Soluções das Equações de Campo de Einstein para...

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Soluções das Equações de Campo de Einstein para Fluidos Perfeitos Estáticos com Simetria Esférica Ivo Daher Orientador: James E. F. Skea Rio de Janeiro, julho de 2008. Universidade do Estado do Rio de Janeiro Pós-Graduação em Física Dissertação de Mestrado PPGF-M.04/08

Transcript of Soluções das Equações de Campo de Einstein para...

Soluções das Equações de Campo de

Einstein para Fluidos Perfeitos Estáticos

com Simetria Esférica

Ivo Daher

Orientador: James E. F. Skea

Rio de Janeiro, julho de 2008.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Pós-Graduação em Física

Dissertação de Mestrado PPGF-M.04/08

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i

Dissertação de Mestrado submetida à Universidade do Estado do Rio de Janeiro

sob orientação do Pesquisador Dr. James E. F. Skea para obtenção do título de Mestre

em Física por

Ivo Martins Daher

ii

A meus queridos pais, Jorge e Luzia.

iii

Agradecimentos

A Deus, Aquele que esteve e está comigo em todos os momentos.

Aos meus pais pelo amor incondicional.

Aos meus fantásticos irmãos, Alex e Kevin, pela infinita cumplicidade e

amizade!

Aos meus avós, tios e primos: minha família, inesgotável fonte de confiança.

Ao meu orientador, Jim, pela sua dedicação, atenção e enorme boa vontade em

transmitir conhecimento.

Ao Luís Antônio por sua imensa colaboração.

Aos meus amigos que estiveram por perto todo o tempo.

A todos aqueles do PPGF - UERJ e da biblioteca do IF que sempre colaboraram.

Ao apoio financeiro da CAPES.

iv

Resumo

Nesta dissertação, procuramos soluções exatas das equações de campo de

Einstein em Relatividade Geral que descrevem um fluido perfeito em um espaço-tempo

estático com simetria esférica.

A técnica utilizada para encontrar essas soluções é o algoritmo de Kovacic, que

pode ser aplicado a equações diferenciais ordinárias lineares e homogêneas de segunda

ordem com coeficientes racionais. Esse algoritmo é capaz de nos dar soluções fechadas

em termos de funções liouvillianas, se tal equação tiver esse tipo de solução.

Para esse fim, vários sistemas de coordenadas foram investigados até encontrar o

que fosse mais adequado à aplicação do algoritmo.

Impondo que a função da métrica 11g seja racional, ficamos com uma equação

diferencial linear e homogênea de segunda ordem que tem coeficientes racionais. Nesse

trabalho, as formas arbitradas foram:

( ) ( )( )( )

( ) ( )( ) ( )

111

1

111

1 2

1 211

1

1 211

1 2

,4

,4

e4

4

x zg

x x Z

x zg

x x Z x Z

x z x zg

x x Z

x z x zg

x x Z x Z

−Α= −−

−Α= −− −

− −Α= −−

− −Α= −− −

onde x é uma coordenada espacial da métrica e 1 2 1 2, , , Z e Zz zΑ são parâmetros dos

modelos.

Depois de obter soluções analíticas, verificamos se elas satisfazem determinadas

condições físicas e, então, poderiam ser utilizadas como modelos de estrelas de nêutrons

sem rotação (estrelas de alta densidade).

v

Abstract

In this work we study static perfect fluid space-times with spherical symmetry

within the framework of General Relativity using a coordinate system in which the

equation of pressure isotropy is a linear first-order ordinary differential equation in

terms of one of the functions of the metric, and a linear second-order differential

equation in the other metric function.

Imposing a rational ansatz for the metric function 11g , we obtain an ordinary

differential equation for the remaining metric function which is linear, homogeneous

and of second-order with rational coefficients. The ansätze proposed by us are:

( )( )( )( )

( )( )( )( )

111

1

111

1 2

1 211

1

1 211

1 2

,4

,4

and4

4

x zg

x x Z

x zg

x x Z x Z

x z x zg

x x Z

x z x zg

x x Z x Z

−Α= −−

−Α= −− −

− −Α= −−

− −Α= −− −

where x is a spacial coordinate and 1 2 1 2, , , Z and Zz zΑ are parameters of the models.

These ansätze produce exactly the type of differential equation whose closed-

form liouvillian solutions, if such exist, can be found by applying Kovacic's algorithm.

After applying this algorithm we verified if the solutions satisfy physical

conditions which mean they could be used as models for non-rotating neutron stars,

where the relativistic effects of the high density are expected to be important.

vi

Índice

Introdução ....................................................................................................................... 1 1. Relatividade Geral ...................................................................................................... 4

1.1. Espaços-Tempos Estáticos com Simetria Esférica ................................................ 8 2. Fluidos Perfeitos ......................................................................................................... 9

2.1.Outros Sistemas de Coordenadas ......................................................................... 12 2.2.Ansätze ................................................................................................................. 15

3.Algoritmo de Kovacic ................................................................................................ 17

3.1.Introdução à Teoria de Galois Diferencial ........................................................... 17 3.2.Descrição do Algoritmo ....................................................................................... 19

4.Aplicação do Algoritmo............................................................................................. 26

4.1.Ansatz 1-1 ............................................................................................................. 26 4.2.Ansatz 1-2 ............................................................................................................. 30 4.3.Ansatz 2-1 ............................................................................................................. 31 4.4.Ansatz 2-2 ............................................................................................................. 35

5.Soluções e Análise Física ........................................................................................... 39

5.1.Ansatz 1-1 ............................................................................................................. 39 5.2.Ansatz 1-2 ............................................................................................................. 47 5.3.Ansatz 2-2 ............................................................................................................. 50

6.Conclusão ................................................................................................................... 55 Apêndices ....................................................................................................................... 57

Apêndice A - Introdução à Álgebra ............................................................................ 57 Apêndice B - Teoremas Utilizados pelo Algoritmo de Kovacic ................................ 67

Referências .................................................................................................................... 69

vii

Lista de figuras

Tensor Energia-Momento. ............................................................................................. 6 Ansatz 1-1

Pressão para N = 0. ...................................................................................................... 40 Densidade e pressão para N = 0. ................................................................................. 40 Estabilidade Radial com N = 0. ................................................................................... 40 Causalidade com N = 0. .............................................................................................. 40 Pressão para N =2. ....................................................................................................... 41 Densidade e pressão para N = 2. ................................................................................. 41 Estabilidade Radial com N = 2. ................................................................................... 42 Causalidade com N = 2. .............................................................................................. 42 Pressão para N =3. ....................................................................................................... 43 Densidade e pressão para N = 3. ................................................................................. 43 Estabilidade Radial com N = 3. ................................................................................... 43 Causalidade com N =3. ............................................................................................... 43

Ansatz 1-2

Grandezas com 2 1 1 20, 2,7, 0,1 e 5C u V V= = − = = − . ............................................... 49

Grandezas com 2 1 1 20, 14, 1 e 20C u V V= = − = = − . .................................................. 49

Grandezas com 1 1 1 20, 4,7, 0,1 e 5C u V V= = − = = − . ................................................ 49

Grandezas com 1 1 1 20, 18, 1 e 20C u V V= = − = = − . .................................................. 49

Ansatz 2-2

Solução 1 com 1 4Z = . ................................................................................................ 51

Solução 1 com 1 5Z = − . .............................................................................................. 51

Solução 2 com 1 10Z = . ............................................................................................... 52

Solução 2 com 1 90Z = − . ............................................................................................ 52

viii

Lista de tabelas Tabela 1 - ( )f x . .......................................................................................................... 44

Tabela 2 - ρ . ............................................................................................................... 44

Tabela 3 - p . ............................................................................................................... 45

1

Introdução

Nesta dissertação, procuramos soluções exatas das equações de campo de

Einstein que descrevem um fluido perfeito com simetria esférica num espaço-tempo

estático e que podem ser usadas na modelagem exata de configurações esféricas de

matéria de alta densidade.

As soluções das equações de Einstein descrevem o espaço-tempo através de suas

métricas, nas quais são escritas todas as componentes do tensor métrico, que

simbolizam matematicamente a geometria do espaço-tempo.

Soluções exatas permitem que sejam estudadas as propriedades físicas dos

espaços-tempos descritos sem recorrer à integração numérica de uma equação

diferencial ordinária. Tal fato possibilita a análise da dependência de aspectos físicos

em parâmetros que podem aparecer nesse tipo de solução.

O ponto de partida para o estudo de fluidos perfeitos com simetria esférica é a

escolha de um sistema de coordenadas que represente o espaço-tempo estático no qual

as simetrias sejam bem aproveitadas.

A opção do sistema de coordenadas feita nesta dissertação levou em conta a

transformação de Buchdahl [1] para uma métrica adequada à descrição de objetos que

apresentam simetria esférica. Com esta escolha, a equação de isotropia de pressão tem a

forma de uma equação diferencial ordinária linear e homogênea em duas de suas

funções, sendo para uma delas de primeira ordem e, para outra, de segunda ordem.

Para obter soluções de fluidos perfeitos com simetria esférica de forma fechada,

o caminho mais comum seguido pelos artigos publicados em torno do assunto [2,3]

parte de um ansatz (palavra vinda do alemão, que significa "proposição" ou "forma

proposta") para um coeficiente da métrica e procura pelo outro coeficiente métrico. Esse

caminho significa tentar resolver uma equação diferencial que pode ser de primeira ou

segunda ordem, de acordo com o coeficiente da métrica sobre o qual foi imposto o

ansatz.

2

Dentro desse método, a escolha mais tradicional é impor a forma do coeficiente

métrico que reduz a equação diferencial à primeira ordem e, então, resolvê-la

encontrando o outro coeficiente métrico. A opção pela análise da equação de primeira

ordem se deve, basicamente, por ser mais simples de encontrar sua solução.

Já que a equação de primeira ordem foi investigada mais a fundo do que a de

segunda ordem, optamos por analisar as conseqüências da imposição do ansatz para o

coeficiente métrico que implicaria na equação diferencial de segunda ordem e estudar

essa equação.

A solução para a equação de primeira ordem tem um parâmetro livre adicional

(vindo da integração), enquanto que a nossa abordagem resolvendo uma equação de

segunda ordem poderá apresentar dois parâmetros livres adicionais (constantes de

integração).

Na procura dessas soluções fechadas nessas equações, optamos por propor

ansätze de forma que os coeficientes da equação diferencial em questão fossem funções

racionais e, desse modo, pudéssemos fazer uso do algoritmo de Kovacic [4]. Por função

racional entendemos razão de polinômios.

Para que representem um fluido perfeito com simetria esférica num espaço-

tempo estático e descrevam modelos de estrelas de seu centro, 0r = , até sua superfície,

sr r= , a densidade, ( )rρ , e a pressão, ( )p r , escritas aqui em função da coordenada

radial, r, devem satisfazer, pelo menos, as seguintes condições [5,6]:

1. (0)p e (0)ρ finitas (I.1)

2. ( ) 0p r ≥ (I.2)

3. ( ) ( )r p rρ ≥ (I.3)

4. ( )

0dp r

dr≤ e

( )0

d r

dr

ρ ≤ (I.4)

5. ( )

0( )

dp r

d rρ≥ (I.5)

3

6. ( )

1( )

dp r

d rρ< (I.6)

7. ( ) 0sp r = , (0, )sr ∈ ∞ (I.7)

Soluções que satisfazem a condição (1) são chamadas regulares no centro.

A condição (2) é imposta já que não estamos considerando matéria exótica. O

mesmo se aplica à densidade.

Com a condição (3), estamos excluindo matéria ultrabárica. É a chamada

condição de energia fraca.

Para ser estável com respeito a perturbações radiais, a pressão e a densidade não

podem aumentar no sentido do centro até a superfície da estrela - condição (4).

A condição (5) pode ser entendida como uma implicação da condição (4), mas

também é conseqüência do fato de que a velocidade do som no meio ( )12

sv dp dρ=

não deve ser imaginária. Espera-se também que sv não seja maior que a velocidade da

luz ( 1sv < em unidades naturais, que iremos adotar), que seria uma violação da

causalidade - condição (6).

Na hipótese da condição (7) não ser satisfeita em determinada solução, a métrica

designada por esta pode descrever apenas uma camada finita da estrela, não a

representando por inteiro. Nesse caso, ela pode ser unida, a partir de determinada

superfície, a outra solução que apresente ( ) 0sp r = .

A condição para a densidade no centro, (0)ρ , será avaliada na expansão em

série de Laurent antes da aplicação do algoritmo, pois simplificará sua aplicação

posterior ao fixar uma das constantes do ansatz proposto para 11g . Todas as outras serão

avaliadas após a obtenção da solução da equação de isotropia de pressão, quando

teremos conhecido todas as funções da métrica.

4

1. Relatividade Geral

A Teoria da Relatividade Geral aponta a extensão do princípio da relatividade de

referenciais em movimento uniforme (Relatividade Restrita) para a relatividade do

movimento mesmo entre referenciais acelerados. A idéia central é o Princípio de

Equivalência, o qual diz que sistemas acelerados e sistemas sujeitos a campos

gravitacionais são equivalentes [7,8].

Vamos, inicialmente, definir a notação adotada ao longo deste trabalho:

Convenção de Soma de Einstein: quando aparecem dois índices literais repetidos,

está implícita a soma sobre todos os valores possíveis desses índices, a não ser que

seja dito o contrário.

Índices latinos com letras minúsculas têm valores que vão de zero a três (zero

representa a coordenada tipo-tempo).

Índices latinos com letras maiúsculas representam valores que vão de um a três,

simbolizando as três coordenadas espaciais.

Uma linha ( ) ′ representa diferenciação total com respeito à variável independente

explícita da função que recebe esse símbolo.

Serão usadas unidades relativísticas onde 1c G= = , com c sendo a velocidade da

luz no vácuo e G a constante gravitacional.

