos problemas que causavam. Eles chega-

 vam mesmo a desejar uma volta à sociedade feudal, com sua

estabilidade, hierarquia e valores tradicionais. Miséria, pobreza,desemprego, crimes, violência eram vistos como fruto das mu-

danças e do progresso ocorridos (Martins, 2006).

A Revolução Industrial, por outro lado, trouxe a eficácia do

novo saber inaugurado pela ciência moderna, com múltiplas

inovações e realizações. A física, a química e a biologia mostra-

ram o poder de transformação da ciência (Arruda, 1994).

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4444

Os pensadores das ciências humanas ficaram como que fas-

cinados com os resultados e os avanços dessas ciências natu-

rais. Como não tinham ainda um método próprio para abordar

seu objeto, resolveram adotar o método das ciências naturais.

Usando esse método e acreditando no poder transformador da

ciência, os primeiros pensadores da realidade social tiveram o

seguinte raciocínio: já que a ciência pode transformar a pro-

dução de mercadorias, criar novos produtos e novas fontes de

energia, ela pode também restabelecer a ordem na sociedade

(Martins, 2006; Minayo, 2000).Antes de prosseguirmos, entretanto, é importante refletir

sobre alguns termos essenciais para compreender o que foi dito

até agora. Vamos começar com a questão do método.

 Método significa o caminho que fazemos para atingir um ob-

 jetivo, uma meta. Da mesma forma que, quando viajamos, esta-

belecemos um roteiro − planejando as paradas a fazer, onde des-cansar, a rota a seguir, se iremos durante o dia ou durante a noite

–, a ciência também desenvolve “caminhos” para atingir seus ob-

 jetivos. No método científico são definidos os procedimentos,

as técnicas, a maneira como será abordado o objeto de estudo,

os critérios que serão empregados, as condições de abordagem,

como serão medidos os resultados. O método científico garantea legitimidade do conhecimento científico, ou seja, garante que

ele seja aceito como verdadeiro (Minayo, 2000).

Vamos pensar no seguinte exemplo: Qual método seria mais

adequado para medirmos a espessura de uma folha de papel?

Poderíamos usar um paquímetro ou poderíamos usar a técni-

ca de pegar várias folhas, medir a espessura de todas juntas e

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dividir pelo número de folhas. Isso é uma questão de método,

ou seja, o que usaremos para atingir nossa meta. Se usássemos

uma régua para atingir o objetivo desejado (medir a espessura

da folha de papel), o resultado poderia não ser tão “verdadei-

ro” ou mesmo ser diferente do método de medir várias folhas

 juntas.

O método científico se refere aos procedimentos, às técnicas, à

maneira como será abordado o objeto de estudo. A definição

desses elementos – procedimentos, técnica, abordagem – garan-te a legitimidade do conhecimento científico.

Outra questão importante é a distinção entre ciências hu-

manas e ciências naturais. As ciências humanasciências humanas  (ou ainda

ciências sociaisciências sociais) são aquelas que têm o ser humano e as suas

relações como objeto de estudo. Fazem parte das ciências hu-manas a psicologia, a sociologia, a geografia humana, a história,

a linguística. As ciências naturaisciências naturais  são aquelas que têm como

objeto de estudo a natureza. Entre elas temos a física, a química,

a biologia. Ainda poderíamos considerar uma terceira classifi-

cação, a denominada ciências formais, que abrangeria a mate-

mática e a lógica (Minayo, 2000; Santos, 1995).

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4646

Quadro 2.1 − Diferença entre ciências humanas e ciências naturaisQuadro 2.1 − Diferença entre ciências humanas e ciências naturais

Ciências humanasCiências humanas Ciências naturaisCiências naturais

êm o ser humano e suas rela-

ções como objeto de estudo.

Não existe a possibilidade de

separação clara entre o objeto

de estudo e o pesquisador.

Sociologia, psicologia, geo-

grafia humana, história,

linguística.

O objeto de estudo é a natureza.

Existe a possibilidade da sepa-

ração entre objeto de estudo e

pesquisador.

Física, química, biologia, ana-

tomia, fisiologia.

Enquanto as ciências naturais possuem como objeto algo

que se encontra fora do pesquisador, nas ciências humanas o

próprio pesquisador faz parte daquilo que estuda. Não existe

uma separação clara entre o objeto e o sujeito que quer conhe-

cer. Nenhum sociólogo pode ignorar o fato de que faz parte

daquilo que estuda: a sociedade e as relações sociais. Mesmo

que o sociólogo estude uma sociedade diferente da sua, estará

sempre inserido numa rede de relações como aquela que irá

estudar (Santos, 1995).

A complexidade do objeto aparece como uma peculiaridadedas ciências humanas em relação às ciências naturais. Um quí-

mico que pretenda estudar as reações químicas pode manipular

o seu objeto de estudo no laboratório, tentando simplificá-lo e,

percebendo o que é constante, pode repetir as reações inúme-

ras vezes, podendo controlar as condições de realização da ex-

perimentação. Nas ciências humanas, esses procedimentos não

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são possíveis. As pessoas não se comportam sempre da mesma

maneira, ainda que a situação seja a mesma, isto é, o comporta-

mento humano é inconstante, resulta de particularidades, he-

ranças sociais, e é motivado por desejos, paixões, ódio e uma

série de fatores que não podem ser facilmente isolados e sim-

plificados. odas essas peculiaridades e complexidade das ciên-

cias humanas ocorrem porque seu objeto é também sujeito do

conhecimento (Giddens, 2005; Minayo, 2000; Santos, 1995).

Agora que já vimos um pouco sobre o método e sobre a dis-

tinção entre ciências humanas e ciências naturais, vamos voltarà sociologia e conhecer um pouco da obra de Auguste Comte.

[2.2][2.2]

A obra de Auguste Comte e o positivismoA obra de Auguste Comte e o positivismoO francês Auguste Comte (1791-1857) aparece como um dos

pioneiros na elaboração tanto da sociologia quanto das respos-

tas que ela poderia dar aos desafios que lhe eram colocados.

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Auguste ComteAuguste Comte nasceu em Montpellier, na França, em umafamília católica e monarquista. Como nasceu logo após a

Revolução Francesa, presenciou os desdobramentos da nova

sociedade que surgia. Com formação em matemática e filo-

sofia, chegou a estudar medicina e fisiologia. Foi o fundador

do positivismo. Durante toda a sua vida sofreu com crises

melancólicas e depressivas. Morreu em Paris, no dia 5 de

setembro de 1857. Suas principais obras são: Curso de filo-

sofia positiva, dividida em seis tomos (1830-1842); Discurso

sobre o espírito positivo (1844); Sistema de política positiva,

dividida em quatro tomos (1851-1854); Síntese subjetiva 

(1856) (Comte, 1983b; Aron, 2003; Giddens, 2005).

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4949

Comte é o criador do termo sociologia para designar o estudo

sistemático da sociedade. Esse termo aparece pela primeira vez no

quarto tomo de sua obra Curso de filosofia positiva, de 1839.

A primeira denominação que a sociologia recebeu foi a de

 física social , que está proximamente relacionada com a manei-

ra como os primeiros sociólogos pensavam e viam a sociedade.

Eles achavam que a sociedade e os objetos das outras ciências

deveriam ser abordados da mesma forma. Defendiam então um

mesmo método tanto para as ciências naturais quanto para as

ciências humanas. Assim, foi inaugurada uma maneira de con-ceber as ciências humanas que recebeu o nome de positivismo

(Comte, 1983b).

A concepção positivista propôs o estabelecimento de critérios

rígidos para a ciência, exigindo que ela se fundasse na observa-

ção dos fatos. Por meio dessa observação seria possível descobrir

as leis gerais que permitiriam compreender o funcionamento dassociedades e, assim, prever o seu estado futuro. Da mesma forma

que o químico poderia prever como se dariam as reações entre

elementos químicos depois de descobrir as leis de funcionamen-

to dessas reações, o sociólogo seria capaz também de identifi-

car leis invariáveis de funcionamento da coletividade e prever os

acontecimentos com base no entendimento dessas leis.A metodologia da sociologia deveria comportar a observa-

ção, a comparação e a classificação de modo semelhante ao que

faziam as ciências naturais e ainda apresentar uma linha evo-

lutiva – filiação histórica – que permitisse conhecer o passado

e conduzir ao futuro. Comte via a sociedade e os indivíduos

marcados pela limitação dentro das leis naturais da sociedade,

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as quais deveriam ser conhecidas para se avançar na linha evo-

lutiva (Comte, 1983b).

Além disso, de acordo com a concepção positivista, deve

haver a separação entre o objeto e o sujeito pesquisador, bem

como a neutralidade da ciência. Pense um pouco sobre essa

concepção: seria possível estudarmos a sociedade sem levar em

conta aquilo em que acreditamos ou a maneira como a vemos?

Pois bem, a concepção positivista acreditava que sim. Assim

como o químico estudava as fórmulas e os elementos sem

que suas concepções influenciassem no resultado da pesqui-sa, os pesquisadores sociais também deveriam ter essa postura.

Vamos ver mais sobre a maneira como Comte compreendia a

sociedade e a sociologia e poderemos entender melhor a sua

postura positivista.

PositivismoPositivismo

Postula que a ciência deve se fundar na observação, na compara-

ção e na classificação.

A ciência deve procurar leis gerais de validade universal.

Postula a separação rígida entre pesquisador e objeto de estudo.

Defende a possibilidade de previsão de estados futuros.

Busca a normatização e a ordenação daquilo que estuda.

udo aquilo que foge das “leis gerais” pode ser considerado

patológico.

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5151

O pensamento de Comte refletia os momentos turbulentos

de seu tempo. A Revolução Francesa introduzira mudanças

significativas na sociedade, e o crescimento da industrialização

estava alterando a vida tradicional da população francesa. Na

concepção positivista de Comte os fenômenos sociais estavam

submetidos a leis invariáveis, da mesma maneira que os fenô-

menos físicos, químicos e biológicos (Comte, 1978b, 1978c).

Além dessa visão dos fenômenos sociais, Comte tinha uma vi-

são evolucionista da sociedade, pela qual o ápice do desenvolvi-

mento consistia no padrão apresentado pela Europa civilizada.Perceba que esse é um modelo “copiado” da biologia, mais es-

pecificamente da teoria evolucionista de Charles Darwin (Aron,

2003; Cohn, 1977).

À sociologia cabia descobrir as leis que regiam essa socie-

dade e, a partir daí, reorganizá-la, conduzindo-a ao seu pleno

desenvolvimento. Uma vez alcançada a ordem, a sociedade po-deria progredir. Um exemplo da maneira como a concepção

positivista foi aplicada na sociedade está no nosso próprio país.

Na proclamação da República brasileira, as ideias positivistas

foram muito marcantes, influenciando vários republicanos e

contribuindo para o amadurecimento de suas ideias. Essa in-

fluência ficou marcada no lema de nossa bandeira: “Ordem eprogresso”.

Da mesma forma como as sociedades progrediam por meio

da ordem, para Comte (1978b, 1978c) as ciências também evo-

luíam dentro de uma escala, em que a sociologia só se poderia

constituir como ciência a partir do momento em que seu objeto

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– o sistema social – houvesse chegado à sua última fase de de-

senvolvimento. Note como as ideias de evolução e ordem são

características do pensamento positivista.

O surgimento da sociologia é situado por Comte (1978b)

num contexto em que a sociedade apresentava dois movimen-

tos: de desorganização e de organização. Para o autor, a socie-

dade passava por um momento de profunda desorganização,

de anarquia e de instabilidade, cabendo à sociologia – como

ciência positiva – restabelecer a ordem, colocando a sociedade

novamente no seu caminho “natural” de desenvolvimento, ten-do sempre como padrão, é claro, a sociedade europeia. Nesse

aspecto fica evidente a concepção positivista da sociologia de

Comte: a produção de um conhecimento sobre a sociedade

fundamentado em evidências empíricas, formuladas com base

na observação, na comparação e na experimentação; com isso

poderiam ser formuladas leis universais que permitissem pre-dizer e controlar os acontecimentos. Isso significava que, uma

 vez descobrindo as leis gerais que regiam o funcionamento da

sociedade, seria possível dizer em que sentido ela iria se desen-

 volver, e mesmo, direcionar esse desenvolvimento.

Vamos acompanhar uma citação de Comte, em que ele ain-

da denomina a sociologia de física social  e demonstra o caráterevolutivo do pensamento positivista:

Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o

estudo dos fenômenos sociais, considerados com o mesmo espírito

que os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto

é, como submetidos a leis naturais e invariáveis, cuja descoberta é

o objetivo especial de suas pesquisas. Propõe-se, assim, a explicar

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diretamente, com a maior precisão possível, o grande fenômeno do

desenvolvimento da espécie humana, considerado em todas as suas

 partes essenciais; isto é, a descobrir o encadeamento necessário das

transformações sucessivas pelo qual o gênero humano, partindo de

um estado apenas superior ao das sociedades dos grandes macacos,

 foi conduzido gradualmente ao ponto em que se encontra hoje na

Europa civilizada. O espírito dessa ciência consiste sobretudo em

ver, no estudo aprofundado do passado, a verdadeira explicação do

 presente e a manifestação geral do futuro. (Comte, 1983b, p. 53)

Na sua obra Curso de filosofia positiva, Comte (1978b) for-mulou a teoria dos três estágios pelos quais passaria o conheci-

mento humano até o seu pleno desenvolvimento: o teleológico,

o metafísico e o positivo ou empírico. No primeiro estágio, os

pensamentos seriam guiados pela fé e pelas crenças, e a socieda-

de aparece como resultado da vontade divina. No estágio meta-

físico, a vontade divina como fundamento da sociedade é subs-tituída pelas causas naturais. A causa sobrenatural cede espaço

às causas naturais como explicação dos fenômenos. No estágio

positivo – último estágio do desenvolvimento do conhecimento

humano – a ciência seria a forma de explicação do mundo e da

natureza e uma ferramenta de reforma para a sociedade.

Nesse sentido, o homem precisaria passar por uma refor-ma intelectual, para que a sua maneira de pensar fosse alterada.

Uma vez modificada essa forma de pensar, a sociedade e suas

instituições seriam também reformadas. Haveria, assim, a pro-

dução de um consenso moral, conseguido mediante a razão e

a ciência.

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No fim de sua carreira, Comte (1978a) propõe o estabeleci-

mento de uma religião da humanidade, pela qual os dogmas e os

preceitos da fé seriam substituídos pelos fundamentos científicos.

Essa intenção de Comte fica evidente no ensaio que escreve inti-

tulado Catecismo positivista, obra publicada em 1852. Note que

Comte não propõe o fim da religião, pois acreditava que ela era

uma necessidade do homem e da sociedade. O que ele propõe é

uma “religião científica”, e a sociologia estaria no centro dessa reli-

gião, pois é ela que pode compreender e reorganizar a sociedade.

Hoje podemos perceber que as concepções e as previsõesde Comte em relação ao uso da sociologia para a restauração

da sociedade não se realizaram. A sociologia não é uma ciência

que pode “prever” os acontecimentos sociais ou mesmo tem a

capacidade de, sozinha, reformar a sociedade. Entretanto, mes-

mo sendo uma obra considerada superada como fundamento

teórico-explicativo, é preciso levar em conta a importância deComte para o surgimento da sociologia e considerar – como

afirma o próprio Comte – que “a época das conquistas não

pode ser a dos limites precisos” (Comte, 1983b, p. 67).

Aqui é importante atentar para uma distinção realizada por

Cohn (1977) entre os clássicos e os fundadores da sociologia.

Nessa discussão, os clássicos são aqueles pensadores cujas re-flexões continuam levantando problemas e propondo respostas

a eles. Aí se incluem Marx, Durkheim e Weber. Os fundadores,

como Comte, são aqueles cujas obras foram importantes para o

estabelecimento e a afirmação da ciência, mesmo que elas não

tenham mais fôlego explicativo.

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Para ComteComte  (1978a, 1978b, 1983a, 1983b), a sociologiasociologia  deveria

descobrir as leis gerais que regiam a sociedade. Assim, com o co-

nhecimento dessas leis seria possível conduzir a sociedade ao seu

pleno desenvolvimento e mesmo prever como estaria no futuro.As ideias de evolução e ordem são recorrentes no pensamento po-

sitivista de Comte. Ele buscava um conhecimento baseado em evi-

dências empíricas, formuladas com base na observação, na com-

paração e na experimentação. Propunha também para as ciências

sociais um método semelhante ao método das ciências naturais.

Agora, veremos outro pensador da sociologia influen-

ciado pelo positivismo de Comte: o também francês Émile

Durkheim.

[2.3][2.3]

Durkheim e os fatos sociaisDurkheim e os fatos sociaisDurkheim propôs uma metodologia científica para a sociologia

que permitisse o estudo de leis “concretas”, e não generalida-

des abstratas. Buscou construir conceitos que possibilitassem a

abordagem da realidade social.

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Émile DurkheimÉmile Durkheim nasceu em Épinal, França, em 15 de abrilde 1858, numa família judia. Estudou na École Normale

Supérieure de Paris, onde se doutorou em Filosofia. Em 1877

assumiu a primeira cadeira de sociologia da Universidade

de Bordeaux. Perdeu seu único filho em 1915, durante a

Segunda Guerra Mundial. É considerado o fundador da

sociologia moderna, estudando profundamente os fenôme-

nos sociais de sua época. Faleceu em Paris, no dia 15 de no-

 vembro de 1917. Suas principais obras são: A divisão do tra-

balho social  (1893); As regras do método sociológico (1894);

O suicídio  (1897),  As formas elementares da vida religiosa 

(1912) (Aron, 2003; Cohn, 1977; Giddens, 2005).

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Comecemos o estudo sobre Durkheim com um exercício.

Vamos pensar em como definir sociedade. Poderíamos dizer,

de maneira rápida, que a sociedade é formada pelos indivíduos.

Pois bem, para Durkheim, não é a sociedade que é formada

pelos indivíduos, e sim o contrário: é a sociedade que forma os

indivíduos (Aron, 2003). Isso porque Durkheim considerava

que a sociedade prevalece sobre os indivíduos e é ela que os

molda. Ao longo do estudo, analisaremos melhor essa noção da

superioridade da sociedade sobre o indivíduo em Durkheim.

Uma de suas preocupações centrais está em delimitar o cam-po da sociologia de maneira clara: o que essa ciência irá estudar?

A tarefa começa pela definição de seu objeto – o fato social.

Os fatos sociais  são maneiras de agir, de pensar, de sentir

que se impõem aos indivíduos (Durkheim, 1960, 1983a). São

dados pela coletividade, pela sociedade. ais fatos são diferen-

tes dos fatos estudados em outras ciências por terem origem nasociedade, e não na natureza (como nas ciências naturais) ou

no indivíduo (como na psicologia). A sociedade aparece como

um conjunto de leis, normas, ações, pensamentos e sentimen-

tos que tem a sua existência determinada não pelas consciên-

cias individuais, mas fora delas, no meio social. Ou seja, a so-

ciedade é um meio exterior e independente dos indivíduos, e énesse meio que se encontram os fatos sociais. Daí a importância

de sua definição de fato social e das características que estes

apresentam, pois somente entendendo suas características po-

deremos reconhecê-lo e entendê-lo, compreendendo, assim, a

sociedade em que vivemos. Vamos então às características dos

fatos sociais.

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Durkheim (1960) afirma que os fatos sociais têm três carac-

terísticas básicas que permitem sua identificação na realidade:

a exterioridade, a coercitividade e a generalidade/coletividade.

Os fatos sociais são exterioresexteriores, pois existem fora das cons-

ciências individuais. As normas, as regras de conduta não são

criadas pelos indivíduos isolados, mas pela coletividade, e os

indivíduos já as encontram prontas quando nascem.

Os fatos sociais são coercitivoscoercitivos porque as regras e as condu-

tas sociais se impõem aos indivíduos. Ninguém é obrigado a fa-

lar o português culto, mas ignorar essa regra em determinadosambientes é inviável, não existe uma lei que obrigue as pessoas

a falar o português correto, mas, se as pessoas vão contra esse

“fato”, a coercitividade se revela e faz sentir a sua força (Abel,

1972). Assim, muitas vezes, essa característica só se manifesta

quando o indivíduo vai contra o fato social.

Quanto à generalidade/coletividade, Durkheim afirma queos fatos sociais são geraisgerais porque são coletivoscoletivos, e não o contrá-

rio. Ou seja, aparecem nas partes (indivíduo) porque estão no

todo (sociedade). Por exemplo, a maioria dos habitantes de um

país é de religião católica porque a coletividade assim determi-

na; a explicação está na coletividade. Não se poderia entender

esse fenômeno – a maioria dos habitantes de um país ser católi-ca – a partir dos indivíduos, mas somente a partir do coletivo.

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5959

Fatos sociaisFatos sociais são o objeto de estudo da sociologia. São maneiras

de agir, de sentir, de pensar, de compreender, de interpretar, im-

postas aos indivíduos pela sociedade.

A educação é um bom exemplo para aplicarmos e entender-

mos a definição de fato social. Quando nascemos, ainda não

sabemos a maneira de nos comportarmos e de agirmos em so-

ciedade. Com o passar do tempo, vamos aprendendo os gostos,

os hábitos e as maneiras de agir, de sentir e de ser do grupo

social ao qual pertencermos. Assim, toda organização social

precisa “repassar” estas “informações” – maneiras de ser, de

sentir, de agir, os gostos, os hábitos – aos seus membros, para

que sejam possíveis a perpetuação e o funcionamento da socie-

dade (Rodrigues, 2004). É esse “repasse” de informações que

Durkheim define como educação e que perpetua a existência

do grupo apesar da morte dos indivíduos:

 A educação é a ação exercida pelas gerações adultas sobre as ge-

rações que não se encontram ainda preparadas para a vida social;

tem objeto suscitar e desenvolver, na criança, certo número de es-

tados mentais, físicos, intelectuais e morais, reclamados pela socie-

dade política no seu conjunto e pelo meio especial a que a criança, particularmente, se destine. (Durkheim, 1962, p. 27)

Assim, quando nascemos, já encontramos algo pronto, que

nos é transmitido por outras pessoas e que exerce uma força

sobre nós. A educação aqui considerada não se refere apenas à

educação que recebemos na escola, mas inclui também aquela

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que recebemos em casa, na rua, no bairro, na igreja, na tele-

 visão. Esse processo de educação também recebe o nome de

socialização, que nada mais é do que o processo de aprender a

ser membro de uma sociedade (Berger; Berger, 1977b).

Outro conceito importante de Durkheim (1960, 1983a) é o

de consciência coletiva. Esta constitui um sistema de represen-

tações coletivas independente dos indivíduos. Ela é formada

pelo conjunto de normas, leis, gostos, hábitos, modos de agir,

de pensar e de sentir, que são coletivos. É importante entender-

mos que o fundamento, a origem deste conjunto de elementos,é o meio social (Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002). É no

coletivo que esses elementos se originam e daí vão para os in-

divíduos. Assim, a consciência coletiva não se refere apenas à

reunião das consciências individuais num todo. A consciência

é coletiva pois tem como substrato o social, o coletivo, e não

o indivíduo. É como se a consciência coletiva pairasse sobre asociedade como uma “nuvem” que fornecesse aos indivíduos

os modos de pensar, de agir e de sentir, os hábitos e as maneiras

de fazer, de entender e de falar.

Dessa forma, os fatos sociais – educação, moral, direito, re-

ligião – determinam uma consciência coletiva e um dado meio

moral da sociedade. Assim, a consciência coletiva, formada por vários modos e maneiras de pensar, de sentir, de agir – ou seja,

formada por vários fatos sociais –, determinará o que pode e é

aceitável em sociedade, as condutas que se devem adotar, o que

é permitido, o que é proibido e o que é tido como estranho ou

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imoral. É por isso que se diz que a consciência coletiva é de-

terminada por um dado meio moral, e este, por sua vez, deter-

mina as consciências individuais. Assim, percebe-se mais uma

 vez, como na leitura de Durkheim, a sociedade prevalece sobre

o indivíduo.

Com base nessa leitura, a própria noção de individualidade

que temos hoje é propiciada pelo meio social. Um cidadão só

será flamenguista, de esquerda, alfabetizado, gostará de lasa-

nha, porque o meio social lhe dá – ou impõe – essas alternati-

 vas para construir sua individualidade.Dentro de sua orientação metodológica, Durkheim propõe

tratar os fatos sociais como “coisas”. E tratá-los como “coisas”

significa tratá-los como objetos do conhecimento que a percep-

ção humana não penetra de modo imediato, necessitando do

auxílio da ciência (Aron, 2003; Quintaneiro; Barbosa; Oliveira,

2002; Abel, 1972). Abordar os fatos sociais dessa maneira sig-nifica ter com eles um procedimento de análise diferente do

senso comum. Com isso, Durkheim enfatiza a posição de neu-

tralidade e objetividade que o pesquisador deve ter em relação

à sociedade: ele deve descrever a realidade social sem deixar

que suas ideias e opiniões interfiram na observação dos fatos

sociais. É possível perceber, então, uma influência positivistanas reflexões de Durkheim.

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6262

[2.4][2.4]

O olhar de Durkheim sobre a sociedadeO olhar de Durkheim sobre a sociedadeAssim como Comte, Durkheim vê a sociedade em um estado de

desorganização (Aron, 2003). E aqui podemos perceber melhora influência positivista em sua obra. Na sociologia durkheimia-

na, a coesão da sociedade é um dos elementos que merecem

uma preocupação teórica.

Durkheim (1983a) faz uma distinção entre sociedades tra-

dicionais e sociedades modernas. As sociedades tradicionais

apresentam pouca diferenciação entre os indivíduos e poucadivisão do trabalho. Ou seja, os indivíduos são muito parecidos

uns com os outros. Por exemplo, numa tribo indígena, todos

os homens sabem caçar, pescar e cultivar a terra. Da mesma

maneira, todas as mulheres sabem cuidar dos filhos, têm a ca-

pacidade de realizar trabalhos em argila e preparar os alimen-

tos. Não existe alguém que seja especialista em uma só função,pois a divisão do trabalho é pouca. Já as sociedades modernas

apresentam uma grande divisão do trabalho e muita diferen-

ciação entre os indivíduos. Repare a nossa sociedade: quantas

profissões e especializações existem? Inúmeras, e os indivíduos

são muito diferenciados.

Segundo Durkheim (1983a), nas sociedades mais simples osentimento de pertença ao grupo é muito maior, pois a cons-

ciência coletiva é mais forte. Ou seja, os imperativos sociais –

normas, leis, modos de agir, de pensar e de sentir do grupo

– se impõem com muito mais força ao indivíduo, sobrando

pouco espaço para interpretações individuais. Nas sociedades

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6363

modernas e industrializadas existe uma margem maior para

interpretação individual dos imperativos sociais e um enfra-

quecimento da consciência coletiva. Mas como explicar essa

diferenciação entre as sociedades sem apelar para a diferença

entre os indivíduos? Como explicar essa diferença com base no

social?

Pois bem, para o autor, o meio social é produzido pela coo-

peração entre os indivíduos, por meio de um processo de in-

teração que chamou de divisão do trabalho social  (Durkheim,

1960, 1983a). Conforme o tipo de divisão do trabalho que pre-domina numa sociedade em determinada época, temos um tipo

de cooperação entre os indivíduos. Nas sociedades simples, em

que existe pouca divisão do trabalho, prevalece a solidarieda-

de mecânica, baseada na semelhança entre os indivíduos; por

isso existe pouca divisão do trabalho. Nesse tipo de sociedade,

a consciência coletiva é forte porque os indivíduos são poucodiferenciados entre si, e podemos dizer que a sociedade é mais

coesa. Nas sociedades em que existe uma grande divisão do

trabalho, prevalece a solidariedade orgânica, baseada na dife-

renciação entre os indivíduos. A coesão da sociedade é dada pela

dependência que cada indivíduo tem dos outros (Abel, 1972).

