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DANIEL MAGALHÃES FRANCO AVALIAÇÃO DA MELHORIA DA QUALIDADE (AMQ): MONITORANDO AS AÇÕES DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO AOS PACIENTES PORTADORES DE DIABETES MELLITUS 0

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DANIEL MAGALHÃES FRANCO

AVALIAÇÃO DA MELHORIA DA QUALIDADE (AMQ): MONITORANDO AS

AÇÕES DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO AOS PACIENTES

PORTADORES DE DIABETES MELLITUS

CARACOL

2011

0

DANIEL MAGALHÃES FRANCO

AVALIAÇÃO DA MELHORIA DA QUALIDADE (AMQ): MONITORANDO AS

AÇÕES DA SAÚDE DA FAMÍLIA NO ATENDIMENTO AOS PACIENTES

PORTADORES DE DIABETES MELLITUS

CARACOL

2011

1

Projeto de Intervenção apresentado à

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul,

como requisito para conclusão do curso de Pós

Graduação à nível de especialização em

Atenção Básica em Saúde da Família.

Orientadora: Prof. Nadieli Leite Neto.

RESUMO

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônico-degeneraiva com índices elevados de morbimortalidade que vem se destacando como um importante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. O SUS por meio da Estratégia de Saúde da Família é a porta de entrada para o paciente portador de diabetes mellitus. O DM é uma doença que necessita de acompanhamento a longo prazo e cuidados na prevenção de complicações agudas e crônicas. O projeto Avaliação da Melhoria da Qualidade (AMQ) representa um processo de auto-avaliação, sem caráter punitivo, que inclui todos os profissionais envolvidos na Atenção Básica. O objetivo do estudo foi avaliar o acompanhamento do paciente portador de Diabetes Mellitus na ESF do município de Caracol – MS, utilizando os questionários da Avaliação da Melhoria da Qualidade. Foram aplicados os cadernos de auto-avaliação nº 3 referentes a insumos e medicamentos, caderno nº 4 relacionado à promoção da saúde e vigilância em saúde e o caderno nº 5 que corresponde à saúde do adulto. Os resultados encontrados demonstram que quanto aos insumos há falta de tiras de teste de glicose, quanto à vigilância em saúde, a ESF não realiza atividades educativas e busca ativa para detecção de casos novos de DM. Em relação à saúde do adulto, caderno nº 5, a ESF não faz avaliação dos pés nas consultas, não realiza classificação de risco e não há medida do IMC. Pode-se concluir que o programa de acompanhamento dos pacientes portadores de diabetes no município de Caracol não está sendo efetivo, necessitando de uma reestruturação do sistema conforme plano de ação proposto neste estudo.

Descritores: Garantia da Qualidade dos Cuidados de Saúde, Avaliação em Saúde, Diabetes

Mellitus.

2

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AMQ – Avaliação da Melhoria da Qualidade

APS – Atenção Primária à Saúde

DM – Diabetes Mellitus

ESF – Estratégia de Saúde da Família

IMC – Índice de Massa Corporal

NASF – Núcleo de Apoio à Saúde da Família

NRS – Núcleo Regional de Saúde

PSF – Programa de Saúde da Família

SUS – Sistema Único de Saúde

UBS – Unidade Básica de Saúde

3

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Evolução dos padrões de qualidade da Saúde da Família segundo a AMQ............12

Figura 2 – Localização geográfica do município de Caracol no Estado do Mato Grosso do Sul.............................................................................................................................................16

Figura 3 - Número de portadores de Diabetes Mellitus cadastrados em Caracol - MS nos anos de 2006-2011.............................................................................................................................17

Figura 4 - Número de atendimentos a portadores de Diabetes Mellitus realizados na Unidade de Saúde de Caracol nos anos de 2002-2010............................................................................18

Figura 5 - Taxa de Internação Hospitalar por Diabetes Mellitus por Região nos anos de 2007-2010...........................................................................................................................................18

Figura 6 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 3......................................................................22

Figura 7 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 4......................................................................22

Figura 8 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 5......................................................................23

Figura 9 - Estágios dos padrões de qualificação da AMQ........................................................24

Figura 10 – Resultado final da Avaliação da Melhoria da Qualidade na ESF de Caracol.......26

4

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 06

2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................................... 07

2.1 Atenção Primária em Saúde/ Atenção Básica............................................................ 07

2.2 Qualidade no serviço de saúde..................................................................................... 08

2.3 Institucionalização da avaliação e monitoramento na Atenção Básica................... 09

3. AVALIAÇÃO DA MELHORIA DA QUALIDADE................................................. 11

4. DIABETES MELLITUS.............................................................................................. 14

4.1 Diabetes como problema de Saúde Pública................................................................ 15

5. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO................................................................. 16

6. OBJETIVOS................................................................................................................. 19

6.1 Objetivo Geral............................................................................................................... 19

6.2 Objetivo Específico....................................................................................................... 19

7. METODOLOGIA......................................................................................................... 20

7.1 Análise de dados............................................................................................................ 20

8. RESULTADOS............................................................................................................. 21

9. DISCUSSÃO................................................................................................................. 25

1O. CONCLUSÃO............................................................................................................... 26

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 27

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 30

ANEXO I....................................................................................................................... 32

5

1. INTRODUÇÃO

O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se em

grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. Com o envelhecimento da

população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis, como

sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da

incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo (BRASIL, 2006).

Os profissionais de saúde da rede básica têm grande importância no planejamento para

o controle do Diabetes Mellitus. São responsáveis pela definição do diagnóstico clínico e da

conduta terapêutica, e nos esforços para informar, educar e fazer o paciente seguir o

tratamento corretamente (BRASIL, 2006).

A evolução da incidência das doenças está relacionada aos serviços de saúde

disponíveis para a população. Algumas patologias tornaram-se crônicas, a morbidade e a

mortalidade decorrentes delas agravaram-se, e com isso as conseqüências da necessidade de

programas de saúde que revertam a situação, em busca do equilíbrio e manutenção da saúde, e

acompanhamento dos doentes (CERCHIARI; ERDMANN, 2008).