As grandezas da Relatividade Geral que serão abordadas no desenvolvimento

estão apresentadas a seguir.

O Tensor Métrico é utilizado para expressar o conceito de intervalo do espaço-

tempo. Ele pode aparecer nas seguintes formas:

• Covariante: ijg

• Contravariante: ijg

• Misto: i ij jg δ=

5

onde ijδ é o delta de Kronecker.

Esse tensor descreve a métrica pela relação com o quadrado do elemento de

linha através de:

2

i j ij i jij i j j ids g dx dx g dx dx dx dxδ= = =

Os Símbolos de Christoffel são derivados do tensor métrico e existem de duas

maneiras:

Do primeiro tipo: 1

2lj jklk

ljk k j l

g gg

x x x

∂ ∂ ∂Γ = + − ∂ ∂ ∂ (1.1)

Do segundo tipo:

i iljk ljkgΓ = Γ (1.2)

O Tensor de Curvatura (ou tensor de Riemann-Christoffel) descreve a

mudança num vetor quando este é transportado paralelamente num contorno fechado.

Ele pode ser escrito em termos do símbolo de Christoffel:

lljil m l m lik

ijk ik jm ij kmj k

Rx x

∂Γ∂Γ= − + Γ Γ − Γ Γ∂ ∂

(1.3)

Contraindo o primeiro e o terceiro índices do tensor de Riemann, definimos as

componentes covariantes do Tensor de Ricci:

k km

ij ikj mikjR R g R= = (1.4)

A partir do tensor de Ricci, podemos, ainda, definir o Escalar de Ricci

contraindo seus dois índices:

i iji ijR R g R= = (1.5)

As componentes covariantes do Tensor de Einstein são definidas por:

12ij ij ijG R g R= − (1.6)

6

Pode ser provado que o tensor de Einstein apresenta simetria em relação aos seus

dois índices e que sua derivada covariante é nula [8].

O Tensor Energia-Momento é utilizado para descrever a densidade de energia

e momento contidos em uma superfície e o fluxo de energia e de momento através dessa

superfície. Ele é a fonte do campo gravitacional na Relatividade Geral, análogo à massa

(ou sua densidade) da Teoria de Newton. Podemos identificar suas componentes da

seguinte forma:

Figura 1. Componentes do Tensor Energia Momento.

Ainda podemos separar o fluxo de momento em 2 partes: as componentes

11 22 33, , T T T indicam a pressão e as outras componentes, a viscosidade.

Assim como o tensor de Einstein, o tensor energia-momento apresenta simetria

em relação aos seus índices e derivada covariante nula, esse segundo aspecto originário

da conservação local de energia e momento. Cabe apontar também que Fluxo de

Energia e Densidade de Momento significam a mesma coisa fato evidente pela simetria

mencionada.

A Teoria da Relatividade Geral relaciona a métrica de um sistema de

coordenadas (através do tensor de Einstein), em outras palavras, a geometria, à matéria

ao observar que tanto o tensor energia-momento como o tensor de Einstein têm

divergente nulo. Esse fato sugere que:

ij ijG Tκ= (1.7)

7

Para determinar a constante κ recorremos à proposição de que a Teoria da

Relatividade Geral deve se reduzir à Teoria da Relatividade Restrita na ausência de

campos gravitacionais. Indo mais além, podemos dizer que a Relatividade Geral deve

tornar-se aproximadamente a Relatividade Restrita para campos gravitacionais fracos.

O resultado aparece quando chegamos à comparação da componente zero-zero

da equação (1.7) com a equação de Poisson para o potencial gravitacional na Teoria

Newtoniana. Em unidades relativísticas podemos reescrever a equação (1.7) como:

8ij ijG Tπ= (1.8)

Além do tensor de Einstein e do momento-energia, o tensor métrico ijg também

apresenta divergente nulo. Portanto, pode ser acrescentado um múltiplo constante desse

termo a qualquer um dos lados da equação (1.8) que não será alterada a propriedade do

divergente nulo.

Com essa última proposição, obtemos finalmente a equação da Relatividade

Geral que sintetiza a interação da matéria com a geometria:

8ij ij ijG g Tπ+ Λ = (1.9)

onde Λ é a constante cosmológica. Esta é a conhecida Equação de Campo de

Einstein.

Usualmente, se não estamos levando em conta efeitos na escala cosmológica,

como é o nosso caso, assumimos 0Λ = , uma vez que se existir uma constante

cosmológica, essa constante deve ter valor extremamente pequeno. Assim sendo,

podemos entender a Equação de Campo de Einstein como a equação (1.8).

Tendo em mente as definições (1.1) - (1.6), podemos perceber claramente o

caráter não-linear da equação (1.8). Fundamentalmente por esse motivo, as Equações de

Campo de Einstein apresentam poucas soluções exatas com interpretação física em

termos de distribuição de matéria: se não houver restrições impostas ao tensor energia-

momento qualquer métrica é uma solução da equação (1.8); porém, se tivermos

8

interessados em um tensor energia-momento que possa descrever um objeto com

interpretação física, as soluções, de fato, restringem-se a um grupo pequeno.

1.1. Espaços-Tempos Estáticos com Simetria Esférica

Apesar de consideravelmente simples, sistemas com simetria esférica são

fisicamente relevantes já que muitos objetos importantes em astrofísica são

aproximadamente esféricos.

Para uma métrica ser dita estática é sempre possível escolher um sistema de

coordenadas tal que os coeficientes 0Ig são nulos.

Na ausência de massa (Relatividade Restrita), uma maneira de escrever a

métrica de Minkowski que mostra explicitamente as simetrias esférica e estática é:

² ² ² ² ²ds dt dr r d= − − Ω

onde ² ² sen² ²d d dθ θ φΩ = + .

Já para descrever espaços-tempos estáticos com simetria esférica nos quais

apareçam efeitos gravitacionais, devemos admitir que os coeficientes métricos podem

depender de r. Para corresponder a essa intenção, o procedimento mais freqüente é

adotar as coordenadas de Schwarzschild [9].

Nas coordenadas de Schwarzschild, a métrica é diagonal, isto é, os únicos

elementos não-nulos são os que pertencem à diagonal principal, que podemos escrever

como 0ijg = se i j≠ . Sua métrica é representada por:

( )2 ( ) 2 ( ) 2 2 2 2 2senr rds e dt e dr r d dν λ θ φ= − − + (1.10)

seguindo a convenção com assinatura do tipo ( ), , ,+ − − − .

9

2. Fluidos Perfeitos

De maneira geral, um fluido é um tipo específico do continuum, que, por sua

vez, é um conjunto de partículas tão numeroso que se torna impossível estudar a

dinâmica de cada partícula separadamente, e a descrição desse tipo de meio se dá

através de uma média entre as partículas para grandezas como densidade de energia,

densidade de momento, temperatura, pressão, entre outras [7].

Diversas situações interessantes à astrofísica podem ser modeladas como fontes

de fluidos perfeitos. Em geral, podemos dizer que fluido é uma substancia que pode se

deformar continuamente. Podemos dizer ainda que um fluido é caracterizado pela

fraqueza das forças que evitam os deslizamentos entre os elementos formadores desse

meio flexível quando comparadas às forças de atração e repulsão entre tais elementos.

Um fluido perfeito é definido como aquele em que todas as forças paralelas à

superfície de contato entre os componentes desse meio são nulas só havendo força na

direção determinada pela linha que une os elementos adjacentes, a qual razão por

unidade de área chamamos pressão.

Situando estes conceitos na Teoria da Relatividade Geral, definimos um fluido

perfeito como um meio em que a viscosidade e a condução de calor são nulas em um

sistema de coordenadas que se move juntamente com o fluido. Essa é uma

generalização de gás ideal da Termodinâmica Clássica.

O fato de não haver condução de calor quer dizer que só pode haver fluxo de

energia se houver fluxo de partículas. Logo, num referencial co-móvel com o fluido,

teremos 0 0 0i iT T= = . A ausência de viscosidade acarreta que as componentes IJT , com

I J≠ também são nulas num referencial co-móvel.

Como podemos notar, essas duas condições fazem com que o tensor energia-

momento descrito em um sistema de coordenas que se move junto com o fluido seja

bastante simplificado, que passa a ser descrito por três grandezas: a quadri-velocidade, a

densidade e a pressão.

Então, finalmente apresentamos o Tensor Energia-Momento para um fluido

perfeito escrito em um referencial co-móvel:

10

( )ij i j ijT p u u g pρ= + −

onde i

i dxu

ds= é a quadri-velocidade do meio.

Vamos, então, apresentar o desenvolvimento para escrever a equação de

isotropia de pressão fazendo uso das coordenadas de Scharzschild.

Como estamos estudando fluidos perfeitos estáticos, podemos supor que

( )1,0,0,0iu = .

O tensor energia-momento misto é:

( ) i i ij j jT p u u pρ δ= + − .

Agora, para 0i j= = , escrevemos:

( )0 0 0 0 0 0T p u u pρ δ= + − .

Como 00 1u u = e 0

0 1δ = :

0 0T ρ=

Para quaisquer outras combinações de i e j, teremos:

0iju u =

e então

i ij jT pδ= − para i ou j 0≠ .

Assim, concluímos que as únicas outras componentes não-nulas do tensor

energia-momento são:

AAT p= −

onde a convenção de soma de Einstein está suspensa.

Podemos escrever então:

1 2 3 1 2 3T T T= = (2.1)

11

Como 8a a

b bG Tπ= , temos que a relação (2.1) implica em:

1 2 3 1 2 3G G G= =

A definição do tensor de Einstein misto:

12

a a ab b bG R Rδ= −

nos leva a:

1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3G G G R R R= = → = =

Para obtermos os tensores de Ricci mistos basta fazermos:

a acb cbR g R=

e usando a definição do tensor de Ricci covariante:

1 1 1 1 1 1

a a ba abR g R g R= =

Como estamos usando uma métrica diagonal, os termos não-nulos aparecem

quando 1a = :

1 11 11 1 11 1 1 1 11 1 1

1

bbb c b c bb

b bc b cb

R g R gx x

∂Γ∂Γ= = − + Γ Γ − Γ Γ ∂ ∂

Os símbolos de Christoffel do segundo tipo não-nulos para a métrica (1.10) são:

1 00

´

2

eν λν −

Γ =

0 01

´

2

νΓ =

1 11

´

2

λΓ =

2 3 12 13

1

rΓ = = Γ

1 22 re λ−Γ = −

3 23 ctg( )θΓ =

1 2 33 sen ( )r e λθ −Γ = −

2 33 sen( )cos( )θ θΓ = −

que apresentam simetria em relação à troca dos índices covariantes (índices inferiores).

12

Então obtemos:

21 1

´ ´ ´ ´ ´

2 4 4R e

rλ ν λ ν λ ν−

= − − + + −

Analogamente para 2 2R e 3 3R :

2 2 3 2 3

´ ´1

2 2

r e r eR r e R

λ λλλ ν− −

− − = − − − + =

Assim, 1 2 1 2R R= implica em:

2

2

11

2 4 4 2 2

r e r ee e

r r

λ λλ λν λ ν λ ν λ ν− −

− −′′ ′ ′ ′ ′ ′ ′ − + + − = − − +

que é a equação de pressão isotrópica – assim denominada pois tem seu ponto de partida

na relação (2.1) – em um fluido perfeito com simetria esférica nas coordenadas de

Schwarzschild.

Para a métrica (1.10), a equação de isotropia de pressão, como vemos acima, não

é linear. Então, procuramos outra forma da métrica para a qual esta equação seja linear

de forma que tenhamos melhores meios de obter suas soluções.

2.1.Outros Sistemas de Coordenadas

Uma alternativa para obtermos uma equação diferencial linear é a utilização da

transformação de coordenadas de Buchdahl [1]:

2

( )2

( )

( )

1 2 ( )

r

r

x r

x e

xw x e

ν

λ

ς−

≡− ≡

Nesse sistema de coordenadas o quadrado do elemento de linha fica escrito

como:

13

( )2 2 2 2 2 2 21

sen ( )4 1 2

ds dt dx xd x dx xw

ζ θ θ φ= − − −−

Desta maneira, a equação de isotropia de pressão assume a seguinte forma:

1(1 2 ) ( ) 02xw xw w wζ ζ ζ′′ ′ ′ ′− − + − = (2.2)

A equação (2.2) é linear tanto para w como para ζ , separadamente, sendo de

primeira ordem em w e de segunda para ζ . Assumindo uma forma para a componente

00g do tensor métrico (e conseqüentemente para a função ζ ), poderíamos estudar a

equação de primeira ordem para w . Porém esta abordagem já foi analisada em trabalhos

anteriores [2,3] e, por isso, optamos por estudar a equação de segunda ordem.

Sendo uma equação diferencial ordinária linear e homogênea de segunda ordem

em ζ , a equação (2.2) pode ser investigada usando o algoritmo de Kovacic [4] desde

que os seus coeficientes sejam funções racionais.

Após refletir um pouco, podemos ver que para satisfazer esta última condição,

basta que w seja uma função racional, o que significa que o coeficiente métrico 11g

também será. Para tentar evidenciar essa afirmação, podemos reescrever a equação (2.2)

como:

01 2 2(1 2 )

xw w w

xw xwζ ζ ζ′ ′+′′ ′− − =

− − (2.2a)

Seguindo neste caminho, podemos ver que as posições dos pólos da equação

(2.2a) dependem da escolha da forma de w . Como veremos posteriormente, o cálculo

desses pólos é fundamental para a aplicação do algoritmo de Kovacic.

Naturalmente, pensamos em escrever w como uma função racional com as

seguintes formas

( )

( )11 0

2

0 1

ou

NNn

nnnn

M Mm

m mm m

x za xP

wP b x x Z

==

= =

−= = Α

∏∑

∑ ∏.

onde N e M são os graus do numerador e denominador de w, respectivamente.

