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N.° 2.082 — Setembro/Outubro de 1959

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EDIÇÕES INSTRUTIVASDIFUNDINDO CONHECIMENTOS

À VENDA NAS LIVRARIAS, AGÊNCIAS DE REVISTAS E JORNALEIROS:

ÁLBUM COROGRÁFICODO BRASIL

(Janeiro — Fevereiro — 1959)

RIQUEZAS DENOSSA TERRA

(Março — Abril — 1959)

HISTÓRIA E ORIGEMDAS COISAS

(Maio — Junho — 1959)

NAÇÕES AMERICANAS(Julho — Agosto — 1959)

TEATRI N HO NAESCOLA

(Setembro — Outubro—1959)

NOÇÕES DE BOTÂNICA

(Novembro—Dezembro—1959)

IMAGENS DO BRASIL(Janeiro — Fevereiro — 1960)

NOÇÕES DE HISTÓRIANATURAL

(Março — Abril — 1960)

Excelente para o estudo da geografia do Brasil, com os mapasdos Estados, Territórios e do Distrito Federal, e dados atualiza-

dos. Grande formato e inteiramente colorido. Mapas de grandenitidez

útil para exato conhecimento do que o Brasil possui e produz.Zonas de produção e dados numéricos. Páginas ilustradas e

coloridas. Uma síntese das possibilidades atuais e futuras denossa terra.

Pequena enciclopédia colorida e ilustrada, narrando a origemdos principais inventos e descobertas, tradições, costumes.

Autêntico compêndio de Lições de Coisas, atraente pela origi-nalidade e grandemente útil.

Harmonioso conjunto focalizando as 21 Repúblicas do Con ti-nente, suas bandeiras, escudos, mapas, síntese histórica, divi-

são politica, datas magnas, moedas, religião. Um álbum como nãohá igual ainda editado.

Comédias, diálogos, dramatizações, monólogos, recitativos es-colares e próprios para festividades de caráter cívico, encerra-

mento de aulas, dias comemorativos, etc. Conjunto devido a auto-res especializados nesse gênero, com ilustrações elucidativas sobretrajes e apresentação dos intérpretes. Todo colorido.

A APARECER:Em linguagem simples e accessível à infância, precioso ca-bedal de conhecimentos acompanhados das devidas ilustrações

coloridas, obedecendo à sistemática do ensino da Botânica nasEscolas Primárias. Trabalho de especialista, satisfazendo as ne-cessidades dos estudantes e dos professores. Um bonito álbum,além disso.

Uma seqüência de quadros que sintetizam as principais fasesda nossa História, no seu desenvolvimento, do descobrimento

até à emancipação política. Precioso cabedal para o estudo daHistória Pátria. Belíssimas ilustrações a bico de pena devidas aconsagrado artista. Magnífico material para o professorado.

Um volume em que se estuda de maneira singela mas comple-ta o reino animal, em suas classes, divisões, espécies, classifi-

cações gerais e particulares, com desenhos coloridos. Síntese per-feita do estudo da História Natural, proporcionando um conjuntonão encontrado nos compêndios, onde há dispersão. Trabalhode especialista.

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O TIC O-T I C OPublicação da S. A. "O MALHO" — Fundado em 1905

DIRETOR: Antônio A. de Souza e SilvaRua Afonso Cavalcanti, 33 — Telefone: 22-0745 — Caixa Postal, 880 — Rio — D. F.ACEITAMOS ENCOMENDAS PELO SERVIÇO DE REEMBOLSO POSTAL

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PREÇO DO EXEMPLARCR$ 25,00

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¦jVTOS seus longos anos de convívio o contato com a infância ecom aqueles a quem cabe a tarefa ingente, mas apaixonante, de

orientá-la e instruí-la — os pais e os mestres -— tem "O TICO-TICO"divulgado abundantemente em suas páginas selecionado material dotipo hoje reunido nesta edição.

Tem contado, para tanto, com a colaboração valiosíssima de desta-cadas figuras das letras nacionais, podendo, dessarte, contribuir perma-nentemente para estimular os pendores artísticos de seus leitores, facili-tando aos mestres os elementos necessários às festas escolares, comemo-rações cívico-patrióticas etc.

Aproveitando o ensejo do lançamento desta série de edições espe-ciais, já bafejada pelo êxito, reúne aqui "O TICO-TICO" algumas dosmais sugestivas e interessantes páginas do gênero, próprias para seremlevadas à cena com personagens infantis, e que alcançaram verdadeirosucesso quando de sua apresentação, em diversas épocas, nas edições pe-riódicas.

Figuram nesta coletânea trabalhos dos nossos apreciados colabo-radores Bastos Tigre, Eustórgio Wanderley — este assinando a grandemaioria do conjunto apresentado porque sempre esteve presente duranteanos em nossas páginas — Leôncio Correia, Mary Buarque, C. A. Wan-derley, Antônio Peixoto e Maurício Maia, que outro não é senão omesmo Eustórgio Wanderley sob um dos seus não menos aplaudidos

pseudônimos.Conta "O TICO-TICO" estar contribuindo, mais uma vez, para

estimular o interesse da nossa infância pelas belezas da arte cênica, de-

pendendo da acolhida que obtiver este "TEATRINHO NA ESCOLA", olançamento eventual, posterior, de outras edições do mesmo gênero.

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COMÉDIA EM 1 ATO

(A cena representa a sala de espera de umColégio. Móveis habituais nela)

PERSONAGENS:

O Diretor — 50 anosJoaquim — 18 anosPedro — 19 anosF« _ix — 18 anos

(Ao ser levantado o pano, Joaquim estálendo uma revista).

PEDRO (entrando) — Joaquim ! Você por aqui?!Que prazer! Há cinco anos...

JOAQUIM (acoihedor) — Viva, Pedro! Cinco anos,sim... Que é leito de ti ?

PEDRO — Vai-se vivendo, graças a Deus ! Mas...que foi que te trouxe até cá ?

JOAQUIM — Saudades do nosso professor... e vimpedir-lhe uma recomendação para minha irmã Silvia,que quer entrar como costureira na loja de dona Rosa-linda.

PEDRO — ótimo! E tu? Estás trabalhando ?JOAQUIM — Claro, rapaz! Há dois anos que estou

na fábrica de fósforos...PEDRO — Muito bem! Eu também estou trabalhan-

do, há um ano, na Caixa Econômica. Fiz o curso ginasialaté quase o fim, entrei num concurso e saí bem, fui no-rneado, e embora trabalhe um bocado, estou com o meufuturo garantido.

JOAQUIM — Eu, infelizmente, não pude estudarmais, depois que saímos da escola. Meu pai morreu eficámos muito mal de vida e tive logo de me empregarpara ajudar Mamãe e as meninas.

PEDRO — E como te arranjaste ?JOAQUIM — Comecei como estafeta no Correio,

graças a uma recomendação dè um amigo de meu pai.Depois, mais tarde, consegui o lugar na fábrica de fós-foros.

PEDRO (pensativo) — Tanto que a gente ria, quan-do o professor nos falava do futuro... Lembra-se ?JOAQUIM — Pois é. E quando a gente menos espera,

esbarra com a vida e seus problemas... mais difíceis queos de matemática...

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PEDRO — Bem... Mas nós, pelo menos, não nospodemos queixar... Quantos dos nossos companheirosde escola não terão, talvez, fracassado?...

JOAQUIM — Lembras-te do Adriano? O nossoprofessor sempre lhe dizia:"Menino, cuida-te, ou não se-rás nada na vida! E's um displicente e não sabes cum-pnr os teus deveres."Pois bem: soube, há dias, que é umvagabundo, que anda por aí, cheio de vícios, sem querernada com o trabalho... Até num roubo andou compli-cado.

PEDRO — As profecias do professor!... Se os me-ninos não se corrigem quando são meninos, serão sem-pre infelizes, quando crescerem.

JOAQUIM — E' mesmo ! Devemos dar graças aDeus por nos termos mantido no bom caminho, ganhan-do honradamente a vida !

PEDRO — Os conselhos da escola influíram sobrenós...

JOAQUIM — Cousa muito verdadeira é isso de quea pessoa deve acostumar-se, desde cedo, a chegar a tem-po, começando pela escola, para mais tarde não viverchegando atrasado no trabalho.

PEDRO — Uma grande verdade !JOAQUIM — Para ter êxito é também precico possuir certo espírito de trabalho e sacrifício. Eu entrei paraa fábrica como varredor. Passei depois para a secção de

embalagem. Hoje melhorei. Estou no escritório. E tenhepromessa de melhorar mais. Mas pego firme, sem acharnada ruim...

O TICO-TICO

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PEDRO — Assim é que deve ser,meu amigo (pausa) Mas... pareceque aí vem o Professor...

(Entram o professor e Felix, malvestido e com um certo "jeitão).

DIRETOR (sem os reconhecer)— Bom dia senhores. Que dese-jam ?

PEDRO — Não nos reconhece,Professor ?

DIRETOR — Ora, ora vejam só !Meus antigos alunos, Pedro e Joa-quim! Foram-se daqui há cincoanos... não é isto ? Sim, sim...Cinco anos ! Lembro-me bem ! Es-tão uns homens e eu me sinto ain-da mais velho... Hoje foi um belodia para mim... Três antigos alu-nos me procuraram ! Então ? Nãose recordam do nosso Félix ? Foi dotempo de vocês...

JOAQUIM — Claro! Eu melembro, sim ! Como vai, Félix ?

PEDRO — O apelido dele era"Lagarto"... Um abraço, Félix!(abraçam-se).

