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SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E

SEUS EFEITOS

Eixo Políticas e Fundamentos

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APRESENTAÇÃO

Neste módulo, apresentamos uma definição para substâncias psicoativas (drogas), focalizando

naquelas que são mais utilizadas. Buscamos, ainda, caracterizá-las conforme as ações que

exercem no organismo humano. Ofereceremos, com isso, elementos de estudo para que você

reflita acerca dos problemas e dos fatores envolvidos no consumo dessas substâncias.

Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a Licença

Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional. Podem estar

disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em

http://aberta.senad.gov.br/.

AUTORIA

Dartiu Xavier da Silveira

http://lattes.cnpq.br/0876669702022083

Graduado em Medicina, mestre e doutor em Psiquiatria e Psicologia

Médica pela Universidade Federal de São Paulo. Atualmente é médico

psiquiatra, professor livre-docente do Departamento de Psiquiatria da

Universidade Federal de São Paulo, coordenador do Programa de

Orientação e Atendimento a Dependentes, da Escola Paulista de

Medicina, e consultor do Ministério da Saúde. Tem experiência na área

de Medicina com ênfase em Psiquiatria, Psicologia e Neurociências.

Evelyn Borges Doering-Silveira

http://lattes.cnpq.br/1198226612145620

Graduada em Psicologia pelas Faculdades Metropolitanas Unidas e

mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo.

Fundadora do setor de Neuropsicologia do Programa de Orientação e

Atendimento a Dependentes (PROAD) da Escola Paulista de Medicina.

Atualmente é psicóloga da Universidade Federal de São Paulo. Tem

experiência na área de Psicologia com ênfase em Neuropsicologia.

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

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SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

 

SITUAÇÃO PROBLEMATIZADORA

Figura 1: Propaganda anunciando pastilhas para problemas bucais feitas com cocaína. Fonte: Portal História da Farmácia

(2015).

Podemos ver, na figura 1, uma propaganda antiga (de 1885) que retrata a utilização da cocaína

como um remédio analgésico. No século XIX, a droga ainda era vendida livremente nas

drogarias e era uma solução para as pessoas com dependência de álcool e morfina. No Brasil, o

uso da cocaína foi vetado apenas em 1921, após a implementação mundial do tratado assinado

na Convenção Internacional do Ópio, realizada na Holanda em 1912. Processos semelhantes

ocorreram em diferentes países e com outras drogas, a exemplo da heroína. Mais recentemente,

no entanto, temos acompanhado um movimento inverso ocorrendo com a maconha, que vem

sendo legalizada em alguns países para uso recreativo, medicinal e/ou em pesquisas científicas.

Essas considerações nos levam ao questionamento: por que será que, na época da propaganda

exemplificada anteriormente, o uso da cocaína para fins medicinais era permitido e hoje não é

mais? Procure refletir sobre o que pode ter provocado essas mudanças, pensando nos aspectos

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que levam as diferentes sociedades a considerar uma substância lícita ou ilícita, em um

determinado momento histórico.

O conteúdo a seguir permitirá que você reflita um pouco mais sobre essas e outras questões e

poderá auxiliá-lo no entendimento sobre o que é droga e as diferenças e particularidades de

determinadas substâncias.

 

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

 

CLASSIFICAÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

O QUE SÃO DROGAS?

De maneira generalizada, as drogas consideradas substâncias psicoativas são aquelas utilizadas

para produzir alterações nas sensações, no grau de consciência ou no estado emocional, de

forma intencional ou não.

As alterações causadas por essas substâncias variam de acordo com as características da

pessoa que as usa, de qual droga é utilizada, em que quantidade, do efeito que se espera e das

circunstâncias em que ela é consumida.

Em nossa sociedade, apenas poucas substâncias extremamente perigosas são consideradas

drogas.

Com frequência, consideramos drogas os produtos ilegais, como a maconha, a cocaína e o

crack; porém, do ponto de vista da saúde, muitas substâncias legalizadas podem ser

igualmente perigosas, como o álcool, por exemplo.

De acordo com o critério de legalidade, podemos identificar dois grandes grupos de drogas: as

lícitas e as ilícitas.

