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    SOCIOLOGIA

    MUNDO DO TRABALHO

    Capítulo 1

     A CONCEPÇÃO DE TRA-BALHO NOS CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA 

    Nesta unidade, abordaremos as concep-ções de trabalho nos clássicos. Primeiramente,trataremos da divisão do trabalho social paraÉmile Durkheim, das funções e das consequ-ências por ele apontadas.

    Em seguida, veremos a colaboração deMarx na análise da divisão da produção social eseus desdobramentos, passando pela verificaçãoda divisão de classes, pela forma de extração dolucro por meio da maisvalia e por questões arespeito da infraestrutura e da superestrutura.

    Em Weber, traremos o processo de racio-nalização do mundo e do trabalho e os refle.

    xos sociais desse processo. Na análise da es

    tratificação social, perceberemos alguns outroselementos que podem perpassar a relação detrabalho e a noção de classes sociais. Por fim,traremos uma análise comparativa entre ostrês clássicos da sociologia no que se refere atrabalho e classes sociais, comparando o quecada um entende por divisão do trabalho esuas consequências, perpassando, inclusive, aquestão da influência metodológica na forma-

    ção do pensamento.

    1.1. Divisão Social do Trabalho na Concepção de Émile Durkheim

     A análise do sociólogo positivista ÉmileDurkheim não se mostra engajada, muito me-nos disposta a gerar grandes mudanças sociais,pois é caracterizada por se preocupar em traçar

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    **ummétodo para o estudo da ordem social e os

    seus mecanismos de manutenção.

    Para Durkheim (1999), o conceito de fato

    social é “toda maneira de fazer, fixada ou não,

    suscetível de exercer sobre o indivíduo umacoerção exterior; ou ainda, toda maneira de

    fazer que é geral na extensão de uma sociedade

    dada e, ao mesmo tempo, possui uma existên-

    cia própria, independente de suas manifesta-

    ções individuais”.

     A partir desse conceito, extraímos os três

    elementos do fato social: a) generalidade; b)

    exterioridade e; c) coercitividade. Logo, temos

    que o fato social é geral, porque abrange todos

    os indivíduos de determinada sociedade; é ex-

    terior, porque não depende de manifestações

    do indivíduo para que exista; e é coercitivo,

    porque determinada força social e leva o indi-

     víduo a agir de determinada maneira dentro

    da sociedade.

    O fio condutor para que se entenda o mé-

    todo durkheimiano é compreender que se tratade um estudo essencialmente analítico, pauta-

    do na constante busca por regras de observação,

    com objetivo de encontrar padrões que regem

    determinada sociedade. Note que a regra ele-

    mentar de observação dos fatos sociais é tratá

    los como coisa, de forma a descartar completa-

    mente todas as noções prévias para que possa

    escapar das noções do senso comum. O que po-

    demos considerar normal em uma determinadaépoca em uma sociedade? Seguindo essa linha

    de raciocínio, Durkheim trouxenos regras de

    distinção entre fato social normal e fato social

    patológico. Vejamos o verbete patologia’ extra-

    ído do dicionário Houaiss (2009):

    Patologia: substantivo feminino

    1 Rubrica: medicina.

    Especialidade médica que estuda as doen-ças e as alterações que estas provocam noorganismo.

    2 Rubrica: medicina.

    Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico,em relação à normalidade, que constitua umadoença ou caracterize determinada doença.

    3 Derivação: por extensão de sentido.Desvio em relação ao que é próprio ou adequa-do ou em relação ao que é considerado comoo estado normal de uma coisa inanimada ouimaterial.

    O verbete possui três sentidos de modo,

    mas o primeiro não nos é de grande interesse.

    No segundo sentido, temse que patologia é

    um desvio em relação à normalidade que cons-titua ou caracterize determinada doença. Por

    extensão de sentido, temos que o patológico é

    um desvio daquilo que é próprio ou adequado

    em relação àquilo considerado normal.

    Ficou claro que sempre que pensamos em

    algo patológico, temos como referência algo

    normal. Não saberiamos o que é patologia

    se não soubéssemos o que é normalidade. O

    normal é aquilo que segue os preceitos nor-mativos e observa a regularidade, aquilo que

    é usual.

    O que Durkheim faz nada mais é do que

    transpor os conceitos de normal e patológico

    aos fatos sociais. Um fato social é considerado

    normal quando, em um dado período históri-

    co, em determinada sociedade, obedece a cer-

    ta regularidade. Será patológico quando o fato

    social desviarse daquilo que é próprio naque-

    la época e naquela sociedade.

    O método de análise de Durkheim não

    é o objeto central deste volume, no entanto,

    uma breve introdução mostrouse essencial

    para que pudéssemos encontrar a linha de ra-

    ciocínio do sociólogo. Vamos, agora, analisar

    a divisão social do trabalho. Nas palavras desse

    pensador: “Para saber o que é objetivamente adivisão do trabalho, não basta desenvolver o

    conteúdo da ideia que dela temos, mas é pre

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    ciso tratála como um fato objetivo, observar,

    comparar, e veremos que o resultado dessas

    observações muitas vezes difere daquele que o

    sentido íntimo nos sugere”.

    Na introdução da obra Da Divisão do Tra-balho Social,  Durkheim aborda a função dadivisão do trabalho no sentido de identificar

    o seu papel na sociedade e seus efeitos. Iden-

    tifica, primeiramente, que não se trata de um

    fenômeno puramente econômico, reconhe-

    cendo a crescente influência nas mais diversas

    regiões da sociedade, inclusive nos setores ju-

    rídico e administrativo.

     As palavras “função” ou “papel” são des-tacadas pelo próprio Durkheim. Com uma

    preocupação metodológica de evitar préjulga

    mentos, ele esclarece que o termo função tem

    dupla significação. Em determinado momen-

    to, designa movimentos vitais e a abstração de

    suas consequências; já em outro momento,

    exprime uma relação de correspondência en-

    tre tais movimentos e sua relação com o orga-

    nismo. O sociólogo trabalhara nos termos dasegunda acepção da palavra.

     A função mais clara da divisão do trabalho

    social é elevar a produção de bens, tanto ma-

    teriais como intelectuais, por meio da especia-

    lização. Nas palavras de Durkheim: “Coloca

    te em condições de cumprir proveitosamente

    uma função determinada”.

    No entanto, a divisão do trabalho socialpossui outra função que podemos perceber de

    maneira mais imediata, eis que a primeira é

    mais clara aos nossos olhos. Durkheim identi-

    fica uma função moral de solidariedade entre

    os indivíduos, o que gera coesão social.

     A solidariedade social é um fenômeno mo-

    ral responsável pela coesão entre os indivíduos

    em determinada sociedade. De acordo com a

    evolução da formação social, têmse tipos desolidariedade, cada uma com suas particulari-

    dades. Durkheim classifica a solidariedade em

    dois tipos: solidariedade mecânica e solidarie-

    dade orgânica. Vejamos:

     A solidariedade mecânica é característica

    das sociedades précapitalistas, nas quais nãohouve desenvolvimento industrial, normal-

    mente sociedades tribais ou rurais. São carac-

    terizadas por apresentarem certa similitude

    funcional, decorrente da divisão simples do

    trabalho. A coerção social sobre os indivídu-

    os é mais intensa por prevalecer a consciên-

    cia coletiva sobre a individual. Normalmente,

    nessas sociedades, o Direito tem o intuito de

    punir o indivíduo para que sirva de exemploaos demais membros.

    Nas sociedades caracterizadas pela solida-

    riedade orgânica, visualizamos as sociedades

    capitalistas, aquelas que tiveram um desen-

     volvimento industrial e urbano. Tais socie-

    dades, em decorrência da industrialização,

    apresentam um grau mais elevado de dife-

    renciação funcional. Cada membro cumpre

    determinada função e tais funções são bem

     variadas. Consequentemente a influência da

    sociedade sobre o indivíduo diminui, redu-

    zindo a sobreposição da consciência coletiva

    na consciência individual. O Direito não visa

    a punir para servir de exemplo, mas tem o

    intuito primordial de reparar o dano causado

    pelo crime. Observe a tabela a seguir para ter

    o assunto resumido.

    SOLIDARIEDADE MECÂNICA 

    Característica das sociedades précapitalistas

    Similitude funcional

    Prevalência da consciência coletiva

    Divisão simples do trabalho

    Prevalência do direito repressivo

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    SOLIDARIEDADE ORGÂNICA 

    Característica das sociedades capitalistas

    Elevado grau de diferenciação funcional

     Afastamento da consciência coletiva

    Divisão complexa do trabalho

    Prevalência do direito restitutivo

    Durkheim aponta como mais evidente aclassificação das regras jurídicas, de acordocom as sanções, que podem ser repressivas e

    restitutivas. A primeira corresponde a tododireito penal; a segunda, ao direito civil, co-mercial, administrativo e constitucional.

     Ao explicar o papel do direito nas socie-dades caracterizadas pela solidariedade mecâ-nica, Durkheim esclarece:

    É essa solidariedade que o direito repressi- vo exprime, pelo menos no que ela tem de vital. De fato, os atos que ele proíbe e qua-

    lifica como crime são de dois tipos: ou ma-nifestam diretamente uma dessemelhança

    demasiado violenta contra o agente que asrealiza e o tipo coletivo, ou ofendem o ór-gão da consciência comum. (DURKHEIM,1999, p.80)

    Durkheim traz dois tipos de consciência:

    a) consciência individual;

    b) consciência social (também chamadade consciência coletiva).

     A consciência individual pertence ao sersubjetivo, individualiza o sujeito dentro dogrupo, é um estado mental que diz respeitoapenas ao indivíduo, ao passo que a consci-

    ência social ou coletiva representa a socie-dade dentro do indivíduo, é um conjuntode crenças, tradições e práticas morais que,em seu conjunto, formam um ser social. Épossível observar um movimento cíclico naconstrução das consciências. As consciênciasindividuais constroem a consciência coletiva,que, por sua vez, é responsável por moldar asconsciências individuais.

    Nas sociedades simples, nas quais é ve-rificada a divisão simples do trabalho, a se-melhança entre os indivíduos unifica o corposocial pelos sentimentos de simpatia e pelassemelhanças que existem entre os membrosdo grupo social.

