Somos todos cadelas (We're all bitches) - de Angela Natel

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Reflexão a respeito de uma característica humana a respeito de seu egoísmo e violência com que defende suas ideias, em detrimento das relações sociais e do bem comum - reflexão esta realizada por Angela Natel. angelanatel.wordpress.com

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Somos todos cadelas

Somos todos cadelas

Rosnando a quem se aproxime

Ou ameace nossos interesses.

São planos e bens

Visões do além

Crenças, opções sexuais

Que abraçamos acima de tudo e de todos

E ai de quem fale contra, de quem ouse contrariar

Ai de quem manifeste contrariedade

Ou tente nos questionar.

A sociedade não importa,

Mostramos os dentes

Porque somos cadelas em frente à cria de nossas histórias

São vidas vazias, são outras memórias

Pecado social (injustiça institucionalizada): eu defendo o que é meu

Ai de quem ultrapassar minha fronteira.

Sou cadela enfurecida, uso a lei a meu favor,

E mesmo quando se manifesta em prol do que lhe é próximo

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Ganha IBOPE com isso, alimenta seu ego, planos e labor.

Somos todos cadelas no ninho a rosnar.

Somos todos injustos, cada um buscando seu interesse

Erguendo o punho a praguejar

Contra o diferente, o estranho, aquele que me vem discordar

Não vivemos mais juntos, não nos unimos, não lutamos uns pelos outros.

Somos ingratas cadelas

Preocupados em defender nossos deuses sem nenhuma capacidade de

olhar para quem se encontra ao nosso lado, muito menos lhe estender a mão.

Deus não precisa de advogados, não há quem possa defendê-lo. Nunca

Ele manifestou desejo de que fôssemos contra os que inventam argumentos

para refutar nossa fé.

Mas como cadelas em torno de nossa cria que nada mais é que um

deus inventado que precisa ser defendido, precisa ser ajudado com nossas

orações de poder, nos levantamos em fúria, em nossas manifestações e

campanhas para desmoralizar aqueles a quem deveríamos amar.

Porque se Deus, a quem precisamos amar acima de todas as coisas, se

fez carne, tornando-se um homem, fica evidente que precisamos amar a

humanidade – a cara que Deus assumiu.

Mas cadelas não amam. Cadelas agem por instinto, apegadas em seu

zelo por sobrevivência.

Como cadelas vagamos, agarrados em nossas opções sexuais, lutando

com unhas e dentes contra os diferentes. Não os amamos, não os recebemos

em nossas casas, não os queremos visíveis aos nossos olhos.

Porque somos cadelas, e certas escolhas ferem nossas convicções. E

cadelas não sabem amar.

Como cadelas gritamos contra os que se entregam a cultos religiosos

com os quais não concordamos. São visões diferentes, estranhas, e não

pensamos numa possibilidade de convivência pacífica. Porque somos cadelas,

tal convivência não interessa, contanto que se defenda somente o que se

concorda.

Nossa cria são nossas visões cristalizadas, as condições que impomos

aos outros para que se aproximem de nós, os planos dos quais não abrimos

mão, as decisões sobre as quais não permitimos questionamento, são nossos

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preconceitos, os rótulos que colocamos sobre as pessoas. Cada item

defendido como se não houvesse outra opção, como se o mundo girasse em

torno de nossas cabeças – nos tornamos os deuses de nós mesmos, as

cadelas enfurecidas prontas para atacar o primeiro que se atrever a ameaçá-

las.

Quando deixarmos de agir como cadelas neste mundo de ninguém,

olharemos mais para o outro do que para o próprio umbigo, e o Reino de Deus

que é coletivo poderá ser instaurado em pessoas que lutam contra a injustiça,

ainda que institucionalizada, buscando a paz e priorizando o pobre, o excluído

e o marginalizado, como Jesus fez.

Se não quisermos mudar de atitude, de pensamento, nem de

prioridades, não seremos nada além de cadelas numa geração consumista e

alienada das conseqüências do que faz.

Cadelas egoístas, que usam seus relacionamentos a fim de proteger

seus objetivos.

Cadelas. Nada mais que cadelas.

Angela Natel

29/08/2012