SOUSA LIMA, V. M. de. «VIDA E A OBRA DE TOMAS DE AQUINO». FATEB. 2009, 64p

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FATEB FACULDADE DE TEOLOGIA DO BRASIL LICENCIATURA PLENA EM CIENCIAS DA RELIGIÃO A VIDA E A OBRA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO VALQUIRIA MARIA DE SOUSA LIMA TERESINA - PIAUÍ 2009

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MONOGRAFIA DE TEOLOGIA, SOBRE A VIDA E A OBRA DE TOMAS DE AQUINO, NA FATEB - PIAUI - TERESINA - 2009

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FATEB – FACULDADE DE TEOLOGIA DO BRASIL

LICENCIATURA PLENA EM CIENCIAS DA RELIGIÃO

A VIDA E A OBRA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

VALQUIRIA MARIA DE SOUSA LIMA

TERESINA - PIAUÍ

2009

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FATEB – FACULDADE DE TEOLOGIA DO BRASIL

LICENCIATURA PLENA EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO

Monografia apresentada a instituição

FATEB, como pré-requisito a sob

orientação do Professor Especialista José

Barbosa da Silva.

TERESINA - PIAUÍ

2009

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É impossível proceder ao infinito na série

dos seres que se geram sucessivamente. Deve-se

admitir, por isso, que existe um ser necessário

que tenha em si toda a razão de sua existência, e

do qual procedam todos os outros seres. A este

chamamos Deus. (Tomás de Aquino)

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Porque agora vemos por espelho em

enigma, mas então veremos face a face;

agora conheço em parte, mas então

conhecerei como também sou conhecido.

1 Coríntios 13: 12

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos os funcionários da FATEB todos os meus

professores por mais esse título, e mostrar a esses, que eles estão no meu coração. Em

especial ao meu orientador JOSÉ BARBOSA DA SILVA.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 09

2. BIOGRAFIA DE TOMÁS DE AQUINO 10

2.1 CRONOLOGIA SUMÁRIA DE TOMÁS SE AQUINO 51

3. OS COMENTADORES DE TOMÁS DE AQUINO 53

4. METOLOGIA E PROCEDIMENTO DE PESQUISA 57

5. CONCLUSÃO 58

BIBLIOGRAFÍA

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FIGURAS E GRAVURAS

FIGURA 1 CASTELO DE SAN GIOVANNI

FIGURA 2 CALIGRAFIA DE TOMÁS DE AQUINO

FIGURA 3 IGREJA DOS JACOBINOS E AS RELÍQUIAS TOMÁS DE AQUINO

FIGURA 4 APOTEOSIS DE SANTO TOMÁS DE AQUINO DE 1631, FEITO

PELO ARTISTA PLASTICO DE FRANCISCO DE ZURBARÁN

FIGURA 5 ALUNA VALQURÍIA DE LIMA E SOUSA EM VISITAÇÃO À

BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL, NO RIO DE JANEIRO EM

JULHO DE 2009.

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RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como apresentar o estudo da vida de

Tomás de Aquino, fazendo uma explanação dos fatos mais importantes da vida deste

notável homem cristão, o qual será citado fato da vida pessoal, pequenos comentários

das aulas que ele ministrou na faculdade de teologia, a descrições de obras clássicas

como a Suma Teológica e a Suma Contra os Gentios, trechos ou comentários Bíblicos;

trechos de sermões, e de comentários ao Livro de Jó, e sendo citadas algumas disputas

comuns ou públicas, são citados os principais Capítulos Gerais dos dominicanos entre

1258 a 1274; e ainda, Opôs-se ao Monopsiquismo Averroístas; e fez a apologia das

Ordens Mendicantes contra os Seculares. Neste trabalho, foi mostrada uma

personalidade simples, mas extremamente combativo e carismático, e mostrando

também, traços mais nítidos de sua vida religiosa e filosófica. Em algumas passagens

Tomás possui uma fé inabalável, e rezava com fervor quando algo o perturbava; quando

sua mão quis persuadir a que não entrasse para a ordem dos Beneditinos. Um de seu

méritos foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo, ou seja,

introduziu o aristotelismo que foi redescoberto na Idade Média, na escolástica anterior.

Seus estudos também estavam embasados numa sólida base filosófica para a teologia,

em suas duas Sumas ele sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua

época, a partir do conceito de conhecimento desse frei, é possível provar a existência de

um ente metafísico pela razão, sem a necessidade da fé ou da revelação divina; sendo

também possível mostrar que em através de sua obra, que a questão da existência de

Deus é de escopo também filosófico. Ele foi um pensador criativo, ele propôs

alternativas de se interpretar à luz d doutrina aristotélica, verdades que são um

verdadeiro patrimônio do pensamento ocidental e também como fontes de muitas

pesquisas. Por fim, será citado o momento de sua morte, o seu sepultamento, o difícil

Post Mortem, e o processo de canonização.

PALAVRA CHAVE: Tomás de Aquino, Biografia de Tomás de Aquino, Obras

de Tomás de Aquino.

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1. INTRODUÇÃO

O texto da monografia foi dividido da seguinte forma com a INTRODUÇÃO.

CAPÍTULO II - BIOGRAFIA DE TOMÁS DE AQUINO, neste capítulo será

mostrada às principais pontos da vida de Tomás de Aquino, bem, com seus fatos mais

relevantes, à suas pequenas particularidades que podem ter influenciado na sua vida. Foi

iniciado em 1224 ou 1225, no ano de seu nascimento, passando pelo logo após para a

universidade em Nápoles. Aos vinte anos, se converte em um monge beneditino, onde

será influenciado por Alberto Magno, e que, iria ser fundado um Studium Generale, o

qual teria Alberto como Regente e Tomás como leitor. Sua permanência a li permite

escrever suas primeiras obras: De Ente Et Essentia e De Princípios Naturae. Aos vinte

sete anos, onde explica as “Sentenças”, fundamentais na época. Dos trinta e cinco aos

quarenta e três anos leciona em diversos lugares na Itália, sedo que em 1265 começa a

redação da sua grande obra Summa Theologica. Com aproximadamente quarenta e

cinco anos, regressa a Paris para assumir as funções de Regente, e escreve varias obras

importantes. Com quarenta oito incompletos leciona Teologia em Nápoles a pedido do

rei das Duas-Sicilias, continua a redação da sua obra começada em 1265 e cuja terceira

parte ficou inacabada, e ainda, publica Parva Naturalia e De Memória Et

Reminiscentia. Em viagem para tornar parte no Concílio de Lião por ordem de Gregório

X, veio falecer em 07 de março de 1274; e o Post Mortem: culto, processos e disputas, e

a canonização e os títulos que ele foi agradeciado depois de morto. E no CAPÍTULO

2.1 - CRONOLOGIA SUMÁRIA DE TOMÁS SE AQUINO - foi colocado em ordem

por data dos fatos mais relevantes em sua vida.

CAPÍTULO III - OS COMENTADORES DE TOMÁS DE AQUINO – Neste

capítulo foi identificado os principais comentadores de Tomás de Aquino.

CAPÍTULO IV - METOLOGIA – Neste capítulo será comentado a metodologia

empregada, e quais pontos importantes para a conclusão da monografia.

CAPITULO V - CONCLUSÃO E BIBLIOGRAFIA-

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2. BIOGRAFIA DE TOMÁS DE AQUINO

Os pais Tomás de Aquino, Landolfo e da senhora Teodora, tiveram nove filhos,

sendo quatro meninos e cinco meninas, aonde Tomás era o filho mais novo, e nasceu

entre os anos de 1224 e 1225. Hoje os historiadores concordam ao se referir à

localização do seu nascimento ao castelo familiar de Roccasecca, na Itália meridional;

então situado no condado de Aquino e no reino das Duas-Sicilias, encontra-se nos

confins do Lácio e da Campãna, aproximadamente a meio caminho de Roma a Nápoles,

a igual distância de Frosinone, ao norte, e de Cassino, ao sul, um pouco a leste da

estrada do interior, antiga via Latina, que conduz a Roma.

Desses irmãos podemos destacar: seu irmão mais velho, que participou de uma

expedição à Terra Santa a mando do Imperador Frederico II, acabou preso por um

vassalo do rei de Chipre, Hugo I, sendo resgatado por intervenção de Gregório IX em

1233, permaneceu ao partido do papa por toda vida. Renaud, o segundo, inicialmente

partidário de Frederico II, passou para o lado do papa quando Inocêncio IV, em 1245,

depôs o Imperador, mas este último mandou executá-lo em 1246 por ter conspirado

contra ele; a família considerava um mártir.

Em relação a suas cinco irmãs Tomás Marotta, a mais velha, tornou-se superiora

do convento Santa Maria de Cápua, e morreu por volta de 1259. A segunda, Teodora,

tornou-se esposa de Rogério, conde de São Severino; em sua casa é que Tomás irá

repousar por algum tempo por ocasião de sua ultima doença; seu filho, Tomás, que mais

tarde trabalhou pela canonização do tio, morreu vestindo o habito dominicano. A

terceira filha, Maria, desposou o mais velho dos São Severino, é sabido que a sua filha

Catarina de Morra deu importantes detalhes sobre a família de Tomás de Aquino. A

quarta, Adelásia, desposou Rogério de Áquila, do qual Tomás de Aquino será o

executor testamentário, em 1272. Ignora-se o nome da quinta irmã, morreu cedo

atingida pela cólera, enquanto o pequeno Tomás de Aquino, que dormia ao lado de sua

ama, foi poupado.

Como o filho caçula da família, Tomás de Aquino, segundo o costume da época,

foi destinado à igreja, e em maio de 1231, Tomás pode ingressar no mosteiro, sob do

abade Landolfo Sinibaldi. Conta nesta data, que o pai fez à abadia a generosa doação de

vinte onças de ouro, “para a remissão de seus pecados”, Tomás de Aquino tinha então

cinco ou seis anos.

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Recebeu evidentemente, rudimento de letras e uma iniciação à vida religiosa

beneditina, cujos traços podem ser encontrados em suas obras. A partir de 1236, porém,

calma de que gozava o mosteiro foi novamente perturbada, e Landolfo, foi aconselhado

pelo novo abade, Etienne de Corbario, teve que por seu filho a salvo de agitações

facilmente previsíveis. Após refletirem, os pais enviaram o adolescente a Nápoles, para

ali desenvolver estudos mais profundos. O fato de o abade ter “aconselhado” à Landolfo

enviar seu filho a Nápoles para ali realizar seus estudos mostra, aliás, claramente, que

ele não podia enviar por conta própria, o que por certo poderia fazer se Tomás já

tivesse feito os votos. Mas é muito provável que, em sua chegada a Nápoles, ele tenha

habitado pelo menos durante algum tempo o mosteiro de São Demétrio, ainda mais,

porque seus pais, provavelmente, ainda não haviam renunciado a seus projetos para ele.

Tomás deixou o mosteiro provavelmente na primavera de 1239, tinha então 14

ou 15 anos, e poderia ter prestado juramento na ordo monasticus, mas nenhum

documento menciona tal ato; o que não significa que Tomás não tenha sido monge.

Nesta época, a oblatura tinha valor de um verdadeiro voto, mas condicional e

temporário, comparável ao nosso voto simples de hoje. Pelo fato, de ser também não

pessoal, exigia ratificação do próprio sujeito, em idade adequada, pois ele permanecia

livre para efetivas o compromisso assumido por seus pais, ou assumir, a outro. No

outono de 1239, ele pôde então se inscrever no Studium Generale de Nápoles, neste,

destinava-se também a se contrapor à Universidade de Bolonha, e os súditos do

imperador na eram autorizados a estudar em outro lugar. Ao chegar, Tomás devia

começar pelo estudo das artes e da filosofia, passagem obrigatória antes de abordar a

teologia. Dos nomes de mestres de Tomás são: Mestre Martino, que lhe teria ensinado a

gramática e lógica, e, Mestre Pedro de Irlanda responsável pelo estudo de Naturalia.

Foi também em Nápoles que Tomás de Aquino travou conhecimento com os

dominicanos; um convento da ordem ali fora fundado em 1231, onde Jordão da saxônia,

sucessor de São Domingues, esteve a pregar em 1236 para os estudantes. Tomás teria

recebido o hábito das mãos do mestre da ordem, João, o Teutônico. Este fato ocorreu

provavelmente em abril de 1244, ou pouco antes, como a seqüência dos acontecimentos

permite-se estabelecer. O ingresso de Tomás nos pregadores comprometia

definitivamente os planos de seus pais, no que diz respeito, a seu futuro abadiado em

Monte Cassino. Se ele chegou a pensar que os pais se renderiam facilmente diante dos

fatos, não contava com a obstinação, em especial com a de sua mãe, senhora Teodora.

Assim, quando Teodora foi a Nápoles na esperança de dissuadi-lo, chegou tarde demais,

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e pôs-se a persegui-lo até Roma, também lá chegou tarde. Tomás partira novamente no

séqüito do Mestre geral, João, o Teutônico, que ia à Bolonha para capitulo geral da

ordem, previsto para a festa de Pentecostes, em maio de 1244. Teodora, mãe de Tomás

de Aquino, enviou um mensageiro a seus filhos que lutavam que lutavam em

companhia de do imperador Frederico II, na região de Acquapendente,

aproximadamente a noroeste de Orvieto, para que interceptassem o irmão e o

trouxessem de volta.

A pequena tropa que procedeu a captura foi identificada Renaud, seu irmão, e

Pedro da Vigna o conselheiro do imperador, que acompanhado de pequena escolta, não

tiveram dificuldade em se apossar do jovem religioso, do qual tentaram em vão,

tentaram lhe arrancar o hábito. Tendo posto sobre um cavalo, conduziu-no ao Monte

San Giovanni, um castelo da família, ao norte de Roccasecca.

CASTELO DE SAN GIOVANNI

FIGURA 01

Os dominicanos se queixaram junto ao papa Inocêncio IV desse ato de força, o

papa teria intervindo junto ao imperador, que teria feito os autores; temendo o

escândalo, os dominicanos não ousaram a processar na justiça a família De Aquino,

sabendo, além do mais, que mesmo na prisão, Tomás perseverava em seu propósito.

Segundo certas fontes, Tomás teria conseguido evadir-se ao cabo de algum tempo, com

cumplicidade de sua mãe, descendo pela muralha com ajuda de uma corda. Vendo que

sua resolução não podia ser vencida, sua família o reconduziu ao convento de Nápoles,

após um lapso de tempo de pouco mais de um ano; logo após a deposição de Frederico

II pelo papa Inocêncio IV, em julho de 1245, no Concílio de Lião, que foi visto como

um sinal de que a situação política estava prestes a mudar.

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Os dominicanos de Nápoles não consideraram seguro conservar consigo Tomás,

razão pela qual o enviaram a Roma, onde se decidiria seu futuro, destinando a alguma

universidade, a fim de que, prosseguisse os estudos. Tomás foi enviado a essa cidade

em que se encontrava o mestre da ordem, João, o Teutônico, ele próprio prestes a partir

para Paris, onde devia se reunir o Capítulo Geral de 1246; envia Tomás primeiramente a

Paris, e depois a Colônia onde florescia o Studium Generale, sob a direção do irmão do

irmão Alberto, mestre em teologia, e reputado erudito em todos os domínios do saber.

Existem relatos que o Studium Generale, não funcionou antes de 1248, no de sua

abertura por Alberto Magno em seu retorno a cidade. Até então, o novo dominicano

teria perdido seu tempo em Paris, essas razões convergentes, apresentadas de maneira

independente por diferentes pesquisadores, são de duas ordens:

Na ordem critica interne, foi observado que a obra de Tomás, especialmente seu

comentário a Ética a Nicômaco de Aristóteles, contem traços profundos de idéias em

voga em Paris, entre 1240 e 1250, o se observa por três marcadores:

1) Tomás cita com freqüência, de memória, o texto da Ethica Vetus, a tradução

mais antiga em uso.

2) Seu comentário dá mostra de bom conhecimento da exegese que os mestres

da arte de Paris haviam feito dessas traduções antigas de Aristóteles. Tomás

está tão profundamente impregnado delas, que continua a reproduzir suas

errôneas interpretações, mesmo depois de Alberto lhe ter fornecido boas

explicações.

3) Não foram em Nápoles, 1239 a 1243, que Tomás pôde absorver esses

conhecimentos da Ética não encontrava ainda oficializado naquela cidade, ao

passo que florescia em Paris entre 1250 e 1250, sendo pouco provável que

ele tenha retomado mais tarde um comentário da Ethica Vetus, se a

Translatio Lincolniensis já fora iniciada por Alberto. Após 1250, esses

comentários da Ethica Vetus fizeram-se obsoletos e deixaram de ser

difundidos.

