STAKEHOLDERS - Yara Tupynambá (Maio/Junho - 2014)

4
Yara Tupynambá Artista plástica STAKEHOLDERS Nascida em Montes Claros (MG), a artista plástica Yara Tupynambá conquistou o mundo com centenas de quadros e murais tendo sempre Minas Gerais como inspiração. A explicação para a escolha vem de Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. A multipremiada artista abriu as portas do seu ateliê em Belo Horizonte para a equipe da TSX News e fala nesta edição sobre a carreira. Publicação TRANSAEX | Venda Proibida Distribuição Dirigida Gláucia Rodrigues TSX NEWS

description

Yara Tupynambá - Artista Plástica de Minas Gerais

Transcript of STAKEHOLDERS - Yara Tupynambá (Maio/Junho - 2014)

Yara Tupynambá

Artista plástica

STAKEHOLDERSNascida em Montes Claros (MG), a artista plástica Yara Tupynambá conquistou o mundo com centenas de quadros e murais tendo sempre Minas Gerais como inspiração. A explicação para a escolha vem de Tolstói: “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”. A multipremiada artista abriu as portas do seu ateliê em Belo Horizonte para a equipe da TSX News e fala nesta edição sobre a carreira.

Publicação TRANSAEX | Venda ProibidaD i s t r i b u i ç ã o D i r i g i d a

Glá

ucia

Ro

drig

ues

TSXN E W S

TRANSAEX

Atenciosamente,Paulo Eduardo Pinto

DIRETOR CORPORATIVO

Ser artista exige muito mais do que ter apenas um dom. Refe-rência no assunto, a mineira Yara Tupynambá defende que é neces-sário ter muita persistência e muito trabalho, além da apropriação de um conceito e de uma boa capacidade de comunicação. Citando Tolstói, a artista plástica indica que qualquer artista que queira ser universal deve começar retratando a sua própria aldeia, ou seja, a sua cultura. Aqui, Yara fala ainda do trabalho sociocultural do seu instituto e de projetos em andamento. Tenha uma ótima leitura!

DEPOIMENTOS

“A comunicação tem de ser muito cuidadosa. Transparência e comunicação estão diretamente ligadas. Temos de ser proativos na comunicação, sejam as boas notícias quanto as não tão boas ou aquelas difíceis.”

Constantino Júnior - Presidente da GOL Linhas Aéreas –STAKEHOLDERS - Agosto 2011

“Caminhamos para a era da coletividade, da conectividade e do compartilhamento, e menos da individualidade. Tudo à nossa volta requer o nosso olhar individual,

mas com a força de todos. Tenho certeza de que quando entendemos o outro, percebemos nele um olhar que antes não tínhamos tempo de ver.”

Jöel Thrinidad – Autor do livro “Mente aberta & coração tranquilo”STAKEHOLDERS – Abril 2014

MATRiz: Rua Alagoas , 1000 - Conj 1001 Funcionários - Belo Horizonte / MG - 30130-160Tel: (31) 3232.4252 - www.transaex.com.br

PUBLICAÇÃO TRANSAEX • TSX NEWSJUNHO/2014| Venda Proibida

A TSX News é uma publicação da TRANSAEX Comércio internacional.Todos os direitos reservados. Os artigos assinados são de inteira respon-sabilidade dos autores e não representam a opinião do informativo ou da TRANSAEX. A reprodução de matérias e artigos somente será permitida se previamente autorizada, por escrito, pela equipe edito-rial, com créditos da fonte. Mais informações: www.tsxnews.com.br.

TSXNEWS

Div

ulg

ão

Eug

eni

o V

ieira

STAKEHOLDERS

• As obras da senhora normalmente são focadas em Minas Gerais. Essa inspiração em Minas surgiu de for-ma natural?