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica que exige acompanhamento a longo

prazo e cuidado individual para prevenção de complicações agudas e crônicas, estando

associada a elevados custos econômicos e sociais, tanto para indivíduos e famílias, quanto

para a sociedade (SILVEIRA, et al., 2010).

O Ministério da Saúde elaborou a proposta de Avaliação para Melhoria da Qualidade

da Estratégia Saúde da Família, que estabelece instrumentos de avaliação para a tomada de

decisões, definindo a qualidade como a propriedade fundamental a ser alcançado no Sistema

Único de Saúde.

A qualidade em serviços de saúde é um desafio aos seus gestores, técnicos e todos os

outros profissionais da saúde, podendo originar produtos para satisfazer as necessidades dos

seus utilizadores, superando as dificuldades com criatividade, empenhamento e participação

(PISCO, 2006).

A Avaliação do serviço de saúde faz-se necessária para identificar falha no sistema e

pode auxiliar na elaboração de um planejamento de ações a serem desenvolvidas pela

Estratégia de Saúde da Família.

6

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Atenção Primária em Saúde/ Atenção Básica

Segundo a Conferência de Alma-Ata, os cuidados primários de saúde são considerados

essenciais para a promoção e proteção da saúde e requerem ações intersetoriais e

interdisciplinares. Além disso, os resultados dessa Conferência concluíram que os sistemas de

saúde devem dar prioridade à Atenção Primária à Saúde (APS), antecipando e evitando

agravos à saúde (VENANCIO, et al., 2008).

No Brasil, a Lei Orgânica da Saúde no 8.080/1990 definiu a estratégia prioritária a ser

adotada pelo Ministério da Saúde na Atenção Primária, como “... o conjunto de ações, de

caráter individual ou coletivo, situadas no primeiro nível de atenção do sistema de saúde,

voltadas para a promoção da saúde, a prevenção de agravos, o tratamento e a reabilitação”

(BRASIL, 1990).

Após uma mobilização dos secretários municipais de saúde em torno da Atenção

Básica, a o Ministério da Saúde elegeu a Saúde da Família como uma estratégia para um novo

modelo de assistência à saúde no país, prevendo mudanças na reestruturação de todos os

níveis de atendimento (VENANCIO, et al., 2008).

O Programa de Saúde da Família (PSF) teve início no Brasil em 1994, como proposta

de organização da atenção primária de saúde para grupos de pessoas residentes em áreas

definidas. A equipe mínima é composta por médico, enfermeiro, dentista, auxiliares de

enfermagem e de consultório dentário, além de agentes comunitários de saúde (MOURA,

2010).

O SUS vem aumentando as responsabilidades dos municípios no acesso aos serviços

da Atenção Primária à Saúde com base na regionalização e na reorganização funcional do

sistema (ROCHA, 2006). O Ministério da Saúde, por meio dos municípios, exerce a

responsabilidade na atuação em saúde, desde a prevenção, diagnóstico e tratamento das

patologias, bem como fornecimento de alguns medicamentos e orientações diversas

(CERCHIARI; ERDMANN, 2008).

Num processo histórico, a Atenção Básica foi se fortalecendo para tornar-se a porta de

entrada preferencial do Sistema Único de Saúde. Assim, no documento Política Nacional de

Atenção Básica, de 2006, o Ministério da Saúde propõe a seguinte definição:

7

“A Atenção Básica caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde” (BRASIL, 2006, p. 45).

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) prevê o diagnóstico de saúde da comunidade,

o planejamento e programação com base na realidade local, a complementaridade, a

abordagem multiprofissional, o sistema de referência e contra-referência, a educação

continuada, a integração intersetorial, o acompanhamento, a avaliação e o controle social.

Nesse modelo, a família passa então a ser o principal centro da atenção, compreendida a partir

da interação do ambiente que se vive (MOIMAZ, et al., 2011).

2.2 Qualidade no serviço de saúde

O Ministério da Saúde elaborou a proposta de Avaliação para Melhoria da Qualidade

da Estratégia Saúde da Família (AMQ), que estabelece a avaliação como um instrumento

permanente para a tomada de decisões, definindo a qualidade como propriedade fundamental

a ser alcançado no SUS.

Trata-se de uma proposta de auto-avaliação municipal, por meio de um processo

participativo que inclui todos os atores envolvidos na Atenção Básica, articulado nas três

esferas de governo, sem finalidade punitiva (VENANCIO et al 2008).

A qualidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde tornou-se um tema especialmente

relevante a partir da reformulação dos sistemas nacionais de saúde nas últimas décadas

(CAMPOS, 2005).

No contexto da qualidade em saúde, avaliar é diagnosticar uma realidade a fim de nela

intervir. Não se trata apenas de conhecer os diversos aspectos de uma determinada situação.

Diagnosticar é fundamental, mas é só o primeiro passo, o mais importante é mudar a

realidade, procurando o seu aperfeiçoamento, com base no que foi avaliado (PISCO, 2006).

Sabe-se que os profissionais envolvidos nos serviços de saúde nos municípios são

aqueles que podem avaliar de maneira mais específica e particularizada a situação da

estratégia Saúde da Família, em seu âmbito de atuação. Também são eles que sabem que

ações podem ser executadas para o alcance da qualidade desejada ou da qualidade possível, de

acordo com as condições locais (BRASIL, 2005).

A qualidade é um objetivo que vem sendo perseguido por gestores, profissionais e

usuários em vários países do mundo, inclusive no Brasil. (CAMPOS, 2005).

8

A avaliação da qualidade não deve ser vista como um julgamento, mas como uma

oportunidade de mudança. Esse é o princípio que norteia análises do tipo "auto-avaliação".

Não deve ser entendida com um fim em si mesmo, mas deve ser acompanhada por propostas

que busquem implementar as mudanças (CAMPOS, 2005).

Para que um programa de Melhoria Contínua da Qualidade cumpra os seus objetivos

são necessárias as seguintes condições: provocar mudanças concretas no sentido de um

serviço de melhor qualidade; definir os responsáveis pelas ações; existência de uma decisão

superior em proporcionar as condições que não estão ao alcance da equipe de forma a facilitar

a melhoria de qualidade (CAMPOS, 2007).