Por todas essas razões, os estudos de Tomás em Paris representam mais que uma

possibilidade; e pode-se acrescentar que as relações entre Tomás e a faculdade das artes

viviam a se manifestar, em mais de uma ocasião; talvez consistam numa persistência de

conhecimentos travados naquele momento.

Argumentos convergentes de criticas externa foram apresentados por Paul

Simon nos Prolegomena de sua edição do Super Dionysium de Divinis Nominibus, de

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Alberto Magno. Este texto foi-nos transmitido, em conjunto com outros comentários

dionisianos por Alberto, em um manuscrito de Nápoles, do qual uma das singularidades

é ter sido escrito pelo próprio Tomás de Aquino, que serviu por alguns anos a Alberto,

como benévolo secretário; e teve seu texto sobre o De Caelesti Hierarchia, apresenta a

particularidade de ser dividido em peciae, ou seja, em peças. Nas técnicas de fabricação

do livro universitário antes da invenção da imprensa, as peças são os cadernos separados

de determinado volume manuscrito. Tais cadernos podiam ser confiados separadamente

a diversos copistas, sem a necessidade de mobilizar a totalidade do livro, isso

apresentava a preciosa vantagem de acelerar consideravelmente a reprodução do

volume.

Esse costuma já vigorava em Paris onde havia forte demanda escolar, antes de

1250, mas nesta mesma época era desconhecido em Colônia, cuja universidade ainda na

fora fundada. O modo pelo qual as peças são identificadas, por meio de uma inscrição

em grandes letras na margem superior da primeira folha de cada uma, o qual era uma

característica parisiense. Segundo historiadores famosos, o que fez o jovem Tomaz de

Aquino a serviço de Alberto, foi, portanto, preparar a edição do comentário deste

último, tendo em vista, a sua reprodução segundo esse sistema.

Alguns estudiosos levaram em conta o tempo demasiado curto, em relação a

Tomás, para atribuir-lhe um ciclo de estudo completo. Ao que tudo indica, ele deixou a

Cidade de Cassino com boa formação básica, mas os quatro ou cinco em Nápoles, 1238

a 1244, não tenham bastado para que terminasse o ciclo das artes, pois, eram

necessários seis ou sete anos para tanto. Logo, Tomás teve tempo para concluir sua

formação filosófica em Paris, ou pelo menos teria seguido ali, alguns cursos, já que o

nível nesta cidade era certamente ao de Nápoles. Mas deve-se acrescentar que ele que,

simultaneamente, ele começou a estudar teologia. Sendo assim, segundo alguns

historiadores, a estada de estudos em Paris foi uma época de formação mista, na qual, os

superiores de Tomás, conscientes de seus dons intelectuais, permitiram-lhe a começar

sua teologia, ao mesmo tempo em que terminava sua formação em filosofia.

Pode-se resumir do seguinte modo o que sabemos sobre seus primeiros anos

dominicanos: no outono de 1245, Tomás de Aquino se encaminha a Paris no séqüito do

João, o Teutônico. Passam naquela cidade os anos 1246 e 1247, e a primeira metade de

1248, o que constituí três anos escolares. Não se exclui que a primeira parte deles tenha

sido o ano de noviciado, e que Tomás não poderá ter desde que assumira o hábito, em

abril de 1244. Quanto aos dois anos seguintes, pode estudar as artes, tanto na faculdade

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como no convento, mas mais nada impedem que tenha seguido em Saint-Jacques,

simultaneamente, certos cursos de teologia com Alberto, do qual recopia o De Caelesti

Hierarchia, num manuscrito que dá mostras de conhecimento do sistema parisiense de

peciae, ou peças.

Em meados de 1248, parte para Colônia em companhia de Alberto, com quem

irá continuar seus estudos de teologia e seus trabalhos de assistente. Foi à época de sua

iniciação sacerdotal, sabemos ainda, que Alberto exerceu sobre ele considerável

influencia na sua vida. Durante esses quatro anos, com idade entre 23 e 27 anos, Tomás

pôde impregnar-se profundamente do pensamento de Alberto, para que continuou os

trabalhos iniciados em Paris. Foi então que passou a limpo suas notas de cursos sobre os

Nomes divinos de Dionísio, e sobre a Ética a Nicômaco de Aristóteles. Diversos relatos

datam desse período de Colônia; não podemos ignorá-los completamente, pois, mesmo

que não fosse histórico, expressariam ao menos como Tomás era visto por seus

contemporâneos. Assim o do boi mudo da Sicília; imagina-se que teria por seu caráter

taciturno que teria sido válido tal apelido; mas ele soube, na ocasião devida, mostra-se

capaz de exprimir de maneira magistral. Alberto teria então declarado profeticamente:

Nós o chamamos de boi mudo, mas ele fará ressoar por meio de sua doutrina um

mugido, tal que, repercutira no mundo inteiro. Provavelmente, Tomás era chamado

assim, por ser tão grande que, sua causa da massa do seu corpo, chamava-no de boi da

Sicília.

Ao chegar a Colônia, depois de Nápoles e Paris, ele contava com sete ou oito

anos de estudo de formação, sem contar o que aprendera por si mesmo, durante um ano

de detenção. Alguns autores chegam a pensar que detinha na época em leitor em

teologia, e para outros autores, provavelmente o de bacharel bíblico de Alberto. Ainda

com relação aos autores, existem alguns que, em Colônia, Tomás teria ensinado

cursorie sobre Jeremias, as Lamentações e uma parte de Isaías, essa leitura “cursiva” é a

que cabe ao bacharel bíblico, durante os dois primeiros anos, em que ele aguça seus

instrumentos como futuros mestre.

Os editores leoninos do Super Isaiam situavam sua redação por ocasião do

primeiro ano de ensino em Paris, em 1252 a 1253. Existe um segmento de

pesquisadores, que identificam que Tomás teria sido enviado a Paris para ler as

Sentenças, e não a Bíblia; por outro, ressalta que, por nenhum dos mestres que haviam

até então ocupado a segunda cadeira dominicana, começara seus estudos pela escritura

cursiva da Bíblia, e sim pela das Sentenças. Além disso, em meados do século XIII,

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ainda não era regra absoluta, o bacharel sentenciário ser primeiramente um bacharel

bíblico.

Essa sugestão é por tanto bem fundada, e recebeu boa acolhida de críticos

qualificados, para esses primeiros comentários da Escritura, que são mais do que nunca,

a primeira obra teológica de Tomás de Aquino. Entre suas características, afirma-se já o

gosto de Tomás por uma exegese, especialmente se aplica à interpretação gramatical e

histórica da Bíblia, que dá a preferência ao sentido literal. Curiosamente, esse mesmo

aspecto estará na origem de uma contestação da autenticidade dessa obra. Na verdade

não há dúvida alguma sobre a autenticidade tomista dessa obra, pois essa não é atestada

em catalogo das obras de Tomás já antes do final do século XIII, mas, sobretudo,

possuímos boa parte de seus manuscritos autografados, escrito com a célebre letra

illegibilís.

CALIGRAFIA DE TOMÁS DE AQUINO

FIGURA 02

Os textos autógrafos de Tomás são demasiados raros para não suscitar interesse;

é algo sempre precioso ver um gênio a trabalhar, descobrir suas hesitações, suas rasuras

suas retomadas e, enfim, o estado último de seu pensamento. O manuscrito do Super

Isaiam apresenta o interesse suplementar de nos permitir entrever Tomás em vias de

preparar não um livro que ele teve o tempo amadurecer, mas seu curso. Exatamente ao

contrário das reportationes, que são a passagem a limpo, mais ou menos cuidada, dos

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cursos ouvidos por um aluno, ou estenografados por um secretário, como o fez com

freqüência Reinaldo, as notas do Super Isaiam foram lançadas no pergaminho, dia após

dia, pelo jovem bacharel, tendo em vista, o curso que devia apresentar nas horas

seguintes, e trazem as marcas de um trabalho apresado.

Temos também, breves anotações marginais em estilo telegráficos que

acompanham o texto propriamente dito. Não se sabe como Tomás as chamava, mas

Jacobino d´Asti, o primeiro em letra clara esse texto autógrafo, denominou-as

collationes. Apresentam-se em formas de esquemas escritos em illegibilis, como o resto

do texto, e ligadas, reunidas por traços gerais, a partir de uma frase, ou palavra, do texto

de Isaías; Tomás nota apressadamente as sugestões que lhe nem a mente, com vistas, a

um prolongamento pastoral, ou espiritual, de seu comentário literal. As collationes do

Super Isaiam são compilações são compilações de citações da Escritura, aproximações

sugeridas pela palavra de Isaías, que não encontram lugar no comentário estritamente

literal, mas inspiram aplicações espirituais ou morais.

Dando continuidade, foi deixado de lado os temas para considerar o estilo ou a

maneira pela qual são tratados, perceberemos rapidamente que Tomás, não procede pela

associação de palavras. Isso não é de pronto percebido pela leitura da tradução, só o

latim o permite: encontra-se em cada citação a palavra característica que provou a

iluminação. Seríamos tentados a pensar que Tomás trabalhou com a ajuda de uma

concordância; com efeito, das cento e trinta referências bíblicas, dessas vinte e quatro

collationes, vinte e cinco provém dos Salmos. Excetuando-se Isaías com doze

remissões, o Livro dos Provérbios, o mais citado depois do Livro dos Salmos, aparece

bem atrás, com dez citações; a prioridade dos Salmos é, portanto, ostensiva em relação

ao conjunto dos livros evocados.

Se buscarmos uma razão para isso, podemos ter em primeiro lugar, um eco da

prece de Tomás de Aquino: longo de ter trabalhado só com uma concordância, o

material lhe vem naturalmente ao espírito é aquele, sobre o qual, mais longamente

meditou. Nisso, inscreve-se na grande tradição patrística, em que o Livro dos Salmos é,

de longe, o mais freqüentemente citado. Mas o próprio Tomás transmitiu-nos a razão

dessa preferência em seu prólogo ao comentário ao Livro dos Salmos: “Tudo o que

concerne à finalidade última da encarnação está contido no Livro dos Salmos com tal

clareza, que pensaríamos estar lendo o evangelho, e não, uma profecia. E, na mais oura

tradição de Agostinho, de quem é igualmente herdeiro, Tomás explica: “a matéria deste

livro é cristo e sua Igreja”.

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Depois dos Livros dos Salmos dos Provérbios, os livros bíblicos mais

mencionados são o Cântico dos Cânticos e o Eclesiastes, respectivamente com oito e

sete remissões. Surpreendentemente, o novo testamento é bem menos citado, com

Mateus sendo cinco vezes citado; João com cinco citações; Efésio com cinco citações;

Segunda aos Coríntios com cinco citações e Romanos com quatro citações. Essa

desigualdade poderia ser explicada, por uma lei geral observada por seus

contemporâneos, que também dão preferência aos livros sapienciais, por se prestarem

facilmente à movimentos de moralização, parte integrante da exegese da época.

No início de 1252, o Mestre geral dos dominicanos pediu a Alberto para

designar-lhe um jovem teólogo que pudesse ser nomeado bacharel para ensinar em

Paris. Alberto, então, lhe propôs Tomás, considerava suficientemente avançado in

scientia et vita. João, o Teutônico, parece ter hesitado não por não conhecer o mesmo,

mas provavelmente, por sua pouca idade, pois, Tomás contava então com vinte sete

anos, segundo os estatutos da Universidade, deveria contar com vinte e nove anos para

assumir canonicamente esse cargo. Chegou-se também a sugerir que João, o Teutônico,

conhecedor da situação agitada de Paris na época, poderia ter hesitado em enviar um

homem que ele teria julgado demasiado pacífico, e se assim fosse, Tomás não tardaria a

mostrar-lhe o contrário. Ele então recebeu ordem ir imediatamente a Paris, e de ali

preparar-se para ensinar as Sentenças.

Começou a ensinar como bacharel em setembro desse mesmo ano de 1252, sob a

responsabilidade do mestre Elie Brunet de Bergerac, da região dominicana de Provença,

sendo que este ocupava o lugar deixado vago pela sucessão de Alberto Magno. Tomás

encontraria em Paris um clima intelectual menos tranqüilo que o vivenciado em

Colônia; pois se tratava de uma cidade maior, de um dos centros intelectuais da

cristandade de tradição universais.

Entre os anos de 1252 e 1255, ou seja, durante a primeira parte da estada do

mesmo, a faculdade de artes teria, enfim, a permissão de ensinar em público todos os

livros de Aristóteles. Então Tomás de Aquino recebeu a permissão para ensinar em

público todos os livros de Aristóteles; sendo assim, podemos supor que ele já se

defrontara com Aristóteles durante seu período de estudos em Nápoles; este fato

contribuiria para a cristalização de uma posição da faculdade de teologia a faculdades

de artes, que encontraria seu ponto culminante na condenação de 1277. O jovem

dominicano estará entre as vítimas da desconfiança geral de uma corrente reacionária

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para com o Filósofo e, cerca de vinte cinco anos mais tarde, estará igualmente implicado

nas condenações que visarão ao averroísmo.

O termo De Averróis originou-se com o filósofo Ibn Roschd que viveu entre os

anos de 1128 a 1198, e este, se dedicou aos comentários das obras de Aristóteles,

considerado por ele como um ser divino e o príncipe de toda filosofia. As conclusões a

que se Averróis comentando o Estagirita constituem as bases das teorias reunidas sob a

denominação de averroísmo latino, que é um conjunto de afirmações divergentes das

teses da filosofia e da teologia da Igreja. O averroísmo recusa a idéia de Deus criador e

causa primeira de todo existente; Deus conhece somente aquilo que é necessário por

isso, as criaturas materiais não podem entrar no horizonte das suas preocupações, da sua

providência e do exercício da causalidade. Contra o dogma da criação e do começo do

mundo, os averroístas negam qualquer início das coisas criadas. No campo da

psicologia, entendida como visão das faculdades espirituais do homem, o averroísmo

propõe uma visão completamente diversa das dos teólogos e dos filósofos da

escolástica; sustenta que a alma não está unidade substancialmente ao corpo, não forma

com o corpo uma única substância, que é única, corruptível e mortal.

Essa visão comporta o desaparecimento de alguns pontos capitais da visão cristã

do homem; a imortalidade individual, a diferença essencial entre o homem e os outros

seres animados. Não menos graves são as conseqüências da visão moral do averroísmo:

uma vez descartada a liberdade e afirmado o determinismo psicológico, o homem

aparece como estando sob o total domínio da necessidade, como qualquer outro ser

criado, e por isso mesmo, isento de qualquer responsabilidade moral. Em lógica, o

averroísmo sustenta a teoria da dupla verdade: relativamente ao mesmo assunto, pode-

se verificar oposição entre verdade alcançada com a inteligência, e as outras conhecidas

graças a revelação sobrenatural. O mais famoso defensor do averroísmo é Singer de

Brabante, professor de artes em Paris, que foi condenado pela autoridade eclesiástica em

1277.

Enquanto não se envolvia a fundo com esses episódios pouco gloriosos, Tomás

se vê as voltas com uma nova e grande tarefa: comentar as Sentenças de Pedro

Lombardo. As Sentenças fariam parte do programa costumeiro, que logo se tornou

obrigatório, das escolas durante três séculos e, volens nolens, todos os escolásticos

foram obrigados a adequar seu ensino a esse molde. Tomás mostrará a importância que,

desde cedo, se lhe atribuiu: as Constituições dominicanas, em texto datado de 1234,

prescrevem que os frades destinados aos estudos deviam recebem de suas províncias os

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três livros básicos, ou seja, a Bíblia, as Sentenças e a Historia Scolastica, de Pedro

Comestor.

Como se sabe, Pedro Lombardo quis inaugurar novo estilo de ensino; com esse

fim, propôs-se reunir num só volume as diversas opiniões, ou sententiae, dos Padres da

Igreja sobre os diferentes temas tratados pela teologia, citando os textos desses autores

em grande parte para a comodidade de mestres e estudante. Esta obra, de Lombardo

apresenta o beneficio, mas também os limites de um capital patrístico, bem ordenado,

decantado, digerido, e sabiamente assimilado. Segundo alguns autores, Tomás,

materialmente, seu comentário de cada distinctio apresenta-se como uma série, mais ou

menos longa, segundo o caso de questões, por sua vez subdivididas em artigos e sub-

artigos, as quaestiunculae, o conjunto todo enquadrado por uma divisio textus, no

início, e uma expositio textus, no final, nas quais, se deve ver o vestígio do comentário

literal.

