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Sumário Literatura ............................................................................................................................... 2

As Funções da Literatura.................................................................................................... 2

Os Gêneros Literários ......................................................................................................... 4

Gênero Lírico .................................................................................................................... 5

Gênero Narrativo ou Épico ............................................................................................. 5

Gênero Dramático ............................................................................................................ 7

A Literatura Informativa ...................................................................................................... 8

Barroco ................................................................................................................................18

Arcadismo ...........................................................................................................................30

Poesia épica .......................................................................................................................38

Romantismo ........................................................................................................................45

A Poesia Romântica ..........................................................................................................51

A Prosa Romântica ............................................................................................................69

Gabarito ...............................................................................................................................89

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ETAPA 1

Literatura

O termo ―Literatura‖ vem do Latim ―litteris‖, que significa

letras. Podemos dizer, então, que Literatura é o conjunto de

saberes envolvidos na produção escrita de uma época ou de

um país. É a Arte da Linguagem.

A preocupação com a estética é o principal elemento

que diferencia um texto literário de um não literário. Por

exemplo: o texto científico utiliza as palavras com sentido

objetivo e conciso, tal e qual elas se encontram no

dicionário, enquanto que o texto artístico utiliza metáforas e

figuras de linguagem para provocar reações emocionais nos

receptores.

Estátua de uma amazona.

Obra do escultor grego

Crésilas, séc. V – IV a.C.

Na arte grega, a beleza se

manifesta na harmonia e

na proporção ideal das

formas.

As Funções da Literatura

A Literatura, assim como qualquer outra arte, possui seus valores próprios;

não precisa, para se legitimar, colocar-se a serviço da moral ou da filosofia,

embora, até meados do século XVIII, fosse atribuída a ela uma finalidade

pedagógico-moralista.

Todo esse peculiar uso da linguagem e estruturação do texto constitui mais

do que uma simples técnica; vem a ser uma verdadeira arte, cujas funções são:

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Diversão: o universo imaginário encanta e amplia nossa visão, fazendo-nos

enxergar novas cores, novas ideias, novas

aventuras. É um voo ousado que só pode ser

feito por meio da imaginação;

Ensinamento: passar conhecimento,

instruir, educar. Embora essa não seja a sua

principal função, a Literatura oportuniza o

aprendizado da História, da Cultura, das Artes,

enfim, é uma relação interdisciplinar na qual se

aprende de forma prazerosa.

Estética: Literatura é arte e beleza,

portanto, existe para ser admirada;

Político-social: após a leitura de uma obra

temos a oportunidade de refletir e expressar

opinião sobre ela. A nossa visão de mundo

interage com a visão de mundo do autor;

Catártica: libera sentimentos por meio da

leitura. Quantas vezes o envolvimento com a

obra é tão singular que enxergamos a cena,

sofremos e nos alegramos junto com os personagens, ou melhor, vivemos com os

personagens. Esse envolvimento é próprio da leitura. Só ela proporciona e

desperta a capacidade de enxergar algo especial que está além das letras.

A literatura não tem o poder

de modificar a realidade,

como reconhece Saramago,

mas certamente é capaz de

fazer com que as pessoas

reavaliem a própria vida e

mudem de comportamento.

Se esse efeito é alcançado, o

texto literário desempenha

um grande papel

transformador, ainda que de

modo indireto.

http://goo.gl/M2Ppfo

José Saramago, escritor

português, prêmio Nobel de

Literatura – 1998.

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Os Gêneros Literários

Quanto aos gêneros, iniciamos com a classificação dos textos, que se

dividem em literários e não-literários.

Texto literário – possui linguagem subjetiva e conotativa ou figurada.

O escritor preocupa-se em impressionar, envolver e emocionar o leitor,

combinando palavras de forma especial.

Texto não-literário – possui linguagem objetiva e denotativa. O

escritor apresenta uma informação, podendo dissertar e/ou argumentar sobre ela.

Na história, houve várias classificações de gêneros literários, de modo que

não se pode determinar uma categorização de todas as ob ras seguindo uma

abordagem comum. A divisão clássica é, desde a Antiguidade, em três grupos:

narrativo ou épico, lírico e dramático. Essa divisão partiu dos filósofos da Grécia

antiga, Platão e Aristóteles,

quando iniciaram estudos para o

questionamento daquilo que

representaria o literário e como

essa representação seria

produzida. Essas três

classificações básicas fixadas

pela tradição englobam inúmeras

categorias menores, comumente

denominadas subgêneros e

podem ser feitas de acordo com

critérios semânticos, sintáticos,

fonológicos, formais, contextuais

e outros.

Esta ilustração do Renoir revela o erotismo presente na

produção artística no fim do século XIX. Na literatura

Brasileira, temos como exemplo o poeta Olavo Bilac.

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Gênero Lírico

O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em versos e explora a

musicalidade das palavras. É importante ressaltar que o gênero lírico trabalha

bastante com as emoções, explorando os sentimentos. Entretanto, os outros dois

gêneros — o narrativo e o dramático — também podem ser escritos nessa forma,

embora modernamente prefira-se a prosa.

Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo

espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-ficcionais ou ficcionais.

Os não-ficcionais baseiam-se na realidade, e os ficcionais inventam um mundo,

onde os acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no enredo

da história.

Gênero Narrativo ou Épico

O texto épico relata fatos históricos realizados

pelos seres humanos no passado. Possuem um

enredo, sendo ele imaginário ou não, situado em

tempo e lugar determinados, envolvendo uma ou

mais personagens.