2.3 Institucionalização da avaliação e monitoramento na Atenção Básica

A institucionalização da avaliação constitui-se em um dos desafios mais importantes

para os sistemas de saúde na atualidade.

A Saúde da Família tem como desafio se atualizar, definindo mais claramente seus

objetivos, componentes, atividades, resultados e impactos esperados. Para responder ao

desafio acima colocado, apresenta-se a proposta de Avaliação para Melhoria da Qualidade

(VENANCIO, et al., 2008).

Busca-se, com a avaliação dos sistemas municipais identificar processos indicativos de

potencialidades e fragilidades para a implementação da Atenção Básica, e favorecer a

construção de intervenções voltadas a melhoria do cuidado e da gestão (ROCHA, 2006).

A política de Monitoramento e Avaliação da Atenção Básica, que vem sendo

implementada nos últimos anos pelo Ministério da Saúde, aponta para a necessidade de

adoção de processos de mudanças, identificando os avanços e as dificuldades nas diversas

dimensões que compõem os sistemas municipais de saúde (ROCHA, 2006).

Com a implantação da Avaliação da Melhoria da Qualidade (AMQ) inova-se na auto-

avaliação municipal em saúde. Na elaboração da proposta e dos seus instrumentos, levou-se

em consideração essa visão ampliada da organização, funcionamento e prática de saúde da

Estratégia de Saúde da Família (ROCHA, 2006).

Para o monitoramento da qualidade utilizam-se informações previamente existentes

nos sistemas de informação, que tenham alimentação sistemática e regular. As falhas

identificadas devem servir para mudanças de estrutura e processos (CAMPOS, 2007).

A avaliação é um poderoso instrumento de mudança que não deve ser visto como uma

ameaça, mas sim como um incentivo, para que os diferentes serviços de saúde cumpram

9

padrões mínimos de qualidade. A finalidade de políticas de avaliação e de melhoria da

qualidade não pode limitar-se apenas a demonstração de problemas e de propostas para

soluções dos problemas detectados (PISCO, 2006).

A partir das informações estatísticas é possível realizar o planejamento, o controle e a

avaliação dos serviços de saúde. O planejamento deve ser realizado de acordo com a

necessidade local, recursos disponíveis, objetivos propostos, entre outros. A avaliação pode

ser considerada uma das partes do planejamento. O controle é o processo de avaliação dos

serviços e ações em relação ao que foi planejado, tem como objetivo medir e corrigir o

desempenho e assegurar que os planos sejam alcançados (CERCHIARI; ERDMANN, 2008).

Pela análise dos indicadores é possível avaliar um serviço ou programa de saúde.

Alguns indicadores de maior importância são os de mortalidade, morbidade e custos. Para a

análise dos indicadores é necessário o conhecimento de todas as variáveis relacionadas ao

indicador, procedência, importância, facilidade e aplicabilidade (CERCHIARI; ERDMANN,

2008).

A livre adesão é um dos aspectos que torna a AMQ um método interessante, pois não

tem uma cobrança de níveis superiores quanto a sua realização, resultando em uma avaliação

com mais chances de veracidades (MOURA, 2010).

10

3. AVALIAÇÃO DA MELHORIA DA QUALIDADE

Por meio da constituição de um grupo técnico, com a participação dos municípios e

estados, elaborou-se a proposta de "Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia

Saúde da Família", sob a gerência da Coordenação de Acompanhamento e Avaliação do

Departamento de Atenção Básica do Ministério da Saúde, e ainda com a cooperação técnica e

financeira da Organização Panamericana da Saúde e do Banco Mundial e a assessoria técnica

do Instituto de Qualidade em Saúde do Ministério da Saúde de Portugal (CAMPOS, 2005).

A proposta AMQ foi desenvolvida pelo Ministério da Saúde e orienta-se a partir dos

princípios do SUS, considerando que os serviços de saúde devem procurar a excelência na

qualidade da produção, sistematização e universalidade do cuidado (VENANCIO, et al.,

2008).

Concebido como um instrumento de auto-avaliação da qualidade dirigida para

gestores, coordenações e equipes de saúde da família, o projeto AMQ-ESF tem revelado

pouco a pouco o interesse e o entusiasmo dos profissionais da atenção básica de vários

municípios do país pelo tema da qualidade (CAMPOS, 2007).

O projeto AMQ representa uma metodologia de auto-avaliação e gestão interna da

qualidade, com vistas ao desenvolvimento de processos de melhoria contínua da qualidade e

oferece aos gestores municipais, coordenadores e profissionais, a possibilidade de identificar

pontos críticos e o desenvolvimento da qualidade da ESF de maneira produtiva e permanente

(ROCHA, 2006).

Como modalidade de coleta de dados, a AMQ adota a avaliação interna (auto-

avaliação), na qual os sujeitos integrantes do processo analisam o seu desempenho e o

representam sob a forma de escalas, gráficos ou relatórios descritivos (VENANCIO, et al.,

2008).

Os resultados da auto-avaliação não têm caráter público, ou seja, as informações são

da unidade avaliada e não são divulgadas. A AMQ apresenta padrões de excelência, que

permitem o diagnóstico acerca da organização e do funcionamento dos serviços e suas

práticas (VENANCIO, et al., 2008).

A opção por padrões de qualidade de resposta categórica (sim/ não) foi a que melhor

atendeu aos objetivos do projeto de elaborar instrumentos de avaliação sensíveis, específicos

(gestão/ práticas) e universais para o país, de fácil compreensão e utilização (BRASIL, 2005).

Nos instrumentos da avaliação, o conceito de estágios de qualidade está associado a

cada um dos padrões, assim definidos (figura 1):

11

Padrões do Estágio E – Qualidade Elementar (inclui elementos fundamentais de

estrutura e ações mais básicas da estratégia SF);

Padrões do Estágio D – Qualidade em Desenvolvimento (inclui elementos

organizacionais iniciais e aperfeiçoamento de alguns processos de trabalho);

Padrões do Estágio C – Qualidade Consolidada (inclui processos organizacionais

consolidados e avaliações iniciais de cobertura e impacto das ações);

Padrões do Estágio B – Qualidade Boa (inclui ações de maior complexidade no

cuidado e resultados mais duradouros e sustentados);

Padrões do Estágio A – Qualidade Avançada (inclui processos e, principalmente, nos

resultados mais complexos, padrão de excelência, apresentados como um modelo a ser

alcançado).