DIRETOR — E a que devo estavisita de vocês ?

PEDRO — Eu estou em férias, evim fazer-lhe uma visita...

JOAQUIM — Quanto a mim,professor, vim pedir-lhe um obsé-quio mais. Desejo que Silvia, minhairmã, comece a trabalhar numa ofi-na de modista, e preciso de uma car-ta de recomendação. Lembrei-me.então, do senhor, que nos conhe-ce...

DIRETOR — Pois não, meu fi-lho ! Com o maior prazer. Mas, sen-tem-se e contem-me o que fazem,qual a vida de vocês...

PEDRO — Eu trabalho há umano na Caixa Econômica, e ganhomais de seis mil cruzeiros.

DIRETOR — Muito bem ! E tu,Joaquim, continuas na fábrica?

JOAQUIM — Continuo, professor.Estou agora ganhando 200 cru-zeiros por dia, mas com promessade melhorar.

DIRETOR — Que alegria se sen-te quando se vê os filhos — porqueeu considero vocês meus filhos, bemSETEMBRO — OUTUBRO DE 1959

t» sabem — encaminhados na vida.Todas as ingratidões e dores são es-quecidas, quando o destino nos pro-porciona momentos como este. To-dos os meus alunos deveriam seicomo vocês. Todos receberam igualinstrução, os mesmos conselhos,mas alguns, infelizmente, não sou-beram aproveitar bem uma nem ou-tros, e se desviaram para caminhoerrado... (Lembrando-se de Félix).Ah ! desculpa, Félix...

FÉLIX (emocionado) — Estoutão envergonhado, professor! Osconselhos que me deu lá dentro,nada são diante desta lição queacabo de receber. Enquanto os meuscompanheiros, bem vestidos e coma fronte erguida, aqui vêm cumpri-mentar o professor e proporcionar-lhe alegria, eu, tão indigno, vimamargar-lhe a vida e, pedir-lhe di-nheiro... Tome, professor, o dinhei-ro que me deu; não o quero assim.Quero ganhá-lo honradamente, tra-balhando. Não serei mais um ocioso,e algum dia hei de me apresentaraqui, como fizeram agora Pedro eJoaquim, meus colegas, que soube-ram aproveitar os seus ensinamen-tos.

DIRETOR — A vida é cheia dês-tes exemplos. E' preciso lutar, fazerfrente à vida, com coragem. Quan-do se é moço, o futuro está abertoa todos e é então quando se faz ne-cessário trabalhar, para prepararuma velhice tranqüila... Já pensa-ram no que haverá de tristeza emse chegar à velhice e não ter sequerum lugar onde esperar a morte ?

JOAQUIM — Bem, professor, masnão falemos mais nisso. Félix rece-beu uma boa lição que mudará derumo sua vida por completo. Eu lheofereço, lá na fábrica, o lugar emque comecei. Está vago e o chefeme incumbiu de arranjar um ocu-pante disposto a trabalhar. Ganha-rá sua vida decentemente. E' umcomeço. Deixará o ambiente ondetem vivido, que é ruim. Portando-sebem e trabalhando com boa vonta-de, logo melhorará...

PEDRO — Eu tenho para o Félixalgo que lhe será de muita utilida-de. Creio que não se vai ofenderpelo insignificante presente que lhefaço, como companheiro, e com todaa sinceridade...

DIRETOR — O que acaba de sepassar aqui, meus filhos, me tira cpeso de muitos anos, das costas. Aalegria que estou sentindo me re-juvenesceu, nunca a esquecerei. E'o melhor prêmio que um professoipoderá desejar.

PEDRO — Agora, senhor Diretor,um favor...

DIRETOR — O que quiseres, meufilho !

PEDRO --- Para festejar este diafeliz, proponho que vamos jantarjuntos, os quatro. Eu os convido.

JOAQUIM — E eu os convido paraum teatro, depois do jantar.

DIRETOR — Com todo prazer !

FÉLIX (contrariado) — Eu...por mim, agradeço, mas não possoaceitar. Não estou em condições,como vocês estão vendo. .. Minharoupa.. . Não posso aparecer numrestaurante e num teatro com vo-cês...

PEDRO — Vais daqui comigo aomeu quarto. Lá eu te farei entregado que disse que vou te dar. Acei-taras a oferta e... sairás de lá com-pletamente novo...

JOAQUIM — Que prazer, estar-mos todos ao lado do bom mestreque nos soube guiar pela estrada dobem, ensinando-nos, com o seuexemplo, o cumprimento do de-ver !

PEDRO — Bem: então, às oito,à porta do restaurante... Ali naesquina...

DIRETOR — Combinado ! Voume arranjar. Vão com Deus, me-ninos, e obrigado, muito obriga-do!

PANO

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BRASIL(Para declamar no DIA

DO MARINHEIRO — 13 de Dezembro)

(Entra fardado dc marinheironacional)

\J ENDO a imensidão de milhasDo litoral brasileiro,

Senti que havia nascidoPara ser um marinheiro.

Seja a mercante ou de guerra,Sulcando os mares sozinha,Precisa ter tripulantesNessa garbosa marinha.

Tal como Tamandaré,— O marujo triunfante —Começo como grumeteE acabarei. . . almirante.

Quero ser como Barroso,Minha Pátria a defender;Que o Brasil de nós esperaCumpramos nosso dever...

Quero, ainda, com a períciaDe um velho "lobo do mar",Enfrentando tempestades,Um navio comandar.

Se for navio mercante,De passageiros joviais,Eu estarei bem contenteLevando-os em plena paz.

Mas, se fôr vaso de guerraDe nossa gloriesa Armada,Estando a Pátria em perigo"Há de ser desafrontada !"

Quero o Brasil conhecer,Do alto Acre ao extremo sul,Navegando no AmazonasOu pelo Atlântico azul.

Viajando no "rio-mar",

Como se no oceano fosse,Não quero que alguém me chame...Marinheiro. .. dágua doce...

MAURÍCIO MAIA

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(MONÓLOGO PARA MENINA)

/QUANDO vou a uma festa^-» Gosto de me apresentarBonitinha e também gostoDe cantar e recitar.

Mamãe diz que eu sou pequena,Não sei um verso bonito;Eu concordo, mas prometo:

Quando eu for grande... recito !

Sc eu vou cantar, é o mesmo:A mamãe acha que náo;Diz que eu sou desafinada,Não sei nenhuma canção ! ...

Eu não teimo, fico quieta,Sentadinha no meu canto,E digo a mim mesma assim:

Quando eu crescer, bem que eu canto !

Se é dançar, é a mesma coisa:A mamãe não me permite;Não deixa que, nesta vidaEu dance, cante ou recite !

Diz ela que eu sou pequenaE se fôr dançar me canso,Mas a esperança não perco:Quando crescer mais... eu danço !

Eu tenho até boa vozPra cantar ... (canta): trá-lá-lá-lá ...Querem mais? (canta), trá-lá-lá-lá...(Isto eu canto aqui pra nós ! .. .)

Recitar, já reciteiUns versos que o primo fezE vou agora dançar (dança)Mais uma vez ... uma vez ...

(SAI DANÇANDO)

O TICO-TICO

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O motivo eu não sei, verdadeiro,Por que tenho a algibeira virada...

(Mostra o forro dos bolsos)

Todos têm, mais ou menos, dinheiro,E eu?...Nada!...(Fala:)E eu?... Nada!

II

Há pequenos que passam, contentes,Uma vida risonha a folgada;Usam jóias, anéis reluzentes...E eu?...Nada!...(Fala:)E eu?... Nada!

III

Um sujeito avarento e "cacete"Viu a sorte lhe ser camarada:SETEMBRO — OimiKRR DE 1959

Dois milhões "apanhou" num bi-

[lhete!...E eu?...Nada!...(Fala:)E eu?... Nada!

IV

Outro teve, de um tio que é morto,Uma herança polpuda, avultada...Hoje vive com todo o conforto,E eu?...Nada!...(Fala:)E eu?... Nada!

Mas eu tenho a receita acertada

Que é, com gosto, atirar-me ao es-

[tudo:Só assim digo, em vez de e eu nada...E eu?...Tudo!..(Fala:)E eu?..Tudo!.

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<0-HteÊkol ftacto(MONÓLOGO)

saaaaaaaaassa»»-—.—— I

£atáhc7ú?"Quem muito fala muito

[erra..."E' fácil de compreender.Assim, para não errar,E' melhor nada dizer.

A maior filosofiaE' vêr, ouvir e ... calar,Como os antigos diziam,Falando contra... o falar.

Para não ser indiscreto,E com todos bem viver,O mais acertado, sabem ?E' melhor nada dizer.

Todos temos a maniaDe criticar o que vemos,Muitas vezes mesmo aquiloDe que pouco percebemos.

Por isso, grande virtude,Depois de ouvir e de vêr,Seja o que fôr, nesta vida,E' melhor nada dizer...

Por exemplo: agora mesmoVejo, daqui, um rapazMuito nervoso e inquietoE sempre a olhar para trás.

Poderia eu perguntarO que deseja fazer...Mas para que ? Pouco im-

[porta...E' melhor nada dizer...8

Uma menina, tambémReparo, agora, daqui,Com um vestido... de es-

[paventoComo igual eu nunca vi !

Chamar a sua atençãoTalvez fosse meu dever;Mas, pôde ela não gostar...E' melhor nada dizer...

Vejo, ainda mais, um garotoMuito travesso... "levado",Que um momento não ficouNo seu lugar sossegado.

Eu poderia com jeitoUm reparo lhe fazer;Mas, poderá ser pior...E' melhor nada dizer...