    Nas sociedades complexas, a diferenciaçãosocial, ao contrário do que parece, não reduza coesão social. No entanto, as relações sociais

    não são mais as mesmas, pois não prevalecemsentimentos de identificar o outro em si, mashá uma interdependência funcional cada umdepende daquilo que o outro faz e isso tam-bém gera coesão social.

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    ^ 1.1.1. Principais Conceitos

    Fato social: “é fato social toda maneira de

    fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre

    o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda,

    toda maneira de fazer que é geral na extensão

    de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo,

    possui uma existência própria, independente

    de suas manifestações individuais”.

    Coesão social: corresponde aos laços en-

    tre os indivíduos que mantêm a sociedade or-

    ganizada e harmônica. Tem bases diferentes,

    de acordo com o tipo de solidariedade social.

    Divisão social do trabalho: divisão do

    trabalho em determinadas funções atribuídasaos indivíduos. Quanto mais evoluída é a so-

    ciedade, mais complexa é a divisão do traba-

    lho. Nas sociedades précapitalistas, ocorre de

    forma simples; nas sociedades capitalistas in-

    dustriais, de forma complexa.

    Solidariedade social: fenômeno moral res-

    ponsável pela coesão entre os indivíduos em de-

    terminada sociedade. De acordo com a evoluçãoda formação social, temse tipos de solidarieda-

    de, cada uma com suas particularidades.

    Consciência individual/ consciência so-

    cial: a consciência individual pertence ao ser

    subjetivo, individualiza o sujeito dentro do gru-

    po. São estados mentais que dizem respeito ape-

    nas ao indivíduo, ao passo que a consciência so-

    cial ou coletiva representa a sociedade dentro doindivíduo, é um conjunto de crenças, tradições

    e práticas morais que, em seu conjunto, formam

    um ser social.

    ^ 1.2. Marx e a Divisão do Trabalho

    Segundo a socióloga marxistaleninista

    chilena Marta Harnecker (1983), estudiosa do

    materialismo histórico e dialético, ao analisar

    a divisão do trabalho em termos marxistas, eiaapresenta três tipos de divisão do trabalho: 1)

    divisão da produção social; 2) divisão técnica

    do trabalho e; 3) divisão social do trabalho.

     A divisão da produção social consiste na

    divisão da produção em diferentes setores pro-

    dutivos, esferas ou ramos de produção. São

    exemplos apresentados pela autora a divisão

    entre trabalho agrícola e trabalho industrial edivisão entre trabalho industrial e comercial. |____________ 1

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    m  A divisão técnica do trabalho ocorre den̂tro do mesmo setor, do mesmo processo deprodução. É típica da indústria moderna.Cada trabalhador realiza uma etapa do proces-

    so produtivo, de modo que nenhum produza mercadoria do ponto inicial ao ponto final,pois o produto final é de todos aqueles parti-cipantes da produção. Isso gera os fenômenosde alienação e estranhamento da mercadoria,que serão vistos mais adiante.

     A divisão social do trabalho é a distribui-ção de determinadas funções dentro de umasociedade a cada indivíduo. Divide, por exem-

    plo, o trabalho manual do trabalho intelectual.Tal divisão não depende de critérios puramentetécnicos, mas, sobretudo, de critérios sociais.

    1.2.1. O Método em Marx: o Mate- rialismo Histórico e Dialético

    “A história da sociedade é a história daluta de classes”. Assim, Karl Marx e Friedrich

    Engels ensinamnos no Manifesto do Partido Comunista. A partir dessa frase, podemos ini-ciar o estudo do materialismo histórico e dia-lético, pois nela podemos identificar o núcleodo novo critério de análise histórica.

    Marx foi um pensador engajado e radical.Mais do que teórico do socialismo, foi pro-fundo estudioso do capitalismo em toda a suadinâmica e em suas contradições, abordando

    a evolução dialética da economia, pois passaa periodizar a história de acordo com os mo-dos de produção. Para adentrar e compreendero pensamento de qualquer autor, sobretudo osclássicos, inicialmente, devese entender a suametodologia. É importante para nós sabermoscomo o pensador chegou à determinada con-clusão e quais etapas ele percorreu para provarsua tese. Compreender o método em Marx, de-nominado por Engels como “materialismo his-tórico e dialético”, é essencial para entender os

    principais conceitos marxianos.

     A dialética é a produção de argumentos,tendo como base a oposição das teses. Seuconceito foi debatido por Sócrates, Platão,

     Aristóteles, Hegel, Marx é outros.Lenin (1870 1924)1traz nos cadernos fi-

    losóficos que a dialética, em sentido restrito, é0 estudo das contradições contidas na essênciados objetos e o desenvolvimento é a luta doscontrários. De maneira simples, temos que omaterialismo histórico explica a realidade, apartir da produção material, considerando queesta é a base de toda ordem social, por ser algoque sempre existiu em todas as sociedades.

    O método dialético de Marx é fundamen-talmente diverso do método hegeliano. Marxmantém a espinha dorsal da linha de raciocí-nio dialético hegeliano, imprimindolhe ba-ses materiais, rompendo com o idealismo quelhe era característico. Quanto ao materialis-mo, o marxismo apoiase em Feuerbach2, no

    entanto, abandona o viés mecanicista que lheé característico, conferindolhe dinamicidadee historicidade.

    Ou seja, Marx apoiase parcialmente emHegel, invertendo a dialética hegeliana e,parcialmente em Feuerbach, conferindo di-namicidade ao materialismo. O materialismomarxista é essencialmente econômico, pois

     vê uma relação necessária entre as mudanças

    no modo de produção material e os meios deexistência dos indivíduos. Para Marx, a es-trutura econômica da sociedade é a base realque condiciona a vida social. É o que o pen-sador expõe na décima tese sobre Feuerbach:“O ponto de vista do antigo materialismo é

    1Vladimir Hitch Lenin, ou Lenine, foi líder do Partido Comunista eprimeiro presidente do Conselho dos Comissários do Povo da UniãoSoviética. Esse revolucionário foi responsável em grande parte pelaexecução da Revolução Russa de 1917.

    2 Ludwig Andreas Feuerbach (1804 —1872) foi um filósofo alemãoreconhecido pela teologia humanista.

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    a sociedade ‘civil’; o ponto de vista do novo

    materialismo é a sociedade humana, ou a hu-

    manidade socializada”.

    O método em questão é a junção de dois

    outros: Marx herdou o materialismo de Feu-erbach e a dialética hegeliana, de modo que

    um serviria de complemento ao outro. Marx

    pega parte de cada um, descartando aqui-

    lo que acredita não ser cabível. Aproveita o

    materialismo feuerbachiano, descartando seu

    mecanicismo e imprimindolhe historicidade;

    e herda a dialética de Hegel, invertendo sua

    lógica, pois parte do abstrato para chegar a um

    concreto pensado. No caso da dialética hege-liana por si, a ideia é partir do concreto para

    chegar ao abstrato.

    Conforme nos recorda José Paulo Netto

    (2002), “todo começo é difícil em qualquer ci-

    ência”. Assim Marx nos ensina, logo no início

    de sua principal obra, O Capital. Marx não nos

    traz uma lógica pronta, aplicável diretamente a

    análise de determinado objeto ou de sujeitos. Ao estudar o capitalismo, esse filósofo desco-

    briu suas estruturas, dinâmicas reais. Na teoria

    do capital, Marx reproduziu de forma ideal seu

    movimento real, de forma a extrair as múltiplas

    determinações que constituem o concreto. Mas

    o que significa extrair as múltiplas determina-

    ções de um objeto?

    Na obra A Ideologia Alemã, Marx e En-

    gels ressaltam que o ponto de partida de seuspressupostos são homens reais, suas ações

    e condições materiais, tanto já encontradas

    como produzidas. Não admite abstração, ex-

    ceto daquilo que é imaginado. Assim, literal-

    mente: “O primeiro pressuposto de toda his-

    tória humana é naturalmente a existência de

    indivíduos humanos vivos. O primeiro fato a

    constatar é, pois, a organização corporal destes

    indivíduos e, por meio disto, sua relação dada

    com o resto da natureza”.

    O método materialista dialético, desse

    modo, imprimiu o materialismo nas relações

    dialéticas e teve sua análise realizada a partir da

    realidade social, dos “homens de carne e osso”.

    Como nos explica José Paulo Netto, “[...] a to-talidade concreta e articulada que é a socieda-

    de burguesa é uma totalidade dinâmica seu

    movimento resulta do caráter contraditório de

    todas aŝ talidades que compõe a totalidade

    inclusiva e macroscópica”.

    Desse modo, conseguimos perceber como

    Marx trabalha com as múltiplas determina-

    ções de seu objeto de análise. Em síntese, o

    que tornou propício o seu arcabouço teórico

    foi a articulação de três categorias nucleares

    de pensamento: a totalidade, a contradição e

    a mediação.Verificamos que a análise materia-

    lista dialética permite não só encontrar as leis

    que expõem o movimento real dos fenômenos,

    mas também é fundada nos fatos concretos.

    O homem passa a se diferenciar dos ani-

    mais quando começa a produzir seus meios desubsistência, pois, ao produzir seus meios de

     vida, produz sua existência material, mesmo

    que de forma indireta. O modo de produção

    de seu meio de vida é pela reprodução daquilo

    que a natureza lhe proporciona. O que o sujei-

    to é coincide tanto com a forma de produção,

    como com aquilo que é produzido. “O que os

    indivíduos são, portanto, depende das condi-

    ções materiais de sua produção”.

    Diferentemente de Durkheim, que busca-

     va afastarse do objeto de estudo para que pu-

    desse aplicar as regras do método sociológico,

    Marx não era um teórico neutro, que queria se

    aproximar das ciências naturais, mas um pen-

    sador radical, engajado, que se preocupou com

    a análise de seu tempo. Como o próprio Marx

    nos diz: “Os filósofos têm apenas interpretado

    o mundo de maneiras diferentes; a questão,

    porém, é transformálo”. Podemos dizer que o

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    marxismo não se encaixa no conceito ‘burguês’

    de ciência, por se tratar de uma análise social

    propriamente impura.