14

Acontece que tanto com a primeira forma acima (dita expandida) como com a

segunda (dita fatorada), os pólos de (2.2a) são difíceis de calcular.

Como nosso alvo é exclusivamente a equação de segunda ordem, para contornar

essa dificuldade procuramos novas formas da métrica que preservassem a linearidade da

equação diferencial em ζ , não importando que a equação de primeira ordem não fosse

mais linear. Ao mesmo tempo, também é de nosso interesse que os pólos gerados para a

equação de isotropia de pressão fossem mais simples de calcular, o que torna a

aplicação do algoritmo mais factível.

Um outro comentário pertinente nesse momento é a respeito da coordenada x

proposta na transformação de Buchdahl. Como 2x r≡ , fazendo uso de polinômios nessa

coordenada estamos, automaticamente, desprezando as potências ímpares na função

racional 11g e, aparentemente, fazendo uma proposição menos geral.

Por esse motivo, investigamos a volta para coordenadas em r no lugar de x.

Apesar de ganharmos termos (e parâmetros), esta alteração mostrou-se ineficaz, uma

vez que, inesperadamente, todos os coeficientes das potências ímpares em r mostravam-

se nulos nos casos em que equação de isotropia de pressão apresentou soluções

liouvillianas e com interpretação física. Já que a única conseqüência da inclusão de

potências ímpares de r, aparentemente, era complicar a análise, consideramos que x é a

melhor opção para o nosso objeto de estudo. Essa característica merece mais atenção em

uma investigação futura.

Por fim, chegamos a uma métrica julgada mais apropriada à investigação da

equação de isotropia de pressão usando a coordenada x de Buchdahl, porém com 11g

numa forma que conduz a pólos mais simples da equação (2.2a).

A transformação adotada em relação às coordenadas de Schwarzschild é

2

( )2

( )

( ) ( )

( )

r

r

x r

f x e x

F x e

ν

λ

ζ

≡ =≡

15

Desta maneira, a métrica fica escrita como:

2 2 2 2 2 2 2sen ( )4

Fds f dt dx xd x d

xθ θ φ= − − −

e a equação de isotropia de pressão:

( )2 2 24 2 0x Ff x F f F F F f′ ′′′ ′− − − + = . (2.3)

Então, a partir de um ansatz na forma de uma função racional para F podemos

estudar a equação diferencial ordinária linear e homogênea de segunda ordem

encontrada para f através do algoritmo de Kovacic, pois com F racional teremos

assegurado que os coeficientes da equação diferencial também serão funções racionais.

Com a adoção dessa métrica, temos que a densidade é descrita por:

2

2

2xF F F

xFρ

′ + −= (2.4)

Já a pressão, pode ser escrita de duas formas:

( )4 1xf F f

pxFf

′− + −= − (2.5a)

( )

2

4 2 2xFf xF F f F fp

F f

′′ ′ ′ ′− + − += − (2.5b)

2.2.Ansätze

Para investigar a forma que a equação de isotropia de pressão assume de acordo

com 11g , poderíamos escrever os polinômios da função racional F na forma expandida

ou na forma fatorada.

Testamos as duas formas e constatamos que a utilização da forma fatorada

facilita a aplicação do algoritmo de Kovacic, uma vez que seus pólos ficam mais

evidentes e simples de calcular.

Então, propomos quatro ansätze para F:

1. 1

1

x z

x Z

−Α−

(Ansatz 1-1)

16

2. ( )( )

1

1 2

x z

x Z x Z

−Α− −

(Ansatz 1-2)

3. ( )( )1 2

1

x z x z

x Z

− −Α

− (Ansatz 2-1)

4. ( )( )( )( )

1 2

1 2

x z x z

x Z x Z

− −Α

− − (Ansatz 2-2)

onde 1 2 1 2, , , e z z Z ZΑ são constantes.

Ansätze para graus maiores no numerador e denominador de F fazem com que a

aplicação do algoritmo se torne extremamente trabalhosa pois a equação diferencial

ganha novos pólos.

Os passos desenvolvidos para as funções propostas estão apresentados em

seqüência.

17

3.Algoritmo de Kovacic

Neste capítulo, além da descrição do algoritmo, será feita uma breve introdução

à Teoria de Galois Diferencial onde serão apresentadas algumas definições importantes

à compreensão do funcionamento do algoritmo de Kovacic [10,11,12,13].

3.1.Introdução à Teoria de Galois Diferencial

Um corpo diferencial ( ),k δ é um corpo k equipado com uma derivação δ em k.

Escrevemos também ( )ny em vez de ( )n yδ e , ,y y′ ′′… ao invés de ( ) ( )2, ,y yδ δ … .

O corpo das constantes | 0c k c′∈ = é denotado por C. Por uma equação diferencial

( ) 0L y = sobre k sempre queremos dizer uma equação diferencial linear homogênea

ordinária

( ) ( ) ( )11 1 0( ) ... 0 .n n

n iL y y a y a y a y a k−− ′= + + + + = ∈

A seguir, vamos estudar soluções de ( ) 0L y = em uma extensão do corpo

diferencial k. Uma extensão de um corpo diferencial ( ),k δ é um corpo diferencial

( ),K ∆ , tal que K é uma extensão de k e ∆ uma extensão da derivação δ em k em uma

derivação K. O grupo de Galois diferencial ( )G K k da extensão diferencial K do corpo

k é o conjunto de k-automorfismos (ou seja, automorfismos que deixam os elementos de

k fixos) de K que comutam com a derivação K. Existe uma única maneira de estender a

derivação em k em uma derivação em uma extensão diferencial.

Definição 1.1 Uma extensão diferencial ( ),K ∆ de um corpo ( ),k δ é uma

extensão liouvilliana se existe uma torre de corpos

0 1 ... mk K K K K= ⊂ ⊂ ⊂ =

18

onde 1iK + é uma extensão simples do corpo iK , que é dada adicionando-se um

elemento iη ao corpo iK , obtendo-se assim ( )i iK η , tal que uma das afirmativas a

seguir é satisfeita:

i. iη é algébrica em iK , ou

ii. ( )i iKδ η ∈ (extensão por uma integral, ou seja, , i iu u Kη = ∈∫ ), ou

iii. ( )i i iKδ η η ∈ (extensão pela exponencial de uma integral, ou seja,

, u

i ie u Kη ∫= ∈ ).

Podemos classificar uma solução ( ) 0L y = de três formas, conforme esteja

contida em:

1. k, o corpo dos coeficientes, será chamado de solução racional,

2. uma extensão algébrica de k, será chamada se solução algébrica,

3. uma extensão liouvilliana de k será chama de solução liouvilliana

Por solução liouvilliana, entende-se uma solução através de uma função que

pode ser construída por composição de funções exponenciais, logaritmos, polinômios,

radicais, integrais dessas funções e exponenciais dessas integrais.

Definição 1.2 Seja ( ) 0L y = uma equação diferencial homogênea de ordem n

com coeficientes em k. Seja K uma extensão de um corpo diferencial k. Então, K é uma

extensão Picard-Vessiot (EPV) de k para ( ) 0L y = se:

1. 1,..., nK k y y= , a extensão do corpo diferencial k, gerada por 1,..., ny y onde

1,..., ny y é um conjunto fundamental de soluções de ( ) 0L y = .

2. K e k têm o mesmo corpo de constantes.

A EPV faz o papel de um corpo de decomposição para ( ) 0L y = . Uma EPV

existe e é única para isomorfismos diferenciais se o corpo de constantes k for

algebricamente fechado com característica zero (exemplo: corpo dos complexos ℂ ).

Estaremos sempre assumindo que o corpo dos coeficientes satisfaz essas condições. Por

19

definição, o grupo de Galois diferencial ( )G L de ( ) 0L y = é o grupo de Galois

diferencial de K k , onde K é uma EPV de k para ( ) 0L y = e, como ( )G L pode ser

representado fielmente como um subgrupo de ( , )GL n C (matrizes n n× com

coeficientes em C), para cada ( )G Lσ ∈ temos 1

( )n

i ij ijy c yσ

==∑ , onde ijc C∈ . Pode-

se provar que escolhas diferentes para a base 1 2, ,..., ny y y levam a representações

equivalentes. Utilizando o teorema E.2, podemos limitar nossas considerações a

equações diferenciais com ( ) ( , )G L SL n C⊆ , onde ( , )SL n C é o grupo de matrizes n n×

invertíveis com determinante igual à unidade.

3.2.Descrição do Algoritmo

Estaremos à procura de soluções para equação de isotropia de pressão (2.3)

expressas em termos de funções liouvillianas, uma vez que tais soluções podem ser

escritas de uma forma fechada. Para esse fim, fazemos a seguinte definição de uma

equação diferencial ordinária integrável:

Definição

Uma equação diferencial ordinária linear e homogênea de segunda ordem com

coeficientes que são funções racionais é integrável se suas soluções são liouvillianas.

O algoritmo de Kovacic é um procedimento que calcula essas soluções

liouvillianas contando que a equação diferencial seja integrável. Reciprocamente, se a

equação diferencial for não-integrável, o algoritmo indica essa conclusão.

Estamos interessados na equação diferencial ordinária linear e homogênea de

segunda ordem que pode ser escrita como:

( ) ( ) 0y b x y c x y′′ ′+ + = (3.1)

onde ( )y y x= .

Com a mudança de variável:

20

1( )exp d

2y x b xξ

= −

a equação (3.1) é transformada na sua forma reduzida (ou canônica):

0gξ ξ′′ − = (3.2)

onde 21 1( ) ( ) ( ) ( )

2 4g g x b x b x c x′= = + − .

Ainda, fazendo outra transformação de variável,

vξξ

′=

a equação (3.2) é transformada na equação de Riccati:

2v v g′ + = (3.3)

O algoritmo baseia-se nos dois seguintes fatos:

1. A classificação dos subgrupos algébricos de ( )2,SL ℂ : o grupo de Galois da

equação (3.2) está contido em ( )2,SL ℂ , e precisamos saber quando a componente

identidade do grupo de Galois é solúvel e abeliana.

2. A conhecida transformação de (3.2) em uma equação de Riccati, onde ( )g x∈ℂ .

Então, a equação (3.2) é integrável se, e somente se, a equação (3.3) tem uma

solução algébrica, isto é, v é solução de uma equação polinomial ( ) 0f v = com

coeficientes em ( )xℂ . O ponto chave é que o grau, n, de ( )f v , pertence ao

conjunto max 1,2,4,6,12 .L =

A determinação do conjunto L de todos os possíveis valores para n é o Primeiro

Passo do algoritmo. Observamos que para 4, 6 e 12n n n= = = , o grupo de Galois de

(3.2) é finito. O Segundo e o Terceiro Passos são destinados à computação do

polinômio ( )f υ , se ele existir. Se o algoritmo não terminar com êxito, isto é, se a

equação (3.3) não tiver solução algébrica, então a equação (3.2) é não-integrável e seu

grupo de Galois é ( )2,SL ℂ .

21

Existem diversas notações e convenções para o algoritmo de Kovacic. A versão

aqui apresentada segue [12,13].

Seja ( )

( )

s xg

t x= , com ( ), ( )s x t x polinômios relativamente primos, e ( )t x mônico.

Definimos a seguinte função h sobre o conjunto max 1,2,4,6,12 :L =

(1) 1, (2) 2, (4) 3, (6) 2, (12) 1h h h h h= = = = = .

3.2.1.Primeiro Passo

Se ( ) 1t x = , colocamos 0m= ; senão, fatoramos ( )t x em polinômios mônicos

relativamente primos:

21 2( ) ( ) ( ) ( ),m

mt x t x t x t x= …

onde it não tem raízes múltiplas e 1mt ≠ .

Então:

1.1 Seja ′Γ o conjunto das raízes de ( )t x , isto é, os pontos singulares no plano

complexo finito, e seja ′Γ = Γ ∪ ∞ o conjunto de todos os pontos singulares. Então,

a ordem em um ponto singular c ′∈Γ é ( )o c i= se c é uma raiz de multiplicidade i

de ( )t x . A ordem no infinito é definida como ( )( ) max 0,4 deg( ) deg( )o s t∞ = + − .

Chamamos m+ o maior valor entre as ordens dos pontos singulares em Γ , e iΓ o

conjunto dos pontos singulares de ordem i m+≤ .

1.2 Se 2m+ ≥ então escrevemos ( )2 2cardγ = Γ ; senão 2 0γ = . Então computamos:

23

ímpar

card kk m

k

γ γ+≤ ≤

= + Γ

22

1.3 Para os pontos singulares de ordem 1 ou 2, 1 2c∈Γ ∪ Γ , computamos as partes

principais de g:

( ) ( )2 1(1)c cg x c x c Oα β− −= − + − + ,

para c ′∈Γ , e

2 3 4( )g x x O xα β− − −∞ ∞= + + ,

para o ponto no infinito.

Definimos 1+4c cα∆ = .

1.4 Montamos o subconjunto L′ de todos os valores possíveis para o grau do

polinômio mínimo ( )f v usando as regras:

a. 1 L′⊂ se 2γ γ=

b. 2 L′⊂ se 2γ ≥

c. 4,6,12 L′⊂ se 2m+ ≤ .

1.5 A seguir temos os três casos mutuamente exclusivos

1.5.1 Se 2m+ > , então L L′= .

1.5.2 Se 2m+ ≤ e 1 2, cc∀ ∈Γ ∪ Γ ∆ ∈ℚ , então L L′= .

1.5.3 Se os casos (1.5.1) e (1.5.2) não são satisfeitos, então 4,6,12L L′= − .

1.6 Se L = ∅ , então a equação (3.2) é não-integrável e tem grupo de Galois ( )2,SL ℂ ;

senão escrevemos n para o menor valor em L.

