Sola Fides

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A "Sola Fides – somente a fé", a Igreja primitiva e os Padres da Igreja Isto porque, se esta doutrina foi uma novidade do século XVI, não deveria ter sido levada a sério. Eu, como católico, aceito o que se deva considerar "legítimos desenvolvimentos da doutrina cristã"; porém, quem teve tempo de estudar a história e os textos patrísticos chegará a uma simples conclusão: a doutrina da "salvação apenas pela fé" (=Sola Fides) não apenas não era professada antes de Lutero, como também era explicitamente anatematizada e rejeitada. Como poderia ser então uma doutrina verdadeira? Significaria isto que a Igreja foi cega durante 15 séculos? Para um protestante, isto pode ser fácil de aceitar; eu, porém, simplesmente não posso crer. A maioria dos fundamentalistas sustenta que a Igreja se "paganizou" até a raiz quando o imperador Constantino Magno converteu-se ao Cristianismo e decretou a liberdade de culto através do Edito de Milão. Contudo, essa doutrina já fora rejeitada como herética séculos antes de Constantino. A seguir, pretendo fazer uma recompilação de textos patrísticos dos Padres da Igreja e dos escritores eclesiásticos mais preeminentes, começando a partir dos discípulos diretos dos Apóstolos. A partir deles demonstraremos que o consenso dos Padres da Igreja professava que: O homem, embora tenha livre-arbítrio, não pode se sarlvar sem a graça de Deus. Deus, por sua graça, tem a primeira iniciativa da sua salvação e, exercendo esta liberdade, o homem responde e coopera com a graça (compreendendo-se que a graça é favor gratuito e imerecido de Deus). Deus chama todos os homens à salvação e sobre todos derrama sua graça através de Cristo, pois quer que todos os homens se salvem. Aqueles que se condenam o fazem por sua própria vontade. A graça de Deus move o homem a crer em Cristo e obedecer. Sem a graça, não pode fazer nem uma coisa nem outra, nem sequer pode ter a iniciativa de o fazer. Assim, a salvação é graça; porém, nós devemos cooperar fazendo uso da nossa liberdade ou livre-arbítrio. Por meio da fé o homem é justificado; ao ser justificado, não apenas é declarado justo, mas tornado justo (regenerado). Logo, o homem justificado, movido pela graça, deve viver de acordo com a vontade de Deus, fazendo o bem e cumprindo os mandamentos; porém, é livre para não fazê-lo e cair do estado de graça de Deus. Neste sentido, para salvar-se não basta apenas crer (Sola Fides), mas crer e agir; portanto, as obras e o cumprimento dos mandamentos são necessários para a salvação (mas não como moeda de troca por ela, já que é graça). Este artigo pretende ser apenas um breve resumo da doutrina católica referente à justificação. A quem desejar estudar a fundo a doutrina católica acerca destes pontos, sugiro a leitura dos decretos de Trento e o livro "O Mérito", do cardeal Charles Journet. A DIDAQUÉ Considerado um dos mais antigos escritos cristãos não-canônicos, incluído na categoria dos "Padres Apostólicos" e tido por bem anterior a muitos escritos do Novo Testamento. Apenas recentemente alguns estudiosos lhe assinalaram uma possível data de composição não superior ao ano 160 d.C. [...]

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Texto sobre a Fé

Transcript of Sola Fides

  • A "Sola Fides somente a f", a Igreja primitiva e os Padres da Igreja

    Isto porque, se esta doutrina foi uma novidade do sculo XVI, no deveria ter sido levada a srio. Eu, como catlico, aceito o que se deva considerar "legtimos desenvolvimentos da doutrina crist"; porm, quem teve tempo de estudar a histria e os textos patrsticos chegar a uma simples concluso: a doutrina da "salvao apenas pela f" (=Sola Fides) no apenas no era professada antes de Lutero, como tambm era explicitamente anatematizada e rejeitada.

    Como poderia ser ento uma doutrina verdadeira? Significaria isto que a Igreja foi cega durante 15 sculos? Para um protestante, isto pode ser fcil de aceitar; eu, porm, simplesmente no posso crer. A maioria dos fundamentalistas sustenta que a Igreja se "paganizou" at a raiz quando o imperador Constantino Magno converteu-se ao Cristianismo e decretou a liberdade de culto atravs do Edito de Milo. Contudo, essa doutrina j fora rejeitada como hertica sculos antes de Constantino.

    A seguir, pretendo fazer uma recompilao de textos patrsticos dos Padres da Igreja e dos escritores eclesisticos mais preeminentes, comeando a partir dos discpulos diretos dos Apstolos. A partir deles demonstraremos que o consenso dos Padres da Igreja professava que:

    O homem, embora tenha livre-arbtrio, no pode se sarlvar sem a graa de Deus. Deus, por sua graa, tem a primeira iniciativa da sua salvao e, exercendo esta liberdade, o homem responde e coopera com a graa (compreendendo-se que a graa favor gratuito e imerecido de Deus).

    Deus chama todos os homens salvao e sobre todos derrama sua graa atravs de Cristo, pois quer que todos os homens se salvem. Aqueles que se condenam o fazem por sua prpria vontade.

    A graa de Deus move o homem a crer em Cristo e obedecer. Sem a graa, no pode fazer nem uma coisa nem outra, nem sequer pode ter a iniciativa de o fazer.

    Assim, a salvao graa; porm, ns devemos cooperar fazendo uso da nossa liberdade ou livre-arbtrio. Por meio da f o homem justificado; ao ser justificado, no apenas declarado justo, mas tornado justo (regenerado).

    Logo, o homem justificado, movido pela graa, deve viver de acordo com a vontade de Deus, fazendo o bem e cumprindo os mandamentos; porm, livre para no faz-lo e cair do estado de graa de Deus.

    Neste sentido, para salvar-se no basta apenas crer (Sola Fides), mas crer e agir; portanto, as obras e o cumprimento dos mandamentos so necessrios para a salvao (mas no como moeda de troca por ela, j que graa).

    Este artigo pretende ser apenas um breve resumo da doutrina catlica referente justificao. A quem desejar estudar a fundo a doutrina catlica acerca destes pontos, sugiro a leitura dos decretos de Trento e o livro "O Mrito", do cardeal Charles Journet.

    A DIDAQU

    Considerado um dos mais antigos escritos cristos no-cannicos, includo na categoria dos "Padres Apostlicos" e tido por bem anterior a muitos escritos do Novo Testamento. Apenas recentemente alguns estudiosos lhe assinalaram uma possvel data de composio no superior ao ano 160 d.C. [...]

  • J neste primitivo testemunho da f da Igreja, adverte-se que de nada serve ter f durante toda a vida se, no ltimo momento, no formos perfeitos:

    "Vigiai sobre a vossa vida; no deixai que vossas lmpadas se apaguem, nem afrouxai vossos cintos. Ao contrrio, estai preparados porque no sabeis a hora em que vir o Senhor. Reuni-vos frequentemente, procurando o que convm a vossas almas; porque de nada vos servir todo o tempo da vossa f se no fores perfeitos no ltimo momento" (Didaqu 16,1-2).[1]

    SO CLEMENTE DE ROMA

    So Clemente, discpulo dos Apstolos So Pedro e So Paulo, reconhecido como um dos Padres Apostlicos e 4 bispo de Roma (logo aps So Pedro, So Lino e So Anacleto). Conserva-se uma carta em que disciplina a comunidade dos corntios em razo de uma disputa surgida nessa igreja. [...]

    Clemente tem sido frequentemente citado por apologistas protestantes como partidrio da doutrina da "Sola Fides", em razo do seguinte texto:

    "Em concluso, todos foram glorificados e engrandecidos, no por mritos prprios, nem por suas obras ou justias que praticaram, mas pela vontade de Deus. Logo, tampouco ns - que fomos chamados em Jesus Cristo por sua vontade - nos justificamos por nossos prprios mritos, nem por nossa sabedoria, inteligncia, piedade ou pelas obras que fazemos em santidade de corao, mas pela f, pela qual o Deus onipotente justificou a todos desde o princpio" (1 Carta aos Corntios 32,3-4).[2]

    Porm, Clemente realmente diz o mesmo que estabele o Conclio de Trento quando declara que: "Nada do que precede a justificao - seja f, seja obras - merece a graa da justificao, porque se pela graa, no o pelas obras. Seno, como diz o Apstolo, a graa j no mais graa" (Conclio de Trento, Sesso VI, Decreto sobre a Justificao 8). Trento ensina assim que no h nada anterior justificao, incluindo as obras (de qualquer espcie) que merea a justificao.

    No entanto, em outros textos, Clemente fala como os profetas foram declarados justos no somente ao crer, mas tambm ao obedecer:

    "Unamo-nos, pois, queles a quem foi dada a graa da parte de Deus; revistamo-nos da concrdia, mantendo-nos no esprito de humildade e continncia, justificados por nossas obras e no por nossas palavras" (1 Carta aos Corntios 30,3).[3]

    "Tomemos por exemplo a Henoc, o qual, encontrado justo na obedincia, foi trasladado, sem que se encontrasse o rastro de sua morte" (1 Carta aos Corntios 9,3).[4]

    "Abrao, que foi chamado 'amigo de Deus', foi achado fiel por ter sido obediente s palavras do Deus" (1 Carta aos Corntios 9,1).[5]

    Clemente um excelente expositor da doutrina catlica da justificao. O homem se justifica pela f, porm se salva sob a condio de que guarde os mandamentos e cumpra de modo efetivo a vontade de Deus (as obras no so apenas produto da f, mas condio para se salvar):

    "De nossa parte, lutemos para nos encontrar no nmero dos que O esperam, a fim de sermos tambm partcipes dos dons prometidos. Mas como conseguir isto, carssimos? Conseguiremos desde que a nossa mente esteja fielmente afianada em Deus; desde que busquemos aquilo que agradvel e aceito por Ele; desde que, finalmente, cumpramos efetivamente aquilo que condiz com seus desgnios irreprovveis e sigamos o caminho da verdade, atirando para longe de ns toda injustia e maldade, avareza, contendas, malcia e fraude, fofocas e calnias, dio a Deus, soberba e jactncia, vanglria e inospitalidade. Porque os que praticam tais coisas so odiosos a Deus; e no somente os que as praticam, como ainda os que as aprovam e consentem. Diz, com efeito, a Escritura: 'Ao pecador,

