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SOJA E MILHO TOLERANTES AO GLIFOSATO NOS SISTEMAS AGRíCOLAS DE PRODUçãO INFORMATIVO DE DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ANO 2 • NÚMERO 8 NOVEMBRO 2013 Introdução Soja e milho tolerantes ao glifosato em áreas com plantas daninhas resistentes A partir de 2005, começou-se a cultivar a soja tolerante ao glifosato. Nesse período, os produtores estavam com dificuldades para manejar as plantas daninhas devido à resistência de algumas plantas aos principais herbicidas utilizados na soja. A simplicidade, a flexibilidade e a eficácia no controle dessas plantas propiciaram uma rápida adoção dessa tecnologia. Em 2008 o milho tolerante ao glifosato foi aprovado e em 2009 iniciaram- se os plantios dos primeiros campos. O uso em larga escala de híbridos e variedades comerciais de milho e soja tolerantes ao glifosato trouxe uma nova preocupação quanto à maior pressão de seleção de populações de plantas daninhas por herbicidas resistentes dentro dos sistemas de produção. A seleção de biótipos resistentes a herbicidas está associada à pressão de seleção provocada pelo uso contínuo do mesmo mecanismo de ação do herbicida nas culturas. A utilização de herbicidas de alta eficácia ou com efeitos residuais prolongados é um fator importante para a seleção. Dessa forma, o uso sucessivo do glifosato nas áreas, associado a erros de manejo e à não rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, contribuiu para a seleção de biótipos resistentes ao glifosato, como é o caso do Azevém (Lolium multiflorum), da Buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis) e do Capim-amargoso (Digitaria insularis). Manejar os sistemas é muito importante, pois, além de controlar as plantas daninhas, irá contribuir na redução do banco de sementes, promovendo um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das culturas, evitando perdas por competição e protegendo a produtividade. O manejo consiste também na adoção de rotação de culturas, herbicidas com diferentes mecanismos de ação e momentos de controle (pré e pós-emergentes ou residuais). Um ponto importante nesse processo é não deixar a área em pousio.

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Soja e Milho toleranteS ao glifoSato noS SiSteMaS agrícolaS de produção

INFORMATIVO DEDESENVOLVIMENTOTECNOLÓGICOANO 2 • NÚMERO 8NOVEMBRO 2013

introdução

Soja e milho tolerantes ao glifosato em áreas com plantas daninhas resistentes

A partir de 2005, começou-se a cultivar a soja tolerante ao glifosato. Nesse período, os produtores estavam com dificuldades para manejar as plantas daninhas devido à resistência de algumas plantas aos principais herbicidas utilizados na soja. A simplicidade, a flexibilidade e a eficácia no controle dessas plantas propiciaram uma rápida adoção dessa tecnologia.

Em 2008 o milho tolerante ao glifosato foi aprovado e em 2009 iniciaram-se os plantios dos primeiros campos. O uso em larga escala de híbridos e variedades comerciais de milho e soja tolerantes ao glifosato trouxe uma nova preocupação quanto à maior pressão de seleção de populações de plantas daninhas por herbicidas resistentes dentro dos sistemas de produção.

A seleção de biótipos resistentes a herbicidas está associada à pressão de seleção provocada pelo uso contínuo do mesmo mecanismo de ação do herbicida nas culturas. A utilização de herbicidas de alta eficácia ou com efeitos residuais prolongados é um fator importante para a seleção. Dessa forma, o uso sucessivo do glifosato nas áreas, associado a erros de manejo e à não rotação de herbicidas com diferentes mecanismos de ação, contribuiu para a seleção de biótipos resistentes ao glifosato, como é o caso do Azevém (Lolium multiflorum), da Buva (Conyza bonariensis e Conyza canadensis) e do Capim-amargoso (Digitaria insularis).

Manejar os sistemas é muito importante, pois, além de controlar as plantas daninhas, irá contribuir na redução do banco de sementes, promovendo um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das culturas, evitando perdas por competição e protegendo a produtividade. O manejo consiste também na adoção de rotação de culturas, herbicidas com diferentes mecanismos de ação e momentos de controle (pré e pós-emergentes ou residuais). Um ponto importante nesse processo é não deixar a área em pousio.