Lembrei-me agora tambémDe que pude desgostarA alguém, o que estou di-

[zendoE, assim, lhe desagradar...

Vários casos eu aindaPoderia aqui trazer;Mas, evitando uma vaia,E' melhor nada dizer...

Mesmo porque, meus ouvin-[tes

Poderiam reclamar,Dizendo que o meu sistemaDevo, a mim mesmo, apli-

[car...

E algum dai, mais esperto,Poderá me surpreenderEmpregando a mesma frase:— "E' melhor nada dizer..."

LEÔN6/0 eORREIA

VERDE... O verde é a esperança,E a esperança é a doce luzDo sorriso da criança,Do casto olhar de Jesus.A esperança é a companheiraQue nos segue a vida inteiraE que horas de ouro nos dá.Enchendo as almas do encantoQue tem o límpido cantoDo sonoro sabiá.

AMARELO... O amareloE' uma côr singular:Lembra o campo ondeante e belo,Uma espiga a rebrilhar.Côr da riqueza, côr do ouro,Vale o aceno de um tesouro,Pois da riqueza é o cartaz...A moeda da liberdadeA mão da fraternidadeCunha no âmbito da paz.

AZUL... O azul é do sonhoA doce, divina côr.O azul é o fruto risonhoDe um amor com outro amor.E' o azul a côr celesteQue as almas dos anjos veste,Das santas também, e atéEra azul o lindo mantoQue cobria o corpo santoDa Virgem de Nazaré.

BRANCO... E* a côr da inocência,Pois da castidade irmã;Encerra a divina essênciaDa parábola cristã.Branca é a prece meiga e puraQue a boca infantil murmuraJunto ao seio maternal.Branco é o sorriso da aurora,E branco o lírio que odoraA orvalhada matinal.

Eis as cores da bandeiraQue simboliza o BRASIL:Como é formosa e altaneiraNo seu augusto perfil!Nem o rubro, nem o negroDo policrômico alegroAfeiam-lhe a alta expressãoSe são-lhe estrelas recamos,Até junto aos céus a ergamosCom o Brasil no coração!

?O TICO-TICO

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O melhor da -Festa-(7ff<mó&go')

(Entro com o cabeça cheia de ataduras de

gaze e "pontos folsos", uma das pálpebras ar-

roxeada, o braço esquerdo em talas, como se

estivesse fraturado, e preso ao peito por uma

faixa. Na mão direita uma bengala, à qual se

arrima, e anda claudicando de uma perna4

DIZ o povo, e com razão,

Na sua infinda loquela,Que sempre "o melhor da festaE' a gente esperar por ela"

Sou louco por CarnavalPra brincar, me disfarçandoE, por essa festa alegre,Eu passo um ano esperando.

Desta vez, que grande pândega!Vocês nem queiram saber...Passei quatro dias cheiosE diverti-me a valer.

Quebrei a cabeça, é certo,Porém não ligo importância;Pior podia ter sidoSe eu não tivesse elegância...

(Passeia, arrastando uma perna)

Por ela ganhei três prêmios,Também pela minha graça:Duas medalhas de bronzeE de prata linda taça.

Parti um braço no baile,Porém foi cousa ligeira;Veio a Assistência depressaE encanou desta maneira:

(Mostra o braço)

Quando danço .pulo ou salto,Onde pisar não escolho,Por isso bati no chãoE avariei este olho:

(Mostra a pálpebra roxa)

Porém ninguém deu por isso...Eu estava mascaradoNão se reparou, portanto,Que eu fiquei de rosto inchado.SETEMBRO — OUTUBRO DE I9S9

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Desloquei mais uma pernaAo dar um pulo sem jeito,Mas neste mundo não háNada que seja perfeito...

Depois tive a "fantasia"De num café ir jogar.Arranjei um bom parceiroPara jogo do bilhar.

Vi logo que êle era esperto,E um sujeito descarado:Ia aumentando seus pontosPorque marcava "enfestado"..

A cada um seu ponto feito,Marcava mais dois ou três,De sorte que, em pouco tempo,Tinha mais de cento e seis.

Protestei. Èle zangou-se,E, estando de "dominó",Meteu-me o taco no "coco",Sem ter pena nem ter dó.

Dei nele também e o casoE' que o jogo, desta vez,Começando por bilharFoi acabar em "xadrez".

O delegado, um velhote,Daqueles tipos "ranzinzas",Só nos deu a liberdadeNa quarta-feira de Cinzas...

Bem diz o povo na suaLoquacidade singelaQue "o melhor sempre da festaE' a gente esperar por ela".

Eu esperei apanhando,Dei pancada, sem querer;Mas o caso é que tambémMe diverti a valer...

(Sai coxeando)

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UNIRA vestida de bronco, trazendo nas mãosumo blusa de côr vistosa, e como quem pro-

cura qualquer coisa sobre os móveis.

(FALA): — Não sei onde deixei minha cai-xinha de costura . . Preciso consertar esta blu-sa que está toda descosida e não acho as agu-lhas nem o linha. Essas costureiras são todasumas desmazeladas, sem capricho algum naqui-lo que fazem. Imaginem que esta blusa é quasenova: tem sido vestida umas dei ou doze vezese já está todo descozida. Eu não sou costureiranem me meto a modista, mas uma cousa que eucosa ... é outra cousa, quero dizer: fica cosido.

'Encontrando a caixinha' .

— Ah! Felizmente achei a caixinha...'Tirando do caixinha agulha, deda! e linha,sentando-se e começando a coser apressa-damente, de maneira que a blusa fique co-ri(l<i ou |>.r.)od<] no sd.a (|Up voslo)

Quando eu prego um botão, por exêm-pio, êle fica pregado como se fosse a pregos, oua parafusos e mais seguro do que o próprio se-guro, que morreu de velho.

E' mais fácil cair a blusa do que o botão.Quando eu faço casas num casaco ou mes-

mo numa saia, não há uma que não saia tãobem feita como se fosse uma casa de pedra ecal.

'Continua sempre cosendoUm vestido que eu corte, póde-se ver;

não dou um corte que não seja certo. Posso cor-tar um dedo meu, mas não corto um dedo demais ou de menos na fazenda.

l Finge que fura um dedo com a agulha! :Ui !... Furei meu dedo ! i Mete o dedo

na bocaiE' uma coisa que sempre me acontece

toda vez que costuro, espeto a agulha com odedo... perdão: espeto a ponta do dedo com aagulha.

'Chamam-na, de dentro/:Maria !... O' Maria !...(Respondendo)

Já vou !... Está na hora de tomarmoso trem e não me posso demorar mais. Felizmentea blusa está costurada !...

(Levantando-se e vendo que está com _.blusa pregada na saia) ;

Oh! como foi isso? Já sei: é a pres-sa! E agora, como há de ser?... Não hádúvida. Terei de ir com outra blusa e outra saia!

(Saindo apressado):Essas costureiras!... Essas costurei-

ras !...

10 O TICO-TICO

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^ucbàção à 3swi0fàyy^yy2%/jfr^ectó& \wm\

Cinco alunos formam um semi-cirrulo em redor da ba»

«r TZfSEZ Ur um outro aluno, adiante, no centr^Cmia um

Tehegaao pavillZ -. mostrando a respecUva cor, reata.

QUANDO

a bandeira desfralda,

Que linda côr de esmeralda

Que eu vejo! Que linda côr!

Côr do do ramo que balança,

0 verde é para a criança

A esperança sempre em flor !

0 AMARELO:\

Sobre a bandeira — que belo! —

Vejo um losango amarelo,

Côr do sol, da sua luz!

E' toda a enorme riqueza

Do Brasil que a natureza

Dentro das minas produz!

Este azul que a gente enxerga

Sobre nós e que se verga

Transparente como um véu

Também neste pano aberto

Se vê, mas todo coberto

Das estrelinhas do céu !

O BRANCO:

Há, por fim, na fita brancaUm lema. Ninguém o arrancaDo fundo do nosso olhar!Decorem bem, eu lhes peço,Pois sem ordem, sem progresso,Ninguém pode, não, marchar !

SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959

\Yi-7 !______ tis 1 yí^ÉL^Avy^Ê? Mm\\¥) yW

mécDü

TODOS EM CORO :

Salve, portanto, Bandeira !Bandeira linda, a primeiraQue escolheria entre mil !O que o nosso peito encerraE' para ti, boa terra,doa terra do Brasil ! !

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(Im fíSTA WWVÁ

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(PARA COMEMORAR

CENÁRIO

A cena se passa numa sala do Colégio. Uma janeladá para a rua. A esquerda uma mesa cuja toalha cai atéo chão. A direita, dois ou três tamboretes.

PERSONAGENS:

Belinha, Marieta, Sofia, Bibi, Laurita e Dedé; "Ca-belo de Fogo", Pedro, Serafim e a Professora.

Belinha entra chefiando o grupo. Marieta trazum grande ramo de flores e Bibi um manuscrito enrola-do, atado com uma fita. Sofia traz um prato com umbolo.

BELINHA: — Pronto! Não falta mais nada. Esta-mos preparadas para homenagear nossa querida pro-fessora.

MARIETA As flores estão lindas!

SOFIA: — E o bolo? Foi feito como manda o figu-rino! Está um colosso!

BIBI: — E o meu discurso? Nem queiram saber!

LAURITA: — "Meu", hein? Olhem só... Comosofremos para escrevê-lo! "Nosso", isso sim!

DEDÉ: — Eu até já sei de cór: "Querida mestra!Aqui estamos, suas devotadas altfnas...