  • porm, disse Deus: Com que fim explicas os meus mandamentos e pronuncias por tua boca a minha aliana? Detestaste tu a disciplina e lanaste para trs as minhas palavras'" (1 Carta aos Corntios 35,4-8).[6]

    Clemente tambm adverte sobre o perigo de se perder a salvao; por isso avisa que, para se salvar, devemos perseverar at o fim, vivendo uma conduta digna de Deus e obedecendo aos mandamentos:

    "Vigiai, carssimos, para que os vossos benefcios, que so muitos, no se convertam para ns motivo de condenao, caso no haja plena concrdia, vivendo conduta digna d'Ele, o que bom e agradvel em sua presena. Diz-se, com efeito, em alguma parte da Escritura: 'O Esprito do Senhor lmpada que ilumina os esconderijos do ventre'. Consideremos quo prximo de ns Ele est e como d'Ele no se oculta nem um s de nossos pensamentos ou o propsito que concebemos. Justo , portanto, que no desertemos do posto que Ele, por sua vontade, nos atribuiu" (1 Carta aos Corntios 21,1-4).[7]

    Observe-se que, no texto acima, Clemente reconhece que algum pode cair do estado de graa e se condenar, diferentemente da doutrina protestante "Uma vez salvo, sempre salvo".

    "Agora, pois, como seja certo que tudo por Ele visto e ouvido, temamos e abandonemos os execrveis desejos de ms obras, a fim de sermos protegidos por sua misericrdia nos juzos vindouros. Porque 'para onde algum de ns poder fugir de sua poderosa mo?' Que mundo acolher os desertores de Deus?" (1 Carta aos Corntios 28,1-2).[8]

    "Porque Deus vive e vivem o Senhor Jesus Cristo e o Esprito Santo; e [vivas] tambm so a f e a esperana dos eleitos no sentido de que aqueles que praticam na humildade, com modstia perseverante e sem hesitao, os preceitos e mandamentos de Deus, somente esses sero escolhidos e contados no nmero dos que se salvam mediante Jesus Cristo" (1 Carta aos Corntios 58,2).[9]

    Tambm oferece uma exposio clara da doutrina catlica do mrito:

    "Portanto, bom que estejamos prontos e preparados para as boas obras, j que d'Ele que tudo deriva. Assim Ele nos previne: 'Eis o Senhor! Tua recompensa est diante d'Ele, para que d a cada um segundo o seu trabalho'. Contudo, o que nos pede? Que creiamos n'Ele com todo o nosso corao, para que no sejamos preguiosos nem indolentes para com nenhuma boa obra" (1 Carta aos Corntios 34,2-4).[10]

    Entretanto, como se isto j no fosse pouco, reconhece que por meio da caridade possvel obter o perdo dos pecados:

    "Somos felizes, carssimos, se tivermos cumprido os mandamentos de Deus na concrdia da caridade, a fim de que, pela caridade, sejam perdoados os nossos pecados" (1 Carta aos Corntios 50,5).[11]

    SO POLICARPO DE ESMIRNA

    Bispo de Esmirna, institudo pelo Apstolo So Joo, de quem foi discpulo. Nasceu por volta do ano 75 e foi martirizado. considerado tambm um dos Padres Apostlicos. Conserva-se uma carta dirigida igreja de Filipos [...], na qual, igualmente, estabelece como condio para se salvar no apenas a f mas ainda o cabal cumprimento da vontade de Deus e a obedincia aos mandamentos:

    "Por isso, cingi vossos rins e servi a Deus no temor e na verdade, abandonando as palavras vs e o erro das multides, crendo n'Aquele que ressuscitou nosso Senhor Jesus Cristo dentre os mortos e lhe deu glria e assento sua direita. A Ele foram submetidas todas as coisas, as do cu e as da terra. A Ele rendei adorao com todo alento. Ele h de vir como juiz dos vivos e dos mortos e Deus pedir contas daqueles que no querem obedec-lo. Pois bem: Ele que O ressuscitou dentre os mortos tambm nos ressuscitar, desde que cumpramos sua vontade, caminhemos em seus mandamentos e amemos o que Ele amou, distantes de toda iniquidade, defraudao, apego ao dinheiro, maledicncia,

  • falso testemunho; no retribuindo mal por mal, nem injria por injria, nem golpe por golpe, nem maldio por maldio. Prestemos ateno ao que disse o Senhor para o nosso aprendizado: 'No julgueis para que no sejais julgados; perdoai e vos ser perdoado; compadecei para que sejais compadecidos. Com a medida que medirdes, sereis tambm vs medidos'. E: 'Bem-aventurados os pobres e os que sofrem perseguio por causa da justia, porque deles o reino dos cus'" (Carta aos Filipenses 2)[12]

    O PASTOR DE HERMAS

    Uma obra muito apreciada pela Igreja primitiva, ao ponto de alguns Padres chegarem a consider-la cannica. Foi composta por Hermas, irmo do Papa Pio I, em Roma, entre os anos 141 e 155. [...]

    Hermas diz que teve uma viso onde via uma torre sendo construda sobre as guas e para onde se levavam pedras para edific-la. Chama a ateno o fato de que nem todas as pedras so usadas: algumas eram lanadas para longe da torre; outras estavam rachadas; outras, eram deixadas prximas da torre (mas no eram usadas por estarem com defeito); outras, por suas formas no se ajustarem construo, eram descartadas. Posteriormente, a Mulher explica que a Torre a Igreja e que ns somos as pedras:

    "- As [pedras] que entravam na construo sem necessidade de labr-las so [aqueles] que o Senhor aprovou, porque caminharam na retido do Senhor e cumpriram seus mandamentos" (3 Viso 5,3).[13]

    "- E as que eram rejeitadas e lanadas fora? Quem so?- Estas so [aqueles] que pecaram, mas esto dispostos a fazer penitncia. Em razo disto, no foram lanadas para muito longe da torre, pois quando fizerem penitncia sero teis para a contruo" (3 Viso 5,4).[14]

    "- Quereis conhecer as pedras que foram despedaadas e lanadas para bem longe da torre? Estas so os filhos da iniquidade; tornam-se crentes hipocritamente e nenhuma maldade se afastou deles. Portanto, no tm salvao, pois por suas maldades no so teis para a construo" (3 Viso 6,1).[15]

    "- A respeito das outras pedras, que viste em grande quantidade no solo e no eram usadas na construo, as pedras defeituosas, representam aqueles que conheceram a verdade, mas no perseveraram nela nem aderiram aos santos. Por isso, so inteis.- E as pedras rachadas? Quem representam?- Estas [representam] aqueles que guardam ressentimentos em seus coraes, uns para com os outros, e no mantm a paz mtua... As pedras mutiladas representam aqueles que creram e mantm a maior parte de seus atos conforme a justia, porm possuem ainda algumas pores de iniquidade. Por isso esto mutiladas e no inteiras" (3 Viso 6,2-4).[16]

    "- Quanto s outras pedras, que viste atiradas longe [da torre], caindo no caminho e rolando para lugares intransitveis, estas representam os que creram, mas que logo depois, arrastados por suas dvidas, abandonaram o Seu caminho, que o verdadeiro. Imaginando-se, pois, que so capazes de encontrar um caminho melhor, se extraviaram e, miseravelmente, passaram a transitar por caminhos intransitveis" (3 Viso 7,1).[17]

    Aponta, assim, que no basta crer, mas tambm perseverar e cumprir os mandamentos, do contrrio vir a representar uma dessas pedras defeituosas atiradas para longe da torre.

    Mais adiante, quando o autor de "O Pastor" pergunta Mulher se ele mesmo iria se salvar, esta lhe responde afirmativamente, mas desde que guarde os mandamentos e persevere neles:

    "- Ele disse: 'Estou encarregado da penitncia e a todos os que se arrependem eu lhes concedo

  • inteligncia'. E disse-me: 'Ou no te parece que o arrependimento uma espcie de inteligncia?'. Prosseguiu: 'Sim, o arrependimento uma grande inteligncia, porque o pecador que faz penitncia cai em conta que praticou o mal diante do Senhor e sobe ao seu corao o remorso pela obra que realizou, arrependendo-se e no mais voltando a fazer o mal, entregando-se, ao contrrio, prtica do bem de mltiplas maneiras, e humilha e atormenta sua alma por ter pecado. Vs, assim, como a penitncia uma espcie de grande inteligncia'.- Disse-lhe: 'Pois justamente por isso que quero lhe perguntar tudo detalhadamente; primeiro, porque sou pecador e quero saber quais obras devo praticar para viver, pois meus pecados so muitos em quantidade e de muitas variadas formas'.- Respondeu-me: 'Vivers se guardares os meus mandamentos e caminhares neles. E quem quer que observe estes mandamentos, viver para Deus'" (4 Mandamento 2,2-4).[18]

    SANTO INCIO DE ANTIOQUIA

    Bispo de Antioquia, martirizado em Roma (devorado por lees) nos tempos do imperador Trajano (98-117). Dele so conservadas 7 cartas que escreveu a caminho do martrio, por volta do ano 107. [...]