Vou te citar Tolstói: “Se queres ser univer-sal, começa por pintar a tua aldeia”. Qualquer artista para ser universal pre-cisa ter o pé em um chão, e o meu chão é Minas. Se você for analisar Pi-casso, a vida dele é em torno da Es-panha. O mesmo vale para a relação de Chagall com a Rússia e a ligação de Matisse com a França. Todo mun-do que tem a pretensão de ter uma linguagem mais autêntica, mais ver-dadeira, precisa partir da sua terra. A minha realidade é aqui. Não adianta alguém falar: “Está tendo um conflito na Síria, porque você não faz um qua-dro sobre o assunto?”. Não é a minha realidade. Eu seria mentirosa se fizesse alguma coisa sobre a Guerra na Síria, apesar de isso me tocar, de eu achar o conflito horrível. Minas é meu centro e é em torno dela que eu giro.

• E há algo em específico que lhe encanta no Estado?

Várias coisas, porque Minas são mui-tas. Pode ser uma Minas cultural, quando eu faço a mesa de Drum-mond ou as Liras de Tomás Antônio Gonzaga; pode ser uma Minas po-pular, quando faço o Catopê de Montes Claros ou a festa do Divino de Diamantina, ou ainda as cerâmicas do Jequitinhonha, mostrando mais o “povão” mesmo. E eu também pos-so fazer uma Ouro Preto lírica, posso ver uma Minas geográfica por meio das montanhas e das reservas eco-lógicas. Enfim, fico girando em torno de Minas Gerais. É claro, eu fui para Londres e trabalhei sobre o friso do Parthenon, porque aquilo era impor-tante para mim. Da mesma forma fui para Anchieta e falei sobre o mar. Quando eu saio e vivencio o lugar eu trabalho sobre isso. Mas eu tenho que ir para sentir e ter a capacidade de criar.

• A propósito, como a senhora tem vis-to as Artes Plásticas em Minas Gerais? O que tem sido destaque?

Minas tem uma produção muito re-levante. Nós tivemos duas gerações muito importantes por aqui: uma é a pri-meira geração Guignard com nomes como Petrônio Bax e Farnésio de An-drade. A segunda geração é aquela à qual eu pertenço, que também possui uma produção importante. Depois for-mamos uma terceira geração de alu-nos do Guignard, já dentro da universi-dade. E então apareceu uma geração independente, formada por inimá, Mar-quetti e Carlos Bracher, gente que surgiu com outras formações. Agora já temos mais uma nova geração. Em todas elas você tem grandes nomes.

Yara Tupynambá

Acesse o site da TSX NEWS:www. t sxne ws . com.br

3

“Qualquer artista para ser universal precisa ter o pé em um chão, e o meu chão é Minas. Se você for analisar Picasso, a vida dele é em torno da

Espanha. O mesmo vale para a relação de Chagall com a Rússia e a ligação de Matisse com a França. Todo mundo que tem a pretensão de ter uma

linguagem mais autêntica precisa partir da sua terra.”

Glá

ucia

Rod

rigue

s

4

• E o que a senhora acha da atuação dos governos estadual e municipal no que diz respeito ao ensino e à difusão das artes em Minas Gerais? O que de mais urgente precisa ser feito?

Falta em Minas uma boa política go-vernamental. Belo Horizonte, uma ci-dade desse tamanho, não tem um museu de arte mineira até hoje! Se você disser que nós temos um museu, eu vou dizer que tudo bem, que é um museu muito “engraçadinho”, mas do tamanho da minha sala e apenas com uma coleção de Parreiras. Se for assim eu também posso chamar a mi-nha casa de museu. Museu tem que ter espaço e ter coleções. Ali tem uma pequena coleção valiosa, importante, mas que não pode nem sair do lugar, porque uma obra do século 18 você não pode pôr um dia aqui e outro dia ali. Ela não pode ter essa mobilidade. Por isso eu estou liderando um mo-vimento e nós já até falamos com o pessoal da Secretaria de Cultura que é impossível que a situação continue do jeito que está. O que queremos não é um museu só de guarda, porque es-ses museus já não se usam há muito tempo. Queremos um museu vivo, que ofereça aulas, conferências, oficinas, enfim, um museu que tenha a capa-cidade de servir à população como catalisador e ao mesmo tempo como elemento educador.