As narrativas utilizam-se de diferentes

linguagens: a verbal (oral ou escrita), a visual (por

meio da imagem), a gestual (por meio de gestos),

além de outras.

Quanto à estrutura, ao conteúdo e à extensão,

pode-se classificar as obras narrativas em romances,

contos, novelas, poemas épicos, crônicas, fábulas e

ensaios. Quanto à temática, as narrativas podem ser histórias policiais, de amor,

de ficção, etc.

Vaso com cena da

“Odisseia”, Homero, século

VIII a.C.

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Todo texto que traz foco narrativo, enredo, personagens, tempo e espaço,

conflito, clímax e desfecho é classificado como narrativo.

Classificação:

Romance: texto que apresenta tempo, espaço e personagens bem

definidos de caráter verossímil.

Fábula: texto de caráter fantástico que busca ser inverossímil (não tem

semelhança com a realidade). As personagens principais são animais ou objetos,

e a finalidade é transmitir alguma lição de moral.

Epopeia ou Épico: é uma narrativa feita em versos, num longo poema que

ressalta os feitos de um herói ou as aventuras de um povo. Três belos exemplos

são ―Os Lusíadas‖, de Luís de Camões, ―Ilíada‖ e ―Odisseia‖, de Homero.

Novela: é um texto caracterizado por ser intermediário entre a longevidade

do romance e a brevidade do conto. O personagem se caracteriza

existencialmente em poucas situações. Como exemplos de novelas, podem ser

citadas as obras ―O Alienista‖, de Machado de Assis, e ―A Metamorfose‖, de Kafka.

Conto: é um texto narrativo breve e de ficção, geralmente em prosa, que

conta situações rotineiras, anedotas e até folclores (conto popular). Caracteriza -se

por personagens previamente retratados. Inicialmente, fazia parte da literatura oral

e Boccaccio foi o primeiro a reproduzi-lo de forma escrita com a publicação de

―Decamerão‖.

Crônica: é uma narrativa histórica que expõe os fatos seguindo uma ordem

cronológica. Nos jornais e revistas, a crônica é uma narração curta publicada em

uma seção habitual do periódico, na qual são relatados fatos do cotidiano e outros

assuntos relacionados à arte, esporte, ciência, etc.

Ensaio: é um texto literário situado entre o poético e o didático, expondo

ideias, críticas e reflexões morais e filosóficas a respeito de certo tema. É menos

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formal e mais flexível que o tratado. Consiste também na defesa de um ponto de

vista pessoal e subjetivo sobre um tema (humanístico, filosófico, político, social,

cultural, moral, comportamental, literário, etc.), sem que se paute em formalidades

como documentos ou provas empíricas ou dedutivas de caráter científico.

Gênero Dramático

São textos escritos a fim de que sejam encenados em peças de teatro. Para

que o texto dramático se torne uma peça, ele deve primeiro ser transformado em

um roteiro, para depois ser definido como espetáculo. É muito difícil ter definição

de texto dramático que o diferencie dos demais gêneros textuais, já que existe

uma tendência atual muito grande em teatralizar qualquer tipo de texto. No

entanto, a principal característica do texto dramático é a presença do chamado

texto principal, que contém o que deve ser dito pelos atores na peça, e do texto

secundário, que informa os atores e o leitor sobre a dinâmica do texto principal.

Por exemplo, antes da fala de um personagem, é colocada a expressão ―com voz

baixa‖, indicando como o texto deve ser falado.

A peça teatral pode apresentar qualquer tipo de tema e é estruturada em

dois tipos de textos: rubrica e discurso direto. Há ausência de narrador e é

formado por atos, quadros e cenas, porém o gênero dramático se encontra numa

classe gramatical muito alta, o que dificulta o entendimento desse assunto.

O modo como cada escritor vê o mundo e o tempo em que vive implica

sempre uma alteração no seu estilo. Podemos observar que, geralmente, quando

ocorre alguma mudança significativa no mundo, também ocorrerá uma mudança

nas Artes, na Literatura, nas formas de expressão em geral. Esta é uma noção do

que chamamos de estilo individual e estilo de época.

Os períodos literários (estilos de época) compõem a história da Literatura.

Definem-se por uma data de início e uma data de final, que correspondem à

ascensão de um estilo e decadência de outro. Em outras palavras, cada período

representa uma ruptura do que vinha sendo feito até então.

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A Literatura Informativa (1500-1601)

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, ficaram deslumbrados com a

beleza e riqueza natural dessa terra. Alguns deles escreveram cartas com relatos,

descrições e registros de tudo o que foi encontrado aqui. As cartas eram dirigidas

ao rei de Portugal e continham informações importantes e definidoras da cultura e

riqueza da região. Essas cartas, além de documentos históricos, são consideradas

literatura informativa, por isso, o nome dado a esse período.

Os textos da época têm como base os padrões estéticos medievais. Nas

crônicas de viagem, como também eram chamados os textos produzidos neste

momento histórico, os valores do

Classicismo são evidentes: as obras eram

lidas principalmente na Espanha e em

Portugal, para satisfazer a curiosidade dos

europeus sobre a Nova Terra e, como não

poderia deixar de ser, escritas por

comerciantes, militares e viajantes também

europeus que, em sua maioria, desejavam

enriquecer facilmente. E algo evidente era a

opinião do autor, sempre achando que a

nova colônia representava uma grande fonte

de lucro para os cofres portugueses. É neste

tipo de documento que encontramos,

também, o registro do impacto da nova terra

sobre o europeu descobridor ou observador.