Querendo-se ter uma idéia das proporções que assume o texto do jovem

professor em relação ao do Masgister, pode-se exemplificar: as duas páginas da

distinção 33 do Terceiro Livro fornecem a Tomás a ocasião de formular 41 questões por

ele desenvolvidas em 88 páginas. Ainda em relação a Pedro Lombardo, Tomás a vê no

fato de a criação, o exitus, ou a saída, das criaturas a partir de Deus, primeiro princípio,

encontra-se sua explicação no fato de que mesmo em Deus há uma saída do Princípio,

que é a processão do verbo a partir do Pai. A eficiência divina que se exerce na criação

é relacionada à geração do Verbo, tal como, a casualidade da graça, que se há de

permitir o retorno das criaturas a Deus, liga-se à espiração do Espírito Santo. Seria fácil

mostrar que Tomás faz com que os Livros de seu Comentário reproduzam essa

concepção, mais importante ressaltar que essa apresentação, que já antecipa o pano da

Suma, não deriva de mera opção pedagógica; exprime uma profunda intuição espiritual,

cuja fecundidade logo será mostrada, mas da qual desde já, precisamos extrair duas

implicações primordiais.

Atento às exigências da palavra teologia, Tomás vê em Deus o tema principal de

seu discurso; que ele só concebe o verbo encarnado um lugar secundário, críticas que

lhe é às vezes dirigida, é por conferir primazia à Trindade. Assim como a criação, a

encarnação não se explica por si mesma; é preciso remontar à caridade original do Pai.

Deve-se em seguida sublinhar que, segundo essa concepção, o universo inteiro das

criaturas, espirituais e materiais, parecer animado por um dinamismo de fundo que, no

momento oportuno, permitiria integrar sem problemas o futuro histórico na

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consideração teológica. Isso melhor se perceberá a respeito da Suma, mas logo se vê o

alcance dessa proposição, em toda sua audácia, ao perceber que, a possibilidade

mencionada por Tomás apenas secundariamente, é a de Agostinho, que se funda na

distinção entre res e signa.

Suas lições não eram fruto de uma ciência infusa, mas resultado de trabalho

duro, do qual o autógrafo do Terceiro Livro que chegou até nós com suas rasuras e seus

arrependimentos, ainda traz as marcas. Nelas descobrimos um Tomás atento a seus

contemporâneos, mas também dependentes delas: Mestre Alberto, como não poderia

deixar de ser, cuja influência bastante forte nos três primeiros Livros é nitidamente

menos perceptível no quarto; Boaventura, foi identificado como, o autor de noves

argumentos retomados em igual número de objeções num artigo do tratado dos

sacramentos, mas dele Tomás, faz também numerosos empréstimos. Um melhor

conhecimento do movimento contemporâneo das idéias facilita hoje a observação de

outros vestígios de atualidade nesta obra, mas só a futura edição critica permitirá uma

apreciação mais exata do que o jovem dominicano deve a seus predecessores e a seus

contemporâneos. Será possível, então, avaliar com conhecimento de causa a extensão

dos limites de sua originalidade.

Atribui-se a esse período dois opúsculos bem conhecido, o primeiro é o que se

chama a de se dar crédito às edições impressas que divulgaram esse título, De Ente Et

Essentia, mas este é apenas um dentre muitos outros títulos atestado pela tradição

manuscrita. Segundo alguns comentadores, Tomás o teria escrito para seus irmãos e

companheiros, quando ainda não era mestre. Foi interpretada tal indicação no sentido de

que ele ainda não era mestre-regente em exercício, e isso, efetivamente nos conduz aos

anos de 1252 a 1256, quando se encontrava em Sain-Jacques.

Independentemente de seu conteúdo, o que talvez exista mais notável nesse dois

opúsculo é o ponto em que se assemelham, a prática era corrente na época, ao que

parece; para nomear apenas dois de seus confrades, Alberto Magno e Guilherme de

Moerbeke também se sacrificaram a ela. Tomás inaugurava assim uma longa série de 26

obras, num total de 90, que seriam compostas a pedido, amigáveis como nesse caso, ou

como de seu socius Reinaldo para quem escreverá o Compendium Theologiae, ou

oficial, no caso do papa Urbano IV, que resultou na Catena Áurea, ou no João de

Verceil, mestre geral dos dominicanos, que o consultou diversas vezes.

A despeito de um pesado trabalho como professor e autor, Tomás jamais se

furtou a esses deveres de caridade intelectual, e esse é um dos elementos de sua

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santidade. Por definição, o cargo de bacharel era transitório; desde o mês de fevereiro de

1256, Aymeric de Veire, reitor da Universidade, concedia a Tomás a licentia docendi, e

ordenava-lhe preparar-se para pronunciar sua aula inaugural. Conhecemos essa decisão

por uma bula de Alexandre VI, datada de 3 de março de 1256, na qual, o papa felicita

Aymeric por ter tomado essa iniciativa antes mesmo de ter recebido a carta pontifícia

anterior que convidava a fazê-lo. Realmente, as circunstâncias estavam longe de ser

tranqüilas para os dominicanos de Paris naquela primavera de 1256, estava-se no auge

da guerrilha desencadeada pelos mestres seculares contra os mestres mendicantes, que

haviam sido até mesmo excomungados.

Recentemente eleito, Alexandre IV logo manifesta vigoroso apoio aos

mendicantes por meio da bula Quasi Lignum Vitae, na qual, causava tais medidas e

exigia a reintegração dos regulares. Sua intervenção junto ao reitor para que este

pressionasse Tomás a entregar seu principium o quanto antes, e para agradecer-lhe pela

benevolência que testemunhara aos irmãos de Saint-Jacques, não é fortuita. O episódio

que sem iludir a intervenção do papa, destaca outro detalhe importante: ainda que outros

candidatos pudessem ter sido escolhidos, o reitor preferiu Tomás, embora este não

possuísse a idade mínima requerida.

De fato, ele tinha apenas 31 ou 32 anos, quando deveria ter 35 anos pelos

estatutos da universidade. Ainda em relação a esta noticia, o jovem bacharel teria

preferido rejeitar o cargo, mas, forçado pela obediência, não pode se esquivar. Pôs-se

então a orar, na noite em que se seguiu um frade dominicano de aspecto venerável

apareceu-lhe em sonho, perguntando-lhe o motivo dessa prece insistente, e após Tomás

ter-lhe explicado, acrescentou que não tinha idéia alguma do tema a ser tratar, a

aparição tranqüilizou-o e lhe propôs um tema de seu discurso: “Dê teus cimos tu dás de

beber às montanhas, a terra se nutre com o fruto de tuas obras”. Pôs então mão à obra e

preparou a sua aula inaugural, que aconteceu entre 03 de março e 17 de julho de 1256.

Este principium do novo masgister in actu regens é, pois, o texto conhecido sob

o título Rigans monte de superioribus suis; é um discurso de clara inspiração dionisiana:

no mundo dos espíritos, assim como no dos corpos, Deus age por toda a série de

intermediários. Assim raramente na inteligência dos doutores, do quais, as montanhas

são aqui a imagem, e ali, por meio de seu ministério, banha a inteligência dos ouvintes

com suas ondas de luz celeste. A partir daí tomas desenvolve quatro pontos, que são:

1. A grandeza da doutrina espiritual;

2. A dignidade de seus doutores;

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3. As condições requeridas em seus discípulos;

4. A economia de sua comunicação.

Melhor do que quaisquer outras considerações, a conclusão desse texto dir-nos-á

qual poderia ser seu estado de espírito:

Com certeza, ninguém poderia pretender possuir por si próprio,

e por suas próprias forças as aptidões suficientes para cumprir tal

mistério; mas tal aptidão, é que podemos esperá-la de Deus: não é por

causa de uma capacidade que poderíamos atribuir a nós mesmo; é de

Deus que vem nossa capacidade (2 Cor 3, 5). Mas, para obtê-la de

Deus, é preciso pedir-lhe: Se algum de vós falta sabedoria, peça-a ao

Deus que lhe dá a todos com generosidade e sem censurar: ela lhe

será dada (Tg 1,5) Rezemos a Cristo para que Ele queira no-la

conceder. Amem.

Tomando como referência um texto posterior a 1362 tínhamos que a cerimônia

se desenrolava em duas sessões: as vesperais e a áulica. Como o próprio nome indica, as

vesperie ocorriam na tarde do primeiro, quando solenemente se discutiam duas das

quatro questões que o futuro mestre propusera a todos os mestres ou bacharéis alguns

dias antes. Nessa primeira tarde, cabia-lhe encerrar a discussão sobre a segunda questão

por meio de sua resposta magistral. A segunda sessão solene ocorre na manha seguinte,

na grande sala do bispado, de onde deriva seu nome: aula. Na primeira parte da sessão,

o novo mestre presta juramento entre as mãos do reitor, recebe o barrete, insígnia de sua

dignidade, das mãos de seus padrinhos, e pronuncia então seu principium. Depois disso,

discutem-se as duas últimas questões por ele propostas segundo um complicado ritual,

no qual, se prevê que ele faça a determinatio magistralis da terceira sessão. Mesmo que

não seja o único a defender suas teses, e mesmo que não esteja igualmente implicado

em cada um dos diferentes momentos da cerimônia, veremos que o jovem mestre é

solicitado o tempo todo. Mas nem tudo termina com essas duas sessões. Conforme

observamos, o novo mestre não interveio na primeira nem na quarta questões, é

legitimamente ainda pode ter algo a dizer a respeito, ou mesmo, completar as respostas

de seu bacharel. Tal possibilidade lhe é propiciada desde o primeiro dia de aula que se

segue à sua recepção, no qual dominam sessão de resumptio ou retomada. Dispõe

então, de toda uma manha para uma exposição tão ampla quanto queira determinatio

ualde prolixa, e neste dia, não há lições ou disputas em outras escolas, para permitir que

todos assistam.

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Como se sabe, existem dois textos conhecidos como aula inaugurais de Tomás:

um é o principium, que foi apresentado agora; o outro é um elogio da Sagrada Escritura

que corresponde manifestamente ao que exigem os estatutos para inaugurar uma

docência. Esse texto, transmitido sob o título de “sermo secundus fratris Thome”, toma

por tema o versículo de Baruc 4,1:Hic est líber mandatorum Dei, e sua Commendatio

Scripturae é seguida de uma explicação da maneira pela qual se dividem os diferentes

livros da Bíblia.

Nos anos de 1256 a 1259 aconteceram os seguintes fatos: Tomás proferiu sua

aula inaugural, ainda não havia terminado de redigir seu comentário às Sentenças, mas a

partir de setembro de 1256, ele devia exercer as três funções do século mestre em

teologia, tais como haviam sido formuladas em fins do século XII por Pedro Cantor, e

mais tarde confirmadas pelos estatutos da Faculdade de Teologia: legere, disputare,

praedicare. O jovem dominicano tinha plena consciência disso, e toda uma passagem

de seu principium, e explicam as qualidades que devem possuir os doctores sacrae

scripturae, doutores em Sagrada Escritura, para fazer frente a sua tripla função: devem

ser elevados (alti) pela eminência de sua vida, a fim de serem capazes de pregar de

maneira eficaz; devem ser esclarecido (illuminati), para ensinar de maneira apropriada,

e fortificado (muniti) para refutar erros por meio da disputa.

Em primeiro lugar, deve-se Ler a Sagrada Escritura e comentá-la versículo por

versículo, sendo esse o significado de Legere, e Tomás teve como primeira tarefa do

mestre em teologia a atenção voltada para grandes obras; diferentemente da leitura

cursiva, a única permitida ao bacharel bíblico, cujo o tipo é o Super Isaiam, o modo de

ensinar reservado ao mestre, permitia-lhe um comentário muito minucioso, como se

pode ver no Super Iob, ou no In Ioannem. Por muito tempo ignorado em benefícios das

Sentenças ou da Suma, e foi desse modo que ele comentou pouco mais da metade do

Novo Testamento e vários livros antigos.

Se agora retornamos ao trabalho de Tomás como Masgister in sacra pagina,

poderemos estar certo de que, qualquer que seja o livro comentado na época, a opção já

assumida no Super Isaiam, privilegiando o sentido literal deve ter continuado a se

fortalecer, como demonstra o Super Iob, cuja data é entre 1261 e 1264, é a data

considerada mais próxima: como São Gregório esgotara tudo o que se poderia dizer

sobre o sentido místico desse livro, pensava Tomás que só lhe restava expô-lo segundo

o sentido literal, este se expressa como se tivesse sido escolhido como árbitro de comum

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acordo entre Jô e seus amigos, concordando ou discordando de cada um dos

interlocutores.

Alguns estudiosos ressaltam as características do método utilizado por este, pois,

é um ponto do qual ele jamais divergirá, como mostram as exposições teóricas de seu

método escriturário. Esta prioridade do sentido literal significa, em primeiro lugar, que

ele é o único adaptado às necessidades da argumentação teológica, mas também, que

toda a interpretação espiritual deve ser confirmada da Sagrada Escritura, de modo a

evitar todo risco de erro. Se o sentido literal a cada vez mais considerado o único

decisivo numa discussão estritamente teológica, isso se deve a ele, em grande parte, o

que, porém, não impede que se recorra ao sentido espiritual, que permanece de

necessitate sacrae Scripturae; traduz tão-somente a crescente tomada de consciência

dos limites da exegese alegorizante.

A segunda função do mestre era, pois, a Disputare, a disputa; e ainda, de

ensinar, mas sob outra forma: a de pedagogia ativa, na qual procedia por meio de

objeções e respostas sobre um tema dado. Não se conhece a data exata da Disputatio,

estimasse que se tivesse surgido no decorrer do século XII; mas ela adquiriu autonomia

no início do século XIII, e é efetivamente possível situá-la na evolução das formas de

ensino. Primeiramente, como foi mostrado, havia a Lectio, ou seja, o comentário de um

texto, fosse da Bíblia, fosse o das Sentenças. Depois, uma vez que o comentário estrito

nem sempre se prestava ao tratamento dos problemas que os mestres e os estudantes

podiam propor, surgiu a Quaestio, isto é, a elaboração mais extensa de um tema preciso,

que superava o comentário direto.

A disputation representa um estágio ainda ulterior, nesse desprendimento

progressivo em relação ao texto, e trata-se de um processo natural, devido à maturidade

do espírito científico medieval, e a um maior domínio do método dialético. Para retomar

a definição voluntariamente circunstanciada, a Quaestio é uma forma regular de ensino,

aprendizagem e pesquisa, presidida pelo mestre, caracterizada por um método dialético

que consiste em introduzir e examinar argumentos de razão e de autoridade, que se

opõem em torno de um problema teórico ou prático, e são fornecidos pelos

participantes, na qual, o mestre deve alcançar uma solução doutrinal, mediante um ato

de determinação que o confirma em sua função magistral. Comparada à Lectio, o texto

foi um componente desapareceu; mas outro surgiu, a discussão; e, enquanto na primeira

argumentação partia das autoridades em conflito, aqui, ela é fornecida pelos

participantes, que não se privam de recorrer às autoridades.

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A disputa assumia duas formas essenciais; a primeira à Disputatio Privata,

disputa privada, efetuava-se no interior da escola, unicamente com os alunos do mestre

e se bacharel. A segunda a Disputatio Publica ou Ordinária, e os mestres deviam

conduzi-la a intervalos regulares, porem muitos a dispensavam de bom grado, pois o

exercício podia ser perigoso. A diferença em relação à primeira era, portanto, o público,

uma vez eu alunos de outras escolas podiam assisti-la, e por vez os mestres; não raro o

faziam, e esforçavam-se por embaraçar o confrade em exercício.

Segundo alguns historiadores, as longas séries de disputadas por Tomás não

pertencem ao gênero das disputas comuns ou públicas, mas ao das disputas privadas, e,

portanto, derivam do ensino regular. Nela se reconhece que a unidade da disputa

pública é a questão, mas, como o De Veritate remete outro gênero, não há dificuldade

alguma em admitir que sua unidade é o artigo. A reunião de vários artigos numa só

questão decorre do plano seguido pelo mestre, e aparece na redação final. Pode-se assim

imaginar o desenvolvimento da jornada de ensino em Saint-Jacques da seguinte

maneira: na primeira hora do dia, Tomás dava a sua aula; depois da aula destes, vinha a

do bacharel; à tarde, ambos encontravam com seus alunos para disputar sobre um tema

escolhido.

Não sendo suficiente às três horas destinadas a essa pedagogia ativa para esgotar

o assunto, procedia-se artigo por artigo; eventualmente, artigos bem curtos podiam ser

reunidos numa só sessão e, inversamente, um tema mais longo ou mais delicado, podia

ser diversas vezes fracionado. O resultado que seria objeto, respostas e determinações

magistrais, era mais tarde reunido numa redação final, tendo em vista a publicação da

unidade terminal da questão. A elaboração do De Veritate estendeu-se deste modo aos

três anos escolares, de 1256 a 1259, na ordem de cerce de 80 artigos por ano, o que

corresponde ao número de dias de ensino.

