Steno bredanensis) encalhado no Espírito Santo, Brasil · ocorrem desde a região nordeste até o...

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Ingestão de lixo plástico por golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis) encalhado no Espírito Santo, Brasil Ingestion of plastic debris by dolphin-tooth rough (Steno bredanensis) stranded in Espirito Santo, Brazil BHERING, R.C.C.¹; BARBOSA, L.A.¹; MAYORGA, L.F.S.P.¹; SILVEIRA, L.S.²; RANGEL, M.C.V.³; MARCHESI, M.D.³. 1) Organização Consciência Ambiental (Instituto ORCA), CEP 29101-315, Vila Velha, ES. 2) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), CEP 28013-600, Campos dos Goytacazes, RJ. 3) Centro Universitário Vila Velha (UVV), CEP 29102-770, Vila Velha, ES Contato: [email protected] Palavras-chave: Golfinho-de-dentes-rugosos, Steno bredanensis, ingestão de plástico, poluição marinha, encalhe. Keywords: Rough-toothed dolphin, Steno bredanensis, ingestion of plastic, marine pollution, stranding. Introdução O golfinho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis Lesson, 1828) tem sua distribuição em águas tropicais e subtropicais, raramente encontrado acima de 40º N e de 35º S, com aumento no número de avistagens nas proximi- dades do arquipélago do Havaí e na costa brasileira. São encontrados em águas oceânicas profundas e na borda da plataforma continental. No Brasil ocorrem desde a região nordeste até o estado do Rio Grande do Sul, alimentando-se de cefalópodes e peixes. Alguns exemplares costumam ser capturados vivos para exposição pública, mas a principal ameaça à espécie é a captura acidental em aparelhos de pesca (Jefferson, Leatherwood & Webber, 1993; Reis et al., 2006). Material e Métodos Em 05 de julho de 2009 o Instituto ORCA resgatou um golfinho da espécie Steno bredanensis, que encalhou vivo na praia de Irirí (20º50'01''S - 40º41'44''W), sul do Estado do Espírito Santo, apresentando impossibilidade de flutuação e natação. O animal - macho, adulto, medindo 217cm de com- primento - apresentava estado geral debilitado, distrófico, evidenciando contornos e protuberâncias ósseas, com esforço respiratório e movimentos incoordenados de cauda, além de pouca reação a estímulos. Apresentava também marcas de enredamento no rostro e lesões superficiais em pele e tecido subcutâneo, semelhantes às provocadas por pequenos peixes, tendo sido transferido para um tanque de água salgada com capacidade para 300 mil litros de água salgada e filtrada. Foi mantido parcialmente submerso, sustentado por padiola (Figura 1), onde permaneceu imóvel por cerca de 17 horas, vindo a óbito na manhã do dia 07 de julho sem que houvesse possibilidade de intervenção diagnóstica e terapêutica. Resultados e Discussão A carcaça foi necropsiada na Universidade Estadual do Norte Fluminense. Foi encontrado um saco plástico medindo 24,5 cm de comprimento e 14,5 cm de largura obstruindo totalmente o terço inicial do esôfago e um outro saco plástico com espessura mais fina, medindo 31,0 cm de comprimento e 8,0 cm de largura alojado na câmara principal do estômago, juntamente com inúmeros filamentos não digeridos de algas do gênero Sargassum (Figura 2). O animal teve como causa mortis inanição seguida de falência múltipla dos órgãos, decorrente da obstrução do trato digestório por corpo estranho. Resíduos plásticos têm assumido, cada vez mais, um papel impor- tante na poluição marinha e podem ser considerados de grande impacto ambiental. Quantidades consideráveis de resíduos plásticos podem ser en- contrados neste ecossistema e milhões de toneladas são jogadas no oceano a cada ano, ameaçando a biodiversidade marinha (Derraik, 2002; Gregory, 2009). Referências Bibliográficas Derraik, J. G. B. 2002. The pollution of the marine environment by plastic debris: a review. Marine Pollution Bulletin, 44: 842-852. Gregory, M. R. 2009. Environmental implications of plastic debris in marine settings-entanglement, ingestion, smothering, hangers-on, hitch-hiking and alien invasions. Phil. Trans. R. Soc. Jefferson, T.A.; Leatherwood, S.; Webber, M.A. 1993. Marine mammals of the world. Rome: FAO, p. 65. Reis, N.R. et al. 2006. Mamíferos do Brasil. Londrina, 437p. Figura 1: Golfinho da espécie Steno bredanensis, parcialmente suspenso, sustentado por padiola. Figura 2: Filamentos não digeridos de algas do gênero Sargassum e sacos plásticos encontrados obstru- indo totalmente o terço inicial do esôfago e alojados na câmara principal do estômago do Steno bredanen- sis após a necropsia.