    1.2.2. A Divisão do Trabalho, Forças 

    Produtivas e Relações de Produção

    Segundo Marx, sabemos que “o modo de

    produção da vida material condiciona o pro-

    cesso da vida social, política e esjnhitual em

    geral”. Entendemos também que o referido

    autor defende claramente que a anatomia da

    sociedade civil deve ser buscada com base na

    economia política.

     Vimos que o que o indivíduo é depende

    essencialmente das condições materiais de

    produção, assim como, em geral, toda confi-

    guração social. Os conceitos de infraestrutura

    e superestrutura são primordiais para a com-

    preensão da configuração de um Estado, pois

    a infraestrutura é a base real sobre a qual se

    ergue a superestrutura, que é arcabouço ins-

    titucional do Estado. A infraestrutura aproxi

    mase da ideia de existência, ao passo que asuperestrutura está próxima da ideia de cons-

    ciência. Vejamos:

    a) Infraestrutura: base material que con-

    siste nos os meios materiais de produção, ou

    seja, meios de produção e força de trabalho.

    b) Superestrutura: o sistema institucional

    de idéias, culturas, sentimentos, instituições

     jurídicas e políticas, que constituem a consci-

    ência social erguida sobre a base material.

    Seguindo esse raciocínio, no prefácio da

    obra Contribuição à Crítica da Economia Polí-

    tica (1859), Marx esclarece o fio condutor do

    desenvolvimento de seus estudos:

    O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu de fio condutor aos meus

    estudos, pode resumirse assim: na produ-

    ção social da sua vida, os homens contra-em determinadas relações necessárias e

    Q>]   independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a uma deter-minada fase de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais.O conjunto dessas relações de produção forma a estru-

    tura econômica da sociedade, a base real sobre se levanta a superestrutura jurídica epolítica e à qual correspondem determina-das formas de consciência social. O modo

    dé produção da vida material condiciona oprocesso da vida social, política e espiritualem geral. Não é a consciência do homem quedetermina o seu ser, mas, pelo contrário, oseu ser social é que determina a sua consci-ência. (MARX, s/d, p. 301)

     A seguir, um quadro esquemático para

    melhor fixar esse importante tema:

    A SUPERESTRUTURA E A INFRAESTRUTURA NO PENSAMENTO MARXIST

    DETERMINA

    INFRAE STRUTURA MEIO DE PRODUÇÃO

    (EXISTÊNCIA)

    O processo de trabalho, em termos ge-

    rais, é todo processo de transformação de um

    determinado objeto em outro produto, utili

    zandose instrumentos de trabalho.

    O objeto inicial pode estar em seu estadonatural ou já ter sido trabalhado.3r • ' "

    O B J E T O   ----- ------ ► TRANSFORMAÇÃO-----------► PRODUTO

    F AT IVIDADE

    HUMANA

    INDUSTRIA

    AGRICULTURA

    COMÉRCIO

    MINERAÇÃO

    ESTADO (RELAÇÕES POLÍTICAS)

    SOCIEDADE (RELAÇÕES SOCIAIS)

     __________RcUGlAO__________

    CULTURA

     _______  JUSTIÇA (LEIS) ________

    3 Fonte: HARNECKER, Marta. Os conceitos elementares 

    do materialismo histórico.  São Paulo: Global, 1983, p. 32.

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    FORÇA DE PRODUÇÃO ̂ Assim, temse um objeto inicial que passará

    por um processo de transformação e se tornará

    um produto útil. Tal transformação é realizada

    pela atividade humana, por meio do uso de ins-

    trumentos de trabalho. São apresentados três

    instrumentos de trabalho, quais sejam: o objeto

    a ser trabalhado; os meios de trabalho ou meios

    de produção; e força de trabalho.

    FORÇA DE TRABALHO

    +

    MF.IOS DE PRODUÇÃO

    RELAÇÕES OE

    PRODUÇÃO

    OBJETO :______!

    +  1

    MFIODt TRABALHO

    a) O objeto: pode ser matéria bru-

    ta. Esta é proveniente diretamente da na-

    tureza, não há manufatura prévia. São

    exemplos de matéria bruta: frutos, mi-

    nerais etc. Também pode ser matériaprima, ou seja, aquela que sofreu modifi-

    cação pelo trabalho humano. São exemplos

    de matériaprima: madeira, borracha etc.

    b) Meios de trabalho ou meios de

    produção: em sentido amplo, são as con-

    dições materiais indispensáveis à realiza-

    ção do trabalho; em sentido estrito, são

    as ferramentas que intermediam o traba-lhador e o objeto trabalhado.

    c) Força de trabalho: é a atividade

    humana desenvolvida no processo de

    produção, é a energia humana aplicada

    no processo de trabalho. O salário é o

    equivalente monetário à força trabalho.

    Como resultado, temse o produto, que é

    o objeto final, que resulta do processo de tra-

    balho matéria bruta ou matériaprima tra-

    balhada pela atividade humana, utilizandose

    meios de produção. Para que seja mercadoria,

    o produto tem de ter um valor de uso, ou seja,

    deverá suprir alguma necessidade. O concei-

    to de valor de uso será melhor abordado mais

    adiante. Por hora, vamos ver o quadro e com-preender o assunto com maior facilidade.

    Todo processo de trabalho implica deter-

    minadasrelações de produção. As relações de

    produção consistem na somatória das relações

    técnicas e sociais dentro do processo produti-

     vo. No processo de trabalho, os homens esta-

    belecem determinadas relações pessoais entre

    si. Tais relações são determinantes no caráter

    assumido historicamente pela sociedade, pois,

    na visão marxiana, a produção está incondi-

    cionalmente determinada pela história.

     As forças produtivas são os elementos do

    processo de trabalho considerados a partir

    de sua capacidade de produção, sua potência

    produtiva, em especial, a força de trabalho eo meio de produção. As forças produtivas de

    uma determinada nação são medidas a partir

    do grau de desenvolvimento atingido pela di-

     visão do trabalho, Assim, segundo a conceitu

    ação dada por Marx e Engels:

     A divisão do trabalho no interior de uma

    nação leva, inicialmente, à separação entre o

    trabalho industrial e comercial, de um lado,e o trabalho agrícola de outro, e, com isso,

    a separação da cidade e do campo e a oposi-

    ção de seus interesses. Seu desenvolvimento

    ulterior leva à separação entre o trabalho co-

    mercial e o trabalho industrial. Ao mesmo

    tempo, através da divisão do trabalho dentro

    destes diferentes ramos, desenvolvemse dife-

    rentes subdivisões particulares umas em rela-

    ção a outras é condicionada pelo modo peloqual se exerce o trabalho agrícola, industrial

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    ^ e comercial (patriarcalismo, escravidão, es\  tamentos e classes) estas mesmas condições

    mostramse ao se desenvolver o intercâmbioentre as diferentes nações. (MARX; EN-

    GELS, 1999, p.29)Como é possível extrair do trecho citado

    da obra de Marx e Engels, a divisão do trabalhoacaba por separar indústria e comércio, cidadee campo, e criar oposição entre seus interesses.Isso se mostra nas mais diversas configuraçõessociais e em suas subdivisões.

     Assim, os autores dividem as formas de

    propriedade em três, na ordem que segue:a) Propriedade tribal: tratase deuma extensão da família. Existem chefespatriarcais da tribo, outros membros e osescravos; corresponde a uma fase aindanão desenvolvida da produção, na qualo grupo se alimenta daquilo que caça epesca, da criação de animais e até mesmoda agricultura. Pressupõem terrenos não

    cultivados, por isso a agricultura seriaeventual. A divisão do trabalho encon-trase pouco desenvolvida e limitada auma extensão da divisão natural do tra-balho existente na família, sobretudo adivisão sexual.

    b) Propriedade comunal estatal:caracterizada pelo surgimento da pro-priedade privada encontrada na antigui-

    dade, a partir da reunião de várias tribosque formam cidade com propriedadecoletiva dos chamados cidadãos ativos.

     Já pode ser encontrada oposição entrecidade e campo e permanece a explora-ção do trabalho escravo. É resultado daunião entre tribos que formam uma ci-dade por meio de acordo ou conquista.O primeiro tipo de propriedade privadaque existe é a propriedade privada mó- vel, desenvolvendose, posteriormente,

    a propriedade imóvel, que, naquele mo-mento, era exceção e estava subordinadaà propriedade comunal. Era a proprie-dade privada comum daqueles conside-

    rados cidadãos, devendo lembrar quemulheres, crianças e escravos não se en-quadravam nessa categoria. Em virtudedo crescimento da propriedade privavaimóvel e o desenvolvimento da divisãodo trabalho, decai a estrutura comunalde produção.

    c) Propriedade feudal ou estamen- tal: é a terceira forma de propriedade,

    marcada pela expansão da agricultura, domovimento da cidade em direção ao cam-po. Diferentemente do que aconteceu nassociedades grega e romana, o desenvolvi-mento feudal começa em um territóriomais extenso, com a população (tambémchamada de estamentos —grupos sociais)dispersa em uma grande área. Nos últimosanos do Império Romano, houve signifi-

    cativa queda das relações comerciais e dasdemais forças produtivas. Assim, a estru-tura hierárquica da propriedade fundiáriae o poder sobre as armas deram à nobre-za o poder sobre os servos. Aos poucos,houve novo movimento migratório, dessa

     vez do campo em direção à cidade. Assim,originaramse as corporações de ofício(associações de pessoas qualificadas para

    trabalhar em uma determinada função),que herdaram das configurações sociais docampo, o que originou nas cidades umahierarquia semelhante.

    O modo de pensar, o modo de existir eos produtos resultantes disso são determina-dos pelos modos como os homens desenvol-

     vem sua produção material. A consciêncianão determina a existência, mas, ao contrário,corresponde à vida real, aos indivíduos reais e

     vivos, assim como vemos nas palavras de Marx

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    e Engels:

    Não tem história, nem desenvolvimento;mas homens, ao desenvolverem sua produçãomaterial e seu intercâmbio material, trans-formam também, com esta sua realidade, seupensar e os produtos de seu pensar. Não é aconsciência que determina a vida, mas a vidaque determina a consciência. Na primeiramaneira de considerar as coisas, partese da

    consciência como do próprio indivíduo vivo;

    partese dos própriosindivíduos reais e vivos,e se considera a cons-

    ciência unicamentecomo sua consciência.(MARX; ENGELS,1999, p. 38)

    Os homens trans-

    formam a sua maneira 

    de pensar e os pro-

    dutos provenientes 

    dela de acordo com o 

    desenvolvimento da produção material e 

    do intercâmbio dessa 

    produção. Isso deter-

    mina as relações so-

    ciais, as maneiras de 

    agir e a consciência 

    do próprio indivíduo. 