O Praedicare é a terceira e ultima grande obrigação do mestre. As pessoas da

Idade Média não viam oposição alguma entre o ensino científico da tecnologia e seu

prolongamento pastoral; pelo contrário, o primeiro era visto como a preparação normal

do segundo. Pedro Cantor chegava acrescentar: É depois da Lectio da Escritura e

depois do exame dos pontos duvidosos, graças à Disputatio, e não antes, que se deve

pregar. Os mestres, aliás, se preocupavam pouco com esse aspecto; e esforçavam-se em

pôr à disposição dos pastores, não só instrumento de trabalho, como concordância e

distinções para uso mais fácil e mais seguro do texto bíblico, mais muitas vezes

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adicionaram à própria Lectio sermões inteiros, ou então, a projetos ou resumos de

sermões que deviam ajudar seus ouvintes a efetuar a passagem da Lectio à Predicatio.

Eles próprios, aliás, sabiam muito bem se servir de seus trabalhos quando

tinham de pregar, como Tomás ao utilizar os documentos patrísticos que reunira na

Catena Áurea. Esta prática mostra que a teoria prevista pelos estatutos da faculdade era

realmente seguida. Antes mesmo de se submeter às provas da licença, o jovem teólogo

deveria prometer pessoalmente efetuar duas Collationes na universidade, ou um Sermo

e uma Collatio, e uma vez mestre, nem por isso ficava dispensado de pregar. Os

estatutos chegam a prever a instituição de uma comissão, composta de quatro mestres

regentes, encarregadas de designar aos outros os sermões que deveriam pronunciar

durante o ano.

Alem disso, prevê-se que, se o mestre não puder cumprir essa obrigação por si

mesmo, este era obrigado a designar um substituto para fazê-lo. A obrigação não se

limitava aos domingos, estendia-se aos feriados na faculdade de teologia; e neste caso, a

pregação era efetuada entre os mendicantes, que fossem menores, quer pregadores. Para

os mestres mendicantes, cláusula especial previa que, se o sermão da manha numa casa

de sua ordem a Coram Universitate eles seriam obrigados a fazê-lo também na Collatio

das Vésperas; mas, se o sermão tivesse ocorrido em outro lugar, eles não tenham essa

obrigação.

Segundo tais disposições, que duplicavam a exigência de sua vocação de frade

pregador. Tomás deve ter pregado na universidade pelo menos algumas vezes por ano,

mas esses sermões universitários estão longe de compartilhar a difusão que o restante de

sua obra conheceu, e não só suas obras propriamente teológicas, mas mesmo sua

pregação sobre o Pater, a Ave-Maria, o Credo ou o Decálogo. Cristo veio restaurar a

imagem desfigurada pelo pecado; Tomás insiste aqui na liberdade como signo

privilegiado de nossa semelhança divina. Enfim, ressalta enfaticamente o lugar do

Espírito Santo como fonte da liberdade cristã, laço da comunhão eclesial, origem de

nossas preces e realizador das exigências do Pater.

No início do mês de junho de 1259, Tomás foi a Valenciennes, onde acontecia o

Capítulo Geral dos dominicanos, para ali participar dos trabalhos de uma comissão

encarregada de promover os estudos. Esta comissão era composta de cinco membros,

todos mestres em teologia em Paris, reunia a elite intelectual da ordem na época. Esta

comissão era composta de: de Tomás de Aquino, Alberto Magno, Bonhomme Le

Breton, Florent de Hesdin e Pierre de Tarentaise, que mais tarde, em 21 de janeiro de

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1276, foi eleito papa com o nome de Inocêncio V; e este, exerceria esse cargo por

poucos meses, pois morreu em 22 de junho de 1276.

A reunião e os trabalhos dessa comissão devem ser situados no contexto da

política geral, com vista a favorecer a vida intelectual, conforme à intenção de São

Domingos. João, o Teutônico, já dera prova de sua vontade de lhe ser fiel; a mais clara é

a decisão tomada pelo Capítulo Geral de Paris em 1248, que consistia em abrir quatro

Studia Generalia, que se somariam ao de Saint-Jacques.

Com essa nova comissão, Humberto Romano, após obter a direção geral e que

por sua vez, manifestava pretender seguir essas orientações, ao que tudo indica, foi ele

quem convocou e nomeou os membros antes do Capítulo Geral. Esta redigiu uma série

de recomendações que foram inseridas nas atas do Capitulo; todas destacavam a

prioridade dos estudos em relação a outras tarefas, como por exemplo: evitar empregar

os leitores em trabalhos ou cargos que os impeçam de desenvolver se trabalho principal,

e que, não faça mais se celebrar a missa no momento das aulas, por aqueles que devem

assistir a elas. Para os jovens, trata-se de escolher os mais aptos ao estudo antes de

enviá-los a um Studium Generale; os mais antigos são lembrados de que mesmo os

abades são obrigados a seguir os cursos, sempre que comodamente, o puderem; os

próprios leitores devem ir à Disputatio caso se encontrem disponíveis.

Este tipo de idéia de formação continua cara à nossa época, e se alguma

província for demasiado carente de pessoal para ter um leitor em cada convento, deve-se

então enviar os jovens para outros lugares que disponha desse recurso; igualmente, se

uma província não dispusesse de alguém capaz de ministrar um ensino público, aberto a

não frades, que haja pelo menos um ensino privado, no interior do convento, e que se

leia neste, pelo menos a História Eclesiástica de Pedro Comestor ou, a Summa de

Casibus de Raimundo Peñafort ou, algum manual do gênero. Os frades não devem

permanecer ociosos ou inativos, Ne Fratres Sint Ociosi; devesse cuidar em especial de

casa de estudos das artes, para que os jovens ali recebam a formação filosófica básica.

Os anos 1259 a 1261 foram anos de incertezas na vida Tomás, a política da

ordem acelerava a rotação dos mestres responsáveis por Paris, a fim de formar o maior

numero possível deles e enviá-los para ensinar em outros lugares. Tomás já presidira à

Inceptio de seu sucessor, então seu bacharel sentenciário, o inglês Guilherme de Altona

no período de 1259 a 1260, em seguida, a cátedra ao discípulo Annibald de Annibaldis,

que a manteve durante os anos de 1260 a 1262, quando foi nomeado Cardeal pelo Papa

Urbano IV.

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Alguns anos depois, Tomás se dedicou aos três últimos livros do Catena Áurea.

Não se tem relato preciso de data e lugares, mas uma das hipóteses de que ele tenha

voltado a Nápoles seu convento de origem, onde este teria vivido ali desde o final de

1259 até setembro de 1261, data que foi designado para Orvieto, tendo estado no

Capítulo Provincial de Nápoles o que teria instituído predicador geral em setembro de

1260.

Na data da obra Suma Contra os Gentios é incerta, com o começo em 1259 e

termino antes do ano de 1267. Segundo alguns pesquisadores, onde Tomás teria

iniciado a redação em 1259 em Paris, o original dos 53 primeiros capítulos do Livro I; e

na Itália, em 1260, revisou os 53 capítulos escritos e começou a redigir o restante dos

livros desta Obra, ou seja, desde o capitulo 54 do Livro I. Os outros dois volumes,

segundo volume e o terceiro, foram escritos anteriormente a 1261; o quarto volume foi

estimado seu termino no início de 1264, e toda a obra estava concluída provavelmente

antes de 1267.

Esta é uma dessa obras privilegiadas de cujo autógrafo ainda dispomos em boa

parte, cerca de um terço da obra; do Capítulo I – 13 ao III – 120, mas com muitas

lacunas. Às observações habituais às quais dá lugar o exame de seus textos autógrafos,

esse permite acrescentar que trata de uma obra de Tomás de Aquino acalentou: ele a

releu, e modificou e corrigiu várias vezes. Todos os Capítulos conservados em

autógrafo passaram pelo menos por uma revisão, a maior parte por duas ou três, ou

mesmo quatro, se considerarmos a última releitura.

O início da Suma Contra os Gentiles esta escrito sobre o mesmo pergaminho, e

com a mesma tinta Parisiense do Super Boetium. A partir do fólio 15, contatamos a

mudança do pergaminho, e no verso do fólio 14 na linha 43, percebemos s mudança

radical da própria tinta. Daí a conclusão provável que se chega seria a seguinte: que essa

mudança data a época em que Tomás deixa e parte para a Itália.

Quanto ao terminus ante quem desse Livro IV, e por tanto, da obra inteira; a

evolução de Tomás de Aquino no que concerne à doutrina do verbo, e que constitui uma

obra-prima da demonstração; e consistia em atribuir duas etapas apos as hesitações da

Sentença, na primeira se encontra na Suma Contra os Gentiles nos Livros I - 53 e IV –

11; e a segunda, no De Potentia, questões 8 e 9.

A partir dessa constatação, os Capítulos IV – 11 e I – 53 são na verdade

contemporâneos, pois, como mostram autógrafo, Tomás voltou ao texto do Livro I – 53

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no momento em ele redigiam o Livro IV – 11. Quanto ao De Potentia, sabe-se que foi

Disputado em Roma, para onde Tomás foi designado em 08 de setembro de 1265.

Deve-se acrescentar que o próprio Tomás remete em várias ocasiões ao Contra

Gentiles: no De Rationibus Fidei, várias vezes, no Compendium Theologiae, cujas

relações com o Contra Gentiles são manifestas; no comentário ao De Anima, enfim,

onde Tomás se examine refutar mais extensamente Averróis, pois já o fizera em outro

lugar; todos esses livros situam-se logo após 1265; segundo uma linha de pesquisadores.

No caso da datas das etapas desse evento, estas parecem ser a mais acertada, e esta é a

intervenção desse Líber de Veritate Catholicae Fidei contra Errores Infidelium, Incipit

dos manuscritos, que continua a serem objetos de Disputas bastante calorosas.

Fazendo eco aos Gentiles mencionados no título da obra, cerca de 1270, a

tradição recebida, resumia-o do seguinte modo: Tomás teria composto esse livro por

solicitação de Raimundo Peñafort, que com a intenção de converter o Islã, ainda muito

próximo na Espanha, teria pedido a seu jovem confrade, que equipasse os missionários

com as armas intelectuais necessárias, e a Suma Contra os Gentios supera em muito um

manual missionário, mesmo que concebido para ir ao encontro das elites; e ela

tampouco visa especialmente a Averróis; e todo um conjunto de errantes, pagãos,

mulçumano, judeus e hereges que são examinados e criticados; mesmo que entendido

no sentido da missão interior contra os Averroístas, ou apologéticos, trata-se sim, de

uma obra teológica, por sua intenção de sabedoria, assim como por seus méritos, e raras

obras foram menos históricas do que essa.

Nela Tomás queria mostrar-lhes as verdades de Aristóteles sob o aspecto de uma

realidade viva e purificada no interior da teologia cristã, e mostra no mundo da

revelação o alimento vivificante dessa verdade. Parece existir um consenso entre os

estudiosos e historiadores que uma obra pensada para não cristãos, para infiéis, mas

dirigida a cristãos chamados a estabelecer contato com infiéis, a antecipar suas

objeções, a apresentar-lhes a doutrina cristã de uma maneira que mostra que ela escapa

de suas dificuldades, e coincide em grande parte com suas próprias convicções: então, a

Suma Contra os Gentios seria uma escola de apresentação da fé cristã aos infiéis, uma

tentativa de ecumenismo Avant La Lettre entre cristãos e infiéis. Quanto ao método e o

plano dessa obra, foi reproduzido e comentado extensamente, e com clareza num

belíssimo texto redigido por Tomás; mas também onde ele dá a entender claramente que

está a propor uma obra pessoal.

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Após três anos de regência, o jovem mestre, em plena posse de seu talento e

perfeita consciência do que fazer realiza a sua primeira síntese: O sábio deve empregar

seu esforço na dupla verdade das realidades divina, ao mesmo tempo em que na

refutação dos erros contrários. Para uma dessas tarefas, a busca da razão deve bastar; a

outra supera todo o empreendimento da razão. Quanto à dupla verdade aqui referida,

deve ser buscada não do lado de Deus, que é a verdade una e simples, mas do lado de

nosso conhecimento, que, diante as coisas de Deus, assume diversas modalidade.

Essa menção a uma dupla verdade poderia prestar-se à confusão, mas vê-se que

Tomás logo se explica de maneira satisfatória. Observamos em vez disso, como essas

primeiras linhas correspondem a uma menção mais rápida, já formulada no capítulo 2,

em tom mais pessoal: buscando na misericórdia de Deus a ousadia de assumir o ofício

do sábio, que, todavia excede nossas forças, propusemo-nos como objetivo expor, em

nossas medidas, a verdade professada pela fé católica e rejeitar os erros contrários.

Para as palavras de Santo Hilário: o ofício principal da minha vida, ao qual me sinto em

consciência obrigada diante de Deus, é que todas as minhas palavras e todos os meus

pensamentos falem dele.

Citado com grande freqüência por seus pesquisadores, e com razão, como um

desse lugar em que Tomás põe um pouco de lado a sua reserva: o que é próprio dessas

páginas, o que faz com que Tomás não tenha podido escrevê-la nem no início do início

das Sentenças, nem no início da Suma Teológica, não é seu conteúdo, que seria

apropriado lá como cá, mas o seu tom pessoal, a emoção contida e o fervor com que

Tomás confessa que fez de seu ofício de teólogo a sua vida: o programa torna-se

confidencia, e isso é a Summa Contra os Gentios, nem um curso, nem uma obra

didática, mais um ensaio de reflexão pessoal.

Foi observado também que esse texto reúne sob duas tarefas principais a função

que Tomás teólogo e que resolveu formar a tripartite no Super Boetium, alguns meses

antes, mas continua-se com a mesma perspectiva, que é simultaneamente de confiança

resoluta no uso da razão em teologia e de consciência clara do que poderia ser exigido.

Existem duas frases em destaque em duas passagens bem pouco estudadas e

conhecidas na Suma Teológica, a propósito do motivo da encarnação, Tomás reafirma

um dado de princípio: O que depende unicamente da vontade de Deus e aquilo a que a

criatura não tem direito algum, só pode ser por nós à medida que é ensinado pela Santa

Escritura, que nos dá a conhecer a vontade de Deus.

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Indubitavelmente, o verbo teria podido encarnar mesmo em ausência do pecado,

mas raciocinar desse modo seria incorrer numa teologia hipotética, na qual, o homem ao

imaginar o que teria acontecido que poria sua própria visão das coisas no lugar da

visão de Deus. Mais humilde o verdadeiro teólogo quer permanecer realista e adere

mais estreitamente ao lado revelado, por mais zeloso de razão e síntese que seja. Tomás

não esquece que sua construção repousa na história da salvação. Tomás certamente

conhece força da razão, mas também seus limites, ele pretendo provar a Trindade pela

razão natural é fazer duplo mal a fé.

Em primeiro lugar, desconhece-se assim a dignidade a fé, que tem por objeto as

coisas invisíveis, ou seja, que ultrapassam a razão humana. Em segundo lugar,

comprometem-se desse modo os meios de conduzir certos homens a fé. De fato,

apresentar como prova da fé razões desnecessárias é expor essa fé ao desprezo dos

infiéis; pois eles pensam ser sobre essas razões que apoiamos e por causa delas que

cremos.

Segundo o método proposto, procuraremos manifestar essa verdade que fé

professa e a razão descobrem produzindo argumentos demonstrativos e argumentos

prováveis do quais nos serão fornecidos por obras de filósofos e de Sancti, havendo de

nos servir para confundir a verdade e Convincere o adversário. Foi explorada essa

verdade que ultrapassou a razão refutando os argumentos dos adversários e

esclarecendo, tanto a Deus o permitir, a verdade de fé por meio de argumentos

prováveis e de autoridades.

Vale apena relatar que os Sancti seriam os Santos ou os padres da igreja, e a

palavra Convincere foi atribuída no texto o valor de convencer, ou seja, convencer do

erro quem quer que tenha errado. Que razão não possa demonstrar a fé não significa que

ela seja imponente diante das objeções de adversários, e Tomás da provas de robusta

confiança nas capacidades da razão que crê. Visto que a razão natural não pode ir contra

a verdade de fé, e ela pode ao menos mostrar que os argumentos dos adversários não

são verdadeiras demonstrações, mas sofismas demonstráveis.

