Sou Amor

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    Sou Amor

    Sou o amor que me dedicam; sou a atenção e o carinho que me oferecem; sou a

    oportunidade de ser amor. Sou amor!

    1

    O quarto está escuro. As persianas estão em baixo e as cortinas fechadas. A pequena

    abertura entre as duas cortinas cor-de-laranja deixa passar uma linha muito ténue do sol

    que brilha lá fora.

     Na cama dorme profundamente um menino. Ouve-se o cantarolar dos pássaros lá fora.

    O menino mexe-se lentamente. Primeiro mexe uma perna depois estica um bra!o acima

    da cabe!a e por fim tenta abrir os olhos ainda colados pela remela de uma noite bem

    dormida.

     Num esfre"ar de olhos o menino levanta o tronco e empurra os cobertores para o fundo

    da cama. A"ora estica os dois bra!os bem acima da cabe!a num espre"ui!ar de "ato.

    #evanta-se da cama e corre a abrir as cortinas. #o"o de se"uida sobe a persiana e abre a

     janela que o separa do exterior.

    A sua face iluminada pela lu$ quente do sol "anha outra for!a com o esbo!ar de um

    sorriso e o expandir do t%rax. &e olhos fechados o menino enche os pulm'es do aroma

    do jardim que serve de abri"o aos pássaros que voam de um lado para o outro bem rente

    ( sua janela. No jardim v)-se arbustos de tamanho médio flores de todas as cores e animais dos ares

    a passear de um lado para o outro. *uando abre os olhos o menino v) a pairar ( sua

    frente uma borboleta colorida.

    +Olá princesa, ais para o ardim da /ss)ncia01

    +em brincar comi"o,1

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    +/ncontramo-nos lá,1

    2om um sorriso a pequena borboleta afasta-se em dire!ão ao hori$onte. O menino

    chama-se Amor completa on$e anos hoje e tem pele escura cabelo encaracolado

    dourado torrado e olhos avelã.

    Pouco depois irrompe pela co$inha para tomar o pequeno-almo!o. A mãe já saiu com o

     pai. /le pe"a num pão barra um pouco de mantei"a e enquanto dá a primeira trinca

    tira um io"urte l3quido do fri"or3fico. 2om o io"urte numa mão e o pão na outra Amor 

    sai com toda a pressa pela porta de trás para o jardim que envolve a sua pequena casa.

    A rua principal de &estino está em sil)ncio. Amor desce a rua como uma flecha em

    dire!ão ao seu jardim preferido o ardim da /ss)ncia. O pão quase desapareceu.

    /nquanto masti"a um peda!o de pão Amor verte o resto do io"urte para dentro da boca.

    4apa o frasco e atira-o para o caixote de lixo que ali está por perto. O frasco cai no chão.

    Amor dá mais al"uns passos pára olha para trás e di$5

    +4enho que te apanhar... porqu)0 Al"uém te apanhará, / se não te apanham0 6 melhor 

    apanhar...1

    olta atrás come o resto do pão e apanha o frasco do io"urte colocando-o com todo o

    cuidado dentro do caixote do lixo.

    II

    Assim que passa os port'es dourados do ardim da /ss)ncia Amor enche os pulm'escom o aroma das flores encantadas pelas borboletas esvoa!antes. 7ente-se a voar nos

     bra!os da leve brisa que se fa$ sentir. &o alto do seu ser observa as brincadeiras dos

    cães "atos e das crian!as que se divertem por entre a flora imitando as pequenas asas

    coloridas.

     Nesse momento ouve vo$es. 2om os pés bem assentes no caminho de terra que o leva

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    até ao cora!ão do jardim percebe que as vo$es que ouve são dos seus ami"os.

    +8oma parabéns ami"o,1 - lo"o ouviu a vo$ do Octávio.

    +á te disse que não me chamo 8oma, O meu nome é Amor.1

    +9a meu vou mesmo chamar Amor a um "ajo, *ue raio de ideia,1 - os outros ami"os

    riam daquela conversa - +A"ora vou andar por a3 :Oh Amor...; 8oma é muito melhor,1

    +Não percebo porqu), 6 exatamente a mesma palavra s% que ao contrário.1 - di$ Amor 

    incomodado com aquela brincadeira.

    +8oma é muito mais forte potente mais másculo...1

    +/ pelo menos não rima com fedor com terror com...1 - avan!a o

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    so$inho a pensar numa forma de responder ( per"unta que tanto o afli"ia - +Amor... o

    que é isso0 O que quer di$er Amor0 Porqu)0 Por que ra$ão a minha mãe me p>s este

    nome0 Podia ser Ant%nio

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     bra!os fortes lo"o se afastaram para envolver Amor. #o"o o envolveu em c%ce"as

    divertindo-se com as risadinhas de Amor.