Nesse caso, a consciência coletiva é mais fraca, deixando umamargem maior para a interpretação grupal ou individual dos im-

perativos sociais. Assim, paradoxalmente, a mesma divisão do

trabalho que serve para manter a sociedade coesa ao fazer com

que cada indivíduo dependa dos outros, também faz com que a

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ordem social seja ameaçada pelo individualismo que produz.

Quadro 2.2 − Diferença entre sociedades tradicionaisQuadro 2.2 − Diferença entre sociedades tradicionais

e sociedades modernase sociedades modernas

Sociedades tradicionaisSociedades tradicionais Sociedades modernasSociedades modernas

Solidariedade mecânica Solidariedade orgânica

Pouca divisão do trabalho.

Pouca especialização.

A consciência coletiva é forte.Baixa densidade populacional.

Indivíduos são muito

“semelhantes”.

Muita divisão do trabalho.

Muita especialização.

A consciência coletiva é mais

fraca.Alta densidade populacional.

Os indivíduos são mais

diferenciados.

É importante observar que, para Durkheim (1983a), as

sociedades em que cada um se assemelha a todos vêm, histo-

ricamente, antes das sociedades diferenciadas. Ou seja, a soli-

dariedade mecânica precede a orgânica. Assim, descarta-se a

possibilidade de explicar os fenômenos da diferenciação social

e da solidariedade orgânica por meio da afirmativa de que os

homens teriam “tomado consciência” de suas condutas indi-

 viduais, atibuindo, assim, ocupações específicas e rateando

tarefas − talvez pela descoberta de que a divisão do trabalho

aumenta a produção da coletividade. al assertiva presume que

os indivíduos são diferentes uns dos outros e têm consciência

de tal fato. Ora, a consciência da individualidade não podia

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existir antes da solidariedade orgânica e da divisão de trabalho

(Aron, 2003).

É a divisão do trabalho como uma estrutura da sociedade

que determina se os indivíduos serão ou não diferenciados.

Com esse raciocínio, Durkheim confirma seu postulado da

prioridade do todo sobre as partes. Os fenômenos individuais

são explicados pelo estado da coletividade, e não o contrário.

Percebe-se também que a causa de um fenômeno social só pode

ser uma causa social, e nunca individual. Por isso, Durkheim

aborda a sociedade como um fato irredutível a outros. A causade um fato social só pode ser outro fato social.

Apesar de propor o tratamento dos fatos sociais como

“coisas”, à maneira das coisas concretas, Durkheim sabia que eles

não eram concretos como os fatos físicos. Ao abordá-los como

“coisas”, chama a atenção para a necessidade de tratá-los de ma-

neira científica e exterior, isto é, encontrando o meio pelo qualos estados de consciência coletiva não perceptíveis diretamente

podem ser encontrados e compreendidos. Afasta-se assim do

senso comum, dos preconceitos e das prenoções e passa a tratar

o objeto da sociologia de maneira científica.

No caso da divisão do trabalho, que desemboca nas duas

formas de solidariedade, o meio pelo qual ela pode ser com-preendida são as formas jurídicas. De forma simplista, os dois

tipos de solidariedade correspondem a dois tipos de formas

 jurídicas. À solidariedade mecânica corresponde o direito re-

pressivo, que pune as faltas ou crimes. À solidariedade orgânica

corresponde o direito restitutivo ou cooperativo, que repõe a

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ordem quando uma falta foi cometida e organiza a cooperação

entre os indivíduos (Durkheim, 1983a).

No direito repressivo, ou seja, nas sociedades de solidarie-

dade mecânica, os fatos considerados crime são aqueles que fe-

rem a consciência coletiva, que violam um imperativo social. A

finalidade do castigo, em uma interpretação sociológica, não é

prevenir ou dissuadir alguém de cometer o crime, mas reparar

a consciência coletiva, ferida pelo ato criminoso. O direito re-

pressivo pode ser exemplificado pelo pecado. O pecado é uma

falta individual, mas, sobretudo, é uma falta contra as regrasestabelecidas pelo todo, que é a Igreja. Ao pedir o perdão do

pecado, o que é reparado é a falta contra a regra que foi bur-

lada. Ou seja, é uma questão de reparar a consciência coletiva,

retomar as regras estabelecidas que mantêm as pessoas unidas

e pertencentes à religião. A punição é aplicada por causa da

regra ferida, e não necessariamente por causa do indivíduo(Durkheim, 1983a; Aron, 2003).

No direito restitutivo, ou seja, nas sociedades de solidarieda-

de orgânica, não se trata de punição e de reparação à consciên-

cia coletiva, mas de restabelecer a ordem das coisas e constituir

uma forma de organização da coexistência regular e ordenada

de indivíduos já diferenciados. Nesse caso, a lei e a punição agi-rão no sentido de manter os indivíduos em consenso. O que

exige reparação não é necessariamente a consciência coletiva:

mas sim o acordo entre indivíduos diferentes para que a ordem

seja restabelecida (Durkheim, 1983a; Aron, 2003).

Assim, nas sociedades de solidariedade mecânica, o que

mantém o grupo coeso é o compartilhamento de experiências e

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crenças comuns, cuja “violação” é punida pelo coletivo. Há, en-

tão, pouco espaço para divergências individuais. Nas socieda-

des de solidariedade orgânica, a divisão do trabalho se expande

e as pessoas se tornam mais diferenciadas, e por isso mais de-

pendentes umas das outras. As relações de reciprocidade eco-

nômica e de dependência mútua substituem as crenças comuns

ao criarem o consenso social.

Como outros fundadores da sociologia, Durkheim (1960,

1983a, 1988) estava preocupado com as mudanças que trans-

formavam a sociedade em sua época. A industrialização, a ur-banização e a divisão técnica do trabalho de então produziam

um meio social muito diferenciado. Com a consciência coletiva

mais fraca, ocorre a emergência do individualismo. As pessoas

passam a pensar mais com a sua cabeça e menos como o grupo

quer que ela pense. O individualismo surge então como uma

ameaça à ordem social, uma vez que o indivíduo não se sentemais pertencente ao grupo. Como vimos, à medida que os indi-

 víduos se diferenciam, a margem para interpretação individual

ou grupal é maior. Dessa forma, os imperativos sociais – regras

comuns que mantêm a sociedade coesa – desintegram-se, e a

sociedade pode entrar em um estado de anomia, ou seja, de au-

sência de regras. É como se não existisse apenas uma regra paratodos, mas várias regras para vários indivíduos diferenciados.

Com essa interpretação da realidade, Durkheim demons-

tra que não pode haver sociedade sem disciplina, sem normas

comuns que organizem a vida social e limitem os desejos dos

indivíduos. E esse é um dos aspectos centrais abordados em

O suicídio, uma obra de 1897. Segundo Durkheim (1983b), a

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sociedade moderna atingiu um determinado estado de crise,

caracterizado pela desintegração social e pela debilidade dos

laços que prendem o indivíduo ao grupo. Como o grupo não

consegue mais manter o indivíduo, pois a consciência coletiva

e o sentimento de pertencimento ao grupo são fracos, ele se

desliga do social pela morte voluntária.

Durkheim preocupava-se com essa falta de laços que pren-

dam o indivíduo à sociedade. Como já foi dito, ele chamava isso

de anomia, que levaria, segundo sua concepção, à desintegra-

ção da sociedade. Ele entendia que faltava à coletividade umaordem moral que permitisse à sociedade sobreviver e conservar

os laços que mantêm os indivíduos unidos em um coletivo.

AnomiaAnomia: designa um estado de ausência de regras e normas na

sociedade, o que a leva a um estado de desordem e falta de coesão

social. Nesse estado, os laços que prendem o indivíduo ao gru-po estão enfraquecidos, e o indivíduo passa a pensar de maneira

mais particular, sem levar em conta as regras, normas e imperati-

 vos dados pela coletividade (Durkheim, 1983b; Johnson, 1997).

Como, porém, restaurar a ordem na sociedade, fortalecendo

os laços de pertencimento ao grupo? Para Durkheim (1962), aforma possível de restaurar a integração do indivíduo ao grupo

é por meio da educação. Nesse sentido, a educação está inves-

tida de um sentido de educação moral, pois assume a condição

de elemento fundamental na preservação da coesão social. Para

Durkheim, educação é sinônimo de socialização, definida como

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o processo de aprender com as gerações adultas a ser membro

da sociedade. Pela educação os indivíduos aprendem as regras

e, assim, passam a fazer parte do grupo (Rodrigues, 2004).

A sociedade moderna, entretanto, é muito diferenciada

por causa da alta divisão do trabalho. Existem várias formas

de pensar, várias profissões, inúmeros interesses de grupos e

pessoas diferentes. Ora, se ela é muito diferenciada, existem vá-

rios meios morais e várias “maneiras de ser” que os indivíduos

precisam “aprender”. Assim, não é possível um único tipo de

educação para todas as pessoas. Cada grupo deve ter uma edu-cação adequada ao seu meio moral. Meio moral refere-se àque-

le conjunto de regras, normas, modos e maneiras de agir, de

ser, de pensar que indentificam um grupo dentro da sociedade.

Dessa forma, o indivíduo vai aprender a pertencer ao seu grupo,

à sua classe, à sua profissão. Para Durkheim (1962), aprender

a ser médico ou professor, ou qualquer outra profissão, não ésomente aprender uma técnica ou uma teoria, mas aprender a

agir como a sociedade espera que essas pessoas ajam.

Podemos perceber, dessa forma, várias “maneiras de ser”,

pois existem vários meios morais. Note que as pessoas necessi-

tam dessa diferenciação. Só assim cada uma poderá cumprir o

seu papel na sociedade. Apesar dessa diferenciação, todos pre-cisam ter certos valores e crenças em comum. O indivíduo apre-

senta, então, “maneiras de ser” comuns a todos, e “maneiras de

ser” específicas suas ou do seu grupo social. Por isso, Durkheim

(1962) afirma que a educação é ao mesmo tempo homoge-

neizadora e diferenciadora. É homogeneizadora porque deve

perpetuar certos valores comuns à sociedade e diferenciadora

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porque deve preparar as pessoas para os vários meios morais

aos quais elas se destinam. Não seria possível existir socieda-

de moderna sem a homogeneidade, muito menos sem a dife-

renciação. As pessoas precisam ter certas concepções, valores

e ideias em comum, mas também outros que sejam específicos

de seus grupos.

Vamos entender melhor essa questão pensando na maneira

como nós, brasileiros, falamos. anto os que nasceram na região

Norte do Brasil como os que são originários do Sul, do Sudeste

ou do Nordeste falam o idioma português. O português é co-mum a todos. Contudo, cada região, e mesmo cada estado, tem

uma maneira específica de falar. É o sotaque que cada região

apresenta. Podemos perceber que todos falamos uma única lín-

gua – o que possibilita a uma pessoa que mora no Sul do país se

entender com um morador do Amazonas, por exemplo – e to-

dos temos um sotaque de uma região específica – o que permiteidentificar o grupo específico do qual fazemos parte.

Assim, a sociedade aparece para Durkheim como um gran-

de organismo, composto por várias partes distintas que fazem o

todo funcionar, como o corpo humano e os seus órgãos. Se um

órgão não funciona direito, é preciso restabelecê-lo, pois cada

um tem sua função a cumprir. E essa função, como pudemos ver, é aprendida por meio da educação.

Podemos perceber que na concepção que Durkheim tem

da relação entre sociedade e educação está presente uma preo-

cupação com a conservação da sociedade. Aprender a ser seu

membro nada mais é do que conhecer o lugar que irá ocupar

nela e aprender sobre ele (Rodrigues, 2004).

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SínteseSíntesePor seu surgimento e desenvolvimento, a sociologia pode ser

considerada uma ciência tipicamente capitalista. É na socie-

dade capitalista que a sociologia encontra ambiente para seconstituir como ciência. O surgimento dessa sociedade junta-

mente com a industrialização coloca a necessidade de pensar

as consequências da transformação e do desenvolvimento. É

na sociedade capitalista europeia que a sociologia surge como a

ciência que “resolveria” os problemas que a industrialização, a

urbanização e a proletarização iriam colocar. Assim, apresentaum caráter marcadamente positivista. E é com Auguste Comte

que a sociologia ganha o caráter de ciência positiva. A socieda-

de francesa de então apresentava-se para Comte como um caos,

levando-o a propor para a sociologia um grau de positividade

semelhante ao das ciências naturais. A metodologia da sociolo-

gia deveria comportar observação, comparação e classificação,à semelhança do que fazem as ciências naturais, e ainda apre-

sentar uma linha evolutiva – filiação histórica – que permitisse

conhecer o passado e conduzir ao futuro. Comte vê a socie-

dade e os indivíduos marcados pela limitação dentro das leis

naturais da sociedade, as quais devem ser conhecidas para se

avançar na linha evolutiva.A tradição sociológica na França começa com Comte, mas

é com Durkheim que a disciplina adquire sua cientificidade.

Durkheim desenvolve conceitos e concepções importantes,

como o fato social e suas características (exterioridade, coerci-

tividade e generalidade/coletividade), a distinção entre normal

e patológico, os conceitos de anomia social e de solidariedade

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mecânica e orgânica. A preocupação de Durkheim está em deli-

mitar de maneira clara o campo da sociologia, tarefa que come-

ça pela definição de seu objeto – o fato social. Ao mesmo tempo

que faz essa delimitação, Durkheim procura afastar o domínio

da sociologia da influência do senso comum. A ciência – não só

a sociologia, mas todas as ciências – deve ultrapassar as noções

e as concepções do senso comum. Preocupado com a moral e

com ordem social, já que a França passava por um período de

lutas sociais, miséria e desemprego, Durkheim dedica seus es-

forços à questão educacional, pois acreditava que esta poderiarestabelecer os níveis de ordem e moral necessários.

Indicação culturalIndicação cultural

SEIXAS, R. Ouro de tolo. Raul Seixas. In: Krig-Ha, Bandolo!Krig-Ha, Bandolo! Brasil: Philips,1973. Faixa 11.

Nessa música é possível perceber como as realizações que asociedade considera importantes não aparecem dessa forma para

um indivíduo. Comprar um carro, ter um bom emprego, ser al-

 guém conhecido e famoso podem ser realizações importante ou

 podem ser uma “grande piada e um tanto quanto perigosa”. É

 possível interpretar os versos cantados por Raul Seixas, por meio

da análise feita por Durkheim acerca da sociedade moderna,como uma referência à debilidade dos laços que ligam o indiví-

duo ao grupo e à consequente desintegração da sociedade.

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Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1) Indique se as afirmativas a seguir são falsas (F) ou verdadei-

ras (V) no que se refere à concepção positivista:

( ) Propõe uma metodologia para as ciências humanas di-ferente daquela das ciências naturais, uma vez que seus

objetos são distintos.

( ) Considera a ordem social regida por leis invariáveis e

passíveis de serem descobertas, abrindo, assim, a possi-

bilidade de prever o futuro estado das coisas.

( ) A separação entre sujeito e objeto – pesquisador e aquilo

que pesquisa – é impossível, pois os seus valores e cren-

ças sempre influenciariam nos resultados da pesquisa.

Ou seja, não existe ciência neutra e isenta de valores.

( ) As transformações da sociedade – assim como da na-

tureza – obedecem a uma ordem evolutiva: do menos

desenvolvido ao mais desenvolvido.

( ) O progresso é um traço importante no positivismo.

Esse traço pode ser identificado no lema “Ordem e pro-

gresso” que lemos na Bandeira Nacional, o que reme-

te à influência positivista na época da proclamação da

República brasileira.

Está correta a alternativa:

a) F, V, V, F.

b) V, F, V, V.

c) F, F, V, F.

d) F, F, V, V.

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2) Quanto à obra de Auguste Comte, indique se as afirmativas

a seguir são falsas (F) ou verdadeiras (V):

( ) Comte entendia que a sociedade que surgia da Revolução

Francesa estava passando por um momento de desor-ganização e instabilidade. Essa sociedade só poderia ser

reformada com a volta ao passado e aos valores tradicio-

nais do feudalismo.

( ) Comte afirmava que a sociologia seria a última ciência a

se desenvolver, uma vez que o seu objeto de estudo foi o

último a alcançar seu pleno desenvolvimento: a socieda-de europeia.

( ) A sociologia, como ciência positiva, poderia restaurar a

ordem social a partir do momento que conseguisse des-

cobrir as leis que regiam o desenvolvimento das relações

sociais.

( ) A obra de Comte e as reflexões que realizou sobre a so-ciedade e a ciência positivista continuam levantando

questões e subsidiando as respostas a serem elaboradas.

A sociologia comtiana continua, então, com fôlego ex-

plicativo para abordar as questões do presente.

( ) Outra questão apontada por Comte diz respeito à reli-

gião. Como a sociedade estava desorganizada, era preci-so uma religião forte, pois a fé traria novamente a orga-

nização e a estabilidade sociais.

Está correta a alternativa:

a) F, V, V, F, V.

b) V, F, V, V, F.

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c) F, V, V, F, F.

d) F, F, V, V, V.

3) A respeito da obra de Durkheim é correto afirmar:

I. Afirma a predominância do todo sobre as partes, ouseja, o coletivo é maior e mais forte do que o indivíduo.

Assim, existem fatos que encontram a sua origem na es-

fera coletiva, e não no indivíduo.

II. A sociologia de Durkheim rompe totalmente com qual-

quer influência de Comte.

III. A explicação para os fenômenos sociais só pode ser en-contrada no indivíduo, pois é nele que os estados sociais

se manifestam.

IV. As gerações adultas não exercem influências diretas

sobre as gerações mais jovens. Estas procuram sempre

construir algo novo, sem vinculação com o que já estava

pronto.

V. Para Dukheim, o indivíduo só pode ter suas particula-

ridades porque o meio social lhe fornece essas alternati-

 vas.

São verdadeiras as seguintes afirmações:

a) I e III.

b) I e IV.

c) I e V.

d) II, III e V.

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4) Marque com “1” as características das sociedades em que

prevalece a solidariedade mecânica e com “2” as caracterís-

ticas das sociedades de solidariedade orgânica:

( ) Indivíduos diferenciados com um alto grau de indivi-dualismo;

( ) Pouca divisão do trabalho, com tarefas definidas basica-

mente pelo sexo dos indivíduos;

( ) Os indivíduos são muito semelhantes entre si. A maioria

domina quase a totalidade das atividades do grupo;

( ) Os indivíduos são muito dependentes uns dos outros,pois a divisão do trabalho é acentuada;

( ) A consciência coletiva é forte, sendo os imperativos so-

ciais muito presentes na vida coletiva;

( ) A consciência coletiva é fraca, abrindo margem para in-

terpretações individuais dos imperativos sociais;

( ) Alto grau de especialização no trabalho e nas atividades,sendo impossível para um indivíduo dominar todas as

funções e atividades do grupo.

Está correta a alternativa:

a) 2, 1, 1, 2, 1, 2, 2.

b) 1, 1, 2, 2, 1, 2, 1.

c) 2, 1, 1, 2, 2, 1, 2.d) 2, 1, 2, 2, 1, 2, 1.

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5) Relacione os conceitos referentes à obra de Durkheim lista-

dos a seguir com as definições apresentadas na sequência:

1. Consciência coletiva

2. Anomia3. Educação

4. Coesão social

( ) Processo de aprendizagem das normas sociais do grupo;

sinônimo de socialização.

( ) Estado da sociedade marcado pela ausência de regras.

( ) Definida pela dependência que cada indivíduo tem emrelação aos outros nas interações da vida social.

( ) Imperativos sociais, como normas, leis, costumes, mo-

dos de agir e pensar, que se encontram no meio social e

se impõem aos indivíduos.

A alternativa que apresenta a associação correta é:

a) 1, 3, 4, 2.b) 3, 2, 4, 1.

c) 3, 2, 1, 4.

d) 4, 2, 1, 3.

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagem

Questões para reflexãoQuestões para reflexão

1. Por que podemos afirmar que, para Durkheim, a socieda-

de não é formada pelos indivíduos, e sim os indivíduos

é que são formados pela sociedade?

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2. Durkheim define o fato social como o objeto da sociolo-

gia e propõe tratá-lo como “coisa”. Explique essa pers-

pectiva.

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática  Vivemos claramente numa sociedade de solidariedade

orgânica, com indivíduos muito diferenciados e uma

grande divisão do trabalho. Apesar de sermos muito

diferenciados, temos alguns aspectos em comum. Um

exemplo é a linguagem. Apesar dos vários regionalis-

mos e gírias de grupos específicos, todos falam o por-

tuguês. Isso demonstra que sempre existirão elementos

específicos e elementos comuns a todos, como afirma

Durkheim. Para perceber melhor esse aspecto, realize

uma pesquisa sobre regionalismos ou gírias de grupos

sociais e os seus significados.

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A sociologia de Karl Marx

[Capítulo 3][Capítulo 3]

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8080

Conhecendo um pouco mais a obra de dois sociólogos – Comte

e Durkheim –, já é possível perceber que a análise da sociedade

não se apresenta como uma verdade única. Não há uma úni-

ca nem definitiva resposta, pois os olhares que os pensadores

lançam sobre a realidade são diferentes. Isso não significa que

nunca teremos uma resposta correta sobre como a realidadesocial se organiza, mas sim que essa realidade é tão complexa

que admite várias explicações e problematizações.

Neste capítulo, abordaremos um pensador polêmico, pois,

além de analisar a sociedade de seu tempo, Marx deseja “im-

plodi-la”. Em sua análise, ele afirma que o capitalismo é um sis-

tema contraditório e que a sociedade pode ser explicada combase em suas contradições. Mas, quando diz que o capitalismo

é contraditório, Marx não está querendo simplesmente fazer

uma crítica destrutiva. Essa é sua concepção metodológica. E,

partindo dessa concepção, Marx procede à sua análise toman-

do como base o trabalho, pois, segundo ele, o trabalho é um

elemento essencial para compreender a maneira como os ho-mens vivem.

Veremos, neste capítulo, como Marx formula seu olhar so-

bre o capitalismo tendo como base a contradição presente nes-

se sistema e a maneira como os homens constroem a sociedade

pelo trabalho. Esta última questão se desdobra na concepção

materialista da história e na relação entre estrutura econômicae superestrutura da sociedade.

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8181

Começaremos então com a questão da contradição, que vai

nos ajudar a diferenciar Marx dos dois outros autores vistos

anteriormente.

[3.1][3.1]

A sociologia de Karl MarxA sociologia de Karl MarxO filósofo, economista e sociólogo alemão Karl Marx (1818-

1883) também presenciou os desdobramentos da Revolução

Industrial, como Comte e Durkheim (Aron, 2003). Ele con-

sidera a dinâmica social como portadora de uma ordem evo-lutiva, como faz Comte (1978a, 1978b, 1978c, 1978d, 1983a,

1983b). Ou seja, as sociedades evoluiriam seguindo uma linha

(Sztompka, 2005). Assim, Marx (1968; 1978) entende que o ho-

mem e a sociedade que analisa são produtos de um homem e

de uma sociedade anteriores. Mas as semelhanças entre Comte

e Durkheim param por aí. Existem muitos pontos de distinçãoentre os autores.

Comte e Durkheim (1960; 1983a, 1983b) entendem a so-

ciedade como um organismo, em que cada parte cumpre uma

função específica para o funcionamento do todo. Se uma dessas

partes não está funcionando bem, é preciso “reformá-la”, pois

o seu mau funcionamento afeta toda a sociedade. Existe entãoa ênfase no consenso. Ou seja, esses autores focalizam em suas

análises os aspectos associativos da sociedade. Buscam sempre,

influenciados pelo positivismo, perceber quais são os aspectos

da ordem social que precisam ser mudados para que a socieda-

de se estabilize. Por isso, podemos dizer que Comte e Durkheim

focalizam o consenso da ordem social, na tentativa de reformar

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8282

a sociedade (Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002).

Por outro lado, Marx (1968, 1978) concentra seus esforços

na contradição que a realidade apresenta, isto é, ele vê a contra-

dição como um elemento essencial da realidade. Mas como a

contradição pode ser essencial? emos a ideia de que as coisas

contraditórias não funcionam, não dão certo, e Marx vem dizer

o contrário? Pois é isso mesmo! Segundo Marx, a contradição,

a união de elementos opostos, é a condição para a realidade

se concretizar. Pensemos no processo educativo para ilustrar

essa questão. Podemos dizer que a educação está baseada nacontradição. Alunos e professores são diferentes, pois têm em

si elementos opostos. O professor possui algo que o aluno não

tem, e o aluno deseja alcançar aquilo que ele ainda não é. Mas,

para que a educação e a transmissão de saberes aconteça que,

esses dois sujeitos que apresentam elementos contrários – alu-

no e professor – entram em relação e produzem uma nova re-alidade, que não existiria se eles não se relacionassem. É, então,

dessa maneira que Marx vê a contradição como um elemento

essencial da realidade social e do capitalismo.

Em sua obra, Marx procura fazer uma análise do capitalis-

mo, mas seu objetivo não é apenas proceder a essa análise para

saber como funciona; com isso ele quer poder transformar asociedade, ou seja, produzir uma nova realidade a partir das

contradições do capitalismo (Kammer, 1998).

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8383

Mas transformar em que sentido? E como Marx faz a análi-

se do capitalismo? Para entendermos melhor como essas ques-

tões foram formuladas e respondidas, vamos estudar um pouco

mais sobre a obra de Marx.

[3.2][3.2]

Marx e a análise do capitalismoMarx e a análise do capitalismoComo dissemos, um dos objetivos de Marx era fazer uma análi-

se da sociedade de seu tempo. Se prestarmos atenção nas datas

das obras dos autores – Comte, Durkheim e Marx –, notaremos

que Marx é contemporâneo tanto de Comte como de Durkheim.

Então, a sociedade que Marx analisa é a mesma sociedade euro-

peia resultante da Revolução Industrial e da Revolução Francesa.

Mas seu olhar é um pouco diferente dos olhares dos autores que

 já vimos até este ponto. Se eles veem os problemas da sociedade

capitalista que surgia como algo a ser “remediado”, para Marx,

toda a miséria, as desigualdades e principalmente a pobreza da

classe trabalhadora são próprias do capitalismo, ou seja, são ele-

mentos estruturais desse sistema.

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8484

Karl Heinrich Marx Karl Heinrich Marx  nasceu em rier, na Alemanha, no dia 5

de maio de 1818. Pertencia a uma família de classe média alta.

Seu pai era advogado. Estudou Filosofia na Universidade de

Berlim. Em 1843, transferiu-se para Paris, onde conheceu otambém alemão Friedrich Engels (1820-1895). Juntamente

com Engels, Marx produziu sua obra e idealizou o socialis-

mo e o comunismo, tendo sempre em vista a organização do

proletariado. As principais obras de Marx são:  Miséria da

 filosofia (1847), O dezoito brumário de Luis Bonaparte (1852)

e O capital  (1867-1894). Destacam-se também as obras queescreveu com Friedrich Engels: A sagrada família (1844), A

ideologia alemã (1845) e Manifesto comunista (1847) (Aron,

2003; Giddens, 2005; Seel, 2002).

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Como vimos, Marx focaliza as contradições e afirma que o

capitalismo é contraditório por excelência. Segundo o autor, as

duas principais contradições da sociedade moderna e capita-

lista se dão, em primeiro lugar, entre as forças produtivas, que

não cessam de crescer, e as relações de produção (relações de

propriedade e distribuição de renda), que não se transformam

no mesmo ritmo; e, em segundo lugar, entre o crescimento da

riqueza e o aumento da miséria (Marx, 1978; Aron, 2003).