    Partimos da vida real 

    para ter um parâmetro de consciência e não 

    o contrário. Partin-

    do desse pressuposto, 

    temse o processo de 

    desenvolvimento das 

    condições materiais 

    de existência. Assim, 

    temse a crítica ao 

    idealismo pelas abstrações separadas da história real. Marx e Engels trabalham a história como 

    oprimeiro pressuposto de toda a existência hu-

    mana:

    (...) Mas, para viver, é preciso antes de tudocomer, beber, ter habitação, vestirse e algu-mas coisas mais. O primeiro ato histórico é,portanto, a produção dos meios que permi-tam a satisfação dessas necessidades, a produ-

    ção da própria vida material, e de fato este é

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    um ato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que ainda hoje, comohá milhares de anos, deve ser cumprido to-dos os dias e todas as horas, simplesmentepara manter os homens vivos. (MARX; EN-

    GELS, 1999, p. 39)

    Em seguida, são descritos os momentos

    da atividade social que coexistem desde os pri

    mórdios da história:

    a) Deve ser observado o fato fundamental

    em toda a sua extensão e significação, e ren-

    derlhe toda a justiça. Os alemães ignoraram a

    história e as condições materiais sobre as quaisfoi construída.

    b) Satisfeita a primeira etapa, o segundo

    passo é produzir novas necessidades.

    c) A terceira é a reprodução por meio do

    estabelecimento da relação familiar.

    d) Por fim, serão estabelecidas as relações

    sociais.

    Na sequência da obra A Ideologia Alemã, é 

    analisada a divisão do trabalho. Marx e Engels

    esclarecem que a primeira forma foi a divisão

    sexual do trabalho, esclarecendo que a men-

    cionada divisão acontece efetivamente a partir

    do momento em que são estabelecidas as divi-

    sões entre o trabalho material e o espiritual, o

    que inicia contradições nas relações existentes

    com as forças produtivas.

    No mais, é possível observar uma identida-

    de entre propriedade privada e divisão do tra-

    balho, de forma que “a primeira enuncia em

    relação à atividade, aquilo que se enuncia na

    segunda em relação ao produto da atividade”.

     Assim, os autores apontam como seria a

    divisão de trabalho na sociedade comunista:

    (...) na sociedade comunista, onde cada umnão tem uma esfera de atividade exclusiva,

    mas pode aperfeiçoarse no ramo que lheapraz, a sociedade regula a produção geral,dandolhe assim a possibilidade de hoje fazertal coisa, amanhã outra, caçar pela manhã,pescar à tarde, criar, animais ao anoitecer, cri-ticar após o jantar, segundo meu desejo, sem

     jamais tornarme caçador, pescador, pastorou crítico. (MARX; ENGELS, 1999, p. 47)

    Os pensadores ensinam que as lutas pon-

    tuais são formais e ilusórias e, dentro delas,

    desenvolvemse lutas reais entre as diferen-

    tes classes, pois todas aspiram a dominação.

    Finalizando o raciocínio, trazem o conceito

    de comunismo como um ideal para o qual asociedade deve se dirigir.

    “A utilização da força de trabalho é o pró-

    prio trabalho”. Assim Marx começa o quinto

    capítulo de O Capital e continua o raciocínio,

    dizendo que o consumo da força de trabalho

    faz que o trabalhador trabalhe e, para que o

    trabalho reapareça em forma de mercadorias,

    ele deverá ser empregado no que Marx deno-

    mina valor de uso, que serve para satisfazer as

    necessidades de qualquer natureza.

    Retomando o que Marx elenca como os

    três elementos do processo de trabalho:

    1. A atividade adequada a um fim, isto é,

    o próprio trabalho.

    2. A matéria a que se aplica o trabalho, o

    objeto de trabalho.

    3. Os meios de trabalho, o instrumental

    de trabalho.

    Meio de trabalho é uma coisa ou um com-

    plexo de coisas que intermediam o trabalhador

    e o objeto de trabalho, que dirigem a atividade

    do trabalhador sobre o objeto. Assim, no pro-

    cesso de trabalho, o homem realiza determi-

    nada atividade com o fim no objeto, atuando

    pelo instrumental de trabalho.

    Os produtos do processo de trabalho têm

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    dupla função, segundo Marx, ao explicar “quepodem servir ao consumo individual comomeio de subsistência ou a novo processo detrabalho como meios de produção”.

     Assim, o autor conclui: “Os produtos detrabalho anterior que, além de resultado cons-tituem condições de existência do processo detrabalho, só se mantêm e se realizam como va-lores de uso através de sua participação nesseprocesso, do seu contato com o trabalho vivo”.

     A mercadoria existe para satisfazer as ne-cessidades humanas “do estômago ou da fan-tasia”, seja de forma imediata ou como meiode produção de outra mercadoria, pois, en-quanto não há consumo, não se fala em mer-cadoria. Logo, o que se faz para uso próprionão se encaixa nesse conceito, pois a merca-doria é a forma elementar da riqueza. A mer-cadoria é essencialmente composta por doisfatores: valor de uso e valor de troca.

    a) Valor de uso: Marx ensinanos

    que a “utilidade de uma mercadoria fazdela um valor de uso”, ou seja, seu valoré determinado pelas qualidades particu-lares da mercadoria e não depende daquantidade de trabalho nela empregada,mas de suas qualidades úteis. Tal valorrealizase com a utilização ou consumoda mercadoria. O valor de uso constituiconteúdo material da riqueza, seja qual

    for sua forma social.

    b) Valor de troca: apresentase comouma relação quantitativa, expressa em ter-mos monetários. E a proporção por meioda qual os valores de uso de uma espéciese trocam por valores de uso de outra. Nãose trata de uma relação fixa, pois mudaconstantemente de acordo com o tempo

    e o espaço. O valor de troca, portanto,apresentase como algo “casual e pura-mente relativo”. E o modo que se pode

    ' quantificar o valor de uma mercadoria,tornandoo comparável ao valor de outra.

    Podemos verificar que há uma contradição

    entre os termos valor de uso e valor de troca,pois deve ser considerado o valor de troca comoum meio pelo qual as mercadorias podem serquantificadas, comparadas. A quantificação

     justificase, pois, para a realização das trocas,é imprescindível um parâmetro comparativo.Marx ensina que: “Uma coisa pode ser valorde uso sem ser valor. É o que sucede quandoa utilidade para o ser humano não decorre do

    trabalho. (...) Uma coisa pode ser útil e produtodo trabalho humano sem ser mercadoria”.

     A mercadoria é o cerne do capital, poistoda produção capitalista passa a ter forma demercadoria, que, por sua vez, é um valor de usoque é voltado para satisfazer as necessidadeshumanas. Por sua vez, o valor de troca que équantificável e possui um equivalente monetá-rio —preço, dinheiro —é uma relação. Pergun-

    tase, portanto: qual é o papel do trabalho?

    O trabalho tem o papel de definir os valo-res de troca. Mas esse trabalho em questão nãoé o trabalho individual, não é o tempo que cadatrabalhador gasta para produzir determinadamercadoria. Tratase de um trabalho homogê-neo. Dessa análise, são excluídas as diferençasentre os mais variados tipos de processos de tra-

    balho. Assim, existem dois tipos de trabalho: oútil e o abstrato.

    O trabalho útil analisa as especificidades dosprocessos de trabalho, em que essas qualidadespeculiares são necessárias para produzir valoresde uso de cada mercadoria de forma singular.

     Ao desaparecer o caráter útil dos produtos dotrabalho, também desaparece o caráter útildos trabalhos neles corporificado, desvane-cemse, portanto, as diferentes formas de tra-balho concreto, elas não mais se distinguem

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    í, umas das outras, mas reduzemse, todas a\3

    uma única espécie de trabalho, o trabalhohumano abstrato.(MARX, 1984, p. 45)

     valor de uso. O preço da mercadoria é o equiva-

    lente monetário do valor. Passamos, portanto,

    ao estudo da maisvalia.

    De maneira diversa, o trabalho abstrato

    não leva em consideração tais peculiaridades,o que proporciona a criação do valor de troca.

     Assim, o valor da mercadoria é medido com

    base no trabalho abstrato e no gasto de tra-

    balho humano de forma homogênea. Temos

    aqui a “força média de trabalho social”. Marx

    nos traz o seguinte esquema argumentative:

    Se o valor de uma mercadoria é determinado

    pela quantidade de trabalho gasto durantesua produção, poderia parecer que quantomais preguiçoso ou inábil um ser humano,tanto maior o valor de sua mercadoria, poisele precisa de mais tempo para acabála. To-davia, o trabalho que constitui a substân-cia dos valores é o trabalho humano ho-mogêneo, dispêndio de idêntica força de trabalho. Toda força de trabalho da socie-

    dade, que se revela nos valores do mundo das mercadorias, vale, aqui, por força detrabalho única, embora se constituía de inú-meras forças de trabalho individuais. Cadauma dessas forças individuais de trabalho seequipara às demais, na medida em que pos-sua o caráter de uma força média de trabalhosocial, e atue como essa força média, preci-sando, portanto, apenas do tempo de traba-lho em média necessário ou socialmente ne-

    cessário para a produção de uma mercadoria.(MARX, 1984, p. 46)

    Tempo de trabalho socialmente necessário

    é o tempo de trabalho requerido para produ-

    zir um valor de uso qualquer, nas condições de

    produção socialmente normais, existentes, e

    com o grau social médio de destreza e intensi-

    dade do trabalho. O que determina a grandeza

    do valor, portanto, é a quantidade de trabalhosocialmente necessário ou o tempo de trabalho

    socialmente necessário para a produção de um

    1.2.3. A MaisValia A diferença entre produção de valor e pro-

    dução de maisvalia está no fato de o processo

    de produção de valor durar até o ponto em

    que o valor da força de trabalho pago pelo ca-

    pital é substituído por um equivalente. Se ul-

    trapassado esse ponto, o processo de produzir

     valor tornase produção de maisvalia.