Figura 1 – Evolução dos padrões de qualidade da Saúde da Família segundo a AMQ.

Os seis cadernos técnicos que acompanham a AMQ são destinados a cada um dos

âmbitos de gestão e execução da ESF e seus respectivos sujeitos.

Caderno de auto-avaliação nº. 1 – é dirigido ao gestor municipal de saúde e sua equipe

direta de trabalho.

Caderno de auto-avaliação nº. 2 – é dirigido aos coordenadores municipais da

estratégia Saúde da Família.

Caderno de auto-avaliação nº. 3 – é dirigido aos responsáveis pela gerência da

Unidade de Saúde da Família.

Caderno de auto-avaliação nº. 4 – é dirigido a todos os profissionais da equipe de

Saúde da Família.

12

Caderno de auto-avaliação nº. 5 – é dirigido aos profissionais de nível superior da

equipe de Saúde da Família. Aborda temas relacionados à organização do cuidado e os

resultados de suas ações junto à população.

Deverá ser salientado que uma resposta “não”, especialmente quando relacionada aos

estágios Elementar e em Desenvolvimento, traz o foco para aquilo que precisa ser aprimorado

ou continuar sendo realizado até que os parâmetros ideais sejam alcançados. Os padrões

respondidos como “sim” pelos participantes, certamente, não serão alvo de intervenções

(BRASIL, 2005).

Apenas para os instrumentos nº 1, 2 e 3, a variação de padrões conforme o porte

populacional foi definida:

PB – Padrão Básico: aplicabilidade universal, para todos os instrumentos.

20 – Significa que o padrão é aplicável aos municípios maiores de 20.000 habitantes

100 – Significa que o padrão é aplicável aos municípios maiores de 100.000 habitantes

500 – Significa que o padrão é aplicável aos municípios maiores de 500.000 habitantes

4. DIABETES MELLITUS

13

O Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta

de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos.

Caracteriza-se por hiperglicemia crônica, freqüentemente acompanhada de dislipidemia,

hipertensão arterial e disfunção endotelial (Consenso Brasileiro da SBD, 2003).

De acordo com o estudo multicêntrico brasileiro realizado em nove cidades brasileiras,

no período de 1986-1988, a prevalência de DM foi de 7,6% para a população com idade de

30-69 anos (MALERBI; FRANCO, 1992).

A história natural do diabetes é marcada pelo aparecimento de complicações crônicas,

geralmente classificadas como microvasculares (retinopatia, nefropatia e neuropatia) e

macrovasculares (doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e vascular periférica).

Todas são responsáveis por expressiva morbi-mortalidade, com altas taxas de mortalidade

cardiovascular e renal, cegueira, amputação de membros e perda de função e qualidade de

vida (BRASIL, 2006).

Dentre as complicações crônicas destacam-se aquelas relacionadas com os pés, sendo

caracterizado pelo aparecimento de lesões e ocorrem como conseqüência de neuropatia em

80-90% dos casos. As lesões são geralmente precipitadas por trauma e complica-se com a

infecção, podendo terminar em amputação quando não iniciado um tratamento precoce e

adequado (LAURINDO, et al., 2005).

Quanto à avaliação dos pés para prevenção de neuropatia diabética e pé diabético

dentre outros, o Caderno de Atenção Básica do Ministério da Saúde (2006) recomenda ao

menos uma avaliação anual com uso de testes neurológicos básicos quantitativos, assim como

a inspeção quanto a deformidades e ao aspecto da rede venosa.

Segundo o Consenso da Sociedade Brasileira de Diabetes (2003), os fatores de risco

para o desenvolvimento do diabetes são: Idade ≥ 45 anos, história familiar de Diabetes,

excesso de peso (IMC ≥ 25kg/m2), sedentarismo, HDL baixo ou triglicérides elevados,

hipertensão arterial, diabetes gestacional, macrossomia.

O tratamento do DM inclui as seguintes estratégias: o tratamento nutricional, aumento

da atividade física, a monitorização da glicemia, a educação, modificações do estilo de vida,

suspensão do fumo, e se necessário, uso de medicamentos (BRASIL, 2006).

4.1 Diabetes como problema de Saúde Pública

14

Sabendo que a atenção básica à saúde constitui uma das principais portas de entrada

para o sistema de saúde, onde grande parte dos problemas de saúde deveriam ser resolvidos, é

evidente que a equipe de saúde da família tem papel fundamental no processo de

acompanhamento e prevenção das complicações do Diabetes Mellitus (SILVEIRA, et al.,

2010).

Inúmeros países vêm, nos últimos anos, reconhecendo o diabetes mellitus como um

problema de saúde pública. Além disso, a importância como problema de saúde está

crescendo, tanto em virtude do aumento de sua prevalência e incidência, como das suas

repercussões sociais e econômicas (MALERBI; FRANCO, 1992).

Para algumas condições de saúde, a atenção primária oportuna e de boa qualidade

pode evitar a hospitalização ou reduzir sua frequência. Isso significa que o cuidado deve ser

resolutivo e abrangente, de forma que a referência se dará somente naqueles casos raros e

incomuns que extrapolarem sua competência, sendo responsabilidade da atenção primária

(SILVEIRA, et al., 2010).

O cuidado integral ao paciente com diabetes e sua família é um desafio para a equipe

de saúde, especialmente para poder ajudar o paciente a mudar seu modo de viver, o que estará

diretamente ligado à vida de seus familiares e amigos. Aos poucos, ele deverá aprender a

gerenciar sua vida com diabetes em um processo que vise qualidade de vida e autonomia

(BRASIL, 2006).

O impacto do diabetes sobre as sociedades é subestimada, uma vez que, a maior parte

dos custos relaciona-se com as suas complicações, sendo que estas podem ser reduzidas e

evitadas. Dependendo do país pode gerar de 5 a 14% das despesas de atenção de saúde

(LAURINDO, et al., 2005).

