Soifer, o empresário que começou a vida carregando mala

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Soifer, o empresário que começou a vida carregando mala Jornal Valor Econômico Marli Lima | De Curitiba 28/04/2011 Gestão: Grupo do Paraná investe R$ 280 milhões em novo shopping e já planeja hotel em Fernando de Noronha Da sacada do novo escritório, montado em região nobre de Curitiba, o empresário Salomão Soifer tem visão privilegiada do Pátio Batel, novo shopping que está construindo e no qual planeja investir R$ 280 milhões do próprio bolso. "Venho todo dia aqui", diz ele, sobre um dos novos xodós do Grupo Soifer, que faturou R$ 508 milhões em 2010. Soifer possui participações em outros centros de compra e também negócios nas áreas de logística, turismo, tratamento de resíduos e criação de cavalos. Enquanto as paredes do empreendimento são erguidas, o empresário planeja o que vai fazer depois. Entre os planos, está o de construir um hotel na ilha de Fernando de Noronha, onde passou recentemente a fazer prestação de serviços de apoio aos turistas, após vencer licitação federal. Salomão Soifer, o dono do grupo Soifer, tem 77 anos e comanda operações que faturaram R$ 508 milhões em 2010 Soifer está com 77 anos de idade e adotou uma regra: "Não vou viver 200 anos, mas preciso agir como se fosse". Ele continua no comando dos negócios, mesmo depois de ter dividido os bens com os três filhos e contar com a ajuda de dois deles na administração.

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Reportagem do Jornal Valor Econômico sobre os planos do Grupo Soifer.

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Soifer, o empresário que começou a vida carregando mala

Jornal Valor Econômico Marli Lima | De Curitiba 28/04/2011

Gestão: Grupo do Paraná investe R$ 280 milhões em novo shopping e já planeja hotel em Fernando de Noronha

Da sacada do novo escritório, montado em região nobre de Curitiba, o empresário Salomão Soifer tem visão privilegiada do Pátio Batel, novo shopping que está construindo e no qual planeja investir R$ 280 milhões do próprio bolso. "Venho todo dia aqui", diz ele, sobre um dos novos xodós do Grupo Soifer, que faturou R$ 508 milhões em 2010.

Soifer possui participações em outros centros de compra e também negócios nas áreas de logística, turismo, tratamento de resíduos e criação de cavalos.

Enquanto as paredes do

empreendimento são erguidas, o

empresário planeja o que vai fazer

depois. Entre os planos, está o de

construir um hotel na ilha de

Fernando de Noronha, onde

passou recentemente a fazer

prestação de serviços de apoio aos

turistas, após vencer licitação

federal.

Salomão Soifer, o dono do grupo Soifer, tem 77 anos e comanda operações que faturaram R$ 508 milhões em 2010

Soifer está com 77 anos de idade e adotou uma regra: "Não vou viver 200 anos, mas preciso agir como se fosse". Ele continua no comando dos negócios, mesmo depois de ter dividido os bens com os três filhos e contar com a ajuda de dois deles na administração.

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Sua fala é recheada de histórias do passado e algumas incluem personagens conhecidos como o ex-governador do Paraná Jaime Lerner, de quem é amigo. Outras remetem ao início de sua vida.

Órfão de pai, que era comerciante ambulante, ele tinha sete anos e queria comprar um patinete. Como morava perto da estação ferroviária, passou a carregar malas de viajantes para ganhar algum dinheiro. Depois trabalhou em relojoaria, foi corretor de imóveis, virou pequeno empresário e formou-se em Direito e em Administração de empresas.

Foi no fim dos anos 70, quando viajou a São Paulo com amigos e a esposa, a artista plástica Guita Soifer, que teve a inspiração para dar mais um passo, investindo em algo ousado, para a época. Sua mulher, com amigas, disseram que iriam ao shopping Iguatemi e, os homens, para um jogo de futebol.

Soifer pegou um táxi e foi conhecer o tal shopping. Gostou do que viu e, em 1983, com um grupo de investidores, abriu em Curitiba o Mueller, primeiro shopping do Paraná, em prédio de uma antiga fundição.

Hoje o empresário tem participação também em empreendimentos em Santa Catarina (Mueller Joinville) e no Rio de Janeiro (Rio Sul). E é dono do Shopping São José, em São José dos Pinhais (PR), no qual investiu R$ 110 milhões e que inaugurou em 2008.

No Pátio Batel, que deve abrir as portas no próximo ano, quer ter marcas internacionais que ainda não estão no Sul do país. O lançamento comercial será feito hoje.

A conclusão do prédio será bancada com a venda de parte das ações que Soifer tem no Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP). Em janeiro, a gestora de fundos Advent comprou 50% do TCP. Os acionistas (Pattac, TUC Participações Portuárias, Soifer, G rup Maritim TCB e Galigrain) permanecem na atividade e uma parcela dos recursos vai para o caixa do terminal, para investimentos.

O empresário, desta vez, não quer recorrer a financiamentos, mas não descarta a possibilidade, "caso seja necessário".

O terreno ele comprou há 25 anos e chegou a analisar outras possibilidades para o local, como um clube. Dias atrás, sua mulher perguntou se era melhor ter dinheiro em banco ou na construção. "Dinheiro é número. Prefiro ter negócios", respondeu.

A entrada em Fernando de Noronha aconteceu dez anos depois de o grupo estrear na administração de parques, em Foz do Iguaçu (PR), que recebe cerca de 1 milhão de turistas por ano para visitar as Cataratas e o Parque Nacional do Iguaçu.

No ano passado, o Ministério do Meio Ambiente lançou edital para prestação de serviços de apoio à visitação pública ao Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha.

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Junto com sócios, Soifer vai investir R$ 7 milhões neste ano em melhorias na estrutura de recepção de turistas, que somam cerca de 60 mil por ano.

"Acabamos de colocar o pé lá e vamos fazer tudo para respeitar as regras", disse, sobre a intenção de ir além da administração do local e da exigência de construir trilhas e quiosques. Sobre o hotel que quer fazer lá, a intenção é construir e terceirizar a operação.

Questionado sobre como escolhe as áreas para investimento, ele responde: "São coisas do negócio, que de repente acontecem." E emenda com uma pergunta: "Quer fazer sociedade comigo?". O empresário observa que os centros de compra são sua atividade principal e que "o resto é impossível prever".

Revela que foi assediado por administradores de shopping centers de São Paulo, interessados em crescer no Paraná, e resistiu às ofertas.

Soifer também tem uma empresa de reciclagem de lixo e um haras com mais de 200 cavalos.

As conquistas não mudaram seus hábitos na criação dos filhos. "A pessoa tem de aprender a lidar com frustrações. Eu não deixava as crianças ganharem nos jogos, apesar da minha esposa pedir", conta.

Mesmo circulando constantemente por locais de consumo, ele consegue se conter. Há alguns dias, em encontro familiar, um neto pediu o celular à mãe. O empresário ofereceu o dele, que logo foi recusado. "Esse é seu aparelho?", perguntou a criança, devolvendo-o logo em seguida. O telefone do vovô era de um modelo simples, sem os atrativos que o netinho esperava.