Quadro 3.1 − Contradições básicas do capitalismoQuadro 3.1 − Contradições básicas do capitalismo

Desenvolvimento das forças

produtivas

X

Relações de produção

(relações de propriedade

e de distribuição de renda)

Crescimento da riqueza

X

Aumento da miséria

Vamos tentar entender o que significa a contradição entre as

forças produtivas e as relações de produção.

As forças produtivasforças produtivas são formadas pelos meios de produção

e pelo trabalho humano. É assim tudo aquilo que a sociedade

utiliza para produzir os bens necessários à sobrevivência daspessoas. Por exemplo, durante a escravidão no Brasil, a forma

de energia utilizada era a energia animal, e a mão de obra era es-

crava. Durante a Revolução Industrial, na Europa, era utilizada

a energia a vapor e a mão de obra era assalariada. Atualmente,

as formas de energia utilizadas são várias – elétrica, nuclear – e

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a mão de obra também é assalariada em sua maioria. emos

ainda as tecnologias, como a microeletrônica, a tecnologia di-

gital, os melhoramentos genéticos. Enfim, as forças produtivas

constituem todas aquelas forças, meios, técnicas e formas que a

sociedade utiliza para produzir aquilo de que necessita.

Forças produtivasForças produtivas são todas as forças, meios, técnicas e formas

de organizar o trabalho que a sociedade utiliza para produzir

aquilo de que necessita. Inclui as tecnologias, as fontes de energia,

o tipo de trabalho utilizado − trabalho escravo, livre, assalariado,servidão (Marx, 1978; Kammer, 1998; Bottomore, 2001).

Já as relações de produção, constituídas pelas relações de

propriedade e de distribuição, referem-se às formas de distri-

buição das propriedades e dos bens na sociedade (Marx, 1968).

Como exemplo, vamos voltar novamente ao período da escra- vidão. Lá, as relações de propriedade estavam organizadas de

tal maneira que os escravos não possuíam nada, e tudo aquilo

que produziam pertencia ao senhor. Na sociedade capitalista

analisada por Marx (1968, 1978), os trabalhadores são pro-

prietários da sua força de trabalho, enquanto os burgueses são

proprietários dos meios de produção. Para sobreviver, os traba-lhadores – ou proletários – alugam a sua força de trabalho aos

burgueses – ou capitalistas –, recebendo em troca um salário.

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Relações de produçãoRelações de produção são formadas pelas relações de proprieda-

de e de distribuição, ou seja, referem-se aos tipos de propriedade

que existem e como são distribuídos os bens produzidos, de acor-

do com os tipos de propriedade (Sell, 2002; Bottomore, 2001).

Vamos voltar então às contradições apresentadas anterior-

mente. Marx (1968, 1978) percebe que as forças produtivas se

desenvolviam muito. Novas fontes de energia apareciam, novos

materiais, novas técnicas e máquinas. Com isso, produzia-se

cada vez mais e melhor. Por outro lado, as relações de proprie-

dade e de distribuição não se desenvolviam. Os trabalhadores

continuavam proprietários apenas da sua força de trabalho e

continuavam sendo assalariados dependentes do trabalho para

sobreviver. Paralelamente a isso, a riqueza aumentava – reflexo

do desenvolvimento das forças produtivas –, mas aumentavam

também a pobreza e a miséria – como consequência do não

desenvolvimento das relações de propriedade e de distribuição.

Assim, seria necessário superar essas duas contradições, quer

pelo desenvolvimento natural do capitalismo, quer pela revolu-

ção socialista, que aceleraria esse desenvolvimento (Sell, 2002).

É importante termos em mente que a obra de Marx não se

encaixa facilmente no arcabouço teórico de uma única ciência

(Lefebvre, 1979). De certa forma, esse pensador não buscou fazer

sociologia, economia política, filosofia ou história; apesar de sua

obra conter todas essas ciências, o que Marx pretendeu foi com-

preender a gênese do homem social por meio do materialismo

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histórico. Ou seja, ele queria compreender como o homem se

forma em sociedade com base na análise da maneira como essa

sociedade produz os bens necessários à sua sobrevivência.

Vamos pensar em um produto qualquer para entendermos

um pouco melhor essa concepção. Por exemplo, como foi pro-

duzida a cadeira que você utiliza em sua casa ou no escritório?

Por um trabalho voluntário, por um trabalho assalariado ou por

um trabalho escravo? O material empregado para produzi-la

pertencia a quem? Era de propriedade particular, foi retirado

diretamente da natureza durante um ritual religioso ou foi pro-duzida com um novo material, fruto das inovações tecnológicas?

Perceba que todas essas questões remetem ao nível de desen-

 volvimento das forças produtivas e às relações de propriedade

e de distribuição. Assim, as formas como os homens produzem

a materialidade de que necessitam condicionam a forma como

 vivem (Marx, 1978). Veremos isso em mais detalhes quandoestudarmos a relação entre a estrutura e a superestrutura.

Marx (1968, 1978) visava ao conhecimento de uma totali-

dade – a sociedade capitalista –, e o cerne da busca por essa to-

talidade está na relação entre o homem e suas obras. Em certo

sentido, a pretensão de Marx se assemelha à de Durkheim, ou

seja, descobrir as leis gerais que movem a sociedade. Para che-gar ao entendimento da sociedade capitalista, Marx empreende

a busca por essa “lei geral” que rege a sociedade. E julga tê-la

encontrado. Para ele, o que move a história é a luta de classes.

Para entender a concepção materialista da história e de

como a luta de classes é o motor da história, é preciso entender

a concepção de trabalho em Marx. É o que veremos a seguir.

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8989

[3.3][3.3]

A concepção de trabalho em MarxA concepção de trabalho em Marx e a estrutura econômica da sociedadee a estrutura econômica da sociedade

O trabalho é a interação do homem com a natureza para proversua sobrevivência. É mediante o trabalho que o homem trans-

forma a natureza e produz a materialidade, isto é, todos os obje-

tos de que necessita, como alimentos, ferramentas, casas, mesas,

carros, computadores. Ao produzir materialmente a sua sobre-

 vivência transformando a natureza, o homem transforma-se a

si próprio e a totalidade da qual faz parte (Marx, 1978). Assim,os homens, por meio do trabalho, entram em contato uns com

os outros e passam a transformar a realidade que os cerca. O

trabalho promove, então, o intercâmbio com a natureza e com

outros homens. Combinando força física e reflexão intelectual,

o homem foi aumentando cada vez mais sua capacidade de

transformar a natureza (Lessa, 2002). Desenvolveu-se, assim, oque Marx (1968) chamou de forças produtivas.

Como podemos perceber, o trabalho não se dá de maneira

individual e isolada na luta do homem com a natureza, mas

dentro de determinadas relações, “necessárias, independentes

de sua vontade”, com outros homens (Marx, 1978). Em outras

palavras, para viver, o homem precisa inicialmente transformara natureza e nessa transformação estabelece um conjunto de

relações sociais, organizando de modo específico o trabalho e

a propriedade. Intituem-se, assim, formas de propriedade, de

distribuição de divisão do trabalho, que são as relações sociais

de produção. O conjunto destas constitui a estrutura econômica

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da sociedade e é a base real que condiciona todo o conjunto da

sociedade. Sobre essa estrutura econômica se estabelece uma

superestrutura jurídica e política, a que correspondem deter-

minadas formas de consciência, pelas quais os homens tomam

conhecimento de toda a sociedade. Assim, o modo de produ-

ção da vida material condiciona o processo da vida social, polí-

tica e intelectual em geral. Dessa forma, não é possível entender

a política ou a cultura de determinada época sem entender a

relação básica (econômica) que condiciona todo o conjunto da

sociedade (Marx, 1968, 1978).

Figura 3.1 − Superestrutura e estrutura da sociedadeFigura 3.1 − Superestrutura e estrutura da sociedade

SUPERESRUURA JURÍDICA E POLÍICA

Formas de consciência

D

E

T

E

R

M

IN

A

ESRUURA ECONÔMICA DA SOCIEDADE

Conjunto das relações sociais de produção

(relações de propriedade, divisão do trabalho,nível de desenvolvimento das forças produtivas)

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9191

Ao se transformarem, os modos de produzir transformam

toda a sociedade. Assim, a história da humanidade é a histó-

ria dos modos de produção. Segundo Marx, podemos pensar

basicamente em três modos de produção vigentes ao longo da

história: o modo de produção escravista antigo, o modo de pro-

dução feudal e o modo de produção capitalista (Sell, 2002).

E é claro que cada um desses modos de produção tem níveis

próprios de desenvolvimento das forças produtivas e diferen-

tes formas de organização da propriedade e de distribuição. As

forças produtivas e as relações de propriedade e de distribui-ção respondem às perguntas: Como produzem? O que utilizam

para produzir? Quem possui o quê? Como a produção é distri-

buída? No modo de produção escravista antigo, as proprieda-

des são dos senhores, e os escravos produzem as mercadorias

necessárias. É importante ressaltar que os escravos também são

de propriedade do senhor. E é isso que caracteriza os escravos:não ter a propriedade nem do seu corpo.

Assim, no modo de produção feudal, existem senhores e

servos. Diferentemente dos escravos, os servos não são de pro-

priedade dos senhores. Apenas o meio de produção é de pro-

priedade do senhor, que no caso do feudalismo é basicamente

a terra. O servo pertence à terra e serve ao senhor, por meio deuma trama de fidelidades e obrigações entre os dois. Existe uma

relação de servidão, e não de escravidão. No modo de produção

capitalista, os meios de produção pertencem ao capitalista, os

trabalhadores possuem a força de trabalho, e o trabalho é as-

salariado. O capitalista compra a parte da força de trabalho de

que necessita (Aron, 2003).

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Podemos perceber que nos diferentes modos de produção

existem diferentes grupos inseridos nas relações sociais de pro-

dução: senhor e escravo, servo e senhor, trabalhador e capitalis-

ta. Esses grupos constituem as classes sociais (Lefebvre, 1979).

A classe socialclasse social define-se a partir da inserção dos indivíduos na

produção da vida material, ou seja, o que os indivíduos são no

momento do trabalho, se são escravos ou senhores, trabalhado-

res ou patrões. Com base nessas inserções, teremos uma deter-

minada posição em relação às formas de propriedade. O escravonão tem propriedade alguma e o senhor tem a propriedade dos

meios de produção e dos escravos. Os trabalhadores têm como

propriedade a sua força de trabalho e o patrão tem a propriedade

dos meios de produção (Lefebvre, 1979; Bottomore, 2001).

As classes sociais estão em constante conflito, sempre numarelação de oposição e complementaridade. Entretanto, a análise

de Marx mostra que em determinado momento os conflitos já

não podem mais ser resolvidos. Ocorre uma contradição muito

grande entre o desenvolvimento das forças produtivas e as rela-

ções de produção e de distribuição. Existe, então, a necessidade

de mudança, de se estabelecerem novas relações de proprieda-de e de distribuição. Os modos de produção se transformam

mediante a oposição entre os dois principais grupos (ou classes

sociais) que compõem a sociedade. Assim, o modo de produ-

ção escravista se transforma e dá origem ao modo de produção

feudal. Este, por sua vez, se transforma e dá origem ao modo de

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produção capitalista, que também irá se transformar e originar

outro modo de produção.

Quando a base econômica se transforma, passa a ocorrer

uma mudança em toda a superestrutura social, com suas for-

mas jurídicas, intelectuais e culturais (Aron, 2003; Sell, 2002). É

dessa forma que Marx (1968, 1978) afirma que a luta de classes

é o motor da história, pois é ela que faz a história se desenvolver

ao transformar o modo de produção. Podemos perceber como

a maneira pela qual os homens produzem a sua materialidade

condiciona toda a vida social. É isso que Marx chama de mate-rialismo histórico ou concepção materialista da história.

Pelo materialismo históricomaterialismo histórico, a maneira como os homens produ-

zem a materialidade do mundo condiciona a vida social. As gran-

des transformações são as transformações na forma de produzir –

estrutura econômica –, que, por sua vez, transformam toda a so-ciedade (Rodrigues, 2004; Sell, 2002; Bottomore, 2001).

Vamos acompanhar um trecho escrito por Marx em 1859,

em que ele desenvolve a concepção de como a produção da

materialidade determina a estrutura social e a consciência dos

homens sobre essa estrutura:

Na produção social da própria vida, os homens contraem relações

determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações

de produção que correspondem a uma etapa determinada de desen-

volvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade des-

tas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade,

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a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e

 política, e à qual correspondem formas sociais de consciência. O

modo de produção da vida material condiciona o processo em geral

da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens

que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que

determina a sua consciência. (Marx, 1978, p. 129)

Para Marx (1978), o capitalismo é um modo de produção

que contrasta com os demais modos de produção da história.

Sua especificidade está em produzir mercadorias visando à

acumulação e à reprodução da riqueza social, assegurando osmeios para a apropriação privada da riqueza por aqueles que

são proprietários dos meios de produção.

Na sociedade capitalista as relações de produção definem

dois grandes grupos: de um lado, os capitalistas, donos dos

meios de produção (máquinas, ferramentas, terras, capital)

necessários para transformar a natureza e produzir mercado-rias; do outro, os trabalhadores, ou proletariado, que possuem

como propriedade apenas a sua força de trabalho (Aron, 2003;

Lefebvre, 1979; Sell, 2002). Os capitalistas formam a classe do-

minante, e o proletariado, a classe dominada. A produção na

sociedade capitalista se dá porque capitalistas e trabalhadores

entram em uma relação de complementaridade e contradição.

Na relação de complementaridade, o capitalista só consegue

pôr em funcionamento os seus meios de produção mediante

a força de trabalho dos trabalhadores. O trabalhador, por sua

 vez, só consegue sua sobrevivência – reproduzir-se como força

de trabalho – se alugar a sua força ao capitalista. Nesse sentido,

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como dependem um do outro, capitalista e trabalhador são

complementares.

rabalhadores e capitalistas, porém, também se encontram

em oposição. Como exemplo, podemos pensar sobre o salá-

rio. Este é definido como o valor pago ao trabalhador pelo seu

trabalho. Mas nas condições do capitalismo, quanto mais alto

for o salário, mais baixo será o lucro do capitalista. Podemos

afirmar que existem então interesses contraditórios na rela-

ção capitalistas/trabalhadores: capitalistas querem lucrar cada

 vez mais pagando salários cada vez menores e trabalhadoresquerem receber salários cada vez maiores. Nesse sentido, tra-

balhador e capitalista estão em oposição, pois seus interesses

são contrários.

Até agora vimos como a estrutura econômica determina a

 vida social e um pouco do caráter contraditório que o capitalis-

mo apresenta. O próximo ponto de nossa análise será relativoà maneira como os homens tomam consciência de suas condi-

ções de vida.

[3.4][3.4]

A consciência dos homensA consciência dos homens 

e a estrutura econômica da sociedadee a estrutura econômica da sociedadeA concepção materialista da história explica como a socieda-

de se estrutura a partir de sua base econômica e do trabalho.

A análise de Marx mostra como a realidade concreta se apre-

senta, como as relações concretas do homem constroem uma

estrutura social – a estrutura social do capitalismo. Contudo, a

maneira como os homens tomam consciência dessa estrutura

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é diversa da maneira como realmente ela se apresenta (Aron,

2003; Sell, 2002). Ou seja, a maneira como as coisas acontecem

concretamente é diferente da maneira como os homens perce-

bem esses acontecimentos.

Vamos tomar emprestado um exemplo da ótica para enten-

dermos melhor essa ideia. Observe a figura a seguir. As retas

A e B na realidade têm o mesmo tamanho. No entanto, o que

percebemos é que a reta A é menor do que a reta B. Pegue uma

régua, meça as duas retas e você verá que elas têm o mesmo

tamanho. Ou seja, o que percebemos não corresponde à reali-dade tal qual ela é.

Figura 3.2 − Exemplo ótico de divergência da percepçãoFigura 3.2 − Exemplo ótico de divergência da percepção

 A B

Fonte: SISEMA..., 2010.

É mais ou menos isso que Marx (1978) quer dizer quando

afirma que a consciência que os homens têm não correspon-

de às reais condições que se apresentam na vida social. Diz ele

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ser necessário distinguir as transformações materiais das con-

dições econômicas de produção das formas pelas quais os ho-

mens tomam consciência da realidade. Contudo,

 A consciência que os homens têm dessas relações, segundo Marx,não condiz com as relações materiais que de fato vivem. As ideias,

as concepções sobre como funciona o mundo são representações

que os homens fazem a respeito de suas vidas, do modo como as re-

lações aparecem na sua experiência cotidiana. Essas representações

são, portanto, aparência. Para Marx essas representações implicam,

num primeiro momento, uma falsa consciência, uma consciênciainvertida, pois se prendem à aparência e não são capazes de captar

a essência das relações às quais os homens estão de fato submetidos.

(Rodrigues, 2004, p. 41-42).

Ou seja, os homens têm uma visão distorcida da realidade,

como no caso do desenho das retas colocado anteriormente.

Aqui entra em cena o conceito de ideologia de Marx (1978).

A ideologia designa um conjunto de representações caracterís-

ticas de uma época e de uma sociedade. Essas representações

são produzidas pela prática social em estruturas sociais e mo-

dos de produção determinados (Mészaros, 2006). Porém, essa

prática social produz representações que são aparências da rea-

lidade. A ideologia seria, então, uma falsa representação da rea-

lidade, uma representação errônea da história. A consciência

que o homem como ser consciente possui reflete uma forma

que ele não é.

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IdeologiaIdeologia  é o conjunto de representações características de

uma época e de uma sociedade, produzidas pela prática social.

Contudo, segundo Marx, essas representações não correspon-

dem à realidade tal qual ela é; elas são, sim, uma aparência darealidade. A ideologia é como uma “cortina de fumaça” que dis-

torce a visão que os homens têm da realidade (Aron, 2003; Sell,

2002; Bottomore, 2001).

Embotados pela ideologia do sistema capitalista, os traba-

lhadores veem como normal o fato de não serem donos dos

meios de produção nem do fruto do trabalho, recebendo pelo

trabalho executado um salário no final do mês. Não percebem

que foram separados pelo capitalismo do controle autônomo

que exerciam sobre o seu trabalho e também do fruto desse

trabalho (Mészaros, 2006).

Para entendermos um pouco melhor as ideias de Marx, va-

mos analisar como era o trabalho no sistema de corporações

durante o feudalismo, na Idade Média europeia, tema de que

 já tratamos um pouco no primeiro capítulo. Durante o perío-

do, a produção se dava basicamente nas oficinas dos mestres

artesãos, os quais detinham todo o conhecimento sobre o pro-

cesso produtivo. Planejavam como iriam fazer o produto, que

materiais iriam utilizar e como venderiam. Eles eram proprie-

tários das ferramentas, do seu tempo e do produto final. Com o

surgimento do sistema de fábricas, os mestres saíram das suas

oficinas e foram trabalhar nas fábricas. Lá, já não eram mais

donos das suas ferramentas, não tinham mais autonomia sobre

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100100

expropriado do seu saber, pois essa relação se dá de forma en-

coberta pela ideologia. O trabalhador vê como normal o fato

de trabalhar, receber um salário no final do mês e não ser dono

daquilo que produz nem dos meios que utiliza para produzir,

enquanto o capitalista fica com o lucro da produção. O traba-

lhador é separado do saber do seu trabalho e também do re-

sultado dele, mas não percebe sua condição. Marx chama esse

trabalho de alienado.

Como consequência dessa forma de trabalho, os homens

adquirem uma falsa consciência da realidade em que estão in-seridos. Eles veem a dominação a que estão submetidos como

um fato natural, como se sempre fora assim. Essa falsa consciên-

cia é fornecida pela superestrutura jurídica e política e obriga

os homens a se comportarem de determinada maneira, como

se fosse a sua própria vontade. E essa é outra característica do

capitalismo: o dominado pensar com a cabeça daquele que odomina, pois o trabalhador acha justo que o capitalista se apro-

prie do fruto do trabalho enquanto ele recebe apenas o salário

(Rodrigues, 2004).

Ora, o sistema de ideias e de concepções ordenadas que pre-

dominam na sociedade faz com que os homens se comportem da

maneira que a classe dominante deseja. Assim, essa classe podecontinuar se apropriando do fruto do trabalho e, enquanto a ri-

queza de alguns cresce, a pobreza dos trabalhadores aumenta.

Podemos perceber que, para Marx, a questão primordial

para os trabalhadores não é apenas o aumento de salários. A

injustiça maior, ou a grande contradição do capitalismo, é o

fato de os trabalhadores não serem proprietários da riqueza

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101101

que produzem (Mészaros, 2002). O salário representa apenas

uma parte da riqueza que o trabalhador produz; o resto da ri-

queza é apropriada pelo capitalista na forma daquilo que Marx

(1968) chama de mais-valia.

Vejamos o que Marx quer nos mostrar com esse conceito.

Com seu trabalho, o homem confere valor às coisas. Voltemos

ao exemplo da cadeira do início do capítulo. Se for uma cadeira

de madeira, um dia ela já foi uma árvore. O homem a retirou da

natureza e a transformou em um objeto novo. Deu àquela árvo-

re, então, um valor que antes não possuía. E isso só foi possívelpor meio do trabalho que realizou. A árvore transformada em

cadeira passou a ser utilizada de outra forma, não mais como

árvore. Adquiriu um valor de uso, pois agora não é mais um

simples pedaço de madeira, mas sim um objeto passível de uso.

Na sociedade capitalista, entretanto, mais do que esse valor

de uso, os objetos têm também um valor de troca, que se refere àquantidade de dinheiro que eles valem no contexto das relações

comerciais do capitalismo. Mas a quantidade de dinheiro que a

cadeira vale não é entregue toda ao trabalhador que a produziu.

Ele só recebe, em forma de salário, uma parte desse valor de troca

que produziu. al parte destina-se para a sua reprodução, para ele

sobreviver e ter filhos que continuem trabalhando e gerando ri-queza. Segundo a análise de Marx, por mais que o salário seja alto,

ele sempre vai se constituir apenas em uma parte da riqueza que

o trabalhador produz. A maior parte é apropriada pelo capitalista

na forma de mais-valia. De forma simples, podemos então definir

mais-valia como a parte da riqueza gerada pelo trabalhador que

não é entregue a ele, mas sim apropriada pelo capitalista.

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102102

No sistema capitalista, o trabalhador é, dessa maneira, al-

guém que confere valor, ou o que Marx (1968) chama de força

de trabalho. Ele é assim denominado porque não planeja mais

o que vai produzir, não tem mais o saber sobre o trabalho, não

possui os meios de produção nem é dono daquilo que produz.

Apenas confere valor aos produtos ao utilizar os meios de pro-

dução do capitalista. O homem trabalhador se esvazia de sua

humanidade e passa a ser apenas força de trabalho. Por outro

lado, as mercadorias que produz como que “adquirem vida”.

Mas como isso é possível?Da seguinte maneira: Marx diz que as relações que se estabe-

lecem nas trocas dos valores de uso não se dão entre aqueles que

produzem e aqueles que necessitam de um produto qualquer.

Isso porque o produto não pertence àquele que o produziu; logo,

a relação não se dá entre os produtores das mercadorias, mas

entre as mercadorias. No sistema de corporações, era o própriomestre artesão que vendia seu produto a outra pessoa. No capi-

talismo, a mercadoria é vendida no mercado e já não tem mais

nenhuma relação com quem a produziu. Uma cadeira passa a

ser igual a um valor em uma determinada moeda. A isso Marx

chama de fetichismo da mercadoria e reificação do homem. Ou

seja, as mercadorias criam vida, e o homem se torna uma “coisa”,um objeto, a força de trabalho que confere valor à mercadoria.

 A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir característi-

cas sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como

características materiais e propriedades sociais inerentes aos do

trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos

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103103

individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como re-

lação social existente, à margem deles, entre os produtores do seu

 próprio trabalho [...]. Uma relação social definida estabelecida en-

tre os homens assume a forma fantasmagórica de uma relação en-

tre coisa [...]. Chamo a isto de fetichismo, que está sempre grudado

aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias.

(Marx, 1968, p. 81)

Como foi dito no começo deste estudo, o objetivo de Marx

não era apenas compreender o capitalismo, ele queria também

transformá-lo (Aron, 2003). Segundo Marx, assim como acon-teceu com os modos de produção anteriores ao capitalista, este

também iria transformar-se por causa das suas contradições.

Mas, se os homens tomassem consciência da real condição em

que as relações se davam na sociedade capitalista, essa trans-

formação seria acelerada. Com a tomada de consciência pelos

trabalhadores, eles poderiam transformar o modo de produ-ção. Surgiria, então, uma nova sociedade: a sociedade socialista

e, depois, a sociedade comunista. No socialismo, os meios de

produção e a riqueza não pertenceriam mais ao capitalista. Os

meios de produção seriam de propriedade estatal. Após essa

fase, os meios de produção seriam de propriedade coletiva, ou

seja, seriam de todos ao mesmo tempo.

É claro que ainda não chegamos a essa fase da história.

Algumas experiências socialistas podem demonstrar como a

teoria de Marx estava errada nesse ponto. Como exemplo, temos

a ex-União Soviética (URSS), país formado pela união de várias

repúblicas socialistas após a Revolução Russa de 1917. Contudo,

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104104

quando Marx (1968, 1978) afirmou o fim do capitalismo e a

sua substituição pelo socialismo e depois pelo comunismo, ele

estava pensando em um país onde as forças produtivas já esti-

 vessem plenamente desenvolvidas. A URSS era um país que fez

a sua revolução socialista quase imediatamente após ter saído

do feudalismo. Assim, não havia ainda desenvolvido plenamen-

te as suas forças produtivas para entrar em contradição com as

relações sociais de produção. Isso não significa dizer que a aná-

lise de Marx não tem validade, uma vez que as suas “previsões”

ainda não se concretizaram (Kammer, 1998). A grande contri-buição de Marx não são as suas “previsões”, mas o arcabouço

teórico que permite levantar questões pertinentes à nossa forma

de organização social. Um bom exercício talvez seja pesquisar

nos livros de história sobre a Revolução Russa de 1917, o que o

ajudará a entender melhor a análise marxista da sociedade.

SínteseSínteseA obra de Marx se constitui numa análise do capitalismo com

base na estrutura econômica que apresenta. Marx nos mostra

como a produção da vida material condiciona toda a socieda-

de. Para isso, parte de um elemento central: o trabalho. A forma

como os homens se inserem no trabalho define a sua posição

na sociedade. Partindo dessa análise, Marx nos apresenta a sua

compreensão materialista da história, mostrando como as trans-

formações da história são as transformações de formas de pro-

duzir e das relações que os homens estabelecem nessa produção.

Na análise que Marx faz do capitalismo aparecem categorias

importantes para pensarmos nossa sociedade, como ideologia,

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classes sociais, mais-valia. Com base nesses conceitos, é possível

 ver a sociedade capitalista portadora de uma grande contradição.

Outro ponto importante da análise marxista da sociedade

se refere à relação entre estrutura econômica e superestrutura

da sociedade e a maneira como os homens tomam consciência

das suas reais condições de existência.

Podemos perceber que, se as “previsões” de Marx quanto ao

futuro do capitalismo estavam erradas, suas categorias explica-

tivas ainda têm muita vitalidade para problematizar e analisar

nossa sociedade.

Indicações culturaisIndicações culturaisSARAMAGO, J. Coisas. In: _____. Objeto quase: contos. São Paulo: Cia das

Letras, 1994.

Nesse conto, todos os objetos fabricados pelo homem criam

vida e se comportam de maneira estranha, revoltando-se contra

aqueles que são seus donos. Adquirindo vida, os objetos começam

a sumir e a matar as pessoas, o que torna a vida impossível. Nesse

texto é possível perceber o fetichismo da mercadoria do qual nos

 fala Marx. O que aconteceria se as mercadorias se revoltassem

contra aqueles que as utilizam? 

MORAES, V. de. Operário em construção. In: _____. Antologia poética.São Paulo: Cia das Letras, 1992.