Como em todas as suas obras, as estruturas são perfeitamente claras, e não

encontramos dificuldade alguma em discernir a organização das diversas seções. A

comparação com a Suma Teológica também permite esclarecer uma obra pela outra. O

Livro I aborda diretamente a existência de Deus; como para nós ela não é evidentemente

por si, e preciso estabelecê-la, pois é o fundamento necessário de toda obra, se não se

consegue fazê-lo, é todo um estudo realidades divinas que fatalmente desmorona.

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Tomás ampliará o procedimento, mas conservará a mesma estrutura; em ambos os

casos, o papel primordial por ele conferido à via negativa em sua argumentação; e pela

via positiva, chegaremos apenas à existência de Deus; quando se trata de sua existência,

essa via se mostra inadequada. A substância divina supera por sua imensidão todas as

formas que pode atingir nossa inteligência, e assim, não podemos apreendê-la

conhecendo o que ela é. Obtemos, porém, certo conhecimento o seu respeito, estudando

o que ele não é, e tanto mais, nos aproximamos desse conhecimento, quanto mais somos

capazes, graças a nossa inteligência, de afastar mais as coisas de Deus.

As considerações preliminares da abertura do Livro II são da mais alta

importância, o teólogo fornece diversas razões que explicam o interesse que para ele

pode ter o conhecimento das criaturas para um melhor conhecimento de Deus: para

começar, não podemos conhecer perfeitamente um ser que ignoramos o modo como ele

age; além disso, a meditação das obras de Deus provoca a edificação da fé; mas,

sobretudo, dado que as criaturas refletem certa semelhança com Deus, o erro a seu

respeito acarreta erro em relação às coisas divinas. Assim, por diferentes que sejam os

pontos de vista do filósofo e do teólogo sobre as criaturas, o segundo não se interessa

menos por elas do que no Livro I, e. Tomas então nos propõe, para começar, um tratado

da criatura.

No Livro II, Deus, princípio de ser, é também de agir, por uma potência ativa; é

a causa universal da existência de todos os seres e de todo o ser, e seu agir criador

exerce-se sem sujeito preexistente, sem movimento, mudanças ou sucessão. Quanto a

suas mobilidades, essa ação, exclusiva a Deus, é todo-poderosa, sábia, livre, gratuita e,

que têm um acréscimo em seu peso, e, temporal em seus efeitos. É, pois, a tão debatida

questão da eternidade do mundo que encontramos nesses últimos capítulos; mas,

enquanto no opúsculo célebre De Aeternitate Mundi, pois nele, Tomás deixa-se muitas

vezes levar pela paixão, aqui ele se exprime com ponderação e equilíbrio, e talvez,

fornecendo-nos um de seus mais belos relatos sobre o tema.

No Livro III, o mais volumoso, conta com 163 capítulos, e como nos anteriores,

as primeiras páginas são capitais, pois o autor ali especifica a sua intenção,

relacionando-a ao que ele já realizou. Como no Livro I tratamos da perfeição da

natureza divina; e no Livro II da perfeição de sua potência, pela qual, Ele é causa e

senhor de todos os seres; resta no Livro III estudar a perfeição de sua autoridade ou de

sua dignidade, enquanto, Ele é fim e reitor de todos os seres. Portanto, será seguida esta

ordem:

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1) Deus fim de todos os seres;

2) Seu governo universal que rege todas as criaturas;

3) Seu governo particular reservado às criaturas inteligentes.

Tomás anuncia ainda no Livro IV Contra os Gentiles a explicação da verdade da

fé que está fora do alcance da razão; ai só existe razões prováveis e não mais

necessárias, mas Tomás não renuncia a dizer algo acerca do mistério. Existe dois tipos

de disputas teológicas, um que rejeita erros e o outro que torna inteligível a verdade; se

nós comentarmos com o primeiro, sem duvida é sabido pelo ouvinte o que é verdadeiro

e o que é falso, mas não teria tido idéia alguma do que significa a verdade que lhe é

proposta, e então, este sairia com a cabeça vazia, e a cabeça bem formada é antes

preferível a cabeça demasiado cheia. Propondo-nos por seguir pela via da razão o que a

razão humana pode descobrir Deus, teríamos que estudar, em primeiro lugar, o que é

próprio de Deus em si mesmo; em segundo lugar, estudaríamos a proveniência das

criaturas a partir de Deus e em terceiro lugar, veríamos a subordinação das criaturas a

Deus como seu fim.

Essas últimas palavras esboçam dos três primeiros livros, consagrados às

verdades acessíveis à razão: existência de Deus e perfeições divinas; o ato criador em si

mesmo e em seus efeitos; a providência e o governo de Deus. Esse plano prefigura

manifestamente o que Tomás colocou em prática na Suma Theologiae, com a diferença

de excluir dele a Trindade e a Obra da Salvação, da encarnação à parusia, passando

pelos Sacramentos; ele reserva esses assuntos ao Livro IV, consagrado Ad Illius

Veritatis Manifestationem Quae Rationem Excedit, ou seja, aos que os Padres

chamavam propriamente a Theologia e a Oikonomia. Essa semelhança e essa diferença

merecem ser notadas, pois, Tomás já está de posse do esquema circular cuja

fecundidade ele ainda há de explorar, mas na conseguiu unificar perfeitamente seu

objetivo.

Ainda em relação ao Livro IV 1 – 26, em seu Tratado da Trindade, situaram as

diferenças de opção usando a complementaridade das duas Sumas, a Contra os Gentios

e da Teológica, onde ele preferia remeter para o final de sua exposição às verdades

inacessíveis à razão. Pode-se perceber uma única exceção do plano Contra os Gentios

os da Suma Teológica: e encarnação; os sacramentos o fim último do homem. Quanto

ao exame da encarnação, a Suma Teológica é mais completa, pois é enriquecida de uma

ampla cristologia existencial, que foi chamado à Vida de Jesus; como a morte de Tomás

impedira as conclusões do seu Tratado dos Sacramentos e a finalização Suma

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Teológica, é na Suma Contra os Gentios que encontraremos a exposição mais completa,

já que ela encontra-se terminada; logo se pode concluir que só então seria realizada a

Obra de Deus, pois é quando retorna a seu princípio, que um efeito é soberanamente

perfeito.

O tema geral é o da providencia de Deus, da maneira pela qual Ele cuida do

universo e pela qual ele governa, ou, em outros termos, da maneira pela qual o conduz

para si; seguir os pormenores desse plano em muito nos afastaria do propósito desta

iniciação; é preciso assimilar a proximidade e a diferença em relação desses à maneira

pela qual Tomás executou o mesmo designo na Suma Teológica.

Em 14 de setembro de 1261, na festa da Exaltação da Santa Cruz, Tomás se

encontrava em Orvieto, em companhia de abades e delegados de todos os conventos do

convento da província. Pois sua qualidade de pregador geral fazia dele membro de

direto dos Capítulos Provincial e impunha-lhe a obrigação de participar de seus

julgamentos. Graças a Atas dos Capítulos da Província da Província Romana

Conservada, que às vezes mencionam seu nome, que às vezes mencionam seu nome, se

podem reconstituir com relativa certeza a série de seus deslocamentos anuais e esboçar

o quadro cronológico em que situam as atividades desses anos passados em Orvieto,

depois em Roma.

Paralelamente a esse fato, Tomás devia comentar para seus irmãos um Livro de

Escritura, e ele optou pelo Livro de Jó; assim sendo, pode-se dizer que este é um dos

mais belos comentários escritos que Tomás nos legou. Porém é bom advertir sobre seu

caráter escolástico e teológico, e não eram exigidos da exegese de Tomás o que se

buscamos autores modernos. Com Tomás de Aquino, a história de Jô, faz-se tema de

discussão sobre o problema metafísico da providência; a natureza do objeto da disputa,

sofrimento de um justo fixa os limites do debate pressupõe que estamos quanto ao fato

do governo divino das coisas naturais. A dúvida apresenta-se a respeito de assuntos

humanos, pois, ao sofrimento não são poupados os justos; que seja afligido sem causa,

isso contraria a idéia da providência.

Tomás distingue três espécies de discursos: aqueles que ele é arrastado por sua

sensibilidade, aqueles em que ele discute racionalmente com seus amigos, e em que

cede à inspiração divina. Como a inspiração divina, por sua vez, manifesta-se não por

intermédio de uma fala exterior, mas antes no caminhar de uma consciência, pode-se

então seguir as etapas sucessivas pelas quais passa esse justo afligido, desde a origem da

transformação de sua sensibilidade, até a sua total Conversio ad Deus, sem violentar a

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unidade de sua pessoa. Pois de um extremo a outro do processo, trata sem duvida do

mesmo homem, cuja evolução humana e religiosa assim pode-se compreender melhor.

A reflexão que Tomás fez sobre as questões mais fundamentais que se põem ao

homem, uma vez que a trágica realidade do sofrimento do justo inocente é bem de

natureza a inspirar dúvida sobre a existência divina, se não existir mundo futuro em que

o bem e o sejam sancionados. Além de uma antropologia filosófica e teológica, de fato

presente, no texto de Tomás; esse livro se apresentou como uma profunda meditação

sobre a condição humana.

Na intensa produção literária desse período deve-se reservar um lugar à parte ao

comentário dos Quatros Evangelhos por meio de uma série de citações dos Padres da

Igreja Católica; conhecida sob o nome de Catena Áurea, essa obra foi empreendida por

Tomás por solicitação do papa Urbano IV, em fins de 1262 ou início de 1263. A

rapidez do trabalho tem algo de surpreendente, uma vez que o volume sobre Mateus

pôde ser oferecido ao papa antes da sua morte, em 2 de outubro de 1264. Supõe-se que

Tomás já começara a reunir textos antes mesmo do pedido do papa, mas seu trabalho foi

muito facilitado por ter podido servir-se de florilégios, e da ajuda de secretários. Esses

não precisavam altamente qualificados para reagrupar os textos, segundo versículos

evangélicos; e Tomás encarregava-se de sua organização final.

Ao que tudo indica, ele trabalhou simultaneamente nos três outros evangelhos,

também foram conduzidos com presteza, pois foram concluídos em Roma entre 1265 e

1268, antes do seu retorno a Paris. A importância da obra pode ser ainda avaliada, pelo

proveito que Tomás e outros depois dele, retiraram dela.

Os últimos capítulos de seu comentário sobre São João geraram uma nova

redação da Catena Áurea, e notamos facilmente a influência dessa obra em suas

pregações. O mesmo vale para sua teologia, e apontou-se que a documentação patrística

no domínio da cristologia sextuplicou na passagem das sentenças para a Suma. Se

examinarmos retrospectivamente esse período da vida de frei Tomás de Aquino, na

podemos deixar de ficar impressionados pela rapidez com que trabalhou. Em cinco

anos, ou seja, desde que deixou Paris, ele compôs a Suma Contra os Gentios,

Comentários do Livro de Jó, boa parte da Catena Áurea e toda uma série de Opúsculos.

As três grandes obras dispensam elogios, ainda uma só delas bastasse para

ocupar o tempo de mais de um autor. Sem dúvida os pequenos escritos ressentem-se um

pouco dessa pressa, mas tem o mérito de mostrar um teólogo em ação no mundo dê sua

época, atento aos problemas que lhe são apresentados, tentando responder a eles da

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melhor forma possível; a solidão de seu convento não tinha nada do isolamento de uma

torre de marfim.

Em 8 de setembro de 1265, foi celebrado o Capítulo Provincial em Anagni, e

nele era recomendado a Tomás a remissão de seus pecados, deveria este estabelecer-se

em Roma e ali fundar um Studium na cidade Santa Sabina; e neste local, deveria

promover a formação de frades escolhido em diversos conventos da província romana.

Sua casa de origem deveria prover sua manutenção, mas Tomás teria plena autoridade

sobre eles e poderia enviá-los de volta a seus conventos, caso estes não avançassem nos

estudos.

Se o Capítulo de Roma dá a entender o pouco empenho com que os frades se

dedicavam aos estudos, mas priores e subpriores, o de Viterbo é bem mais direto e

enfático: uma vez que observamos serem os estudos negligenciados nesta província,

desejamos e ordenamos estritamente, que, os abades se empenhem ao máximo a esse

respeito. É-lhes recomendado, portanto, obrigar os frades aos estudos, ordenar que

revejam suas lições uma vez por semana, e velar para que o mestre de estudos controle

o que os frades mais jovens aprenderam durante a semana. Quanto aos leitores, não

devem renunciar com excessiva facilidade aos cursos, principalmente, sem a permissão

do prior.

Esta fundação nada tinha de um Studium Generale comparável ao de Paris,

Bolonha, Oxford, Colônia ou Montpellier, os grandes centros de estudo da Ordem na

época. Provavelmente não era sequer um Studium Provinciale, que poderíamos situar a

meio caminho entre uma escola prioral e esses grandes centros. Era na verdade, um

Studium Personale, fundado a título de experiência para que Tomás pudesse aplicar

livremente um programa de estudo a sua escolha.

Existem controvérsias quanto ao início da Suma Teológica, em estudos

mostram a data mais provável o final do ano de 1265; e seu contexto que será recordado

permite melhor compreender o início da Suma e seu propósito. Citadas com freqüência,

as linha seguir muitas vezes são compreendidas apenas em parte: uma vez que o doutor

da verdade católica deve não só ensinar aos mais adiantados, mais instruir também os

iniciantes, nossa intenção é, portanto, expor o que concerne a religião cristã, segundo o

modo que convém à formação dos iniciantes.

Chegou-se a questionar os dons intelectuais desses estudantes a quem eram

oferecidos um manual de qualidade tão excepcional; era possível que Tomás tenha

superestimado suas capacidades intelectuais, mas ele pensava menos na maior ou menor

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dificuldade intrínsecas das matérias ensinadas, que, em sua organização num corpo de

doutrina que lhes oferecesse não uma mera seqüencia de questões justapostas de

qualquer forma, mas uma síntese orgânica que lhes permitisse apreender seus vínculos

internos de coerência. Foi observado que os noviços nesses assuntos acham-se bastante

embaraçados, seja pela multiplicação de questões inúteis, artigos e provas; seja porque

lhes convém aprender não é tratado segundo a exigência da matéria ensinada, Secundum

Ordinem Disciplinae, mas segundo requer a explicação dos livros ou a ocasião das

Disputas; seja, enfim, porque a repetição freqüente das mesmas coisas gera no espírito

dos ouvintes cansaço e confusão. São sem duvida preocupações de um pedagogo, e

pode-se compreendê-las bem melhor se soubermos ler ai uma ressonância da

experiência de Orvieto.

As Datas de redação da Suma Teológica constituem tema debatido entre seus

pesquisadores; este parecem seguros em afirmar que durante sua permanência em

Roma, ate o ano de 1268; e Tomas redigiu a totalidade da Prima Pars, isto é antes do

seu retorno a Paris. A Prima Secundae teve seu término em que foi escrita durante o

verão de 1270; e a Secunda Secundae teve seu início logo depois, durante as férias

escolares, e foi terminada no final de 1271 ou no inicio de 1272. E a Tertia Pars

prosseguiu em Nápoles no inicio de 1272, e foi até dezembro de 1273, período que

Tomás deixou de escrever; alcançara então o Sacramento da Penitencia, no Livro IIIa q.

90 a. 4. A Suma Teológica é ainda hoje a Obra de Tomás mais utilizada, e a mais

conhecida, mesmo por aqueles que a abrem de maneira ocasional.

Como foi observado, para escrever a Suma Teológica, Tomás dividira sua Obra

em três grandes partes; como a segunda e se subdivide em duas outras, essa é a primeira

formação estrutural, é ainda hoje a apresentação habitual da Suma, em quatro volumes.

Como o propósito principal dessa Sacra Doctrina é transmitir o conhecimento de Deus,

trataremos primeiramente de Deus, na Prima Par; em dirigida, do movimento da

criatura de Deus, ou a Secunda Pars; e finalmente de Cristo que, segundo sua

humanidade, é para nós a via que conduz a Deus, que esta escrita na Tertia Pars. Eis o

plano do todo em sua grandiosa simplicidade; no início da Segunda Pars e da Tertia

Pars, Tomás será mais explicito sobre o conteúdo de cada uma das partes, mas ele já é

bastante claro sobre o da Prima Pars.

Ele tratará de Deus em primeiro lugar segundo o que, Ele é em si mesmo,

Secundum Quod In Se Est. Essas duas palavras anunciam as duas subdivisões:

1) o que esta relacionado a essência divina;

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2) o que pertence à distinção entre pessoas.

Mas uma vez que Deus é principio e fim de todas as coisas, deve-se igualmente

falar de maneira pelas quais as criaturas procedem de Deus; com isso, encontra-se

anunciado o fim da Prima Pars. No prólogo da Secunda Pars, chega a chamar a atenção

o modo como ele reduz toda enorme e complexa massa de considerações tão fina e

detalhadas a duas categorias essenciais: quando se tratar de falar do retorno do homem a

Deus, e seu fim último, ele vai primeiramente considerar esse fim em si mesmo, e

depois, os Meios pelos quais o homem o alcança ou, pelo contrário, dele se afasta.