    Em síntese, o valor de uso referese aouso ou consumo de uma mercadoria, ao passo

    que o valor de troca referese à quantidade, à

    proporção em que valores de uso de espécies

    diferentes são trocados entre si. Sabese que

    o trabalho produz o valor, que manifestase

    de duas formas: a) quando o processo produz

    mercadorias; b) quando o processo de pro-

    dução gera a maisvalia. O valor da força de

    trabalho é o valor do próprio sustento do tra-balhador e de seus dependentes, o restante é o

    sobretrabalho, que é apropriado pelo proprie-

    tário dos meios de produção.

    Marx conceitua maisvalia da seguinte for-

    ma: “A mais valia se origina de um excedente

    quantitativo de trabalho, da duração prolon-

    gada do mesmo processo de trabalho, tanto no

    processo de produção de fios, quanto no pro-cesso de produção de artigos de ourivesaria”.

     A maisvalia ainda pode ser dividida em

    maisvalia absoluta e maisvalia relativa:

    a) Maisvalia absoluta: é o prolonga-

    mento do dia de ofício, a partir da intensi-

    ficação do ritmo de trabalho, por meio de

    controles impostos aos operários, de modo

    a obrigar o trabalhador a trabalhar em umritmo mais acelerado e intenso para que

    produza mais mercadorias e, consequen

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    ^ temente, mais valor, sem que sejam altera-das a duração da jornada e a apropriaçãodesse sobretrabalho pelo capital.

    b) Mais-valia relativa: tem comoponto de partida a maisvalia absoluta.Nesse caso, dividimos o dia de trabalhoem duas partes: a primeira é o trabalhonecessário e a segunda, o sobretrabalho.

     A dinâmica é prolongar o sobretrabalhoe reduzir o trabalho necessário. Para tan-to, o trabalho necessário é encurtado porintermédio de métodos que permitem

    que o equivalente do salário do trabalhoseja produzido em menos tempo.

     A diferença entre as duas consiste no fatode que a produção da maisvalia absoluta se re-fere apenas em redor da extensão do dia de tra-balho; a produção da maisvalia relativa alterasignificativamente os processos técnicos dotrabalho e os agrupamentos sociais. O capital

    é o dinheiro aplicado no processo produtivo eserá ampliado por meio da maisvalia. A com-posição orgânica do capital consiste em capitalconstante e capital variável.

    a) Capital constante: é compostopor matériaprima somada aos meios detrabalho. É fixo.

    b) Capital variável: consiste na for-

    ça trabalho. Varia com o tempo.O lucro é a forma mais visível da maisva-

    lia. Ele é gerado por meio do capital variável,pois apenas este cria valor. O capital constan-te não gera lucro, pois não tem a capacidadede criar mais valor, uma vez que ele é apenastransferido para o produto. Com o aumentoda mecanização do processo produtivo, é re-

    duzida a extração da maisvalia. Portanto, háuma tendência na queda da taxa de lucro emlongo prazo.

    1.2.4. Alienação, Estranhamento e Fetiche da Mercadoria

    Marx trabalha os conceitos de alienação e

    estranhamento nos Manuscritos E conômicos-  Filosófícos (1844).O fundamento do conceitomarxiano de alienação encontrase no exercí-cio da atividade laborai que tem a capacidadede coisificar o trabalhador, a ponto de tornar aexistência deste e de suas habilidades em fun-ção do objeto, existindo apenas para o capital.

     Assim, no âmbito da economia política, aque-le que não trabalha, que não produz mercado-

    ria simplesmente não existe.Convém conferirmos a transcrição do tre-

    cho dos Manuscritos Econômicos-Filosófícos, de Marx:

    O trabalhador tornase tanto mais pobrequanto mais riqueza produz, quanto mais suaprodução aumenta em poder e extensão. Otrabalhador tornase uma mercadoria tanto

    mais barata, quanto maior o número de bensque produz. Com a valorização do mundodas coisas, aumenta em proporção direta adesvalorização do mundo dos homens. Otrabalho não produz apenas mercadorias;produzse também a si mesmo e ao trabalha-dor como uma mercadoria, justamente namesma proporção com que se produz bens.(MARX, 2006, p.lll)

    O produto opõese ao trabalhador comoalgo que lhe é estranho e como se existisse deforma independente da que ele produziu. Oproduto do trabalho é o trabalho coisificadoe fixado em uma mercadoria, um objeto quese transformou em coisa física, é a objetivaçãoe coisificação do trabalho. Assim, Marx con-ceitua que a realização do trabalho implica si-multaneamente sua objetivação.

    Por isso, segundo Marx, a realização dotrabalho aparece na esfera da economia po-

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    lítica como a não realização ou frustração do

    trabalhador, e a objetivação mostrase como

    uma perda e a servidão do objeto. Conse-

    quentemente, a apropriação mostrase como

    alienação.Em sua análise, esse autor segue nos mos-

    trando que tais consequências derivam, aci-

    ma de tudo, da relação entre o trabalhador

    e o produto de seu trabalho. O trabalhador

    percebe sua produção como um objeto estra-

    nho. Isso porque, quanto mais o trabalhador

    se esgota enquanto ser, mais poderosa fica sua

    criação diante dele mesmo, mais poderoso fica

    o mundo das coisas, mais pobre ele fica na sua

     vida interior, menos pertence a si próprio. Leia

    mais um trecho da obra de Marx:

    (...) O trabalhador põe sua vida no objeto;porém agora ela já não lhe pertence, mas simao objeto. Quanto maior sua atividade, maiso trabalhador se encontra objeto. O que seincorporou no objeto do seu trabalho já não

    é seu. Assim, quanto maior é o produto, maisele fica diminuído. A alienação do trabalhadorno seu produto significa não só que o trabalhose transforma em objeto, assume uma existên-cia externa, mas que existe independentemen-te, fora dele e a ele estranho e se torna umpoder autônomo em oposição a ele; que a vidaque deu ao objeto se torna uma força hostil eantagônica. (MARX, 2006, p. 112)

     A regra que percebemos é a de que a alie-nação do trabalhador no objeto produzido se

    mostra nas leis da economia política da se-

    guinte forma: quanto mais o trabalhador pro-

    duz, menos ele consome. A leitura de mais

    um trecho dos escritos desse pensador escla-

    rece melhor.

     Já que o trabalho alienado aliena a natureza

    do homem, aliena o homem de si mesmo, oseu papel ativo, a sua atividade fundamen-tal, aliena do mesmo modo o homem a res

    ' peito da espécie; transforma a vida genéricaem meio da vida individual. Primeiramente,aliena a vida genérica e a vida individual; de-pois, muda esta última na sua abstração emobjetivo da primeira, portanto na sua formaabstrata e alienada. (MARX, 2006, p. 116)

    No trabalho alienado, verificamos a de

    sumanização do trabalho, tornandoo como

    coisa, a ponto de permitir a quantificação

    do trabalho humano. O caráter fetichista da

    mercadoria ocorre pela falta de capacidade da-

    queles que produzem. Por meio da troca mer-

    cantil, dos produtos de seus trabalhos, acabam

    por estabelecer uma relação social que, por serum atributo social do trabalho, fica oculta na

    aparência de objeto.

    1.2.5. As Relações de Produção e a 

    Estrutura de Classes

     Ao se pensar na concepção marxiana,

    muito se fala sobre a divisão da sociedade em

    classes. Para Marx, no entanto, ele não nos

    apresentou uma teoria ampla e sistematizadade classes sociais, embora o entendimento da

    sociedade em classes seja imprescindível para

    a compreensão do pensamento marxista em

    geral. Classes sociais são posições que os in-

    divíduos ocupam no sistema produtivo. Ao

    contrário do que aparenta, Marx não apre-

    senta uma visão bipartida de classes sociais,

    inclusive pode ser encontrada em suas obras

    a menção de cerca de dezesseis classes sociais.

    No entanto, ele aponta três grandes classes da

    moderna sociedade burguesa:

    1) os proprietários de capital;

    2) os proprietários da terra; e

    3) os trabalhadores (proprietários da for-

    ça de trabalho).

    Sabemos que, no processo produtivo, sãoestabelecidas relações de produção, que com-

    preendem a somatória das relações técnicas

  • 8/17/2019 Sociologia - Mundo Do Trabalho 28p - TEXTO

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     j e sociais. O que nos interessa neste momení to são as relações sociais de produção, poiso conjunto dessas relações forma a estruturaeconômica da sociedade, eis que o materia

    lismo histórico concebe a história a partir daluta de classes e da determinação das formasideológicas pelas relações de produção.

    No trecho a seguir, Marx explica que a so-ciedade moderna industrial tem a capacidadede unir desconhecidos que possuem os maisdiversos interesses num mesmo ambiente. Noentanto, eles possuem um interesse comumcontra seu explorador, um interesse geral, um

    mesmo pensamento de resistência: a coalizão.O primeiro objetivo comum é a manutenção dosalário. À medida que os detentores dos meiosde produção também se reúnem em um mes-mo pensamento de repressão, a manutenção daassociação mostrase mais importante do quea manutenção do salário. Caso uma associaçãode trabalhadores chegue a esse ponto, adquiriráocaráter político, pois a “dominação do capitalcriou para essa massa uma situação comum, in-teresses comuns”. Nas palavras de Marx:

     A grande indústria aglomera num mesmolocal uma multidão de pessoas que não seconhecem. A concorrência divide os seus in-teresses. Mas a manutenção do salário, esteinteresse comum que têm contra o seu pa-trão, os reúne num mesmo pensamento de

    | resistência coalizão. A coalizão, pois, temsempre um duplo objetivo: fazer cessar en-tre elas a concorrência, para poder fazer umaconcorrência geral ao capitalista. Se o primei-ro objetivo da resistência é apenas a manu-tenção do salário, à medida que os capitalis-tas, por seu turno, se reúnem em um mesmopensamento de repressão, as coalizões, ini-cialmente isoladas, agrupamse e, em face

    do capital sempre reunido, a manutenção daassociação tornase para elas mais importan-te que a manutenção do salário. [...] Nessa

    ^ luta verdadeira guerra civil , reúnemse ese desenvolvem todos os elementos necessá-rios a uma batalha futura. Uma vez chegadaa esse ponto, a associação adquire um caráterpolítico. (MARX, 2004)

     As classes sociais basicamente podem serdivididas entre aqueles que detêm os meiosde produção e aqueles que vendem sua forçade trabalho. Ambas coexistem numa relaçãona qual os que possuem os recursos materiaisde produção exploram os que necessitam

     vender sua força de trabalho, estes que estãoem maior número.