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Trabalhos de longa duração mostram que, em áreas de soja RR, a adoção do milho RR no sistema, associada à rotação de mecanismos de ação de herbicidas, tem contribuído no manejo de plantas daninhas resistentes e também não resistentes ao glifosato.

tabela 1 - Trabalho instalado no verão de 2009 e em condução na estação experimental da AgroMarochi em Ponta Grossa demonstra os principais sistemas agrícolas do Sul do Brasil.

trt Verão inverno Verão inverno Verão inverno Verão inverno

09/10 10 10/11 11 11/12 12 12/13 131 Soja Trigo Soja Trigo Soja Trigo Soja Trigo2 Soja Aveia Milho Trigo Soja Aveia Milho Trigo3 Soja Trigo Soja Aveia Milho Trigo Soja Trigo4 Soja Azevém Soja Azevém Milho Aveia Soja Azevém5 Soja Azevém Milho Azevém Soja Azevém Milho Azevém6 Soja Pousio Soja Pousio Soja Pousio Soja Pousio

Vista do ensaio no Verão 2010/2011

Vista do ensaio no inVerno 2011Foto: Aroldo Marochi

Foto: Aroldo Marochi

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gráfico 1 - Soma da população de plantas daninhas (acumulado de 2009 a 2013) nos diferentes sistemas de produção. Efeito da rotação de culturas comparativo com a área em pousio.

principais plantas daninhas encontradas na área

Soma de aZeVÉM resistente (pl/m2) nos diferentes sistemas de produção de 2009 a 2013

S/T/S/T/S/T/S/T S/A/M/T/S/A/M/T

Sem Rotação

legenda: S - Soja / t - Trigo / M - Milho / a - Aveia / az - Azevém / p - PousioFonte: AgroMarochi. Ensaio sistemas 2009 a 2013.

Rotação RR Rotação H. Conv.

S/T/S/A/M/T/S/T S/Az/S/Az/M/A/S/Az S/Az/M/Az/S/Az/M/Az S/P/S/P/S/P/S/P

403

279

500

0 0713 9

57

187 131

0 010 8 6

No gráfico 2, observa-se o efeito que a rotação de culturas e mecanismos de ação dos herbicidas tem sobre a população de Azevém resistente ao glifosato. O sistema Soja / Pousio, em que é utilizado glifosato nas dessecações e em pós-emergência na soja, contribui para o aumento da população do Azevém resistente ao glifosato. O sistema Soja RR / Aveia / Milho RR / Trigo + rotação de mecanismos de ação herbicida é 85% superior ao sistema Soja / Pousio.

200,0180,0160,0140,0120,0100,0

80,060,040,020,0

0,0

Plan

tas /

m2

1 2 3 4 5 6S/T/S/T/S/T/S/T S/A/M/T/S/A/M

legenda: S - Soja / t - Trigo / M - Milho / a - Aveia / az - Azevém / p - Pousio

S/T/S/A/M/T/S S/Az/S/Az/M/A/S/Az S/Az/M/Az/S/Az/M/Az S/P/S/P/S/P/S/P

Soma Leiteiro Soma Papuã e MilhãSoma Guanxuma Soma Nabo Soma TrapoerabaSoma Erva-quente

gráfico 2 - Soma total de plantas de Azevém resistente ao glifosato (acumulado de 2009 a 2013) comparando o efeito da rotação de culturas e herbicidas nos sistemas de produção.

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gráfico 3 - Milho com tolerância ao glifosato manejado com glifosato associado a atrazina e com rotação de herbicidas no sistema contribuiu na redução do número de plantas daninhas.

A adoção de milho com tolerância ao glifosato, associada ao uso de diferentes mecanismos de ação herbicida, nos sistemas onde há plantas daninhas resistentes ao glifosato é extremamente viável e contribui para a redução da população de Buva.

foto 1

Efeito da aveia sobre a população de Azevém e Buva resistentes ao glifosato. Sistema: Soja / Aveia / Milho / Trigo / Soja / Aveia / Milho / Trigo. Herbicidas utilizados: glifosato e 2,4D.

Soma de buva resistente (pl/m2) nos diferentes sistemas de produção de 2009 a 2013

S/T/S/T/S/T/S/T S/A/M/T/S/A/M/T

Sem Rotação

legenda: S - Soja / t - Trigo / M - Milho / a - Aveia / az - Azevém / p - Pousio

Rotação RR Rotação H. Conv.