Além dos custos financeiros, o Diabetes envolve, ainda, outros custos relacionados à

dor, ansiedade, inconveniência e menor qualidade de vida que afeta pessoas e suas famílias

(SILVEIRA, et al., 2010).

Cabe aos profissionais de saúde identificar as pessoas em risco para o

desenvolvimento do Diabetes Mellitus e intensificar as ações para promover seu controle,

entre os já diagnosticados (LAURINDO, et al., 2005).

Dessa forma, considerou-se oportuno que o município de Caracol conduzisse uma

avaliação da implantação da AMQ, visando contribuir para a melhoria do serviço oferecido

aos indivíduos portadores de DM na Atenção Básica.

5. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO

15

Caracol é um município brasileiro do estado de Mato Grosso do Sul. Localiza-se a

uma latitude 22º00'50" Sul e a uma longitude 57º01'28" Oeste (figura 2), estando a uma

altitude de 212 metros. Sua população estimada em 2010 era de 5.398 habitantes, sendo 2.764

do sexo masculino e 2.634 do sexo feminino. Possui uma área de 2946,31 km².

O município é composto por 2 Equipes de Saúde da Família, uma equipe rural (com 5

Agentes Comunitários de Saúde) e uma equipe urbana (com 7 Agentes Comunitários de

Saúde), tendo 100% de cobertura de atuação na área urbana. Além da Saúde da Família, o

município possui 2 fisioterapeutas, 1 nutricionista, 1 fonoaudióloga e 1 psicóloga, compondo

a equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF.

Apesar das controvérsias, acredita-se que a cidade de Caracol teve implantado seus

alicerces, por volta de 1884, em terras doadas por Correa da Costa, pecuarista importante da

região. Foi elevada a distrito pela Lei N.° 659, de 20 de junho de 1914, e o município criado

pela Lei N.º 1.971, de 14 de novembro de 1963. Comemora-se no dia 1 de Maio o aniversário

da cidade e a data de instalação do município.

Figura 2 – Localização geográfica do município de Caracol no Estado do Mato Grosso do Sul.

De acordo com a figura 3, observa-se que o número de portadores de Diabetes no

município de Caracol vem aumentando conforme os anos. Do ano de 2006 até o ano de 2011

houve um aumento de 43,83% no cadastro. O número esperado de portadores de diabetes para

16

uma população é de 6-11%, em Caracol o cadastro pode ter sido subnotificado, justificando

índices abaixo do esperado (aproximadamente 1,20%).

Nº Absoluto de Portadores de Diabetes Mellitus em Caracol-MS

4857

41

5464

73

01020304050607080

2006 2007 2008 2009 2010 2011

Caracol

Figura 3 - Número de portadores de Diabetes Mellitus cadastrados em Caracol - MS nos anos de 2006-2011.Fonte: DATASUS/2011.

Em relação aos atendimentos dos portadores de diabetes na unidade de saúde de

Caracol houve um aumento até o ano de 2007 (figura 4). No ano de 2010, houve apenas 31

atendimentos, número extremamente baixo em relação ao número de portadores (64) do

referido ano. Considerando que os portadores de diabetes devem fazer 1 consulta a cada 3

meses, ou seja, 4 consultas por ano, no ano de 2010 deveria ocorrer no mínimo 256

atendimentos, pode-se supor uma falha no programa de atendimentos ou no sistema de

informação.

17

Atendimento a portadores de Diabetes Mellitus na Unidade de Saúde de Caracol

14

112 116 115

161

210

104

180

31

0

50

100

150

200

250

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Nº A

bsol

uto

Figura 4 - Número de atendimentos a portadores de Diabetes Mellitus realizados na Unidade de Saúde de Caracol nos anos de 2002-2010. Fonte: DATASUS/2011.

O indicador do pacto pela saúde, taxa de internação hospitalar por diabetes, foi

estabelecidos a partir da Portaria 2.669, de 03 de novembro de 2009. Houve um declínio

comparando os anos de 2007, 2009 e 2010. Analisando por região, o indicador municipal está

abaixo das taxas Estadual e Federal (figura 5).

Taxa de Internação Hospitalar por Diabetes em Caracol, Mato Grosso do Sul e Brasil

0123456789

2007 2008 2009 2010

Caracol

MS

Brasil

Figura 5 - Taxa de Internação Hospitalar por Diabetes Mellitus por Região nos anos de 2007-2010.Fonte: DATASUS/2011.

6. OBJETIVOS

18

6.1 Objetivo Geral

Avaliar o acompanhamento do paciente portador de Diabetes Mellitus na ESF do

município de Caracol - MS utilizando os questionários da Avaliação da Melhoria da

Qualidade.

6.2 Objetivo Específico

Identificar pontos críticos e fragilidades da ESF, subsidiando a elaboração de planos

de ação com vistas à melhoria da qualidade;

Elaborar um plano de ação com base nos resultados da avaliação da AMQ.

19

7. METODOLOGIA

O presente estudo trata-se da avaliação das ações realizadas aos portadores de

Diabetes Mellitus pela Estratégia de Saúde da Família urbana e rural do município de Caracol,

através da utilização do instrumento de Avaliação da Melhoria da Qualidade da Estratégia de

Saúde da Família. A pesquisa é descritiva, sendo estudo de caso em único momento.

A técnica de coleta de dados foi à análise das respostas referentes a diabetes do

instrumento de auto-avaliação nº 3, 4 e 5 (ANEXO I). O município de Caracol não possui

coordenação da Atenção Básica e Estratégia de Saúde da Família, portanto o caderno foi

respondido pelos enfermeiros e técnicos de enfermagem da ESF e o farmacêutico da Unidade

Básica de Saúde. A avaliação foi realizada pelo pesquisador.

A equipe se reuniu em três momentos para análise dos cadernos. A primeira reunião

realizada foi para a avaliação, sendo que os dados foram analisados com base no

consentimento de todos os membros da equipe, atribuindo-se a resposta “sim” apenas nos

casos em que a ESF atendia a todos os quesitos do padrão. A segunda reunião foi a para

apresentação dos resultados e a terceira para apresentar o plano de intervenção.