Esse poema mostra a tomada de consciência de um trabalha-

dor, ao refletir sobre o seu trabalho e a relação com ele. No poema,

o operário vislumbra todo o processo de apropriação de riqueza

que acontecia de forma velada no seu processo de trabalho. De

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um trabalhador alienado ele passa a ser alguém que consegue

atravessar a “cortina de fumaça” da ideologia e enxergar as reais

condições sob as quais se dão seu trabalho e sua vida.

Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação1) A respeito da obra de Marx, indique se as afirmativas a se-

guir são falsas (F) ou verdadeiras (V):

( ) Marx é, sobretudo, um sociólogo, pois sua obra se limita

a analisar apenas os aspectos sociais da realidade, não se

preocupando com a maneira como a história se desen- volve.

( ) Na obra de Marx, a contradição não representa um ele-

mento que indica a impossibilidade de estabelecer uma

relação social. Pelo contrário, Marx afirma que a contra-

dição é um elemento básico da realidade.

( ) Da mesma forma como Comte e Durkheim, Marx pro-cura sempre privilegiar em sua análise os aspectos asso-

ciativos e consensuais da realidade que observa.

( ) Um aspecto essencial para entender a obra de Marx é

compreender a maneira como a produção da vida mate-

rial condiciona a realidade social.

( ) O trabalho é um elemento central da análise de Marx,pois com ele estabelecem-se relações de formas de pro-

priedade, de distribuição de divisão do trabalho, que são

as relações sociais de produção.

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107107

Está correta a alternativa:

a) V, V, F, V, V.

b) F, V, F, V, V.

c) V, F, V, F, F.

d) F, V, F, F. V.

2) Analise as seguintes proposições a respeito da visão de Marx

sobre o capitalismo:

I. O capitalismo pode ser entendido como a história da

expropriação dos trabalhadores, em que eles vão grada-

tivamente perdendo a propriedade dos meios de produ-ção e dos produtos, além do seu saber sobre o trabalho.

II. A ideologia faz com que os homens percebam a sua si-

tuação como normal e natural, impedindo-os de perce-

berem a realidade como realmente se apresenta.

III. Os modos de produção se transformam ao longo da his-

tória, mas não exercem muita influência na organização

total da sociedade.

IV. Ao contrário de Durkheim, Marx não consegue estabe-

lecer em sua obra uma “lei geral” que explique como a

sociedade se organiza e se desenvolve.

V. Uma das principais contradições do capitalismo ocorre

entre o desenvolvimento das forças produtivas e as rela-

ções sociais de produção.

São verdadeiras as seguintes proposições:

a) I e V.

b) II, III e IV.

c) I, II, III e IV.

d) I, II e V.

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108108

3) Relacione os conceitos formulados por Marx que estão enume-

rados a seguir com as definições apresentadas na sequência:

1. Estrutura econômica da sociedade.

2. Ideologia.3. Reificação*.

4. Classes sociais.

( ) É o conjunto de representações características de uma

época, produzidas pela prática social em estruturas so-

ciais e modos de produção determinados.

( ) Define-se com a inserção dos indivíduos nas relações

sociais de produção e das formas de propriedade que

apresentam.

( ) É o conjunto das relações sociais de produção, formado

pelas relações de propriedade, pela divisão do trabalho

e pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas.( ) É o processo pelo qual o homem se esvazia de sua hu-

manidade, tornando-se apenas força de trabalho, que

confere valor à mercadoria.

A alternativa que apresenta a associação correta é:

a) 1, 3, 4, 2.

b) 3, 4, 1, 2.c) 2, 4, 1, 3.

d) 2, 1, 4, 3.

* ReificaçãoReificação: ação de transformar em coisa, em objeto material; trans-

formar o homem em coisa, retirando dele a sua subjetividade.

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4) Analise o seguinte trecho referente aos modos de produ-

ção definidos por Marx e assinale a alternativa que melhor

preenche as lacunas:

No modo de produção _______________ aqueles que produ-zem são de propriedade do senhor, enquanto no modo de

produção _______________ apenas os meios de produção são

de propriedade do senhor, pois existe uma relação de ser-

 vidão. Já no modo de produção _______________ aqueles que

produzem são livres.

a) escravista antigo – capitalista – feudalb) feudal – escravista antigo – capitalista

c) socialista – feudal – capitalista

d) escravista antigo – feudal – capitalista

5) Associe os autores estudados até aqui com as afirmativas

que representam suas respectivas reflexões:

1. Comte

2. Durkheim

3. Marx

( ) Entende a contradição como uma condição para a inte-

ração social. A contradição não é impossibilidade, mas

possibilidade de a realidade se concretizar.( ) Entende a sociologia como uma ferramenta que possibi-

litaria a reforma da sociedade por meio da produção de

um consenso moral conseguido com base na ciência e

na razão.

( ) Preocupa-se com a definição de um campo específico

para a sociologia, definindo seu objeto e método.

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( ) Para esse pensador, tanto as ciências como as socieda-

des progridem e evoluem através de uma determinada

ordem.

( ) É considerado o fundador da sociologia moderna, estu-

dando fenômenos sociais importantes, como o suicídio

e a educação.

( ) Poderíamos chamá-lo de “estudioso do capitalismo”. Mas

ele não quer remediar as mazelas desse sistema; quer en-

tendê-lo para realizar a sua “implosão”.

A alternativa que apresenta a associação correta é:a) 3, 1, 2, 1, 2, 3.

b) 2, 1, 3, 1, 2, 3.

c) 3, 1, 2, 3, 2, 1.

d) 2, 1, 3, 3, 2, 1.

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Acompanhe o seguinte trecho sobre o sistema capitalista:

Em todas as outras formas de dominação histórica anteriores, o

dominado sabia que era dominado e sabia quem era seu domina-

dor. O escravo sabia que o seu senhor o mantinha em cativeiro e o

obrigava a trabalhar para si à força, o servo sabia que o dono do

 feudo lhe arrancava a maior parte do que plantava e colhia. No ca-

 pitalismo, ao contrário, o trabalhador acha que é justo que ele seja

separado do fruto de seu trabalho mediante o pagamento do salário.

O máximo de injustiça contra a qual o trabalhador normalmente

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se revolta diz respeito aos salários baixos e às condições ruins de

trabalho (jornadas longas demais, insalubridade, etc.). (Rodrigues,

2004, p. 47)

Agora escreva um pequeno comentário sobre esse trechocom base no conceito de ideologia de Marx. Depois, compare

seu comentário com os produzidos pelos seus colegas.

2) Procure definir com seus colegas quais são as principais

características do capitalismo, segundo Marx. Anote os re-

sultados a que chegaram e guardem essas anotações paradesenvolver uma atividade no próximo capítulo.

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática

  Retome a pesquisa realizada no capítulo 1, na seção

“Atividade aplicada: prática”, e procure considerá-la sob a

ótica da análise do trabalhador parcial desenvolvida porMarx. Escreva um comentário sobre as conclusões a que

chegou.

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Max Weber e a racionalidade[Capítulo 4][Capítulo 4]

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114114

Pelo estudo sobre Durkheim e Marx, percebemos que esses

pensadores partem do pressuposto de que é possível entender

a relação entre os homens compreendendo a sociedade que os

abriga. Ou seja, uma vez que entendamos como a sociedade se

organiza, poderemos compreender como as pessoas pensam, o

porquê de agirem de determinada maneira, quais são as regrasque seguem. Entendendo o todo – a sociedade –, seria possível

entender as partes – as pessoas, as instituições, a educação, a

organização familiar. É no todo que Durkheim e Marx concen-

tram seus esforços de compreensão, tentando descobrir as “leis

gerais” que regem o seu funcionamento.

al perspectiva fica evidente em Durkheim (1960) quandodesenvolve o seu conceito de fato social, com suas três carac-

terísticas básicas: a coercitividade, a exterioridade e a coletivi-

dade/generalidade. Em Marx (1968, 1978), a ideia da luta de

classes como aquilo que move e desenvolve a história dos ho-

mens, juntamente com sua análise da estrutura econômica da

sociedade, demonstra o peso e a força das estruturas sociaissobre o indivíduo.

Neste capítulo, estudaremos um pouco da obra do pensador

alemão Max Weber (1864-1920), que apresenta uma análise um

pouco diferente das anteriores. Weber não parte da análise do

todo para entender as partes; ele faz o caminho inverso: parte

do indivíduo para entender a sociedade.

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Iniciaremos o capítulo abordando um dos principais con-

ceitos da sociologia weberiana, o conceito de ação social, com

base no qual poderemos compreender a sua “sociologia com-

preensiva”. Outro ponto importante a perceber no nosso estudo

será em relação à análise do capitalismo de Weber, que se dis-

tingue daquela realizada por Marx.

[4.1][4.1]

A sociologia compreensiva de Max WeberA sociologia compreensiva de Max WeberDa mesma forma que Marx, Weber não se limitou a estudar

sociologia. Além dessa ciência, ele estudou e pesquisou sobre

economia, direito, história e filosofia. Escreveu tratados sobre

política, ciência e sobre as formas de dominação. Aprofundou-

se no estudo das religiões, traçando uma relação com o desen-

 volvimento do capitalismo e o protestantismo, principalmente

em sua obra A ética protestante e o espírito do capitalismo, publi-

cado em duas partes, em 1904 e 1905. Em Economia e sociedade 

(obra publicada postumamente em 1922), desenvolve um trata-

do de sociologia geral, abordando aspectos econômicos, políti-

cos, religiosos e jurídicos da organização social (Aron, 2003).

O ponto central da sociologia de Max Weber é o conceito

de ação social. A sociologia weberiana procura compreendercomo o ator dá sentido à sua conduta, à sua ação social, que

pode ser racionalmente orientada. Para esse autor, o indivíduo

é sempre portador de uma intencionalidade (Weber, 1994).

Examinando-se o indivíduo e a sua intencionalidade, é possí-

 vel compreender as instituições, os grupos, os comportamentos.

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Karl Emil Maximillian WeberKarl Emil Maximillian Weber – Max WeberMax Weber – nasceu no dia

21 de abril de 1864, em Erfurt, na uríngia. De família protes-

tante, seu pai era um influente político liberal de direita. eve

um ambiente intelectual muito estimulante em casa, tornan-do-se precoce intelectualmente. Aos 17 anos cursava Direito,

que precisou abandonar aos 19 anos para prestar o serviço

militar. Um ano depois retomou os estudos. Em 1894 foi no-

meado professor de Economia Política na Universidade de

Friburgo, na Alemanha, transferindo-se para a Universidade

de Heidelberg em 1896. Em 1907 recebeu uma herança, o

que lhe permitiu se aposentar. No entanto, não abandonou

os estudos. Durante boa parte de sua vida adulta, Weber so-

freu com crises nervosas, o que o forçou a parar os estudos

e o trabalho por muitas vezes. Foi casado com Marianne

Schnitger, historiadora e socióloga. Faleceu em Munique, no

dia 14 de junho de 1920. Além das duas obras já menciona-

das, publicou também vários ensaios sobre temas diversos.

(Giddens, 2005; Aron, 2003; Abel, 1972)

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117117

Mas, cuidado! Apesar do fundamento da sociologia webe-

riana ser o indivíduo, isso não indica um desprezo pela esfera

social. Weber (1994, 1977) parte do pressuposto de que somen-

te o indivíduo é dotado de um grau de intencionalidade capaz

de ser apreendido nas situações estudadas. As instituições se-

riam, dessa forma, modos de agir consolidados em sociedade.

Para tanto, Weber (1977) desenvolve seu conceito de açãoação

socialsocial, que constitui o cerne da sociologia weberiana. Vamos

 ver como o próprio Weber define ação social:

 A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelasações de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas

como futuras [...]. Os “outros” podem ser individualizados e conhe-

cidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e

completamente desconhecidos (o “dinheiro”, por exemplo, significa

um bem – de troca – que o agente admite no comércio porque sua

ação está orientada pela expectativa de que outros muitos, emboraindeterminados e desconhecidos, estarão dispostos também a acei-

tá-lo, por sua vez, numa troca futura). (Weber, 1977, p. 139, grifo

do original)

Nem toda ação é social e nem todo contato entre os ho-

mens é necessariamente social, só merecendo a denominação

de social  quando está orientada pela ação dos outros. Ou seja,

somente é social quando a ação apresenta um sentido orienta-

do pelos outros. Guarde bem este termo − sentido −, pois ele é

fundamental para entendermos a explicação de Weber sobre a

sociedade. Vamos tentar exemplificar o que Weber quis dizer

com seu conceito de ação social.

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Quando estamos andando na rua e abrimos o guarda-chuva

porque começa a chover e todas as outras pessoas fazem isso ao

mesmo tempo, não ocorre uma ação social, porque a atitude de

abrir o guarda-chuva é tomada com relação à chuva e não com

relação aos outros. Agora, vamos supor que um indivíduo este-

 ja parado em um semáforo e todos começam a andar, mesmo

com o sinal ainda vermelho. O indivíduo avança porque todo

mundo já está andando. Isso é uma ação social, porque é uma

atitude tomada em relação aos outros. A atitude de avançar o

sinal é tomada porque o indivíduo é influenciado pelos outros.É, então, um comportamento que tem um sentido orientado

pela ação dos outros.

A ação social, entretanto, não é apenas uma imitação. Se um

indivíduo simplesmente imita a “massa”, isso não significa que

seja uma ação social apenas porque leva em consideração a ação

dos outros. A ação social só ocorre quando há uma atribuiçãoatribuiçãode sentidode sentido, quando existe uma relação significativa entre a con-

duta do indivíduo e o comportamento dos outros, que ele leva

em consideração no seu ato. O indivíduo que avança o sinal

porque os outros avançam toma uma atitude dotada de sentidosentido.

Ele pode pensar “Vou avançar o sinal porque nesta rua já é um

costume avançar o sinal” ou então “Vou avançar o sinal porque,se eles não respeitam as regras, por que eu devo respeitá-las?”.

No primeiro caso, o sentido que o indivíduo atribui a seu ato

está ligado a um costume. É o costume que todos têm que dá

sentido ao ato do indivíduo. No segundo caso, o indivíduo age

com base em um valor. Já que todos avançam o sinal vermelho,

ele também pode avançar, pois é igual a todo mundo.

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119119

Pelo exemplo dado, podemos perceber, primeiro, que o sen-

tido que o indivíduo atribui à sua ação pode ser muito variado

e, segundo, que o indivíduo é um ponto-chave na sociologia

weberiana. Em Weber (1977, 1994), a possibilidade de entender

a sociedade e suas instituições passa pela análise do comporta-

mento dos indivíduos. Ou seja, a tarefa da sociologia consiste

em determinar qual o sentido ou o significado da ação social.

Com base nessa perspectiva, contudo, a realidade social apa-

rece como infinita: já que os sentidos que os agentes podem dar à

ação social também são infinitos, como pode o sociólogo moni-torar e compreender todos os motivos do comportamento social?

Segundo Weber, isso não é possível. O pesquisador social nunca

poderá captar toda a realidade, mas apenas uma parte dela. Além

disso, na seleção dos fragmentos dessa realidade a serem investi-

gados estarão presentes os valores do investigador (Aron, 2003).

rata-se de um processo subjetivo, que, no entanto, não compro-mete a objetividade do conhecimento, desde que o investigador

leve em conta, na interpretação das ações e das relações, os valores

que ele atribui ao próprio ator social, isto é, àquele que pratica a

ação, e não os seus próprios valores (do investigador).

Ação socialAção social é aquela ação orientada pela ação dos outros. Os “ou-

tros” podem ser um indivíduo ou uma coletividade. Pode ser des-

conhecido ou conhecido. Nem toda ação entre os homens é de

caráter social. Somente o é quando tem um sentido dirigido pela

ou para a ação dos outros. Dessa forma, a simples imitação não

poder ser uma ação social, ela somente será social quando houver

um sentido, um significado atribuído à conduta (Weber, 1977).

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Para Weber (2002; 1994), a sociedade não é superior ao in-

divíduo, como em Durkheim, ou uma estrutura que se impõe,

como em Marx. A realidade social aparece como uma “teia”*, for-

mada pelas relações entre os indivíduos. Não é possível descobrir

as “leis gerais” que orientam as interações sociais, simplesmente

porque essas leis não existem. O que o sociólogo pode descobrir

e estudar é o sentido que o indivíduo confere à ação que empre-

ende (Aron, 2003; Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002). Assim,

podemos afirmar que, para Weber, a sociedade é uma “teia”*, que

se forma pela interação de vários indivíduos (Rodrigues, 2004).É claro que Weber não se contenta em afirmar que os sen-

tidos da ação podem ser infinitos e que a realidade social é im-

possível de ser apreendida como um todo. Já vimos que, em

sua opinião, o cientista social só pode apreender um aspecto

da realidade, um recorte. Mas como ele resolve a questão dos

sentidos da ação que podem ser infinitos? Para resolver esseproblema, ele constrói uma tipologia das ações sociais. É isso o

que veremos na próxima seção.

[4.2][4.2]

A tipologia da ação socialA tipologia da ação social

Na sua tentativa de compreender os fenômenos sociais, Weberestabelece uma tipologia das ações sociais. A construção de

uma tipologia faz parte de sua metodologia (Aron, 2003). As

 várias tipologias constituem um recurso que Weber chamou de

* O termo teia  foi empregado no sentido encontrado em Rodrigues

(2004, p. 61).

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121121

tipo ideal . Como o próprio nome já diz, o tipo ideal não existe

em estado puro na realidade, apenas teoricamente. É uma idea-

lização, uma construção mental feita pelo investigador com

base nos vários aspectos históricos e sociais dos elementos que

deseja estudar (Weber, 1994; Sell, 2002).

Após a construção desse tipo ideal, o investigador observa o

aspecto da realidade que pretende estudar e procura ver o quanto

essa realidade se distancia ou se aproxima do tipo ideal constru-

ído teoricamente. Essa é a metodologia de Weber. Perceba, mais

uma vez, que Weber não deseja descobrir “leis gerais”, mas sim“compreender” os fenômenos sociais. Por isso a sociologia webe-

riana é uma sociologia compreensiva; ela pretende compreender

os sentidos da ação social (Aron, 2003; Sell, 2002).

O tipo idealtipo ideal é uma construção teórica elaborada pelo pesquisa-

dor com base em vários aspectos históricos. É utilizado como ins-trumento de pesquisa, possibilitando verificar se a realidade a ser

estudada se aproxima ou se distancia do tipo ideal construído. O

tipo ideal nunca será encontrado tal e qual na realidade, sendo

apenas uma construção teórica. É um recurso metodológico (Sell,

2002; Johnson, 1997).

Vejamos como Weber constrói a sua tipologia das ações so-

ciais. Segundo o autor, as ações sociais podem ser de quatro

tipos: 1) racional com relação a fins; 2) racional com relação a

 valores; 3) afetiva; 4) tradicional (Weber, 1977, 1994).

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Na ação racional com relação a finsação racional com relação a fins, o indivíduo – ou agente,

ou ator – age tendo em vista os meios mais adequados para os

fins desejados. Na ação racional com relação a valoresação racional com relação a valores, o ator

procura o fim desejado agindo racionalmente de acordo com

um valor, que pode ser moral, estético ou religioso. O terceiro

tipo de ação social, a ação afetivaação afetiva, é determinado por estados

afetivos ou emocionais; em última instância, é “irracional”. E a

ação tradicionalação tradicional é determinada por um costume, uma tradição

que é passada ao longo do tempo.

Quadro 4.1 − ipologia das ações sociaisQuadro 4.1 − ipologia das ações sociais

Racional comRacional com

relação a finsrelação a fins

RacionalRacional

com relaçãocom relação 

a valoresa valores

AfetivaAfetiva radicionalradicional

O ator age

racionalmente,selecionando

e utilizando

os meios mais

adequados

para alcançar

o fim desejado.

O ator age

racionalmente,com base em

um valor, para

alcançar o fim

desejado. O

 valor pode ser

estético, moral

ou religioso.

O ator age

emotiva eemocional-

mente para

alcançar o

fim deseja-

do. Pode ser

considerada

“irracional”.

O ator age

com base natradição e

nos costumes

para alcan-

çar o fim

pretendido.

Para esclarecer melhor esses conceitos, vamos seguir os

mesmos passos metodológicos de Weber (1977, 1994) e olhar a

realidade com base nesses tipos ideais de ação social. omemos

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123123

os tipos de ação descritos anteriormente e comparemos com a

realidade. É claro que a nossa “realidade” aqui vai ser um exem-

plo hipotético, mas poderá nos ajudar a compreender melhor

essa tipologia e de que maneira ela funciona.

Vamos supor que uma garota queira comprar uma calça

nova. O fim desejado por ela é comprar a calça. Se ela agir ra-

cionalmente com relação a fins, terá de escolher o melhor meio

para conseguir a calça. Poderá economizar dinheiro e de posse

dele fazer uma pesquisa para efetuar a compra no lugar mais

barato. Isso é uma ação social com relação a fins. Por outrolado, se ela se guiar por um valor estético, poderá não comprar

a calça mais barata, mas sim a mais barata entre as que mais

lhe agradarem, segundo o valor estético que utiliza. Essa é uma

ação racional com relação a valores. Ela também poderá agir de

maneira emotiva e deixar-se levar pelo impulso, adquirindo a

calça na primeira loja que vir e praticando uma ação afetiva. Sea jovem comprar a calça em uma loja em que sua família sem-

pre faz compras, ela estará seguindo um costume, uma tradição.

Nesse caso sua ação será tradicional.

Para Weber, o indivíduo é sempre portador de racionalida-

de, em menor ou maior grau, pois ele atribui sentido à sua ação.

A ação é dotada de intencionalidade. Contudo, é errado pensarque Weber quer apenas estudar o indivíduo, esquecendo-se das

instituições sociais, como a família, o Estado, a Igreja (Aron,

2003). Para ele, quando o indivíduo age, leva em consideração

não só o comportamento dos outros, mas também as normas

sociais institucionalizadas e consolidadas na sociedade. odos

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agem influenciados pelas normas estabelecidas (Sell, 2002).

Note que tais normas não são somente leis escritas, mas cos-

tumes e convenções. Porém, ao mesmo tempo que as normas

influenciam a maneira de o indivíduo agir, são resultado das

ações dos indivíduos. É o mesmo que dizer que os indivíduos

fazem as normas e também são feitos por elas.

 Preste atenção em mais este termo − maneira de agir . Ele é

importante para entendermos como o indivíduo faz as normas

e, ao mesmo tempo, é produto delas.

Weber (1994) distingue duas maneirasmaneiras ou modos de agirmodos de agir.O primeiro ele chama de agir em comunidade, e o segundo, de

agir em sociedade.

O agir em comunidadeagir em comunidade está baseado em expectativas e na

probabilidade. O indivíduo baseia a sua ação na expectativa em

relação ao comportamento dos outros, ou seja, ele age espe-

rando que o outro se comporte de determinada maneira. Porexemplo, você caminha pela rua e avista seu professor vindo

em sua direção. Você o cumprimenta e ele responde ao seu

cumprimento. Você agiu assim porque esperava que o seu pro-

fessor também o cumprimentasse. Não existe nenhuma lei que

diga que “todo aluno é obrigado a cumprimentar seu professor

na rua”. É como se você pensasse: “Provavelmente meu profes-sor responderá ao meu cumprimento”. Essa é uma maneira de

agir baseada na pessoalidade e na afetividade.

Já o agir em sociedadeagir em sociedade  é baseado em regulamentos e em

normas sociais vigentes, ou, em outras palavras, em leis. Aqui o

indivíduo age baseado nesses regulamentos sociais em uso, pois

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espera que os outros indivíduos também se baseiem neles para

agir. Na escola temos a regra de que a aula começa em deter-

minado horário. odos agem e se comportam com base nessa

regra. Perceba que isso não significa que todos sempre cumpri-

rão a lei ou regra, mas sim que agirão baseados nela. Roubar é,

obviamente, proibido por lei. Contudo, existem pessoas que in-

fringem essa regra, por um motivo ou por outro. Mas mesmo a

maneira de agir dessas pessoas que infringem a lei é baseada na

regra. Aquela pessoa que roubar vai procurar se esconder, fugir,

despistar ou disfarçar, pois sabe que infringiu uma regra. Então,o seu agir é baseado na regra que infringiu. Podemos dizer que

essa é uma maneira de agir baseada na impessoalidade.

Quadro 4.2 − Diferença entre o agir em comunidade e o agirQuadro 4.2 − Diferença entre o agir em comunidade e o agir

em sociedadeem sociedade

Agir em comunidadeAgir em comunidade Agir em sociedadeAgir em sociedade

em por base expectativas e

probabilidades. O ator baseia o

seu agir esperando que o outro

se comporte de determinada

maneira.

em por base regulamentos e

normas sociais vigentes. O ator

baseia o seu agir nas regras

estabelecidas.

Você deve ter percebido que Weber fala muito em raciona-

lidade e em regras. Ele fala sobre a ação social racional, o agir

segundo as regras, os regulamentos sociais vigentes. Pois bem,

segundo Weber (1994, 1999), a racionalidaderacionalidade é um dos prin-

cipais elementos da ordem social. Entendia ele que a sociedade

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moderna está passando por um crescente processo de racio-

nalização. As pessoas estariam utilizando-se cada vez mais de

elementos racionais para guiar e organizar sua vida. Elas esta-

riam escolhendo os meios mais adequados, avaliando as conse-

quências futuras, tendo como base o conhecimento técnico e o

desenvolvimento da ciência. Assim, a tradição, as concepções

mágicas e religiosas estariam perdendo lugar para o conheci-

mento técnico na organização da vida das pessoas. A sociedade

estaria passando, então, por um processo que Weber chama de

racionalização.Há algum tempo era muito comum as pessoas recorrerem

às chamadas benzedeiras. Elas eram procuradas por quem tinha

problemas de saúde, por exemplo, e realizavam benzimentos que

curavam os males daqueles que as procuravam. Assim, quando

alguém ficava doente, poderia ir até uma benzedeira para que

ela fizesse um benzimento e ele ficasse bom. Hoje, essas pessoasperderam o seu espaço, pois a maioria procura os médicos quan-

do fica doente. Isso porque a crença no “poder” das benzedeiras

de curar enfraqueceu. Por outro lado, a “crença” no conheci-

mento científico aumentou. A concepção mágica ou religiosa

não é mais considerada legítima. “Acredita-se” muito mais em

um médico do que em uma benzedeira. Note que não estamoscontestando a eficiência da benzedeira ou de outras formas de

conseguir o bem-estar fora da medicina tradicional. Essas for-

mas também têm a sua eficácia. O que é importante perceber é

o triunfo da ciência e da técnica sobre outras formas de organi-

zação da vida. Weber (1994) chama o processo de abandono de

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concepções mágicas e religiosas em favor da técnica e da ciência

de desencantamento do mundo, ou ainda de secularização* .

Segundo Weber, o processo de racionalizaçãoprocesso de racionalização é o abandono das

concepções mágicas e tradicionais como formas de explicação e

orientação da vida social, em favor de formas cada vez mais pre-

cisas, organizadas e burocratizadas. É uma adaptação cada vez

maior entre meios racionais para se conseguirem os fins desejados

(Weber, 1994).

A racionalização da sociedade não significa, entretanto, ape-

nas o triunfo do conhecimento científico e técnico sobre as for-

mas tradicionais, mágicas e religiosas. Ela vai criando também

cada vez mais e mais regras e normas que, como vimos, são

levadas em conta na hora de os indivíduos agirem e tomarem

suas decisões (Aron, 2003; Weber, 1994). Você percebe comoo agir em comunidade vai se transformando cada vez mais no

agir em sociedade? Pois é. Segundo Weber, é isso mesmo que

acontece. E, nesse processo, as normas e as leis criadas têm um

lado positivo, pois tornam o mundo mais inteligível às pessoas.