• Quem acompanha o trabalho da senhora sabe que há mais de 25 anos o Instituto Yara Tupynambá in-veste em ações socioculturais no Es-tado. Fale um pouco sobre as con-quistas e os objetivos do instituto.

Eu sempre tive vontade de fazer al-gum trabalho social, mas eu não sei mexer com doente, nem com creche e esse tipo de coisa. Mas sei muito bem ensinar as pessoas a trabalhar. Eu gosto disso. E o instituto foi criado com

a finalidade de oferecer qualificação de mão de obra. Começamos com artesanato, área com a qual sempre estive muito ligada. Fazer colar, fazer escultura, fazer cerâmica e até cos-tura. Então a gente começou a ver que precisávamos treinar as pessoas em profissões específicas, e com isso ampliamos o leque com cursos para pedreiro, bombeiro, eletricista, calce-teiro e por aí vai. Eu sinto que devia retribuir ao mundo o que tive e por isso estamos preparando as pessoas para ter uma profissão. Mas não é fácil, eu preciso de ajuda para isso.

• Quem começa a trabalhar com arte costuma ouvir coisas do tipo: “Arrume um emprego de verdade porque essa coisa de arte não dá di-nheiro”. Para essas pessoas que têm talento para as artes, qual é o conse-lho que a senhora daria?

Qualquer produto de arte precisa de algumas coisas: primeiro, a persistência de quem faz, porque você toma “paula-da” de todo jeito; a segunda coisa é tra-balhar muito. Eu, por exemplo, trabalho uma média de dez horas por dia; a ter-ceira coisa é buscar uma base cultural, porque sem cultura você não desenvol-ve um conceito e um artista sem con-ceito não existe; por fim, tem que ser co-municativo, porque o mundo hoje não comporta mais os tímidos. Se a pessoa tiver todos esses quesitos e um pouco de sorte, 80% do caminho está resolvido.

• A senhora acabou de falar que tra-balha cerca de dez horas por dia. Exis-te algum novo projeto em andamento?

Existe sim. Eu sou professora de his-tória da arte e em minha carreira o que tem sido mais importante são os murais, especificamente os murais sobre Minas Gerais. Então listamos 15 murais meus sobre a história de Minas para que as pessoas, principalmente os estudantes, entendessem a evolu-

ção do mural. Eu conto desde o início com os homens primitivos, que mistu-ravam pigmentos terrosos e carvão moído com gordura animal e fixavam o material nas paredes. Passo pela arte bizantina, pelo afresco, pelo óleo, pelos azulejos e pela pintura em ma-deira, entre outros. Hoje há uma varie-dade muito grande de possibilidades e é mais ou menos isso que falo no livro. Ele está pronto, mas ainda não foi lançado.

• Diferentemente de outras artistas plásticas, a senhora sempre traba-lhou mais com murais do que com quadros. Existe um motivo especial?

O mural é interessante porque ele é de-mocrático, diferente de um quadro. O quadro é particular, fica nas casas e é visto por poucas pessoas. Já o mural, normalmente, fica em grandes espa-ços públicos e é visto por várias pessoas.

• Muito obrigado pela entrevista, Yara. Para finalizar, a senhora tem algum outro grande projeto em andamento além do livro sobre a história do mural?

Tenho sim. Eu tenho um amigo que é fotógrafo e planejador gráfico, o Sílvio Coutinho. Nós conseguimos aprovar recentemente a publicação de um livro que conta a história de Minas Ge-rais com base nos meus murais. É um grande projeto que já foi aprovado, embora o Ministério da Cultura ainda não tenha liberado todo o dinheiro que precisamos. A ideia é a seguinte: se fa-larmos de bandeirantes, vamos pegar as obras que mostram algum bandei-rante e usar como ilustração. O mesmo vale para exploração de diamantes, exploração de ouro, Tiradentes e tantos outros temas. O que queremos é pegar esse conjunto de coisas que já abordei e ilustrar as informações que o historia-dor vai trazer em forma de textos. Ele vai situar historicamente aquilo que eu conto plasticamente.

Stakeholders

DIbIAR Yara Tupynambá