    Para Santo Incio, no basta proclamar a f, mas perseverar nela at o fim. Por isso, a f e a caridade devem estar em unidade. O prmio do atleta de Deus a vida eterna, onde receber a recompensa por suas boas obras. Tambm estabelece que a salvao est disposio do homem que, por seu livre-arbtrio, elege a vida ou a morte; porm, se no estiver disposto, inclusive, a morrer por Cristo, no ter a vida eterna:

    "Nada de tudo isso seja ocultado de vs, por terdes em grau pleno para com Jesus Cristo aquela f e caridade que so princpio e fim da vida. O princpio, quero dizer, a f; o fim, a caridade. As duas, trabalhadas em unidade, so de Deus e tudo o mais que liga perfeio e santidade deriva delas. Ningum que proclama a f peca; e ningum que possui a caridade odeia. A rvore se manifesta por seus frutos. Da mesma forma, os que professam ser de Cristo, por suas obras se conhecero, pois agora no hora de proclamar a f, mas de se manter em sua fora at o fim" (Carta aos Efsios 14,1-2).[19]

    "Sede sbrio, como um atleta de Deus. O prmio a incorrupo e a vida eterna, da qual tambm tu ests convencido. Em tudo e por tudo, sou um resgate para ti, eu e minhas correntes, que tu amaste" (Carta a Policarpo 2,3).[20]

    "Atendei ao bispo a fim de que Deus vos atenda. Eu me ofereo como resgate por aqueles que se sujeitam ao bispo, aos ancios e aos diconos. E oxal que com eles me fosse concedido ter parte em Deus. Trabalhai juntos, uns com os outros; lutai unidos como administradores de Deus, como seus assistentes e servidores. Tratai de ser gratos ao Capito sob cujas bandeiras militais e de quem havers de receber o soldo. Que nenhum de vs seja declarado desertor. Vosso batismo deve permanecer como vossa armadura, a f como um elmo, a caridade como uma lana, a pacincia como um arsenal de todas as armas. Vosso tesouro ser vossas boas obras, das quais recebereis magnficas somas" (Carta a Policarpo 6,1-2).[21]

    "Pois bem: as coisas esto atingindo o seu fim e nos so propostas juntamente estas duas coisas: a morte e a vida; e cada um ir para o seu lugar especfico. como se se tratasse de duas moedas: uma de Deus e outra do mundo; e cada uma traz inscrita o seu prprio cunho: os incrdulos, o deste mundo; mas os fiis, pela caridade, o cunho de Deus Pai inscrito por Jesus Cristo. Se no estamos dispostos a morrer por Ele, para imitar sua Paixo, no teremos sua vida em ns" (Carta aos Magnsios 5,1-2).[22]

    SO JUSTINO MRTIR

    Mrtir da f crist por volta do ano 165 (por decapitao). considerado o maior apologista do sculo

  • II.

    So Justino faz referncia salvao do homem no apenas com base na f, mas pelo seu caminhar na virtude e no mrito de suas aes:

    "Ns somos os vossos melhores auxiliares e aliados para a manuteno da paz, pois professamos doutrinas como a de que no possvel que se oculte de Deus um malfeitor, um varo, um conspirador, como tampouco um homem virtuoso, e que cada um caminha, segundo o mrito de suas aes, para o castigo ou para a salvao eterna. Porque se todos os homens conhecessem isto, ningum escolheria a maldade por um s momento, sabendo que caminhava para a sua condenao eterna no fogo, mas por todos os meios se conteria e se adornaria na virtude, a fim de alcanar os bens de Deus e ver-se livre dos castigos" (1 Apologia 12,1-2).[23]

    "Pois bem: foi ensinado a ns que somente alcanaro a imortalidade aqueles que vivem em santa e virtuosa proximidade de Deus. Da mesma forma, cremos que sero castigados com o fogo eterno aqueles que vivem injustamente e no se converterem" (1 Apologia 21,6).[24]

    "Mas aqueles em que se v que no vivem como Ele ensinou, sejam declarados como no-cristos, por mais que repitam com a lngua os ensinamentos de Cristo, pois Ele disse que devem se salvar no aqueles que apenas falam, mas tambm que praticam as [boas] obras. E efetivamente assim disse: 'Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrar no reino dos cus, mas o que faz a vontade de meu Pai que est nos cus'" (1 Apologia 16,8).[25]

    Possui tambm uma clara perspectiva do livre-arbtrio e com quase 1400 anos de antecedncia, rejeita a posio calvinista de que o homem um fantoche virtual que no pode resistir graa (de onde se conclui que a condenao de algum ocorre porque Deus nunca derramou a graa sobre ele, tendo sido abandonado sua maldade):

    "Do que dissemos anteriormente, ningum deve concluir que a consequncia do que afirmamos que se sucede ocorre por necessidade do destino, pelo fato de que dizemos ser de antemo conhecidos os acontecimentos. Para isso, vamos esclarecer tambm esta dificuldade. Ns aprendemos com os profetas e afirmamos que isto a verdade: que os castigos e tormentos, igualmente as boas recompensas, do-se a cada um conforme as suas obras, pois se no fosse assim e se ocorresse pelo destino, no existiria em absoluto o livre-arbtrio. Com efeito, se est determinado que este seja bom e aquele mau, nem aquele merece louvor, nem este vituprio. E se o gnero humano no tem poder para fugir por livre determinao daquilo que vergonhoso e optar pelo belo, irresponsvel por qualquer ao que faa. Porm, que o homem virtuoso e peca por livre escolha, o demonstramos pelo seguinte argumento: vemos que o prprio sujeito passa de um extremo a outro. Pois bem: se fosse determinado ser mau ou bom, no seria capaz de fazer coisas contrrias nem mudaria [seu comportamento] com tanta frequncia. Na verdade, no se poderia dizer que alguns so bons e outros maus a partir do momento em que afirmamos que o destino a causa de bons e maus, e que faz coisas contrrias a si mesmo; ou deve se ter por verdade aquilo que j anteriormente insinuamos, a saber: que virtude e maldade so meras palavras e que apenas por opinio [pessoal] se classifica algo como bom ou mau - o que, como demonstra a verdadeira razo, o cmulo da impiedade e da iniquidade. O que afirmamos ser destino ineludvel que a quem escolher o bem, espera-lhes digna recompensa; e a quem escolher o contrrio, espera-lhes igualmente digno castigo. Porque Deus no fez o homem da mesma forma que as outras criaturas, por exemplo, rvores e quadrpedes, que nada podem fazer por livre determinao, pois nesse caso no seria digno de recompensa ou louvor, nem mesmo por ter escolhido o bem, mas j teria nascido bom; nem, por ter sido mau, seria castigado justamente, pois no agiu livremente, mas por no poder ter sido outra coisa do que foi" (1 Apologia 43,1-8).[26]

    SO TEFILO DE ANTIOQUIA

  • Sexto bispo de Antioquia, segundo Eusbio de Cesaria e So Jernimo. Conservaram-se apenas 3 livros escritos aproximadamente pelo ano de 180 d.A. (A Autlico). Em seu primeiro livro, fala de como seremos julgados em conformidade com as nossas obras e de como os que perseveram nas boas obras obtm a vida eterna:

    "E se queres, l tambm com interesse as Escrituras dos profetas e elas te guiaro com mais clareza para escapar dos castigos eternos e alcanar os bens eternos de Deus. Porque Ele, que nos deu a boca para falar, nos formou o ouvido para ouvir e nos deu os olhos para ver, examinar tudo e julgar conforme a justia, dando a cada um conforme os seus mritos. Aos que, conforme a pacincia, buscam a incorrupo pelas boas obras, lhes dar a graa da vida eterna, de alegria, paz, descanso e multido de bens..." (1 Livro a Autlico 14).[27]

    SANTO IRENEU DE LIO

    Santo Ireneu, bispo e mrtir. Foi discpulo de So Policarpo que, por sua vez, foi discpulo do Apstolo So Joo. Clebre por seu tratado "Contra as Heresias", onde combate as heresias de seu tempo, em especial as dos gnsticos. Nasceu por volta do ano 130 d.C. e morreu no ano 202 d.C.

    Para Ireneu, a graa tambm resistvel porque Deus fez o homem livre e como Deus derrama sua graa sobre todos os homens, quem se condena o faz por prpria escolha; igualmente, o que se salva porque persevera nas boas obras:

    "Esta frase: 'Quantas vezes quis acolher os teus filhos, porm tu no quiseste!' (Mateus 23,37), bem descobriu a antiga lei da liberdade humana, pois Deus fez o homem livre, o qual, assim como desde o princpio teve alma, tambm gozou de liberdade, a fim de que livremente pudesse acolher a Palavra de Deus, sem que Este o forasse. Deus, com efeito, jamais se impe fora, pois n'Ele sempre est presente o bom conselho. Por isso, concede o bom conselho a todos. Tanto aos seres humanos como aos anjos outorgou o poder de escolher - pois tambm os anjos usam sua razo -, a fim de que queles que lhe obedecem possam conservar para sempre este bem como um dom de Deus que eles guardam. Ao contrrio, no se encontrar este bem naqueles que O desobedecem e por isso recebero o justo castigo, porque Deus certamente lhes ofereceu benignamente este bem, mas eles no se preocuparam em conserv-lo, nem o acharam valioso, mas desprezaram a bondade suprema. Assim, portanto, ao abandonar este bem e at certo ponto rejeit-lo, como razo sero rus do justo juzo de Deus, do qual o Apstolo Paulo d testemunho em sua Carta aos Romanos: 'Por acaso desprezas as riquezas de sua bondade, pacincia e generosidade, ignorando que a bondade de Deus te impulsiona a arrepender-te? Pela dureza e impenitncia do teu corao, tu mesmo acumulas a ira para o Dia da Clera, quando se revelar o justo juzo de Deus' (Romanos 2,4-5). Ao contrrio, diz: 'Glria e honra para quem opera o bem' (Romanos 2,10). Deus, portanto, nos deu o bem, do qual d testemunho o Apstolo na mencionada Carta, e aqueles que agem segundo este dom recebero honra e glria, porque fizeram o bem quando estava em seu arbtrio o no faz-lo; ao contrrio, aqueles que no agirem bem sero rus do justo juzo de Deus, porque no agiram bem estando em seu poder faz-lo. Com efeito, se alguns seres humanos fossem maus por natureza e outros bons por natureza, nem estes seriam dignos de louvor por serem bons, nem aqueles condenveis, porque assim teriam sido criados. Porm, como todos so da mesma natureza, capazes de conservar e fazer o bem, e tambm capazes de perd-lo e no faz-lo, com justia os seres sensatos - quanto mais Deus! - louvam os segundos e do testemunho de que decidiram de maneira justa e perseveraram no bem; ao contrrio, reprovam os primeiros e os condenam retamente por terem rejeitado o bem e a justia. Por esse motivo, os profetas exortavam a todos a agir com justia e a fazer o bem, como muitas vezes explicamos, porque este modo de nos comportar est em nossas mos; porm, tendo tantas vezes cado no esquecimento por nossa grande negligncia, nos fazia falta um bom conselho. Por isso o bom Deus nos aconselhava o bem por meio dos profetas" (Contra as Heresias 4,37,1-2).[28]