     As classes sociais originamse a partir deuma divisão diferenciada do trabalho, que per-mite a acumulação de excedentes de produçãopor uma minoria social que se coloca em opo-sição à massa de trabalhadores, em uma relaçãode exploração. Isso pode ser representado gra-ficamente por meio de uma pirâmide, na qualos trabalhadores são numericamente em maiornúmero e a burguesia, em menor número. Noentanto, esta última encontrase no topo em

     virtude da relação de exploração:

    Mas por que trabalhar de forma bipartida?Onde fica a classe média?

     A classe média é composta por pequenosburgueses, que não são exploradores nem ex

  • 8/17/2019 Sociologia - Mundo Do Trabalho 28p - TEXTO

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    “[...] Podem as classes dominantes tremer ante uma revolução comunista! Nela os pro-

    letários nada têm a perder a não ser as suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. Proletários

    de Todos os Países, Univos!”

    (MARX e ENGELS, 1848)

    Disponível em: . Acesso em: 14 fev. 2014.

    piorados e tendem, em certo momento, a se

    polarizar, de forma que a classe média tende a

    se proletarizar, pois, em determinado estágio

    do capitalismo, vai perder este espaço.

    De maneira simplificada, trabalharemos

    as classes sociais de forma bipartida, na qual

    há exploradores e explorados, dominantes e

    dominados, de forma que os primeiros pos-

    suem os recursos materiais e os últimos neces-

    sitam vender sua força de trabalho. Tais rela-

    ções constituem o eixo central da organização

    política do Estado capitalista.

    O Estado moderno e todo seu aparato ju-

    rídico e cultural têm como objetivo garantir os

    interesses da classe dominante e a permanência

    das relações de exploração, pois compõe uma

    superestrutura que tem por base uma infraes

    trutura que possui essa configuração. Aqueles

    indivíduos pertencentes à classe dominante têm

    consciência de que dominam enquanto classe

    e que determinam todo um período histórico

    em virtude disso. Eles têm uma posição domi

    http://prescesaressurgir.blogspot.com.br/2013/02/um-espectro-ronda-o-mundo-l65-anos-do_25http://prescesaressurgir.blogspot.com.br/2013/02/um-espectro-ronda-o-mundo-l65-anos-do_25

  • 8/17/2019 Sociologia - Mundo Do Trabalho 28p - TEXTO

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    nante enquanto seres pensantes e produtores de

    idéias. São aqueles que podem regulamentar a

    produção e a distribuição de pensamentos, pois

    suas idéias também são dominantes.

    %  De forma diversa, um trabalhador vendesua força de trabalho por necessidade de sub-

    sistência. Ele tem de fazêlo, pois é o meio que

    tem de empregar seus dotes produtivos. O con-

    ceito da divisão em classes passa a ser útil na

    medida em que agrupa interesses comuns de

    pessoas unidas por uma necessidade coletiva.

     A teoria da consciência de classe preten-

    de identificar como os indivíduos se tornam

    conscientes desse interesse e de situação co-

    muns, uma vez que passam a se unir e a se

    organizar em uma estratégia cooperativa.

    Marx defende que a condição de liberdade

    da classe trabalhadora é a abolição de todo e

    qualquer tipo de classe social, a abolição da

    mistura de diversas classes, ainda diferenciadas

    erroneamente (operários, artífices, pequenos

    comerciantes etc. o terceiro estado), da or-dem burguesa, de todos os estados, das ordens

    da sociedade feudal e de todas as ordens. No

    prefácio de Contribuição à Crítica da Econo-

    mia Política, Marx defende:

    Nenhuma forma social desaparece antes quese desenvolvam todas as forças produtivasque ela contem, jamais aparecem relações deprodução novas e mais altas antes de amadu-

    recerem no seio da própria sociedade antigaas condições materiais para sua existência.(...). As forças produtivas, porém, que sedesenvolvem no seio da sociedade burguesacriam ao mesmo tempo, as condições ma-teriais para as soluções desse antagonismo.Com esta formação social se encerra, por-tanto, a préhistória da sociedade humana.(MARX, s/d, p. 302)

    Nesse sentido, esgotadas todas as formas pro-

    dutivas do capitalismo, temos que, no curso do

    seu desenvolvimento, a classe trabalhadora subs-

    tituirá a antiga sociedade civil por uma associação

    na qual não existirão classes sociais ou antagonis-

    mo de classes, pois não haverá mais poder políti-

    co nos moldes do Estado burguês, uma vez queo poder político é a síntese do antagonismo na

    sociedade civil e garantidor da permanência das

    relações de exploração. Nas palavras de Marx:

     Ao chegar a uma determinada fase de desen- volvimento, as forças produtivas materiais dasociedade se chocam com as relações de pro-dução existentes ou o que não é senão a suaexpressão jurídica, com as relações de pro-

    priedade dentro das quais se desenvolveramaté ali. De formas de desenvolvimento dasforças produtivas, estas relações se convertemem obstáculos a elas. E se abre,' assim, umaépoca de revolução social. Ao mudar a baseeconômica, revolucionase, mais ou menosrapidamente, toda a imensa superestruturaerigida sobre ela. (MARX, s/d, p. 302303)

    Existem dois meios possíveis por meio dos

    quais o capitalismo está fadado ao fracasso: omecanismo sociológico e o mecanismo econô-

    mico. O mecanismo sociológico é a revolução

    iniciada a partir da tomada da consciência de

    classe e o choque das forças produtivas com as

    relações de produção. O mecanismo econômi-

    co, de forma simplória, ocorrería pela autodes

    truição do sistema pela excessiva mecanização e

    redução do capital variável e a constante queda

    dos lucros, pois o capital constante é gerado

    pela matériaprima e pelos meios de produção

    —não geram lucro, apenas o transferem. O ca-

    pital variável é gerado pela força trabalho. So-

    mente este é capaz de criar lucro.

     Aproveite o resumo a seguir, com os prin-

    cipais conceitos criados por Karl Marx.

    PRINCIPAIS CONCEITOS:

    Materialismo histórico: o materialismohistórico explica a realidade a partir da produ-

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    ção material, considerando que esta é a base

    de toda ordem social, por ser algo que sempre

    existiu em todas as sociedades.

    ̂ Infraestrutura e superestrutura: infra

    estrutura é a base material da produção, ouseja, constitui os meios de produção e a for-

    ça de trabalho sobre os quais se ergue uma

    superestrutura, que consiste em um sistema

    institucional de idéias, culturas, sentimen-

    tos, instituições jurídicas e políticas que for-

    mam a consciência social, erguido sobre a

    base material.

    Divisão do trabalho: a divisão da pro-

    dução social em determinados ramos de pro-dução. Dividese em divisão da produção

    social, divisão técnica do trabalho e divisão

    social do trabalho.

    Processo produtivo: é todo o processo

    de transformação de um determinado objeto

    em outro produto, utilizandose instrumen-

    tos de trabalho.

    Força de trabalho: é a atividade huma-na desenvolvida no processo de produção, a

    energia humana aplicada no processo de tra-

    balho. O salário é o equivalente monetário à

    força de trabalho.

    Meio de trabalho/ meio de produção:

    pode ser dividido em meio de trabalho em

    sentido amplo e meio de trabalho em sentido

    estrito. Em sentido amplo, são as condições

    materiais indispensáveis à realização do tra-balho; em sentido estrito, são as ferramentas

    que intermedeiam o trabalhador e o objeto

    trabalhado.

    Relações sociais de produção: no pro-

    cesso de trabalho, os homens estabelecem de-

    terminadas relações pessoais entre si. Tais re-

    lações são determinantes no caráter assumido

    historicamente pela sociedade, pois, na visãomarxiana, a produção está incondicionalmen-

    te determinada pela história.

     Valor de uso/ valor de troca: o valor de

    uso é determinado pelas qualidades particu-

    lares da mercadoria e não depende da quanti-

    dade de trabalho nela empregada, mas de suasqualidades úteis. Tal valor realizase com a

    utilização ou o consumo da mercadoria. Valor

    de troca é o modo pelo qual se pode quanti-

    ficar o valor de uma mercadoria, tornandoo

    comparável ao valor de outra. Apresentase

    como uma relação quantitativa, expressa em

    termos monetários. E a proporção por meio

    da qual os valores de uso de uma espécie se

    trocam por valores de uso de outra. Não setrata de uma relação fixa, pois muda constan-

    temente de acordo com o tempo e o espaço.

    O valor de troca, portanto, apresentase como

    algo “casual e puramente relativo”.

    Mercadoria: toda a produção capitalista

    passa a ter forma de mercadoria, que, por sua

     vez, é um valor de uso voltado para satisfazer

    as necessidades humanas.

    Trabalho útil e trabalho abstrato: o tra-

    balho útil analisa as especificidades dos pro-

    cessos de trabalho, em que essas qualidades

    particulares são necessárias para produzir

     valores de uso de cada mercadoria de forma

    singular. O trabalho abstrato não leva em

    consideração tais peculiaridades, o que pro-

    porciona a criação do valor de troca. Assim,

    o valor da mercadoria é medido com base notrabalho abstrato e no gasto de trabalho hu-

    mano de forma homogênea.

    Mais-valia: a maisvalia originase de um

    excedente quantitativo de trabalho, da duração

    prolongada do mesmo processo de trabalho,

    tanto no processo de produção de fios quanto

    no processo de produção de artigos de ouri

     vesaria. Dividese em: a) maisvalia absoluta:

    é prolongamento do dia de trabalho, a partirda intensificação do ritmo de trabalho; e b)

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    determina a existência, mas o contrário. A existên-cia determina a consciência. Isso mostra os reflexosda esfera econômica nas demais relações sociais.