A Literatura Informativa está dividida em três classes: prosa, poesia e teatro.

Esse período é também conhecido como Quinhentismo, porque representa todas

as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI.

Historicamente, havia a contínua ascensão do mercantilismo, que surgira já

havia algum tempo em Portugal. Esta nova realidade econômica fez com que se

Obra de Jean de Léry mostrando cena de

antropofagia.

Certamente o espanto dos índios foi tão

grande quanto o dos portugueses

quando as duas civilizações se

encontraram.

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desenvolvesse, no País, um avanço tecnológico náutico significante, propiciando

ainda no século XV, o início das Grandes Navegações. Entre estas, no último ano

do então século, Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil, iniciando, desta forma, a

introdução da cultura europeia no novo continente.

O valor literário não é tão salientado quanto o valor histórico, uma vez que

fornece aos leitores o retrato da ideologia da época, tal como a impressão dos

colonizadores quanto à natureza e clima tropical brasileiro. Além destes, há

também o primeiro contato do europeu com os nativos indígenas locais,

retratando-os.

Curiosamente, pela tamanha exaltação à fauna e flora, assim como da nova

terra em geral, criava-se naquele momento, um mero princípio de sentimento

nativista, que explodiria completamente no Romantismo, durante o século XIX.

O principal representante desta escola literária foi Pero Vaz de Caminha,

com sua Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o descobrimento do Brasil. Houve

outros escritores do estilo, porém com temáticas quase idênticas entre si, no qual

relatavam a fauna e flora locais, assim como o clima e solo, com objetivos

principais ligados ao mercantilismo.

Caminha destacou-se por ser considerado como a visão primordial da

Europa sobre o Brasil, relatando inclusive, os primeiros contatos dos lusitanos com

os indígenas brasileiros.

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Principais Cronistas

Os principais cronistas dessa época são

Pero Vaz de Caminha, Pero de Magalhães

Gandavo, Manuel da Nóbrega, José de

Anchieta, Gabriel Soares de Sousa.

Nossa Certidão de Nascimento:

Trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha

―Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul vimos,

até à outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista,

será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa.‖

Traz ao longo do mar em algumas partes grandes barreiras, umas

vermelhas, e outras brancas; e a terra de cima toda chã e muito cheia de grandes

arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e muito formosa. Pelo sertão

nos pareceu, vista do mar, muito grande; porque a estender olhos, não podíamos

ver senão terra e arvoredos -– terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de

metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos

e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d‘agora

assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é

graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que

tem!

Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar

esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve

lançar.‖

Padre José de Anchieta

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Exercícios:

1. As primeiras manifestações literárias que se registram na Literatura

Brasileira referem-se a:

a) Literatura informativa sobre o Brasil (crônica) e literatura didática,

catequética (obra dos jesuítas).

b) Romances e contos dos primeiros colonizadores.

c) Poesia épica e prosa de ficção.

d) Obras de estilo clássico, renascentista.

e) Poemas românticos indianistas.

2. A literatura de informação corresponde às obras:

a) barrocas;

b) arcádicas;

c) de jesuítas, cronistas e viajantes;

d) do Período Colonial em geral;

e) n.d.a.

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3. Qual das afirmações não corresponde à Carta de Caminha?

a) Observação do índio como um ser disposto à catequização.

b) Deslumbramento diante da exuberância da natureza tropical.

c) Mistura de ingenuidade e malícia na descrição dos índios e seus

costumes.

d) Composição sob forma de diário de bordo.

e) Aproximações barrocas no tratamento literário e no lirismo das

descrições.

4. A ―literatura jesuíta‖, nos primórdios de nossa história:

a) tem grande valor informativo;

b) marca nossa maturação clássica;

c) visa à catequese do índio, à instrução do colono e sua assistência

religiosa e moral;

d) está a serviço do poder real;

e) tem fortes doses nacionalistas.

5. A importância das obras realizadas pelos cronistas portugueses do século

XVI e XVII é:

a) determinada exclusivamente pelo seu caráter literário;

b) sobretudo documental;

c) caracterizar a influência dos autores renascentistas europeus;

d) a deterem sido escritas no Brasil e para brasileiros;

e) n.d.a.

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Literatura Informativa

1. Leia o texto abaixo, de Frei Vicente do Salvador.

―É o Brasil mais abastado de mantimentos que quantas terras há no mundo,

porque nele se dão os mantimentos de todas as outras. Dá-se trigo em S. Vicente

em muita quantidade, e dar-se-á nas mais partes cansando primeiro as terras,

porque o viço lhes faz mal. Dá-se também em todo o Brasil muito arroz, que é o

mantimento da Índia Oriental, e muito milho zaburro que é o das Antilhas e Índia

Ocidental.‖ (História do Brasil. Frei Vicente do Salvador)

Considere as seguintes afirmações em relação ao texto acima.

I – O autor explicita os ideais predatórios da colonização portuguesa dos

primeiros séculos e a admiração pelas suas riquezas.

II – O trecho denota a consciência do seu autor sobre o grande potencial do

Brasil e sobre a inveja despertada em outros povos.

III – O texto é revelador da imensa admiração de Frei Vicente pela natureza

pródiga do Brasil e constitui uma amostra dos germens de um primeiro sentimento

nativista.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

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2. Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.

Ao final de sua Carta ao rei D. Manuel sobre o descobrimento do Brasil, Pero

Vaz de Caminha afirma não ter sido encontrado ―ouro, nem prata, nem coisa

alguma de metal ou ferro‖, e enfatiza como as maiores riquezas da terra recém-

descoberta.