(Bolo e flores são postos em cima da mesa)BIBI: — Ih! Faltam poucos minutos! Não acham

que devíamos fazer uma espécie de ensaio?DEDÉ: — Eu acho. Onde está o discurso? Eu disse

que sei de cór mas é "balão". Quero ver é na hora...Preciso ler mais uma vez.

BIBI: — Que é que há? Você é quem vai ler o dis-curso? E eu é que fiquei a vida toda a copiar, a passar alimpo?

DEDÉ: — Mas, claro! Eu tenho nota melhor que asua em declamarão e interpretação!

12

O "DIA DO PROFESSOR")

BIBI: — Mas eu tenho melhor nota em linguagem.DEDÉ: — Você gagueja...BIBI: — Você lê como uma tartaruga!DEDÉ: — Ora, boba!BIBI: — Boba é você!

MARIETA: — Eh! Chega! Chega! Vamos acabarcom isso! Quem deve ler o "catatau" é Bibi. Pelo direito,é ela, que foi quem teve a idéia da manifestação.

DEDÉ: — Está bem. Mas eu entrego o bolo...

SOFIA (explodindo) — Ora, vejam! Você é mesmopretenciosa! Tudo tem que ser você? E quem fez o bolo,quase sem ajuda? Eu! !

LAURITA (calma) — Também, assim, não, Sofia!...Eu ajudei um bocado...

SOFIA: — Eu me esbofei, batendo a massa...LAURITA: — Eu bati claras e gemas a manhã

toda!

(Generaliza-se a disputa. Cada uma fala para umlado. Ninguém se entende. Há empurrões, puxões de ca-belo, gritinhos).

GRITOS: — Eu quero as flores!(AO — Eu colhi mais do que tu!MESMO — Fui eu quem fez o ramo!TEMPO) — É meu! É meu!

Ai!Oh! Malvada!Meus cabelos! Ui!etc. etc. etc.

(Belinha, para restabelecer a ordem, sobe a um dostamboretes, tira do bolso um apito e sopra com energia.Imediatamente se faz silêncio.

BELINHA: — Será o Benedito? Que lindo espeta-culo! Pois bem! Já que vocês não entram em um acordo,tenho um meio muito bom para decidir a questão! Va-mos tirar a sorte!

TODAS: — Isso! Boa solução! Viva a Belinha!

O TICO-TICO

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SOFIA: (Metendo a mão no bolso). — Eu tenhodois dados aqui...

BELINHA (dirigindo) — Ganha quem tirar o nú-mero maior. Se houver empates, vai-se jogando até de-cidir! Quem ganhar, lê o discurso!

(Abaixam se, em círculo, no primeiro plano dacena, à direita. E começam uma após outra, a jogar osdados.

MARIETA: — Quatro! Ora, bolas!DEDÉ: — Dois! Que azar!AS OUTRAS (rindo) — Ah! Ah! Ah!

Nesse instante aparece à janela a cabeça de Pedro,que vê o bolo e chama os companheiros.

PEDRO: — Puxa! Que beleza! Psst! Vem ver,"Cabelo de Fogo"...

CABELO DE FOGO: — Pa-pa-gaio!SERAFIM: — Que gostosura, "seu"!

(As meninas continuam jogando os dados, sem no-tar a chegada dos rapazes. Ouvem-se os números queelas tiram nos dade;; e as exclamações e risos.

PEDRO: — Está pra nós. Elas estão distraídas.

CABELO DE FOGO: — Vamos aproveitar?

SERAFIM: — Toca pro pau!

BIBI: — Agora sou eu!

Enquanto Bibi sacode as mãos no ar, com os dados,os três meninos pulam a janela e penetram na sala.

B.BI: (Que jegou os dados) — Pronto! Ganhei!Tirei 12! Quem lê o discurso sou eu!

(Os rapazes se escondem depressa atrás da mesa).

BELINHA: — Isso mesmo. A sorte é cega. Agora,vamos ver quem entrega o bolo.

AS OUTRAS (em coro)ao bolo!

Vamos ao bolo! Vamos

CABELO DE FOGO (aparecendo prudentementeatrás da mesa, logo seguido dos outros dois):

— Elas têm razão... Vamos ao bolo! (Tira um pe-daço. Os companheiros o imitam).

CABELO DE FOGO (com a boca cheia):— Está dobarulho!

DEDÉ: — Desta vez eu vou ganhar!CABELO DE FOGO: — Que beleza!PEDRO: — Está gostoso, mesmo!MARIETA: — Também tirei quatro!TODAS: — Ih! Oh! etc. (Riem alto)...SERAFIM: — Mas, que "troço" bom! !

(Enquanto as meninas prosseguem interessadas ojogo de dados, os três meninos se enchem de bolo, semse apressar. Suas cabeças aparecem por trás da mesa).

SERAFIM: — Já não poso mais...PEDRO: — Nem eu!BELINHA: — Tirei 12! Seu eu! !CABELO DE FOGO: — Vamos dar

o for?''PEDRO e SERAFIM: — Vamos...

SETEMBRO — OUTUBRO OE 1959

(Dirigem-se em pontas de pé para a janela. Serafim,que vai atrás, apanha algumas flores).

BELINHA: — Já sabemos quem leva o bolo...Agora vamos ver quem...

(Nesse momento são interrompidas pela queda deSerafim, que pulou mal a janela e cai para dentro dasala).

TODAS: — Ui ! Que foi isso?BELINHA: — Olhem, só! Olhem! Vejam!DEDÉ: — Que é que êle estava fazendo?!SOFIA: — O bolo! Olhem o bolo!TODAS (a um tempo): — Oh! Que horror!MARIETA: — As flores! As flores também!TODAS (a um tempo, avançando contra Serafim):

— Coisa ruim! Peste! Bandido!

SOFIA: — Ah! Mas êle me paga! Meu ramo deflores!

(Bate em Serafim com o resto do ramo).

MARIETA: — Toma. esfomeado! Já que gostaslan to de bolo!

(Esfrega-lhe no nariz um pedaço de bolo. Forma-segrande confusão. Há gritos, empurrões. Serafim se de-tende. Voam flores e pedaços de bolo.

Súbito, Dedé percebe a chegada da Professora).

DEDÉ: — Atenção! A Professora!

(A Professora entra. Apavorada com o que vê, caidesmaiada enquanto Serafim foge).

A PROFESSORA (ao cair nos braços das meninas).Jesus! Valha-me Deus!

BELINHA: (desolada) — Pobre Professora! Quepena! E nós lhe queríamos prestar uma homenagem! !

DEDÉ: — Adeus, festa ! ! !

PANO

(ADAPTAÇÃO DE GALVÃO DE QUEIROZ)

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(SINHÁ MARICÁ E NHÔ ZÉ CORA)

ELE —Sinhá Maricá ? ELA — Nhô Zé Cora ? (bis)ELE — Vancê veio lá da roça, as novidades vai conta ..ELA — Nada de novo lá no sertão,

a não sê muita sôdade dentro do meu coração

OS DOIS — Ai que sôdade lá do sertão !Nosso ranchinho e um chorinho de violão

ELE —Sinhá Maricá ? ELA — Nhô Zé Cora ? (bis),ELE— Que me diz da vidinha desta linda Capita ? (bis)

;'ELA— Tô aturdida c'a baruiada (bis)Esses bonde e artromóve anda tudo em disparada...(bis)

OS DOIS — Ai que sôdade, etc. . .

ELE —Sinhá Maricá ? ELA — Nhô Zé Cora ? (bis)ELE — Que me diz dessas mocinhas vestidinho de "Carnavá"?

ELA— Elas tão longe da buniteza (bis)das menina lá da roça que têm graça e singeleza ... B

ELE —Sinhá Maricá ? ELA — Nhô Zé Cora ? (bis)ELE Que me diz do tar "Jazz Bonde", essas musgas pra

[dança ?ELA — Ai, nem me fale, que confusão ! (bis)

Vale mais uma sanfona acompanhada de um violão...

____OS DOIS — Ai que sôdade, etc

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1

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Os NOMES _MONÓLOGO

TENHO uma série de amigos.

Cada qual mais engraçado,E cujos nomes contrastamCom o tipo do nomeado:

E' de estatura baixinhaO que tem nome de Altino,Não gostando de viajarO chamado Peregrino.

Frisando bem o contrasteO Alvim é rapaz moreno;Tendo elevada estaturaMeu amigo João Pequeno.

O Bruno sempre foi claroE louro como... alemãoO Pacífico é violento,Mas o Cordeiro é um leão.

O Armando Guerra... Coitado!...E* um tão pacato rapazQue vive armando... o precisoPara viver sempre em paz.O Prudente é um impulsivo,Não reflete no que diz.E o Felicíssimo, então?...E' o ente mais infeliz !..O Calado é falastrão,E o Franco tão reservadoE sovina que não gastaNem dez réis de mel... coado.O Própero vive sempreCheio de atrazos na vida;Tudo lhe sai às avessas,Em decadência sabida.

O Zé dos Santos... Cruz!... Credo!..Vende nabiças por nabos;Hereje, em vez de "dos Santos",Devia ser Zé dos Diabos.

O Inocêncio é malicioso,E o Fortunato sem sorte,O Hilário é triste, não ri,E o Vivaldo é como a morte,

O Narciso... ó! como é feio!...O Pedro Velho é bem moço;O Juventino é que é velho,De encarquilhado arcabouço.

O Reis é republicano,O Constantino... inconstante;O Lira náo sabe música,E o João Manso bravo infante.