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Figura 2: Exemplos de drogas permitidas e de drogas proibidas pela lei no Brasil. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

Podemos dizer que existe grande grau de imprecisão na utilização de alguns termos que se

referem às drogas. A palavra tóxico, por exemplo, refere-se à toxicidade de alguma substância;

porém, uma mesma substância psicoativa pode ser considerada um medicamento quando

utilizada em baixa dosagem. Já o termo narcótico, adotado na língua inglesa, refere-se a alguns

subtipos de substâncias psicoativas, mas podem, também, referir-se tanto a medicamentos

quanto a drogas de abuso; por fim, a terminologia psicotrópico é excessivamente genérica, pois

se referem apenas às substâncias que exercem ação no cérebro.

QUE TIPOS DE DROGAS EXISTEM E QUE EFEITOS ELAS PROVOCAM?

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 QUE TIPOS DE DROGAS EXISTEM E QUE EFEITOS ELAS PROVOCAM?

As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo, por essa razão, denominadas

psicoativas. Basicamente, elas são de três tipos, os quais particularizamos a seguir.

Drogas depressoras

São drogas que diminuem a atividade mental. Tais drogas afetam o cérebro, fazendo com que

ele funcione de forma mais lenta. Elas diminuem a atenção, a concentração, a tensão emocional

e a capacidade intelectual. Exemplos: ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes (cola) e

narcóticos (morfina, heroína).

Drogas estimulantes

São drogas que aumentam a atividade mental. Essas substâncias afetam o cérebro, fazendo

com que ele funcione de forma mais acelerada. Exemplos: cafeína, tabaco, anfetaminas, cocaína

e crack. As anfetaminas, assim como os outros estimulantes, costumam ser utilizadas para se

obter um estado de euforia, a fim de se manter acordado por longos períodos de tempo ou para

diminuir o apetite. Podem ser utilizadas, ainda, como medicação para déficit de atenção e

doenças neurológicas.

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Drogas alucinógenas (ou psicodislépticas)

Drogas que alteram a percepção são chamadas de substâncias alucinógenas (ou

psicodislépticas). Exemplos: LSD, ecstasy, maconha e outras substâncias derivadas de plantas

ou cogumelos (ayahuasca, ibogaína, sálvia, mescalina, psilocibina etc.).

 

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Saiba Mais

Você sabia que muitas dessas substâncias psicodislépticas são utilizadas em rituais

religiosos (sendo, por isso, denominadas substâncias enteógenas)? Os usuários

acreditam que isso facilita o contato com a dimensão religiosa. Há, também, a

utilização dessas substâncias em outros contextos, como o recreativo. Cabe, no

entanto, lembrar que, embora essas drogas possam ser prejudiciais, ao serem

utilizadas por pessoas com sofrimento psíquico grave, elas raramente causam

dependência. Diversas pesquisas científicas têm, inclusive, identificado potencial

terapêutico dos psicodisplépticos para muitas doenças.

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

 

OS EFEITOS DE UMA DROGA SÃO OS MESMOS PARA QUALQUER PESSOA?

 

 

Não, os efeitos de uma droga dependem basicamente de três fatores: contexto, drogas, sujeito.

Cada tipo de droga, com suas características químicas, tende a produzir efeitos diferentes no

organismo. A forma como uma substância é utilizada, a quantidade consumida e o seu grau de

pureza também influenciam no efeito.

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Figura 3: Ilustração das três dimensões que interferem no fenômeno do uso de drogas. Ao se desconsiderar alguma delas, o

tripé perde sua sustentação. Fonte: NUTE-UFSC (2015).

 

Cada usuário, com suas características biológicas (físicas) e psicológicas, tende a

apresentar reações diversas sob a ação de drogas. São extremamente importantes o

estado emocional do usuário e suas expectativas com relação à droga no momento do

uso. O ambiente também influencia o tipo de reação que a droga pode produzir. Dessa

maneira, o local, as pessoas e o contexto no qual o uso acontece podem interferir nos

efeitos causados.