Imagine você no seu primeiro dia de trabalho sem conhecer

nenhuma lei ou regra que organiza a rotina diária da empresana qual trabalha. Quando você passa a conhecer essas regras, as

coisas ficam bem mais fáceis. Você fica sabendo qual é a hierar-

quia, quais são os horários e as tarefas que precisa cumprir; o

mundo fica mais organizado.

* SecularizaçãoSecularização: processo de declínio da influência da religião.

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Mas por que as pessoas obedecem às leis e às normas criadas

pela racionalização da sociedade? Por causa da legitimidade: as

pessoas obedecem às regras ou guiam o seu comportamento

pela existência delas não apenas porque temem a punição que

elas impõem, mas porque estão convencidas de que elas são

 verdadeiras, porque há um consenso em torno da necessidade

de obedecer, mesmo que não se obedeça. Aceitar uma lei ou

regra como legítima é, então, acatá-la como verdadeira.

Aqui surge, porém, outra indagação: como e por quem são

feitas as regras? Elas são feitas por aqueles indivíduos que con-seguem impor a sua vontade. Para entendermos melhor essa

questão, vejamos como Weber (1994) desenvolve sua tipologiatipologia

da dominaçãoda dominação.

As pessoas que conseguem impor sua vontade são aquelas

que exercem a dominação, definida por Weber como a proba-

bilidade de contar com a obediência daqueles que teoricamentedevem obedecer. A obediência está ligada ao reconhecimento,

por parte daqueles que obedecem, de que as ordens que lhes

são dadas são legítimas, ou seja, são aceitas como verdadeiras.

Então, aqueles que dominam têm o poder de impor a sua von-

tade e ditar as regras. Assim, poder é diferente de dominação: 

poderpoder é a capacidade de impor a vontade, e dominaçãodominação é a pro-babilidade de encontrar obediência. Além disso, a maneira de

impor a vontade e ditar as regras numa relação social pode va-

riar. Por isso, Weber distingue três tipos básicos de dominação:

a dominação carismática, a dominação tradicional e a domina-

ção racional-legal.

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A dominação carismáticadominação carismática  tem sua legitimidade apoiada na

crença de que a pessoa ou pessoas que mandam têm um poder

mágico, sobrenatural ou religioso e também um caráter heroi-

co. É o caso de Jesus Cristo, que pode ser considerado um líder

carismático porque seu poder está ligado a dons mágicos e reli-

giosos. A dominação tradicionaldominação tradicional está apoiada na crença em um

poder sagrado herdado das tradições. Esse tipo de dominação

se refere àquele poder passado de geração em geração dentro de

uma tradição, como é o caso dos reis, por exemplo. A dominadomina--

ção racional-legalção racional-legal tem seu fundamento na legalidade da lei e nalegitimidade do poder daqueles que fazem essas leis e normas. É

o caso da nossa legislação. Aceitamos essas leis porque as pes-

soas que a fazem são consideradas legitimadas em suas funções.

Os vereadores, os deputados, os senadores e o presidente da

República são legitimados pela eleição, que é considerado o meio

mais “racional” para escolher os representantes e os legisladores.Em outras palavras, na dominação racional-legal as pessoas obe-

decem porque o líder ou aquele que manda ocupa determinada

posição na estrutura burocrática.

Ainda no que se refere à dominação racional-legal, o exercício

da autoridade depende de uma estrutura composta de um qua-

dro administrativo de funcionários hierarquizado e profissional.O presidente da República não pode governar um país sozinho,

assim como o presidente de uma empresa não pode administrá-la

sozinho. Eles dependem de profissionais treinados que conheçam

as normas e as regras e “operem” os meios que lhes permitam exer-

cer o seu poder. Surge, então, a burocracia, que aparece na sociolo-

gia weberiana como o modo moderno de extrair a obediência das

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pessoas. A própria etimologia da palavra revela essa dimensão res-

saltada por Weber (bureau: escritório; kratos: poder). Dessa forma,

o processo de racionalização da sociedade é acompanhado tam-

bém por um processo de burocratização (Weber, 2002, 1994, 1999;

Aron, 2003; Sell, 2002; Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002).

Quadro 4.3 −Quadro 4.3 − ipologia da dominaçãoipologia da dominação

CarismáticaCarismática radicionalradicional Racional-legalRacional-legal

Baseia-se em um

poder mágico,

religioso. O líder

carismático encar-

na um herói, um

salvador.

Baseia-se em umpoder herdado na

tradição. O líder

tradicional governa

por uma “herança”.

Baseia-se na legi-

timidade das leis e

na posição que os

indivíduos ocu-

pam na estrutura

burocrática.

Como vimos, a racionalização pode ser positiva, na medi-

da em que torna o mundo mais organizado e inteligível para

as pessoas. Por outro lado, Weber tem uma visão pessimista

da racionalização: ela acaba provocando uma perda de senti-

do, pois transforma o homem em um “cumpridor de regras”,

aprisionando-o numa “jaula de ferro” (Aron, 2003).

Com o aparecimento de cada vez mais regras e normas a

serem cumpridas, o homem moderno perderia sua individuali-

dade e autonomia, estando cada vez mais subordinado à autori-

dade das leis. Elas inibiriam toda a criatividade e inventividade

dos indivíduos, pois tudo estaria previsto pelas regras.

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Perceba que as leis, as regras e as normas são criadas com o

objetivo de facilitar a vida do homem, tornar a vida mais orga-

nizada e o mundo, inteligível. Mas elas acabam produzindo um

“efeito colateral”. Weber (1994) afirma que as sociedades moder-

nas são cada vez mais complexas, e os objetivos dos indivíduos

passam a ser cada vez mais conflituosos. As regras surgem tam-

bém como maneira de organizar conflitos. Já imaginou se todos

fizessem o que quisessem, sem nada para guiar suas condutas?

Então as regras e os regulamentos são meiosmeios para se alcan-

çar um fimfim, seja ele qual for. Acontece que esses meios acabamse transformando em fins em si mesmos (Weber, 1994), ou seja,

os homens não cumprem mais as regras para alcançar um fim

desejado, mas sim com o único propósito de cumpri-las. É aí

que ocorre a perda de sentido na sociedade moderna, pois não

é mais o fim que guia as ações; os próprios meios se transfor-

mam em fins.Um exemplo pode nos ajudar a compreender melhor essa

questão da perda de sentido. Vamos pensar na chamada que é

feita em todas as escolas para verificar quais alunos estão pre-

sentes na aula. A lista ou o livro de chamada é um procedimen-

to criado com o pressuposto de que todo aluno deve chegar no

horário e de que todo aluno deve assistir um número mínimode aulas para garantir seu aprendizado. Isso é uma norma, uma

regra burocrática, que orienta o comportamento dos indiví-

duos em busca de um fim, que é a aquisição de conhecimentos

ou a capacitação. Entretanto, essa norma pode se transformar

em um fim em si mesma quando os alunos ou o professor vão à

aula unicamente tendo em vista a presença no livro de chamada.

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Nesse caso, o fim se perde, e o que era apenas um meio se trans-

forma em fim. Não se comparece à aula pelos conteúdos a se-

rem aprendidos ou ministrados, mas pela presença que todos

devem ter segundo o que a lei orienta ou estabelece.

Assim, a racionalização e a burocratização acabam trans-

formando o homem moderno em um “cumpridor de regras”, o

que faz com que esses processos levem à perda de sentido e de

liberdade (Weber, 1994).

E o que tudo isso tem a ver com o capitalismo? É o que

 veremos na próxima seção ao estudarmos um pouco uma dasprincipais obras de Weber.

[4.3][4.3]

“A ética protestante e o espírito“A ética protestante e o espírito do capitalismo”, de Max Weberdo capitalismo”, de Max WeberEm A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber (1999)

procura relacionar aspectos da religião com o comportamen-

to humano, com o objetivo de compreender o capitalismo.

Estabelecer essa relação não é nenhuma inovação metodológi-

ca, pois muitos pensadores já haviam feito o mesmo. O aspecto

inovador da obra de Weber está na particularidade de relacio-

nar seitas protestantes e uma conduta capitalista que consideraparticular do Ocidente (Aron, 2003; Sell, 2002). A relação mais

específica é entre uma ética – uma conduta pregada pela reli-

gião – e uma conduta requerida pelo sistema capitalista. Mas,

no âmbito do protestantismo e do capitalismo, Weber tam-

bém limita os elementos que entrarão em sua análise. Assim,

ele demonstra que existe uma “afinidade eletiva” entre a ética

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protestante e a atividade capitalista moderna, ou o que chama

de espírito do capitalismo.

De maneira resumida, Weber entende por espírito do capi-

talismo uma conduta que busca legalmente o lucro por meio de

uma adequação racional e planejada entre meios e fins, asso-

ciada a uma atitude rígida em relação aos prazeres e ao gozo

desse lucro, tendo o trabalho como resultado e expressão de

uma virtude (Aron, 2003).

O trabalho aparece, no contexto da ética puritana, como a

atividade do homem na terra. É a essa atividade que o homemdeve dedicar a sua vida; é essa atividade a vocação do protestante.

E a vocação do homem protestante implica determinada condu-

ta profissional que se identifica com a conduta do capitalismo;

não aquele capitalismo que se expressa na busca incontrolável

pelo lucro, mas o capitalismo ocidental, que associa a ideia de

uma economia livre a uma racionalidade. E essa vocação se ex-pressa no trabalho, que não é mais um castigo de Deus lançado

sobre a humanidade ao expulsar Adão e Eva do paraíso, mas que

se torna uma virtude e um chamamento divino (Chaui, 1999).

Analisando trabalhos de outros autores sobre a ética e a

conduta puritana, Weber destaca a ênfase que essa ética e essa

conduta dedicam à riqueza e à aquisição desta na vida do ho-mem religioso. Em certo sentido, o princípio da ética puritana –

a ascese* – parece ser contrário à aquisição de riqueza. Porém,

tal aversão à riqueza refere-se mais às consequências que ela

* AsceseAscese: doutrina que prega a renúncia ao prazer, o triunfo do espírito

sobre os instintos e as paixões.

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pode trazer, ou seja, ao ócio, à vida desregrada, do que à sua

propriedade propriamente dita.

O que está em jogo não é somente a riqueza, mas o trabalho,

que é o meio de consegui-la. Nos estudos analisados sobre a éti-

ca puritana no capítulo V de sua obra, Weber mostra que há, na

ética puritana, uma pregação quase apaixonada pelo trabalho –

tanto físico como intelectual – duro e constante. A riqueza só

se torna um “inconveniente” dentro dessa ética na medida em

que dispensa a realização do trabalho. Este se torna a finalidade

da própria vida. E o homem rico, assim como o homem pobre,não deve se furtar ao trabalho. A riqueza não exime o homem

do trabalho, pois é um meio de glorificar a Deus.

Nem o rico pode comer sem trabalhar, pois mesmo que não precise

disto para o seu sustento, ainda assim prevalece o mandamento de

Deus, que deve ser obedecido por ele, tanto quanto pelo pobre. Isto

 porque todos, sem exceção, recebem uma vocação da ProvidênciaDivina, vocação que deve ser por todos reconhecida e exercida. Essa

vocação não é, como no luteranismo, um destino ao qual cada um

se deva submeter, mas um mandamento de Deus a todos, para que

trabalhem na sua glorificação. (Weber, 1999, p. 211)

O ato de trabalhar constitui um estado de graça do homemna terra, a maneira de glorificar a Deus. E deixar de glorificar a

Deus – ou seja, não trabalhar – para se dedicar a outras ativida-

des é fugir de sua vocação religiosa:

 A perda de tempo, portanto, é o primeiro e o principal de todos os

 pecados. A duração da vida é curta demais, e difícil demais, para es-

tabelecer a escolha do indivíduo. A perda de tempo através da vida

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social, conversas ociosas, do luxo, e mesmo do sono além do necessá-

rio para a saúde – seis, no máximo oito, horas por dia – é absoluta-

mente indispensável do ponto de vista moral. Não se trata assim do

“Time is Money” [tempo é dinheiro] de Franklin, mas a proposição

lhe é equivalente no sentido espiritual: ela é infinitamente valiosa,

 pois, de toda hora perdida no trabalho redunda uma perda de tra-

balho para a glorificação de Deus. (Weber, 1999, p. 112)

A vida deve ser regrada, sem desperdícios de tempo. Perder

tempo, segundo a ética puritana, é deixar de agradar a Deus. E

como agradar a Deus? A resposta dada pela ética puritana é aseguinte: trabalhando de maneira racional e ordenada.

Outro ponto importante a que Weber chama a atenção no

capitalismo ocidental refere-se à separação do local de trabalho

da esfera doméstica. Essa separação entre a casa e o local de

trabalho é fator de grande importância no processo de raciona-

lização do trabalho, pois dá a ele certa “independência” das ou-tras atividades; deixa de ser um elemento da vida doméstica e

passa a ser submetido a uma outra lógica, uma lógica racional.

Com a passagem para uma sociedade industrial, houve

uma severa reestruturação dos hábitos de trabalho, que antes

era condicionado por um ritmo natural. Antes dessa passagem

para uma sociedade industrial, havia pouca demarcação en-

tre o local de trabalho e a casa. A casa era o local de trabalho,

e os familiares eram os colegas de ofício. Além da falta dessa

diferenciação, o uso do tempo era irregular. A irregularidade

marcava os dias e as semanas de trabalho. O trabalho e a vida

doméstica não se diferenciavam; o trabalho não tinha um lugar

específico nem um tempo determinado (Tompson, 1991).

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136136

A fábrica ou empresa capitalista como local de trabalho

diferenciado da vida doméstica é mais do que a concentração

dos trabalhadores e dos meios de produção em um único local.

Significa também, e sobretudo, a organização do trabalho em

novos moldes: uma organização capitalista orientada racional-

mente para o lucro (Decca, 1993). Como já foi dito, não é ape-

nas a procura do lucro que caracteriza uma conduta capitalista

moderna. O que é importante é a procura racional do lucro, a

adequação entre meios e fins. A separação entre a casa e o local

do trabalho – que marca o surgimento da fábrica – permite aracionalização e o disciplinamento do trabalho, o que, junta-

mente com os princípios de uma ética protestante, influencia

na configuração do capitalismo.

Assim, com o estudo realizado nessa obra, Weber mostra

como a ética protestante fornece ao homem determinada ma-

neira de ser que irá encontrar correspondência no capitalismo.É uma conduta racional fornecida pela religião que favorece o

surgimento do capitalismo. Weber não afirma que essa ética é a

única causa do capitalismo, mas sim um elemento que colabora

com seu surgimento.

Se Marx vê como especificidade do capitalismo o fato de

esse regime acumular e produzir riqueza social, garantindo osmeios para a apropriação privada dessa riqueza, Weber vê no

capitalismo a manifestação de uma racionalidade ainda não en-

contrada em outros tempos e locais. Para ele, o ponto central

do capitalismo é a racionalização da conduta humana.

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137137

SínteseSíntese

As reflexões de Max Weber sobre a sociedade não visam à

descoberta de “leis gerais”, como aquelas empreendidas por

Durkheim e Marx. O ponto de partida da sociologia weberiana

se encontra no indivíduo, pois é a partir dele que se abre a possi-

bilidade de entendimento da ordem social e das instituições. A

sociologia weberiana é uma sociologia compreensiva, uma vez

que pretende compreender a ação social em seu curso e seus

efeitos. Assim, a ação social se configura no conceito nuclear

de Weber. Com essa perspectiva metodológica, Weber constrói

suas tipologias, utilizando-se dos tipos ideais.

Em relação à sociedade moderna, Weber distingue o agir

em comunidade do agir em sociedade e mostra como a socie-

dade moderna se caracteriza por um crescente processo de ra-

cionalização e burocratização da vida, em que as concepções

mágicas, religiosas e tradicionais vão pouco a pouco sendo

substituídas pela crença na eficácia da ciência.

Esse processo de racionalização tem um lado positivo, pois

torna o mundo mais desenvolvido e mais organizado, mas tam-

bém tem seu lado negativo. Segundo Weber, a racionalização

da vida acaba ocasionando a perda de sentido e a perda da li-berdade ao transformar o homem em um “cumpridor de re-

gras”. As regras e as normas, criadas como meios para alcançar

os objetivos pretendidos, acabam se transformando em fins em

si mesmas. A vida tende a se tornar vazia e sem sentido, e o

homem fica condenado a viver aprisionado pelas regras criadas

por ele mesmo.

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138138

Indicação culturalIndicação cultural

ORWELL, G. 1984. São Paulo: Nacional, 2008.

George Orwell relata nessa obra a realidade de uma socie-

dade altamente racionalizada e burocratizada. Escrito em 1948,

o livro mostra a perda de sentido de uma suposta sociedade do

 futuro, em que a vida e a conduta das pessoas perdem totalmente

o caráter pessoal, orientado-se para a obediência a um Estado

autoritário e ditador.

 Além de apontar a questão da racionalização e da perda de

sentido, para a qual Weber nos chama a atenção, o livro é inte-

ressante, pois é dele que é retirada a ideia dos reality shows (por

exemplo, o Big Brother Brasil).

Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1) A respeito da obra de Weber, é correto afirmar:I. Procura o estabelecimento de “leis gerais”, pois entende

que, ao compreender como a sociedade funciona (o todo),

entenderá também a maneira como as pessoas se compor-

tam e o funcionamento das instituições sociais (as partes).

II. Sua sociologia compreensiva tem como ponto de par-

tida o indivíduo. Ele é considerado um ser dotado deintencionalidade, e a explicação da sociedade passa pri-

meiramente pelo entendimento do sentido de sua ação.

III. Weber afirma que os tipos ideais existem na realidade.

Segundo o autor, todo tipo ideal ocorre primeiro na rea-

lidade para somente depois servir como método de pes-

quisa.

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IV. Para Weber, a sociedade não é algo possível de captar

na sua totalidade. O que o sociólogo pode compreender

são recortes dessa realidade, uma vez que a realidade so-

cial é como uma “teia” que se forma pela interação dos

indivíduos.

VII. Weber considera que a sociedade moderna está passan-

do por um intenso processo de racionalização, com o

abandono das concepções mágicas e tradicionais.

São verdadeiras as seguintes afirmações:

a) I, II e III.b) II, III e IV.

c) II, III e IV.

d) II, IV e V.

2) Classifique as situações especificadas a seguir como agir emagir em

sociedadesociedade (1) ou agir em comunidadeagir em comunidade (2), segundo a defi-

nição de Weber:

( ) Pedir a segunda chamada de uma avaliação na escola ou

na faculdade.

( ) Emprestar um livro numa biblioteca.

( ) Emprestar um livro de um conhecido.

( ) Presentear um colega de trabalho no seu aniversário.

( ) Cumprimentar seu professor ou seu chefe na rua.

( ) O soldado que cumprimenta seu superior na rua.

( ) A emissão de um cheque pré-datado.

( ) A renegociação de uma dívida em um banco.

( ) Declarar o Imposto de Renda ou fazer a Declaração de

Isento.

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( ) Dirigir um veículo no trânsito.

( ) Presentear a mãe no dia das mães.

Agora, assinale a alternativa correta:

a) 1, 1, 2, 1, 2, 2, 1, 1, 2, 2, 1.

b) 2, 1, 1, 2, 2, 1, 2, 1, 1, 1, 2.

c) 1, 1, 2, 2, 2, 1, 2, 1, 1, 1, 2.

d) 1, 1, 2, 2, 2, 1, 1, 1, 1, 1, 2.

3) De acordo com a problematização de Weber sobre o processo

de racionalização, assinale V para verdadeiro e F para falso:

( ) Pode significar ao mesmo tempo liberdade e aprisiona-mento para os homens.

( ) É típico das sociedades mais tradicionais, em que a vida

é inteiramente controlada.

( ) Nas sociedades modernas, é acompanhada pelo pro-

cesso de burocratização.

( ) Weber tem uma visão pessimista da racionalização, pois

esta provocaria a perda de sentido e de liberdade.

( ) A racionalização é o triunfo das explicações mágicas e

tradicionais sobre a ciência e a técnica.

( ) O capitalismo é um período que apresenta uma raciona-

lização não encontrada em outros tempos da história da

humanidade.

Agora, assinale a alternativa correta:

a) V, F, V, F, F, V.

b) F, F, V, V, F, F.

c) V, F, V, V, F, V.

d) V, F, V, F, F, V.

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4) Acompanhe os trechos da obra de Weber a seguir:

O “impulso para o ganho”, a “ânsia do lucro” de lucro monetário

o mais alto possível, não tem nada a ver em si com o capitalismo.

Esse impulso existiu e existe entre garçons, médicos, cocheiros, artis-tas, prostitutas, funcionários corruptos, soldados, ladrões, cruzados,

 jogadores e mendigos – ou seja, em toda espécie e condições de pes-

soas, em todas as épocas de todos os países da Terra, onde quer que,

de alguma forma, se apresentou ou se apresenta, uma possibilidade

objetiva para isso.[...]

 Agora, contudo, o Ocidente desenvolveu uma gama de significadosdo capitalismo e o que lhe dá consistência – tipos, formas e direções

– que nunca antes existiram em parte alguma [...].

O Ocidente, todavia [...] veio conhecer, na era moderna, um tipo

completamente diverso e nunca antes encontrado de capitalismo: a

organização capitalística racional assentada no trabalho livre (for-

malmente pelo menos). (Weber, 1999, p. 4-7)

  De acordo com o que você estudou sobre a obra de Weber e

o trecho citado acima, marque a alternativa correta:

a) Weber realiza uma crítica ao capitalismo pela forma

como leva as pessoas a buscarem o lucro acima de tudo.

b) Weber destaca o caráter inédito do capitalismo, em queexiste a busca do lucro associada a uma racionalidade

não encontrada anteriormente.

c) A análise do capitalismo mostra o caráter contraditório

que esse sistema apresenta.

d) O trecho revela como a análise weberiana do capitalismo

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e da ética puritana apresentam o trabalho como um cas-

tigo divino, daí o desenvolvimento da racionalidade

moderna.

5) A respeito da metodologia de Weber, é correto afirmar:a) Desenvolve uma tipologia das ações sociais que aparece

como uma construção teórica para abordar aspectos da

realidade.

b) A sociologia compreensiva busca apenas o estabeleci-

mento das tipologias, os chamados tipos ideais.

c) O indivíduo tem pouca importância na metodologiaweberiana, já que o objetivo é desenvolver uma sociolo-

gia que explique o todo e não as partes.

d) Os sentidos atribuídos à ação, segundo Weber, (1977,

1994, 1999, 2002), são infinitos e, por isso, impossíveis

de serem estudados.

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagem

Questões para reflexãoQuestões para reflexão

1. Procure fazer uma comparação entre as análises que

Marx e Weber fazem do capitalismo. Faça a comparaçãoelencando tópicos referentes aos dois autores.

2. Um comandante nazista acusado pela morte de milhares

de judeus durante o Holocausto defendeu-se no tribu-

nal com a seguinte frase: “Eu estava apenas cumprindo

ordens”. Com base nesse fato, discuta em grupo o posi-

cionamento do acusado à luz do que Weber fala sobre oprocesso de burocratização da sociedade.

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143143

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática

  Enfocando um dos assuntos analisados por Weber, vamos

fazer um exercício para percebermos o processo de raciona-

lização da sociedade.

  Segundo a tradição católica, o primeiro papa foi o apóstolo

Pedro. O trecho do Evangelho de São Mateus, no capítulo

16, versículos 13 a 19, é considerado o momento em que

Jesus nomeia Pedro como o primeiro papa. Recentemente,

tivemos a nomeação do papa Bento XVI. Para perceber o

processo de racionalização da sociedade, leia o trecho indi-

cado desse Evangelho e depois pesquise como foi nomeado

o último papa. Em seguida, escreva um pequeno comentá-

rio comparando os dois momentos.

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Indivíduo e sociedade[Capítulo 5][Capítulo 5]

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146146

Neste capítulo, diferentemente dos anteriores, não abordare-

mos a obra de nenhum autor específico. Apresentaremos al-

guns conceitos básicos de sociologia que, apesar de parecerem

de fácil domínio, são essenciais para que você possa realizar

leituras e estudos posteriores.

Assim, abordaremos os conceitos de socialização, culturae instituições sociais. Contudo, antes da leitura do capítulo, é

importante termos em mente que tais conceitos são também

processos que ocorrem na sociedade, guardando, assim, um di-

namismo. Outro ponto importante é que os conceitos não são

fechados em si mesmos; eles apresentam uma grande relação

entre si. Logo, não é possível pensar a socialização separada-mente da cultura ou das instituições sociais, embora, para tra-

tarmos de suas definições, assim apareçam aqui.

[5.1][5.1]

O processo de socializaçãoO processo de socialização

odos temos particularidades e individualidades que nos diferen-ciam dos outros. Contudo, vimos no segundo capítulo, ao estudar-

mos a obra de Durkheim, que muito daquilo que achamos que é

originalmente nosso nos é fornecido pela sociedade. Hábitos, jei-

tos, manias, gostos e costumes diferenciados nos conferem uma

individualidade, mas, com base nas ideias de Durkheim, podemos

nos perguntar o quanto dos outros existe em nós.

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147147

Por outro lado, muitos outros elementos nos parecem na-

turais. Comer, andar e falar são atividades que fazemos com

regularidade e naturalidade, pois não precisamos ficar pensan-

do como andar, como nos dirigirmos aos nossos conhecidos

ou como falar nossa língua nativa, na maioria das situações.

Entretanto, também muitos desses elementos que julgamos

naturais no nosso dia a dia nos são fornecidos pela sociedade.

Dizendo de outra maneira, é como se a coletividade fizesse a

imposição de padrões sociais às condutas individuais. A socie-

dade impõe a nós – à semelhança do fato social de Durkheim –as regras, os padrões e as normas que ela possui. Mesmo nas

nossas funções fisiológicas existe “a mão da sociedade”, regu-

lando e colocando regras.

Essa imposição dos padrões sociais, das regras, das normas

e dos valores da sociedade e sua assimilação pelo indivíduo

recebem o nome de  processo de socialização (Berger; Berger,1977b).

O termo imposição, da maneira como ilustrado acima, pode

ter um tom muito forte, o que nos faz pensar que a sociedade

age como se não tivéssemos outra escolha. Pressupõe que a so-

ciedade nos sufoca e realiza a sua imposição como uma pena,

um castigo, que impossibilita nosso livre-arbítrio e desenvolvi-mento. A imposição aparece como algo maléfico, negativo. Mas

somente por meio dela é que podemos viver, conviver e desen-

 volver nosso potencial (Berger; Berger, 1977b).

Vejamos um exemplo da imposição dos padrões sociais nas

funções fisiológicas entre os membros de uma sociedade e, ao

mesmo tempo, relativizemos essa noção.

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O uso do banheiro é um exemplo de como as funções fi-

siológicas são submetidas aos padrões de conduta social. Na

nossa sociedade existe a preocupação em ensinar as crianças

a usar o banheiro. Ele é o local específico para realizar as ne-

cessidades fisiológicas. O aprendizado para seu uso acontece

quando ainda somos crianças. Se nos distanciarmos um pouco

daquilo que consideramos “natural” – o uso do banheiro –, po-

deremos perceber como esse aprendizado é um tanto rígido. A

criança aprende a ir ao banheiro forçada pela mãe ou pelo pai e

pode ser alvo de medidas punitivas se não realizar a tarefa comsucesso. Imagine o que aconteceria a uma criança de 6 anos

de idade que começasse a frequentar a escola e ainda não sou-

besse usar o banheiro. Provavelmente seria discriminada ou

pelo menos se tornaria alvo de brincadeiras dos colegas. Nesse

caso, poderíamos dizer que a socialização é um processo extre-

mamente rígido, mas necessário.Por outro lado, quanto à alimentação, por exemplo, a socia-

lização não configura um processo de aprendizado tão rígido.

