Somos todos cadelas (We're all bitches) - de Angela Natel
Click here to load reader
-
Upload
angela-natel -
Category
Education
-
view
81 -
download
4
description
Transcript of Somos todos cadelas (We're all bitches) - de Angela Natel
Somos todos cadelas
Somos todos cadelas
Rosnando a quem se aproxime
Ou ameace nossos interesses.
São planos e bens
Visões do além
Crenças, opções sexuais
Que abraçamos acima de tudo e de todos
E ai de quem fale contra, de quem ouse contrariar
Ai de quem manifeste contrariedade
Ou tente nos questionar.
A sociedade não importa,
Mostramos os dentes
Porque somos cadelas em frente à cria de nossas histórias
São vidas vazias, são outras memórias
Pecado social (injustiça institucionalizada): eu defendo o que é meu
Ai de quem ultrapassar minha fronteira.
Sou cadela enfurecida, uso a lei a meu favor,
E mesmo quando se manifesta em prol do que lhe é próximo
Ganha IBOPE com isso, alimenta seu ego, planos e labor.
Somos todos cadelas no ninho a rosnar.
Somos todos injustos, cada um buscando seu interesse
Erguendo o punho a praguejar
Contra o diferente, o estranho, aquele que me vem discordar
Não vivemos mais juntos, não nos unimos, não lutamos uns pelos outros.
Somos ingratas cadelas
Preocupados em defender nossos deuses sem nenhuma capacidade de
olhar para quem se encontra ao nosso lado, muito menos lhe estender a mão.
Deus não precisa de advogados, não há quem possa defendê-lo. Nunca
Ele manifestou desejo de que fôssemos contra os que inventam argumentos
para refutar nossa fé.
Mas como cadelas em torno de nossa cria que nada mais é que um
deus inventado que precisa ser defendido, precisa ser ajudado com nossas
orações de poder, nos levantamos em fúria, em nossas manifestações e
campanhas para desmoralizar aqueles a quem deveríamos amar.
Porque se Deus, a quem precisamos amar acima de todas as coisas, se
fez carne, tornando-se um homem, fica evidente que precisamos amar a
humanidade – a cara que Deus assumiu.
Mas cadelas não amam. Cadelas agem por instinto, apegadas em seu
zelo por sobrevivência.
Como cadelas vagamos, agarrados em nossas opções sexuais, lutando
com unhas e dentes contra os diferentes. Não os amamos, não os recebemos
em nossas casas, não os queremos visíveis aos nossos olhos.
Porque somos cadelas, e certas escolhas ferem nossas convicções. E
cadelas não sabem amar.
Como cadelas gritamos contra os que se entregam a cultos religiosos
com os quais não concordamos. São visões diferentes, estranhas, e não
pensamos numa possibilidade de convivência pacífica. Porque somos cadelas,
tal convivência não interessa, contanto que se defenda somente o que se
concorda.
Nossa cria são nossas visões cristalizadas, as condições que impomos
aos outros para que se aproximem de nós, os planos dos quais não abrimos
mão, as decisões sobre as quais não permitimos questionamento, são nossos
preconceitos, os rótulos que colocamos sobre as pessoas. Cada item
defendido como se não houvesse outra opção, como se o mundo girasse em
torno de nossas cabeças – nos tornamos os deuses de nós mesmos, as
cadelas enfurecidas prontas para atacar o primeiro que se atrever a ameaçá-
las.
Quando deixarmos de agir como cadelas neste mundo de ninguém,
olharemos mais para o outro do que para o próprio umbigo, e o Reino de Deus
que é coletivo poderá ser instaurado em pessoas que lutam contra a injustiça,
ainda que institucionalizada, buscando a paz e priorizando o pobre, o excluído
e o marginalizado, como Jesus fez.
Se não quisermos mudar de atitude, de pensamento, nem de
prioridades, não seremos nada além de cadelas numa geração consumista e
alienada das conseqüências do que faz.
Cadelas egoístas, que usam seus relacionamentos a fim de proteger
seus objetivos.
Cadelas. Nada mais que cadelas.
Angela Natel
29/08/2012