Essa categoria de Meios é extremamente vasta, estendendo-se por dois volumes

da Obra. Num primeiro momento, Prima Secundae, Tomás estuda inicialmente de

forma detalhada os atos humanos, como formalmente humanos, isto é, voluntários e

livres, portanto, suscetíveis de ser bons ou maus, e as paixões da alma. São tratados em

seguida os princípios interiores que qualificam as potências do homem, ou seja, os

Habitus, bons ou maus, que são virtude ou vicio em sua generalidade; vêm enfim os

princípios exteriores, que influem sobre o modo de agir humano, ou seja, a lei e a graça.

Num segundo momento, Secunda Secundae, Tomás retorna de maneira mais

detalhada seus primeiros dados, e constitui a análise das virtudes teologais, como a fé, a

esperança e caridade (qq 1 – 46), e, das virtudes cardeais como a prudência, justiça,

força e a temperança (qq. 47 – 170), apresentado para cada uma delas atos próprios e

pecado contrários. O exame conclui-se com o estudo dos carismas e dos estados de

vida, pequeno tratado da diversidade eclesial a encerrar-se pela vida contemplativa (qq.

171 – 289); o que nos levas a reencontrar, por meio de uma inclusão ministerial, a

definição de felicidade posta como ponto de partida de toda essa Secundae Pars.

O prólogo da Tertia Pars é de novo um pouco mais explícito: Nosso salvador, o

Senhor Jesus, mostro-se a nós como o caminha da verdade, pelo qual nos é possível,

doravante, alcançar a ressurreição e a felicidade da vida imortal. Do mesmo modo, para

conduzir a seu termo nosso empreendimento tecnológico, é necessário, após haver

estudado o fim ultimo da vida humana, depois as virtudes e os vícios, continuar nosso

estudo pelo de nosso Salvador, considerado em si mesmo, depois pelo dos benéficos

com que ele agraciou o gênero humano. Seções e subseções se apresentam como

evidência, sendo a primeira seção é dedicada a Jesus Cristo, o Salvador que nos traz a

salvação (qq. 1 – 59), prestando-se a dois grandes desenvolvimentos:

1) o mistério da encarnação em si mesmo (qq. 1 – 26);

2) o que o Verbo fez e sofreu por nós na carne (qq. 27 – 59).

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A segunda seção da Tertia Pars é constituída pelo estudo dos Sacramentos por

meio dos quais atingimos a salvação: primeiramente, em geral (qq. 60 – 65); depois

batismo, eucaristia, penitência (qq. 60 – 69), esta parte ficou inacabada. A terceira seção

deveria consistir em um exame detalhado do fim a qual somos chamados, a vida imortal

em que ingressamos ao ressuscitar por Cristo; Tomás não pôde redigir essa parte.

Ainda em relação esse período romano, desses três anos passados pelo irmão

Tomás de Aquino, que fora ali enviado em nome da obediência, em remissão de seus

pecados, não só cuidou do ensino dos irmãos que lhe foram confiados, mas mostrou

com que seriedade assumiu tarefa de pedagogo, e com que profundidade situou a

reestruturação requerida. As questões disputadas De Potentia situam-se nessa época,

podemos pensar que este fora feito num ritmo mais distendido, que permitiria inserir

durante os três primeiros anos dessa permanência em Roma, as duas outras séries de

questões disputadas: a questão De Anima com vinte um artigos e a questão De

Spiritualibus Creaturis com onze artigos, juntamente com os estudos da utilização de

traduções de diversas obras de Aristóteles; assim como, diversos artigos opúsculos.

Pode-se ainda discernir um plano na seqüência do De Potentia, no qual podemos

distinguir as seis primeiras questões das quatro últimas, e agrupam-se em torno do tema

De Potentia:

1) da potência de Deus em geral;

2) da potência generativa em Deus;

3) da potência criadora;

4) da criação da matéria;

5) da conservação das coisas criadas no ser;

6) do milagre.

Nas quatro ultimas questões pertencem, pelo contrário, a teologia trinitária:

7) da simplicidade da essência divina;

8) da relação em Deus;

9) das pessoas divinas;

10) da processão das pessoas divinas.

Esse mero enunciado sugere claramente que se produz para o De Potentia algo

análogo ao que constatamos em relação ao De Veritate: o título da primeira questão

serviu para designar toda a série, sem que aplique exatamente a todos e a cada um de

seus elementos.

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A comparação entre o De Veritate e o De Potentia se impõe por várias razões;

não apenas se trata em ambos os casos de uma série de questões disputadas, como

também desses grandes textos do mestre cuja profundidade metafísica os discípulos se

comprazem em ressaltar, e consideram um elo da mais alta importância na evolução de

seu pensamento.

Foi observado na remissão de Tomás o seu próprio comentário do De Anima, e

podemos considerar essa posterioridade fato atestado. Mas há aqui um elemento novo: o

De versus não foi difundido na Itália na mesma época que os três livros do De Anima;

só é conhecido um exemplar universitário parisiense. Este fato conclui-se que, mesmo

tendo sido esse comentário iniciado em Roma antes de setembro de 1268, só deve ter

sido concluído em 1269, antes de 1270, data do De Unitate Intellectus.

Deve-se abordar o trabalho de Tomás como comentador de Aristóteles, mas é

preciso aqui mencionar ao menos algumas palavras sobre o que significa o novo papel

por ele assumido a partir desta data; e, pode-se também trazer um retoque essencial a

seu retrato intelectual e espiritual. Foi encontrado ai a curiosidade e a disponibilidade

intelectuais, das quais, ele já tinha dado mostras em relação à herança grega no

cristianismo. Afinal, já se conhecia o De Anima na Translatio Vetus, e isto não seria

empecilho de continuar a servir-se desse texto, que por tanto tempo fora considerado um

ponto de referência. Pelo contrário, questionam-se seus conhecimentos, fazendo

justamente pelo Primeiro Livro, mediante consulta sistemática da paráfrase de

Temistius, e da maneira mais radical possível. Pode-se dizer ainda como comentador de

Aristóteles, que este iria se tornar parte não desprezível de sua atividade, e com a

preocupação de melhor realizar sua função principal a serviço da verdade. Se nos

lembrarmos que Tomás também pregou, devemos reconhecer seus dons extraordinários

não foram desperdiçados, talvez possamos compreender melhor o estado de

esgotamento em que se encontraria a menos de dez anos depois.

A situação mudará em seu retorno a Paris, as obras desse novo período revelam

uma agitação que contrasta com o tom pacífico dos períodos precedentes. Tomás de

Aquino retomou suas atividades de ensino na Universidade de Paris em 1269, e

inaugurou sua primeira Disputa Quodlibetal na proximidade da Páscoa deste mesmo

ano escolar, como alguns historiadores confirmam em seus estudos. Pode-se conjecturar

acerca das razões que podem ter motivado a convocação de Tomás a Paris, que poriam

ser: a Crise Averroístas era a principal razão; ou seria que se tratava de uma

recrudescência da agitação dos seculares contra os mendicantes; ou num caso mais

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genérico, combater os espíritos conservadores da faculdade de teologia, que só viam em

Aristóteles um perigo para a fé cristã; em sentido inverso, opor-se ao Monopsiquismo

Averroístas; enfim, fazer a apologia das Ordens Mendicantes contra os Seculares, que

queriam excluí-los do ensino universitários.

Tomás deve se engolfar é a da defesa da vida religiosa mendicante, deve ser

lembrado que era a época do De Perfectione Spiritualis Vitae, início de 1270, e do

Contra Retrahentes, entre a Quaresma e o verão de 1271. Pode se acrescentar que

Tomás utilizava todos os meios à sua disposição, uma vez que, esses escritos vinham

acompanhados de tomadas de posições, primeiramente orais, e depois escritas, das

disputas Quodlibetais (Quodlibet II a 5 ), entre o Natal de 1269 e o de 1271; e , dos

sermões universitários, especialmente o Osanna Filio David, em dezembro de 1270, e

sobretudo o Exiit Qui Seminat, fevereiro de 1271, que contém argumentos retomados no

Contra Retrahentes.

Nessa primeira batalha, Tomás e os dominicanos de modo geral, assim como os

franciscanos, combatem contra os seculares, inimigo comum que entre eles não faz

distinção. Um testemunho, entre muitos outros, é fornecido pelas refutações de Nicolas

de Lisieux, que responde simultaneamente a uma Quaestio de John Peckham, sobre a

situação evangélica da pobreza, e ao Contra Retrahentes de Tomás. Mesmo dotado de

alguns títulos próprios, esses dois escritos sucedem-se nos manuscritos, e as vezes

designados pelo título abreviado comum de Contra Peckham et Thomam. O franciscano

inglês John Peckham, que inicia seu ensino em Paris pouco após o retorno de Tomás, e

se torna mais tarde arcebispo de Cantuária, é também um de seus mais ferozes

adversários, talvez o típico representante da tendência conservadora agostinista diante

das novas idéias aristotélicas. A história conservou testemunhos inequívocos dessa

oposição de Peckham a Tomás; acusatório, se provem dos dominicanos; defensório, sé é

o próprio Peckham quem fala.

Podemos considerar o caso do De Aeternitate Mundi como emblemático dessa

situação; esse dossiê é atualmente um dos mais trabalhados pelos especialistas, tanto no

que concerne à situação histórica do opúsculo como a seu conteúdo, pois, na falta de

argumentos externos decisivos, é aos elementos da critica interna que é preciso recorrer.

A questão da eternidade do mundo estava na ordem do dia, desde que, a introdução da

filosofia Aristóteles a pusera em primeiro plano. Sabe-se que a maior parte dos teólogos

da época, entre os quais, Boaventura e Peckham, declaravam ser isso impensável, e que

seria fácil provar haver o mundo começado por meio de razões muito eficazes. Para

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Tomás, pelo contrário, só a fé pode nos fazer sustentar que o mundo começou, não

sendo possível fazer sua demonstração: mundum non semper fuisse sola fide tenetur, et

demonstrative probari non potest: sicut et supra de mysterio Trinitatis dictum est. O

que não o impedia de defender a dependência fundamental, e permanente, do mundo em

relação a Deus. Foi essa tese, que Tomás sustentava já nas sentenças, que jamais

abandonou e que, é retomada com força e sob nova luz do De Aeternitate Mundi; este

opúsculo foi redigido em 1270.

Através de artigos, Tomás discute a noética de Averróis, não sendo permitido

suspeitar que esteja pensando em autores contemporâneos; e muito mais por ocasião de

seu retorno a Paris e de sua leitura das reportationes dos mestres da faculdade de artes,

e não somente de Singer de Brabante, este personagem que começa a publicar a partir

de 1265, sendo esse responsável pela maior parte das proposições condensada pelo

bispo de Paris em 1270 e 1277; e Tomás avalia extensão do perigo, e redige seu De

Unitate Intellectus Contra Averroístas, considerado, com toda razão, o pivô da

controvérsia.

Na frente oposta à dos conservadores, Tomás devia igualmente combater o que

outrora se convencionara chamar de Averroísmo. Em sua condenação dos erros dessa

tendência heterodoxa, em 10 de dezembro de 1270, o bispo de Paris, Estevão Tempier,

reuniu-a em treze proposições que podemos resumir em quatro pontos principais:

1) Eternidade do mundo;

2) Negação da providência universal de Deus;

3) Unicidade da alma intelectiva para todos os homens, ou monopsiquismo;

4) Determinismo.

Tomás sempre chamou a atenção quanto à humildade, mas nessas controvérsias

mostra-se como de fato é, um lutador que não hesita em se bater quando necessário, e,

portanto, a responder a qualquer desafio; sendo leal e rigoroso, sem dúvida, mas

também impaciente na polêmica ante os adversários que não compreendem o peso de

uma argumentação, indignado diante de seus questionamentos que minam a fé, e

mesmo irônico quando a eles se dirige parafraseando Jó 12,2, como se fossem os únicos

seres razoáveis, com os quais teria surgido a sabedoria.

Mais que esses movimentos de humor, que na o mostram na sua melhor, mas

traduzem a seu modo o ardor da controvérsia, e sem duvida também, as preocupações

do crente diante desse questionamento deveram reter sua vontade de não comprometer a

fé, sob o pretexto de defendê-la, por uma argumentação ineficaz. Isso, tal como ocorre

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por vezes no círculo dos teólogos, em que a fé é ocultamente convocada a conferir à

argumentação uma força que ela, por si, nem sempre possui. Assim, Tomás pensava na

imagem que a teologia dava de si mesma aos temíveis dialéticos da faculdade de artes e,

sob o risco de tornar a tarefa momentaneamente mais difícil, recusa-se a depreciar as

exigências da razão.

Com isso, ele não só da provas de lealdade intelectual, como força o respeito de

adversários mais inflexíveis, que não obstante, aceitarão dialogar com ele. Tomás pensa

na transcendência de Deus, que seus insuficientes apologetas ridicularizaram; não é

simplesmente a atitude do pensador e professor, mas também, a do pregador,

preocupado com a fé do povo fiel. No sermão Attendite a Falsis Prophetis, guardai-vos

dos falsos profetas, que, no entanto, denuncia Illi Qui Dicunt Quod Mundus Est

Aeternus, adverte os que suscitam objeções às quais não sabem responder, pois desse

modo, conferem razão ao adversário.

Tomás deixou Paris na primavera de 1272, após uma estada de quase quatro

anos. Desde a Quaresma, a universidade vivia novamente um período de agitação; um

conflito pouco claro para os historiados contrapunha os Mestres ao bispo de Paris, e fora

decidida uma greve que deveria durar da Quaresma até o dia de São João, ou seja, o

final do ano escolar. Tomás iria poder sustentar ainda sua disputa Quodlibetal da

Quaresma de 1272, sinal de que para ele a atividade universitária ainda não fora

totalmente suspensa, ou pelo menos, de que a greve não afetava a faculdade de teologia.

Contudo, pouco após o domingo de Pentecoste, 12 de junho de 1272, o capítulo da

província de Roma, reunido em Florença, confiava-lhe a tarefa de organizar um Studium

Generale de Teologia, deixando a seu encargo a livre escolha do lugar, das pessoas e do

número de estudante.

Quanto s matéria ensinada durante esses últimos meses de vida de Tomás,

estudiosos do assunto orientam para um curso sobre as epístolas de São Paulo, e mais

precisamente a Epístola aos Romanos. Aonde Tomás teria ensinado São Paulo em duas

ocasiões: uma primeira vez em Orvieto em Roma no período de 1259 a 1268; e uma

segunda vez em Nápoles, de outubro de 1272 a dezembro de 1273; o motivo dessa

retomada teria sido a insatisfação com o primeiro curso, mais essa nova empreitada teria

sido interrompida por sua morte. Dessa segunda série teria chegado até a expositio

redigida pelo próprio Tomás sobre a Epístola aos Romanos e a primeira parte da

Primeira Epístola aos Coríntios. Quanto à doutrina da Epístola aos Romanos, esta

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testemunharia uma evolução doutrinal mais avançada que a restante das epístolas,

comentando sobre o pecado da ebriedade, a salvação dos infiéis ou os dons do Espírito

Santo.

A distração fez-se lendária; perdido em seus pensamentos, continuava a reflexão

onde quer que ele esteja como no refeitório, onde era possível retirar seus pratos sem

que ele o percebesse; quando se encontra absorvido desse modo, pode até mesmo

segurar uma vela sem notar a chama que o queimava. Em seus últimos meses de vida

acentua-se essa abstração mental; e no parlatório, ao qual fora conduzido para saldar

visitantes ilustres, nem sequer se dá conta da presença deles, sendo preciso puxar a sua

roupa com força para que volte a si.

O mesmo ocorre durante a prece, durante a missa do domingo da paixão de

1273, com a presença de muitos participantes, seu êxtase prolonga-se por tanto tempo

que foi preciso intervir para que se pudesse terminar a celebração, enquanto à noite, nas

Completas, seu rosto estava banhado em lágrimas o canto do Media Vita; este canto é

uma resposta cantada como refrão no Nunc Dimittis nas Completas, na liturgia

dominicana da Quaresma; as lágrimas de Tomás escorriam no momento do versículo:

Ne Proicias Nos In Tempore Senectutis, que quer dizer, Não Nos Rejeite Nos Momentos

Da Velhice.