Para o Segundo e Terceiro Passos do algoritmo consideramos fixo o valor de n.

3.2.2.Segundo Passo

2.1. Se ∞ tem ordem 0, escrevemos o conjunto:

( ) | 0, ,E h n k k n∞ = = … .

23

2.2. Se c tem ordem 1, então ( )cE nh n= .

2.3. Se 1n = , para cada c de ordem 2, definimos:

( ) ( )1 11 , 1

2 2c c cE

= + ∆ − ∆

2.4. Se 2n ≥ , para cada c de ordem 2 definimos:

( )( )2 | 0, ,

2c c

h nE n n j j n

= ∩ − − ∆ =

ℤ …

Se algum conjunto cE for nulo e n não for o maior elemento de L, escolhemos o

próximo elemento de L e voltamos para o Segundo Passo. Se n for o maior elemento de

L, a equação diferencial (3.2) não tem solução liouvilliana.

2.5. Se 1n = , para casa ponto singular de ordem 2υ , com 1υ > , computamos os

números cα e cβ definidos (a menos de um sinal) pelas seguintes condições:

Se c ′∈Γ ,

( ) ( ) ( ) ( )( )21 1

,2

i

c i c cig x c x c x c O x c

υυ υ υα µ β−− − − − −

= = − + − + − + − ∑ ,

e escrevemos

( ) ( )1

,2:

i

c c i cig x c x c

υυα µ−− −

== − + −∑ .

Se c = ∞ ,

( )232 3 4

,0

iii

g x x x O xυυ υ υα µ β−− − −

∞ ∞ ∞= = + − + ∑ ,

e escrevemos

32,0

: iii

g x xυυα µ−−

∞ ∞ ∞== +∑ .

Então, para cada c computamos

1

: 1 ,2

cc

c

Eβυ ε εα

= + = ±

24

e a função sinal sobre cE é definida por

1

sign2

c

c

βυ ε εα

+ =

,

sendo +1 se 0cβ = .

2.6. Se 2n = , para cada c de ordem υ , com 3υ ≥ , escrevemos cE υ= .

3.2.3.Terceiro Passo

3.1. Para n fixo, tentamos obter elementos ( )c ce

∈Γ=e no produto cartesiano cc

E∈Γ∏ ,

tal que:

i. 1

( ) :( )

ccd n e

h n∈Γ

= − ∑e é um inteiro não-negativo,

ii. Se 2n = ou 6n = , então existe em e um número par de elementos que são

inteiros ímpares.

iii. Se 4n = , então e tem pelo menos dois elementos não divisíveis por 3 e a

soma de todos os elementos não divisíveis por 3 é divisível por 3.

Se nenhum elemento e for obtido, selecionamos o próximo valor de n em L e

voltamos para o Segundo Passo; se n já é o maior valor em L, o grupo de Galois é

( )2,SL ℂ , ou seja, a equação (3.2) é não-integrável.

3.2. Para cada e acima tentamos obter uma função racional Q e um polinômio P, tal que

i. ( )21

1

1sign

( )

cn c cc

c

eQ e g

h n x c νν

δ>

′∈Γ∈ Γ

= +−

∑ ∑∪

, onde 1nδ é o delta de

Kronecker.

ii. P é um polinômio de grau ( )d e que, sem perda de generalidade, pode

sempre ser escolhido mônico, e seus coeficientes são encontrados como as

soluções do, em geral superdeterminado, sistema de equações:

25

( )( )1

1 1

0,

1 , 0,

.i i i i

n

P

P P QP n i i gP n i

P P

− +

=

′= − − − − + ≥ ≥= −

Se um par ( )( ), ( )P x Q x acima é encontrado, então a equação (3.2) e a equação

de Riccati (3.3) tem uma solução algébrica, v, dada por qualquer raiz v da equação:

( )0

( ) 0!

n iii

Pf v v

n i=

= =−

∑ (3.4)

Se nenhum par acima for encontrado tomamos o próximo valor em L e voltamos

para o Segundo Passo. Se n for o maior valor em L, então a equação (3.2) é não

integrável e o grupo de Galois é ( )2,SL ℂ .

26

4.Aplicação do Algoritmo

Neste capítulo será apresentada a aplicação do algoritmo de Kovacic descrito no

capítulo 3 para a respectiva equação de isotropia de pressão obtida segundo cada um dos

quatro ansätze propostos com o intuito de verificar se tais equações possuem soluções

fechadas na forma de funções liouvillianas.

4.1.Ansatz 1-1

Nosso primeiro ansatz é 1

1

( )x z

F xx Z

−= Α−

.

Podemos, desde já, investigar a densidade:

( ) ( )

( )

2 21 1 1 1 1 1

2

1

1 3 2( )

x z z Z x z z Zx

x z xρ

Α − + − Α − + Α −=

Α −

fazendo sua expansão em série de Taylor em torno de 0x =

1 01 1

1

( 0) ( )z Z

x x o xz

ρ −Α −= = +Α

.

Para que seja garantida a regularidade central da densidade, devemos ter

1 1

1

0z Z

z

Α − =Α

que implica em 1

1

Z

zΑ = .

Deste modo, a equação de isotropia de pressão fica:

( )( ) ( ) ( )1 1 1 1 1 1 1 14 2 0z x z x Z f z Z z f Z z f′′ ′− − + − + − = (4.1)

4.1.1.Primeiro Passo

Para a equação (4.1), o polinômio ( )t x escreve-se como:

( )( ) 2

1 1( )t x x z x Z = − −

27

1.1 As raízes de ( )t x são 1, 1z Z′Γ = e suas ordens são 1 1( ) ( ) 2o z o Z= = . A ordem do

ponto no infinito é ( ) 2o ∞ = .

Temos ainda 2m+ = e 2 1 1, ,z ZΓ = ∞ .

1.2 2 3γ γ= =

1.3 Agora fazemos a expansão de g em torno dos elementos de 2Γ :

( )( )

( ) ( )2 11 11 1

1 1 1

25 11

16 8

z Zg x z x z o

z z Z

− −−= − + − +−

( )( )

( ) ( )2 11 11 1

1 1 1

23 11

16 8

z Zg x Z x Z o

z z Z

− −−= − − − − +−

( )2 2

2 3 41 1 1 1 1 1

1 1

3 21 1

4 4

z Z z z Z Zg x x o x

z z

− − −− − −= + +

Dessas expansões, computamos as partes principais de g:

( )1 1

1 1

1 1 1

25 e

16 8z z

z Z

z z Zα β −= =

( )1 1

1 1

1 1 1

23 e

16 8Z Z

z Z

z z Zα β −= − = −

2 2

1 1 1 1 1 1

1 1

3 2 e

4 4

z Z z z Z Z

z zα β∞ ∞

− − −= =

1.4 Como 2, 3 2 e 2 2mγ γ γ += = ≥ = ≤ , definimos o subconjunto 1,2,4,6,12L′ = .

1.5 Neste momento, esse item não tem relevância.

1.6 Com 1n = , vamos para o Segundo Passo.

4.1.2.Segundo Passo

Como todas as raízes têm ordem 2, começamos no item 2.3.

2.3. Como estamos em 1n = , para cada uma das três raízes de ordem 2, definimos:

28

1

1

1 1 1 1

1 1

1 5,

4 4

1 3,

4 4

2 21 11 , 1

2 2

z

Z

E

E

z Z z ZE

z z∞

= −

=

− − = + −

Os itens 2.4 a 2.6, não se aplicam nesse caso.

4.1.3.Terceiro Passo

3.1. O produto cartesiano ccE

∈Γ∏ é:

1 1 1 1 1 1

1 1 1

1 1 1 1 1

1 1

2 2 21 1 1 1 1 3 1 5 11 , , , 1 , , , 1 , , ,

2 4 4 2 4 4 2 4 4

2 2 21 5 3 1 1 1 11 , , , 1 , , , 1

2 4 4 2 4 4 2

z Z z Z z Z

z z z

z Z z Z z

z z

− − − + − + − +

− − + − − −

1

1

1 1 1 1

1 1

1 3, , ,

4 4

2 21 5 1 1 5 31 , , , 1 , ,

2 4 4 2 4 4

Z

z

z Z z Z

z z

− −

− − + +

Os candidatos a ( )d e são os elementos do seguinte conjunto:

1 1 1 1 1 1 1 1

1 1 1 1

1 1 1 1 1 1 1 1

1 1 1 1

2 2 2 21 1 1 11 , , 2 , 3 ,

2 2 2 2

2 2 2 21 1 1 11 , , 2 , 3

2 2 2 2

z Z z Z z Z z Z

z z z z

z Z z Z z Z z Z

z z z z

− − − − − − − + − +

− − − − + − − − −

Para dar prosseguimento à investigação da condição i do item 3.1, é útil fazer

uma redefinição dos parâmetros como:

( )21 12Z N z≡ − .

Assim o conjunto dos candidatos a ( )d e fica:

29

3 3 2 2 1 1, , , , , , ,

2 2 2 2 2 2 2 2

N N N N N N N N + − + − − +− − −

onde podemos observar que qualquer desses elementos só poderá ser um inteiro não-

negativo para N ∈ℤ .

Podemos, então, reescrever a equação de isotropia de pressão com o parâmetro

N:

( ) ( ) ( ) ( )2 2 21 1 14 2 2 1 1 0x z N z x f z N f N f ′′ ′− − + − − − − = (4.2)

Como sabemos que N deve ser um inteiro para que possamos ter a condição a

respeito ( )d e (grau do polinômio mínimo associado) satisfeita, podemos procurar

soluções da equação (4.2) para um intervalo de valores de N. Podemos notar também

que o conjunto dos candidatos a ( )d e é simétrico para N, quer dizer, trocando N por -N

obtemos o mesmo conjunto. Analogamente, poderíamos dizer o mesmo sobre a equação

(4.2), já que o N só aparece elevado ao quadrado. Assim, em vez de trabalhar com o

conjunto dos números inteiros, podemos nos restringir ao dos naturais, sem perda de

generalidade nas soluções.

Usando o solucionador de equações diferenciais do software de álgebra

computacional Maple [19], descobrimos diretamente que a equação (4.2) sempre tem

solução liouvilliana evitando, assim, a necessidade de aplicar o algoritmo de Kovacic

neste caso.

30

4.2.Ansatz 1-2

A próxima alternativa que iremos estudar é ( )( )

1

1 2

( )x z

F xx Z x Z

−= Α− −

.

A análise da expansão da densidade no centro nos indica que para este ser finita

no centro devemos ter 1 2

1

Z Z

zΑ = − . Podemos, então escrever a equação de isotropia de

pressão como:

( )( )( ) ( )( )( )

21 1 1 2 1 1 1 1 2 1 2

1 1 2 1

4 2 2

0

z x z x Z x Z f z x xz z Z Z Z Z f

Z z Z z f

′′ ′ − − − + − + + − +

− − − =(4.3)

Como veremos no próximo capítulo, Maple consegue obter a solução geral da

equação (4.3), sendo sempre uma solução liouvilliana. Portanto, não há necessidade de

usar do algoritmo de Kovacic.

31

4.3.Ansatz 2-1

A alternativa que vamos testar em seguida será: ( )( )

( )1 2

1

( )x z x z

F xx Z

− −= Α

−.

Como fizemos anteriormente, antes de iniciar a aplicação do algoritmo, vamos

analisar o comportamento da densidade em 0x = . Dessa análise, inferimos que para

esta grandeza ser finita no centro, devemos ter: 1

1 2

Z

z zΑ = − . Com este valor, podemos

escrever a equação de isotropia de pressão:

( ) ( )( ) ( )( )( ) ( ) ( )

21 2 1 2 1 1 2 1 1 1 2 1 2

2 2 21 1 1 2 1 2 1 1 2 1 2 1 2 1

4 2 2

2 0

z z x z x z x Z f z z x xZ Z z z z z f

Z x Z z z z z x Z z z z z z z Z f

′′ ′ − − − − − + + − +

− + + − − + + + − =

(4.4)

4.3.1.Primeiro Passo

Fazendo a redução da equação diferencial (4.4), obtemos o polinômio ( )t x :

( ) ( )( ) 2

1 2 1( )t x x z x z x Z = − − − .

1.1. As raízes de ( )t x são 1, 2, 1z z Z′Γ = e suas ordens são 1 2 1( ) ( ) ( ) 2o z o z o Z= = =

enquanto a ordem do ponto no infinito é ( ) 3o ∞ = .

Com esses dados, escrevemos: 3m+ = e 2 1 2 1, ,z z ZΓ = e 3Γ = ∞ .

1.2. 2 3 e γ γ= = 4

1.3. Expandindo em torno dos pontos singulares de ordem 2, temos:

( )( ) ( )1 1

21 1 1 2 2 1

1 1 2 1 1

2 3 25 e

16 8z z

z z Z z z Z

z z z z Zα β

− + −= =

− −

( )( )( )2 2

22 2 1 1 1 1

2 2 1 2 1

2 3 25 e

16 8z z

z z Z z z Z

z z z z Zα β

− + += =

− −

32

( ) ( ) ( )( )( )1 1

23 21 1 2 1 1 2 1 1 2 1 2

1 2 1 1 2 1

2 4 23 e

16 8Z Z

Z z z Z z z Z z z z z

z z z Z z Zα β

− + + + − += − =

− −

1.4. O conjunto L′ fica, então, definido: 2L′ = .

1.5. Como o caso (1.5.1) é satisfeito, L L′= .

1.6. Então, aplicamos o Segundo Passo com nosso menor (e único) valor possível para

2n = .