    +Pai Pai... já che"a,1

    +&i$-me lá meu Amor por onde andaste01

    +/stive no meu jardim... aaaah no ardim da /ss)ncia,1

    +/ o que estiveste lá a fa$er0 @oste festejar o teu aniversário com os teus ami"os01

    +Não mas eles estavam lá.1

    +/ntão o que foste lá fa$er01

    desabafaB +Oh fui passear e pensar na vida,1

    em tom provocativoB +Pensar na vida0, O que te fa$ pensar tanto01

    +/u chamo-me Amor e todos os meus ami"os t)m outros nomes...1

    +7im não podem ter todos o mesmo nome,1

    +Porqu)0 Porque tenho um nome tão diferente... Amor01

    /"o sorri e abra!ando-se ao filho responde com um forte e decisivo :Porque és o meu

    Amor,;.

    Amor acompanhou o sorriso lar"o do pai.

    +Pai foste tu que escolheste o meu nome01

    +@oi a mãe. *uando che"uei ( maternidade tu já tinhas nascido. A tua madrinha estava

    lá e quando a tua mãe me olhou com os olhos cheios de á"ua e me disse que queriachamar-te Amor eu aceitei no ato.1

    +Porqu)0 Porqu) Amor0 4odos os meus ami"os t)m nomes como Ant%nio ou

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    meu Amor.1

    IV

    Amor afasta-se pensativo. ive numa casa pequenaC o corredor toca todas as divis'es da

    casa. Assim que entra no corredor vindo da sala onde estava com o pai ouve o

    cantarolar da mãe. /la está no quarto. /le pára ( porta a ouvir a vo$ doce da mãe

    enquanto a observa a "uardar a roupa que acabara de dobrar.

    A Dlusão é uma mulher bonita e ele"ante com cabelo encaracolado dourado torrado

    olhos avelã sorriso aberto e fi"ura es"uia. &a mãe herdou os carac%is os olhos e o

    sorriso mei"o. Aquela visão da mãe leva-o a concordar com o pai5

    +6 verdade ele sempre me tratou por :

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    sempre com a felicidade estampada na face. 4em cabelo encaracolado dourado torrado

    olhos avelã e uma fi"ura es"uia como a irmã.

    Amor e a madrinha entram para a sala de estar onde a &esilusão pe"a no telefone para

    avisar a irmã do paradeiro do filho. Amor ouve as palavras da madrinha a cumprimentar 

    a mãe e a informá-la que tinha ido so$inho até 2onsci)ncia para visitar os padrinhos.

    Pelo que pode perceber a sua sa3da de casa é uma surpresa para a mãe.

    +7im está cá. eio de bicicleta. Eem ele almo!a cá connosco e depois levámo-lo para a

    festinha dele.1

    Amor observa a madrinha ao telefone. Assim que pousa o telefone vira-se para o

    afilhado sorri e di$5

    +&i$ lá seu malandreco o que queres saber01

    Amor abra!a-a e aperta forte. A madrinha toca-o na cabe!a e acarinha-o acabando por 

    abra!ar o afilhado.

    +*ue abra!o forte,1

    +

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    &isse-lhe para dar tempo ao tempo. #o"o que te vi na maternidade saltou-me aos olhos

    Amor. / assim ficaste o nosso Amor,1

    +/ntão... sempre foste tu que me deste este nome01

    +/u dei a ideia e a tua mãe escolheu usá-la.1

    +/ porqu) Amor0 O que é isso01

    +Oh meu querido, Amor é o que nos une a todos... o teu pai a tua mãe o padrinho e eu.

    6s tu, Amor és tu, 4u és um pouco de cada um de n%s e n%s somos um pouco de ti.1

     Num "esto Amor abra!a a madrinha. A &esilusão abre um sorriso carinhoso. Ainda a

    abra!á-la Amor ouve a vo$ do padrinho. O 2ompromisso entra em casa e mostra-se

    muito feli$ com a visita do afilhado.

    +Amor vieste visitar os padrinhos0 /stava com saudades tuas pequeno tesouro.1 -

    abra!ando o afilhado.

    VI

    O 2ompromisso ( primeira vista tem um ar sério e dif3cil. Apenas o parece para testar 

    quem o aborda. Porque lo"o no primeiro contacto se v) que é um homem ele"ante

    expressivo compreensivo e muito a"radável. 4em cabelo castanho claro olhos a$uis é

    moreno robusto e alto.

    +Padrinho,1 - já se esperava a festa da crian!a pois adora o padrinho e as brincadeiras

    dele.+Parece que hoje temos uma "rande festa ( nossa espera em &estino, @oi por isso que

    vieste cá01

    +/le veio cá para saber porque se chama Amor. Parece que "ostava de ter um nome

    como os outros meninos,1

    +Dsso é verdade0 4u queres ser como os outros meninos01

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    +/u... padrinho...quero saber porque tenho esse nome. 4odos os meninos me per"untam

     porque me chamo assim. Nunca sei o que di$er.1

    +/ os teus ami"os sabem porque se chamam como se chamam01

    Amor ficou a olhar para o padrinho. 6 verdade os ami"uinhos dele também tinham os

    seus nomes e nin"uém os questionava.