  • Enfatiza ainda que a salvao se obtm mediante muito esforo e "lutando":

    "Por isso o Senhor diz que o reino dos cus dos violentos: 'Os violentos o arrebatam', isto , aqueles que se esforam, lutam e esto continuamente em alerta: estes o arrebatam. Por isso o Apstolo Paulo escreveu aos Corntios: 'No sabeis que no estdio so muitos os que correm, porm apenas um recebe o prmio? Correi de modo que o alcanceis. Todo aquele que compete se priva de tudo e isso para receber uma coroa corruptvel; ns, ao contrrio, por uma incorruptvel. Eu corro desta maneira e no por acaso; eu no luto como quem desfere [socos] no ar, mas mortifico o meu corpo e o submeto ao servio, para que no ocorra que, pregando aos outros, eu mesmo me condene'. Sendo um bom atleta, nos exorta a competir pela coroa da incorrupo e a que valorizemos essa coroa que adquirimos pela luta, sem que a percamos. Quanto mais lutamos por algo, mais nos parece valioso; e quanto mais valioso, mais o amamos. Pois no amamos da mesma maneira o que nos chega de modo automtico, diferentemente daquilo que construmos com grande esforo. E como o mais valioso que pode nos suceder amar a Deus, por isso o Senhor ensinou e o Apstolo transmitiu que devemos obt-lo lutando por isso. De outra forma, nosso bem seria irracional, pois no o teramos ganho com exerccio. A viso no seria para ns um bem to desejvel se conhecssemos o mal da cegueira; a sade nos mais valiosa quando experimentamos a doena; assim tambm a luz, comparando-a com as trevas e a vida com a morte. De igual modo, o Reino dos Cus mais valioso para aqueles que conhecem [o reino] da terra; e quanto mais valioso, tanto mais o amamos; e quanto mais o amamos, tanto mais glria teremos diante de Deus" (Contra as Heresias 4,37,7).[29]

    Ireneu outro Padre que rejeita o que se conheceria mais de um milnio depois como a doutrina de "uma vez salvo, sempre salvo":

    "Por isso, dizia aquele presbtero: no devemos nos sentir orgulhosos nem reprovar os antigos; ao contrrio, devemos temer; no ocorra que, depois de conhecermos a Cristo, faamos aquilo que no agrada a Deus e, consequentemente, j no nos sejam perdoados os nossos pecados, nos excluindo de seu Reino. Paulo disse a este propsito: 'Se no perdoou os ramos naturais, tampouco te perdoar, pois sois oliveira silvestre enxertada nos ramos da oliveira [boa] e recebes [vida] da sua seiva'" (Contra as Heresias 4,27,2).[30]

    CLEMENTE DE ALEXANDRIA

    Nasceu em torno do ano 150, provavelmente em Atenas, de pais pagos. Aps tornar-se cristo, viajou pelo sul da Itlia e pela Sria e Palestina em busca de mestres cristos, at que chegou em Alexandria. Os ensinamentos de Panteno (chefe da escola catequtica de Alexandria, no Egito) fizeram com que se estabelecesse ali at o ano 202, quando a perseguio de Stimo Severo o obrigou a deixar o Egito e se refugiar na Capadcia, onde faleceu pouco antes do ano 215.

    Seu conhecimento dos escritos pagos e da literatura crist notvel. Segundo Quasten, encontram-se em suas obras cerca de 360 citaes dos clssicos, 1500 do Antigo Testamento e 2000 do Novo; portanto, considerado cronologicamente como o primeiro sbio cristo conhecedor no apenas da Sagrada Escritura como ainda das obras crists anteriores a ele e, inclusive, de obras de literatura pag. Clemente considerava o Cristianismo como a realizao mais bela e o coroamento de todos os elementos de verdade dispersos na filosofia.

    Sua rejeio doutrina da "Sola Fides" to clara que torna desnecessrio comentar qualquer coisa:

    "Disse o Senhor: 'H ainda outras ovelhas que no so deste redil' - so consideradas dignas de outro redil e morada, em proporo sua f. 'Porm, as minhas ovelhas ouvem a minha voz' - compreendendo intuitivamente os mandamentos. E estes devem ser levados em magnmica e digna aceitao assim como tambm a recompensa fruto do trabalho. Portanto, quando ouvimos: 'Tua f te salvou', no pensamos absolutamente que Ele disse que os que creram sero salvos, a no ser que

  • tambm trabalhem para isso. Contudo, foi apenas para os judeus que ele dirigiu estas palavras, para aqueles que guardavam a lei e viviam de maneira blasfema, para aqueles que queriam apenas ter f no Senhor. Logo, ningum pode ser crente e ao mesmo tempo licencioso; ao contrrio, ainda que renuncie a carne, o crente deve vencer as paixes, para assim ser capaz de alcanar sua prpria morada. Agora sabemos que mais do que crer: ao ser imediatamente coroado com a mais alta honra, ser salvo algo maior que o salvado. Consequentemente, o crente, mediante uma grande disciplina, afastando-se das paixes, passa morada melhor que a anterior, sabendo que o maior tormento levar com ele o arrependimento pelos pecados cometidos aps o batismo" (Stromata 6,14).[31]

    SANTO HIPLITO DE ROMA

    O lugar e a data do seu nascimento so desconhecidos, embora saiba-se que foi discpulo de Santo Ireneu de Lio. Seu grande conhecimento da filosofia e dos mistrios gregos, e sua prpria psicologia, indicam que procedia do Oriente. At o ano 212 era presbtero em Roma, onde Orgenes - durante sua viagem capital do Imprio - o ouviu pronunciar um sermo.

    Por ocasio do problema da readmisso na Igreja dos que haviam apostatado durante alguma perseguio, estourou um grave conflito que o colocou em oposio ao Papa Calisto, j que Hiplito mostrava-se rigorista neste assunto, ainda que no negasse que a Igreja tinha o poder de perdoar os pecados. To forte foi a oposio, que acabou por se separar da Igreja e, eleito bispo de Roma por um reduzido crculo de amigos, tornou-se o primeiro antipapa da Histria. O cisma se prolongou at a morte de Calisto, durante o pontificado de seus sucessores Urbano e Ponciano. Encerrou-se no ano 235, pela perseguio de Maximino, quando Hiplito e o papa legtimo (Ponciano) foram desterrados para as minas da Sardenha, onde se reconciliaram. Ali os dois renunciaram ao pontificado, para facilitar a pacificao da comunidade romana que, deste modo, pde eleger um novo Papa e dar por encerrado o cisma. Tanto Ponciano quanto Hiplito morreram [ali] no ano 235.

    Santo Hiplito, da mesma maneira que os demais Padres, reconhece que o homem, por meio da f, se prepara para a vida eterna atravs das suas boas obras, pelas quais alcanar o reino dos cus:

    "Da mesma forma, os gentios, pela f em Cristo, preparam para eles a vida eterna atravs das boas obras" (Comentrio sobre os Provrbios).[32]

    "Ele, ao administrar o justo juzo do Pai a todos, dar a cada um o que justo conforme as suas obras [...] A justificao ser vista ao dar a cada um o que justo: aqueles que fizeram o bem, tero um justo gozo eterno; e os amantes da iniquidade obtero um castigo eterno [...] Porm, os justos recordaro apenas as boas obras pelas quais alcanaram o reino dos cus, no qual no existe miragem, nem dor, nem corrupo" (Contra Plato, sobre o Universo).[33]

    ORGENES DE ALEXANDRIA

    Orgenes foi escritor eclesistico, telogo e comentarista bblico. Viveu em Alexandria at o ano 231, passando os ltimos 20 anos de sua vida em Cesaria Martima (Palestina) e viajando pelo Imprio Romano. Foi o maior mestre de doutrina crist de seu tempo e exerceu extraordinria influncia como intrprete da Bblia.

    Orgenes cuidadoso ao alertar que os cristos devem ser instrudos para compreender que no basta apenas crer, mas tambm praticar [boas] obras:

  • "Consideremos agora o justo juzo de Deus, quanto ao que se recompensa a cada um segundo as suas obras. Em primeiro lugar devemos rejeitar os hereges que dizem que as almas so boas ou ms por natureza e saber, ao invs, que Deus recompensar cada um segundo as suas obras e no segundo sua natureza. Em segundo lugar, os crentes sero instrudos a no pensar que suficiente apenas crer; eles devem perceber que o justo juzo de Deus recompensar a cada um segundo as suas obras" (Comentrio sobre Romanos 2,5).[34]

    "Que ningum pense que algum possui f suficiente para estar justificado e ter glria diante de Deus e, ao mesmo tempo, possuir maldade dentro de si. Porque a f no pode coexistir com a incredulidade, nem a justia com a maldade, assim como a luz e as trevas no podem viver juntas" (Comentrio sobre Romanos 4,2).[35]

    Tambm reconhece que os crentes justificados podem cair do estado de graa quando, por sua prpria vontade, cometem pecados graves e no cumprem os mandamentos (se o homem pode fazer ou deixar de fazer algo que, aps justificado, o faa perder a salvao, ento novamente a f apenas no suficiente para a salvao):

    "Inclusive na Igreja, se algum 'circunciso' pela graa do batismo e logo depois se converte em transgressor da lei de Cristo, a circunciso do batismo para ele como incircunciso, porque 'a f sem obras morta'" (Comentrio sobre Romanos 2,25).[36]