4.3.2.Segundo Passo

2.4. Para cada ponto de ordem 2 definimos os conjuntos:

1 2

1

1,2,5

1,2,3

z z

Z

E E

E

= = −

=

2.6. Para o pólo de ordem 3, escrevemos:

3E∞ =

4.3.3.Terceiro Passo

3.1. Os candidatos a ( )d e são os elementos do seguinte conjunto:

11 9 7 5 3 1 1

6, , 5, , 4, , 3, , 2, , 1, ,0, ,12 2 2 2 2 2 2

− − − − − − − − − − − −

Entre estes, temos somente dois elementos que satisfazem as condições (i) e (ii):

0 e 1. Cada um deles gerados por uma única família.

3.2. Para essas duas famílias montamos a função racional ( )Q x :

( ) ( )( )( )( )

( )( ) ( )( )

21 1 2 1 1 2 1 2

0

1 1 2

21 1 1 2 1 2

1

1 1 2

2 3

2

2

2

a

a

x Z z z x Z z z z zQ

x Z x z x z

x Z x Z z z z zQ

x z x Z x Z

+ − − − + +=

− − −

− + − + +=

− − −

33

Para 2n = , a equação de recorrência para ( )P x obtida do sistema de equações

do item (ii) gera a seguinte equação diferencial:

( ) ( )2 32 2 2 23 3 3 4 3 2 0P QP Q Q g P Q Q Q Q gQ P′′′ ′′ ′′ ′′ ′+ + + + + + + − = (4.5)

Porém, a esta altura, não precisamos tentar resolver essa equação diferencial

uma vez que já sabemos que grau deve ter o polinômio P de acordo com o valor de

( )d e . Então, para a equação obtida da família que tem ( ) 0d =e , fazemos 2( ) 1P x = − e

reescrevemos (4.5):

( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

2 3 2 2 2 21 2 1 1 1 1 2 1 2 1 1 1 2 2 1 1 2 1 2

2 2 2 3 2 2 3 2 2 2 21 2 1 1 1 2 1 2 2 1 1 2 1 1 2 2 1 2 1 2

2 3 3 3 9

6 3 2 0

z z Z x Z Z z z z z x Z z z z z Z z z z z

z z x Z z z z z z z Z z z z z z z z z z z

− + + + − + + − + +

+ + + + − + + + + = (4.6)

Resolver a equação (4.6) significa que queremos achar relações entre as

constantes 1 2 1, e Z z z que a tornem válidas para qualquer valor de x. Então, começamos

a analisar o coeficiente de grau 3 em x. Para que este coeficiente seja nulo, temos que

21

122

Zz z= . Substituindo esse valor na equação (4.6), o novo coeficiente de 2x ,

( ) ( )2 21 2 2 1 2 112 2Z z z Z z Z− − , é nulo para qualquer uma das condições abaixo:

11 2 2 1 20, 0, ou

2

ZZ z z Z z= = = =

Os casos 1 20 ou 0Z z= = não são relevantes porque acarretam em uma

densidade infinita no centro; 2 1z Z= implica em uma redução nos graus do ansatz, caso

que não é de nosso interesse nessa dissertação; substituindo 12 2

Zz = na condição que

obtemos do coeficiente de 3x , obtemos 1 1z Z= , que descartamos pelo mesmo motivo

do caso anterior.

A outra opção é a equação obtida da família com ( ) 1d =e . Para este caso

fazemos 2( )P x x k= − + , k é constante, e reescrevemos (4.5):

34

( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )

( )

3 2 2 21 2 1 1 1 1 2 2 1 2 1 1 1 2 2

3 2 2 31 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 1 1 2 1 2 2

2 2 21 2 1 1 2 2 1 2 1 1

2 3 2 3 3

2 2

2

z z Z k x Z z k z z z k z z k x Z k z z z z

z z z z z z k z z z z x Z k z z z z z z

z z z z z z kz z z z

− + − + − − + + +

− + − + + + + + + +

− + + − + ( ) ( )2 2 22 2 1 2 1 22 0z z z z z z+ + + =

(4.7)

Semelhantemente ao que acontece para a equação (4.6), a equação (4.7) só pode

ser satisfeita se 1 2Z z= ou 1 1Z z= , que, como afirmado anteriormente, não é de nosso

interesse nesse trabalho.

Como 2n = é o maior valor dentro do conjunto L, podemos afirmar que a

equação (4.4) não tem solução liouvilliana.

35

4.4.Ansatz 2-2

O último ansatz que iremos analisar é ( )( )( )( )

1 2

1 2

( )x z x z

F xx Z x Z

− −= Α

− −.

Estudando a densidade em 0x = , observamos que para que seja finita nesse

ponto, devemos ter 1 2

1 2

Z Z

z zΑ = . Com essa substituição, a equação de isotropia de pressão

passa a ser escrita como:

( )( )( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( ) ( ) ( )

( ) ( ) ( )

21 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

21 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2

2 21 2 1 2 1 2 1 1 2 2 1 2 1 2 1 2

4 2 2

2

0

z z x z x z x Z x Z f z z z z Z Z x Z Z z z x

Z Z z z z z Z Z f Z Z z z x z z Z Z Z Z z z x

z z Z Z z z z Z Z z Z Z Z Z z z f

′′ − − − − − + − − + − +

′ − + − + + − + + − +

− + − + − + + + =

(4.8)

4.4.1.Primeiro Passo

Começamos escrevendo o polinômio ( )t x da equação (4.8):

( )( )( ) ( ) 2

1 2 1 1( )t x x z x z x Z x Z = − − − −

1.1. As raízes de ( )t x são 1, 2, 1, 2z z Z Z′Γ = . Suas ordens são:

1 2 1 2( ) ( ) ( ) ( ) 2o z o z o Z o Z= = = =

A ordem do ponto no infinito é ( ) 2o ∞ = . Com esses dados, escrevemos: 2m+ = e

2 1 2 1 2, , , ,z z Z ZΓ = ∞ .

1.2. 2γ γ= = 4 .

1.3. As partes principais das expansões de g em torno de seus pólos estão computadas a

seguir:

1 2 1 2

1 2 1 2

1 2

5 5 3 3 , , , e

16 16 16 16 4z z Z Z

z z Z Z

z zα α α α α∞

−= = = − = − = .

36

1.4. 1,2,4,6,12L′ = .

1.5. Este item não é importante por enquanto.

1.6. Começamos o Segundo Passo com 1n = .

4.4.2.Segundo Passo

2.3. Como estamos tratando 1n = , para cada uma das cinco raízes de ordem 2,

definimos:

1 2

1 3,

4 4z zE E

= =

1 2

1 5,

4 4Z ZE E

= = −

1 2 1 2

1 2 1 2

1 12 , 2

2 2

Z Z Z ZE

z z z z∞

= + − − −

4.4.3.Terceiro Passo

3.1. Fazemos o produto cartesiano 1 2 1 2z z Z ZE E E E E∞× × × × e aplicamos a seguinte

redefinição de parâmetros

( )2 1 22

1

2z z

Z NZ

= − .

Dessa forma, 1 1

,2 2

E N N∞

= + −

e podemos escrever o conjunto dos

candidatos a ( )d e :

7 6 5 4 3 2 1 1, , , , , , , , ,

2 2 2 2 2 2 2 2 2

1 1 2 3 4 5 6 7 , , , , , , , ,

2 2 2 2 2 2 2 2 2

N N N N N N N N N

N N N N N N N N N

+ + + + + + + −− − − − − − − −

+ − − − − − − −

37

Após esse procedimento, a continuação da aplicação do algoritmo é ilimitada,

uma vez que para cada valor de N ∈ℕ (e não ℤ , pela mesma justificativa do caso do

ansatz 1-1) o procedimento vai decorrer de uma forma. Com auxílio do Maple, fizemos

o estudo para 0, 1, 2, 3 e 4N = .

Com a substituição desses valores para N em ( )d e , vemos que os possíveis

graus do polinômio P são 0, 1 e 2, que significam, respectivamente:

21 1 0 1 1 01, e P P x a P x a x a= − = − + = − + + .

3.2. As formas de 1P são, então, substituídas na equação algébrica em x de 1P− obtida

pelo sistema de equações nesse item do algoritmo. Impondo que os coeficientes de x da

equação resultante sejam nulos, obtemos relações entre os parâmetros necessárias para

que a equação de isotropia de pressão tenha uma solução liouvilliana. Cabe ressaltar

que, entre as relações obtidas, são descartadas:

1. 1 1 2 ou Z z z= , pois reduz o grau do ansatz;

2. 1 1 2, z ou z 0Z = , pois implica em densidade central infinita.

A próxima passagem é substituir as relações encontradas novamente em 0P e 1P

para obter v que, como estamos com 1n = , escrevemos como 0

1

P

P− . Com v, obtemos ξ

fazendo a transformação inversa 0

1

exp dP

xP

ξ = − ∫ e então, finalmente, a solução da

equação diferencial:

0

1

1 ( )( ) exp ( )d exp d

2 2

P b xf x b x x x

= − = − +

∫ ∫ .

38

39

5.Soluções e Análise Física

O algoritmo de Kovacic gera apenas uma solução para a equação diferencial de

segunda ordem (3.1). Dada uma solução, 1y , de (3.1), uma segunda solução, 2y , é [14]:

( )

2 12

1

exp bdxy y dx

y

−= ∫∫ (5.1)

e a solução geral será uma combinação linear de 1y e 2y , ou seja:

1 1 2 2y C y C y= +

Podemos ver pela forma de (5.1) que, se 1y é liouvilliana, 2y também é pois

pode ser escrita em termos de funções elementares e um número finito de integrais.

5.1.Ansatz 1-1

Podemos resolver a equação (4.2) sem aplicar o último passo do algoritmo até o

final, bastando utilizar a redefinição de variáveis ( )21 12Z N z= − . Utilizando a notação

padrão para funções hipergeométricas 1 1( ,..., ; ... ; )p q p qF a a b b z , a solução geral dessa

equação é

( )( )

( ) ( ) ( )( )

21

1 2 12

1

212 2

2 1 1 2 12

1

21 1 1( ) , ; ;

2 2 2 1

21 2 1 2 , ; ;

2 2 2 1

x z NN Nf x C F

z N

x z NN NC z N x z N F

z N

+ −+ − = − + −

+ − − + − − −

(5.2)

Utilizando (2.5a) e (2.5b) obtemos as formas gerais para a densidade e a pressão,

que são, respectivamente:

( )

21

221

31

2

x zN

N x zρ −−=

− − (5.3)

40

( ) ( )

( )( )

2 21

21

4 2 1

2

x z N f N fp

x z N f

′+ − + − = −− −

(5.4)

A densidade no centro ( )( )

2

21

13( 0)

2

Nx

z Nρ

−= = −

− nos indica que 1 0z < para que

esse valor seja positivo, independentemente do valor de N, uma vez que o parâmetro

( )( )

2

2

1

2

N

N

− é sempre positivo, a não ser se 1N = , quando é nulo. Podemos ver também

que 1 0

limz

ρ→

= ∞ . Outra característica da densidade que podemos mencionar é que ela só é

nula quando x → ∞ .

5.1.1. Ansatz 1-1 com 0N =

As funções para este caso são:

( )1

1

2

2

x zF

x z

−=

2 21 1 2 1 1 1 1 1

32 2 ln 3 2 2

2f C x z C x z x z x z x z x z

= − + − − + − + − +

( )

1

2

1

31

2

x z

x zρ −=

( ) ( )

( )( )

11 2 1 1 1

1

11 2 1 1 1

1

32 ln 2 2

2 2

32 ln 2 2

2 2

x zC C x z x z x z

x zp

x zC C x z x z x z

x z

+ + − − + − − − − = + + − − + − − + −

A seguir, mostramos os gráficos para a densidade e a pressão com 1 2 3C C = e

nos intervalos 15 1 e 0 4z x− < < − < < :

41

Figura 2. Pressão para 0N = .

Figura 3. Densidade (em branco) e

Pressão (em preto) para 0N = .

Na figura 2 pode ser observado o fato da pressão ir a zero somente no limite que

x vai a infinito. Já na figura 3, onde estão a densidade e a pressão juntas, podemos

observar a condição pρ ≥ sendo satisfeita em uma determinada região. Vemos também

que há uma região onde pρ < , mas é impossível encontrar uma expressão analítica

para a fronteira dessa região.

A solução é estável sobre perturbações radiais - condição (I.4) -, como mostra a

figura 4. As condições (I.5) e (I.6) podem ser analisadas na figura 5.

Figura 4. dp

dr

(em preto) ddr

ρ (em branco)

para 0N = .

Figura 5. dp

dρ (em cinza) cortado por

1dp

dρ= (em branco) 0N = .

Esta densidade e pressão caracterizam a já conhecida solução de Korkina e

Orlyanskii [17].

42

5.1.2. Ansatz 1-1 com 1N =

As principais funções são:

1F = 1 2f C x C= + 0ρ = 1

1 2

4Cp

C x C=

+

A função F se reduz a 1, não estando dentro do nosso objetivo a análise desse

tipo de solução.

5.1.3. Ansatz 1-1 com 2N =

Para esse parâmetro, temos:

( )1

1

2

2

x zF

x z

−= −

+

( ) ( )32

1 1 2 1 12 2 5f C x z C x z x z= − + + −

( )

1

2

1

33

2

x z

x zρ −=

( ) ( )

( ) ( ) ( )1 1 1 2 1 1

32

1 1 2 1 1 1

2 29

2 2 2 5

C x z x z C x z x zp

C x z C x z x z x z

− + + + −= −

+ + + − +

Nos gráficos a seguir, foi escolhido, arbitrariamente, 1 2 0,3C C i= .

Figura 6. Pressão para 2N = .

Figura 7. Densidade (em branco) e

Pressão (em preto) para 2N = .

43

Condições (I.4), (I.5) e (I.6):

Figura 8. dp

dr

(em preto) ddr

ρ (em branco)

para 2N = .

Figura 9. dp

dρ com 2N = .