    1.3. A Concepção Weberiana de Trabalho e os Processos de Racio-

    nalização do Mundo

    Weber foi provavelmente o mais rigoroso

    cientista social entre os clássicos da sociologia.

    Sua obra parte do princípio fundamental de

    distinção entre o desenvolvimento conceituai

    racional do pesquisador e as paixões humanas,

    que seriam, fatalmente,. uma ameaça à vali-dade das idéias apresentadas. Como poderia,

     A ação social, como toda ação, pode ser determinada: 1) de modo racional referente a fins: por expectativas quanto ao com

    *   portamento de objetos do mundo exterior e de outras pessoas, utilizando essas expectativas como condições ou meios paraalcançar fins próprios, ponderados e perseguidos racionalmente, como sucesso; 2) de modo racional referente a valores: pela

    crença consciente no valor —ético, estético, religioso ou qualquer que seja sua interpretação —absoluto e inerente a determinado

    comportamento como tal, independentemente do resultado; 3) de modo afetivo, especialmente emocional: por afetos ou estadosemocionais atuais; 4) de modo tradicional: por costume arraigado. (WEBER, 2009)

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    com o exigido rigor científico, um autor usarseus textos como disseminação de suas opini-ões e visões individuais de mundo?

    lP   Dessa maneira, podemos perceber uma

    clara distinção perspectiva entre as três prin-cipais correntes clássicas da sociologia. En-quanto Durkheim se apoiava no positivismopara criar uma concepção conservadora da re-alidade e legitimar as instituições burguesas eMarx criava seu materialismo histórico dialé-tico para contestar essas instituições e elaboraruma teoria da revolução, Weber, ao menos emtese, evitava se posicionar a respeito dos even-tos sociais, os quais observava e se limitava aelaborar um processo de descrição e interpre-tação dos eventos. Não cabería ali, portanto,a busca pelo “dever ser”, se não apenas umaobservação do que é.

    Esse “ser” social é, segundo a obra de We-ber, decorrente fundamentalmente do indiví-duo e das ações individuais orientadas pelas

    ações de outros sujeitos. É sujeito todo aqueleque exerce o papel de agente social, em que nãoé necessário mais do que uma orientação sub-

     jetiva para a realização da ação e de um senti-do, ou seja, ser realizada por alguém para outroalguém ou orientada pela ação desse outro. Ocaráter vetorial do sentido da ação social con-fere toda a dinâmica da sociedade na concep-ção weberiana. Segundo o clássico, a sociedade

    nada mais é do que essa teia de ações e relaçõesdesenvolvidas entre os indivíduos, importandomenos as instâncias macrodimensionais, comoa economia e as instituições, e mais o sentidosubjetivo, atribuído pelos próprios indivíduosàs suas ações sociais.

    Weber é, inclusive, um grande críticoda sobreposição da esfera econômica sobre

    outras no processo de análise dos fenômenospela ciência da sociedade. Dada sua lógica im-parcial, não faz sentido traçar uma oposição

    dele com as outras teorias clássicas, inclusivea filosofia política e econômica do marxismo.O que existe é, na verdade, uma diferençaperspectiva. Enquanto Marx entende a ques-

    tão econômica como decisiva para a dinâmicada luta de classes e, consequentemente, paratoda a construção histórica social, Weber ape-nas parte do princípio subjetivo, apontando aeconomia como mais um elemento da vida emsociedade, dentre tantos outros.

    E nesse momento que surgem seus pri-meiros apontamentos sobre o conceito detrabalho e as idéias de racionalização e buro-

    cracia, que o acompanharão ao longo de suasprincipais obras.

    1.3.1. Racionalização e Trabalho

    Despreocupado em legitimar determina-do tipo de organização social, Weber não se-guiu o padrão adotado por outras correntessociológicas para definir o trabalho e as classessociais. Ao contrário, a sua noção de trabalho

    é muito mais interpretativa, a partir das suasidéias a respeito do mundo ocidental modernoe do capitalismo. Nas classes sociais, Weber es-tipula um novo quadro que não dá preponde-rância à divisão classista econômica, mas noslembra de inúmeras divisões culturais existen-tes ao redor do planeta.

    Segundo Weber, não é o sistema de trocasmonetárias que marca a caracterização funda-

    mental do capitalismo ocidental moderno, masprincipalmente, um processo ferrenho de racio-nalização das ações e relações sociais. O autorreafirma que, de uma forma ou outra, semprehouve um sistema de trocas mediante algumpeso em moeda ou pedras preciosas. Contudo,a modernidade no ocidente passa, sim, por umprocesso que a particulariza em relação a todosos períodos históricos anteriores: a racionaliza-ção da vida social.

    Em sua principal obra, A Etica Protestante e

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    o Espírito do Capitalismo, Weber traça uma es-clarecedora investigação pelos elementos histó-ricos da transição feudocapitalista que levarama construir o cenário ocidental tal qual acom-

    panhamos hoje. Somos levados logo a entenderde que maneira as doutrinas religiosas vigentessão capazes de determinar um modus operan- di das relações sociais. Dessa maneira, a anti-ga civilização europeia organizavase tal qual omodelo vigente da época em virtude de sua su-bordinação completa aos dogmas da Igreja Ca-tólica. Sem uma reelaboração da própria ideiade religião, não seria possível a reelaboração da

    própria dinâmica da vida social.O desenvolvimento da ética protestante

    se dá, inicialmente, pelo rompimento coma antiga ideia de salvação divina católica, naqual o pecado era possível de ser eliminadomediante o pedido de perdão. Na nova con-cepção de vida ascética, o reino do céus nãoera mais algo conquistável, mas destinado aeleitos. Seria preciso, portanto, um comporta-

    mento adequado, uma postura de “escolhido”(embora Weber não use o termo), de alguémque possua o que é chamado de providênciadivina. E, portanto, muito mais arriscado eproblemático na lógica protestante cometerpecado do que fora anteriormente no mundocatólico. Tal definição permite que o trabalho

    ocupe, ao contrário do que acontecia antes,uma posição de destaque na vida social do ho-mem moderno. Ao trabalhar, ainda que inicieuma vida mais mundana, o fiel não está tão

    propenso a praticar ou desejar o pecado.O trabalho seria, então, o primeiro fato

    fundamental exigido pela ética protestante eque permitiria a ascensão do capitalismo. Emseguida,, viria a ideia de acumulação, uma vezque, ainda sendo a vida moderna mais munda-na, não se permitia por meio da ética religiosao uso da riqueza conquistada via trabalho paraprazeres carnais e afins. Logo, esta deveria ser

    acumulada, sendo por si só um objetivo vital.O dueto trabalho acumulação foi o prato cheioque a ascendente burguesia esperava para a cria-ção não apenas de um sistema religioso, mastambém legal, social e econômico, baseado nasduas premissas.

    Pelas constatações weberianas na obra A  Etica Protestante e o Espírito do Capitalismo, é absolutamente explicável a atual lógica demoralização do trabalho sofrida pelo homemmoderno e a consequente racionalização desuas ações. Enquanto, no feudalismo, as pai-xões eram ponto importante da vida cotidia-na, as ações sociais passaram a se tornar cada

     vez mais racionais ao longo dos séculos. É fácilobservarmos essa moralização do trabalho nas

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    nossas relações atuais. Basta perceber a impor-tância que o “trabalhar” atingiu em nível socialnos dias de hoje. O trabalho ganha um status de fim em si, independentemente da satisfa-ção, da subsistência ou do valor que gere —o

    importante é trabalhar. A palavra “trabalha-dor” tornase elogiosa, na mesma medida emque ser uma pessoa “à toa” ganha contornosgravemente pejorativos.

    Concluímos, assim, a concepção weberiana de trabalho. Não existe uma orientação nosentido de elaborar um conceito e desenvolvêlo,mas a observação da construção histórica, per-

    mitindo ao leitor a interpretação da conclusãofinal. Weber consegue seguir sua premissa enão direcionar o pensamento do leitor.

    1.3.2. Burocracia

     Apesar da conotação negativa que o termó“burocracia” adquiriu ao longo dos anos, comoum conjunto infindável de normas que atrapa-lhariam o pleno funcionamento das instâncias

    públicas ou até privadas, Weber lança mão doconceito sem fazer, mais uma vez, uso de juízosde valor com relação ao caráter positivo ou nãodo emprego da mencionada palavra na esferaestatal moderna. Antes de mais nada, Weberenxergou o Estado moderno como um aparatoextremamente burocratizado. Weber define bu-rocracia como um aparato técnicoadministrativo, formado por profissionais especializados,

    selecionados segundo critérios racionais e quese encarregam de diversas tarefas importantesdentro do sistema.

    Se a racionalização da vida é um processode destaque no mundo moderno, ninguém étão racionalizado quanto o funcionário públi-co. Ali, a burocracia atinge seu nível máximo.

    Sem lançar juízos, Weber apenas consta-

    ta que a modernidade, em especial no apara-to estatal, está profundamente racionalizada.

    Contudo, na contramão da noção de que oexcesso de normas seja um prejuízo, o autorentende a hierarquia e a normatização comogeradores de um modelo mais eficiente de ad-ministração, válido para o âmbito privado ou

    público. Portanto, quando se trata de Weber,não temos de entender burocracia como umaspecto positivo ou negativo, mas, como naspalavras do próprio autor, “um modelo legiti-mo de dominação”.

    1.3.3. Classe Social

     A revisão do papel da economia na teo-ria de Max Weber não é, em nenhum outro

    momento, tão bem observada quanto na suaconcepção de classes sociais. Vale, aqui, ape-nas uma breve apresentação das idéias weberianas, já que até pelo fato de o autor diminuiro papel da economia na estratificação socialfica mais difícil associar o conceito em questãoà sua noção sobre o mundo do trabalho.

    Weber apresenta, além da riqueza, fatorescomo o prestígio, a linhagem e a educação

    como elementos dessa estratificação. Assim,além das classes sociais, existiriam castas eestamentos capazes de promover uma hierar-quização social. É importantíssimo destacaro “além das classes sociais”, pois Weber nãodesconsidera a existência de classes, mas, sim,agrupa outros elementos formadores da es-tratificação, como também, numa clara opo-sição a Marx, outras vias de transformaçãosocial além da revolta das classes populares.