O Antônio Gordo é franzino,E o Delgado é que é rotundo;O Altivo é modesto, humilde,Sujeita-se a todo o mundo.

O Genuíno me pan-ceUm pouco... falsificado;Pinta os cabelos e a barbaPra ser moco, o disfarçado.

O Arcoverde é... amarelo.E o Montenegro... alvacenlo.O Rocha um sujeito mole...E o Gentil brutal, odiento.

O Demostenes é gago,O Levino bem pesado,O Áureo tem cabelos pretos,Nada em seu todo é dourado.

O Pinto é forte, alto e largo,Um elefante parece,Mas o Fortes ... é fraquinhoComo um pinto que não cresc..O Marinho enjoa a bordo,O Job é rico, abastado,O Cavaleiro não monta,E é solteirão o Casado.

Tem o Sérvulo a maniaDe mandar e decidir;Não se presta a cousa alguma,Nem a ninguém quer servir.

O Justo faz injustiçasSe não encontra... "vantagem..."E o Valente apanha e correSem a mínima coragem.

O Veríssimo, se falaVê-se logo que êle mente.E o Severo é bonachão,Risonho, amigo, indulgente.

O Ventura náo tem sorte,Tal qual como o Fortunato;O Márcio não veste fardaTem gênio calmo, cordato.

O Batista inda é pagão,E o Simplício é. .. complicado;O Secundino quer serPrimeiro em tudo encontrado.

De todos esses um sóAo nome correspondeu:Por ser cacete, é o Pau.. .linoE esse Paulino... sou eu.

\tíANO&LBÍO TICO-TICO

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ch- BRASIL

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HOJE devemos todos ter

Um pensamento a nos guiar,Como um farol que orienta o nautaNão o deixando naufragar.

Deverá ser um estribilhoQue se repita, em tom viril,Dizendo assim: — Tudo faremosPela grandeza do BRASIL!

Em toda parte onde estiverA juventude brasileira,— Seja na escola, ou na oficina —Deve ter sempre esta bandeira:

Não se deixar jamais, vencerPela descrença ou engano vil.Viver altiva, alegre e fortePela grandeza do BRASIL !

Se fôr chamada, um dia, às armas,Julgue-se, até, muito felizPor defender o territórioE a honra do nosso pais.

Erga, bem alto, a lança, a espada.Aponte, firme, seu fuzU,Seja valente, heróica e bravaPela grandeza do BRASIL !

MA "

No mar, em terra, ou pelos aresMostre ser ágil, decidido,Podendo perecer na lutaJamais, porém, sendo vencido.

Brade, sem medo, aos inimigosOu a quem se lhe mostrar hostil:— Dou minha vida com orgulho.Pela grandeza do BRASIL !

E, no futuro, a Pátria amadaSaberá ser agradecida,Entre os heróis pondo seu nome,Numa homenagem merecida.

Dirá a História: — Este, mostrouBela atitude varonil,Tudo fazendo, em sua vida.Pela grandeza do BRASIL !

E todo o povo brasileiroHinos de glória cantaráA quem foi grande patriota,E dele não se esquecerá.

Entre as canções em seu louvorUma será linda e gentil,

Dizendo assim: (Canta, em andamentomarcial): — Tudo êle fezPela grandeza do BRASIL !

(A assistência)

Repitam, pois, comigo, agora,Numa só voz, esplendorosa,Que vá, de norte a sul, ecoandoComo trombeta clangorosa:

Nós somos poucos, mas valemosComo se fôssemos... cem mil,Jurando, enfim, tudo enfrentar:

(Todos)Pela grandeza do BRASIL !

SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959 17

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"rfiófèssorcfc L/travasSoÀH&áe &m um ato-

PERSONAGENS:Polidoro professor«-oca» secretárioHugoCarambaBepino ....WiUiam \ %XvaMVascoSócrates

CENÁRIO

Sala modestamente mobiliada; com jor-nais, revistas, livros, dicionários etc.POLIDORO (Entra, vai à mesa, onde consu.ta os

jornais, como procurando alguma cousa. Depois chama):Lucas ! ó Lucas !LUCAS (De dentro) Alô ! (Entrando pouco depois)Pronto, seu Polidoro.POLI — Onde está o anúncio que eu mandei botarnos jornais?

LUCAS — Está bem aqui! (Toma o jornal e lê) "Pro-fessor dê línguas vivas e mortas. A rua do Cachorro.

POLI — Hein? Como é isso? Rua do Cachorro? !LUCAS (Fala): — Foi um erro de revisão. Deve ser Ruado Chichorro.POLI — Ah! Leia adiante.

LUCAS — (Lendo): — "Ensinamento por métodos novose especiais de todas as línguas vivas e mortas. Preços módi-cos. Pagamento adiantado. Sucesso garantido".POLI — Muito bem. Agora esperemos os alunos.LUCAS — O senhor não quer almoçai'?POLI — Naturalmente que sim.LUCAS — Então faça o favor de me dar o dinheiro parair ao mercado comprar o almoço...POLI — Hum !... Isso é o mais difícil. Esperemos primeiroos alunos.LUCAS — E se não vierem alunos?POLI — Virão, sim. Basta saberem que se ensina aqui porpreços módicos...LUCAS — E se vierem alunos pedindo que o senhor ensi-

ne uma lingua que o senhor não souber?POLI — Não faz mal. Como eles também náo sabem, va-mos aprender juntos, nos dicionários.LUCAS (Reparando) Parece que aí vem gente.POLI — Deve ser meu primeiro aluno.HUGO (Entrando) — Bom dia.POLI — Bom dia. Que deseja o amigo?HUGO — Desejo estudar francês. Não foi aqui que seanunciou?LUCAS — Foi, sim. Quem levou o anúncio até fui eu!POLI — Vou matriculá-lo. (Vai à mesa, abre um livroonde vai escrevendo). Seu nome?HUGO — Eu? Chamo-me Hugo Lamartine.POLI — Belo nome para aluno de francês.HUGO — Muito obrigado.

m?™ ~ N/° dÍga aSSÍm Diga lo«° em francês: «e«-ci.MUC-O — Merci o quê?

LUCAS — Merci beaucoup...

18

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^^mUm*wm I \*èòç\>

— *-À.JO ~*

HUGO — (repetindo) Merci beaucoup.POLI — Sabe das condições, náo é?HUGO — Pois não! Pagamento adiantado. (Tirando o dl-

nheiro do bolso). Quanto é?POLI — Vinte por lição.HUGO — Acho um pouco caro. ..LUCAS — Nem por isso. Preço módico...HUGO — Enfim, vá lá. (Dá o dinheiro).POLI — (Guardando o dinheiro) — Agradecido.HUGO — Quando virei para a primeira lição?POLI — Hoje mesmo, mais tarde.HUGO — Pois então virei mais tarde. (Sal).POLI — (Dando o dinheiro ao Lucas) — Vai ao mercado

comprar o almoço.LUCAS — Quer carne ou peixe?POLI — O que tu quiseres.LUCAS — Perfeitamente. (Vai sair e encontra com o Ca-ramba que entra).CARAMBA — (Abalroando com o Lucas) — Caramba!

Você é cego?LUCAS — Não. Estou é com fome. E quando estou assim,nao vejo cousa alguma. Passe bem. (Sai, apressado).POLI — (Ao Caramba): _ o senhor desculpe. Aquele ra-

paz é um estouvado. ..CARAMBA — Está se vendo logo.POLI — O senhor deseja aprender alguma lingua, não é?^tRtAM^A

— Justamente- Quero aprender o castelhano.fVL.1 — O castelhano? !...CARAMBA — Sim. O espanhol.

vesJcS"- ^ ^ * "^ * ° meSm° que Portu«-»^ atra-

CARAMBA — Como, atravessado?POLI — Quero dizer: errado.CARAMBA _ Ah ! Compreendo.POLI — Ainda bem que o senhor é inteligente.CARAMBA — Muito obrú«Jo.

O TICO-TICO

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POLI — Oh ! Não diga assim. Diga: Muchas gracias.CARAMBA — Muchachas gracias.POLI — Muchachas, não. — É múchas gracias.CARAMBA — Muchas gracias.POLI — Muito bm. Vou matriculá-lo. (Vai à mesa para

escrever). Como se chama?CARAMBA — Caramba !POLI — Já sei. Isso é uma exclamação de que os espa-

nhois gostam muito. Mas como é seu nome?CARAMBA — É isso mesmo: é Caramba !POLI — Ah ! Compreendi agora. (Escreve). Ca. . .ram. .

ba. (Fala). Está matriculado. Falta agora o principal.CARAMBA — Começar as lições?POLI — Não '. Começar a pagar. . .CARAMBA — Ah ! Sim. Quanto é que devo?POLI — Vinte por lição. . .CARAMBA — Caramba ! É carinho :POLI — Nós aqui somos assim, carinhosos...CARAMBA — (Dando-lhe o dinheiro) — Enfim, como de-

sejo muito falar o castelhano. . .POLI — (Recebendo e guardando o dinheiro): — Ah!

Quanto a isso fique descançado, que em breve estará falandocastelhano melhor do que Dom Quixote.

CARAMBA — Isso mesmo é que eu quero. Quando vireipara a lição?

POLI — Quando quiser. . .CARAMBA — Então voltarei mais tarde.POLI — À vontade. . .

CARAMBA — Até já. (Vai sair e abalróa com Lucas queentra cheio de embrulhos). Novamente, seu idiota?

LUCAS — (Entrando) Idiota é você, maluco!POLI — (Intervindo) — Calma! Não convém discussões.CARAMBA — (Saindo:) — Esse palerma ainda me paga !