7.1 Análise de dados

A análise dos dados baseou-se na proporção de respostas afirmativas (SIM) e

consequentemente, na evolução da equipe nos padrões de qualidade (Elementar a Avançado),

sendo que quando pontuado afirmativamente, acredita-se que a ESF conquistou mais um

avanço na qualidade. Os resultados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas.

8. RESULTADOS

20

A tabela 1 revela os resultados dos questionários aplicados na ESF de Caracol,

separados pela questão, padrão de qualidade e a resposta dos profissionais de saúde. Para

melhor entendimento foram construídos gráficos para apresentação dos resultados.

Tabela 1 – Resultados do questionário aplicados à ESF de Caracol - MS.Questão Padrão SIM NÃO

3.32 D X3.35 D X3.36 C X4.39 D X4.65 E X5.35 E X5.37 D X5.39 D X5.50 C X5.52 C X5.53 C X5.55 C X5.66 B X

TOTAL 3 10

O caderno de auto-avaliação nº. 3 é dirigido aos responsáveis pela gerência da

Unidade de Saúde da Família e está relacionado aos insumos e medicamentos disponíveis. Na

avaliação do caderno foi encontrado apenas 3 questões relacionadas à diabetes mellitus, e com

um percentual de 66,6% de respostas negativas (figura 6). O expressivo aumento das

respostas negativas se deve ao fato de não ter medicamentos disponíveis com regularidade. A

Unidade possui apenas 1 glicosímetro e fitas em quantidade insuficiente. As respostas

afirmativas estão relacionadas à dispensação de insulina NPH em quantidade suficiente, visto

que são fornecidas pela Secretaria Estadual de Saúde através do Núcleo Regional de Saúde

(NRS) de Jardim.

21

Avaliação do Caderno 3 - Insumos e Medicamentos

66,60%

33,30%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

% de respostas negativas % de respostas Positivas

Figura 6 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 3.

O Caderno de auto-avaliação nº. 4 é dirigido a todos os profissionais da equipe de

Saúde da Família e está relacionado às ações de promoção da saúde e vigilância em saúde. Na

avaliação foi questionado sobre as atividades educativas e busca ativa para detecção de casos

novos de Diabetes Mellitus. Os resultados demonstraram que não há ações regulares de

educação e vigilância em saúde, obtendo 100% de respostas negativas (figura 7). Na Unidade

de Saúde não há um planejamento das atividades educativas para portadores de Diabetes e

rastreamento para identificação de casos novos.

Avaliação do Caderno 4 - Promoção da Saúde e Vigilância em Saúde

100,00%

0,00%0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

% de respostas negativas % de respostas Positivas

Figura 7 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 4.

22

O Caderno de auto-avaliação nº. 5 é dirigido aos profissionais de nível superior da

equipe de Saúde da Família e aborda temas relacionados à organização do cuidado e os

resultados de suas ações junto à população. Na avaliação foi encontrado apenas 25% de

respostas afirmativas, pois não há uma programação de consultas agendadas trimestralmente,

não é utilizado a classificação de risco, a medida do IMC e avaliação dos pés não são

freqüentes, ao analisar o indicador do Pacto pela Saúde houve uma redução nas internações

por complicações do diabetes nos últimos 24 meses (figura 8). Considerando as falhas no

programa de atenção ao portador de diabetes, a redução nas internações pode estar

relacionada à subnotificação.

Avaliação do Carderno 5 - Saúde do Adulto

75%

25%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

% de respostas negativas % de respostas Positivas

Figura 8 - Gráfico da avaliação do caderno nº. 5.

Conforme a tabela 2, o padrão de qualidade Elementar (E) que inclui propostas

fundamentais de estrutura e ações básicas da ESF, encontra-se com 50% de respostas

negativas, ou seja, precisam ocorrer mudanças para o cumprimento mínimo dessas ações. O

Padrão do Estágio D (qualidade em Desenvolvimento) inclui elementos organizacionais

iniciais e aperfeiçoamento de alguns processos de trabalho, apresenta-se com 100% de

respostas negativas, necessitando de uma reorganização do serviço de saúde.

23

Tabela 2 - Consolidado da avaliação final da AMQ conforme os padrões de qualidade.

 Padrão de Qualidade A B C D E TOTALNº de Questões - 1 5 5 2 13Nº de respostas Negativas - - 4 5 1 10% de respostas negativas - 0% 80% 100% 50% 76,92%Nº de respostas Positivas - 1 1 - 1 3% de respostas Positivas - 100% 20% - 50% 23,08%

O Padrão do Estágio C (qualidade Consolidada) inclui processos organizacionais e

avaliações iniciais de cobertura e impacto das ações, apresentou apenas 20% das afirmativas,

sendo esta referentes à dispensação de insulina NPH. Portanto, necessita uma efetivação dos

padrões E e D para seu desenvolvimento.

O Padrão do Estágio B (Qualidade Boa) que inclui ações de maior complexidade no

cuidado e resultados mais duradouros e sustentados, pode ter influência da subnotificação dos

dados de internação hospitalar, visto que os padrões E, D e C não atendem aos quesitos

mínimos. Não constam questões relacionadas a diabetes para o padrão do Estágio A

(Qualidade Avançada) que inclui processos e, principalmente, nos resultados mais complexos,

padrão de excelência, apresentados como um modelo a ser alcançado.

De maneira geral os padrões E, D e C demonstram a aplicação dos princípios e

diretrizes específicos da Estratégia Saúde da Família e os padrões B e A estão relacionados à

evolução da qualidade das ações da estratégia de Saúde da Família (figura 9) (BRASIL, 2005;

MOURA, 2010).

Figura 9 - Estágios dos padrões de qualificação da AMQ.

24

9. DISCUSSÃO

O Ministério da Saúde através da Portaria nº. 2.583, de 10 de outubro de 2007 define o

elenco de medicamentos e insumos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, nos termos

da Lei nº 11.347, de 2006, aos usuários portadores de diabetes mellitus.

O artigo 2º da portaria determina os insumos (seringa com agulha, tiras reagentes e

lancetas para punção digital) que devem ser disponibilizados aos usuários do SUS, portadores

de diabetes mellitus insulino-dependentes e que estejam cadastrados no cartão SUS e/ou no

Programa de Hipertensão e Diabetes - Hiperdia.