    "O Salvador, tambm dizendo: 'Eu vos digo: no resistam ao mal'; e: 'O que se levanta contra seu irmo ser culpvel de juzo'; e: 'Quem olha uma mulher para desej-la j cometeu adultrio com ela em seu corao'; e assim como em outros mandamentos, no transmite outra realidade seno que faculdade nossa observar o que nos foi mandado. Portanto, somos com razo responsveis pela condenao se transgredimos os mandamentos que somos capazes de cumprir. E, assim, tambm Ele mesmo declara: 'Quem ouve as minhas palavras e as pratica como um homem sbio que edificou sua casa sobre uma rocha'. E ainda declara: 'Quem ouve estas coisas e no as pratica como um homem nscio que edificou sua casa sobre a areia'. Inclusive as palavras que dirigiu queles que esto sua direita: 'Vinde a mim, benditos de meu Pai, porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber', mostram claramente que dependia deles mesmos serem merecedores de louvor, por fazerem o que foi ordenado, e recebendo o que foi prometido; ou merecedores de censura quem ouviu ou recebeu o contrrio, sendo-lhes dito: 'Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno'. Observemos tambm o que o Apstolo Paulo nos ensinou sobre termos o poder sobre a nossa prpria vontade, possuidores de quaisquer das causas de nossa salvao ou runa: 'Desprezas as riquezas da Sua bondade, pacincia e generosidade, ignorando que a Sua bondade te guia ao arrependimento? Porm, por tua dureza e por teu corao no arrependido, cumulas ira para ti mesmo no Dia da Ira e da revelao do justo juzo de Deus, o qual pagar a cada um segundo as suas obras: vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, buscam a glria, a honra e a imortalidade; porm, ira e clera aos que so contenciosos e no obedecem a verdade, mas obedecem a injustia. Tribulao e angstia sobre todo ser humano que pratica o mal: sobre o judeu em primeiro lugar e tambm sobre o grego; ao contrrio, glria, honra e paz a todo aquele que pratica o bem: ao judeu em primeiro lugar e tambm ao grego'. Encontrar ainda inumerveis passagens da Sagrada Escritura que claramente demonstram que temos livre-arbtrio. Do inverso, seria uma contradio os mandamentos dados a ns, por observarmos aquilo que no nos poderia salvar ou por transgredir aquilo que nos condenaria, se o poder de observ-los no fosse dado a ns" (De Principiis 3,1).[37]

    Em sua obra mais importante, conhecida como "De Principiis" (ou Peri Arcon - ? ?), escreve:

  • "O ensinamento apostlico que a alma, possuindo substncia e vida prpria, ser, aps a sua partida do mundo, recompensada conforme os seus merecimentos, sendo destinada a obter a herana da vida eterna e bem-aventurada se as suas aes a procuraram; ou ser entregue ao fogo e penas eternas se a culpa de seus crimes a levaram a isso" (De Principiis, Prefcio,5).[38]

    SO CIPRIANO DE CARTAGO

    So Cipriano nasceu em torno do ano 200, provavelmente em Cartago, de famlia rica e culta. Dedicou-se em sua juventude retrica. O desgosto que sentia diante da imoralidade dos ambientes pagos contrastado com a pureza de costumes dos cristos, o induziu a abraar o Cristianismo por volta do ano 246. Pouco depois, em 248, foi eleito bispo de Cartago. Ao iniciar a perseguio de Dcio, em 250, julgou melhor retirar-se para um lugar parte, para poder continuar a se ocupar com seu rebanho.

    So Cipriano tambm estabelece como condio para se salvar o cumprimento dos mandamentos e as boas obras:

    "Profetizar, expulsar demnios e fazer grandes atos na terra so, sem dvida, coisas sublimes e admirveis; porm ningum alcana o reino dos cus ainda que faa todas essas coisas, a no ser que caminhe na observncia do direito e da justia. O Senhor denuncia e diz: 'Muitos me diro naquele dia: 'Senhor, Senhor: no profetizamos em teu nome? E em teu nome no expulsamos demnios? E em teu nome no fizemos muitos milagres?' E Eu lhes direi: 'Nunca vos conheci! Apartai-vos de mim, praticantes da maldade''. Existe a necessidade de justia que algum bem pode merecer de Deus, o Juiz. Devemos obedecer seus preceitos e advertncias, para que nossos mritos possam receber sua recompensa" (Da Unidade da Igreja 16).[39]

    "Cremos, com efeito, que os mritos dos mrtires e as obras dos justos so de grande valor para o Juiz. Porm, assim ser quando o Dia do Juzo chegar; quando, depois do fim desta vida e mundo, seu povo estiver de p diante do tribunal de Cristo" (Dos Lapsos, Tratado 3,17).[40]

    Em "Das Boas Obras e Esmolas (De opere et eleemosynis), escreve:

    "O Esprito Santo fala, nas Sagradas Escrituras, e diz: 'Pela esmola e pela f se purificam os pecados'. Seguramente, no os pecados que haviam sido previamente contrados, mas aqueles que so limpos pelo sangue e santificao de Cristo. Ademais, Ele diz novamente: 'Assim como a lavagem pela gua salvfica extingue o fogo do inferno, assim tambm subjugado o fogo pela esmola e pelas boas obras'. Porque no batismo se concede a remisso dos pecados de uma vez para sempre: o exerccio constante e incessante das boas obras, semelhana do batismo, outorga novamente a misericrdia de Deus [...] Aqueles que caram aps a graa do batismo podem ser limpos novamente" (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado 8,2).[41]

    Aqui So Cipriano explicitamente fala de como, por intermdio das boas obras, se obtm tambm o perdo dos pecados cometidos aps o batismo (um conceito totalmente alheio doutrina protestante). notrio ainda que cite como Escritura no apenas o livro dos Provrbios (16,6), como tambm o livro do Eclesistico (3,30) - e no captulo 5 cita Tobias, ou seja, dois livros que os protestantes retiraram de suas Bblias acusando-os de "apcrifos" (como se v, no eram apcrifos para So Cipriano).

    Sobre esse mesmo texto, comenta Quasten:

    "Cipriano ensina aqui a eficcia das boas obras para a salvao. Visto que ningum est isento 'de alguma ferida de conscincia', todo mundo obrigado a praticar a caridade. No pode haver desculpa para ningum. Os que temem que suas riquezas diminuam pelo exerccio da generosidade e se vem expostos, no futuro, pobreza e necessidade, deveriam saber que Deus cuida daqueles que socorrem os demais. 'Que ningum, carssimos irmos, impea ou desmotive os cristos do exerccio das retas e boas obras, sob a considerao de que algum pode excusar-se delas em benefcio de seus filhos, visto

  • que nos desembolsos espirituais devemos pensar apenas em Cristo, que declarou que Ele quem as recebe, preferindo no aos nossos semelhantes, mas ao Senhor, e no aos nossos filhos'. 'Se realmente queres bem aos teus filhos, se queres demonstrar-lhes plenamente a suavidade do teu amor paternal, deverias ser cada vez mais caridoso, a fim de que por tuas boas obras possas recomendar teus filhos a Deus'. Este tratado de Cipriano foi uma das leituras favoritas da Antiguidade Crist. As atas do Conclio Geral de feso (431) citam vrias passagens, embora desconheamos qualquer traduo grega desta obra".[42]

    "Os remdios para tornar Deus propcio so dados nas palavras do prprio Deus; as instrues divinas tm ensinado o que os pecadores devem fazer: pelas obras da justia de Deus, Este fica satisfeito" (Das Boas Obras e Esmolas, Tratado 8,2).[43]

    LACTNCIO

    Nasceu no norte da frica, por volta do ano 250, de famlia pag. Abraou o Cristianismo provavelmente na Nicomdia. Durante a ltima grande perseguio, em torno do ano 303, viu-se obrigado a abandonar sua ctedra e a exilar-se na Bitnia. Aps o Edito de Milo, Constantino o chamou a Trveris para confiar-lhe a educao de Crispo, seu filho maior. Estima-se que morreu por volta do ano 317.

    Em "Instituies Divinas", fazendo referncia ao livre-arbtrio, adverte que podemos ganhar a vida eterna por nossa virtude ou perd-la por nossos vcios (novamente, nada de "Sola Fides"):

    "Por esta razo, Ele nos deu a vida, a qual podemos: ou perder aquela verdade e vida eterna por nossos vcios; ou ganh-la por nossa virtude" (Instituies Divinas 7,5).

    SANTO HILRIO DE POITIERS

    Bispo, escritor, santo, Padre e Doutor da Igreja, nascido no incio do sculo IV, por volta de 315, em Poitiers (Frana) e falecido nesta mesma cidade no ano 367.

    Santo Hilrio fala de como o perseverar na f tambm um dom de Deus; porm, isso no exclui o livre-arbtrio:

    "Perseverar na f um dom de Deus; porm, o primeiro movimento da f comea em ns. Nossa vontade deve ser tal que propriamente e por si mesma o faa. Deus dar o acrscimo aps termos dado incio. Nossa debilidade tal que no podemos lev-la a termo por ns mesmos; porm, Ele recompensa o incio considerando que foi feito livremente" (Do Salmo 118[119],Nun,20).[45]

    "A debilidade humana impotente se espera conseguir algo por si mesma. O dever de tal natureza apenas este: dar a partida pela vontade, com o fim de aderir ao servio do bem. A misericrdia divina tal que ajudar aos que esto dispostos, fortalecendo aqueles que deram a partida e assistindo aqueles que esto caminhando. A partida, no entanto, parte nossa, tal que Ele possa trazer-nos perfeio" (Do Salmo 118[119],Ain,10).[46]

    Rejeita antecipadamente a doutrina calvinista da predestinao, que atribui a eleio a um juzo divino inescrutvel. Para Santo Hilrio, esta distino se baseia no mrito (novamente, nada de "Sola Fides").

    "Porque, conforme o Evangelho, muitos so os chamados e poucos os escolhidos [...] A eleio, portanto, no questo de juzo acidental. uma distino feita por intermdio de uma seleo baseada no mrito. Feliz, ento, aquele que elege a Deus: bendito em razo dele ser digno da eleio" (Do Salmo 64[65],5).[47]

    SANTO ATANSIO

    Nascido no final do sculo III ou incio do IV. Por volta do ano 320, quando foi ordenado dicono,

  • assistiu ao Conclio de Nicia. Em 328 foi ordenado bispo antes de atingir os 30 anos. reconhecido como doutor da Igreja e campeo da ortodoxia por sua defesa f nicena.