(Sai).LUCAS — Hein? Quem é palerma? (Quer sair).POLI — (Segurando-o): — Vem cá, rapaz ! É um novo

aluno.LUCAS — Ah ! É aluno?POLI — É sim. Vem estudar castelhano.LUCAS — E já pagou?POLI — Naturalmente. (Mostra o dinheiro).LUCAS — Ah ! Então já não está aqui quem falou. . .

BEPINO — (A porta): — Dá licença?POLI — Pois não ! Pode entrar. . .BEPINO — Eu quero aprender o italiano.

LUCAS — E eu quero ir fazer o ai-moço.

POLI — Pois vai logo. . .LUCAS — É num momento. (Sai).BEPINO — Quanto custam as lições?POLI — As lições custam vinte cruzei-

ros. .BEPINO — Todas? !POLI — Que todas !. . . Cada lição !BEPINO — Acho puxado !. . .POLI — Nós aqui puxamos muito tam-

bem pela inteligência dos alunos, adianta-mente.

BEPINO — Enfim, vá lá. . . (Dá-lhe odinheiro).

POLI — (Recebe o dinheiro e vai à mesaescrever). Vou matriculá-lo. Como se cha-ma o senhor?

BEPINO — Bepino.POLI — Pepino? !BEPINO — Não. Bê-pi-no!POLI — Ah! (Escreve): Be...pi...

no.. . (Fala): Bonito nome.BEPINO — Muito obrigado.POLI — Não diga assim. Diga logo em

italiano: Tante grazte.BEPINO — Tanta grazie. A que horas

é a lição?

POLI — A qualquer hora. À vontade. . .BEPINO — Pois eu virei mais tarde.POLI — À vontade. Quando quiser.BEPINO — Então até já. (Vai sair e encontra William).WILLIAM (À porta): — É aqui o professor de línguas?BEPINO — É aqui mesmo. (Sai).POLI — Pode entrar.WILLIAM — O senhor sabe inglês?POLI — Yess. . .WILLIAM — Como?POLI — Yess.WILLIAM — Que esse?POLI — O senhor nâo perguntou se eu sabia inglês?WILLIAM — Perguntei.POLI — E eu respondi que sim, em inglês.WILLIAM — Ah ! Pois eu quero aprender . .POLI — É fácil. Vou matriculá-lo e o senhor paga vinte

"cruzas" por lição. Como é seu nome? (Vai à mesa).WILLIAM — William.POLI — Seu nome é Guilherme, em inglêsWILLIAM — É mesmo?POLI — Sim, senhor.WILLIAM — Pois não sabia. (Dando-lhe dinheiro). Aqui

está a primeira lição e me diga quando posso vir para a se-gundã.

POLI — (Guardando o dinheiro) — Pode vir quando qui-ser, porque vejo que o senhor é inteligente.

WILLIAM — Muito obrigado.POLI — Oh ! Diga isso em inglês. Thank you.WILLIAM — Thank you. (Querendo pagar): — É já a

segunda lição?POLI — Não. Essa é ainda por conta da primeira.WILLIAM — Então voltarei mais tarde, para a segunda. . .POLI — Como quiser. À vontade.WILLIAM — Então, até já (Sai).LUCAS — (Entrando do interior da casa) — O almoço

está quase pronto.POLI — E eu pronto para o almoço. . .VASCO — (Entra e fala com sotaque fortemente minhoto,

trocando os bb pelos vv, etc. — Os xenhores dão lixenxa.POLI — Pode entrar.VASCO — Eu benho por aqui axim aprendeire com os

xenhores uni vocadito de língua vrasileira.LUCAS — Lingua brasileira? !VASCO — Xim, xinhore.

(Conclui na página 27)

SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959 19

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sou fraj _>, positivo,Gosto de tudo bem claro;

Não tolero subterfúgios,Desde logo lhes declaro.

Há um ditado do povoQue meu ânimo retrata.E' aquele que diz assim:

Ccmigo é ali... na batata !...

Exatamente assim sou,Creio, desde que nasci...Abrindo os olhos à vidaNada de leite eu bebi!

Comi... batatinhas fritasQue achei... dentro de uma lata.Desde então disseram todos:

Com este é ali... na batata !"

Não sei enganar ninguém,E digo logo o que sinto,Falando sempre a verdade,Mesmo contra mim, não minto.

Aprecio a matemáticaPor ser uma ciência exata,Pois é como quem nos diz:"Comigo é ali... na batata !...

Amigo da agricultura,Quem fôr como eu sou não erra.Plantando boas batatas,Cultivo, com amor, a terra.

No momento da colheitaA terra não me é ingrata,E eu digo, olhando a fartura:

Comigo é aqui... na batata !

Da agricultura ao comércioEu dei um pulo acertado,Pois, o que colho na roça,Venho vender no mercado.

Nesse negócio, hoje em dia,Já ninguém me desbarata,Porque, com um produto apenas..

"Comigo é só... na batata !...'

Na grande Exposição-feiraFui também expositor;Expus batatas somente,De todo o tamanho e côr.

•##

Alcancei um "grande prêmio"E uma medalha de prata,E o júri viu que, comigo,Era ali... só na batata !...

Nossa conversa está boa,Mas, eu preciso ir-me embora.Tenho um encontro marcadoE quero chegar na hora,

Pois sempre fui um rapazQue não falta quando trata;Puxando o relógio explico:Comigo é aqui... na batata..

(Puxa um grande relógio do boiso, finge que sái mas volta logo).

Desculpem... Houve um enganoNa minha frase final;

Oisse uma coisa por outra,Porém, não levem a mal...

Quando tirei o relógioQuis afirmar... coisa tola,Em vez de batata, que era:Comigo é aqui... na "cebola !..

(Sái, mostrando o relógio).

Zeu&ytçuy Wanderle*/

1 \Lm_r^a/ /— */o - R-p j

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O TICO-TICO

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APAZAOc/e TUDOv4v yl

_y*yH A quem viva neste mundoA gritar, num vozeirão,Protestando contra tudo,Muito embora sem razão.

E, no entanto, em silêncio.Um pacato cidadãoPode lavrar seu protestoE tendo toda a razão.

Menino muito vadio,Que não estuda a lição,Quando, enfim, é reprovado.O foi com justa razão.

(monólogo)Enquanto um outro, aplicado,Merecendo distinçãoNos seus exames, c o casoDe lha darem, com razão.

Operário que trabalhaBem, na sua profissão,Se lhe pagam bom salárioE' com justiça e razão.

Mas a um outro, desleixado,Que em nada tem perfeição,Se o despedem do serviçoO fizeram com razão.

A pessoa previdenteNão gasta à-toa um tostão;Pensa bem no seu futuroE o faz com toda razão.

Mas um tipo gastadorQue do que é seu abre mão,Se vem se queixar da sorte,Não, senhor, náo tem razão !

Os poetas e sonhadoresVivem sempre na ilusão...Porém chega a realidadeE os chama logo à razão.

Os homens que são mais práticosNào se iludem assim, não...Buscam os casos concretosE eles é que têm razão.

Com sonhos e fantasiasNão se compra mais o pãoE os vendeiros não mais fiam:Fecham o "Caixa" e o "Razão"...

QUASE.'.TOSTÃO vendo como estou?¦¦—' Tão contente? Tão feliz?Mas, quase fui reprovada!Quase-quase; por um triz!

Afinal, fui muito bemnos exames que prestei.Uma coisa diferente,(explicar bem, eu não sei),

pondo a gente em polvorosa,cá por dentro remexia!Fria e quente ao mesmo tempo.Que esquisito! Que seria?!

SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959

Pois, não sei. 0 certo é quequase fico repetente!Oh! Que susto! Que aflição!Mas, passou já; felizmente!

E que férias vou gozar!Bem tranqüilas, bem gostosas!Que saudades vou sentirdas colegas carinhosas!

E da mestra, tão paciente!Como as quero, de verdade!

(Pausa)— Até breve, companheiras;a vocês, minha amizade!

Não nos devemos levarPor qualquer opinião,Sem primeiro ver se nelaExiste plena razão.

Assim, também, quando temosDe tomar resolução,E' justo que se procureSaber se há nisto razão.

Em tudo existe um motivo,Ou seja uma convenção,Só no cérebro dos loucosNão se encontra mais razão.

Mas entre quem tem juizoE se julga muito são,Acontece, quase sempre,Haver doidos, com razão.

— "A razão dá-se a quem tem",Diz um antigo rifão.Mas quem tem já não precisa...Dê-se a quem não tem... razão.

Dizendo aqui estes versosEstudados de antemão,Não o faço sem motivo,Nem tampouco sem razão.

Tive o intuito de agradar,Ou por mera distração,E me esforço a fim de que hajaQuem me dê sua razão...

•Porém, se, ao contrário disto.Causo grande amolação.Ao verem que vou saindoTodos vão me dar razão...

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èyWI / \lmm\' A*\W*y^\

21

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Três PANCADINHAS...

V«_s»

(monólogo)(ENTRA COM UMA BENGALA)

Eu não sou supersticioso,Mas há coisas, entretanto,Que parecem "máu olhado".Que têm ares de '•quebranto*'.

Pra neutralizar o efeitoDe tais coisas tão.. . daninhasO melhor remédio é ésterDar assim... (Brite 3 vezes com a

bengala) |três pancadinhas. . .

Quando se encontra um sujeitoDe roupa marron. fechada.£ certo que nossa vidaVai ficar. . . atrapalhada.