O Caderno de Atenção Básica de Diabetes (2006) apresenta as ações e condutas que

devem fazer parte do trabalho de toda a equipe de saúde a fim de incentivar e promover

atividades multidisciplinares de educação em saúde para pacientes e seus familiares, em

grupos ou individualmente, levando em consideração aspectos culturais e psicossociais, com

ênfase na autonomia do paciente para seu auto-cuidado (BRASIL, 2006).

O risco de obesos ficarem diabéticos aumenta em 50%, quando o índice de massa

corporal (IMC) está entre 33 e 35kg/m². Juntamente com a diminuição da resistência à

insulina, a perda de peso melhora a resposta das células beta pancreáticas à glicose, além de

estar associada a um aumento na liberação de insulina e a uma redução na imunorreatividade

da pró-insulina.

O pé diabético é a infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos profundos associados

com anormalidades neurológicas e vários graus de doença vascular periférica no membro

inferior. Caracteriza-se pelas complicações que incidem no pé do paciente com diabetes

mellitus e que resultam da interação de três fatores: neuropatia, isquemia e infecção. Causa

considerável sofrimento, mudanças no estilo e qualidade de vida do paciente, impedindo suas

funções normais e, finalmente, em alguns casos, levam a amputação, com conseqüências

extremas (PITTA, et al., 2005). O Ministério da Saúde recomenda avaliação dos pés em todas

as consultas realizadas aos portadores de diabetes mellitus.

O indicador do Pacto pela Saúde, Internação por complicações por diabetes, objetiva

avaliar de forma indireta, a disponibilidade de ações básicas de prevenção e controle

(diagnóstico precoce, tratamento e educação para a saúde) das doenças crônico- degenerativas

não transmissíveis. Espera-se que, nos municípios que priorizem a execução de ações de

controle do diabetes mellitus, ocorra uma diminuição no número de internações de uma forma

geral na população.

25

10. CONCLUSÃO

Os cadernos de avaliação da AMQ apresentam de forma simplificada as deficiências

da gestão, do processo de trabalho, infra-estrutura e insumos da Saúde da Família. Com essas

informações foi elaborado um plano de intervenção para mudanças do processo de trabalho,

com a descrição da situação encontrada, recomendações, detalhamento da execução,

responsável e prazos de execução.

O resultado final da Avaliação da AMQ revela um percentual de respostas negativas

muito elevadas. De um total de 13 questões avaliadas, 76,92% (10 questões) das respostas

foram negativas e apenas 23,08% (3 questões) foram afirmativas (figura 10). Portanto, pode-

se concluir que o programa de acompanhamento dos pacientes portadores de diabetes no

município de Caracol não está sendo efetivo.

Na avaliação do padrão de qualidade, o padrão “E” (elementar) e “D”

(desenvolvimento) obteve um resultado final de 50% e 100% respectivamente das respostas

negativas, ou seja, a ESF não está fazendo o mínimo esperado, não estando em conformidade

com os padrões estabelecido pelo Ministério da Saúde.

Segundo a portaria 493 de 10 de março de 2006, a taxa de internação por

complicações do diabetes diminui à medida que a Atenção Básica vem executando suas ações

com efetividade. No caso de Caracol, a taxa de internação diminuiu ao se avaliar os últimos

24 meses, porém, não é o resultado do trabalho da Atenção Básica. Faz-se necessário uma

reestruturação do sistema de acompanhamento desses pacientes, através do plano de ação

proposto e uma nova análise do programa 6 meses após a primeira avaliação.

Resultado Final da AMQ na ESF

76,92%

23,08%

0,00%10,00%20,00%30,00%

40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%90,00%

% de respostas negativas % de respostas Positivas

Figura 10 – Resultado final da Avaliação da Melhoria da Qualidade na ESF de Caracol.

26

11. CONSIDERAÇÕES FINAIS

27

28

29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.669, de 03 de novembro de 2009. Aprova a Relação de Indicadores da Atenção Básica – 2006, cujos indicadores deverão ser pactuados entre municípios, estados e o Ministério da Saúde.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 493 de 10 de março de 2006. Aprova a Relação de Indicadores da Atenção Básica - 2006, cujos indicadores deverão ser pactuados entre municípios, estados e Ministério da Saúde.

BRASIL. Lei 8.080 de 19 de Setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

BRASIL. Departamento de Atenção Básica. Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família - Guia de Implantação Municipal AMQ. Brasília – DF, 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº. 2.583 de 10 de outubro de 2007. Define elenco de medicamentos e insumos disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde, nos termos da Lei nº 11.347, de 2006, aos usuários portadores de diabetes Mellitus. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 198, 15 de outubro de 2007.

CAMPOS, C. E. A. Estratégias de avaliação e melhoria contínua da qualidade no contexto da Atenção Primária à Saúde. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. Recife. v. 5, Supl 1, p. S63-S69, dez. 2005.

CAMPOS, C. E. A. A Melhoria Contínua da Qualidade nos marcos do Projeto AMQ-ESF. Revista Brasileira Saúde da Família. Ministério da Saúde. Brasília. Ano VIII, n. 13, p. 46-48, Jan./Mar. 2007.

CERCHIARI, G. S. F., ERDMANN, R. H. Sistema de informações para acompanhamento, controle e auditoria em saúde pública. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro. v. 42, n. 5, p. 925-948, set./out. 2008.

CONSENSO BRASILEIRO SOBRE DIABETES 2002: diagnóstico e classificação do diabetes melito e tratamento do diabetes melito do tipo 2. – Rio de Janeiro: Diagraphic, 2003.

30

LAURINDO, M, C. et al. Conhecimento das pessoas diabéticas acerca dos cuidados com os pés. Revista Arquivos de Ciência da Saúde. v. 12, n. 2, p. 80-84, abr./jun. 2005.

MALERBI, D. A., FRANCO, L. J. Multicenter study of the prevalence of diabetes mellitus and impaired glucose tolerance in the urban Brazilian population aged 30-69 Yr. Diabetes Care. v. 15, p. 1509-1516. 1992.