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Por exemplo, uma pessoa ansiosa (sujeito) que consome grande quantidade de maconha

(droga) em um lugar público (contexto) poderá ter grande chance de se sentir perseguida

(“paranoia”). Por outro lado, um sujeito que consome maconha quando está tranquilamente

em sua casa, na companhia de amigos, terá menor probabilidade de apresentar reações

desagradáveis.

Figura 4: O contexto em que a droga é consumida pode alterar seus efeitos no sujeito. Fonte: NUTE-UFSC (2015).

Ao falarmos sobre drogas, diversos questionamentos surgem em nossa mente, e muitos mitos e

tabus acabam por conduzir a discussão, principalmente em relação aos efeitos químicos e à

dependência. É importante ressaltar que nós temos acesso a muitas informações sobre esse

assunto (veiculadas pela mídia ou disponíveis na internet), mas é essencial prestar atenção nas

origens dessas informações, buscando ativar nossos conhecimentos e vivências a fim de

compreendermos a questão sem nos deixar levar por notícias e opiniões não fundamentadas.

Vamos falar mais sobre as questões que envolvem o uso de drogas? Acompanhe nosso bate-

volta sobre drogas e suas classificações!

BATE-VOLTA: ASPECTOS REFERENTES À CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

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 BATE-VOLTA: ASPECTOS REFERENTES À CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

Existem drogas leves e drogas pesadas?

Rigorosamente, não deveríamos falar em drogas leves e pesadas, mas em uso leve e uso pesado

de drogas. Podemos explicar isso a partir do álcool. Existem sujeitos que são dependentes do

álcool, por isso nunca conseguem beber moderadamente, e existem outros que utilizam o

álcool ocasionalmente e que jamais se tornarão dependentes. Para os sujeitos dependentes, o

álcool é uma droga extremamente perigosa (droga pesada), enquanto para os outros sujeitos, é

um produto relativamente inofensivo (droga leve).

As drogas proibidas são mais perigosas?

Do ponto de vista da lei, não há diferença entre drogas leves e pesadas, apenas entre drogas

legais e ilegais (lícitas e ilícitas). Fumar maconha ou injetar cocaína, por exemplo, são atitudes

que infringem igualmente a lei. Na prática, porém, o uso de maconha raramente chega a ter as

mesmas consequências à saúde como se observa com o uso de cocaína. Além disso, sabemos

que os riscos relacionados ao consumo de drogas dependem mais da maneira e das

circunstâncias em que elas são utilizadas do que do tipo de droga em questão. Mesmo para os

dependentes, os riscos parecem estar mais relacionados ao grau de dependência do que ao tipo

de droga ou ao fato de ela ser lícita ou ilícita. Por exemplo, a morfina – substância legalizada

cujos efeitos são muito semelhantes aos da heroína – costuma ser frequentemente utilizada

sem que, necessariamente, seus usuários se tornem dependentes dela (como no caso do seu

uso medicinal).

Existem drogas seguras e inofensivas que não causam nenhum problema?

As drogas consideradas leves, como a maconha ou os calmantes, também podem causar danos

para algumas pessoas. Tudo depende de quem as utiliza e da maneira como a droga é

consumida.

As substâncias ilegais são mais perigosas do que as legalizadas?

Nem sempre isso acontece. Assim como já discutimos anteriormente, os perigos relacionados

ao uso de drogas dependem de diversos fatores: qual droga é utilizada, em quais condições se

estabelece o seu uso e quem a utiliza. O fato, portanto, de uma substância ser legal ou ilegal não

tem uma relação direta com o risco que ela oferece. Tendemos  a achar que substâncias como o

álcool, por serem legalizadas, não são tão problemáticas e prejudiciais quanto as drogas ilegais,

o que é um engano. Assim, observamos que, em nossa cultura, somos muito tolerantes em

relação às drogas legalizadas (álcool, medicamentos, tabaco, entre outras).

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Saiba Mais

Para uma compreensão mais ampla sobre esse tema, acesse o módulo A história e os

contextos socioculturais (http://www.aberta.senad.gov.br/modulos/capa/a-

historia-e-os-contextos-socioculturais).