Para fazei" o esconjuroMelhor, de todas as "linhas",A gente disfarça um pouco,E bate. .. (bale 3 vezes com a ben-

gala Itrês pancadinhas...Encontrar um Rato pretoDizem todos que é azar,Atraza mais de sete anos,Não há quem possa agüentar.

Para burlar da má sorteAs perfidias e picuinhas.Deve-se dar, pelo menos,No gato.. . (bate 3 vezes) três pan-

Icadinhus. ..

Derrubar tinta no chão.Ou na mesa azeite ou sal.f. causa de dissabores.Dizem que faz muito mal.

Isso quando me aconteceEm casa, ou na das vizinhas,Eu, com a bengala, ou com o pé.•Sapeco... (bate com o pé três ve-

zes) Itrés pancadinhas...Se a gente encontra um enterrofc sinal de máu agouro.Como borboleta preta.Ou qualquer feio bezouro.

Em vez de três "padre-nossos".Ou mesmo três ladainhasPara o defundo. . . e os insetos,

Se batem... ibatc 3 vezes) trêsI pancadinhas. . .

Se estiverem como receioDe que também eu agoraTraga "lili", jetatura.l>ucubaca ou caipora,Não tenham ac.inhamento.Em vez das três pancadinhas,Para afastar meu enguiçoBatam assim... (bate palmas) mil

Ipalminhai. . .

APROVADAS (5 AWanderle/

QUE gostosura!

Fui aprovadae com nota alta!

(Pausa)f Alguém, na assistência,

[grita:"Não sabe nada!")(Com energia)

Eu, não sei nada?•"Com desdém,devagarinho:)

Eu — não — sei nada!'.

Quem foi que dissenessa maldadetanta tolice?

(Positivai

Fui bem no exame,porque aprendi.

22

0 que estudeiestá tudo aqui...

í Mostra a cabeçaC Pausa)

Bastante esforçoé que valeu!'A mesma, voz, na assis-

I tência:"Foi por acaso!")

Foi por acaso?Tal não se deu!

(Bem lentamente)

Agora, sim!Bem sossegada,vou gozar férias,

'Silabondo)

que .-tou can-sada ...\ V 1 —e/o-

O TICO-TICO

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%ui TASTI(W&méogoj

-_____________f* *1C"*\_-——*¦-*"^^,i*

(Entra comendo biscoitos e falasempre mastigando, principalmentequando se referir ao fastio).

ESTOU com um fastio imenso,

Nada posso hoje comer.Se continua isto assim,Serei capaz... de morrer.

Tomo café quando acordoPara, em seguida, almoçar,E, depois do almoço, ficoEm jejum, até... jantar

Faço um "lunch" antes da jantaE merendo antes da ceia;Depois fico sem comerAté dormir... nove e meia.

Ao café, quando desperto,— E isso é todas as manhãs, —Tomo leite, chocolate,Mingáu, bolacha e... dois pães.

Meu fastio é tão violentoQue só faço isto uma vezPor dia. Só dois pãesinhos...Raramente como três...

(Tira do bolso e mostra dois pãesgrandes).

Entre o café e o almoçoComo sempre umas frutinhas:Melões, melancias, jacas,E nove ou dez bananinhas...

%wl m ___

»^^—- ¦' ¦' —¦ ¦¦ I I I I !¦¦ ...-.II 111 —

Meu fastio é tão intensoQue raramente eu a juntoA estás frutas umas uvas,Pêras, laranja ou... presunto.

Depois, então, meu almoçoE* simples, sem aparatos:Frios, sopa, canja ou caldoE apenas cinco ou seis pratos:

Um pouco de peixe frito,Peixe de molho e pirão,Uma dúzia de ostras cruasLevando apenas limão.

Depois uma maycnèseDe lagosta ou camarões;Galinha, frango ou marreco,Saladada de pimentões.

Bifes e carne de grelhaSpaguetti com tomate.Omclctte de fiambreE, por bebida, só mate.

Para sobremesa, apenasComo queijo e marmelada,Fios d'ovos e pudins,E um pouco de pêssegada.

Afora o que lhes contei,Nada mais posso comer.E' terrível meu fastio,Não minto, podem me crer,

Faço um lunch, às duas horas,De bolos, doces, gelados,Cremes, biscoitos, bonbons,Mãe-bentas e bons-bocados.

Depois disto, já se sabe:E' inútil me convidar,Porque guardo meu jejumAté a hora de jantar.

Aí, como já lhes disse,Não faço muito alvoroço:Apenas pra não morrer,Repito o "menu" do almoço...

Pois meu fastio é tão forteQue posso apontar a vezEm que acrescento a tais pratosApenas mais dois ou três.

Não fosse a merenda e a ceia,Era pior meu fastio,E, assim mesmo, vou dormirTendo o estômago vasio...

(A um dos ouvintes)O senhor parece médico...O que contei acredite,E me dê algum remédioPara me abrir o apetite!...

Pois se isto assim continua,(Por pilhéria ninguém tomeO que lhes digo), receioAcabar morto... de fome!...

(Sai comendo um dos pães sofre-gamente).

(S\V* \^aSZ^^SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959

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ásférfas-. \V^ 'mmmVy S"^yy a0< ^k/yyy a^ *r~y

\k / — *'° E, depois, aos estudos voltaremos,

rtm)mmWD ^"¦*'"*'C**-«_\ // ^-——^ Corpo e espírito "em forma" por igual;

_^__-L^\\\/ 1 yyy^"^ **" no c*re,jro a 'uz receberemosa; a""; K> \ \j k/y S^- "~-\ Como através de um prisma de cristal.

29 O TICO-TICO

Ü|7AGORA,

as aulas encerradas, vamosGozar as nossas merecidas ferias.

Mas, os livros de estudo, se os fechamos.Para estudar não faltarão matérias.

Abre o seu livro imenso a Natureza.A Mestra que o saber espalha a flux:Dá-nos lições de força e de belezaEm quanto, em águas, terra e céu, produz.

Em tudo quanto existe há ciência e arte:No solo e no ar, na luz, no som, na côr.Aprendemos, assim, por toda parteA compreender a obra do Criador.

Mas graças às lições de arte e ciênciaLidas nos livros, poderemos nósVer tudo com mais clara inteligência.Melhor ouvir da Natureza a voz.

Ao descansar das lides escolares,Demos ao corpo vida, agitação,Nos ativos desportos salutaresQue mais ágeis e fortes nos farão.

Rumo ao ar livre ! O corpo, ao sol e ao vento.Livre, ao ar livre, em luz solar se banha.Força é calor, calor é movimento !Ao campo, à mata, às praias, à montanha !

Seja o nosso repouso atividade.Nervos, músculos, sangue em plena ação,Por bem da inteligência ! Que, em verdade,Só há cérebro são em corpo são.

Nossa epiderme tinja-se de bronzeEm longos banhos matinais de sol.Rapazes, cada qual seja um dos onzeNuma adestrada equipe de "foot-ball".

Porque perfeita se mantenha a plástica,Meninas, buscai vós, por vossa vez,Na marcha, nos desportos, na ginásticaA linha pura, a hígida esbeltez.

Todos aproveitemos nossas fériasEm dar ao corpo eugênico valor;Mais rubro corra o sangue nas artériasGanhem com êle, os músculos, o vigor.

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I/Oi/ ALI...€ M VOLTO...^tótó (tkMw

(Entra com uma bolsa ou maleta,em trajo de viagem e falando parao interior): Esperem um pouco, queeu vou ali... e já volto. Sim... Nãodemorarei. (Ao público): Pois é...antigamente, quando alguém tinhade viajar, era como se embarcasse...para o outro mundo: fazia testa-mento, despedia-se dos parentes eamigos, e partia. .. Não havia certe-za de que voltaria, nem mesmo deque chegaria ao fim da viagem, quelevava meses e meses, em navios avela, a cavalo, em carros de boi, em"diligências", cadeirinhas, palan-quins e em outros que tais estranhosveículos.

Hoje, não: a gente entra no bojode um avião, as hélices roncam, e,quando se pensa estar em meio daviagem, está-se chegando ao fim.

E' comum tomar-se café no aero-porto Santos Dumont às 6 da ma-nhã, almoçar-se, ao meio dia, umvatapá na Bahia, (até parece ver-so, mas não é), jantar às 4 da tardeum "feijão de coco" em Pernambu-co e ao anoitecer já se está no Paráou no Amazonas, comendo "piram-cú com farinha dágua", ou bebendo

assai.Por isso é que, indo fazer uma des-

sas viagens, eu nunca digo adeus!...e sim até logo!... Eu vou ali e jávolto!

E volto mesmo, muito antes doque se pensa. Embora tenha ido aoestrangeiro não posso por lá me de-morar, porque a saudade do meuBrasil não o permite. Quem quisersaber o quanto ama o Brasil facauma viagem ao estrangeiro! Pormais belo que seja o país onde esti-ver, nâo lhe achará beleza alguma;por maior que seja o conforto que ti-ver, sempre lhe faltará qualquer coi-sa, e esta "coisa" é a beleza, são os"ares" da pátria querida !

Glória, pois, a Santos Dumont,que resolveu o problema da navega-ção aérea, em tão boa hora!. ..

E por falar em hora... (Consulta orelógio). Estou eu aqui a "bater pa-po", sem me lembrar que devo to-mar o avião para ir ali a Buenos Ai-res... Com licença... Até logo... Sequiserem esperar aí sentados, nãofaçam cerimônia, porque não me de-morarei... Vou ali... e... já volto!

(Sái).