I – a formosura da praia e a extensão da terra e do arvoredo, que se perdem

de vista.

II – as águas infindas, pois, querendo aproveitar esta terra, ―dar-se-á nela

tudo, por bem das águas que tem‖.

III – a sua gente e a possibilidade de convertê-la ao Cristianismo.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

3. Leia os excertos abaixo.

―Há no Brasil grandíssimas matas de árvores agrestes, cedros, carvalhos,

vinháticos, angelins e outras não conhecidas em Espanha, de madeiras

fortíssimas para se poderem fazer delas fortíssimos galeões.‖ Fre i Vicente do

Salvador

―Em nenhuma outra Região se mostra o Céu mais sereno, nem madruga

mais bela a Aurora: o Sol em nenhum outro Hemisfério tem os raios tão dourados,

nem os reflexos noturnos tão brilhantes.‖ Sebastião da Rocha-Pitta.

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―Até que cheguei outra vez às margens do rio de São Francisco onde vi

aquele milagre do céu na terra, o sagrado templo da lapa, feito e fabricado pela

arte da natureza por permissão divina, [...].‖ Nuno Marques Pereira

Considere o enunciado abaixo e as três propostas para completá-lo.

Os três fragmentos dados, retirados de textos escritos sobre o Brasil

colonial, caracterizam-se:

1. pela grande admiração pela terra, considerada excepcional devido às suas

riquezas.

2 .pelo entusiasmo com que se referem às características da paisagem do

Brasil, expresso em superlativos e enfáticas comparações.

3. pelo modo ficcional com que os viajantes descrevem o Brasil no período

do Romantismo.

Quais propostas estão corretas?

a) Apenas 1.

b) Apenas 2.

c) Apenas 3

d) Apenas 1 e 2.

e) 1, 2 e 3.

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4. Assinale V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações abaixo sobre a

Literatura de Informação no Brasil.

( ) A Carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao rei D. Manuel I, circulou

amplamente entre a nobreza e o povo português da época.

( ) Os textos informativos apresentavam, em geral, uma estrutura

narrativa, pois esta se adaptava melhor aos objetivos dos autores de falar das

coisas que viam.

( ) Os textos que informavam sobre o Novo Mundo despertavam grande

curiosidade entre o público europeu, estando os de Américo Vespúcio entre os

mais divulgados no início do século XVI.

( ) Pero de Magalhães Gandavo é o autor dos textos Tratado da Terra do

Brasil e História da Província Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil .

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – V

b) V – F – F – F

c) F – V – V – V

d) F – F – V – V

e) V – V – F – F.

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5. Leia os fragmentos abaixo, de Pero de Magalhães Gandavo e de Jean de

Léry, respectivamente, escritos no século XVI.

1. Estes índios são de cor baça e cabelo corredio; têm o rosto amassado e

algumas feições dele à maneira de chins. Pela maior parte são bem dispostos,

rijos e de boa estatura; gente muito esforçada e que estima pouco morrer,

temerária na guerra e de muita pouca consideração. São desagradecidos em

grande maneira e muito desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por

extremo. [...] São muito desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam

aos vícios como se neles não houvera razão de homens.

2.De tal modo que, tendo eu vivido com eles, confiaria mais neles e de fato

estava mais seguro em meio àquele povo que chamamos selvagem do que me

sinto hoje em alguns lugares de nossa França, com franceses desleais e

degenerados.

Considere as seguintes afirmações sobre esses fragmentos:

I – Gandavo enfatiza os aspectos físicos agradáveis dos indígenas, por ele

comparados a elementos da natureza americana.

II – Tanto Gandavo quanto Jean de Léry contestam a humanidade dos

indígenas, ao destacarem sua selvageria e degeneração moral.

III – Ao atribuir aos indígenas brasileiros valores que não reconhecia em

conterrâneos seus, o francês Jean de Léry desmente a perspectiva etnocêntrica

que fundamentou a maior parte dos textos dos viajantes.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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Barroco

O Barroco - no Brasil - encontrou um

terreno receptivo para um rico

florescimento. Seu surgimento no país foi

no início do século XVII, introduzido por

missionários católicos, especialmente

jesuítas, que para cá se dirigiram a fim de

catequizar e aculturar os povos indígenas.

É uma fase extremamente importante, já

que vai estar presente na maior parte das

literaturas ocidentais.

Ao longo do período colonial vigorou

uma íntima associação entre a Igreja e o

Estado, mas como na colônia não havia

uma Corte e tampouco as elites se

preocuparam em construir palácios ou patrocinar as artes profanas, senão no fim

do período, a vasta maioria do legado barroco brasileiro está na arte sacra:

estatuária, pintura e obra de talha para decoração de igrejas e conventos ou para

culto privado.

O Barroco é uma tendência marcada pelo choque de valores, ou seja, o

homem pensava o mundo a partir de duas dimensões em conflito: o materialismo

x o espiritualismo. Isso se deve ao fato de que sua manifestação se dá por meio

de duas estéticas diferentes: cultista – preocupação com a forma da linguagem e

do poema e explora os sentidos com vocabulário precioso e erudito; conceptista

– trabalha com o pensamento ornamentado e busca conhecer as coisas na sua

essência íntima, trabalha o significado das palavras. Trata-se do culto do contraste

e da contradição, que se expressa, principalmente, por figuras de linguagem e que

geram uma linguagem rebuscada e conturbada.