Esta é a já conhecida solução de Buchdahl [1]. Na figura 6 podemos ver a

existência de uma região, que depende do parâmetro 1z , onde a pressão vai a zero –

condição (I.2). Na figura 7 constatamos a satisfação da condição (I.3), na figura 8, a

condição (I.4) e na figura 9, as condições (I.5) e (I.6).

5.1.4. Ansatz 1-1 com 3N =

Para este valor do parâmetro N, temos:

( )1

1

7

7

x zF

x z

−= −

+

( ) ( )32 2 21 1 1 2 1 12 11 7f C x z x z C x z x z= + − + + −

( )

1

2

1

38

7

x z

x zρ −=

( ) ( )

( ) ( ) ( )

2 21 1 1 2 1 1 1

2 21 1 1 2 1 1 1 1

5 2 7 216

7 2 11 7

C x z x z C x z z x x zp

C x z x z C x z z x x z x z

+ − + + − +=

+ − + + − − +

Neste conjunto de funções, podemos obter um intervalo para os parâmetros 1C e

2C , além de 1 0z < , que satisfazem as condições (I.1) a (I.6):

44

2

1

191 48 74 1

35 7 7

C

C

+− < ≤ −

(aproximadamente -6,521 e -0,378, respectivamente).

Escolhemos, então, um valor arbitrário dentro desse intervalo, 1 2 3C C = − , e

construímos os gráficos a seguir.

Figura 10. Pressão para 3N = .

Figura 11. Densidade (em branco) e

Pressão (em preto) para 3N = .

Figura 12. dp

dr

(em preto) ddr

ρ (em branco)

para 3N = .

Figura 13. dp

dρ com 3N = .

Na figura 10 podemos identificar o ponto de x em que a pressão vai a zero –

condição (I.2). Na figura 11 verificamos a satisfação da condição (I.3), na figura 12, a

condição (I.4) e na figura 13, as condições (I.5) e (I.6).

45

5.1.5. Resumo do ansatz 1-1

A seguir, consolidamos os resultados obtidos de cada função estudada – ( )f x ,

ρ e p – em tabelas identificando o respectivo valor de N utilizado.

N ( )f x

0 2 21 1 2 1 1 1 1 1

32 2 ln 3 2 2

2C x z C x z x z x z x z x z

− + − − + − + − +

1 1 2C x C+

2 ( ) ( )32

1 1 2 1 12 2 5C x z C x z x z− + + −

3 ( ) ( )32 2 21 1 1 2 1 12 11 7C x z x z C x z x z+ − + + −

4 ( )( ) ( )3 2 221 1 1 2 1 1 12 23 14 8 24 107C x z x z C x z x z x z+ − + + + −

5 ( ) ( )( )33 2 2 3 21 1 1 1 2 1 1 124 57 298 23 14C x z x z x z C x z x z x z+ + − + + + −

Tabela 1. As ( )f x , soluções da EIP, para N com valores indo de 0 a 5.

N 0 1 2 3 4 5

ρ ( )

1

2

1

31

2

x z

x z

− 0 ( )

1

2

1

33

2

x z

x z

( )1

2

1

38

7

x z

x z

( )1

2

1

315

14

x z

x z

( )1

2

1

324

23

x z

x z

Tabela 2. As densidades ρ de acordo com o valor de N.

46

N p

0

( )( )

( ) ( )

11 2 1 1 1

1

11 2 1 1 1

1

32 ln 2 2

2 2

32 ln 2 2

2 2

x zC C x z x z x z

x z

x zC C x z x z x z

x z

+ + − − + − − − − + + − − + − − + −

1 1

1 2

4C

C x C+

2 ( ) ( )

( ) ( ) ( )1 1 1 2 1 1

32

1 1 2 1 1 1

2 29

2 2 2 5

C x z x z C x z x z

C x z C x z x z x z

− + + + −−

+ + + − +

3 ( ) ( )

( ) ( ) ( )

2 21 1 1 2 1 1 1

2 21 1 1 2 1 1 1 1

5 2 7 216

7 2 11 7

C x z x z C x z z x x z

C x z x z C x z z x x z x z

+ − + + − +−

+ − + + − − +

4 ( ) ( )

( ) ( ) ( )

2 2 2 21 1 1 1 2 1 1 1

2 2 2 21 1 1 1 2 1 1 1 1

2 29 59 14 8 56 1925

14 2 21 23 14 8 24 107

C x z x z x z C x z x z x z

C x z x z x z C x z x z x z x z

− + + + + + −−

− + − + + + − +

Tabela 3. As pressões, p, determinadas com o valor de N indo de 0 a 4.

47

5.2.Ansatz 1-2

O ansatz ( )( )

1

1 2

( )x z

F xx Z x Z

−= Α− −

com a condição 1 2

1

Z Z

zΑ = − para a

densidade ser regular no centro gera uma equação de isotropia de pressão (4.3) em que

pode ser dispensada a aplicação do algoritmo de Kovacic. Isto ocorre pois o integrador

do Maple (dsolve) foi capaz de calcular a solução geral:

( ) ( )1 1 2( ) 2 E x E xf x x z C e C e− = − + (5.5)

onde ( )

( ) ( ) ( )

21 1 1 1 2 1 2

1 1 2 1

4 2( ) d

2 2

x z z z Z Z Z ZE x x

z x Z x Z x z

− − + +=

− − −∫ .

Já que ( )E x é uma integral de uma função algébrica em x, ( )E x é liouvilliana.

Podemos escrever ainda ( )E x em termos de integrais elípticas:

1 1 2 1 2 1 2

2 1 1 1 2 1 1 1 1

( ) , , 1,x z z Z x z Z z Z

E x KZ z z Z Z z z z Z

− − − − = − Π − − − − −

F (5.6)

com ( )( )

( )1 1 1 2

21 1 1 1 2 1 2 1 1

2 2

4 2

z Z z ZK

z z z Z Z Z Z Z z

− −=

− + + − e e ΠF são as integrais elípticas

incompletas do primeiro e terceiro tipo, respectivamente, definidas conforme [15] por:

2 2 2 0

d( , )

1 1

z tz k

t k t=

− −∫F

( )

2 2 2 2 0

d( , , )

1 1 1

z tz n k

nt t k tΠ =

− − −∫

A densidade para este caso escreve-se como:

( ) ( )

( )

2 21 1 1 1 2 1 2 1 1 2 1 1 2

2

1 2 1

3 5 3 3z x z z Z Z Z Z x z Z Z z Z Z

Z Z x zρ

− + + − + + − =−

(5.7)

Em geral, a forma para a pressão é bastante complicada, mas nos casos 1 0C =

ou 2 0C = ela é simplificada, passando a ser uma expressão puramente algébrica:

48

( ) ( )( )( )

( ) ( )( )

2 2 21 1 1 1 2 1 2 1 1 2

1 2 1 1

2 21 2 1 2 1 1 1 2 1 2

1 2 1 1

3 2 2 2

2

4 2

2

z x z z Z Z Z Z x z Z Zp

Z Z x z x z

x x Z Z Z Z z z Z Z Z Z

Z Z x z x z

− + + − + + = − +− −

− + + − + +±

− −

(5.8)

com o sinal ± aplicado de acordo com 1 0C = ou 2 0C = , respectivamente.

Podemos obter expressões ainda mais simples impondo 0K = na equação (5.6)

ao fazer 2 12Z z= . Com essa condição, reconstituímos a conhecida solução IV de

Tolman [16] que tem:

( )( )

2 21 1 1 1 1

2

1 1

3 7 6 3

2

x z Z x z z Z

Z x zρ

− + + −=

− e

( )1 1

1 1

3 2

2

x z Zp

Z x z

− −= −−

e satisfaz toda as condições físicas dadas nas equações (I.1) a (I.6).

Voltando à análise das soluções (5.7) e (5.8), a primeira etapa foi o estudo da

expansão em série de Laurent dessas grandezas em torno do ponto 0x = . Para facilitar

o progresso nessa direção, observamos que seria vantajoso fazer duas redefinições dos

parâmetros:

1. 1 1 21 1 2

1 1 1; ; z Z Zu U U= = =

2. 1 1 1 21 2 1 2

1 1 1 2

2 2; ;

2 2

u V u VU U Z Z

u V u V

− −= = ⇒ = =− −

.

Dessa forma, até 1ª ordem em x, as expansões em torno de 0x = para a

densidade e a pressão são escritas respectivamente como:

( ) ( )( ) 21 2 1 1 1 2

3 5( )

2 4sL V V u V u V x o xρ = − + − + + + (5.9)

( ) ( ) ( )2 21 1 2 1 2 1 1 2 1 2 1 1 2 1 2 1 2

1 12 ( )

2 4sLp u V V VV u V V VV u VV V V VV x o x = − + + ± − − + + ± − ± − + − +

(5.10)

Para satisfazer as condições físicas (I.1) e (I.2), 0 e 0( ) ( )pρ devem ser positivas.

Então, olhamos os termos constantes das expansões (5.9) e (5.10) e inferimos que:

49

( )1 2 1 2

30 0

2V V V V− + ≥ → + ≤ e

( )1 1 2 1 2

1

2u V V VV≤ + ± − .

Podemos impor também ( ) ( )r p rρ ≥ – condição (I.3) – desde 0x = , que nos fornece:

( )1 1 2 1 22u V V VV> + ± − .

A condição (I.4) nos diz que a densidade e a pressão devem ser decrescentes, o

que direciona nossa atenção para os coeficientes de x das expansões em série acima,

implicando em:

( )( )1 1 1 2 0u V u V+ + ≥ e

( )( )1 1 2 1 1 2 1 2 0u VV u V V VV− + + − ≥∓ ∓

Podemos obter outra relação útil estudando o limite da pressão em x → ∞ . Uma

vez que a pressão em 0x = é positiva, de (5.8), desde que 1 0z < , podemos concluir que

se (0) 0p > e lim 0x

p→∞

< , existe um valor de x, sx digamos, no qual ( ) 0sp x = ,

definindo a superfície da estrela. Temos:

( )( ) ( )( )1 1 1 2 1 1 1 2

1 1

3lim 0

4x

u V u V u V u Vp

u u→∞

− − − −= − → >

A investigação da condição a respeito de dp

dρ só pôde ser feita numericamente e,

ainda assim, não gerou nenhuma condição adicional a respeito dos parâmetros em

questão.

A seguir, vamos explicitar gráficos com parâmetros escolhidos de acordo com a

análise feita, onde a legenda seguida será:

50

2s

p

v

ρ

Ansatz 1-2 com 2C = 0

Figura 14

1 1 21 2 2, e 2,7 2,8 2,3z Z Z= − = − =

( )1 1 22,7, 0,1 e 5u V V= − = = −

Figura 15

1 1 21 2 1, e 14 15 3z Z Z= − = − =

( )1 1 214, 1 e 20u V V= − = = −

Ansatz 1-2 com 1C = 0

Figura 16

1 1 21 2 2, e 104,7 4,9 0,2z Z Z= − = − = =

( )1 1 24,7, 0,1 e 5u V V= − = = −

Figura 17

1 1 21 2, e 118 19z Z Z= − = − =

( )1 1 218, 1 e 20u V V= − = = −

Para todos os conjuntos de parâmetros arbitrados nas figuras 14, 15, 16 e 17, as

condições (I.1) a (I.7) são satisfeitas.

51

5.3.Ansatz 2-2

Neste caso, temos ansatz ( )( )( )( )

1 2

1 2

( )x z x z

F xx Z x Z

− −= Α

− − com as condições

1 2

1 2

Z Z

z zΑ = e ( )2 1 2

2

1

2z z

Z NZ

= − .

Dentro do intervalo de parâmetros escolhido a ser analisado, conseguimos obter

algumas soluções fechadas através do algoritmo de Kovacic, porém nenhuma delas

cumpre todas as condições para terem interpretação física de acordo com nossas

imposições. Vamos apresentar dois casos em que é impossível encontrar valores dos

parâmetros em que são satisfeitas seis das sete condições, falhando apensas em 1dp

dρ< .

A inclusão da segunda parte solução usando (5.1) certamente é possível e ainda

é liouvilliana. Porém, por haver a presença de derivadas de ( )f x na pressão, esta se

torna uma expressão muito complicada e a análise das condições físicas, mesmo perto

do centro, fica inviável com nossos recursos. Portanto, concentramos nossa análise nas

soluções particulares com 2 0C = .

Solução 1

Para 3N = , 1 2z z= e o conjunto de relações entre os parâmetros:

( ) ( ) ( )21 1 0 1 1 1

2 1 1 5 4 2 , 57 40 2 , 5 4 2

7 49 7a Z a Z z Z

= − ± = − ± = − ±

onde a presença do sinal ± é originada em uma equação de segundo grau presente nos

coeficientes de x da equação em 1P− , obtemos a já conhecida solução de Durgapal e

Fuloria [2].

Com essa relação, podemos calcular as grandezas relevantes

( )

( ) ( )

2

1

1 1

7 5 4 2

7 57 40 2

x ZF

x Z x Z

+ ± = −

− + ±

52

( ) 2

1 1( ) 7 5 4 2f x C x Z = + ±

( ) ( )

( )2 2

1 1

3

1

8 49 14 5 4 2 9 57 40 2

7 5 4 2

x Z x Z

x Zρ

+ ± + ± =

+ ±

( ) ( )

( )2 2

1 1

3

1

16 49 49 5 4 2 2 57 40 2

7 5 4 2

x Z x Zp

x Z

+ ± − ± = −

+ ±

Expandindo a densidade e a pressão em torno de 0x = , avaliamos que para a

solução com sinal positivo devemos ter 1 0Z > , e para a com sinal negativo, 1 0Z < de

modo que as condições de regularidade no centro são satisfeitas e também que, pelo

menos inicialmente, temos (0) (0)pρ > . Escolhemos dois valores consistentes com

esses casos e mostramos os gráficos a seguir:

Figura 18: 1 4Z =

Figura 19: 1 5Z = −

As figuras 18 e 19 seguem a legenda:

2s

p

v

ρ

Solução 2

Para 4N = , 1 2z z= e outro conjunto de relações entre os parâmetros:

53

( ) ( ) ( )21 1 0 1 1 1

1 1 1 5 39 , 32 5 39 , 5 39

14 392 28a Z a Z z Z

= − ± = − ± = − ±

onde, novamente, o sinal ± é devido a uma equação de segundo grau entre os

parâmetros nos coeficientes de x da equação em 1P− , obtemos uma nova solução.