    Afirma que no Juzo saberemos se perseveramos na f e cumprimos os mandamentos:

    "Isto no produto da virtude, nem nenhuma mostra de bondade. Nenhum de ns julga pelo que no sabe e ningum chamado santo por seu aprendizado e conhecimento; porm, cada um ser chamado a Juzo nestes pontos: se manteve a f e realmente observou os mandamentos" (Vida de Santo Anto 33).[48]

    "Ele vir, no a sofrer, mas a nos tornar frutos de sua prpria cruz - a ressurreio e a incorrupo; e j no para ser julgado, mas para julgar a todos, pelo o que cada um fez durante a vida mortal - o bem ou o mal [...] Assim, o prprio Senhor diz: 'Vero o Filho do Homem sentado direita do Poder e vindo nas nuvens do cu, na glria do Pai' [...] Conforme o bem-aventurado Paulo: 'Todos teremos que estar diante do tribunal de Cristo, para que cada um receba pelo que fez em sua vida mortal, seja o bem, seja o mal'" (Da Encarnao do Verbo 56).[49]

    Na sua obra "Contra os Arianos", no captulo 25 do 3 discurso, declara que possvel cair do estado de graa e perder a salvao ao se cometer pecados graves e no fazer penitncia:

    "Como eu disse, visto que a Palavra tem por natureza o Pai, Ele deseja que ela nos seja dada irrevogavelmente pelo Esprito, conforme diz o Apstolo: 'Quem nos separar do amor de Cristo?', pois 'os dons de Deus' e 'a graa de Seu chamado so irrevogveis'. Este o Esprito daquele que est em Deus e no o [esprito] que vemos em ns mesmos; e como somos filhos e 'deuses' porque a Palavra em ns, assim deveramos estar no Filho e no Pai, e sermos considerados um com o Filho e o Pai, porque o Esprito est em ns, o qual est na Palavra e no Pai. Quando, ento, um homem cai do Esprito por qualquer maldade, se se arrepende de ter cado, a graa cai irrevogavelmente sobre este que est disposto; do contrrio, se o que caiu no est mais em Deus - porque o Esprito Santo e Parclito que est em Deus o abandonou - o pecador est naquele [esprito malgno] que o submeteu, como ocorreu no caso de Saul: o Esprito de Deus se afastou dele e um esprito malgno o afligia" (Contra os Arianos 3,25).[50]

    "Portanto, carssimo, a meditao da lei necessria e o contnuo conversar com a virtude, 'para que o santo se encontre perfeito e preparado para toda boa obra'. Por estas coisas, s a promessa da vida eterna, como Paulo escreveu a Timteo, chamando-o ao constante exerccio e meditao, e dizendo: 'Exercita-te para a piedade, porque o exerccio corporal proveitoso para uns poucos, mas a piedade a todos aproveita, porque tm a promessa desta vida presente e da vindoura'" (Carta Festal 11,7).[51]

    SO CIRILO DE JERUSALM

    Nasceu em Jerusalm ou em suas proximidades, por volta do ano 313 ou 315; em 348 j era bispo. Morreu aproximadamente no ano 386.

    Novamente, concebe a salvao a partir de um perspectiva oposta a dos Reformadores. Para se salvar, no deve-se apenas crer, mas perseverar unido a Cristo como o cacho videira; do contrrio, a possibilidade de Jesus nos maldizer por no produzir frutos latente. por isso que o cristo deve produzir frutos para no ser cortado fora:

    "Sois feitos partcipes de uma videira santa: se permaneces na videira, crescers como um cacho frutfero; porm, se no permaneces, sers consumido pelo fogo. Assim, pois, produzamos fruto dignamente. Que no nos suceda o mesmo que aquela videira infrutfera; no ocorra que, ao vir Jesus, a maldiga por sua esterilidade. Que todos possam, ao contrrio, pronunciar estas palavras: 'Eu, porm, como oliveira verde na casa de Deus, confio no amor de Deus para todo o sempre'. No se trata de uma oliveira sensvel, mas inteligvel, portadora da luz. O que prprio d'Ele plantar e

  • regar; a ti, porm, cabe frutificar. Por isso, no desprezes a graa de Deus: guardai-a piedosamente quando a receberdes" (Catequese 1,4).[52]

    SO BASLIO MAGNO

    Nasceu por volta do ano 329 em Cesaria da Capadcia. Chegou a ser um dos Padres da Igreja grega que mais brilharam no sculo IV. Morreu em torno do ano 379.

    Para So Baslio no basta, para se salvar, nem sequer apenas renunciar ao pecado; necessrio ainda os frutos (boas obras):

    "A mera renncia ao pecado no suficiente para a salvao dos penitentes; tambm se requer deles os frutos dignos da penitncia" (Morais 1,3).[53]

    "Quem obedece ao Evangelho deve ser purificado de todas as desonras da carne e do esprito para que possa ser aceitvel a Deus, atravs das boas obras de santidade" (Morais 2,1).[54]

    " em conformidade com os teus mritos o 'estar sempre com o Senhor', se esperar ser arrebatado 'nas nuvens, ao encontro do Senhor no cu, para estar sempre com o Senhor'" (Do Esprito Santo 18).[55]

    Tambm reconhece que aqueles que se salvaram foram fiis. Fala ainda de como aqueles que recebem o Esprito Santo podem ser apartados d'Ele se passarem a viver uma vida pecaminosa:

    "Eles, ento, que foram selados pelo Esprito at o dia da redeno e preservaram puros e intactos os primeiros frutos que receberam do Esprito, ouviro as palavras: 'Muito bem, servos bons! Como fostes fiis no mnimo, tomai o governo de muitas coisas'. Da mesma forma, os que ofenderam o Esprito Santo pela maldade de seus caminhos, ou no forjaram para si o que Ele lhes deu, sero privados do que receberam e sua graa ser dada a outros; ou, conforme um dos evangelistas, sero totalmente cortados em pedaos, cujo significado ser separado do Esprito" (Do Esprito Santo 16,40).[56]

    "Deus o Criador do universo e o Justo Juiz que recomea todas as aes da vida de acordo com os seus mritos" (Homilia 1,4).[57]

    "Espera o descanso eterno os que lutaram atravs da vida, atentos s disposies da lei; no como pagamente devido s suas obras, mas outorgado aos que esperaram n'Ele, como um dom de Deus na magnificncia" (Do Salmo 114,5).[58]

    SO GREGRIO DE NISSA

    Nascido entre 331 e 335 d.C. Foi consagrado bispo em 371 e faleceu em 394.

    Para ilustrar a necessidade no apenas da f como ainda das obras para a salvao, Gregrio usava a figura da armadura do Hoplita, soldado de elite do exrcito grego que possua uma couraa especial que constava de duas placas que protegiam os dois lados do torso. Gregrio compara o Hoplita bem armado de ambos os lados com o cristo que possui f e obras:

    "Paulo, unindo a virtude f e tecendo-as juntas, constri a partir delas a couraa do Hoplita, armando o soldado prpria e seguramente de ambos os lados. Um soldado no pode ser satisfatoriamente considerado armado quando uma parte da armadura no est unida outra. A f sem as obras de justia no suficiente para a salvao, nem tampouco justo viver seguro da salvao em si mesmo, separado da f" (Homilia sobre Eclesiastes 8).[59]

    SANTO AMBRSIO DE MILO

    Padre e doutor da Igreja, nascido no ano 340 e consagrado bispo em 374. Foi tambm um ardente defensor da ortodoxia contra o Arianismo. Morreu no ano 397.

  • Para Santo Ambrsio, as obras sero postas ao juzo de uma balana, decidindo assim se nos salvaremos ou nos condenaremos. Portanto, a vida eterna no se baseia apenas no conhecimento das coisas divinas, mas tambm no fruto das boas obras:

    "Os mritos de cada um de ns sero colocados em uma balana, na qual um pouco de peso, seja de boas obras ou de m conduta ditar seu destino: se o mal prevalece, ai de mim! Se o bem [prevalece], recebe-se o indulto. Nenhum homem est livre do pecado, porm, onde o bem prevalece, o mal se afasta, se obscurece e some. Portanto, no Dia do Juzo nossas obras nos socorrero ou nos lanaro nas profundezas com o peso de uma pedra de moinho" (Carta 2, ao bispo Constncio).[60]

    "Porm, as Sagradas Escrituras dizem que a vida eterna se baseia no conhecimento das coisas divinas e no fruto das boas obras. O Evangelho testemunha destas duas sentenas, pois o Senhor Jesus falou assim quanto ao conhecimento: 'Esta a vida eterna: que Te conheam como nico Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste'. Sobre as obras, deu esta resposta: 'Todo aquele que abandonar casa, irmos, irms, pai, me, esposa, filhos ou terras em razo do meu nome, receber cento por um e herdar a vida eterna'" (Dos Deveres do Clero 2,2,5).[61]

    SO JOO CRISSTOMO

    Considerado um dos quatro grandes Padres da Igreja oriental, nasceu na Sria por volta do ano 347. Foi Patriarca de Constantinopla e morreu em 404 d.C.

    taxativo em recordar que para se ter a vida eterna no basta crer, porque se isto no leva uma vida reta, a f nada vale para a salvao:

    "Disse algum: 'Ento suficiente crer no Filho para se ganhar a vida eterna?' De maneira nenhuma. Escuta esta declarao do prprio Cristo, dizendo: 'Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor' entrar no reino dos cus'; e a blasfmia contra o Esprito suficiente para lanar um homem no inferno. Porm, por que menciono esta parte da doutrina? Ainda que o homem creia devidamente no Pai, no Filho e no Esprito Santo, se no leva uma vida reta, sua f no lhe valer nada para sua salvao. Portanto, quando Ele disse: 'Esta a vida eterna: que Te conheam como nico Deus verdadeiro', no devemos supor que o [conhecimento] de que fala suficiente para a nossa salvao [...] Ainda que aqui Ele diga: 'Aquele que cr no Filho tem vida eterna' [...] todavia nem sequer disto afirmamos que somente a f suficiente para a salvao. E as diretrizes [para a conduta] da vida dadas em muitos lugares do Evangelho demonstram isso" (Homilia sobre o Evangelho de Joo 31,1).[62]

    "Diz Ele: 'No penses que porque creste isto suficiente para a tua salvao [...] a menos que exibas uma conduta inatacvel'" (Homilia sobre a Epstola aos Corntios 23,2).[63]

    SO JERNIMO

    Reconhecido como um dos quatros doutores originais da Igreja latina. Padre das cincias bblicas e tradutor da Bblia para o latim. Presbtero, homem de vida asctica, eminente literato. Nasceu no ano 347 e morreu no ano 420.