Vamos recorrer a outro contexto social, apresentado por

Berger e Berger (1977b) a respeito desses dois elementos: o uso do

banheiro e a alimentação. No exemplo a seguir, serão apresenta-

das as práticas de um grupo étnico do Quênia, os gusii. Vejamosprimeiro as práticas alimentares da criança nessa sociedade:

Os gusii não conhecem qualquer horário de alimentação. A mãe

amamenta a criança toda vez que esta chora. De noite, dorme nua

sob uma coberta, com a criança nos braços. Na medida do possível

a criança tem acesso ininterrupto e imediato ao seio materno [...].

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 Mas existem outros aspectos das práticas alimentares dos gusii que

nos impressionam por um ângulo totalmente diverso. Poucos dias

após o nascimento, a criança passa a receber um mingau como

complemento alimentar ao leite materno. Segundo indicam os da-

dos de que dispomos, a criança não demonstra muito entusiasmo

 por esse mingau. Mas isso não lhe adianta nada, pois é alimentada

à força. E a alimentação à força é realizada duma maneira bas-

tante desagradável: a mãe segura o nariz da criança. Quando esta

abre a boca para respirar, o mingau é empurrado dentro da mesma.

(Berger; Berger, 1977b, p. 202)

Nesse exemplo, o processo de socialização mostra uma su-

posta faceta de imposição e mesmo desumanidade. Mas isso

aos nossos olhos, pois para os gusii é algo normal, um costume

passado de geração em geração. Um membro de nossa socie-

dade poderia ficar horrorizado ao presenciar essa forma de ali-

mentar a criança. Por várias vezes, certamente, já presenciamosmães tentando entreter as crianças com brincadeiras e ence-

nações para fazê-las comer, mas nunca empurrando a comida

pela boca da criança; ou, se isso ocorre, não se constitui em

uma atitude que receberia aprovação.

A seguir, vamos acompanhar a socialização das crianças

gusii em relação às necessidades fisiológicas:

Entre os gusii, o treinamento para o uso do banheiro resume-se na

tarefa relativamente simples de fazer a criança defecar fora de casa.

Em média, essa tarefa é iniciada aproximadamente com a idade

de vinte e cinco meses, e concluída mais ou menos dentro de um

mês. Uma vez que as crianças não usam vestes na parte inferior

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do corpo, não existe o problema de molhar a roupa. Ensina-se-lhes

que devem proceder com discrição no desempenho da função eli-

minatória, mas ao que tudo indica, elas o aprendem por meio dum

simples processo de imitação, independente de ameaças ou sanções.

(Berger; Berger, 1977b, p. 203)

Aqui, tendo como base os nossos padrões culturais e de so-

cialização, a suposta “desumanidade” das práticas alimentares

dá lugar a um “desleixo”.

Outro ponto que os exemplos mostram é a importância do

processo de imposição dos padrões sociais ao qual nos subme-temos. Revelam também que a imposição não é algo “perverso”

ou “desumanizante”. Pelo contrário, ela nos permite desenvol-

 ver nossas potencialidades individuais.

O que aconteceria se não houvesse a imposição dos padrões

sociais à nossa conduta individual? Simplesmente não seríamos

humanos, pois é a sociedade que nos faz humanos. Não apren-

deríamos a usar o banheiro como nossos pares, não saberíamos

comer, falar nem mesmo andar.

O trecho a seguir, que apresenta um caso acontecido na

Índia em 1920, demonstra como é a convivência em sociedade

que nos humaniza:

Na Índia, onde os casos de meninos-lobo foram relativamente nu-

merosos, descobriram-se, em 1920, duas crianças, Amala e Kamala,

vivendo no meio de uma família de lobos. A primeira tinha um

ano e meio e veio a morrer um ano mais tarde. Kamala, de oito

anos de idade, viveu até 1929. Não tinham nada de humano e seu

comportamento era exatamente semelhante àquele de seus irmãos

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lobos. Elas caminhavam de quatro patas apoiando-se sobre os joe-

lhos e cotovelos para os pequenos trajetos e sobre as mãos e os pés

 para os trajetos longos e rápidos. Eram incapazes de permanecer

de pé. Só se alimentavam de carne crua ou podre, comiam e be-

biam como os animais, lançando a cabeça para a frente e lambendo

os líquidos. Na instituição onde foram recolhidas, passavam o dia

acabrunhadas e prostradas numa sombra; eram ativas e ruidosas

durante a noite, procurando fugir e uivando como os lobos. Nunca

choraram ou riram. Kamala viveu durante oito anos na instituição

que a acolheu, humanizando-se lentamente. Ela necessitou de seis

anos para aprender a andar e pouco antes de morrer só tinha umvocabulário de cinquenta palavras. Atitudes afetivas foram apa-

recendo aos poucos. Ela chorou pela primeira vez por ocasião da

morte de Amala e se apegou lentamente às pessoas que cuidaram

dela e às outras crianças com as quais conviveu. A sua inteligência

 permitiu-lhe comunicar-se com outros por gestos, inicialmente, e

depois por palavras de um vocabulário rudimentar, aprendendo aexecutar ordens simples. (Aranha; Martins, 1993, p. 2)

O caso das meninas Amala e Kamala demonstra a impor-

tância da socialização. odos nós passamos por essa imposi-

ção da sociedade ou, poderíamos dizer, por esse processo de

educação, que nos permite desenvolver nossas potencialidades.Por meio dele passamos a ser membros de uma coletividade e

é ele que propicia o desenvolvimento de nossa individualidade

e personalidade.

O processo de socialização não se interrompe; ele é con-

tínuo. Começa no dia em que nascemos e só termina no dia

em que morremos. Não é também aceito passivamente pelos

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indivíduos e pelos grupos. Estes estão sempre reelaborando a

herança que recebem das gerações mais velhas. Se assim não

fosse, a sociedade não mudaria nunca, já que as pessoas apren-

deriam sempre os mesmos gestos, hábitos e gostos e os passa-

riam igualmente para seus descendentes.

O processo de socialização é acompanhado do processo de

interiorização. Eles são indissociáveis; sem a interiorização não

existe socialização. A interiorização ocorre quando os signifi-

cados, os valores e as normas do mundo social são interioriza-

dos na consciência dos indivíduos; aquilo que anteriormenteera experimentado fora da consciência passa a fazer parte dela.

Com a interiorização o indivíduo começa a se identificar com

as normas sociais e as toma como suas. A criança que sempre

ouve sua mãe dizendo para não se sujar, cresce e se torna um

adulto que não mais necessita de uma voz externa que o lembre

dessa regra, pois ela passa a fazer parte dele.

SocializaçãoSocialização é o processo de aprender a ser membro de uma

sociedade, adquirindo seus costumes, hábitos, gostos, técni-

cas, sentimentos, normas, valores e maneiras. É um processo

contínuo, que nos permite desenvolver nossas potencialida-

des. Podemos ainda dizer que é a imposição de padrões so-ciais às condutas individuais (Berger; Berger, 1977b).

É por esse processo de socialização e interiorização que

passamos a pertencer a um grupo social específico, que pode

ser amplo ou restrito, aprendendo e adquirindo os costumes,

os gostos, os hábitos, as tradições, as técnicas, as normas, os

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 valores, as maneiras e os modos de fazer característicos desse

grupo. Retome o exemplo dos diferentes sotaques, presente no

capítulo 2, para perceber que a maneira como nos socializamos

nos confere uma distinção, que permite nossa identificação

com determinado grupo social.

A socialização também nos confere uma identidade. Em

sociologia, a identidade se refere à forma e aos elementos que

possibilitam uma compreensão sobre o que os indivíduos são

e sobre o que é significativo para eles (Giddens, 2005). Essa

compreensão e essa significação são formadas com a exclusãode outras compreensões e significações. Assim, os indivíduos

se identificam com determinados atributos, que dizem ao mes-

mo tempo sobre o que eles são e sobre o que eles não são. Um

brasileiro é brasileiro porque se identifica com os atributos de

sua cultura e não com a cultura argentina ou americana. Uma

 variação dessa identidade é a identidade social, que é atribuídaaos indivíduos pelos outros. O político honesto ou corrupto

precisa ser reconhecido e identificado como tal pelos outros,

não basta apenas ele querer ser uma coisa ou outra. Podemos

perceber que, ao mesmo tempo que a identidade social indica

aos outros o que o indivíduo é, também define quem ele é.

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A identidadeidentidade  refere-se à forma e aos elementos que possibili-

tam uma compreensão sobre o que o indivíduo é e sobre o que

é significativo para ele. É dada por essas formas de compreensão

e significação e é formada com a exclusão de outras formas decompreensão e significação. Assim, a identidade diz ao mesmo

tempo sobre o que o indivíduo é e sobre o que ele não é (Giddens,

2005).

É comum em sociologia considerar a socialização em duas

etapas. A socialização primáriasocialização primária é aquela que ocorre na infân-

cia, quando as crianças aprendem a língua, os padrões básicos

de comportamento, as posturas corporais (o uso do banhei-

ro, por exemplo). Nessa fase, a família é o principal agente de

socialização. Este se refere aos grupos e ao contexto em que

ocorre o aprendizado cultural, o processo de socialização

(Berger; Berger, 1977b).

A socialização secundáriasocialização secundária ocorre na infância, quando ou-

tros agentes de socialização passam a atuar: a escola, o grupo

de iguais, o trabalho, a televisão, a mídia. Quando o indivíduo

aprende uma profissão, por exemplo, passa por um processo

de socialização (Berger; Berger, 1977b). Lembremos Durkheim

(1962), que afirma não bastar a um indivíduo aprender os co-

nhecimentos técnicos para ser médico, é preciso agir como tal.

E esse “agir” é dado pela socialização secundária. Quando al-

guém muda de posição social, adapta-se às sequelas de uma

doença ou mesmo muda de emprego ou escola, podemos dizer

que está passando por um processo de socialização.

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155155

Quadro 5.1 − Diferença entre socialização primária e socializaQuadro 5.1 − Diferença entre socialização primária e socializa--

ção secundáriação secundária

Socialização primáriaSocialização primária Socialização secundáriaSocialização secundária

Ocorre na infância, quando a

criança aprende a língua, os

padrões básicos de comporta-

mento, as posturas corporais.

O principal agente de socializa-

ção é a família.

Ocorre a partir da infância,

com o contato com outros

agentes de socialização, como

a escola, o trabalho, o grupo de

iguais, a mídia.

A socialização é, então, o processo de aprender a ser mem-

bro da sociedade, adquirindo todos os elementos menciona-

dos anteriormente; nada mais é então do que adquirir cultura

(Berger; Berger, 1977b). A antropologia é o ramo das ciências

sociais especializado no estudo da cultura. Na próxima seção,

analisaremos algumas contribuições da antropologia e da so-

ciologia para o estudo da cultura, para melhor entendimento

da socialização.

[5.2][5.2]

A culturaA culturaAssociamos cultura às manifestações artísticas, como o teatro,

o artesanato, a música, o folclore. ambém podemos associar

cultura ao conhecimento. Nesses termos, uma pessoa que tem

“cultura” seria “culta” porque estudou muito. Contudo, na so-

ciologia, o conceito de cultura é um pouco diferente: inclui a

primeira concepção, mas a aprimora, e considera falsa a segun-

da, que a trata apenas como conhecimento.

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156156

Na sociologia, cultura se refere a um sistema de símbolos e

significados, compartilhados por membros de uma sociedade,

que torna possível a vida em comum. Compreende todos aque-

les elementos que fazem parte do processo de socialização: os

gostos, os gestos, os sentimentos, os hábitos, as tradições, as

maneiras. A cultura compreende tanto aspectos materiais – ob-

 jetos, símbolos, tecnologia – quanto aspectos imateriais – cren-

ças, hábitos, ideias e valores (Giddens, 2005; Johnson, 1997).

Assim, muito daquilo que sentimos, pensamos e fazemos

nos é fornecido pela cultura. Quando afirmamos isso, não es-tamos considerando um ato de forma isolada, sem nenhum

significado. Uma pessoa que faz uma oração na sua casa o faz

porque aquilo tem um sentido para ela e para outras pessoas.

Desse modo, no conceito de cultura, é importante ressaltar o

aspecto do compartilhamento. Cultura sempre se refere a as-

pectos, significados, valores e símbolos compartilhados.Além de compartilhados, esses elementos também são

aprendidos, isto é, não são transmitidos geneticamente (Laraia,

1993). O pai que gosta de futebol não transmite esse gosto ao fi-

lho pela genética, mas por processos culturais. O gosto é trans-

mitido culturalmente.

Podemos considerar que a cultura funciona mais ou menoscomo um “programa de computador”, em que nós somos as

máquinas. Quando nasce, toda pessoa tem plenas condições

de se desenvolver e compartilhar a cultura de qualquer povo

ou grupo social, assim como um computador pode receber um

ou outro programa. Uma criança nascida no Japão e trazida

imediatamente para o Brasil será socializada aqui e por isso

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compartilhará a cultura brasileira, ou seja, os símbolos, os gos-

tos, as maneiras, os valores e as normas dos brasileiros.

Os grupos sociais se identificam como tais e se definem pe-

los valores, crenças e significados que compartilham; em suma,

pela cultura que têm em comum. Um brasileiro, ao enxergar

uma camiseta amarela com o número 10 impresso nas costas,

logo se lembrará da Seleção Brasileira de Futebol, ou de um jo-

gador famoso. Um canadense ou russo talvez não tenha a mes-

ma concepção. Isso porque a camiseta amarela e o futebol são

símbolos compartilhados pelos brasileiros, são elementos denossa cultura que apresentam um significado compartilhado.

Ao longo da história, as sociedades elaboram suas culturas,

com seus significados e símbolos, recebendo influências de ou-

tras culturas (Laraia, 1993). A cultura de um país, de um grupo

ou de um povo é, então, como se fosse uma colcha de retalhos,

em que cada pedacinho é um elemento próprio ou emprestadode outra cultura. Um exemplo da influência de outras culturas

na elaboração de uma cultura específica é a introdução do fu-

tebol no Brasil.

O futebol chegou ao Brasil trazido da Inglaterra, em 1894,

por Charles Miller. Nesse país, o futebol era um esporte prati-

cado pelas elites. Até 1904, no Brasil, era proibido aos jogado-res o uso de calções acima dos joelhos, e as camisas deveriam

ter mangas compridas e colarinho, com uma gravata! A torcida

era composta de senhoras da elite, com vestidos de festa, que le-

 vavam sombrinhas para se proteger do sol. udo isso era copia-

do da Inglaterra. Entretanto, com o passar do tempo, o futebol

perdeu o seu caráter elitista e se transformou em um esporte

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popular e de massa. Mais do que isso, o futebol no Brasil adqui-

riu outro significado – de esporte de elite a esporte de massas –,

que é compartilhado por muitos brasileiros.

O exemplo do futebol também nos mostra que as culturas

são dinâmicas. Os símbolos, os significados e os valores são cons-

tantemente reelaborados pelos indivíduos que compartilham a

cultura. O conflito entre gerações muitas vezes é resultado de

diferentes interpretações dos valores e das práticas sociais.

Há alguns anos, a prática de “ficar”, típica do comportamen-

to dos jovens nos dias de hoje, seria impensável. Nos anos 1950,a maneira como os jovens se comportavam era outra. As rela-

ções pessoais se davam pelo compartilhamento de outras prá-

ticas e convenções. Acompanhe o trecho a seguir para termos

uma ideia de como era esse comportamento:

Basta que o jovem leitor converse com seus pais e compare a nossa

vida cotidiana com a dos anos 50, por exemplo. Ele poderá, en-tão, imaginar estar em plena noite, postado diante de um espelho,

ajeitando o nó triangular da sua gravata, bem no centro de seu

colarinho, mantido reto pela ação de hastes de barbatana. Poderá

também imaginar o sentimento de vaidade ao reparar quão bem

 passado está o seu terno de casimira azul. Enfim, estava pronto

 para brilhar em mais um baile. Antes, porém, de entrar no salão,não dispensará o reforço de uma dose de bebida, seguida do masti-

 gar de um chiclete capaz de disfarçar o forte cheiro de aguardente.

Com esta dose adicional de coragem, o jovem estaria apto para au-

daciosamente atravessar o salão e, numa discreta mesura diante da

escolhida, perguntar: “A senhorita me dá o prazer desta dança?” 

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Tudo estaria bem com a resposta afirmativa da moça. Mas, se esta,

rompendo os limites da etiqueta, não aceitasse o convite, o mundo

abria aos pés do jovem, que voltava murcho e cabisbaixo para o

seu lugar, lamentando a “bruta tábua que levara”. (Laraia, 1993,

p. 102)

Essa forma de comportamento está superada na nossa so-

ciedade, porque os jovens têm outras práticas em relação ao

comportamento.

Compreender essa dinâmica da cultura é importante para

aceitar as várias diferenças entre as gerações, as diferenças entreos grupos dentro da mesma cultura e entre as diferentes culturas.

Esse ponto é importante, pois o homem tende a ver o mundo

pela sua ótica cultural. udo aquilo que se afasta do que sua cul-

tura apresenta como “normal” é visto de forma depreciativa.

Podemos definir culturacultura como um sistema de símbolos e significa-

dos compartilhados por determinado grupo social. Ela compreen-

de aspectos materiais – como os objetos, os símbolos e a tecnologia

– e aspectos imateriais – como as crenças, os hábitos, as ideias, as

normas, os valores, as maneiras. A cultura é aprendida e compar-

tilhada pelos membros de um grupo social. É dinâmica e está em

constante transformação e ressignificação (Laraia, 1993; Johnson,

1997).

Os padrões de comportamento de uma cultura são sempre

estranhos às pessoas que dela não compartilham. Essa dis-

posição exacerbada pode desembocar no etnocentrismo. O

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etnocentrismo é a tendência em julgar as outras culturas pelo

próprio padrão cultural, comparando-as, ou ainda a tendência

em considerar determinada cultura a mais correta ou a melhor

(Laraia, 1993). Um caso extremo de etnocentrismo foi o mas-

sacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial, quando os ale-

mães se consideravam uma raça superior e os judeus, uma raça

inferior, impura. O etnocentrismo abre caminho para a intole-

rância com as diferenças, para o racismo e as várias formas de

preconceito.

Outro ponto problemático em relação às formas de ver asdiferentes culturas se refere ao evolucionismo. O antropólogo

britânico Eduard Burnett ylor (1832-1917) tinha uma concep-

ção evolucionista a respeito da cultura, considerando que exis-

tiria uma linha de evolução que explicaria o desenvolvimento

da humanidade. Segundo essa concepção, todas as culturas pas-

sariam pelos mesmos estágios, até atingir o ápice da sua evolu-ção. Isso possibilitaria hierarquizar as culturas, colocando-as

numa escala que iria da menos evoluída até a mais evoluída. O

problema dessa concepção é que não podemos julgar o aparato

cultural de uma sociedade ou grupo, pois sempre estaremos

 julgando pelos nossos padrões culturais. O evolucionismo con-

siderava a cultura europeia a mais desenvolvida, e isso abriu ca-minho para a exploração de outros povos considerados menos

desenvolvidos, bem como para a imposição de padrões cultu-

rais europeus, que seriam os mais corretos (Laraia, 1993).

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Quadro 5.2 − Diferença entre etnocentrismo e evolucionismoQuadro 5.2 − Diferença entre etnocentrismo e evolucionismo

EtnocentrismoEtnocentrismo EvolucionismoEvolucionismo

É a tendência em julgar a

própria cultura como a mais

correta ou a melhor e julgar

as outras por um parâmetro

estabelecido a partir da sua.

É a concepção segundo a qual

existe uma linha evolutivaentre as culturas, o que permite

traçar uma escala da cultura

menos evoluída para a mais

evoluída.

odas as sociedades, desde as mais simples até as mais com-plexas, têm sua cultura. Não existe sociedade humana sem cul-

tura. Por isso não podemos dizer, dentro da sociologia, que um

indivíduo “não tem cultura”. Isso só seria possível em um caso

como o das meninas-lobo Amala e Kamala. ambém não po-

demos dizer que determinado povo ou país não tem cultura.

Isso é impossível.

Na próxima seção, abordaremos outro traço essencial de toda

sociedade humana e de toda cultura: as instituições sociais.

[5.3][5.3]

As instituições sociaisAs instituições sociais

Além de socialização e cultura, outro conceito importante den-tro da sociologia é o de instituição social, o qual também sofre

algumas “distorções” do senso comum. Muitas pessoas acham

que as instituições sociais são apenas organizações que abran-

gem pessoas, como a escola, a prisão, as empresas, ou ainda

que as instituições sociais são entidades que pairam sobre a

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sociedade, como o Estado, a economia, a religião. Essas con-

cepções tendem sempre a associar as instituições sociais àque-

les espaços ou entidades reguladas por determinadas leis for-

mais. Em termos, essas definições não estão totalmente erradas

sociologicamente. Contudo, o conceito de instituição social é

um pouco mais específico e detalhado.

Para a sociologia, as instituições sociais são formas de or-

ganização estáveis, baseadas em regras e regulamentos padro-

nizados, que não precisam ser escritos em forma de leis, mas

que são socialmente reconhecidos e aceitos. êm a função demanter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos

indivíduos. Além disso, servem como elementos de regulação

e controle das atividades dos membros da coletividade (Berger;

Berger, 1977a).

O conceito de instituição social se aproxima muito do con-

ceito de fato social de Durkheim. Podemos mesmo afirmar queas instituições sociais são fatos sociais cristalizados. Berger e

Berger (1977a) definem cinco características fundamentais das

instituições sociais. São elas: a exterioridade, a objetividade, a

coercitividade, a autoridade moral e a historicidade. Analisar

cada uma das cinco características das instituições sociais nos

ajudará a retomar o que já foi dito sobre os fatos sociais nocapítulo 2.

As instituições sociais são exteriores porque possuem uma

realidade exterior, encontram-se fora dos indivíduos. Sua exis-

tência é independente da existência dos indivíduos. al caracte-

rística se assemelha à de um objeto físico. Entretanto, temos de

ter cuidado com as generalizações. As instituições sociais não

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são necessariamente físicas, como uma empresa ou uma prisão.

A segunda característica das instituições sociais – a objetiobjeti--

 vidade vidade – é uma reafirmação da primeira. As instituições sociais

existem de fato na realidade e de determinada maneira. Por

exemplo, o casamento monogâmico é uma instituição social.

odos sabem que existe e como deve ser. Ou seja, existe uma

maneira “correta” de casar, que é aceita pelos membros de uma

sociedade.

Da mesma forma que os fatos sociais, as instituições sociais

são dotadas de coercitividadecoercitividade, ou seja, exercem um poder decoerção sobre os indivíduos, que muitas vezes só se manifesta

quando eles vão contra as regras e as normas estabelecidas pela

instituição.

A quarta característica das instituições sociais é a autoridaautorida--

de moralde moral. Sua legitimidade lhes reserva o direito de repreender

os indivíduos que infringirem suas normas. O grau de repreen-são varia de instituição para instituição. O Estado, por exemplo,

pode punir quem infrinja as regras estabelecidas por ele.

A última característica das instituições sociais é sua historihistori--

cidadecidade. odas elas possuem uma história. Ao longo do tempo,

consolidam suas regras, regulamentos e valores, que permane-

cem mesmo depois de os indivíduos que colaboraram na suaelaboração desaparecerem. Outro ponto importante da histo-

ricidade das instituições e que as torna semelhantes aos fatos

sociais refere-se ao fato de que os indivíduos, ao nascerem, já

encontram prontas as instituições e que elas continuam a exis-

tir depois da morte destes.

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Instituições sociaisInstituições sociais são formas de organização estáveis, baseadas

em regras e regulamentos padronizados, socialmente reconhe-

cidos e aceitos. Mantêm a organização do grupo, satisfazem as

necessidades dos indivíduos e regulam e controlam as ativida-des deles. Apresentam cinco características fundamentais: a ex-

terioridade, a objetividade, a coercitividade, a autoridade moral

e a historicidade (Berger; Berger, 1977a, Johnson, 1997; Giddens,

2005).

Vejamos alguns exemplos de instituições sociais que apre-

sentam as características estabelecidas anteriormente. O Estado,

as escolas e as prisões são instituições sociais, pois são exte-

riores, objetivas, exercem um poder sobre o indivíduo, punem

aqueles que vão contra as suas normas e possuem uma duração

ao longo do tempo. Contudo, esses exemplos recaem naquilo

que foi dito no início desta seção: a tendência em considerar

como instituições sociais somente aquelas que têm leis escritas.

Outro exemplo pode ajudar a entender melhor o conceito

de instituição social: a língua falada por um povo. É importante

ressaltar que não estamos falando de gramática, mas de lingua-

gem. O fato de não conhecer a gramática de uma língua não

significa que o indivíduo não consiga dominá-la como falante.

Assim, a língua é uma forma estável baseada em regras e re-

gulamentos e apresenta uma historicidade. Foi construída ao

longo do tempo e já se encontra pronta quando os indivíduos

nascem, permanecendo quando eles morrem. Apesar de ser pos-

sível considerar que o indivíduo de um país possui sua língua,

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ela tem uma existência fora dele. Isso se percebe pelo fato de que

ela foi aprendida por meio da socialização e por isso é também

objetiva. A língua exerce ainda um poder de coerção sobre o

indivíduo: aquele que não se expressa de acordo com a língua

exigida por seu grupo social pode sofrer sanções, que vão de

simples recriminações a medidas punitivas. Por exemplo, o imi-

grante que continua a usar a língua do grupo social ao qual per-

tencia pode sofrer discriminação pela forma como fala. Isso não

significa que esteja cometendo um erro, mas que a língua reco-

nhecida como legítima é outra. Assim, pode sofrer a punição dadiscriminação, o que revela a autoridade moral de uma língua.

Outros exemplos de instituições sociais são a família, a

Igreja, o casamento monogâmico, pois todas elas apresentam

as características básicas que as definem como tal.

Como exercício mental, escolha uma dessas instituições e

procure perceber de que forma elas apresentam essas caracte-rísticas.

SínteseSínteseNa socialização aprendemos a ser membros da sociedade, ad-

quirindo os costumes, os gostos, os hábitos, os modos, as ma-

neiras, os valores e os significados do nosso grupo social. É um

processo ininterrupto e está intimamente ligado à aquisição da

cultura.

A cultura aparece como um sistema de símbolos e significa-

dos compartilhados por um grupo social. Mediante a sociali-

zação e a aquisição da cultura, podemos construir uma identi-

dade, o que nos permite o sentimento de pertencimento a uma

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coletividade, bem como o desenvolvimento de nossa individua-

lidade e personalidade.

Dentro dessa realidade social em que nos inserimos, exis-

tem formas de organização social estáveis, com regras padro-

nizadas e aceitas socialmente. Essas formas de organização são

chamadas de instituições sociais, que possuem cinco caracterís-

ticas fundamentais: a exterioridade, a objetividade, a coercitivi-

dade, a autoridade moral e a historicidade.

Com base nesse conceito, a realidade social pode ser ana-

lisada de maneira mais organizada, com base em conceitosconstruídos teoricamente, o que é importante para leituras e

estudos mais aprofundados em sociologia.

Indicação culturalIndicação cultural

HUXLEY, A. Admirável mundo novo. Rio de Janeiro: Globo, 1994.

O livro apresenta uma sociedade cujo sistema de socializa-ção é altamente hierarquizado e burocratizado, tanto em termos

culturais quanto biológicos. No enredo, os indivíduos passam por

um processo de socialização mesmo antes de sua concepção, vi-

sando fixar os indivíduos nos lugares determinados pela ordem

social, tanto psicológica quanto fisicamente.

Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1) Analise as seguintes proposições sobre o processo de socia-

lização:

I. É contínuo, começando no dia em que nascemos e termi-

nando apenas no dia em que morremos.