As grandezas relevantes calculadas estão a seguir:

( )

( ) ( )

2

1

1 1

28 32 39

2 28 32 5 39

x ZF

x Z x Z

+ ± = −

− + ±

( ) ( ) 221

1 1( ) 39 5 28 5 39196

Cf x Z x x Z = − ± + ±

( ) ( )

( )2 2

1 1

3

1

6 3920 196 11 2 39 3 669 103 39

28 5 39

x Z x Z

x Zρ

+ ± + ± =

+ ±

( ) ( )

( )2 2

1 1

3

1

2 19600 700 13 4 39 4451 697 39

28 5 39

x Z x Zp

x Z

+ ± − ± = −

+ ±

Fazendo a análise como no caso anterior, a expansão da densidade e da

pressão em torno de 0x = nos mostra que para termos estas grandezas regulares no

centro e (0) (0)pρ > , a solução com sinal positivo deve ter 1 0Z > , e a com sinal

negativo, 1 0Z < . Escolhemos dois valores consistentes para 1Z e expomos os gráficos

com a seguinte legenda:

2s

p

v

ρ

54

Figura 20: 1 10Z =

Figura 21: 1 90Z = −

55

6.Conclusão

A alternativa de se procurar soluções para a equação de isotropia de pressão para

fluidos perfeitos estáticos com simetria esférica, trabalhando com a equação diferencial

linear e homogênea de segunda ordem, se mostrou válida uma vez que, com esse

método, foi possível a obtenção de soluções inéditas na literatura, conforme [6].

Para o ansatz 1-1, as novas soluções são vistas na equação (5.2) - explicitadas

para diferentes valores de N na tabela 1. Para o ansatz 1-2, a equação (5.5) e para o

ansatz 2-2, a solução 2.

Devemos ressaltar também a importância do algoritmo de Kovacic. Por meio

dessa ferramenta fomos capazes de apontar que realmente não existe solução

liouvilliana para uma métrica conforme o ansatz 2-1 e de determinar relações entre

parâmetros iniciais, tanto para o ansatz 1-1 como para o 2-2, que tornavam a equação

diferencial integrável.

O interesse fundamental em soluções com interpretação física que satisfaçam as

condições apresentadas na introdução eleva a importância dos resultados obtidos. Além

disso, cabe observar que a imposição da regularidade na densidade central tornou a

investigação da equação de isotropia mais eficiente em todos os casos, não só com

ansatz 1-2, no qual não foi necessária a aplicação do algoritmo.

Será interessante comparar as equações de estado das soluções exatas com as

provenientes de modelos fenomenológicos de matéria de alta densidade publicados na

literatura. É possível que, fixando os parâmetros nas soluções, as soluções se

aproximem de algum modelo.

Outra oportunidade que pode ser explorada no futuro é a investigação de ansätze

com graus mais altos no numerador e denominador de ( )F x . O que pode se ganhar com

essa alternativa é, além de aumentar a generalidade, um maior número de parâmetros.

Porém o processo provavelmente é pouco fértil dada a complexidade da análise e da

aplicação do algoritmo de Kovacic, uma vez que acrescenta-se também raízes no

polinômio ( )t x , calculado no Primeiro Passo do algoritmo, complicando os cálculos

para o seu desenvolvimento.

56

Nos casos do ansatz 1-1 e 2-2, onde foi feita uma redefinição dos parâmetros em

termos de N, inteiro, o valor máximo assumido na investigação para este termo pode ser

maior em relação ao limite que impusemos (4N = ) por questões de simplificação e

eficiência na análise.

Também poderíamos ampliar a esfera de aplicação dos modelos encontrados

incluindo a constante cosmológica nas equações de estados sem houvesse mudança na

equação de isotropia, compartilhando, portanto, as mesmas soluções. Como a equação

(2.1) é válida para qualquer fluido perfeito estático com simetria esférica, estando este

em escala cosmológica ou não, é suficiente usar a equação (1.9) e então redefinir as

grandezas como:

e p pρ ρπ πΛ Λ= − = −8 8

ɶ ɶ .

57

Apêndices

Apêndice A - Introdução à Álgebra

Neste apêndice serão apresentados conceitos de álgebra clássica.

Seja A um conjunto não vazio onde estejam definidas duas operações as quais

chamaremos de soma e produto em A e denotaremos por + e ⋅ .

Assim,

( ):

,

A A A

a b a b

+ × →+֏

e ( ):

,

A A A

a b a b

⋅ × →⋅֏

Chamaremos o conjunto A equipado com + e ⋅ de anel, e esse anel será

denotado por ( ); ,A + ⋅ , se as seis seguintes condições são verificadas para quaisquer que

seja , ,a b c A∈ .

A.1) ( ) ( )a b c a b c+ + = + + (associativa da soma)

A.2) 0 A∃ ∈ tal que 0 0a a a+ = + = (existência de elemento neutro para a soma)

A.3) x A∀ ∈ existe um único y A∈ , denotado por y x= − , tal que 0x y y x+ = + =

(existência de elemento inverso aditivo)

A.4) a b b a+ = + (comutatividade da soma)

A.5) ( ) ( )a b c a b c⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ (associativa do produto)

A.6) ( )

( );a b c a b a c

a b c a c b c

⋅ + = ⋅ + ⋅

+ ⋅ = ⋅ + ⋅ (distributiva à esquerda e à direita)

Além dessas seis supracitadas condições, podemos citar outras características

importantes que um anel pode apresentar:

58

Se um anel ( ); ,A + ⋅ satisfaz a propriedade

A.7) 1 ,0 1A∃ ∈ ≠ , tal que 1 1 ,x x x A⋅ = ⋅ ∀ ∈ , dizemos que ( ); ,A + ⋅ é um anel com

unidade 1.

Se um anel ( ); ,A + ⋅ satisfaz a propriedade

A.8) , ,x y A x y y x∀ ∈ ⋅ = ⋅ , dizemos que ( ); ,A + ⋅ é um anel comutativo.

Se um anel ( ); ,A + ⋅ satisfaz a propriedade

A.9) , , 0 0 ou 0x y A x y x y∈ ⋅ = ⇒ = = , dizemos que ( ); ,A + ⋅ é um anel sem

divisores de zero.

Se ( ); ,A + ⋅ for um anel comutativo, com unidade e sem divisores de zero,

dizemos que ( ); ,A + ⋅ é um domínio de integridade.

E, finalmente, se um domínio de integridade ( ); ,A + ⋅ satisfizer a propriedade:

A.10) , 0,x A x y A∀ ∈ ≠ ∃ ∈ tal que 1x y y x⋅ = ⋅ = , dizemos que ( ); ,A + ⋅ é um corpo.

Seja ( ); ,A + ⋅ um anel e B um subconjunto não vazio de A. Então B é um subanel

de A se, e somente se, as seguintes condições são verificadas:

I. 0 B∈ (o elemento neutro pertence a B)

II. ,x y B x y B∈ ⇒ − ∈ (B é fechado para a diferença)

III. ,x y B x y B∈ ⇒ ⋅ ∈ (B é fechado para o produto)

Seja A um anel e seja I um subanel de A. Dizemos que I é um ideal à esquerda

de A se,

IVa. , ,a x I a A x I⋅ ∈ ∀ ∈ ∀ ∈ (ou simbolicamente A I I⋅ ⊂ ).

Analogamente definimos um ideal a direita J de um anel A como sendo um

subanel de A satisfazendo a condição

IVb. , ,x a J x J a J⋅ ∈ ∀ ∈ ∀ ∈ (ou simbolicamente J A J⋅ ⊂ ).

59

Se I for um ideal simultaneamente à direita e à esquerda de um anel A, dizemos

que I é um ideal de A, isto é

V. e A I I I A I⋅ ⊂ ⋅ ⊂ .

Se o anel A for comutativo, então as condições (IVa), (IVb) e (V) são

equivalentes e as três noções acima coincidem.

Claramente 0 e A são ideais de A (ditos ideais triviais de A). Os ideais não

triviais de A são chamados ideais próprios de A.

Seja F um corpo. Definiremos agora uma operação que leva cada inteiro n e

cada elemento a F∈ em um elemento de F denotado por na. Chamamos esses

elementos de múltiplos integrais de a. Agora consideramos os múltiplos integrais da

identidade e de F. Examinaremos em particular o conjunto de inteiros n tais que,

0ne= ; denotamos este conjunto por A e o chamamos de aniquilador de e.

Dois casos podem ocorrer: ou o aniquilador consiste apenas do inteiro zero e

neste caso dizemos que F tem característica zero (e F contém uma cópia do corpo ℚ ),

ou o aniquilador consiste de múltiplos de p, onde p é um número primo, e, neste caso,

dizemos que F tem característica p.

A.1 Homomorfismos

Sejam A e B dois conjuntos e φ uma operação dada por

( ): , ( )A B a A a Bφ φ→ ∀ ∈ ∈ . Se ( )A Bφ = , dizemos que φ é um mapeamento

sobrejetivo, ou uma função sobrejetiva. Se tivermos 1 2 1 2( ) ( )a a a aφ φ= ⇔ = , dizemos

que φ é um mapeamento injetivo . Se φ for simultaneamente sobrejetivo e injetivo,

dizemos que φ é bijetivo .

Tratando agora de anéis, chamamos de Homomorfismo de 1R em 2R um mapa

φ de 1R em 2R tal que 1,a b R∀ ∈ temos

( ) ( ) ( )a b a bφ φ φ+ = + e ( ) ( ) ( )ab a bφ φ φ=

60

Um homomorfismo sobrejetivo é chamado de epimorfismo; um homomorfismo

que é injetivo é chamado de monomorfismo e um homomorfismo que é bijetivo é

chamado de isomorfismo. O Kernel (núcleo) de um homomorfismo φ de um anel 1R

em um anel 2R é o conjunto de elementos em 1R mapeados por φ sobrejetivamente no

elemento zero de 2R . Se 2R for igual a 1R , então os homomorfismos são chamados de

endomorfismos e os isomorfismos de automorfismos.

Teorema A.1 O subcorpo primo (não tem subcorpos a não ser ele próprio) de um

corpo de característica zero é isomorfo ao corpo dos números racionais ℚ , e o

subcorpo primo de um corpo de característica p é isomorfo ao corpo pZ .

A.2 Espaços Vetoriais

Seja F um corpo; um espaço vetorial F é um conjunto V equipado com uma lei

de composição que chamaremos de adição e uma operação que leva todo elemento α

de F e todo elemento x de V em um elemento xα de V, tal que as seguintes condições

são satisfeitas:

I. Os elementos de V formam um grupo abeliano sobre a operação de adição

II. Para todos os elementos , Fα β ∈ e todos os elementos ,x y V∈ temos:

( )( )( ) ( )

;

;

;

x x x

x y x y

x x

α β α βα α αα β αβ

+ = +

+ = +

=

ex x= (onde e é a identidade de F).

A.3 Polinômios

Seja R um anel comutativo com identidade e. Chamaremos ( )P R o anel dos

polinômios com coeficientes em R. Definimos também o grau de um polinômio não-

61

nulo ( )0 1 2, , ,f a a a= … com coeficientes em R, como o maior inteiro n tal que na é

diferente de zero; denotamos o grau de f por f∂ . Se ( )0, , ,Nf a a= … … é um polinômio

não-nulo de grau N, chamamos Na o coeficiente principal de f. Se este coeficiente for a

identidade e de R, dizemos que f é um polinômio mônico e escrevemos

1 0Nf x a x a= + + +…

Seja F um corpo; um polinômio f com coeficientes em F é divisível por outro

polinômio d, e d é chamado de fator de f se existe um polinômio q tal que f qd= . O

polinômio f é chamado de irredutível se não existe fator d tal que 0 d f< ∂ < ∂ . Então

os únicos fatores de um polinômio irredutível f são os polinômio constantes e os

produtos de f por polinômios constantes.

Teorema A.2 Seja f qualquer polinômio e seja d um polinômio diferente de zero com

coeficientes em F. Então existem dois únicos polinômios q e r com coeficientes em F tal

que f qd r= + (q é chamado de quociente e r de resto) e r d∂ < ∂ .

Teorema A.3 Sejam f e g quaisquer dois polinômios diferentes de zero com coeficientes

em F. Então existe um único polinômio h com coeficientes em F tal que

1. h é um fatos para f e g;

2. se k é qualquer polinômio que é fator para f e g, então k é um fator para h. Além

disso, existem polinômios a e b com coeficientes em F tal que h af bg= + .

O polinômio h descrito acima é chamado de Maior Fator Comum ou Máximo

Divisor Comum (MDC) de f e g. Se o MDC de f e g for o polinômio constante e,

dizemos que f e g são relativamente primos.

A.4 Extensões de Corpos

Seja F um subcorpo de E. A dimensão de E sobre F, quando considerado com

um espaço vetorial, é o grau de E sobre F e é denotada por ( ):E F .

62

Teorema A.4 Se F é um subcorpo de E e E é um subcorpo de K, então

( ) ( )( ): : :K F K E E F= .