A piedade, de Luis de Morales expressa o

clima intensamente religioso do Barroco.

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Histórica e ideologicamente, o Barroco nasce do confronto entre os valores

medievais (cristãos e de caráter teocêntrico) e os valores renascentistas (com

marcas pagãs e antropocêntricas). O aspecto exterior imediatamente visível do

estilo barroco é o intensivo emprego de antíteses, metáforas e hipérboles. As

principais antíteses são: virtude x pecado; corpo x alma; teocentrismo x

antropocentrismo.

O poema épico ―Prosopopeia‖ (1601), de Bento Teixeira, é um dos marcos

iniciais do Barroco, que atingiu o seu apogeu na literatura com o poeta Gregório

de Matos e com o orador sacro Padre Antônio Vieira. Nas artes plásticas seus

maiores expoentes foram Aleijadinho e Mestre Ataíde. No campo da arquitetura

esta escola se enraizou profundamente no Nordeste e em Minas Gerais, mas

deixou grandes e numerosos exemplos também por quase todo o restante do

país, do Rio Grande do Sul ao Pará. Quanto à música, por relatos literários sabe-

se que foi também pródiga, mas ao contrário das outras artes, quase nada se

salvou. Com o desenvolvimento do Neoclassicismo, a partir das primeiras décadas

do século XIX, a tradição barroca caiu progressivamente em desuso, mas traços

dela seriam encontrados em diversas modalidades de arte até os dias de hoje.

Padre Antônio Vieira

Antônio Vieira (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Salvador, 18 de julho de

1697) foi um religioso, filósofo, escritor e orador português da Companhia de

Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política

e oratória; destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade,

defendeu infatigavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua

exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado

de ―Paiaçu‖ (Grande Padre/Pai, em tupi). Antônio Vieira defendeu também os

judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos,

perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais),

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e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua

época e a própria Inquisição.

Na literatura seus sermões possuem considerável importância tanto no Brasil

como em Portugal. As universidades frequentemente exigem sua leitura. Deixou

uma obra complexa que exprime as suas opiniões políticas, não sendo

propriamente um escritor, mas sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis

Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os inúmeros sermões,

alguns dos mais célebres: o ―Sermão da Quinta Dominga da Quaresma‖, o

―Sermão da Sexagésima‖, o ―Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal

contra as de Holanda‖, o ―Sermão do Bom Ladrão‖, ‖Sermão de Santo Antônio aos

Peixes‖, entre outros.

A estrutura dos Sermões

Viera uti lizava a estrutura clássica em seus sermões que tinham o ―poder‖ de

convencer quem os ouvia, tanto pela razão quanto pela emoção. Havia três

características muito importantes:

Unidade do assunto: o tema é abordado em todos os aspectos.

Circularidade do desenvolvimento: retomada constante das

premissas iniciais que são repetidas até o fim do sermão.

Epílogo: o pregador faz uma conclusão de tudo o que havia falado e

ressalta os fatos mais importantes da pregação.

Trecho do “Sermão da Sexagésima”:

―O pregar há de ser como quem semeia e não como quem ladrilha ou

azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. Não fez Deus o céu em xadrez de

estrelas como os pregadores fazem o sermão em xadrez de estrelas. Se de uma

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parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra

há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; de

uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de

ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira

com o seu contrário. Aprendamos do céu o estilo da disposição e também o das

palavras. Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito

distintas e claras. Assim há de ser o estilo do pregador, muito distinto e muito

claro.‖

Trecho do “Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as

de Holanda”:

―Finjamos, pois (o que até fingindo e imaginando faz horror), finjamos que

vem à Bahia e o resto do Brasil a mãos dos holandeses: que é o que há de

suceder em tal caso? Entrarão por esta cidade com fúria de vencedores e de

hereges; não perdoarão a estado, a sexo nem a idade; com os fios dos mesmos

alfanjes medirão a todos. Chorarão as mulheres, vendo que se não guarda decoro

à sua modéstia; chorarão os velhos, vendo que se não guarda respeito às suas

cãs; chorarão os nobres, vendo que não se guarda cortesia à sua qualidade;

chorarão os religiosos e veneráveis sacerdotes, vendo que até coroas sagradas os

não defendem; chorarão, finalmente, todos, e entre todos mais lastimosamente os

inocentes, porque nem a estes perdoará (como em outras ocasiões não perdoou)

a desumanidade herética. Sei eu, Senhor, que só por amor dos inocentes

dissestes vós alguma hora que não era bem castigar a Nínive. Mas não sei que

tempos nem que desgraça é esta nossa, que até a mesma inocência vos não

abranda. Pois também a vós, Senhor há de alcançar parte do castigo – que é o

que mais sente a piedade cristã – também a vós a de chegar.‖

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Gregório de Matos Guerra

Gregório de Matos Guerra (Salvador, 23 de dezembro de 1636 – Recife, 26

de novembro de 1695), informou-se em Direito pela Universidade de Coimbra,

passou parte de sua vida em Portugal e parte no Brasil, vivendo na Bahia. Foi

alcunhado de Boca do Inferno ou Boca de Brasa, devido a sua poesia satírica e

violenta, em que denunciava a realidade da Bahia na época em que viveu. É

considerado o maior poeta Barroco de nosso país e o mais importante poeta

satírico da literatura em língua portuguesa, no período colonial.