Outro fator que influencia, de forma considerável, os riscos e prejuízos relacionados ao

consumo de drogas é a (im)pureza do que está sendo consumido. Dentro do contexto

proibicionista, as substâncias ilícitas são frequentemente adulteradas pela adição de vários

produtos que podem oferecer mais riscos à saúde do que a droga em si. 

Saiba Mais

O proibicionismo parte do entendimento de que certos produtos e substâncias devem

ter seu consumo, utilização, comércio e produção proibidos pelo Estado. Esse é o

contexto de diversos países, inclusive o do Brasil.

No caso da cocaína, o produto oferecido aos usuários pode conter pó de giz, cimento, cal,

querosene (como no caso do óxi, entre outros produtos). Na época da Lei Seca Americana, em

que o álcool era proibido, estima-se que milhares de usuários tenham ficado cegos por

consumir álcool adulterado (álcool metílico usado como produto de limpeza, por exemplo).

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Saiba mais

Acesse o seguinte site

(https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/dependencia-

quimica/crack-chama-a-atencao-para-dependencia-quimica/oxi-e-uma-

variacao-de-pior-qualidade.aspx) para saber mais informações sobre o óxi.

Saiba Mais

A Lei Seca, ao contrário do que muitos pensam, não é uma medida nova. O projeto que

sugeria a completa proibição de bebidas alcoólicas foi apresentado à Câmara dos

Representantes dos EUA em 1917. Ficou curioso para saber mais sobre isso? Então,

acesse o site (http://www.dw.com/pt/1917-apresentado-o-projeto-da-lei-seca-nos-

eua/a-319341).

As drogas naturais são menos perigosas do que as drogas químicas?

Contrariamente ao que se fala, um produto de origem natural nem sempre oferece menos risco

do que um produto sintético. Substâncias obtidas a partir de plantas, como a cocaína, podem

ser tão ou até mesmo mais perigosas do que as drogas produzidas em laboratórios, como o

LSD.

Existem maneiras menos prejudiciais de consumir drogas?

Embora o uso de qualquer substância psicoativa possa oferecer algum risco em potencial,

existem maneiras menos prejudiciais de se consumir drogas. Tomamos como exemplo a

cocaína. No caso dessa substância, podemos dizer que há, na região dos Andes, o hábito secular

de mascar folhas de coca. Esse hábito não leva a consequências danosas ou à dependência.

Notemos, porém, que o pó de cocaína (cloridrato de cocaína), usado de forma aspirada,

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representa um risco consideravelmente maior. Se esse mesmo pó for diluído e injetado nas

veias, sua toxicidade aumenta ainda mais. Fumar crack (cristais de cocaína), por exemplo,

chega a ser tão perigoso quanto usar a cocaína injetável. Isso se deve, basicamente, à grande

quantidade da substância que atinge o organismo quando a droga é fumada ou injetada.

Saiba Mais

O princípio ativo, isto é, a substância química que produz os efeitos no organismo, é o

mesmo no caso dos dois exemplos apresentados, a cocaína e o crack. O que torna a

droga mais ou menos perigosa é a maior quantidade do princípio ativo agindo no

organismo.

Saiba Mais

Nesses exemplos, o princípio ativo (a substância química que produz os efeitos no

organismo) é o mesmo em todos os casos. O que torna a droga mais ou menos perigosa

é a maior quantidade do princípio ativo agindo no organismo.

 

Nesses exemplos, o princípio ativo (a substância química que produz os efeitos no

organismo) é o mesmo em todos os casos. O que torna a droga mais ou menos perigosa

é a quantidade maior do princípio ativo que vai agir sobre o organismo.

As classificações das substâncias psicoativas refletem os riscos relacionados ao consumo?

Frequentemente, as classificações das substâncias psicoativas não refletem os riscos

relacionados ao consumo.