Passa alguns meses e encontra-se acamado, e é enviado para repousar junto a sua

irmã, a condessa Teodora, no Castelo de São Severino, a sudeste de Nápoles. Já em fins

de janeiro ou no inicio de fevereiro, devem novamente se por à caminho para o concílio

que Gregório X convocou para o 1º de maio de 1274, em Lião, tendo em vista um

entendimento com os gregos.

Contam os historiadores, que Tomás um pouco depois de Teano, absorto em

seus pensamentos, não percebeu uma árvore tombada no meio do caminho, e bate com a

cabeça num galho. Encontra-se estonteado pelo forte impacto, e seus acompanhantes

correm para acudi-lo, após rápida recuperação dá-se início a marcha. O abade de Monte

Cassino convida Tomás de Aquino a fazer um pequeno desvio passando pela abadia,

para esclarecer seus religiosos sobre o sentido de uma passagem de São Gregório; a

subida é longa e cansativa, são nove quilômetros de subida; Tomás declina a oferta de

passar pelo mosteiro, ele alega cansaço, e alegando que uma resposta escrita teria

também a vantagem de ser útil a leitores futuros.

Após alguns dias de viagens, na segunda quinzena de fevereiro de 1274, já era

época da quaresma, eles chegam ao castelo de Maenza, onde habitava Francesca, a já

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referida sobrinha de Tomás. Ali ele adoece e perde totalmente o apetite, depois de

alguns dias, sentiu-se um pouco melhor, e tentou retomar a viagem para Roma, ele teve

de se deter na abadia de Fossanova a fim de recuperar as forças; se o Senhor tiver que

me visitar, é melhor que me encontre em uma casa de religiosos, e não em uma casa de

seculares. Tomás sobreviveu por algum tempo, confuso e grato pelo trabalho que os

monges tinham por ele, carregando nas costas a lenha para aquecê-lo.

Após ter confessado, Tomás recebeu o viático em 4 ou 5 de março, pronunciou

uma profissão de fé eucarística; disse diante do convento reunido muitas melas palavras

a respeito do Corpo de Cristo, e dentre elas disse as seguintes: Muito escrevi e ensinei a

respeito desse Corpo Santíssimo e da Santa Igreja Romana, cuja correção tudo exponho

e submeto.

Foi inserido o texto Adoro Te, e essa merece ser reproduzida, pois restabelece

algo do juízo que o moribundo faz de sua própria morte:

Recebo-te preço da redenção de minha alma, recebo-te, viático de

minha peregrinação, por cujo amor: estudei, realizei vigílias, sofri;

preguei-te, ensinei; jamais disse algo contra ti, e se o fiz foi por

ignorâncias e não insisto no meu erro; se ensinei mal a respeito desse

sacramento ou de outros, submeto-o ao julgamento da Santa Igreja

Romana, em obediência à qual deixo essa vida.

Tomás simplesmente atingia o outro lado, e recebeu a extrema-unção no dia

seguinte, respondendo ele próprio as palavras rituais. Morreu três dias depois, após ter

recebido o Corpo do Senhor, nas primeiras horas do dia 7 de março de 1274, numa

quarta feira, no Mosteiro de Fossanova, entre Nápoles e Roma, na Itália.

Existem duas grandes questões sobre a morte de Tomás de Aquino para os

historiadores: a primeira concerne na doença final; parece pouco provável que haja um

vínculo direto com a experiência de 6 de dezembro de 1273; ocorreu na segunda

quinzena de fevereiro de 1274, que foi o desastroso choque com o galho no caminho

pode ter desencadeado um sério derrame cerebral, diagnosticado nos dias de hoje por

médicos a partir de sintomas que podemos entrever nos textos: dificuldade em falar e se

mover, ansiedade diante de outros possíveis ataques e profunda perturbação psíquica. A

segunda questão aconteceu exatamente em torno de 6 de dezembro de 1273, e seria o

desligamento total em relação a sua obra, que veio acompanhado de um desgosto pela

vida, cujo sinal mais claro, é a anorexia mencionada em diversas ocasiões; outra

possibilidade seria um esgotamento físico e psíquico em conseqüência das atividades

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demasiado intensa que Tomás se impunha havia muito tempo; e a fadiga física e

nervosa que associada as experiência mística que marcaram seu ultimo ano, e o anseio

pela pátria, poderia ter exacerbado até o seu desligamento das coisas deste mundo.

Após sua morte, a biografia de Tomás de Aquino continua em dois registros

diferentes, em parte paralelos: o de um culto que se inicia de imediato no próprio lugar

de sua morte tendo seu epílogo a canonização; e, com o de uma oposição que não se

desarma nem ante seus pensamentos de teólogo. Essas lutas, áspera e persistente, são

por vezes conduzidas em nome da fé, provocando a intervenção da autoridade

episcopal. Há ocasiões em que também experimentam opções intelectuais ou religiosas

diferentes, e voltamos a encontrar, com toda acuidade, a rivalidade, já antiga a contrapor

com tanta freqüência a ordem de São Francisco à de São Domingos. Em meio a tudo

isso, assistimos não só ao nascimento de uma escola de pensamento que certamente

deve a sua lendária combatividade a esse começo difícil, mas também ao

encaminhamento de uma causa que encontrará seu epílogo na canonização. Como já foi

dito, desses dois registros esse estudo monográfico está focado na parte dos rituais para

canonização, não sendo comentado e segundo registro das conseqüências desse embate

de idéias e religiosidades, com seus desfechos e sansões envolvidos.

O início do culto Post Mortem aconteceu em Fossanova na Itália, sendo o oficio

do sepultamento foi celebrado pelo mosteiro com toda a solenidade requerida

naturalmente na presença de confrades dominicanos, mas também diante dão cardeal

franciscano Francesco de Terracina, que se encontrava no local em companhia de

alguns frades da sua ordem. Estava presente vário nobres da sua região, assim como, a

senhora Francesca, sobrinha do falecido, que como não pode entrar devido ao claustro,

obteve do abade a permissão para venerar o corpo à porta da igreja.

No entanto, antes mesmo de ser enterrado, Tomás de Aquino já realizara um

milagre: o subprior do mosteiro, João de Ferentino, fora curado de uma afecção na vista,

da qual sofria há vários meses. Foi esse o primeiro sinal de veneração que lhe era

prestado, pois o doente se deitara sobre o corpo do defunto, aplicando seus olhos aos do

e Tomás, e só poderia mesmo crescer ante os milagres que passaram a se realizar, dos

quais, davam testemunhos as peregrinações que então se organizavam. Conscientes do

tesouro que lhes caiu em mãos, os monges de Fossanova ressaltarão, com unanimidade

exemplar, que já antes da sua morte Tomás declara ser a abadia o lugar de seu repouso

eterno. Temendo que os dominicanos quisessem recuperar as relíquias, ou pior, as

levassem, transportaram clandestinamente seus restos mortais, primeiramente

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sepultados perto do altar principal na capela de Santo Estevão, para o interior do

claustro, depois de um pequeno espaço de tempo, os monges foram intimados que o

pusesse de volta no primeiro local.

Sete meses após a sua morte, em outubro de 1274, os monges viram-se na

obrigação de executar essa exigência, nessa ocasião, abriu-se o caixão e pode-se

contatar que o corpo se encontrava em perfeito estado de conservação, constatação

renovada em 1281 e 1288; e extasiados pelo suave odor que dele se desprendia, os

monges conduziram repletos de alegria à grande igreja. Julgando que para esse

translado não convinha celebrar uma missa de Réquiem, os monges cantaram a missa

Os Justi, a dos santos confessores.

Em 02 de maio de 1274 foi enviada carta da faculdade das artes ao capítulo geral

de Lião para reivindicar certos escritos de Tomás de Aquino. Em 07 de março de 1277

ocorre à condenação por Estevão Tempier, bispo de Paris, de 219 proposições

heterodoxas; é aberto processo contra a doutrina de Tomás de Aquino. Em 18 de março

de 1277 sofre condenação em Oxford, por Roberto Kilwardby. Arcebispo dominicano

da Cantuária, de proposições de inspiração tomista. Em 29 de outubro de 1284, João

Peckham, arcebispo franciscano da Cantuária, confirma as condenações de seu

predecessor.

O processo de canonização foi feito papa João XXII, Thiago Duèse, eleito papa

em 7 de agosto de 1316, que queria mostrar sua gratidão a ordem dominicana, que

abrigara o conclave de Lião durante dois anos, canonizando um dos seus membros. O

novo papa demonstrou simpatia para casa Anjou; e ele era um grande admirador de

Tomás e comprado toda uma série de suas obras, em 1317; assim, foi encontrada na

Biblioteca Vaticana uma série de belíssimos volumes recopiados para ele entre 1316 e

1324, e as anotações de sua mão atestam o uso que fez deles. Do lado dominicano, a

iniciativa parte da província de Sicília, encarrega Guilherme de Tocco, então prior do

convento de Benevento, e Roberto de Benevento, seu socius, de promover a

canonização. Diversos indícios permitem pensar que Tocco se empenhara em recolher

documentos e lembranças junto a família. Tocco era conhecido por suas qualidades de

pesquisador, e sabe-se que ele foi a Fossanova, onde, antes da abertura do processo de

Nápoles, passou quatro meses, da oitava de Páscoa a 15 ou 17 julho de 1318,

interrogando as testemunhas do últimos dias de Tomás, e os beneficiários das diversas

curas.

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Tocco foi até Avignon, e acabou sendo recebido pelo próprio papa no mês de

agosto de 1318, e estava de posse de uma primeira lista de milagres operados por

intercessão de Tomás de Aquino, e uma carta dos grandes do reino da Sicília,

requerendo a sua canonização, e de uma primeira redação de seu Ystoria. Após Tocco

ter exposto sua missão ao consistório dos cardeais por solicitação do papa, este

introduziu oficialmente a causa, em 13 de setembro de 1318, encarregando três

delegados de conduzir o primeiro inquérito. Realizado em Nápoles de 21 de julho a 18

de setembro de 1319, este inquérito permitiu ouvir 42 testemunha. Tocco permaneceu

em Nápoles durante a duração desse processo de canonização que ocorreu no verão de

1319, e que teve tempo para encontrar cada testemunha e anotar suas lembranças,

completando assim, o inquérito que realizara em Fossanova.

No final de 1320 ou no início de 1321, Guilherme de Tocco acompanhado por

Roberto Benevento, está novamente em Avignon com outra coleção de milagres

ocorridos em Fossanova; e neste conjunto de milagres resulta de uma investigação

efetuada pelo bispo de Viterbo, em seu retorno a Nápoles. Como não está acompanhada

do arcebispo de Nápoles, seu co-assessor, a forma canônica não foi estritamente

observada. O papa João XXII ordena uma segunda investigação oficial, em 1º de junho

de 1321, e nomeia para conduzi-la, três novos delegados: Pedro Ferri, bispo de Anagni;

Andre, bispo de Terracina; e Pandolfo Savelli, o noticiário pontifício. Este segundo

processo de canonização se desenvolveu em Fossanova, e ocorreu de 10 a 30 de

novembro de 1321; e pôde ouvir 112 pessoas, mas este era dedicado aos Miracula Post

Mortem, e não acrescentou nenhum novo detalhe a biografia de Tomás de Aquino.

A medida requerida por um crescente número de teólogos foi adotada em 14 de

fevereiro de 1325 pelo bispo de Paris, Estevão Bourret; que anulou a condenação de seu

predecessor, à que atingia Tomás de Aquino. No primeiro plano das considerações por

ele apresentadas, figura evidentemente o fato de que, pela canonização, a Igreja

Romana, Mater et Magistra de todos os fiéis, propôs que frei Tomás de Aquino fosse

um exemplo do mundo inteiro, tanto pela pureza de uma vida como por sua doutrina.

Mas é de notar que o bispo examinou novamente os artigos implicados, e foi após ter

ouvido o parecer de seus especialistas que adotou tal medida, acrescentando, porém, que

tal, não constitui aprovação nem censura, mas que os devolve simplesmente à discussão

nas escolas.

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Ainda em 14 de fevereiro de 1325 é revogado, pelo bispo de Paris, Estevão

Bourret, da condenação de março de 1277, que anulou a condenação de seu predecessor,

à medida que atingia frei Tomás de Aquino.

Foi identificado ainda, que no ano de 1369, foi enviada a Toulouse, onde a

universidade as reivindicava por desejo do papa Urbano V, ali permanecendo na Igreja

dos Pregadores, até a Revolução Francesa. Transferida provisoriamente para a basílica

de Saint-Sernin, em junho de 1791, e nela, permanecendo até 7 de março de 1974; data

do seu retorno à Igreja dos Jacobinos, uma vez restaurada, onde se pode a partir de

então venerá-las.

IGREJA DOS JACOBINOS E AS RELÍQUIAS TOMÁS DE AQUINO

FIGURA 3

Quando à denominação de Doctor Angelicus, só lhe foi atribuída na segunda

metade do século XV, e foram precisos cem anos para que o papa Pio V, da ordem

dominicana, o proclama-se doutor da Igreja e, 15 de abril de 1567. Logo depois da sua

morte, Tomás teve vários títulos para os qualitativos atestados, como o de Doctor

Eximius, desde 1282 / 1283 em Knapwell; ou o de Venerabilis Doctor nas Atas dos

Capítulos Gerais, desde 1278. Cada um poderia escolher o que mais lhe agrada-se

dentre esses títulos; ao de frei Tomás provavelmente corresponderia a preferência do

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interessado, como se diz do fundador de sua ordem, frei Domingos; mas objetivamente,

o Doctor Ecclesiae parece ser o mais significativo.

2.1 CRONOLOGIA SUMÁRIA DE TOMÁS SE AQUINO

Em 1224 / 1225, nasceu Tomás de Aquino em Roccasecca na região de Nápoles,

na Itália; numa das mais ilustres e antigas famílias de reino de Nápoles. Recebeu sua

primeira educação no mosteiro dos Beneditinos de Montecassino, passando logo depois

sua adolescência em Nápoles, onde cursa a universidade.

Em l244 / 1245 contra a vontade da família, veste o hábito dos Dominicanos,

renunciando a todos os seus bens e títulos. Neste mesmo ano, vai com seu mestre

Alberto Magno, da mesma Ordem, para Paris onde eles moram no convento Saint

Jacques. Depois vão para Colônia, onde havia sido fundado um Studium Generale, e

Alberto fica como Regente e Tomás como leitor. A permanência de quatro anos aí lhe

permite escrever suas primeiras obras: De Ente Et Essentia e De Princípios Naturae.

Em 1251, encontra-se novamente em Paris, onde explica as “Sentenças”,

fundamentais na época, e cujas lições redigidas, constituem os Comentários às

Sentenças de Pedro Lombardo. Seis anos depois recebe o título de Mestre.

Em 1259 leciona em Anagni; em 1261 Orvieto; em 1265 Roma; e 1267 Viterbo.

Em 1265 começa a redação da sua grande obra Summa Theologica.

Em 1269 regressa a Paris para assumir as funções de Regente. Escreve então,

entre outras obras: De Virtutibus; Comentários ao Evangelho de São João;

Comentários de Epistola de São Paulo; De Unitate Intellectus; De Aeternitate Mundi;

Quaestiones Disputatae; e Quaestiones Quodlibetales.

Em 1273 leciona Teologia em Nápoles a pedido do rei das Duas-Sicilias.

Continua a redação da sua Obra Suma Teológica começada em 1265 e cuja

terceira parte ficou inacabada, e publica: Parva Naturalia; De Memória et

Reminiscentia.

Em 1274 viajando para tornar parte no Concílio de Lião por ordem de Gregório

X, faleceu em 07 de março de 1274 no Mosteiro de Fossanova, entre Nápoles e Roma.

Em 02 de maio de 1274 foi enviada carta da faculdade das artes ao capítulo geral

de Lião para reivindicar certos escritos de Tomás de Aquino.

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Em 07 de março de 1277 ocorre à condenação por Estevão Tempier, bispo de

Paris, de 219 proposições heterodoxas; é aberto processo contra a doutrina de Tomás de

Aquino.

Em 18 de março de 1277 sofre condenação em Oxford, por Roberto Kilwardby.

Arcebispo dominicano da Cantuária, de proposições de inspiração tomista.

Em 29 de outubro de 1284, João Peckham, arcebispo franciscano da Cantuária,

confirma as condenações de seu predecessor.

No verão de 1319 foi iniciado o primeiro processo de canonização de Tomás

Aquino em Nápoles.

Em novembro de 1321 acontece o segundo processo de canonização de Tomás

Aquino em Fossanova.

Em 18 de julho de 1323 ocorre a canonização em Avignon por João XXII.

Em 14 de fevereiro de 1325 é revogado, pelo bispo de Paris, Estevão Bourret, da

condenação de março de 1277, no qual, ela atingia Tomás.