Em 1850, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen publicou 39 dos seus

poemas na coletânea ―Florilégio da Poesia Brasileira‖ em Lisboa. Afrânio Peixoto

foi quem editou a restante obra (de 1923 a 1933) em seis volumes a cargo da

Academia Brasileira de Letras, exceto a parte pornográfica que aparecerá

publicada, por fim, em 1968, por James Amado.

sua obra tinha um cunho bastante satírico e moderno para a época, além

de chocar pelo teor erótico de alguns de seus versos. Entre seus grandes poemas

está o ―A cada canto um grande conselheiro‖, no qual critica os governantes da

―cidade da Bahia‖ de sua época. Esta crítica é, no entanto, atemporal e universal –

os ―grandes conselheiros‖ não são mais que os indivíduos (políticos ou não) que

―nos quer(em) governar cabana e vinha, não sabem governar sua cozinha, mas

podem governar o mundo inteiro‖. A figura do ―grande conselheiro‖ é a figura do

hipócrita que aponta os pecados dos outros, sem olhar os seus. Em resumo, é

aquele que aconselha, mas não segue os seus preceitos.

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Religioso

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,

Da vossa piedade me despido,

Porque quanto mais tenho delinquido,

Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,

A abrandar-nos sobeja um só gemido,

Que a mesma culpa, que vos há ofendido,

Vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma ovelha perdida, e já cobrada

Glória tal, e prazer tão repentino

vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada

Cobrai-a, e não queirais, Pastor divino,

Perder na vossa ovelha a vossa glória.

ALEIJADINHO. Anjo com Cálice, séc. XVIII -

escultura.

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Reflexivo

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da Luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

Porém se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.

Amoroso

Vês esse Sol de luzes coroado,

Em pérolas a Aurora convertida;

Vês a Lua, de estrelas guarnecida;

Vês o Céu, de planetas adornado?

O céu deixemos: vês, naquele prado,

A rosa com razão desvanecida,

A açucena por alva presumida,

O cravo por galã lisonjeado?

Deixa o prado: vem cá, minha adorada:

Vês desse mar a esfera cristalina

Em sucessivo aljôfar desatada?

Parece aos olhos ser de prata fina...

Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada

À vista do teu rosto, Catarina.

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Satírico

A cada canto um grande conselheiro.

que nos quer governar cabana, e vinha,

não sabem governar sua cozinha,

e podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um frequentado olheiro,

que a vida do vizinho, e da vizinha

pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,

para a levar à Praça, e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,

trazidos pelos pés os homens nobres,

posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,

todos, os que não furtam, muito pobres,

e eis aqui a cidade da Bahia.

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Exercícios

1. Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos Guerra.

―Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,

Depois da luz se segue a noite escura,

Em tristes sombras morre a formosura,

Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?

Como a beleza assim se transfigura?

Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,

Na formosura não se dê constância,

E na alegria sinta-se tristeza.

Começa o mundo enfim pela ignorância,

E tem qualquer dos bens por natureza

A firmeza somente na inconstância.‖

Considere as afirmações abaixo sobre esse soneto.

I – É um soneto barroco, característico do século XVII, que se compõe de um

jogo de contrastes.

II – O primeiro quarteto reúne movimentos cíclicos da natureza, efeitos da

passagem do tempo e sentimentos humanos.

III – O segundo quarteto expressa um inconformismo com a passagem do

tempo, expresso nas indagações do poeta.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e II.

e) I, II e III.

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2. Leia o seguinte soneto de Gregório de Matos.

Largo em sentir, em respirar sucinto

Peno, e calo tão fino, e tão lento,

Que fazendo disfarce do tormento

Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou me desminto,

Dentro no coração é que o sustento,

Com que, para penar é sentimento,

Para não se entender, é labirinto.

Ninguém sufoca a voz nos seus retiros;

Da tempestade é o estrondo efeito:

Lá tem ecos a terra, o mar suspiros.

Mas oh do meu segredo alto conceito!

Pois não me chegam a vir à boca os tiros

Dos combates que vão dentro no peito.

Considere as seguintes afirmações.

I – O poema é um exemplo da poesia satírica de Gregório de Matos Guerra,

a qual lhe valeu a alcunha de ―Boca do Inferno‖, por escarnecer de pessoas,

situações e costumes do seu tempo.

II – Na segunda estrofe, o poema expressa a oposição entre essência e

aparência, sustentando que o sofrimento é ocultado aos olhos do mundo.

III – Segundo as últimas estrofes do poema, a opção pelo si lêncio com

relação à dor e às angústias internas contrapõe-se aos ruídos da natureza.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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3. Leia os versos abaixo, de Gregório de Matos Guerra (1636-1695):

A cada canto um grande conselheiro,

Que nos quer governar cabana e vinha;

Não sabem governar sua cozinha,

E querem governar o mundo inteiro.

Em relação à obra de Gregório, considere as seguintes afirmações.

I – Ela é considerada por muitos como a principal manifestação da sátira

barroca no período colonial.

II – Ela é referência para o estudo dos costumes e da linguagem da

sociedade mineradora da época.

III – Ela se destaca pela crítica mordaz às autoridades civis e eclesiásticas.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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4. Considere as seguintes afirmações sobre o padre Antônio Vieira.

I – Possui um estilo antigongórico, conceptista, caracterizado pela clareza e

pelo rigor sintático, dialético e lógico.

II – Recusa, como cultista, o elemento imagístico, transformando-o em mero

instrumento de convencimento dos fiéis.

III – Recontextualiza passagens do Evangelho, uma vez que as vincula às

ideias que quer expressar, explorando a analogia.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

5. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto

abaixo, na ordem em que aparecem.