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II. Esse processo limita-se aos aspectos simbólicos e de per-

sonalidade, não tendo nenhuma influência sobre os pro-

cessos físicos dos indivíduos.

III. Pode ser considerado uma imposição da sociedade, o

que impede o indivíduo de se desenvolver livre e plena-

mente.

IV. Pode ser visto como uma imposição, mas é ele que per-

mite ao indivíduo desenvolver sua individualidade e po-

tencialidades.

V. A maneira como comemos, por exemplo, pode ser con-siderada um elemento adquirido por meio do processo

de socialização.

São corretas as seguintes afirmações:

a) I, II e V.

b) II, III e IV.

c) I, III e IV.d) I, III e V.

2) Assinale F para falso e V para verdadeiro:

( ) O processo de interiorização independe do processo de

socialização.

( ) A identidade social se refere à maneira como os outros

nos enxergam. É o reconhecimento da coletividade so-

bre o indivíduo.

( ) As instituições sociais compreendem apenas aquelas que

possuem um conjunto de leis escritas, como o Estado e

as prisões.

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( ) A tendência em julgar a própria cultura como a mais de-

senvolvida e a mais correta é chamada de etnocentrismo.

( ) A cultura compreende símbolos, técnicas, valores, as-

pectos materiais e imateriais compartilhados por uma

coletividade.

( ) O evolucionismo se constitui em um referencial teórico

adequado para abordar as diferentes culturas.

Agora, assinale a alternativa correta:

a) V, V, F, V, V, F.

b) F, V, F, F, V, F.c) V, F, V, V, F, V.

d) F, V, F, V, V, F.

3) A respeito do conceito de cultura, marque a alternativa inin--

corretacorreta:

a) A cultura é sempre compartilhada. Seus símbolos, ma-

neiras e valores apresentam um significado para os

membros que a compartilham.

b) A cultura é sempre uma criação própria. Cada povo ela-

bora a sua cultura sem contribuição ou contato com ou-

tras culturas.

c) A cultura é sempre dinâmica, pois está em constante

reelaboração dos significados.

d) Compreende aspectos materiais, como o artesanato, e

aspectos imateriais, como as crenças e os medos.

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4) Relacione as características das instituições sociais com as

suas respectivas definições, reproduzidas na sequência:

1. Exterioridade

2. Coercitividade3. Objetividade

4. Autoridade moral

5. Historicidade

( ) As instituições sociais exercem um poder sobre os indi-

 víduos que pode manifestar-se apenas quando estes vão

contra suas regras e normas.( ) As instituições sociais permanecem para além da exis-

tência dos indivíduos, mesmo daqueles que colabora-

ram na sua constituição.

( ) As instituições sociais possuem uma existência exterior,

independente dos indivíduos.

( ) Essa característica refere-se à legitimidade que as insti-

tuições sociais têm para aplicar sanções aos indivíduos

que vão contra suas normas.

( ) As instituições sociais existem de fato na realidade e de

determinada maneira, o que informa a maneira “correta”

de proceder, segundo a instituição.

Agora, assinale a alternativa correta:

a) 2, 5, 1, 4, 3.

b) 5, 1, 2, 4, 3.

c) 2, 5, 4, 1, 3.

d) 3, 4, 1, 5, 2.

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5) Analise as seguintes proposições:

I. Podemos dizer, segundo a sociologia, que as pessoas que

estudaram possuem mais cultura do que aquelas que

nunca frequentaram escolas.II. O processo de socialização pode ser definido como o

aprendizado para viver em sociedade, adquirindo-se

cultura.

III. O etnocentrismo pode ser definido também como uma

 visão depreciativa de outras culturas.

IV. Os aspectos culturais referem-se a tudo aquilo que éaprendido; os aspectos naturais de nossa personalidade

são aqueles com os quais já nascemos.

V A cultura de cada povo ou região recebe contribuições

de muitos povos e até mesmo de outros países.

São corretas as seguintes proposições:

a) I, II, III e V.b) II, III e V.

c) II, III, IV e V.

d) I, III, IV e V.

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Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagem

Questão para reflexãoQuestão para reflexão

  Na ficção dos filmes e dos quadrinhos, o personagem arzan

foi criado por uma família de chimpanzés. Contudo, ele falauma língua (inglês ou português), construiu uma casa na

floresta, anda de forma ereta e minimamente vestido. Com

base na história de Amala e Kamala e no que foi visto a res-

peito dos conceitos de socialização e cultura, uma situação

como a de arzan seria possível? Discuta essa questão com

seus colegas e anote as conclusões a que chegaram.

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática

  A identidade cultural faz com que o indivíduo se sinta per-

tencendo a determinado grupo. Um traço dessa identidade

é o sotaque. Procure recolher palavras ou expressões carac-terísticas de sua região e enviar para um colega de outra

região. Realizem essa troca e tentem perceber como o pro-

cesso de socialização confere uma individualidade e uma

identidade social aos indivíduos.

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A sociologia e a sociedadecontemporânea

[Capítulo 6 ][Capítulo 6 ]

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O objetivo do presente capítulo é exercitar um pouco nossa

perspectiva sociológica, tentando entender alguns aspectos da

sociedade moderna. Procederemos a essa análise com base na

ótica das transformações no mundo do trabalho. Poderíamos

escolher qualquer outro elemento da vida social para fazer essa

análise, mas a opção pelo tema “trabalho” se deve ao fato de játermos estudado um pouco sobre ele nos capítulos anteriores e,

assim, já termos algum conhecimento a respeito do assunto.

No capítulo 1, que tratava do surgimento da sociologia, foi

possível perceber como as mudanças no mundo do trabalho,

provocadas pela Revolução Industrial de fins do século XVIII,

deram uma nova dinâmica à sociedade. No capítulo 3, com oestudo da obra de Karl Marx, tomamos contato com uma aná-

lise que privilegia o trabalho na organização da sociedade. De

certa forma, neste capítulo, retomaremos e aprofundaremos

um pouco mais a discussão.

Esse aprofundamento permitirá que você entenda melhor

nossa sociedade sob a ótica da sociologia. A discussão a res-peito das mudanças no trabalho também dará início a uma

abordagem relativa à globalização, tão presente em nossa vida

cotidiana.

Iniciemos então o capítulo retomando alguns elementos re-

ferentes à discussão sobre o surgimento das fábricas.

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[6.1][6.1]

O trabalho na fábricaO trabalho na fábricaO surgimento do sistema de fábricas trouxe toda uma nova

organização do trabalho e, consequentemente, da vida social(Tompson, 1991; Decca, 1993). Como vimos, os artesãos saí-

ram das suas oficinas, perderam sua autonomia, não eram mais

donos do que produziam, foram expropriados de seus saberes

e de suas ferramentas (Marx, 1968). Do controle que tinham

sobre o trabalho e sobre o que produziam, passaram a ser con-

trolados no trabalho.A criação do sistema de fábricas retirou o mestre e seus

ajudantes da oficina artesanal, retirou as pessoas da pequena

indústria doméstica, colocando-as em um local de trabalho es-

pecífico e informou-lhes que teriam de trabalhar durante um

tempo específico, (Huberman, 1986; Gorz, 2003).

O conhecimento e a habilidade do mestre artesão no cha-mado sistema de corporações exprimiam, além do domínio das

técnicas de produção, o controle sobre o processo de trabalho.

O ofício do ferreiro, do carpinteiro, do cuteleiro*, era antes de

tudo uma inteligência manual impossível de ser formalizada e

por isso não podia ser executado ou transmitido por quem não

detivesse esse conhecimento (Lessa, 2002). No sistema de cor-porações de ofício, e mesmo em determinadas formas de traba-

lho modernas em que o trabalhador, e não a empresa, detém o

saber sobre o trabalho, a produtividade depende de qualidades

e características não formalizáveis dos trabalhadores e por isso

não mensuráveis e não controláveis.

* CuteleiroCuteleiro: aquele que fabrica ou vende instrumentos cortantes.

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Com o surgimento do capitalismo, que tem por objetivo a

acumulação, a produção não poderia repousar sobre motiva-

ções de indivíduos que detinham o saber-fazer de determina-

das atividades e que poderiam produzir mais ou menos rápido

ou mais ou menos bem de acordo com a sua vontade. Era ne-

cessário controlar a produção para alcançar o objetivo (Gorz,

2003). Dessa forma, o sistema de fábricas foi concebido mais

por necessidades organizativas do que técnicas, inaugurando

para o trabalhador toda uma nova ordem de disciplina durante

o transcorrer do processo de trabalho (Decca, 1993).O primeiro momento do sistema de fábricas impôs ao tra-

balhador uma disciplina que até então não existia. Na sua ofi-

cina, no sistema de corporações, ele era o seu próprio patrão,

não recebia ordens de ninguém. Um exemplo dessa disciplina,

ainda no início do sistema de fábricas na Europa, é trazido pelo

historiador Huberman (1986, p. 178), que mostra como algunstipos de conduta e comportamento eram penalizados com o

pagamento de multas pelos trabalhadores:

Por deixar a janela aberta 1s. 0d.*

Por estar sujo 1s. 0d.

Por se lavar no trabalho 1s. 0d.

Por consertar o tambor com o gás aceso 2s. 0d.Por deixar o gás aceso além do tempo 2s. 0d.

Por assobiar 1s. 0d.

* Os símbolos “s.” e “d.” representam unidades monetárias usadas naInglaterra durante a Idade Média. O “s.” representava um solidus, e o

“d.” representava um penny  (Costa, 2010).

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al “regulamento” na oficina do artesão era inconcebível,

mas na fábrica era assim que as coisas funcionavam. Sair de sua

casa e de sua oficina e trabalhar quatorze, dezesseis horas numa

fábrica sob as ordens e a disciplina fabris representou um novo

quadro para o trabalhador. A imposição de horas regulares de

trabalho contrastou com o ritmo autoimposto das situações an-

teriores, quando a atividade produtiva era marcada por inter-

rupções, meio-expediente, feriados e dias santos.

A fábrica passou a ser o novo local de trabalho. A separação

entre a casa e o local de trabalho foi fator de grande importân-cia no processo de racionalização do trabalho, pois deu a este

certa independência das outras atividades (Weber, 1999). Além

de figurar como local onde o trabalho se dava com outro ritmo,

a fábrica constituiu-se em um universo – imaginário e real –

em que se produziam novas relações sociais e onde se dava uma

particular e decisiva apropriação do saber do trabalhador. A fá-brica tornou-se, além de um espaço de acumulação do capi-

tal, um local de apropriação do saber e de dominação social. O

mestre artesão, que na sua oficina dominava todo o processo de

fabricação do produto, foi, pouco a pouco, no sistema de fábri-

cas, perdendo o domínio do processo de trabalho.

O trabalho, que antes era executado do começo ao fim porum só artesão, foi dividido na fábrica. Vários trabalhadores pas-

saram a executar parcelas de um mesmo processo de trabalho.

O trabalhador transformou-se no que Marx (1968) chama de

trabalhador parcial . É como se a divisão do trabalho passasse

também a dividir o trabalhador. Antes do sistema de fábricas,

os trabalhadores eram mestres. Eram os mestres carpinteiros,

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cuteleiros, ourives, sapateiros. Na fábrica eles deixaram de ser

mestres e passaram a ser trabalhadores assalariados, executan-

do apenas uma parcela do trabalho. Por isso, Marx (1968) afir-

ma que o trabalhador se transforma em trabalhador parcial.

Passou a ocorrer, então, uma divisão manufatureira do tra-

balho. É esse o assunto da próxima seção.

[6.2][6.2]

A divisão manufatureira do trabalhoA divisão manufatureira do trabalhoA divisão manufatureira do trabalho refere-se ao fracionamento

do ofício, dividindo-o em várias etapas executadas por traba-

lhadores diferentes. Vamos pensar, por exemplo, no ofício do

sapateiro. Com a divisão manufatureira, as várias etapas da pro-

dução de um sapato são divididas e executadas separadamente.

Um trabalhador irá cortar o couro, outro irá costurar, outro irá

pregar a sola etc. Isso é a divisão manufatureira do trabalho.

al divisão é distinta daquela que se dá na sociedade, chama-

da divisão social do trabalho, em que os homens se encontram

em ofícios, ocupações ou profissões (Marx, 1968; Braverman,

1987). Nos ofícios ou profissões os homens ainda podiam exer-

cer e construir sua individualidade, criatividade e humanidade

no ato de trabalho. Mas, quando o trabalho passou a ser divididona fábrica, o ofício ou profissão foi substituído como elemento

central da organização do trabalho pelas parcelas desse ofício

ou profissão. As várias operações que formavam o processo de

trabalho foram separadas umas das outras e atribuídas a traba-

lhadores diferentes. Assim, quando o capitalista dividiu o pro-

cesso de trabalho em etapas, retirou esse processo do controle do

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trabalhador e o reconstituiu sob seu poder. A divisão manufatu-

reira do trabalho abriu caminho, então, à desespecialização* do

trabalhador. Isso fez com que, além de obter ganhos de tempo na

execução do conjunto das tarefas, ocorresse o aumento da pro-

dutividade.

Outro ponto importante é que o dono da fábrica não preci-

sava mais contratar um mestre para fazer o trabalho. Precisava

apenas de um trabalhador que cortasse o couro, outro que o cos-

turasse, um terceiro que pregasse a sola.

AA divisão manufatureira do trabalhodivisão manufatureira do trabalho  é a divisão de um ofício

em várias etapas, executadas por trabalhadores diferentes. O

trabalhador não executa o processo inteiro de fabricação de um

bem ou produto, mas apenas uma parte desse processo. Ela é dis-

tinta da divisão social do trabalho, que se refere à divisão entre

os ofícios e as profissões dentro da sociedade (Braverman, 1987;Bottomore, 2001).

Nesse novo contexto – o da fábrica e da acumulação capi-

talista – o trabalho não é mais um elemento da vida doméstica

que se “mistura” com outras atividades, em que o homem que

trabalha impõe um ritmo às suas tarefas (Tompson, 1991).

O trabalho passa a ser submetido a outra lógica, uma lógica

racional. Quando analisa o “espírito do capitalismo” moder-

no, Weber (1999, p. 7-8) também chama a atenção para essa

* DesespecializaçãoDesespecialização: perda da qualificação, de uma especialidade em

uma função ou profissão.

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separação entre o local de trabalho e a esfera doméstica e a re-

lação com a racionalidade econômica:

 A organização industrial racional, orientada para um mercado real,

e não para oportunidades políticas ou especulativas de lucro, nãoé, entretanto, a única criação particular do capitalismo ocidental.

 A moderna organização racional da empresa capitalista não teria

sido viável sem a presença de dois importantes fatores de seu desen-

volvimento: a separação da empresa da economia doméstica, que

hodiernamente domina por completo a vida econômica, e, associa-

do de perto a este, a criação de uma contabilidade racional.

Até aqui podemos vislumbrar o seguinte quadro: os traba-

lhadores reunidos na fábrica, tendo seus trabalhos divididos

pela divisão manufatureira e submetidos a uma racionalidade

que até então não conheciam. Entretanto, mesmo nesse novo

quadro, o controle ainda é aplicado somente ao trabalhador.

Ainda não existe o controle sobre o trabalho. Esse aspecto só

será observado com a gerência científica. É o que veremos no

próximo tópico.

[6.3][6.3]

A gerência científica:A gerência científica:o taylorismo e o fordismoo taylorismo e o fordismoQuando aylor propôs e sistematizou seus princípios de or-

ganização do trabalho, ele partiu de uma série de elementos

que já tinham espaço no interior da fábrica e cujo objetivo era

controlar o trabalhador durante sua permanência na oficina

(Braverman, 1987). A reunião de trabalhadores dentro de uma

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fábrica, a fixação de uma jornada de trabalho, a supervisão in-

cidindo sobre os trabalhadores, as normas de conduta rígidas

no local de trabalho eram alguns elementos que se voltavam,

sobretudo, ao trabalhador.

É essa espécie de disciplina fabril que aylor já encontrou pre-

sente e atuante no local de trabalho. O trabalhador com o qual

aylor se deparou já estava submetido a um controle gerencial, que

incide sobre o que se poderia chamar de conduta do trabalhador .

Estar sujo, assobiar, fumar e conversar no local de trabalho, como

 vimos no exemplo trazido por Huberman (1986) na seção 6.1, sãoelementos que dizem respeito ao comportamento do trabalhador.

A disciplina e a gerência científica tayloristas passaram a atuar

não apenas na conduta do trabalhador, mas também no processo

de trabalho em si. É o controle sobre o trabalho e não somente

sobre o trabalhador (Braverman, 1987).

aylor elevou o conceito de controle quando apresentou a ne-cessidade de a gerência impor ao trabalhador a maneira pela qual

o trabalho deve ser executado. Para aylor, o controle não deveria

ser feito apenas sobre disciplinas e normas gerais do trabalhador;

seus processos de trabalho também deveriam ser controlados. E o

controle do trabalho se dá pelo controle das decisões tomadas no

curso do processo de produção pela gerência (Braverman, 1987).Por estudos de tempo e movimentos, aylor define uma

maneira ótima de trabalhar, ou melhor, uma maneira ótima

de executar cada movimento da tarefa. Esse movimento é defi-

nido não pelo trabalhador, mas pela gerência científica (Rago;

Moreira, 1984). aylor estabelece as bases do taylorismo em

sua obra de 1911, Os  princípios de administração científica. O

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primeiro princípio refere-se à separação entre quem planeja o

trabalho ou a tarefa e aquele que a executa. Quem deve plane-

 jar o trabalho é a gerência científica, o trabalhador deve ape-

nas cumprir as ordens estabelecidas. O segundo princípio diz

respeito à seleção dos trabalhadores mais adequados para as

tarefas especificadas. O termo adequados aqui remete também

àqueles trabalhadores que não questionam as regras estabele-

cidas (Gounet, 1999). aylor fala mesmo em um trabalhador

do tipo “bovino” para certas tarefas, ou seja, um trabalhador

forte, dócil e com pouca inteligência. O terceiro princípio dotaylorismo é o controle sobre o tempo e os movimentos dos

trabalhadores. udo deve estar calculado pela gerência e o tra-

balhador deve executar aquilo que está determinado nos proce-

dimentos e nos manuais (Rago; Moreira, 1984).

O sistema taylorista procurou racionalizar a produção, por

meio do estudo dos tempos de execução dos processos, com ointuito de suprimir gestos desnecessários, estabelecendo a me-

lhor forma de execução das atividades. Com isso, aperfeiçoou a

divisão do trabalho introduzida pelo sistema de fábricas, assegu-

rando o controle do tempo de trabalho (Rago; Moreira, 1984).

Assim, sobra pouco espaço para a criatividade e individua-

lidade do trabalhador. Ele não é mais autônomo, mas alguémque obedece a ordens. A situação é bem diferente do mestre

artesão nas corporações de ofício.

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TaylorismoTaylorismo  é um método de administração da produção ba-

seado nos estudos de tempos e movimentos dos trabalhadores.

Apresenta três princípios básicos: separação entre planejamento

e execução das tarefas; seleção dos trabalhadores mais adequadosà função específica; controle sobre o tempo e os movimentos exe-

cutados pelos trabalhadores (Braverman, 1987; Rago; Moreira,

1984).

Outra forma de organizar a produção que revolucionou

o mundo do trabalho foi o fordismofordismo  (Gounet, 1999; Harvey,

1998). Esse modelo, idealizado por Henry Ford (1863-1947),

foi aplicado primeiramente nas suas fábricas de automóveis.

Com o fordismo, os métodos tayloristas foram aperfeiçoados,

e configura-se não apenas um princípio organizador da pro-

dução, mas um regime de acumulação*, expresso no pacto

social fordista. Ford aperfeiçoou e transformou os princípios

tayloristas, pois entendeu que produção em massa significava

consumo em massa e, ainda, que, ao fazer o trabalho chegar ao

trabalhador pela esteira fordista, seria possível obter notáveis

ganhos de produtividade.

* Para que exista um regime de acumulação, deve haver uma materiali-zação sob a forma de normas, hábitos, leis e redes de regulamentação,

“que garantam a unidade do processo, isto é, a consistência apropriadaentre comportamentos individuais e o esquema de reprodução. Essecorpo de regras e processos interiorizados tem o nome de modo de

regulamentação” (Lipietz, 1988, p. 19).

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Segundo Gounet (1999, p. 45), o fordismo a fundamentou

em cinco transformações essenciais a partir do taylorismo:

1) produzir em massa significava racionalizar as operações dos operários e

combater os desperdícios, principalmente de tempo; 2) com o parcelamen-to das tarefas na tradição taylorista, o trabalhador não precisa mais ser

um especialista; 3) criação da esteira fordista, controlável pela direção da

empresa; 4) padronização das peças, que implicava a integração vertical;

5) automatização das fábricas.

Essas cinco características mostram, de certa forma, como

os princípios utilizados por Ford já se encontravam bem esta-

belecidos pela organização científica da produção disseminada

pelo taylorismo (Gounet, 1999). O processo de desespecializa-

ção do trabalhador, no sentido de não dominar mais o processo

produtivo como um todo, já havia se iniciado com a criação do

sistema de fábrica (Decca, 1993; Braverman, 1987). A tecnolo-gia também não apresentava, num primeiro momento, inova-

ções mais significativas além da esteira rolante. A padronização

das peças aparece como uma consequência da produção em

massa e, em certa medida, da padronização dos procedimentos

realizada já no sistema taylorista. Se padrões organizacionais e

tecnológicos da produção já estavam dados, qual foi a inovaçãode Ford em relação à forma anterior de organizar a produção?

A sua grande inovação foi pensar a produção além do ato de

apertar o último parafuso do carro no último posto da linha de

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montagem. Ou seja, o produto final precisa ser consumido por

alguém; consumido em massa, pois é produzido em massa.

O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distin-

 gue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimentoexplícito de que produção de massa significava consumo de massa,

um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova po-

lítica de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma

nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática,

racionalizada, modernista e populista. (Harvey, 1998, p. 121)

O tempo para produzir um carro, no taylorismo, era de cin-

co horas e trinta minutos. Ford, em suas fábricas transforma-

das, conseguia produzir em uma hora e trinta minutos (Gounet,

1999). Contudo, essa redução do tempo de produção significa-

 va uma grande intensificação e disciplinamento do trabalho, o

que não era bem aceito pelos operários, que preferiam o méto-do artesanal de produção. Ford, então, passou a oferecer um sa-

lário de cinco dólares por uma jornada de oito horas de traba-

lho, como forma de atrair e cooptar trabalhadores. Percebemos

que essa nova organização do trabalho implica a adesão dos

trabalhadores, pelo menos até o sistema se generalizar; por isso

Ford os pagava dessa forma. O sucesso do fordismo fez comque esse sistema emigrasse para outras fábricas e países. Com

a linha de produção fordista generalizada, produzir em menos

tempo passou a significar aumento da produtividade e da lu-

cratividade, do rendimento do trabalhador e do seu consumo

(Harvey, 1998).

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FordismoFordismo  é uma forma de organizar baseada na produção em

massa de produtos padronizados, com cada operário executan-

do uma função específica ao longo da esteira fordista. Além da

produção em massa e padronizada, o fordismo prevê tambémo consumo em massa. Assim como o taylorismo, no fordismo

existe a separação entre o planejamento e a execução das tarefas,

o controle sobre o tempo e os movimentos, além de o trabalhador

acompanhar o ritmo da máquina (Gounet, 1999; Harvey, 1998). 

O modelo de produção fordista vigorou até o final da década

de 1960 e início da década de 1970 na Europa, quando passou a

apresentar um quadro de crise, provocando muitas modificações

no mundo do trabalho (Harvey, 1998). Iniciou-se então o chama-

do processo de reestruturação produtiva, que deu origem ao pós-

fordismo ou acumulação flexível, assunto da próxima seção.

[6.4][6.4]

O pós-fordismo e a globalizaçãoO pós-fordismo e a globalizaçãoA crise dos princípios fordistas inaugurou uma conjuntura de

alterações e rearranjos capitalistas – e não apenas de um siste-

ma organizador da produção –, desencadeando um processo dereorganização por parte do capital, com o intuito de recuperar

seus níveis de acumulação. A forma de organizar a produção

foi mudada. Assim se constituiu o processo de reestruturação

produtiva (Antunes, 2002; Harvey, 1998).

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A crise do fordismo se deveu a alguns fatores, como a satura-

ção do mercado europeu e a crescente competição do mercado

asiático, a crise do petróleo a partir dos anos 1960 e o aumento

dos custos com a produção. Em outras palavras, era necessá-

rio mudar a forma de produzir. A grande fábrica de Ford, com

um batalhão de trabalhadores produzindo em massa, já não era

mais tão lucrativa (Harvey, 1998).

A grande fábrica integrada e verticalizada de Ford cedeu es-

paço para a fábrica enxuta* e flexível da reestruturação produ-

tiva. A empresa reestruturada externaliza e terceiriza as váriasfases do seu processo produtivo, criando uma complexa cadeia

de fornecimento de peças e serviços. Com as novas tecnologias

da comunicação, a conectividade entre as empresas é otimizada,

facilitando as relações da cadeia produtiva e entre as filiais e as

 várias matrizes localizadas em países diferentes. O fluxo de pro-

dução também é sintonizado mais facilmente com a demanda,cada vez mais variável, do mercado globalizado (Castells, 1999).

Com a externalização e a terceirização de serviços – limpeza,

 vigilância, transporte de funcionários e de materiais, alimenta-

ção, contratação –, a empresa-mãe reduz os quadros de funcio-

nários, diminuindo o custo de produção. Combinando novas

formas organizacionais e inovação tecnológica, as novas empre-sas produzem mais com cada vez menos trabalhadores (Castells,

1999; Harvey, 1998; Comin, 1998).

* Fábrica enxutaFábrica enxuta: a fábrica pós-fordista que terceiriza determinadasetapas de sua produção e serviços. A fábrica enxuta não executa maisserviços de limpeza, manutenção, alimentação, entre outros, mas con-

trata empresas responsáveis por essas atividades.

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Para termos uma ideia de como as novas fábricas produzem

mais com menos trabalhadores, vamos comparar alguns núme-

ros da indústria automobilística brasileira. Na abela 6.1, temos a

produção e o número de empregos entre os anos de 1957 e 1987.

Perceba que, à medida que a produção aumenta, o número de

trabalhadores necessários (coluna do emprego) também aumen-

ta. Quanto mais se produz, mais trabalhadores são necessários.

abela 6.1 − Indústria automobilística brasileira – produção eabela 6.1 − Indústria automobilística brasileira – produção e

emprego no período de 1957 a 1987emprego no período de 1957 a 1987

AnoAno ProduçãoProdução EmpregoEmprego

1957 30.542 9.773

1962 191.194 48.523

1967 225.487 46.396

1972 622.171 80.430

1977 921.193 111.5141980 1.165.174 133.683

1982 859.270 107.137

1987 920.071 113.474

Fonte: Baseado em Anfavea, 2004.

A abela 6.2 demonstra que, a partir da década de 1990, o au-

mento da produção não é mais acompanhado do mesmo ritmo de

crescimento pelo número de empregos. A partir de 1998, é possí-

 vel perceber claramente que as empresas produzem cada vez mais

 veículos com menos trabalhadores contratados diretamente.

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abela 6.2 − Indústria automobilística brasileira – produção eabela 6.2 − Indústria automobilística brasileira – produção e

emprego no período de 1990 a 2003emprego no período de 1990 a 2003

AnoAno ProduçãoProdução EmpregoEmprego

1990 914.466 117.396

1991 960.219 109.428

1992 1.073.861 105.664

1993 1.391.435 106.738

1994 1.581.389 107.134

1995 1.629.008 104.614

1996 1.804.328 101.857

1997 2.069.703 104.941

1998 1.586.291 83.049

1999 1.356.714 85.100

2000 1.691.240 89.134

2001 1.812.119 84.834

2002 1.791.530 81.737

2003 1.827.038 79.153

  Nota: A partir de 1997, consideram-se apenas empregosdiretos, excluindo os decorrentes das terceirizações das empresas.