    É preciso aplicar o conceito à realidadepara fazer uma associação interessante em relaçã̂ ao trabalho e à noção weberiana de clas-ses sociais. Em primeiro lugar, temos o fatoreconômico, que a teoria marxista elabora commais cuidado: a desigualdade entre os pos-suidores do meios de produção e os não pos-

    suidores, a qual Weber não nega a distinção.Existe, portanto, outras distinções, como, por

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    exemplo, quando o autor aponta o prestígio

    como fato de hierarquização social. Podemos

    observar na prática como as distinções do so-

    ciólogo estavam corretas.

    Não é apenas econômica a diferença exis-

    tente entre um profissional intelectual e um

    profissional de trabalho braçal, ou seja, não é

    simplesmente por ganhar mais que se torna

    mais interessante e desejável ser um intelec-

    tual do que valerse do trabalho físico, mas

    também pelo prestigio envolvido nas duas

    profissões. Na primeira, há toda uma carga de

     valorização social advinda da ideia do “conhe-

    cimento”, de todo o estudo requerido para aocupação do cargo. Na contramão, o trabalha-

    dor braçal não goza do mesmo valor, sendo

    tido como alguém sem estudo, malpreparado

    para o mundo do trabalho e, consequente-

    mente, útil apenas para as que seriam conside-

    radas funções banais.

    nidade e sua função moral é integrar funções

    diferentes e complementares que, de outra for-

    ma, causariam a perda dos laços comunitários.

    (D) A ação social, na sociedade moderna, é

    motivada apenas por interesses econômicos,porque os meios para produzir estão concen-

    trados nas mãos de apenas uma classe social.

    (E) A expansão da produção capitalista teve

    como base a separação entre trabalhadores e

    os meios de produção, assim como a dissemi-

    nação da propriedade privada.

    Resposta: alternativa B.

     Justificativa

    Para Weber, a baseyû tural não é exclusivamente

    determinante, mas a cultura é essencial para a com-

    preensão da sociedade moderna, pois, no sistema

    capitalista, é essencial a busca pelo bom desempe-

    nho na aquisição e no acúmulo do capital, que deve

    ser feito por meio da racionalização característica

    do trabalho existente em algumas culturas.

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    1.4. Análise Comparativa das Relações de Trabalho e Classes So-

    ciais em Durkheim, Marx e Weber 

     Vamos começar falando de Durkheim,mais precisamente da divisão do trabalho.Devemos inicialmente lembrar que, para ele,

    a divisão do trabalho é realizada a partir dedeterminadas funções que são atribuídas aosindivíduos. A partir daí, temos que a evoluçãoda sociedade deve ser analisada de acordo coma complexidade da divisão do trabalho, lem-brando que, em sociedades précapitalistas,esta ocorre de forma simples, e nas sociedadescapitalistas industriais, de forma complexa. Acomplexidade da divisão do trabalho, portan-to, relata a complexidade de uma sociedade, aevolução dela, já que a função da divisão dotrabalho é unila e integrála.

    Devemos lembrar que Émile Durkheimera um evolucionista, de forma que a socie-dade deve ser vista como um organismo vivo,e leis semelhantes às da teoria da evolução,de Charles Darwin, deveriam ser identifi-

    cadas no meio social. Tomemos os dois ele

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    mentos mencionados neste tópico: “A partir

    do grau de complexidade da divisão do tra-

    balho podemos medir o grau de evolução de

    determinada sociedade”; e também “uma so-

    ciedade evolui de forma semelhante aos seres vivos”. Pois bem, para Durkheim, temos que

    o trabalho divide a sociedade de forma es-

    pontânea, de acordo com as atribuições pes-

    soais dos indivíduos. Logo, as desigualdades

    sociais seriam um reflexo que expressariam as

    desigualdades naturais.9%

    Devemos nos ater, ao pensar em trabalho

    do ponto de vista de Durkheim, ao fato de

    que ele foi precursor do pensamento chama-

    do darwinismo social. Logo, se depararmos

    com questionamentos acerca da função e dos

    motivos da divisão social do trabalho, temos

    de pensar primeiramente que o sociólogo eni

    análise pretendia aproximar a sociologia das

    demais ciências da natureza, em diversos mo-

    mentos transpondo os conceitos destas para

    a análise social. Devemos lembrar neste mo-mento que, ao contrário de Marx, Durkheim

    era um estudioso da ordem social, de modo

    que analisava os elementos que mantiveram

    a coesão social. Enquanto a ordem estivesse

    sendo mantida, haveria progresso social. A

    divisão do trabalho era o que gerava coesão e

    caracterizava a solidariedade predominante.

     A função mais clara da divisão do trabalhosocial é elevar a produção tanto de bens ma-

    teriais como dos intelectuais, por meio da es-

    pecialização. Entretanto, a divisão do trabalho

    social tem outra função que podemos perce-

    ber de maneira mais imediata: a função moral

    da solidariedade entre os indivíduos, que gera

    coesão social.

     Já Marx observa as contradições e as rela-ções de exploração do capitalismo. Para este

    pensador, enquanto determinada classe social

    é proprietária de meios de produção, outra

    tem necessidade de vender sua força de tra-

    balho para suprir suas necessidades e ainda se

    submete a ser explorada paragerar lucro aos

    detentores dos meios de produção, que usam amaisvalia. Seguindo essa lógica, a divisão não

    teria nada de natural e em nada estaria ligada

    com as capacidade individuais dos trabalhado-

    res, pois, naquelas condições, eles não teriam

    formas de ascensão social.

    Nesse sentido, na concepção de Marx, a

    divisão do trabalho segue a lógica da proprie-

    dade privada, no sentido de garantir a explo-

    ração de uma classe sobre a outra. Ambas asclasses encontramse sempre em contradição,

    decorrente da relação de dominação e explo-

    ração. Marx traz a evolução dialética da eco-

    nomia, pois passa a periodizar a história de

    acordo com os modos de produção. Um meio

    possível de derrubada do sistema capitalista e

    o fim da exploração de uma classe sobre outra

    seriam a revolução do proletariado.

    Para Durkheim, a revolução não seria

    um fato social normal, pois um fato social

    normal em um momento histórico obedece a

    certa frequência em um determinado tempo.

    Uma revolução seria um fato social patológi-

    co, porque, além de não colaborar no sentido

    de manter a ordem vigente, é um aconteci-

    mento que, em um determinado recorte tem-

    poral, não obedece a uma frequência em umsegmento social.

    / Weber parte sua análise da perspectiva do

    / indivíduo. O agir socialmente é individual, e

    tal ação gera relações sociais que caracterizam

    a sociedade como um todo. As regras sociais

    e as instituições têm por base as relações es-

    tabelecidas entre os indivíduos na forma de

    agir socialmente.

    Em se tratando da relação trabalho e clas-

    ses sociais no pensamento weberiano, deve

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    mos relembrar o fator econômico, enquanto

    retomamos que a teoria marxista a elabora

    com mais cuidado, observando a desigualda-

    de entre os possuidores do meios de produção

    e os não possuidores. Weber não nega a dis-

    tingo, entretanto, traznos outras distinções

    que designam hierarquia social por exemplo,

    quando o autor aponta o prestígio comcTfato

    de hierarquização social, podemos observar na

    prática outros quesitos além do fator econô-

    mico apontado por Weber, dentre eles a pró-

    pria cultura. 0̂

     Vimos que não é apenas econômica a di-

    ferença existente entre um médico e um var-

    redor de rua, ou seja, não é simplesmente por

    ganhar mais dinheiro que se torna mais comu

    mente interessante e desejável ser médico doque ser varredor, mas também pelo prestigio

    envolvido nas duas profissões, que é cultural-

    mente estabelecido. Na primeira, há toda uma

    carga de valorização social advinda da ideia do

    “intelectual”, daquele “salvar vidas”, de todo

    o estudo requerido para a ocupação do car-

    go. No caso do varredor, na nossa cultura, ele

    não goza do mesmo valor, sendo tido como

    alguém não estudado, malpreparado para omundo do trabalho e, consequentemente, útil

    apenas para o que seria considerado pela socie-

    dade uma função banal.

    Para Durkheim, isso seria diferente: o var-

    redor seria varredor porque ele naturalmente

    não tem dons necessários para ocupar a po-

    sição de médico. A divisão do trabalho segue

    a mesma linha da natureza, ocorre de acordo

    com as capacidades naturais do ser social.

    ' No aspecto relacionado ao binômio cul

    \  tura e áo trabalho, Weber percebe que houve

    ascensão social e desenvolvimento econô

    . mico em determinados países protestantes

    analisando as relações sociais. O capitalis-

    mo, pãra Weber, consiste na racionalização do

    •mundo e, a partir disto, pressupõe que uma

    ■administração complexa em que há adminis

    tração do lucro e mão de obra livre propicia

    ' o desenvolvimento do pensamento capitalista,

    d í i d i li d é i i li

    Weber percebe isso ao analisar empirica

    mente o surgimento do capitalismo nos países

    predominantemente protestantes, nos quais

    os indivíduos acreditaram na ideia da pre-

    destinação divina, de que a aquisição de bens

    materiais, por meio do sucesso no trabalho,

    era tido pelo indivíduo como um presente deDeus. Outro fator que permi-

    tiu o sucesso industrial dos pa-íses protestantes calvinistas foi

    a ideia de fuga do pecado e da

    negação ao ócio.

    Podemos pegar um possí-

     vel contraponto em Marx, uti-

    lizando a noção de superestru

    tura, pois, conforme falamos,

    esse pensador defende que o Estado modernoe todo o seu aparato jurídico e cultural têm

    como objetivo garantir os interesses da clas-

    se dominante e a permanência das relações de

    exploração, pois compõe uma superestrutura

    que tem por base uma infraestrutura com essa

    configuração.

    Essa valorização e hierarquização nada

    mais seria, do que a tentativa daqueles indi-

     víduos pertencentes à classe dominante, estes

    que têm consciência de que dominam enquan-

    to se mantiverem na posição de seres pensantes

    produtores de idéias e criadores de prestígio.̂