Sonhadores

Osho

Música

Silk road

Kitaro

Formatação

Abril/2010

LHt

O homem existe como que dormindo. O homem está adormecido. O que quer que se conheça como estar acordado também é um sono. Iniciação significa estar em contato íntimo com aquele que está acordado. A menos que você esteja em contato íntimo com quem está acordado fica impossível sair do seu sono, porque a mente é até capaz de sonhar que está acordado. A mente pode sonhar que “agora não há mais sono”.

Quando eu digo que o homem está adormecido, isso tem que ser compreendido. Estamos sonhando continuamente, 24 horas por dia. Durante a noite, estamos fechados para o mundo exterior, sonhando interiormente. Durante o dia, nossos sentidos estão abertos para o mundo exterior, mas o sonho continua no interior. Feche seus olhos por um momento, você pode novamente estar num sonho: ele é uma continuidade do interior.

Você tem consciência do mundo exterior, mas essa consciência não acontece sem a mente sonhadora; ela é imposta sobre a mente sonhadora, mas interiormente o sonho continua. Eis por que não estamos vendo o que é real, mesmo quando estamos supostamente acordados. Impomos nossos sonhos sobre a realidade. Nunca vemos o que é; sempre vemos as nossas projeções.

Se eu olho para você e há um sonho em mim, você se tornará um objeto de projeção. Eu projetarei meu sonho sobre você, e o que quer que eu compreenda sobre você estará misturado com o meu sonho, com a minha projeção. Quando eu o amo, você me parece algo bem diferente; quando eu não o amo, você me parece completamente diferente. Você não é o mesmo, porque, simplesmente, eu o usei como uma tela e projetei minha mente sonhadora sobre você.

Quando eu o amo, o sonho é diferente; assim, você parece diferente. Quando eu não o amo, você é o mesmo – a tela é a mesma -, mas a projeção é diferente: agora, eu o estou usando como uma tela para outro sonho meu. Novamente, o sonho pode mudar. Novamente, eu posso tornar a amá-lo; então, você me parecerá diferente. Nunca vemos o que é. Sempre estamos vendo nossos sonhos projetados sobre o que realmente é.

Eu não sou o mesmo para cada um de vocês: cada um projeta em mim alguma coisa diferente. Sou um somente no que diz respeito a mim mesmo. E se eu próprio estiver sonhando, então, até para mim eu sou diferente a cada momento, porque a cada momento minha interpretação será diferente. Mas se estou acordado, então sou o mesmo. Buda disse que o teste de um iluminado é o fato de ele ser sempre o mesmo, exatamente como a água do mar: em qualquer lugar, em todo lugar, ela é salgada.

Você tem, em torno de você, um envoltório diáfano de projeções, idéias, noções, concepções, interpretações. Você é um projetor andando por aí, projetando coisas que não estão em parte alguma, a não ser dentro de você, e o todo se torna uma tela; assim, você nunca pode ficar consciente, por si mesmo, de que está num sono profundo.

Havia um santo sufi, Hijara. Um anjo apareceu em seu sonho e lhe disse que ele devia guardar o máximo de água possível de seu poço, porque na manhã seguinte toda a água do mundo ia ser envenenada pelo demônio, e todos que bebessem dela ficariam loucos.

Assim, durante toda a noite, o faquir guardou o máximo de água possível. E o fenômeno realmente aconteceu: todos ficaram loucos na manhã seguinte. Mas ninguém sabia que toda a cidade tinha ficado louco. Somente o faquir não estava louco, mas toda a cidade falava como se ele tivesse ficado louco. Ele sabia o que tinha acontecido, mas ninguém acreditava nele; assim, ele continuou bebendo da sua água e permaneceu sozinho.

Mas ele não podia continuar assim. Ninguém o ouvia. E, finalmente, surgiu um rumor de que ele ia ser capturado e enviado à prisão. Diziam que ele estava louco. Certa manhã vieram buscá-lo. Ou ele seria tratado como doente, ou teria que ir preso, mas não podia ficar em liberdade: ele tinha ficado absolutamente louco. O que ele dizia não podia ser compreendido – ele falava numa linguagem diferente.

O faquir não podia compreender aquilo. Ele tentou ajudar os outros a se lembrar do seu passado, mas eles tinham se esquecido de tudo. Eles não sabiam nado do passado, nada sobre o que existia antes daquela manhã enlouquecedora. Eles não conseguiram compreender; o faquir tinha se tornado incompreensível para eles.

Cercaram sua casa e prenderam-no. Então, o faquir disse: “Dêem-me mais um momento. Vou me arrumar!” ele correu até o poço comunitário, bebeu da água e voltou todo fagueiro. Agora, toda a cidade estava feliz: o faquir estava bem outra vez; não estava mais louco. Na verdade, ele tinha ficado louco, mas agora era parte integrante de um mundo comum.

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