    +Padrinho eles acham o meu nome diferente. /u também acho. Por isso me per"untam

    sobre ele.1

    +O=. 4u queres saber o que vais di$er aos meninos quando te per"untarem porque te

    chamas assim0 6 fácil pequeno tesouro. &i$-lhes que és Amor porque és alma ma"ia

    odisseia e renascimento.1

    +2omo assim01

    +em comi"o.1

    Pela mão do padrinho Amor senta-se ( mesa da sala. 2ompromisso re?ne papel e

    caneta pelo caminho. Assim que o Amor está bem instalado o padrinho dá-lhe o papel e

    a caneta.

    +/screve o teu nome em letras bem "randes e com um "rande espa!o entre elas.1

    Amor assim o fa$. &epois por baixo de cada letra do seu nome o padrinho escreve

    Alma

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    Os olhos do pequeno Amor brilham de emo!ão. Naquele momento o seu cora!ão

    enche-se de lu$ e calor. 7ente-se um afortunado por ter os pais e os padrinhos que tem.

    7em eles nunca seria o Amor.

    +á percebi, Padrinho já percebi, /u sou Amor porque sou filho do meu pai e da minha

    mãe e afilhado do meu padrinho e da minha madrinha,1 - sorria com todo o seu ser.

    O padrinho sorriu e a madrinha sentou-se ( sua frente e per"untou5

    +A"ora quem quer saber sou eu, O que queres di$er com isso01

    +Oh madrinha,,, 6 simples, 4odos di$em que herdei do meu pai o dom de tocar os

    outros. 2erto01

    +7im,1

    +/ntão o padrinho disse que o meu nome Amor se escreve com A da alma que tenho

    dentro de mim e que ofere!o a todos os que se cru$am comi"o. Por isso herdei a alma

    do meu pai.1

    +O= entendi.1

    +/ a ma"ia é da minha mãe. 4odos di$em que tenho o sorriso dela,1

    O riso dos padrinhos acompanha a in"enuidade da crian!a. /ssa é a sua maior virtude.

    +A"ora é...1 - olhou para o papel - +... odisseia. Dsto... ah as experi)ncias fantásticas... é

    o padrinho,1

    +/ eu0 7ou o qu)01+4u és o... renascimento.1 - socorrendo-se do papel.

    +Porqu)01

    +

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    nascemos onde crescemos e as pessoas com quem convivemos. Por isso és Amor por 

    seres filho da união do /"o com a Dlusão e afilhado da &esilusão e do 2ompromisso. /

    também és Amor por nasceres em &estino e...1

    +Erincar em 2onsci)ncia,1

    VII

    As "ar"alhadas de Amor mostram a felicidade que sente por ter finalmente percebido o

    si"nificado do seu nome tão diferente dos seus ami"os. &epois de tanta per"unta Amor 

    almo!a com os padrinhos e re"ressa a casa ao final da tarde onde o esperam todos os

    seus ami"os.

    O reflexo da face de Amor na janela do carro é constantemente interrompido pela

    mudan!a brusca entre a lu$ e a sombra. /ntretido com o aparecer e desaparecer da sua

    ima"em Amor apercebe-se do efeito que uma pequena mudan!a de ares pode fa$er para

    ultrapassar os sentimentos que lhe a"itavam a alma.

    *uando saiu de &estino queria saber qual o si"nificado do seu nomeC quando che"ou a

    2onsci)ncia sentiu-se pequenino por fa$er aquela via"em por al"o que nunca teve

    curiosidade em saber G tudo porque os ami"os o "o$aramC e a"ora apercebe-se que não

    era que não quisesse saber o si"nificado do seu nome... a verdade é que sempre o soube

    s% ainda não o tinha conse"uido expressar por palavras.

    +Adoro os meus padrinhos, /les são o máximo, 7empre tão compreensivos e pacientescomi"o... sempre que aqui venho saio um Amor ainda melhor.1 - pensava em suspiro.

    A cidade de 2onsci)ncia fica para trás e lo"o sur"e a cidade de &estino. *uase parecem

    a mesma se bem que para Amor são muito diferentes. 7ente que em 2onsci)ncia fica

    mais atento a cada pormenor a cada sentimento a cada som a cada aroma... a tudo... ali

    tudo acontece como consequ)ncia dos seus atos. Eaixa a janela do carro para sentir o

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    aroma do seu jardim preferido o ardim da /ss)ncia.

    +O meu jardim... é verdade... é o meu jardim, O ardim do Amor... o ardim da /ss)ncia

    do Amor,1

    Assim que entra em casa Amor é surpreendido pelos parabéns dos ami"os. A"radece e

    lo"o abra!a os pais. /nche-os de beijos antes de voltar para junto dos ami"os que

    esperam as brincadeiras habituais. &epois das brincadeiras v)m as do!arias e depois os

     presentes. Amor abre cada presente com todo o cuidado. A sua lu$ aumenta a cada

    surpresa.

    +/ntão per"untaste aos teus pais o si"nificado do teu nome0 á sabes porque te chamas

    assim0 Ou vais finalmente mudar de nome para 8oma01

    As vo$es são várias se bem que a per"unta é sempre a mesma. Os ami"os se"redam a

    sua curiosidade procurando que os adultos não os ou!am. 2om um sorriso nos lábios e

    observando os pais e os padrinhos Amor responde confiante5

    :7ou Amor porque sim,;