MOIMAZ, S. A. S. et al. Saúde da Família: o desafio de uma atenção coletiva. Revista Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 16, Supl. 1, p. 965-972, 2011.

MOURA, M. M. Análise dos resultados e impactos da aplicação da “Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família” (AMQ). Rio de Janeiro. 2010. Dissertação apresentada à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Saúde da Família. Orientação Prof. Dr. Paulo Henrique de Almeida Rodrigues.

PISCO, L. A. A avaliação como instrumento de mudança. Revista Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro. v. 11, n. 3, p. 564-576, jul./set. 2006.

PITTA, G, B, B. et al., Perfil dos pacientes portadores de pé diabético atendidos no Hospital Escola José Carneiro e na Unidade de Emergência Armando Lages. Jornal Vascular Brasileiro. v. 4, n. 1, p. 5-10, 2005.

ROCHA, P. M. Avaliando a Qualidade em Atenção Primária em Saúde. Revista Brasileira de Medicina e Farmácia. Rio de Janeiro, v.1, n. 4, p. 132-140, jan./mar. 2006.

SILVEIRA, J. A. A. et al. Características da assistência à saúde a pessoas com Diabetes mellitus acompanhadas na Unidade de Saúde da Família Pedregal II, em Cuiabá, MT: refexões para a equipe de saúde. Revista O Mundo da Saúde. São Paulo. v. 34, n.1, p. 43-49, 2010.

VENANCIO, S. I. et al. Avaliação para a melhoria da qualidade da estratégia de saúde da família – AMQ: estudo de implantação no Estado de São Paulo. Temas em Saúde Coletiva n.7. São Paulo: Instituto de Saúde, 2008.

31

ANEXO I

3.32 PB D A USF dispõe de glicosímetros e suprimento de fitas em quantidade suficiente.

(S) (N)

Equipamento e insumos considerados indispensáveis no acompanhamento da população de diabéticos. Considerar, para as fitas, suficiência de 80% da demanda.

3.35 PB D A USF dispensa com regularidade e em quantidade suficiente os medicamentos orais básicos indicados nos tratamentos do Diabetes Mellitus.

(S) (N)

O padrão refere-se ao suprimento destes medicamentos com cobertura de 80% ou mais das necessidades do território, com frequência regular e programada de forma que as faltas sejam eventuais e não comprometam a resolubilidade do tratamento instituído.

3.36 PB C A USF dispensa com regularidade e em quantidade suficiente Insulina NPH indicada para o tratamento do Diabetes Mellitus, oriunda de armazenagem adequada em geladeira.

(S) (N)

O padrão refere-se ao suprimento destes medicamentos com cobertura de 80% das necessidades do território, com frequência regular e programada de forma que as faltas sejam eventuais e não comprometam a resolubilidade do tratamento instituído.

4.39 D A ESF realiza ações educativas de convivência com os diabéticos em acompanhamento.

(S) (N)

O padrão refere-se à realização pelos membros da ESF de grupos educativos e de convivência com os diabéticos da área, com regularidade bimensal, respeitando-se a cultura e os hábitos locais.

4.65 E Os profissionais da ESF realizam busca ativa para detecção de novos casos de Diabetes Mellitus na população.

(S) (N)

O padrão refere-se à realização com regularidade, de atividades na comunidade voltadas para a detecção do Diabetes Mellitus, incluindo a realização de glicemias capilares (www.saude.gov.br/hipertensao-diabetes ).

5.35 E A ESF possui registro atualizado dos diabéticos da área. (S) (N)O padrão refere-se à ESF possuir, registrado e documentado em papel, o número de diabéticos referidos e confirmados, discriminados por grupos etários (ver SIAB) e sexo, atualizado mensalmente. A partir do conhecimento desta população é possível o desenvolvimento de várias outras ações indicadas nos estágios mais elevados de qualidade.

32

5.37 D A ESF monitora a freqüência dos diabéticos às atividades agendadas.

(S) (N)

O padrão refere-se à ESF monitorar a freqüência dos diabéticos às atividades agendadas, empregando esforços para garantir a adesão às atividades coletivas e individuais e realizando busca ativa aos faltosos.

5.39 D 80% dos diabéticos em acompanhamento são atendidos em consulta individual, no mínimo, uma vez por trimestre.

(S) (N)

O padrão refere-se à ESF ter preconizado e garantir, no mínimo, uma consulta individual por trimestre para os diabéticos em acompanhamento.

5.50 C A atenção à população de diabéticos é realizada a partir da classificação do risco.

(S) (N)

O planejamento da atenção aos diabéticos é realizada utilizando-se classificação segundo o tipo de diabetes, adesão e resposta ao tratamento, presença de fatores de risco associados, grau de instrução e autonomia, dentre outros fatores. A freqüência de consultas médica e de enfermagem é proposta e realizada a partir desta avaliação, de acordo com os consensos para o tema (www.saude.gov.br/hipertensao-diabetes).

5.52 C A medida do IMC de todos os diabéticos em acompanhamento pela ESF é realizada trimestralmente.

(S) (N)

O padrão refere-se à medição trimestral do IMC de todos os diabéticos acompanhados pela ESF, registrando em ficha individual.

5.53 C O exame dos pés nos diabéticos em acompanhamento é realizado em todas as consultas.

(S) (N)

O padrão refere-se à ESF ter como rotina preconizada e realizar de maneira sistemática o exame dos pés nos diabéticos acompanhados em todas as consultas.

5.55 C A ESF analisa semestralmente a população de diabéticos em acompanhamento considerando a prevalência estimada.

(S) (N)

O padrão refere-se à ESF comparar, semestralmente, se a população de diabéticos diagnosticados e em acompanhamento é compatível com o número esperado de acordo com os cálculos da prevalência estimada de diabetes para o território. A prevalência do Diabetes Mellitus para o Brasil está em torno de 6 a 11%.

5.66 B Houve redução do nº absoluto de internações por complicações decorrentes do Diabetes Mellitus.

(S) (N)

O padrão refere-se à redução do nº absoluto de internações por cetoacidose e coma diabético nos últimos 24 meses, para a população adscrita, acompanhada. É um dos temas abordados pelo Pacto pela Saúde.

33