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Ingestão de lixo plástico por gol�nho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis) encalhado no Espírito Santo, Brasil

Ingestion of plastic debris by dolphin-tooth rough (Steno bredanensis) stranded in Espirito Santo, Brazil

BHERING, R.C.C.¹; BARBOSA, L.A.¹; MAYORGA, L.F.S.P.¹; SILVEIRA, L.S.²; RANGEL, M.C.V.³; MARCHESI, M.D.³.

1) Organização Consciência Ambiental (Instituto ORCA), CEP 29101-315, Vila Velha, ES.2) Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), CEP 28013-600, Campos dos Goytacazes, RJ.3) Centro Universitário Vila Velha (UVV), CEP 29102-770, Vila Velha, ESContato: [email protected]

Palavras-chave: Gol�nho-de-dentes-rugosos, Steno bredanensis, ingestão de plástico, poluição marinha, encalhe.Keywords: Rough-toothed dolphin, Steno bredanensis, ingestion of plastic, marine pollution, stranding.

IntroduçãoO gol�nho-de-dentes-rugosos (Steno bredanensis Lesson, 1828) tem sua distribuição em águas tropicais e subtropicais, raramente encontrado acima de 40º N e de 35º S, com aumento no número de avistagens nas proximi-dades do arquipélago do Havaí e na costa brasileira. São encontrados em águas oceânicas profundas e na borda da plataforma continental. No Brasil ocorrem desde a região nordeste até o estado do Rio Grande do Sul, alimentando-se de cefalópodes e peixes. Alguns exemplares costumam ser capturados vivos para exposição pública, mas a principal ameaça à espécie é a captura acidental em aparelhos de pesca (Je�erson, Leatherwood & Webber, 1993; Reis et al., 2006).

Material e MétodosEm 05 de julho de 2009 o Instituto ORCA resgatou um gol�nho da espécie Steno bredanensis, que encalhou vivo na praia de Irirí (20º50'01''S - 40º41'44''W), sul do Estado do Espírito Santo, apresentando impossibilidade de �utuação e natação. O animal - macho, adulto, medindo 217cm de com-primento - apresentava estado geral debilitado, distró�co, evidenciando contornos e protuberâncias ósseas, com esforço respiratório e movimentos incoordenados de cauda, além de pouca reação a estímulos. Apresentava também marcas de enredamento no rostro e lesões super�ciais em pele e tecido subcutâneo, semelhantes às provocadas por pequenos peixes, tendo sido transferido para um tanque de água salgada com capacidade para 300 mil litros de água salgada e �ltrada. Foi mantido parcialmente submerso, sustentado por padiola (Figura 1), onde permaneceu imóvel por cerca de 17 horas, vindo a óbito na manhã do dia 07 de julho sem que houvesse possibilidade de intervenção diagnóstica e terapêutica.

Resultados e DiscussãoA carcaça foi necropsiada na Universidade Estadual do Norte Fluminense. Foi encontrado um saco plástico medindo 24,5 cm de comprimento e 14,5 cm de largura obstruindo totalmente o terço inicial do esôfago e um outro saco plástico com espessura mais �na, medindo 31,0 cm de comprimento e 8,0 cm de largura alojado na câmara principal do estômago, juntamente com inúmeros �lamentos não digeridos de algas do gênero Sargassum (Figura 2). O animal teve como causa mortis inanição seguida de falência múltipla dos órgãos, decorrente da obstrução do trato digestório por corpo estranho. Resíduos plásticos têm assumido, cada vez mais, um papel impor-tante na poluição marinha e podem ser considerados de grande impacto ambiental. Quantidades consideráveis de resíduos plásticos podem ser en-contrados neste ecossistema e milhões de toneladas são jogadas no oceano a cada ano, ameaçando a biodiversidade marinha (Derraik, 2002; Gregory, 2009).

Referências Bibliográ�casDerraik, J. G. B. 2002. The pollution of the marine environment by plastic debris: a review. Marine Pollution Bulletin, 44: 842-852.Gregory, M. R. 2009. Environmental implications of plastic debris in marine settings-entanglement, ingestion, smothering, hangers-on, hitch-hiking and alien invasions. Phil. Trans. R. Soc. Je�erson, T.A.; Leatherwood, S.; Webber, M.A. 1993. Marine mammals of the world. Rome: FAO, p. 65.Reis, N.R. et al. 2006. Mamíferos do Brasil. Londrina, 437p.

Figura 1: Gol�nho da espécie Steno bredanensis, parcialmente suspenso, sustentado por padiola.

Figura 2: Filamentos não digeridos de algas do gênero Sargassum e sacos plásticos encontrados obstru-indo totalmente o terço inicial do esôfago e alojados na câmara principal do estômago do Steno bredanen-

sis após a necropsia.