A.5 Extensões Simples

Seja E um corpo, F um subcorpo de E e S um subconjunto de E. A adição dos

elementos de S ao corpo F é um extensão de F; se essa extensão S consistir de apenas

um elemento α , então chamamos ( ) ( )F S F α= de extensão simples.

Teorema A.5 Seja E um corpo, F um subcorpo de E e Eα ∈ . Então

1. ( )F α é isomorfo ao corpo [ ]R F de funções racionais com coeficientes em F, ou

2. ( )F α coincide com o anel [ ]R α de polinômios em α com coeficientes em F.

No segundo caso existe um único polinômio mônico irredutível mα em ( )P F -

polinômio mínimo - tal que um polinômio f em ( )P F tem α como raiz se, e somente

se, for um múltiplo de mα . Ainda, ( )( ) :F F mαα = ∂ .

A.6 Extensões Algébricas

Seja K um corpo e M K⊃ uma extensão de K. Dizemos que u M∈ é algébrico

sobre K se ( ) 0f P K∃ ∈ − tal que ( ) 0f u = . ( )K u é uma extensão finita de K se, e

somente se, u é algébrico sobre K. Se ( )( ) :K u K n= , então 2 11, , , , nu u u −… é uma

base de ( )K u sobre K (quando ( )K u for considerado como espaço vetorial sobre K), e

em particular [ ]( )K u K u= .

Teorema C.6 Seja E uma extensão finita de um corpo F. Então ela é algébrica, ou seja,

os elementos Eα ∈ adicionados satisfazem (são solução) de um polinômio em ( )P F .

63

A.7 Fatoração de Polinômios

Seja L uma extensão de um corpo K, e p um polinômio em ( )P K . Dizemos que

o polinômio p se fatora completamente em L se p for um polinômio constante ou se

existem elementos 1, , , k Lα α α ∈… tal que

( )( ) ( )1 2 kp c x x xα α α= − − −… ,

onde c K∈ é o coeficiente da indeterminada de maior grau. A extensão L de K é

chamada de corpo de decomposição para p sobre K se

1. o polinômio p se fatora completamente em L e

2. o polinômio p não se fatora completamente em E onde E é qualquer subcorpo de L

incluindo K diferente de L. Obviamente L é gerado sobre K pelas raízes de p em L.

Teorema A.7 Sejam F e F ′ corpos, τ um isomorfismo de F em F' e Pτ a extensão

canônica de τ para ( )P F . Seja f um polinômio em ( )P F . Se K e K' são corpos de

decomposição para f e ( )P fτ sobre F e F', respectivamente, então existe um

isomorfismo 1τ de K em K' tal que 1( ) ( )a aτ τ= para todo a F∈ .

A.8 Extensões separáveis

Um polinômio irredutível com coeficientes em um corpo F é considerado

separável se não existem raízes repetidas em um corpo de decomposição; um

polinômio arbitrário é separável se todos os seus fatores irredutíveis são separáveis. Por

exemplo, se a é qualquer elemento de F, o polinômio ( )2x a− certamente tem uma raiz

repetida, mas é separável, pois seu único fator irredutível x a− não tem. Um corpo F é

chamado de perfeito se não existem polinômios inseparáveis com coeficientes em F.

Seja F um subcorpo de E. Um elemento Eα ∈ que é algébrico sobre F é

chamado de separável sobre F se seu polinômio mínimo ,Fmα sobre F é separável.

Uma extensão algébrica E de um corpo F é chamada uma extensão separável se todo

elemento de E for separável sobre F.

64

Teorema A.8 Todos os corpos de característica zero são perfeitos.

Corolário A.1 Todo corpo finito é perfeito.

A.9 Corpos Algebricamente Fechados

Seja C um corpo. Dizemos que C é algebricamente fechado se todo polinômio

não constante ( )f P C∈ tem uma raiz em C (e então ( )P C é um corpo de

decomposição). Equivalentemente, podemos dizer que C é algebricamente fechado se

apenas polinômios irredutíveis possuírem grau um em ( )P C - por exemplo, o corpo dos

complexos, ℂ .

Seja F um corpo. Uma extensão C de F é chamada fecho algébrico de F se for

algébrica sobre F e algebricamente fechada. Ou seja, o fecho algébrico de um corpo é

sua "menor" extensão algebricamente fechada.

A.10 Grupo de Galois

O grupo de Galois ( )G L K de uma extensão L de um corpo K é o grupo de

todos os automorfismos do corpo L que deixa os elementos de K fixos, ou seja, K-

automorfismos.

Seja ( )1

n

ii

f X a=

= −∏ no corpo de decomposição L. Sabemos que os elementos

de ( )G L K mapeiam raízes de f em raízes de f, ou seja, mapeiam o conjunto

1 2, , , nα α α… nele mesmo. Como eles são automorfismos, eles definem permutações

em 1 2, , , nα α α… . Como [ ]1, , nL K α α= … , um elemento de ( )G L K é unicamente

determinado por sua ação em 1 2, , , nα α α… . Então, a partir das definições, podemos

ver que o grupo de Galois ( )G L K de f consiste nas permutações σ de 1 2, , , nα α α…

com a propriedade

[ ] ( ) ( )1 1 1, , , , , 0 , , 0n n nP F X X P Pα α σα σα∈ = ⇒ =… … … .

65

A.10.1 Solubilidade de Equações

Seja f um polinômio. Dizemos que a equação ( ) 0f X = é solúvel (pela

extração de radicais) se existe uma torre

0 1 2 mF F F F F= ⊂ ⊂ ⊂ ⊂…

tal que

1. [ ]1 1, imi i iF F Fι ια α− −= ∈ ;

2. mF contém um corpo de decomposição para f.

Teorema A.9 (Galois, 1832) Seja F um corpo de característica zero (por exemplo, ℂ ).

A equação 0f = é solúvel se, e somente se, o grupo de Galois de f é solúvel.

Vemos, então, que o aspecto central da teoria clássica de equações é a teoria de

Galois, na qual temos o teorema acima como um dos resultados. Para equações

diferenciais, queremos saber se podemos escrever a solução geral de uma equação

diferencial de segunda ordem linear como uma função envolvendo somente os

coeficientes da equação diferencial, integrais e exponenciais. Em geral, a resposta é não.

Questões como essas são a origem da Teoria de Galois Diferencial.

A.11 Exemplos

Exemplo 1

O polinômio 2 1x x− + se fatora completamente no anel ( )P ℂ

( ) ( )2 1 11 1 3 1 3

2 2x x x i x i

− + = − + − −

Pegamos o subcorpo de ℂ dado pela adição de ( )11 3

2i+ e ( )1

1 32

i− a ℚ ,

mas este subcorpo pode ser obtido igualmente apenas com adição de 3i ; então

66

( )3iℚ é um corpo de decomposição para 2 1x x− + sobre ℚ . Sabendo que

( )3i ≠ℚ ℚ , pois ( )( )3 3 : 1i i≠ ⇒ >ℚ ℚ ℚ , mas como 3i é raiz do polinômio de

segunda ordem ( )( ) ( )( )2 3 ( ) 3 : 2 3 : 2x P i i+ ∈ ⇒ ≤ ⇒ =ℚ ℚ ℚ ℚ ℚ , então podemos

expressar um elemento ( )3iα ∈ℚ como 3a biα = + pois 1, 3i é uma base para

( )3iℚ .

Exemplo 2

Seja F K⊂ corpos, ( ) e 3F K i= =ℚ ℚ , sabemos que ( )3i ⊂ℚ ℂ . Temos

que K é um corpo de decomposição do polinômio 2 1x x− + sobre F. Então K é uma

extensão normal de F e K é uma extensão separável de F pois corpos com característica

zero não tem extensões inseparáveis. Provamos também que ( ): 2K F = ; então, o gripo

de Galois de K sobre F tem ordem 2. Como 1, 3i é uma base para K sobre F, todo

elemento x K∈ pode ser expressado unicamente na forma ( )3x a b i= + , onde

,a b∈ℚ . Como 3i é raiz do polinômio 2 3x + em ( )P F , quaisquer F-automorfismos

de k tem que mapear 3i em uma outra raiz deste polinômio em K, ou seja, em 3i ou

em 3i− . Então, os dois elementos do grupo de Galois são os automorfismo e ε τ

dados por

( ) ( )3 3a i a b iε + = +

e

( ) ( )3 3a i a b iτ + = − .

67

Apêndice B - Teoremas Utilizados pelo

Algoritmo de Kovacic

Vamos apresentar em uma ordem dialética os principais teoremas utilizados para

a construção do algoritmo de Kovacic.

O teorema a seguir nos mostra uma restrição que a equação diferencial linear e

homogênea de segunda ordem deve satisfazer para que seu grupo de Galois esteja

contido em (2, )SL ℂ .

Teorema B.1 O grupo de Galois diferencial G de uma equação diferencial com

coeficientes p e q em um corpo diferencial K da forma

0z pz qz′′ ′+ + = (B.1)

está contido em (2, )SL ℂ se, e somente se, ndp d′= , onde n∈ℤ e d K∈ .

O teorema para uma equação diferencial geral pode ser visto em [18].

Em particular, para uma equação diferencial do tipo:

0y gy′′ − = (B.2)

temos (2, )G SL⊆ ℂ .

Cabe lembrar que usando a transformação de variável 1

exp2

y z p

= −

∫ é

sempre possível transformar uma dada equação diferencial (B.1) em uma equação (B.2)

sem alterar o caráter liouvilliano das soluções.

Para estudar a integrabilidade da equação (B.2), o algoritmo de Kovacic

classifica o seu grupo de Galois diferencial. Essa classificação será dada pelo próximo

teorema:

68

Teorema B.2 O grupo de Galois diferencial G da equação (B.2) é um subgrupo

algébrico de (2, )SL ℂ com uma das formas a seguir:

i. G pode ser colocado na forma triangular e a equação (B.2) é redutível e tem uma

solução do tipo w

e∫ , onde ( )w x∈ℂ (caso 1n = ).

ii. G é imprimitivo e a equação (B.2) tem uma solução do tipo w

e∫ onde w é algébrico

de grau 2 em ( )xℂ (caso 2n = ).

iii. G é imprimitivo e finito e a equação (B.2) tem uma solução algébrica do tipo w

e∫ ,

onde w é algébrico de grau 4, 6 ou 12 em ( )xℂ (casos 4, 6, 12n = ).

iv. (2, )G SL= ℂ e a equação (B.2) não tem solução liouvilliana.

Então temos a seguinte proposição:

Proposição B.1 A equação (B.2) tem soluções liouvillianas se, e somente se, o seu

grupo de Galois diferencial for um subgrupo algébrico próprio de (2, )SL ℂ diferente

de (2, )SL ℂ .

Dizemos que uma equação diferencial linear é (Picard-Vessiot) integrável (ou

solúvel) se conseguimos obter sua extensão Picard-Vessiot K L⊂ e, então, sua solução

geral pela adição em K de integrais, exponenciais de integrais ou funções algébricas de

elementos de K. A terminologia usual é que a extensão Picard-Vessiot é liouvilliana, e

pode-se provar que uma equação diferencial linear é integrável se, e somente se, a

componente identidade do grupo de Galois é um grupo solúvel.

69

Referências [1] H A Buchdahl. Phys. Rev., 116 (1959), 1027

[2] Senovilla J M M e Skea J E F. Regular solutions based on density distributions,

QMC preprint, 1989.

[3] Skea J E F. New exact solutions of Einstein’s Field equations for spherically

Symmetric Static Perfect Fluids, QMC preprint, 1989.

[4] A J Maciejewski, J-M Strelcyn e M Szydlowski. Nonintegrability of Bianc

VIII Hamiltonian System, Journal of Math Physics, Vol. 42, Number 4, 2001.

[5] Michael R Finch. The Painleve-Gambier Equation and The Relativistic Static

Fluid Sphere, PhD Thesis, University of Sussex, 1987.

[6] M S R Delgaty e K. Lake. Physical Acceptability of Isolated, Static, Spherically

Symmetric, Perfect Fluid Solutions of Einstein's Equations. arXiv:gr-

qc/9809013, v1, 1998.

[7] Bernard F Schutz. A First course in General Relativity, Cambridge University

Press, First Edition, Cambridge, 1986.

[8] R D’Inverno. Introducing Einstein’s Relativity, Oxford University Press, First

Edition, Oxford, 1992.

[9] K. Schwarzschild. Sitz. Deut. Akad. Wiss. Math.-Phys. Berlin 23 (Jan. 1916)

189.

[10] A Duval e M Loday-Richaud, AAECC 3, 211-246 (1992).

[11] F Ulmer e J-A Weil, Note on Kovacic’s Algorithm, J. Symb. Comp., 22, 179-

200, 1996.

[12] J Morales-Ruiz, Differential Galois Theory and Non-integrability of

Hamiltonian Systems (Progress in Math., Birkhäuser, 1999).

[13] Luis Antonio A Coelho. Sobre a Integrabilidade de Sistemas Hamiltonianos

Provenientes de Modelos Cosmológicos, Dissertação de Mestrado, Universidade

do Estado do Rio de Janeiro, 2005.

[14] G Arfken. Mathematical Methods for Physicists, Academic Press, First Edition,

San Diego, 1985.

70

[15] Abramowitz M, Stegun I A. Handbook of Mathematical Functions with

Formulas, Graphs and Mathematical Tables, First Edition, Dover, 1964.

[16] R C Tolman. Static Solutions of Einstein's Field Equations for Spheres of Fluid,

Phys. Rev. 55, 364 - 373 (1939)

[17] M P Korkina e O Yu Orlyanskii. The Ukranian Journal of Physics 36 no. 8

(1991) 885.

[18] F. Ulmer e J.-A. Weil. Note on Kovacic’s Algorithm, Journal of Symbolic

Computation, 22, 179-200, 1996.

[19] Waterloo Maple Inc., Maple 9.01. Jul 9 2003, Build ID 137227.

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