    So Jernimo, da mesma forma que os outros Padres, declara que os batizados podem cair do estado de graa e perder sua salvao em razo de suas escolhas pelo livre-arbtrio. Aqueles que por meio da graa suportarem as provas, recebero a coroa da vida:

    "No de acordo com a justia divina esquecer das boas obras e as aes que ministraste e ministras aos santos por seu nome e para recordar apenas os pecados. O Apstolo Tiago tambm, considerando que os batizados podem ser tentados e cair de sua prpria livre escolha, diz: 'Bem-aventurado o homem que suporta a tentao, porque quando for aprovado receber a coroa da vida que o Senhor prometeu queles que O amam'. E no podemos pensar que somos tentados por Deus, como lemos no

  • Gnesis sobre Abrao: 'Que ningum diga, quando for tentado, que tentado por Deus, porque Deus no pode ser tentado pelo mal nem tenta a ningum. Cada um, porm, tentado por sua prpria concupiscncia, que o arrasta e seduz. E aps conceber a concupiscncia, d luz ao pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte'. Deus nos criou com livre-arbtrio e no somos forados pela necessidade nem virtude nem ao vcio. Do contrrio, se no estamos obrigados pela necessidade, no h coroa. Como nas boas obras, Deus quem os traz perfeio, j que no de quem quer, nem do que corre, mas de Deus que piedosamente nos ajuda a ser capazes de atingir a meta" (Contra Joviniano 2,3).[64]

    SANTO AGOSTINHO

    Bispo de Hipona e doutor da Igreja, reconhecido como um dos quatro doutores mais distintos da Igreja latina. Nasceu em 354 e chegou a ser bispo de Hipona durante 34 anos. Combateu duramente todas as heresias de sua poca e morreu no ano 430.

    Santo agostinho muito citado por protestantes (tanto luteranos quanto calvinistas) como um expoente da doutrina da "Sola Fides" e por seus textos relacionados com a predestinao. Particularmente no posso explicar o porqu disso, j que existem tambm textos bem claros do mesmo Agostinho sobre o purgatrio e a orao pelos mortos, doutrinas estas opostas "Sola Fides".

    A maioria dos textos citados por protestantes so textos onde Santo Agostinho combate o Pelagianismo (uma heresia que pregava que o homem se salvava pelas obras e no pela graa). Pelgio seria como o extremo oposto de Lutero (Pelgio pregava "Sola Opus"; Lutero, "Sola Fides" - e Santo Agostinho, a doutrina ortodoxa: a Catlica).

    Um exemplo temos no que se refere ao livre-arbtrio, que Lutero declarou ser "pura mentira" (em "De Servo Arbitrio"). Quando Agostinho acusado pelos pelagianos de negar o livre-arbtrio, defende-se vigorosamente:

    "Afirmas que em outro de meus livros eu disse: 'Nega-se o livre-arbtrio se se defende a graa e nega-se a graa se se defende o livre-arbtrio'. Pura calnia! Eu no disse isso. O que eu disse foi que essa questo apresenta enormes dificuldades que poderia parecer que se nega uma quando se admite a outra. E como minhas palavras so poucas, irei repet-las para que meus leitores vejam como distorces os meus escritos e com que m-f abusas da ignorncia dos retardados e privados de inteligncia, para fazer-lhes crer que me respondeste porque no sabes calar-te. Eu disse no final do primeiro livro, dedicado ao virtuoso Piniano, cujo ttulo 'De gratia contra Pelagium': 'Nesta questo que trata do livre-arbtrio, parece se negar a graa de Deus; e quando se defende a graa de Deus, parece se destruir o livre-arbtrio'. Porm, tu, homem honesto, vers que suprimes as palavras que eu disse e colocas outras de tua inveno. Disse sim que esta questo era difcil de se resolver, no que era impossvel. E muito menos afirmei, como falsamente me acusas, que 'se se defende a graa, nega-se o livre-arbtrio; se se defende o livre-arbtrio, nega-se a graa de Deus'. Citai minhas palavras textuais e evaporam-se as tuas calnias" (Resposta a Juliano 4,47).[65]

    "No certo, como dizes, 'que chamamos pelagianos ou celestianos a todo aquele que reconhece no homem o livre-arbtrio e afirma que Deus o Criador das crianas', mas que damos este nome aos que no atribuem liberdade, qual fomos chamados, a graa divina; e aos que recusam reconhecer Cristo como Salvador das crianas; aos que no admitem nos justos a necessidade de dirigir a Deus petio alguma da orao do Senhor. A estes sim, os chamamos de pelagianos e celestianos, porque participam de seus erros criminosos" (Resposta a Juliano 3,2).[66]

    "Dizes que 'louvo a continncia dos tempos cristos no para suscitar nos homens o amor virgindade, mas para condenar o matrimnio institudo por Deus'. Mas para que ningum acredite, te atormenta a suspeita de uma m interpretao dos meus sentimentos - me dizes - como querendo

  • aprovar: 'Se com sinceridade exortas aos homens virgindade, deves confessar que a virtude da castidade pode ser observada por aqueles que quiserem, de sorte que qualquer um pode ser santo em corpo e esprito'. Respondo que admito isso, mas no no teu sentido. Tu atribuis este poder apenas s foras do livre-arbtrio; eu o atribuo vontade auxiliada pela graa de Deus. No entanto, pergunto: sobre o qu exerce o esprito seu poder para no pecar seno sobre um mal que, se vence, nos faz cair em pecado? E para no ter que dizer, com os maniqueus, que este mal provm de uma natureza m, estranha a ns e com a qual se mistura, resta-nos confessar que existe em nossa natureza uma ferida que necessrio curar e cuja mancha nos torna culpveis se no for lavada pelo sacramento da regenerao (=batismo)" (Resposta a Juliano 5,65).[67]

    Santo Agostinho tambm rejeita a posio calvinista e declara que o homem, por sua prpria eleio, quem perde a graa e se torna mau (Calvino afirmava que quem no for predestinado nunca receber a graa porque, se tiver recebido, no ter como resistir a ela e se salvar).

    "Porm, se algum j regenerado e justificado, por vontade prpria, recair em sua m vida, certamente esse homem no poder dizer: 'Eu no a recebi', porque ele perdeu a graa que recebeu de Deus e por sua prpria e livre escolha tornou-se malvado" (Exortao e Graa 6,9).[68]

    "Ele outorgou o perdo e dar a coroa. Do perdo doador e da coroa devedor; mas por que devedor? Ele recebeu algo? [...] O Senhor faz a Si mesmo devedor no por receber algo, mas por prometer algo. Ningum lhe diz: 'Paga por aquilo que recebeste', mas: 'Paga por aquilo que prometeste'" (Comentrio ao Salmo 83,16).[69]

    Tambm rejeita explicitamente a doutrina da "Sola Fides":

    "Pois bem: se o mau fosse salvo pelo fogo em razo apenas de sua f e se esta fosse a forma como a passagem do bem-aventurado Paulo deveria ser entendida - 'Porm, o mesmo ser salvo, mas como pelo fogo' - ento a f sem obras seria suficiente para se salvar. No entanto, aquilo que o Apstolo Tiago disse seria falso. E tambm falso seria outra frase do mesmo Paulo. Diz ele: 'No se equivoquem: nem os fornicadores, nem os idlatras, nem os adlteros, nem os efeminados, nem os homossexuais, nem os ladres, nem os que cobiam, nem os brios, nem os vilipendiadores, nem os extorsionrios herdaro o reino de Deus'" (Da F, Esperana e Caridade 18,3).[70]

    Talvez a declarao mais clara de Santo Agostinho sobre esta matria encontremos em seu tratado sobre a graa e o livre-arbtrio:

    "[A f sem as boas obras no suficiente para a salvao]

    Pessoas pouco inteligentes, no entanto, a respeito das palavras do Apstolo: 'Entendemos que o homem justificado pela f, sem as obras da lei', pensam que isto quer dizer que a f suficiente para um homem, inclusive quando ele leva uma vida m, sem boas obras. Impossvel [seria pensar] que tal pessoa devesse se julgar receptora da eleio pelo Apstolo, o qual, aps declarar que em Cristo Jesus nem a circunciso nem a incircunciso vale qualquer coisa, mas sim a f que opera pela caridade. essa a f infiel a Deus dos demnios impuros - que inclusive 'crem e tremem', como diz o Apstolo Tiago. Portanto, eles no possuem a f pela qual o homem vive - a f que age pela caridade em tal sabedoria, que Deus a recompensa com a vida eterna conforme as suas obras. Porm, medida que temos nossas boas obras [provindas] de Deus, de quem tambm provm nossa f e nosso amor, o mesmo grande mestre dos gentios atribuiu a vida eterna como um presente de Sua graa.

    Daqui nasce um outro problema de no pouca importncia que, com a graa de Deus, iremos resolver. Se a vida eterna se d com as boas obras, como diz a Escritura com toda a clareza: 'Porque o Filho do Homem [...] pagar a cada um conforme suas obras', como pode ser graa a vida eterna, se a graa no se d por obras, mas gratuitamente, conforme o Apstolo: 'Porm, ao que trabalha, no se lhe conta o salrio como graa, mas como dvida'? E em outro lugar: 'Assim tambm, ainda neste tempo,

  • restou um remanescente eleito pela graa'; e em continuidade: 'E se por graa, j no por obras; de outra forma, a graa j no seria graa'. Portanto, como a vida eterna ser graa se responde s obras? Ou talvez o Apstolo no chame 'graa' vida eterna? mais do que isso: to claramente o afirma que totalmente inegvel. No que esta questo exija um ingnio aguado; basta um ouvinte atento, porque quando diz: 'O salrio do pecado a morte', em seguida acrescenta: 'Mas a ddiva de Deus a vida eterna em Cristo Jesus, Senhor nosso'.