Diz-se que é no sermonário político que se revela o aspecto mais

interessante da obra de ___________, pelo pragmatismo de suas ideias e pela

capacidade de convertê-las em argumento teológico, por meio do estabelecimento

de analogias entre um ou mais episódios do Velho ou do Novo Testamento e

determinado acontecimento histórico. Exemplo disso é o ―Sermão pelo bom

sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda‖, em que ____________ é

advertido por causa do mal que ameaça a cidade de Salvador.

a) Antônio Vieira – Nassau

b) José de Anchieta – Nassau

c) Manoel da Nóbrega – o povo

d) José de Anchieta – Deus

e) Antônio Vieira – Deus

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Arcadismo

O Arcadismo ou Neoclassicismo

desenvolveu-se no Brasil do século XVIII. No

contexto histórico temos que a Europa vive

intensas mudanças socioculturais, político-

econômicas, fi losóficas e científicas, em boa

parte tendo o Iluminismo como base. Fato é que

cada mudança significativa no mundo influencia

de maneira uniforme as Artes e as formas de

expressão em geral. A Revolução Francesa, por

exemplo, é um expressivo acontecimento

histórico que teve influências iluministas.

O Iluminismo foi um movimento que

ocasionou uma verdadeira revolução no campo

das ideias, caracterizando-se por seu extremado

racionalismo e defesa da liberdade de

expressão. O pensamento dominante é a noção

de que a história é uma ciência capaz de ensinar

ao homem como viver melhor.

No Brasil, nesse período, há um destaque maior para o estado de Minas

Gerais, onde havia sido descoberto ouro, fato que marcou o local como centro

econômico e, portanto, cultural da colônia portuguesa. No apogeu da produção

aurífera, entre as décadas de 1740 e 1760, Vila Rica (hoje Ouro Preto) e o Rio de

Janeiro substituíram a cidade de Salvador, tornando-se os dois polos da produção

e divulgação de ideias. Nesse contexto, a noção de história foi muito importante

nas reflexões que os árcades brasileiros fizeram na Inconfidência Mineira, pois a

tendência é que eixo cultural siga o econômico. Os escritores árcades, então, são

na maioria mineiros e algumas de suas produções literárias são voltadas ao

ambiente das cidades históricas mineiras, principalmente Vila Rica.

FALCONET, E. Cupido sentado, 1758.

A escultura reflete o gosto neoclássico

pela simplicidade – ao contrário do

barroco.

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Os ideais do Iluminismo francês eram trazidos da Europa pelos poucos

membros da burguesia letrada brasileira – juristas formados em Coimbra, padres,

comerciantes, militares. Alguns autores destacados desse momento são Cláudio

Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Basílio da Gama e José de Santa Rita

Durão.

Delimita-se o Arcadismo no Brasil entre os anos de 1768 (publicação das

―Obras poéticas‖, de Cláudio Manuel da Costa) e 1836 (início do Romantismo).

Apesar dos traços do cultismo barroco em alguns poetas, a maioria deles

procurou seguir as convenções dos neoclassicistas europeus. São elas:

Utilização de personagens mitológicas;

Bucolismo - idealização da vida campestre;

Pastoralismo - eu-lírico caracterizado como um pastor e a mulher

amada como uma pastora;

Locus amoenus - ambiente tranquilo, idealização da natureza, cenário

perfeito e aprazível;

Fugere urbem (fuga da cidade, em latim) - Visão da cidade como local

de sofrimento e corrupção;

Aurea mediocritas (expressão de Horácio) - Elogio ao equilíbrio e

desprezo às extremidades;

Estoicismo - Desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza;

Inutilia truncat - Cortar o inútil;

Carpe Diem - Aproveitamento do momento presente, aproveitar a vida,

devido à incerteza do amanhã. Vivência plena do amor durante a juventude,

porque a velhice é incerta (carpe diem).

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Além das características trazidas da Europa, o Arcadismo no Brasil sofreu

adaptações adquirindo algumas particularidades temáticas:

Inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como

a paisagem tropical, elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos

peculiares da colônia, como a mineração, por exemplo;

Episódios da história do país, nas poesias heroicas;

O índio como tema literário.

Esses novos temas já prenunciam o que seria o Romantismo no Brasil: a

representação do indígena e da cor local.

A poesia lírica fica a cargo, principalmente, de Cláudio Manuel da Costa e

Tomás Antônio Gonzaga, sendo deste último a principal obra árcade do país:

―Marília de Dirceu‖.

Cláudio Manuel da Costa

Introdutor do Arcadismo no Brasil. Estudou Direito em Coimbra e voltou à

terra natal para exercer a profissão e cuidar de sua herança. Apesar da vida

pacata em Vila Rica, foi ele uma das vítimas do rigor com que o governo

português tratou os participantes da Inconfidência Mineira. Preso em maio de

1789 após acusação de envolvimento na Conjuração baiana, em julho, foi

encontrado enforcado em seu cárcere. Há a hipótese de ter sido assassinado.

Como poeta de transição, sua poesia ainda está ligada ao cultismo barroco,

em vários aspectos. Mesmo assim, era respeitado, admirado e tido como mestre

por outros poetas árcades, como Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto.

Sua obra lírica é constituída, principalmente, de éclogas e sonetos. Dentre

elas, são dignas de destaque ―Obras poéticas‖ – obra que introduziu o Arcadismo

– e ―Vila Rica‖ – poema épico.