^ TCUfM.L(Entra espirrando e depois diz):

T\ ESCOBRI que o espirro no mundo*/ Não somente da gripe é o sinal;Muita vez êle vem a propósitoNos livrar de um "engasgo" fatal.

Um amigo explicou-me o processoDe escapar de embaraços, assim:Quando sente que está "complicado".Ele espirra: Atchim! Atchim!...

E' processo seguro, sem falha,Que lhe presta serviços reais.Quando tem de falar, fica firme,°á um espirro e depois... nada mais.

Quando alguma pergunta difícil£ào permite resposta, por fim,Ele tira do bolso seu lençoE, já sabe: Atchim! Atchim!

Dá o espirro e depois vai saindoPra evitar a resposta pedida,Como quem vai comprar um remédio...K' bem boa e perfeita a saída!

Por achar o sistema idealAdotei-o também para mim.E é por isto que, às vezes, eu faço:Atchim! Atchim! Atchim!...

SETEMBRO — OUTUBRO DE 1959

Certa vez, ao fazer um exameEsqueci-me do "ponto" sorteadoE, por certo, porque não falava,Eu teria de ser reprovado.

Mas pensei no recurso do espirro,E o exame acabou foi assim:— Eu queria... falar, mas, gripado,Só consigo fazer... Atchim!...

Um sujeito, não tendo dinheiro,Quis comer, certa vez, sem pagar.Entrou num restaurante... chinêsE dispôs-se, com fome, a jantar.No momento de pagar a conta,Êle olha espantado pra o chim,Se levanta e se escapa, espirrando:Atchim! Atchim! Atchim!...Si quiserem também adotarO sistema que lhes ensinei,Podem já começar, sem demora,O processo é seguro, é de lei...

Pra mostrar que gostaram, de fato,Em lugar de umas palmas assim:

(Bate palmas)Fechem olhos e a boca escancaremA espirrar: Atchim! Atchim! | i /£)/

(Sai espirrando como entrou). -£%*?

2i

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w PERSONAGENS:^ SELÊNIO E STENIO

(Entram, como se estivessem con-tinuando uma palestra).

SELÊNIO: — (com um rolo depapel nas mãos):

Pois é, meu caro colega.

STENIO:No entanto, a vida na lua

E' caso bem discutido...

SELÊNIO:

Todos os "casos" já foramPerfeitamente estudados,E para enfrentá-los vamosPela ciência aparelhados.

STENIO:

Não duvido e, para isso,Você tem talento e gênio...

SELÊNIO: — (sorrindo)

Obrigado. Por exemplo:Vamos levar oxigênioEm balões, para, se houverQualquer coisa de anormal,Conseguirmos respirarDe maneira artificial.

STENIO:

E quanto à questão do frio ?...Dizem qiA^lã é um horror.

<r (

SELÊNIO:

Cada um de nós, para isso,Leva o seu aquecedor,Que funcionará com pilhas,Dando o calor necessárioPara mantermos a vidaNo ambiente planetário.

STENIO:

O sonho de Júlio Verne,Naquela "viagem à lua",Será, por fim, realizado...

SELÊNIO:

E' verdade nua e crua,Como já são, hoje em dia,Embarcações submarinas;A vida para os mineirosNa profundeza das minas;Do grande Santos DumontEstas duas invenções;Os "dirigiveis" no espaçoE os formidáveis aviões.

STENIO:

Graças também ao inventoDo prodigioso radarJá conseguimos à luaSinais de vida mandar.

SELÊNIO:

Estou aguardando agoraA resposta da mensagem

\S -xv " w-u*- is^f UA^S m

WanderleyPara, em seguida, empreenderA nossa esplêndida viagem.

(Desenrolando o papel e mostrando)

Eis aqui pronto o desenho,Para ser executado,Do possante avião-fogueteQue à lua será mandado,Numa viagem confortável,Repleto de passageiros...

STENIO:

Não há quem nesse passeioNão queira ser dos primeiros...

SELÊNIO:

Pois é, pra depois dizerAos seus amigos, na rua:

Estive — que maravilha ! —Em pleno "mundo da lua"..."

STENIO:

Eu também desejo muitoVer esse "mundo" encantado,Mas receio que, na volta,Me digam que estou... aluado...

SELÊNIO:

Não é preciso ir à lua...Basta apenas ter vontade,Pra nos chamarem malucos,Ou aluados de verdade...

(Saem rindo alegremente)

*^*?***&*#*¦%& Q.+ +26 O TICO-TICO

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rO PROFESSOR <k LÍNGUAS*%

CONCLUSÃO

POLI — Não conheço. Só se é o tupi-guaranl.VASCO :— Quais tupis, nem quais guaranás. Intupido

já ando eu com o falaire da gente cá da terra, que eu nãoentendo nem me entende a mim !

POLI — O senhor tem de "destroçar" as letras quetroca e falar como a gente fala.

LUCAS — Para isso tem de pagar vinte cruzeirosadiantadamente.

VASCO — Eu pago tudo. Contanto que possa falaireo raio desta língua vtasileira que eu não posso compre-endeire.

POLI — (Indo à mesa) — Como é seu nome?VASCO — Meu nome é Basco.LUCAS — Deve ser Vasco.VASCO — Não senhoire. _ Basco !POLI — Pois seja Vasco ou Basco, está matriculado.

Falta agora pagar.VASCO (Dando dinheiro) — Cá estão os binte cru-

zairos.. .LUCAS — Binte, não. Diga vinte.VASCO — Binte.LUCAS — (Mais alto) — Vinte !VASCO — (Idem) Binte !LUCAS — (Grita) Vinte!VASCO — (Grita) — Binte: . . Apois não estou a

dizeirc xerto?POLI — Está, sim. Ê assim mesmo!VASCO — Quando banho para a primeira lixáo?POLI — Quando quiser. Aqui é à vontade. Toda a

liberdade no ensino. . .LUCAS — A escola é livre.VASCO — Muito vem! Ca birei mais tarde. Passem

muito vem e muito ovrigado.POLI — Diga isso em brasileiro, assim: agradecido.VASCO — Pois bá lá. agradexido ! (Sai).LUCAS — Aquele nuncr- que aprende a falar bra-

sileiro.POLI — Não. Pode ser que com uma pequena prá-

tica de 80 ou 90 anos acabe dizendo alguma cousa que seentenda, em português.

SÓCRATES — (Entrando) — Com licença !POLI — Tem toda. Que deseja?SÓCRATES — Aprender grego.. .POLI — Hein'SÓCRATES — Aprender grego.LUCAS — Bonito ' .SÓCRATES — Bonito o que?LUCAS — O idioma. Ê pena que seja uma língua

morta.POLI — _ verdade. O senhor porque não escolhe

outra lingua?LUCAS — É sim. A lingua do Rio Grande por exem-

pio. .SÓCRATES — Língua do Rio Grande? Mas essa, di-

zem que é bòa com batatas. . .POLI — Não. Não o a língua dos bois do Rio Gran-

de, seca e defumada, não senhor t a língua falada nasfronteiras do Rio Grande, que é uma mistura de portu-guês e espanhol da Argentina...

SÓCRATES — Prefiro o grego. .POLI — Neste caso vou matriculá-lo. (Vai à mesa).

Como se chama?SÓCRATES — Sócrates.

POLI — É um nome bem grego. (Escreve).SÓCRATES — E quanto terei de pagar?

LUCAS — Vinte pratas por lição, adiantada-mente.

SÓCRATES — (Dando o dinheiro) — Aquiestá o dinl-siro.

POLI — Muito obrigado.SÓCRATES — Quando terei a primeira lição?POLI — À vontade. Quando quiser.. .SÓCRATES — Quero já.LUCAS — Bonito !. . .SÓCRATES — Já é a segunda vez que o se-

nhor diz: bonito !LUCAS — Digo porque acho.SÓCRATES — Acha o quê?LUCAS — Acho bonito o grego...POLI — Vamos à primeira lição: o afabeto gre-

go é multo interessante, porque suas duas primei-ras letras são estas: alfa e beta. Ninguém esquece.Da última, que é ómega, os relojoeiros fizeram umrelógio, e tem também o i grego, chamado ípslon,que é como uma pessoa sem cabeça e com os braçospara cima pedindo misericórdia. (Junta as pernas,¦põe a cabeça para trás e ergue os braços).

SÓCRATES — Muito bem.LUCAS — Parece uma forquilha.SÓCRATES — O quê? A lição?LUCAS — Não. O i grego ! O ipslon !HUGO, CARAMBA, BEPINO, WILLIAM e

VASCO (Entrando): — Vimos para a lição.. .POLI — Perfeitamente. Porém como está na

hora do almoço, eu os convido a todos para almo-çarem conosco. . .

TODOS — Oh!. . .LUCAS — Não façam cerimônias. ..POLI — (Ao Lucas) — Que é que temos para

o almoço?LUCAS — Língua do Rio Grande, com bata-

tas.POLI — Viram? Um almoço próprio de um

professor de línguas e seus discípulos.LUCAS — O senhor até devia se chamar Poli-

glota, em vez de Polidoro.POLIDORO — Pois Irei trocar de nome, depois

do almoço. Nossa primeira lição será à mesa, agra-dàvelmente, comendo. ..

LUCAS — Comendo lingua, cada um aprendea lingua que deseja.

TODOS — Bem lembrado IPOLI — Então, à mesa!TODOS — À mesa ! (Vão saindo).LUCAS — (Saindo) — Seis vezes vinte são

cento e vinte cruzeiros..Não é caro o almoço!. . . (Sai).

PANO

V, MAURÍCIO MAIA J

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