S/T/S/A/M/T/S/T S/Az/S/Az/M/A/S/Az S/Az/M/Az/S/Az/M/Az S/P/S/P/S/P/S/P

209

1.936

16

114

111122 30

93101

145

16 1411 2035

Foto: Alexandrino

A forte pressão que a rotação de culturas e diferentes mecanismos de ação dos herbicidas exerce sobre a população de Buva é observada no comparativo dos sistemas testados versus sistema Soja / Pousio, em que foi utilizado glifosato nas dessecações e em pós-emergência na soja, favorecendo o aumento da população de Buva resistente ao glifosato. Já o sistema Soja RR / Aveia / Milho RR / Trigo + rotação de mecanismos de ação herbicida é, na média, 99% superior ao sistema Soja / Pousio.

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Fotos 2 e 3: efeito da aveia sobre a população de Azevém e Buva resistentes ao glifosato. Sistema: Soja / Aveia / Milho / Trigo / Soja / Aveia / Milho / Trigo com rotação de herbicidas pré e pós.

Observação: para mais informações sobre o manejo utilizado, consultar os RTVs de sua região.

A análise financeira do sistema de produção deve ser feita sempre em longo prazo, pois permite maior equilíbrio no entendimento por diluir as sazonalidades dos preços. Observamos que os sistemas com rotação com milho são mais lucrativos que o sistema de sucessão Soja / Trigo e duas vezes mais rentáveis que o sistema Soja / Pousio.

balanço financeiro líquido

2.500

R$/h

a

1.867,92

2.265,812.076,90

1.742,71

2.044,51

1.169,451.500

500

2.000

1.000

01 2 3 4 5 6

foto 2

glifoSato/atraZina e óleo

foto 3

Manejo padrão da região

Foto: Alexandrino Foto: Alexandrino

1 - SOJA / TRigO

2 - SOJA / AvEiA / MilHO / TRigO

3 - SOJA / TRigO / SOJA / AvEiA / MilHO / TRigO

4 - SOJA / AzEvéM / SOJA / AzEvéM / MilHO / AvEiA

5 - SOJA / AzEvéM / MilHO / AzEvéM

6 - SOJA / POuSiO

gráfico 4 - Balanço líquido por sistema de produção.

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• Para os sistemas sem rotação de herbicidas, observa-se aumento do banco de sementes e do número de plantas daninhas resistentes (Buva e Azevém).

• A introdução do milho com tolerância ao glifosato no sistema associado a herbicidas com diferentes mecanismos de ação não aumenta a população de plantas daninhas resistentes e deve ser recomendada.

• Nos sistemas rotacionados, destaca-se a cultura do milho, que apresenta também maior formação de palhada para o Sistema de Plantio Direto.

• A cobertura de aveia tem proporcionado redução da população de Azevém e de Buva devido à produção de cobertura (alelopatia) e herbicida no inverno, facilitando o controle da Buva.

• Pela análise de 3 safras (3 verão, 2 inverno), o investimento realizado com herbicidas convencionais combinados com o glifosato tem proporcionado bom controle das plantas resistentes e rentabilidade superior à dos sistemas que utilizam somente glifosato.

• A retirada do pousio do sistema deve ser vista como grande oportunidade. A rotação de culturas reduzirá problemas de plantas daninhas resistentes e elevará a receita líquida do produtor.

• A rotação de culturas favorece o manejo das plantas daninhas pela utilização de herbicidas com diferentes mecanismos de ação.

considerações finais

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Documento desenvolvido pelo time de Desenvolvimento Tecnológico e destinado exclusivamente aos funcionários da Monsanto, não sendo permitida a reprodução total ou parcial e/ou qualquer outra forma de distribuição a terceiros do conteúdo deste material.

Em caso de dúvidas ou necessidade de mais informações sobre o assunto, procure o TD mais próximo.

fale coM:Autor: Sérgio AlexandrinoColaboradores: Antonio Ferreira, Carlos Henrique Dalmazzo, Marcelo Montezuma, Marcos Palhares e Ramiro OverejoEditoração: Alicia Muñoz e Thais Bechir

Ashigh, J., and Sterling T. M. 2010. Herbicide Resistance: Development and Management. 1-15.

gressel, J., and l.A. Segel. 1990. Modeling the effectiveness of herbicide rotationas and mixtures as strategies to delay or preclude resistence. Weed Technology, 4, 186-198.

uludag, A. 2006. Research and applications on allepathy in Turkey: An overview. Allelopathy Workshop 13-15 June 2006, AKMAE Yalova, Turkey (in Turkish).

referências bibliográficas