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Em 2010, foi publicado na Lancet, revista médica de maior prestígio no mundo, um artigo de

David Nutt, professor de neuropsicofarmacologia no Imperial College, em Londres. O artigo

tematiza uma pesquisa desenvolvida por um grupo de cientistas que buscou avaliar os riscos

relacionados ao uso de diferentes drogas, lícitas e ilícitas. O estudo, disponível na internet,

classifica vinte drogas segundo o potencial de dano que cada uma possa causar. Utilizando uma

abordagem que leva em conta múltiplos critérios, o estudo define que, em uma escala de zero a

cem, os danos causados pelo álcool chegam a 72; pela heroína, 55; pelo crack, 54; pela cocaína,

27; pelo tabaco, 26; pela maconha, 20; pelo ecstasy, 9; e pelo LSD, 7. Os critérios de classificação

das drogas foram avaliados conforme os danos causados tanto ao próprio usuário (exemplo:

um câncer de pulmão provocado pelo cigarro) quanto aos outros sujeitos (exemplo: causar

acidentes por dirigir embriagado), por meio de uma análise multidimensional, que engloba

fatores biológicos, psicológicos e sociais.

Veja na Figura 5 um gráfico com esses dados.

 

Saiba mais

Esse estudo está disponível apenas em inglês.  Clique para acessá-lo

(http://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(10)61462-6.pdf).

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Figura 5: Dados comparativos entre diferentes tipos de drogas e seus danos aos usuários (cor clara) e a terceiros (cor

escura).

Fonte: Nutt, Leslie e King (2010), adaptado por NUTE-UFSC (2016).

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

 

EFEITOS E QUADROS CLÍNICOS DAS SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

Assim como destacamos no decorrer deste módulo, os efeitos produzidos pelo uso de uma

substância psicoativa dependem de diversos fatores: tipo e quantidade da substância utilizada;

via de utilização da substância; características biopsicológicas do usuário e condições

ambientais em que se dá o uso. Como diretrizes gerais, listamos apenas os efeitos que mais se

associam à utilização de algumas substâncias psicoativas, assim como os quadros clínicos mais

frequentemente observados.

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Figura 6: Efeitos e problemas associados ao uso de substâncias depressoras: álcool, solventes, ópio, barbitúricos,

benzodiazepínicos. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

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Figura 7: Efeitos e problemas associados ao uso das substâncias estimulantes: cocaína e anfetaminas. Fonte: NUTE-UFSC

(2016).

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Figura 8: Efeitos e problemas associados ao uso das substâncias perturbadoras: anticolinérgicos, canabinóides e

alucinógenos. Fonte: NUTE-UFSC (2016).

SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS E SEUS EFEITOS

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Síntese Reflexiva

Neste módulo, apresentamos a definição de droga e a sua classificação. Mostramos,

também, que não é adequado falar em drogas pesadas ou leves, mas em uso

pesado ou leve. Além disso, destacamos que as substâncias ilícitas não são,

necessariamente, mais perigosas do que as lícitas e que os efeitos dos usos de

drogas, apesar de semelhantes, podem variar entre as pessoas, pois eles estão

relacionados a distintos fatores.

A seguir, apresentamos um caso clínico de uma Unidade Básica de Saúde que

demonstra esses diferentes fatores.

_____                                                                                                         

Paciente C. P. R, 25 anos, sexo masculino, residente em São Paulo - SP, usuário

habitual de maconha há 7 anos, procedente da emergência.

Histórico do paciente: paciente relata que usa substância em situações

específicas, como em momentos de tempo livre e relaxamento, bem como em

ocasiões sociais, tais como comemorações, jantares e encontros.

Principal queixa: paciente fez uso da substância em uma situação atípica – isto

é, em um momento de estresse e irritação – e percebeu sinais de inquietude,

desconforto, angústia e paranoia.

_____                                                                                                         

Após o episódio descrito acima, o paciente C. P. R. continuou fazendo uso da

maconha em momentos de relaxamento e descontração e não apresentou mais

nenhum dos sintomas relatados. Com base no que foi discutido neste módulo e a

partir do caso acima relatado, procure refletir sobre os fatores que estão envolvidos

no desconforto sentido por C.P.R.. Como podemos pensar a relação entre esse

contexto de uso da droga e os efeitos da substância?

REFERÊNCIAS

Textos

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SILVEIRA, D. X.; DOERING-SILVEIRA, E. Um guia para a família. Brasília: SENAD, 1999.

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