Fonte: Baseado em Anfavea, 2004.

Na análise das tabelas com base nas características do pós-fordismo, é importante ter em mente que as tendências dessa

forma de organizar o trabalho só chegaram ao Brasil a partir da

década de 1990. Elas se consolidaram na Europa e nos Estados

Unidos nos anos 1970 e 1980 e, assim como o fordismo, se dis-

seminaram em nível mundial.

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Agora imagine que essa queda no número de empregos di-

retos aconteça com muitos outros setores da indústria e em vá-

rias empresas. Quais são as consequências? Primeiramente, o

desemprego, mas também a disseminação de formas de traba-

lho precárias e informais.

A palavra de ordem passa a ser flexibilização: dos processos

de trabalho com o uso da tecnologia, dos mercados de trabalho,

dos produtos e dos processos.

A flexibilização dos processos de trabalho se dá principal-

mente pelo uso de novas tecnologias para produzir. As empre-sas não precisam mais de tantas pessoas para produzir, pois os

robôs e a automação são os responsáveis por parte do trabalho.

Um trabalhador pode controlar várias máquinas por meio de

um computador. Da mesma forma, os mercados de trabalho

também são flexibilizados. Passam a existir novos tipos de con-

trato de trabalho: o trabalho temporário, o trabalho autônomo,a prestação de serviços, a terceirização de alguns segmentos das

empresas. As mudanças na legislação trabalhista permitem que a

mão de obra apresente uma alta rotatividade, pois se torna mais

fácil contratar um novo trabalhador e também dispensá-lo.

Os produtos e o consumo também acompanham essa flexi-

bilização. Quando Ford criou suas fábricas para produzir emmassa, produzia apenas um tipo de veículo, o Ford , da cor

preta. Hoje existe uma enorme variedade de modelos e cores

de carros que o consumidor pode escolher. E isso não só em

relação aos automóveis, mas também com celulares, eletrodo-

mésticos, roupas e a maioria dos produtos industrializados.

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udo isso acontece mundialmente, sob a influência de um

fenômeno do qual você já deve ter ouvido falar: a globalização.

Conforme Giddens (1997), a globalização significa que o mun-

do está se tornando um “mundo único”, em que as pessoas, os

países e os grupos se tornam cada vez mais interdependentes,

ou, poderíamos dizer, cada vez mais conectados. Exercendo a

flexibilidade, as empresas buscam novos mercados consumido-

res e de trabalho, procurando o lugar mais lucrativo para pro-

duzir e vender. Note que o melhor lugar para produzir não é

necessariamente o melhor lugar para vender. Assim, você podeencontrar facilmente produtos de vários países no mercado lo-

cal. Faça este teste: procure no seu celular, no seu tênis ou na

sua roupa a indicação do local onde foram produzidos.

O consumo passa a ser de espécie mundial. Você pode

comer no McDonald’s o mesmo sanduíche que é servido na

França, na Índia ou no Japão. Isso porque, como vimos, as em-presas buscam novos mercados produtores e consumidores. O

mesmo que acontece com os sanduíches acontece com os car-

ros, os computadores e até com os programas de televisão.

A globalização não é, contudo, apenas um fenômeno eco-

nômico. Embora possamos dizer que o fator econômico tem

papel decisivo na configuração da globalização, ela é mais doque apenas uma questão econômica. Envolve também fatores

políticos, culturais e sociais. O consumo globalizado influencia

de várias maneiras a vida das pessoas; novos hábitos, gostos e

costumes são criados em detrimento dos antigos.

Outro fator de grande importância para a globalização é o

desenvolvimento das telecomunicações. Através dos meios de

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comunicação o mundo fica cada vez mais integrado. Podemos

entrar numa sala de bate-papo e conversar em tempo real com

alguém do outro lado do mundo; podemos enviar em segun-

dos um texto via correio eletrônico para o Japão. O que é fei-

to quase instantaneamente podia demorar dias e até semanas.

Podemos comprar um serviço de tevê a cabo e assistir ao vivo

ao campeonato de futebol inglês ou espanhol. udo isso altera

os padrões culturais e sociais das pessoas e dos grupos.

Alguns estudiosos consideram que a globalização produz

uma espécie de homogeneidade cultural. Com o poder dosgrandes meios de comunicação global, as tradições e as cultu-

ras locais seriam absorvidas por uma “cultura global”. A glo-

balização exerceria uma forma de “imperialismo cultural”, que

difundiria uma visão de mundo única, nos moldes das culturas

dos países mais ricos. Há aqueles que interpretam a globaliza-

ção de outra forma. Acreditam que ela se caracteriza por umaenorme diversidade de padrões culturais. Com o contato com

 várias formas culturais, a tradição não teria mais o poder de

organizar a vida das populações. Assim, as pessoas estariam em

contato com uma grande diversidade de elementos culturais e

poderiam construir suas identidades com base nesses elemen-

tos. Desse modo, um indivíduo não precisa mais seguir a tra-dição dos seus pais ou dos seus avós para construir sua indi-

 vidualidade, seus gostos e hábitos, já que ele tem à disposição

 várias outras formas de individualidade, de gostos e hábitos do

mundo inteiro.

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SínteseSínteseComo vimos em Weber, no capítulo 4, a sociologia não pode

abranger a totalidade da explicação dos fenômenos sociais.

Neste capítulo, valendo-nos da categoria do trabalho, foi pos-sível abordar alguns aspectos da realidade social sob uma ótica

sociológica.

As transformações no mundo do trabalho geram mudan-

ças e consequências que se refletem por toda a ordem social.

Analisando essas transformações – mais especificamente na

forma de organizar a produção –, é possível entender algumasdas tendências que organizam nossa sociedade.

Elementos que parecem muitas vezes “cair do céu” são re-

flexos de transformações que ocorreram séculos atrás e que

seguem uma lógica de transformação até nossos dias. Da cria-

ção do sistema de fábricas, passando pelo taylorismo, pelo for-

dismo e chegando a uma nova maneira de produzir, podemosentender um pouco melhor a globalização como um processo

construído historicamente por determinados fatores e que in-

fluencia nossa visão de mundo ao alterar nossos padrões cultu-

rais, de consumo e de comportamento.

Indicação culturalIndicação culturalADEUS, Lenin. Direção: Wolfganger Becker. Produção: Stefan Arndt.Alemanha: Sony Pictures Classics, 1993. 118 min.

Esse filme relata a história de uma família que entra em

um novo mundo após a queda do Muro de Berlim e o avanço

do capitalismo na antiga Alemanha Oriental. As questões do

consumo, do trabalho e de novos padrões culturais surgidas ao

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longo do filme mostram de maneira engraçada os efeitos da

 globalização na vida de uma mulher que julgava ainda viver

numa sociedade livre da influência do capitalismo.

Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação1) Analise as seguintes proposições sobre a criação do sistema

de fábricas:

I. Foi concebido sobretudo por necessidades técnicas, uma

 vez que a produção já estava organizada nos moldes da

acumulação capitalista.II. Representou não apenas uma mudança no local de tra-

balho, mas toda uma nova ordem para os trabalhadores,

transformando suas vidas.

III. O trabalhador, que antes era um mestre artesão, passou

a ser alvo de uma disciplina que não conhecia.

IV. O ofício do mestre artesão foi dividido. Surgiu a divisãomanufatureira do trabalho, o que contribuiu para a de-

sespecialização do mestre artesão.

V. A criação do sistema de fábricas não representou gran-

des mudanças para a ordem social.

São verdadeiras as seguintes proposições:

a) I e II.b) II e III.

c) I, III e IV.

d) II, III e IV.

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195195

2) Assinale V para verdadeiro e F para falso:

( ) O taylorismo está mais ligado a uma nova forma de or-

ganizar a produção do que a inovações tecnológicas.

( ) O taylorismo se distingue do fordismo porque o primei-ro prevê a separação entre o planejamento do trabalho e

sua execução. Já no fordismo, o próprio trabalhador é o

planejador e o executor do trabalho.

( ) O taylorismo aperfeiçoa e aprofunda a divisão manufa-

tureira do trabalho iniciada com o sistema de fábricas.

( ) A divisão manufatureira do trabalho praticamente nãoexiste no sistema taylorista. Isso porque neste o traba-

lhador é um trabalhador completo, não tem seu traba-

lho dividido.

( ) Podemos considerar como características que distin-

guem o fordismo do taylorismo a criação da esteira for-

dista e a automatização das fábricas.Agora, assinale a alternativa correta:

a) V, F, V, F, V.

b) V, F, F, V, V.

c) F, V, F, V, F.

d) F, F, V, F, V.

3) Analise as seguintes afirmações a respeito do pós-fordis-

mo:

I. Um dos principais fatores que explicam o pós-fordismo

é a necessidade de alterar a forma de produzir, com o ob-

 jetivo de recuperar os níveis de acumulação de capital.

II. Uma das características do pós-fordismo ou da acumu-lação flexível é o fato de as empresas precisarem de cada

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196196

 vez mais trabalhadores para aumentar a produção.

III. anto o fordismo como o pós-fordismo se consolidam

na Europa e nos Estados Unidos, ficando restritos a es-

sas regiões do mundo.

IV. O pós-fordismo está intimamente ligado à flexibilidade,

que se faz presente nos processos de produção, nos pro-

dutos, no consumo, nos mercados de trabalho.

V. Com a inovação tecnológica e as novas formas de or-

ganizar a produção, pautadas na flexibilidade, as fábri-

cas enxutas da acumulação flexível conseguem produzirmais com menos trabalhadores.

São verdadeiras as seguintes afirmações:

a) I, II e III.

b) I, IV e V.

c) IV e V.

d) II e III.4)  No fim do século XX e graças aos avanços da ciência, pro-

duziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da

informação, que passaram a exercer um papel de elo entre

as demais, unido-as e assegurando ao novo sistema técnico

uma presença planetária. Só que a globalização não é apenas

a existência desse novo sistema de técnica. Ela é também aemergência de um mercado dito global, responsável pelo es-

sencial dos processos políticos atualmente eficazes. (Santos,

2008, p. 23-24)

  Com base na citação de Milton Santos e nos conhecimentos

sobre a globalização, analise as seguintes afirmações:

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197197

I. A emergência de um mercado global, como chama a

atenção Milton Santos, é uma das manifestações mais

aparentes do mundo globalizado, o que se reflete nas

formas de consumo e produção.

II. A globalização pode ser vista como um processo essen-

cialmente econômico, uma vez que o mercado global

está diretamente ligado a fatores econômicos mundiais.

III. A maneira como as pessoas consomem e as empresas

produzem no mercado global influencia o modo de vida,

os aspectos culturais e sociais dos países.IV. Alguns analistas veem a globalização como uma forma

de imperialismo cultural, que aniquilaria as diversida-

des culturais. Outros afirmam que a globalização traz

uma nova forma de diversidade cultural.

V. O desenvolvimento das tecnologias de comunicação e

informação é um dos principais fatores que contribuempara a globalização.

Marque a alternativa correta:

a) Apenas a afirmação I é correta.

b) Apenas a afirmação II é incorreta.

c) São corretas apenas as afirmações I, III e IV.

d) As afirmações II e V são incorretas.5) Assinale a alternativa que apresenta as características no

mundo do trabalho globalizado:

a) Grande fábrica integrada e verticalizada; inovações tec-

nológicas; produção variável.

b) erceirização nas empresas; fábrica enxuta; produção

 variável.

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198198

c) Rigidez; inovações tecnológicas; fábrica com cada vez

mais trabalhadores.

d) Fábrica enxuta; produção variável; sem inovações tec-

nológicas.

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagem

Questões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Vimos no capítulo que aylor procurava um trabalhador

adequado para cada tarefa. Acompanhe o diálogo relatado

pelo próprio aylor com um trabalhador, no qual lhe per-guntou se era um operário classificado e se, como tal, con-

seguiria carregar, em vez das 12 toneladas normais, 47 tone-

ladas de barras de ferro em um dia de trabalho, ganhando

por isso U$ 1,85 ao dia. Após obter a resposta afirmativa do

trabalhador, aylor assim encerra a conversa:

Bem, se você é um operário classificado deve fazer exatamente o que

este homem lhe mandar, de manhã à noite. Quando ele disser para

levantar a barra e andar, você levanta e anda, e quando ele mandar

você sentar, você senta e descansa. Você procederá assim durante o

dia todo. E, mais ainda, sem reclamações. Um operário classifica-

do faz justamente o que se lhe manda e não reclama. Entendeu?

Quando este homem mandar você andar, você anda; quando disser

que se sente, você deverá sentar-se e não fazer qualquer observação.

Finalmente, você vem trabalhar aqui e amanhã saberá, antes do

anoitecer, se é um operário classificado ou não. (Codo, 1995)

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199199

Comente a essência desse diálogo à luz do tipo de trabalha-

dor procurado e do controle sobre o trabalho que aparecem no

taylorismo.

2) Dê um exemplo de algum produto que se transformou paracontinuar sendo consumido e que demonstre a passagem

do fordismo para o pós-fordismo.

Atividade aplicada: práticaAtividade aplicada: prática

  Realize o exercício proposto no capítulo. Escolha alguns

produtos industrializados e verifique onde eles foram pro-duzidos. Depois, procure saber a nacionalidade da empresa

que os fabricou. Com este exercício, você poderá perceber a

flexibilidade típica da globalização e do pós-fordismo.

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Considerações finais[...][...]

O primeiro item abordado no livro foi o aspecto histórico

do aparecimento da sociologia. Vimos como o estudo objeti-

 vo e sistemático da relação indivíduo-sociedade é um desen- volvimento relativamente recente, cujos primórdios datam do

fim do século XVIII. Um desenvolvimento-chave foi o uso da

ciência para compreender o mundo – a ascensão da abordagem

científica ocasionou uma mudança radical na perspectiva e na

sua compreensão. Podemos perceber como, uma após outra, as

explicações tradicionais e baseadas na religião foram suplanta-das por tentativas de conhecimento racionais e críticas.

O cenário que dá origem à sociologia foi a série de mudan-

ças radicais introduzidas pelas “duas grandes revoluções” da

Europa dos séculos XVIII e XIX. A Revolução Francesa de 1789

marcou o triunfo das ideias e dos valores seculares, como liber-

dade e igualdade, sobre a ordem social tradicional. A segundagrande mudança foi a Revolução Industrial, que começou na

Inglaterra no final do século XVIII. Esse evento histórico oca-

sionou um grande espectro de transformações econômicas e

sociais que cercaram o desenvolvimento de inovações tecno-

lógicas, como a energia e a máquina a vapor. O surgimento da

indústria levou a uma enorme migração de camponeses para

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202202

as fábricas e para o trabalho industrial, causando uma rápida

expansão das áreas urbanas e introduzindo novas formas de

relações sociais.

A ruptura dos modos de vida tradicionais desafiou os pen-

sadores a desenvolverem uma nova compreensão, tanto do

mundo social como do natural. É, então, tendo como pano de

fundo uma sociedade capitalista, urbana e individualista, que

a sociologia começou a sistematizar seu objeto de estudo e a

forma de abordá-lo.

Com base nessas reflexões, analisamos a obra de AugusteComte, que propôs à sociologia um grau de positividade seme-

lhante ao das ciências naturais. Segundo Comte, a metodolo-

gia da sociologia deveria comportar observação, comparação

e classificação à semelhança do que fazem as ciências naturais

e ainda apresentar uma linha evolutiva – filiação histórica –

que permitisse conhecer o passado e que conduzisse ao futuro.Comte vê a sociedade e os indivíduos marcados pela limitação

dentro das leis naturais da sociedade, que devem ser conheci-

das para se avançar na linha evolutiva.

Seguindo o rastro positivista de Comte, introduzimos o es-

tudo de um marco da sociologia: Émile Durkheim, para quem

a sociologia apresenta objeto e métodos próprios – o fato so-cial e o método comparativo. Durkheim desenvolve conceitos e

concepções importantes, como o fato social e suas característi-

cas (exterioridade, coercitividade e generalidade/coletividade),

a distinção entre normal e patológico, os conceitos de anomia

social e de solidariedade mecânica e orgânica.

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203203

Vimos como Karl Marx também considera a dinâmica so-

cial portadora de uma ordem evolutiva. Para ele, o homem e a

sociedade são produtos de um homem e uma sociedade ante-

riores. Marx concentra seus esforços na contradição que o ca-

pitalismo apresenta. As duas principais contradições da socie-

dade moderna e capitalista são, primeiramente, entre as forças

produtivas, que não param de crescer, e as relações de produ-

ção (relações de propriedade e distribuição de renda), que não

se transformam no mesmo ritmo; em segundo lugar, entre o

crescimento da riqueza e o aumento da miséria. Assim, é ne-cessário superar essas duas contradições, quer pelo desenvol-

 vimento natural do capitalismo, quer pela revolução socialista,

que acelera esse desenvolvimento.

Outro autor clássico que estudamos foi Max Weber. O pon-

to central da sociologia de Weber é o conceito de ação social.

Esse autor compreende como o ator dá sentido à sua conduta, àsua ação social, orientada racionalmente. Na sociedade moder-

na – marcada por um crescente processo de racionalização –,

o tipo ideal é o recurso que permite a aproximação e a com-

preensão da realidade. Apesar de ver a sociedade marcada por

uma racionalização, Weber considera que existem dimensões

em que a ação social não é racional.Abordamos também os conceitos de cultura, socialização,

instituições sociais e de identidade. De posse de tais conceitos,

é possível construir outro olhar (sociológico) sobre a socieda-

de e as relações sociais, relativizando as diferenças. Esse “outro

olhar” sobre a sociedade foi o exercício que fizemos ao abordar

a relação entre trabalho, globalização e consumo no último ca-pítulo do livro.

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ARON, R. As etapas do pensamento sociológicoAs etapas do pensamento sociológico. São Paulo: M. Fontes,2003. (Coleção ópicos).

É uma obra clássica da sociologia, em que o autor estuda a

 fundo as principais obras do pensamento sociológico. Além da

análise, traz o contexto histórico de sua construção e a biografia

dos autores.FORACCHI, M. M.; MARINS, J. S. (Org.). Sociologia e sociedadeSociologia e sociedade: leitu-

ras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LC, 1977.

 A obra traz uma coletânea de textos de autores clássicos da so-

ciologia, abordando temas importantes da disciplina, e não fica

restrita a apenas uma linha explicativa. 

GIDDENS, A. SociologiaSociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

Trata-se de uma obra enciclopédica. Apesar de ficar restrita

ao meio social e cultural europeu nos exemplos e nas problema-

tizações, é uma obra abrangente e ao mesmo tempo específica.

 Apresenta temas básicos, autores clássicos e abordagens de gênero,

sexualidade, família, vida urbana, mídia e comunicação de mas-

sa, entre outras.

Bibliografia comentada[...][...]

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212212

MARINS, C. B. O que é sociologiaO que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. (ColeçãoPrimeiros Passos, v. 57).

 Apresenta o contexto histórico do surgimento da sociologia e

também as contribuições de alguns dos principais autores para o

referencial teórico da disciplina. É um livro de introdução, comum bom panorama geral para iniciantes.

LARAIA, R. B. CulturaCultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: J. Zahar,1993.

O livro apresenta um tema bem específico: a cultura. Faz uma

abordagem antropológica do conceito de cultura, apresentando o

desenvolvimento teórico e prático desse conceito. Apesar de tratarapenas de um único tema, sua leitura é prazerosa e instigante.

QUINANEIRO, .; BARBOSA, M. L. de O.; OLIVEIRA, M. G. M. UmUmtoque de clássicostoque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. daUFMG, 2002.

O livro apresenta uma leitura dos três clássicos da sociologia

– Durkheim, Marx e Weber –, abordando conceitos centrais dasobras dos autores.

MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidosManuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

RODRIGUES, J. A. (Org.); FERNANDES, F. (Coord.). Émile DurkheimÉmile Durkheim:sociologia. São Paulo: Ática, 1988. (Coleção Grandes Cientistas Sociais,

 v. 1).

WEBER, M.  A ética protestante e o espírito do capitalismoA ética protestante e o espírito do capitalismo. 14. ed. SãoPaulo, Pioneira, 1999.

São três obras clássicas da sociologia, de leitura imprescindí-

vel para aqueles que almejam um conhecimento mais profundo

da disciplina e um contato mais aproximado com as leituras clás-

sicas da sociologia.

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Capítulo 1Capítulo 1Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. c

2. a

3. c

4. b5. b

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) As modificações no trabalho retiram o mestre artesão de

sua oficina e o trabalho passa a ser feito na fábrica, ondeobedece a uma outra lógica. Nesse processo, o trabalhador

perde o controle sobre o seu trabalho, sofrendo uma des-

qualificação. Ele, que dominava todo o processo de pro-

dução, torna-se, na fábrica, alguém que opera apenas uma

parte do processo produtivo. ambém é submetido a uma

disciplina à qual não estava acostumado.

Respostas[...][...]

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214214

2) A sociologia está ligada aos problemas provocados pela mu-

dança da ordem social oriundos da emergência do capita-

lismo. Esses problemas desafiam os pensadores a formular

uma resposta com base científica e racional. Surge, então, a

necessidade de uma ciência que possa dar conta dos proble-

mas da sociedade. A sociologia é, portanto, uma ciência que

surge num momento de crise na sociedade, com o objetivo

de dar possíveis respostas.

Capítulo 2Capítulo 2Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. d

2. c

3. c

4. a

5. b

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Para Durkheim, a sociedade prevalece sobre os indivíduos. É

ela que os forma e os molda, fornecendo-lhe as alternativas

para que construa suas particularidades. Nesse sentido, é a

sociedade que forma o indivíduo, e não o indivíduo que for-ma a sociedade.

2) ratá-lo como “coisa” quer dizer tratá-lo como algo que o

conhecimento humano não penetra de modo imediato, ne-

cessitando do auxílio da inteligência para compreendê-lo.

Com essa perspectiva, Durkheim procura também afastar

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215215

as noções do senso comum no tratamento do objeto da so-

ciologia.

Capítulo 3Capítulo 3Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. b

2. d

3. c

4. d

5. a

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Segundo Marx, a ideologia apresenta aos homens uma fal-

sa representação da realidade, fazendo com que eles não

percebam claramente a realidade. O conjunto de ideias e

noções produzidas pela ideologia é inculcado nos traba-lhadores e eles passam a interpretar a realidade com base

nessas ideias. Passam então a se comportar como a classe

dominante quer que se comportem e, por conseguinte, não

percebem que são explorados pelo sistema capitalista, em

que a maior parte do salário é apropriada pela classe domi-

nante. Interpretam como natural o fato de receberem um

salário, depois de produzirem toda a riqueza da sociedade.

2) Algumas das principais características do sistema capitalista,

segundo Marx, são: (1) a primeira contradição básica entre

o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de

produção; (2) a contradição entre o crescimento da riqueza

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216216

e o aumento da miséria; (3) a relação de complementaridade

entre a classe capitalista e a classe trabalhadora; (4) a produ-

ção de mercadorias visando à acumulação; (5) a apropria-

ção privada da riqueza por aqueles que são proprietários

dos meios de produção; (6) a produção de uma ideologia

que confere uma falsa consciência aos homens, no sentido

como colocado na questão 1; (7) considera o capitalismo

como a história da expropriação do trabalhador.

Capítulo 4Capítulo 4Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. d

2. c

3. c

4. b

5. a

Atividades de aprendizagemAtividades de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) Alguns do principais pontos da análise de Weber sobre o

capitalismo são: (1) considera o capitalismo o “reino” da ra-

cionalidade; (2) entende que a sociedade capitalista passa

do “agir em comunidade” para o “agir em sociedade”; (3)

na sua análise do capitalismo, o trabalho aparece como um

elemento condicionado pela ética puritana; (4) a riqueza é

interpretada à luz da ética puritana e do espírito do capita-

lismo; (5) intenso processo de burocratização.

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217217

  Para Marx, as principais características do capitalismo são:

(1) a contradição básica entre o desenvolvimento das for-

ças produtivas e as realções de produção; (2) a contradição

entre o aumento da riqueza e o crescimento da miséria; (3)

a produção de mercadorias visando à acumulação; (4) a

apropriação privada da riqueza por aqueles que são donos

dos meios de produção; (5) a produção de uma ideologia

que fornece aos homens uma falsa consciência; (6) o capi-

talismo é apresentado como a história da expropriação do

trabalhador.2) Weber considera que a sociedade moderna passa por um

intenso processo de burocratização. A burocracia significa

uma forma moderna de extrair obediência. Ou seja, as pes-

soas obedecem a quem ocupa um lugar na estrutura bu-

rocrática definida. A fala do comandante nazista − “Eu só

estava cumprindo ordens” − mostra como ele podia ser um

indivíduo submetido à burocracia no Estado nazista. Assim,

não tinha poder para contrariar as ordens recebidas, tendo

de cumpri-las pela sua posição nessa estrutura burocrática.

Capítulo 5Capítulo 5Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. d

2. d

3. b

4. a

5. c

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218218

Atividade de aprendizagemAtividade de aprendizagemQuestão para reflexãoQuestão para reflexão

  O personagem arzan é alguém que cresceu na selva e teo-

ricamente não passou por um processo de socialização. Nãoaprendeu, dessa forma, a ser um membro de uma sociedade.

Contudo, apresenta-se com vários aspectos que são sociais:

andar, falar, estar minimamente vestido, nadar como os se-

res humanos e não como os animais. Com base na história

de Amala e Kamala e no que foi estudado sobre o processo

de socialização, isso seria impossível, ou, pelo menos, pou-co provável.

Capítulo 6Capítulo 6Atividades de autoavaliaçãoAtividades de autoavaliação

1. d

2. a

3. b

4. b

5. b

Atividade de aprendizagemAtividade de aprendizagemQuestões para reflexãoQuestões para reflexão

1) aylor procurava um trabalhador chamado de “tipo bovino”,

ou seja, um trabalhador forte, dócil, que não contestasse as

ordens dadas. O trabalhador precisava ser forte para su-

portar o novo ritmo, muito mais intenso, ditado pelo taylo-

rismo e dócil porque quem ditaria esse ritmo, controlaria

suas ações e tomaria suas decisões seria a gerência científica.

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219219

Assim, esse trabalhador teria de aceitar passivamente essa

imposição de novos padrões de controle sobre seu trabalho.

E obviamente ficaria mais fácil impor tais padrões se o tra-

balhador os aceitasse.

2) Como exemplo de produtos que marcam a passagem do

fordismo para o pós-fordismo, podemos citar os aparelhos

telefônicos que evoluem até os celulares. Os celulares, por

sua vez, modificam-se, incluindo rádios, identificadores de

chamadas, capacidade de tirar fotos, televisão, entre outros

elementos. Outro exemplo são os carros, que cada vez mo-dificam-se mais para atrair os consumidores.

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221

Nota sobre o autor[...][...]

Alessandro Eziquiel da Paixão é graduado em Ciências Sociais

e mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná

(UFPR). Foi professor durante dois anos do Departamento deEducação da mesma universidade. Atualmente é professor de

sociologia da rede pública de ensino do Estado do Paraná.

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Você sabe como nossa sociedade se organiza? Qual é nossa

estrutura política, como se dão as relações de trabalho em que

estamos ou poderemos estar inseridos?

As respostas a essas perguntas podem, certamente, ser dadas

pelo senso comum. Contudo, essas respostas não serão consi-

deradas explicações sociológicas. Afinal, os problemas levan-

tados pela sociologia não são necessariamente sociais. As

questões trazidas por eles são teóricas, construídas com base na

análise de aspectos históricos econômicos culturais e sociais