    Este problema, ao que me parece, apenas pode ser resolvido entendendo que nossas boas obras, s quais se d a vida eterna, pertencem tambm graa de Deus. Toda vez que nosso Senhor Jesus Cristo diz: 'Sem mim nada podeis fazer', e o prprio Apstolo, ao dizer: 'Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isto no vem de vs, pois dom de Deus; no por obras, para que ningum se glorie', percebeu que os homens poderiam entender como no necessrias as obras, bastando apenas a f; assim como os homens tambm poderia se gloriar por suas boas obras, como se bastassem a si mesmos para realiz-las. Por isso acrescentou: 'Porque somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais preparou de antemo para que andssemos nelas'. E o que significa isto, que recomendando o Apstolo a graa e assegurando que no provm das obras, para que ningum se glorie, logo d a razo e diz: 'somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras'? Entretanto, repara e entende: no por obras prprias e de tua procedncia, mas como obras nas quais o Senhor te plasmou, isto , te formou e criou, porque isto o que diz: 'somos criaturas suas, criados em Cristo Jesus para as boas obras', no com a criao que deu vida aos homens, mas com aquela outra que j supe ao homem e a que se refere o Salmo: 'Cria em mim, Deus, um corao limpo', e da qual diz o Apstolo: 'De modo que se algum est em Cristo nova criatura; as coisas velhas passaram; eis que aqui todas so feitas novas'. E tudo isso provm de Deus. Somos plasmados, isto , somos formados e criados para as boas obras; no somos ns que as preparamos, mas Deus, para que nelas vivamos. Assim, portanto, carssimos, se nossa vida humana nada mais que graa de Deus, sem dvida que a vida eterna, que se d vida boa, dom de Deus; ambas, por certo gratuitas. Porm, apenas aquela que se d graa; mas a que se d neste caso, j que prmio da vida boa, graa que recompensa outra graa, como retribuio por justia, para que se cumpra, j que verdade que Deus dar a cada um segundo as suas obras" (Da Graa e do Livre-Arbtrio 18-20).[71]

    CONCLUSO

    No difcil de entender, aps tudo o que apresentamos anteriormente, o porqu de Lutero no poder recorrer ao testemunho dos Padres da Igreja, testemunho este que no apenas lhe era hostil, como tambm o declarava herege. Por isso, precisou refugiar-se na "Sola Scriptura" (doutrina que, como vimos anteriormente, tambm era rejeitada unanimemente pela Igreja Primitiva e pelos Padres da Igreja). Porm, nem sequer a [na Bblia] encontram apoio as doutrinas do monge agostiniano. No de se estranhar que chamasse a Carta de Tiago de "epstola de palha" e tentasse [em vo] exclu-la do Novo Testamento, juntamente com a Carta aos Hebreus, a Carta de Judas e o Apocalipse. Mas para justificar a doutrina da "Sola Fides" teria que mutilar metade da Bblia...

    Observao: Gostaria de agradecer aos meus irmos Jorge Baca e Berene, membros do frum de apologtica do site Catholic.Net que me ajudaram a traduzir diversos textos aqui apresentados.

  • -----Notas:(1) Retirado de "Padres Apostlicos", 5 edio. Daniel Ruiz Bueno, BAC 65, pg. 92-93(2) Ibid. pg. 207(3) Ibid. pg. 205(4) Ibid. pg. 185(5) Ibid. pg. 186(6) Ibid. pg. 210(7) Ibid. pg. 198(8) Ibid. pg. 204(9) Ibid. pg. 231(10) Ibid. pg. 209(11) Ibid. pg. 224(12) Ibid. pg. 662-663(13) Ibid. pg. 954(14) Ibid. pg. 955(15) Ibid. pg. 955(16) Ibid. pg. 955-956(17) Ibid. pg. 957(18) Ibid. pg. 977(19) Ibid. pg. 455(20) Ibid. pg. 498(21) Ibid. pg. 500-501(22) Ibid. pg. 462(23) Retirado de "Padres Apologistas Gregos", 2 edio, Daniel Ruiz Bueno, BAC 116, pg. 191-192(24) Ibid pg. 205-206(25) Ibid pg. 199(26) Ibid pg. 228-229(27) Ibid pg. 781(28) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0d.htm(29) Ibid.(30) Retirado de http://www.clerus.org/bibliaclerusonline/es/0a.htm(31) Traduzido de "Stromata / Miscellanies", Chapter XIV; ANF, Vol. IIhttp://www.ccel.org/print/schaff/anf02/vi.iv.vi.xiv(32) Traduzido de "Commentary on Proverbs"; ANF, Vol. V, 174http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.i.vi.i(33) Traduzido de "Against Plato", 3; ANF, Vol. V, 222-223http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iii.iv.ii.iii(34) Traduzida de "Commentary on Romans" [2:5]; Bray, 57-58 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pg. 136(35) Traduzida de "Commentary on Romans" [4:2]; Bray, 109-110 The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pg. 137(36) Traduzida de "Commentary on Romans" 2:25; Bray, 76 desde The Church Fathers Were Catholic, Dave Armstrong, pg. 136(37) Traduzido de "De Principiis", Book III, 1,6 - http://www.newadvent.org/fathers/04123.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.iv.ii(38) Traduzido de "De Principiis" , preface, 5; ANF, Vol. IV, 240) - http://www.ccel.org/print/schaff/anf04/vi.v.i - http://www.newadvent.org/fathers/04120.htm(39) Traduzido de "On the Unity of the Church", 16; ANF, Vol. V, 423 -

  • http://www.newadvent.org/fathers/050701.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.i(40) Traduzido de "On the Lapsed [Treatise III]", 17; ANF, Vol. V - http://www.newadvent.org/fathers/050703.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.iii(41) Retirado de "Patrologa I", Johhanes Quasten, BAC 206, pg 324 - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm(42) Retirado de "Patrologa I", Johhanes Quasten, BAC 206, pg 324(43) Traduzido de "On Works and Alms [Treatise VIII]", 5; ANF, Vol. V - http://www.ccel.org/print/schaff/anf05/iv.v.viii - http://www.newadvent.org/fathers/050708.htm(44) Traduzido de "Divine Institutes", 7:5; ANF, Vol. VII, 200 - http://www.newadvent.org/fathers/07017.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/anf07/iii.ii.vii.v(45) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol I, pg. 386(46) Ibid. pg. 386-387(47) Ibid. pg. 386(48) Traduzido de "Life of Antony"; NPNF 2, Vol. IV, 205 - http://www.newadvent.org/fathers/2811.htm - http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf204.xvi.ii.xi.html(49) Traduzido de "Incarnation of the Word", 56, 4; NPNF 2, Vol. IV, 66 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/vii.ii.lvi(50) Traduzido de "Athanasius, Discourse Against the Arians",3:25 in NPNF2, Vol IV:407 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxi.ii.iv.iii(51) Traduzido de "Athanasius, Festal Letters". Letter XI,7. NPNF2, Vol IV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf204/xxv.iii.iii.ix(52) Retirado de http://www.mercaba.org/tesoro/CIRILO_J/Cirilo_03.htm - A verso em ingls est em "Cyril of Jerusalem, Catechetical Lectures",I:4,NPNF 2,Vol. VII, 7 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf207/ii.v(53) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pg. 142(54) Ibid.(55) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chapter XXVIII; NPNF 2, Vol. VIII) - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xxix - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm(56) Traduzido de "De Spiritu Sancto", Chap. XVI, 40 NPNP 2 Vol VIII, p. 25. - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/vii.xvii - http://www.newadvent.org/fathers/3203.htm(57) Traduzido de Homilia I; NPNF 2, Vol. VIII - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf208/viii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/32011.htm(58) Traduzido de "St. Basil the Great, On Ps. 114", no. 5 en The Faith of the Early Fathers, Vol II, pg. 22(59) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol II, William A. Jurgens, pg. 45-46(60) Traduzida de "The Church Fathers Were Catholic", Dave Armstrong, pg. 144(61) Traduzido de "On the Duties of the Clergy", Book II, 2, 5; NPNF 2, Vol. X - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf210/iv.i.iii.ii - http://www.newadvent.org/fathers/34012.htm - http://www.vatican.va/spirit/documents/spirit_20010605_ambrogio_en.html(62) Traduzido de Homilia XXXI, 1, Por Juan 3:35-36; NPNF 1, Vol. XIV - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf114/iv.xxxiii - http://www.newadvent.org/fathers/240131.htm(63) Traduzido de Homilia XXIII, on Corinthians NPNF1: Vol. XII, p. 133 - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf112/iv.xxiv(64) Traduzido de "Against Jovinian", Book II, 3; NPNF 2, Vol. VI - http://www.newadvent.org/fathers/30092.htm - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf206/vi.vi.II(65) Retirado de "Obras Completas de San Agustn" XXXV. BAC 457, pag 703(66) Ibid. pag 574(67) Ibid. pag 825(68) Traduzido de "The Faith of the Early Fathers", Vol III, William A. Jurgens, pg. 157

  • (69) Ibid. pg. 19(70) Traduzido de "Enchiridion of Faith, Hope, and Love", Chapter XVIII, paragraph 3; NPNF 1, Vol. III - http://www.ccel.org/print/augustine/enchiridion/chapter18(71) Traduzido de "On Grace and Free Will" XVIII-XX NPNF1 Vol V - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xviii - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xix - http://www.ccel.org/print/schaff/npnf105/xix.iv.xx - http://www.newadvent.org/fathers/1510.htm

    Fonte: http://www.apologeticacatolica.org; traduo: Carlos Martins Nabeto

    http://www.veritatis.com.br/patristica/patrologia/437-a-qsola-fidesq-a-igreja-primitiva-e-os-padres-da-igreja

    31/05/15 09:10h

    A "Sola Fides somente a f", a Igreja primitiva e os Padres da Igreja