Em 15 de abril de 1567 Tomás de Aquino é proclamado “Doctor Ecclesiae” pelo

papa São Pio V.

APOTEOSIS DE TOMÁS DE AQUINO DE 1631, FEITO PELO ARTISTA PLASTICO DE FRANCISCO DE ZURBARÁN

FIGURA 4

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3 - OS COMENTADORES DE TOMÁS DE AQUINO

Na história dos comentadores, foram distinguidos três períodos: no primeiro

período, foram encontroados defensores contra os vários adversários da doutrina

tomista; no segundo período aparecem comentários propriamente ditos, eles comentam

a Suma Teologia, os comentários seguem artigo por artigo, conforme o método que

podemos chamar clássico, normalmente utilizado antes do Concílio de Trento; e no

terceiro período, após o Concílio, para fazer em face de um novo tipo de oposição, os

comentadores normalmente não mais seguiam a letra da Suma, comentando artigo por

artigo, mas escreviam discussões sobre os problemas debatidos em seu próprio tempo.

Cada um dos métodos tinha sua própria razão de ser. A síntese tomista, pois, tem

sido estudada desde diversos pontos de vista, ao contrário de outros sistemas teológicos.

Vejamos como isso se deu em cada um desses períodos:

Os primeiros tomista surgiram no final do século XIII, começo do XIV. Eles

defendiam Tomás de Aquino contra certos Agostinianos da velha escola, contra os

nominalistas e contra os escotistas. Devemos destacar os trabalhos de Herve de

Nedellec contra Henrique de Gand; os de Tomás Sutton contra Escoto; os de Durand de

Aurillac contra Durand de São Ponciano e contra os primeiros nominalistas.

Em seguida, ainda no mesmo período, vieram trabalhos de maior envergadura.

Encontramos aqui João Capreolo, cujas Defensiones valeram-lhe o título de Princeps

Thomistarum. Capreolo segue a ordem das Sentenças de Lombardo, mas sempre

compara os comentários de Tomás a esta obra com os textos da Suma Teologia e das

questões disputadas. Ele escreve contra os Nominalistas e Escotistas; trabalhos

similares foram escritos na Hungria, por Pedro Niger e na Espanha, por Diego de Deza,

o protetor de Cristóvão Colombo. Quando a Summa foi adotada como livro texto,

comentários explícitos sobre a Suma Theologiae começaram a surgir. O primeiro foi o

de Caetano (Thomas de Vio); seu comentário é considerado a interpretação clássica da

obra de S. Tomás; depois vieram Conrado Kollin, Silvestre de Ferrara e Francisco de

Vitória. O trabalho de Vitória permaneceu muito tempo em manuscrito, e só foi

publicado recentemente; um segundo trabalho de Vitória, Relectiones Theologiae, da

mesma maneira, só foi publicado recentemente.

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Numerosos tomista participaram dos trabalhos preparatórios para o Concílio de

Trento; dentre estes, notadamente, Bartolomeu de Carranza, Domingos Soto, Melquior

Cano e Pedro de Soto. O próprio Concílio, nos seus decretos sobre o modo de preparar-

se para a justificação, reproduz a substância de um artigo de S. Tomás. Ademais, no

capítulo seguinte sobre as causas da justificação, o Concílio reproduz novamente o

ensinamento de Tomás de Aquino. Quando em 15 de Abril de 1567, quatro anos após o

encerramento do Concílio, Tomás de Aquino foi declarado doutor da Igreja, pelo papa

Pio V, recomendando a doutrina de Tomás de Aquino como a demolição de todas as

heresias desde o século XIII, rematou com estas palavras, como claramente se viu

recentemente, nos sagrados decretos do Concílio de Trento.

Depois do Concílio, os comentadores, como de regra, escreveram Disputationes;

excepcionalmente, Domingos Banez, ainda comenta a Suma artigo por artigo. Os

principais nomes desse período são Bartolomeu de Medina e Domingos Banez.

Devemos mencionar também Tomás de Lemos (1629), Diego Alvares (1635), João de

Santo Tomás (1644) e Pedro de Godói (1677); todos esses espanhóis. Na Itália

encontramos Vicente Gotti (1742), Daniel Confina (1756), Vicente Patuzzi (1672) e

Salvatore Roselli (1785). Em França, Jean Nicolai (1663), Vicente Contenson (1674),

Vicente Baron (1674), Jean Baptiste Gonet (1681), A. Goudin (1695), Antonin

Massoulie (1706) e Jacinte Serry (1738). Na Bélgica, Charles René Billuart (1751).

Dentre os carmelitas, mencionemos: os Complutenses, Cursus Philosophicus, e os

Salmaticences, Cursus Theologicus.

Vejamos agora o método e a importância dos maiores dentre esses

comentadores. Capreolo correlaciona, como visto acima, a Suma e as questões

disputadas com as Sentenças de Lombardo. Ao responder a Nominalistas e Escotistas,

pôs em relevo a continuidade do pensamento de Tomás de Aquino.

Silvestre de Ferrara mostra que o conteúdo da Suma contra os Gentios está em

harmonia com a grande simplicidade da Suma Teológica. Seu valor está especialmente

em algumas grandes questões: o desejo natural de ver Deus; a infalibilidade dos

decretos da providência; a imutabilidade do bem e do mal na alma após a morte, desde o

primeiro momento da separação entre corpo e alma. O comentário de Silvestre foi

reimpresso na edição leonina da Suma contra os Gentios.

Caetano comenta a Summa Theologiae artigo por artigo, mostra suas

interconexões, enfatiza a força de cada prova, isola o medium probativo. Então,

examinam longamente as objeções de seus adversários, particularmente as de Durand e

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Escoto. Sua virtuosidade como lógico está a serviço da intuição. Em Caetano, o senso

do mistério é notável. Exemplos se verificam mais tarde, quando tratou da pré-

eminência da Divindade. Caetano é igualmente o grande defensor da distinção entre

essência e existência. Seu comentário sobre a Suma Teologia foi reimpresso na edição

leonina.

Domingos Banez é um comentador cuidadoso, profundo, sóbrio, de grande

capacidade lógica e metafísica. Tentativas foram feitas no sentido de considerá-lo

fundador de uma nova escola teológica. Contudo, realmente, sua doutrina não difere da

de Tomás de Aquino. Ele apenas insere termos mais precisos, a fim de eliminar falsas

interpretações, suas fórmulas não exageram a doutrina de Tomás. Mesmo termos tais

como “pré-definição” e “pré-determinação” foram empregadas por Tomás de Aquino ao

explicar os decretos divinos. Um tomista talvez prefira os termos mais sóbrios e simples

que Tomás ordinariamente emprega, mas à condição de bem entendê-las, excluindo as

falsas interpretações que Banez teve de excluir.

João de Santo Tomás escreveu um prestimoso Cursus Philosophicus

Thomisticus. Autores subseqüentes de manuais filosóficos, E. Hugon, O. P.; Gredt, O.

S. B.; X. Maquart; emprestaram dele largamente. De igual modo, J. Maritain encontrou

nele muita inspiração. No trabalho teológico de João, Cursus Theologicus, encontramos

as discussões sobre as grandes questões debatidas na época. Ele compara o ensinamento

de Tomás de Aquino com os de outros, especialmente com os de Suarez, Vasquez e

Molina. João é mais um intuitivo, é antes um contemplativo a um dialético. Sob o risco

de tornar-se prolixo, ele sempre retorna à mesma idéia, para perscrutar suas

profundidades e irradiações.

Talvez soe repetitivo, mas seu apelo contínuo aos mesmos princípios, aos

grandes Leitmotifs, funciona bem para elevar o espírito penetrante aos píncaros da

doutrina. Repetidamente, João insiste nas seguintes doutrinas: analogia do ser, distinção

real entre essência e existência, potência obediente, liberdade divina, eficácia intrínseca

dos decretos divinos e da graça, especificação dos hábitos e dos atos pelo seu objeto

formal, a sobrenaturalidade essencial da virtude infusa, os dons do Espírito Santo e a

contemplação infusa. João deve ser também estudado nestas seguintes questões: a

personalidade de Cristo, a graça da união em Cristo, a graça habitual em Cristo, a

causalidade dos sacramentos, a transubstanciação e o sacrifício da Missa.

Os carmelitas de Salamanca e os Salmaticences assemelham-se a João de S.

Tomás em seus métodos, resumindo, primeiro dão a letra do artigo, depois acrescentam

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as discussões e as dúvidas nas questões controversas. Algumas destas dúvidas, em

relação a questões secundárias, podem parecer supérfluas. Contudo, quem consulta os

Salmaticeses nas questões fundamentais deve reconhecer neles grandes teólogos, em

geral muito leais ao ensinamento de Tomás de Aquino. Pode-se testar esta afirmação ao

seguir esta lista de temas: os atributos divinos; o desejo natural de ver Deus; a potência

obediente; o caráter absolutamente sobrenatural da visão beatífica; a eficácia intrínseca

dos decretos divinos e da graça; o caráter essencialmente sobrenatural das virtudes

infusas; particularmente das virtudes teologais; a personalidade de Cristo; Sua

liberdade; o valor intrinsecamente infinito, de Seus méritos e satisfação; a causalidade

dos sacramentos; e a essência do sacrifício da Missa.

Gonet, que recapitulou o que havia de melhor entre seus predecessores, mas que

também, em muitas questões, fez trabalho original, destaca-se pela grande clareza.

Igualmente, o Cardeal Gotti, que dedicou maior atenção à teologia positiva. Billuart,

mais sucinto que Gonet, deu um substancioso sumário dos grandes comentadores. De

forma geral, ele é fiel a Tomás, citando-o larga e freqüentemente nas próprias palavras

de Tomás de Aquino.

Conquanto, não será citados em detalhe os trabalhos dos tomistas

contemporâneos, faz-se mister mencionar os dois trabalhos de N. del Prado: De

Veritade Fundamentali Philosophiae Christianae e De Gratia et Liberto Arbitrio. Ele

segue de perto Banez. Ademais, há os três trabalhos de A. Gardeil: La Credibilité et l´

apologetique, Le Donné Revelé et la Theologie e la Structure de l´Ame et l´Experience

Mystique. Mesmo inspirado em João de Santo Tomás, seu trabalho permanece sendo

pessoal e original.

Dentre estes que contribuíram ao ressurgimento dos estudos tomistas, antes e

depois de Leão XIII, precisamos mencionar oito nomes: Sanseverino, Kleutgen, S. J.;

Cornoldi, S. J.; Cardeal Zigliara, O. P.; Buonpensiere, O. P.; L. Billot, S. J.; G.

Mattiussi, S. J.; e Cardeal Mercier.

4. METOLOGIA UTILIZADA

Foi utilizada uma pesquisa bibliográfica sobre a vida a e a obra de Tomás de

Aquino, onde ouve uma analise qualitativa quando a busca captar as dimensões

subjetivas da ação humana, sendo também realizada a triangulação na analise

documental, com visitação a Biblioteca Nacional do Brasil, situada no Rio de Janeiro.

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Foi feito um levantamento da bibliografia de Tomás Aquino, sendo que, na maioria das

vezes, colocando-se a data de cada ano de vida dele e seus fatos mais relevantes em sua

vida, sendo dada uma atenção especial aos seguintes fatos:

a) Dados cronológicos dos acontecimentos mais relevantes de sua vida pessoal..

b) Aulas que Tomás de Aquino ministrou na faculdade de teologia;

c) Suas Obras Clássicas como: Suma Contra os Gentiles e Suma Theologica;

d) Trechos ou comentários Bíblicos; trechos de sermões, e de comentários ao

Livro de Jó;e Foram citadas algumas disputas comuns ou públicas;

e) Principais Capítulos Gerais dos dominicanos;

f) Opôs-se ao Monopsiquismo Averroístas; e fez a apologia das Ordens

Mendicantes contra os Seculares;

Apesar de ter morrido com 50 anos incompletos, teve uma vida produtiva muito

intensa, e isso, pode ter abreviado seu tempo de permanência junto às pessoas que tanto

lhe admiravam.

BIBLIOTECA NACIONAL DO BRASIL NO RIO DE JANEIRO

FIGURA 5

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5. CONCLUSÃO

Tomás de Aquino construiu uma vigorosa síntese filosófico-teológica a partir do

pensamento aristotélico, que já vinha acontecendo na Idade Média. Através dos grandes

comentadores árabes e judeus, pode-se dizer que toda a construção doutrinal de Tomas,

resulta da harmoniosa articulação das mais recentes aquisições aristotélicas com a já

existente herança platônica agostiniana. Mas a coerência extraordinária dessa obra, é a

profundidade, ordem e beleza que, entre todas, singularizam a sua síntese doutrinal; e

derivaram certamente da origem ontológica que lhe serve de suporte e instrumento.

Para Tomas, porém, converge diretamente o pensamento helênico, na sistematização

imponente de Aristóteles; pois este pensamento foi enormemente enriquecido por

Tomás, especialmente com comentários pormenorizados, especialmente árabes.

Ele afirmou um profundo conhecimento primordial ao pré-científico de Deus; em

cada um dos seus objetos que o homem conhece, conhece implicitamente a Deus. Deste

modo, a demonstração racional da sua existência é necessariamente uma sinergia, uma

passividade ativa, mais uma dádiva do que um direito e um dever. Nesse sentido, ele

afirmava que Deus é a causa de todas as causas; e que sem a influencia humana é

incapaz de conhecer qualquer verdade por menor que ela seja.. Assim para Tomás, a

criação também era um “falar” de Deus, razão materializada em palavras, e as coisas

criadas eram, porque, eram pensadas e proferidas por Deus, e por isso conhecíveis pela

inteligência humana. As obras de Tomás de Aquino podem dividi e quatro grupos:

1. Comentário a lógica, à física à metafísica à ética de Aristóteles, à

Sagrada escritura, a Dionísio pseudo-areopagita, aos quatro livros da

sentença de Pedro lombardo.

2. Sumas Contra os Gentios, baseada substancialmente em demonstração

racionais: Suas Teológicas, começando em 1265, ficando inacabada

devido a morte prematura do autor.

3. Questões: Questões Disputadas, da verdade da alma. Questões várias.

4. Opúsculo Da Unidade do Intelecto Contra os Averroístas; Da Eternidade

do Mundo.

Além dos trabalhos citados, Tomás escreveu inúmeras questões sobre a verdade,

a alma, o mal, a beatitude e vários opúsculos filosóficos sobre assuntos diversos.

Deixou ainda comentários a respeito de obras de Aristóteles e outros escritores

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filosóficos sociais. Os pesquisadores e seguidores da vida de Tomás de Aquino

encontram-se: historiadores, filósofos, seguidores da Doutrina deste brilhante homem

simples, que tinha suas ações pautadas numa forma de vida dos beneditinos.

Ele possuía uma rica pedagogia, tanto na sua forma de ensinar como uma

esplendorosa forma de passar seus conhecimentos aos seus alunos de teologia, que

acaba sendo também sendo, uma riquíssima fonte de pesquisa para filósofos talentosos.

Em seus ensinamentos, não se pode afastar das conquistas do espírito e da inteligência;

e certamente se fosse vivo estaria envolvido nos processos humanos; pois em seus

pensamentos e reflexões procurava o significado da ciência e da evolução espiritual, e

acabou deixando um legado em seus princípios valiosos, para que os homens do mundo

atual pudessem fazer uma analise com competência, pertinência e sabedoria, dos

problemas que afligiam os homens da sua época.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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TRABALHO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O TEMA

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ALGUMAS ENTREVISTAS, REPORTAGENS E DOCUMENTARIOS SOBRE O TEMA TOMÁS DE AQUINO NO YOUTUBE

«YOU TUBE – ACESSADO EM 15 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=ujdHvC8X2qY&feature=related

«YOU TUBE – ACESSADO EM 15 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=VAcP68pD1B0&feature=related

«YOU TUBE – ACESSADO EM 15 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=HCqVVzrm3Ow

«YOU TUBE –ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=9E0paEH9LKg

«YOU TUBE –ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=QlNb_r77D74&feature=related

«YOU TUBE –ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=c2BHF9-8nAc&feature=related

«YOU TUBE – ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=oeborbNmxqg&feature=PlayList&p=027EF94C5EF34D5E&index=1

«YOU TUBE – ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=FCFGHZTbvws&feature=PlayList&p=027EF94C5EF34D5E&index=2

«YOU TUBE – ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=48uCoqjdo4E&feature=PlayList&p=027EF94C5EF34D5E&index=3

«YOU TUBE –ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=WRyHix4e7MQ&NR=1

«YOU TUBE –ACESSADO EM 22 DE AGOSTO DE 2009» http://www.youtube.com/watch?v=egjri6Cs5zM&feature=related