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Soneto

Destes penhascos fez a natureza

O berço, em que nasci: oh quem cuidara

Que entre penhas tão duras se criara

Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os Tigres, por empresa

Tomou logo render-me; ele declara

Contra o meu coração guerra tão rara,

Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,

A que dava ocasião minha brandura,

Nunca pude fugir ao cego engano:

Vós, que ostentais a condição mais dura,

Temei, penhas, temei; que Amor tirano,

Onde há mais resistência, mais se apura.

Soneto

Leia a posteridade, ó pátrio Rio,

Em meus versos teu nome celebrado;

Por que vejas uma hora despertado

O sono vil do esquecimento frio:

Não vês nas tuas margens o sombrio,

Fresco assento de um álamo copado;

Não vês ninfa cantar, pastar o gado

Na tarde clara do calmoso estio.

Turvo banhando as pálidas areias

Nas porções do riquíssimo tesouro

O vasto campo da ambição recreias.

Que de seus raios o planeta louro

Enriquecendo o influxo em tuas veias,

Quanto em chamas fecunda, brota em

ouro.

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Tomás Antônio Gonzaga

Português de nascimento, Tomás Antônio

Gonzaga passou sua infância no Brasil. Voltou

a Portugal e se formou em Coimbra. A partir de

1782 passou a exercer o cargo de ouvidor em

Vila Rica.

Apaixonou-se aos 40 anos de idade por

Maria Doroteia Joaquina de Seixas, de 17

anos. A família da moça se opôs ao namoro.

Quando estava prestes a vencer as

resistências, foi preso e enviado para a ilha

das Cobras, no Rio de Janeiro, por ter

participado da Inconfidência Mineira, em 1789.

Passou os últimos anos de sua vida

exilado em Moçambique, casando com a filha

de um comerciante de escravos. Nunca se

casou com Maria Doroteia, mas transformou esse namoro no primeiro mito

amoroso da literatura brasileira e nele inspirou uma das mais importantes obras

líricas da língua. Isso tudo colaborou para que ele se tornasse o poeta mais

conhecido do Arcadismo brasileiro.

Marília de Dirceu

É um livro que relata a paixão do poeta, Dirceu, por sua musa Marília - o

poeta seguiu o costume de utilizar pseudônimos pastoris para as personagens.

Duas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim como é

possível observar na obra do português Bocage, da mesma época:

Gonzaga na prisão. Óleo de J. M. Mafra

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O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da utilização das

paisagens neoclássicas - o pastor, a pastora, o campo, a serenidade do

local etc.;

O pré-Romantismo representado no emocionalismo, na manifestação

pungente da crise amorosa e, logo após, na prisão, que reproduzem a crise

existencial do poeta.

A todo o momento a emoção rompe a esti lização arcádica, surgindo,

assim, uma poesia de alta qualidade e competência.

Soneto

Enganei-me, enganei-me – paciência!

Acreditei às vezes, cri, Ormia,

Que a tua singeleza igualaria

A tua mais que angélica aparência.

Enganei-me, enganei-me – paciência!

Ao menos conheci que não devia

Pôr nas mãos de uma externa galhardia

O prazer, o sossego e a inocência.

Enganei-me, cruel, com teu semblante,

E nada me admiro de faltares,

Que esse teu sexo nunca foi constante.

Mas tu perdeste mais em me enganares:

Que tu não acharás um firme amante,

E eu posso de traidoras ter milhares.

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Dividida em duas partes mais uma terceira, cuja autenticidade é

contestada por alguns críticos, Marília de Dirceu narra o drama amoroso vivido por

Gonzaga e Maria Doroteia.

1ª parte: reúne os poemas anteriores à prisão de Gonzaga. Nela são mais

evidentes as composições convencionais: Dirceu contempla a beleza da pastora

Marília e, em algumas liras, o poeta não consegue disfarçar suas confissões

amorosas. Mostra-se ansioso por amar uma moça muito mais jovem, por querer

demonstrar que merece o coração da amada. Também faz projetos para o futuro

ao lado da moça.

2ª parte: escrita na prisão da ilha das Cobras. Traduz a solidão de Dirceu,

saudoso de Marília. Esta é considerada a parte de maior qualidade, pois, apesar

das convenções ainda presentes, já não consegue sustentar o equilíbrio

neoclássico. Há certo pessimismo confessional que já prenunciam o

emocionalismo romântico, utilizando Marília como pretexto para falar de seu

sofrimento e de si mesmo. Ações que são consideradas pré-românticas para

alguns.

3ª parte: possivelmente escrita depois da prisão, a terceira parte fala de

traições, desenganos, amores, que inclusive não são mais dedicados somente à

Marília, que já não aparece com tanta frequência. Essa parte parece evidenciar

uma tentativa (ou não) de superação por parte de Dirceu. Alguns críticos

contestam a autenticidade dessa última parte.

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1ª parte

Leve-me a sementeira muito embora

O rio sobre os campos levantado:

Acabe, acabe a peste matadora,

Sem deixar uma rês, o nédio gado.

Já destes bens, Marília, não preciso:

Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;

Para viver feliz, Marília, basta

Que os olhos movas, e me dês um riso.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

Depois de nos ferir a mão da morte,

Ou seja neste monte, ou noutra serra,

Nossos corpos terão, terão a sorte

De consumir os dois a mesma terra.

Na campa, rodeada de ciprestes,

Lerão estas palavras os Pastores:

―Quem quiser ser feliz nos seus amores,

Siga os exemplos, que nos deram estes.‖

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!

2ª parte

Nesta cruel masmorra tenebrosa

Ainda vendo estou teus olhos belos,

A testa formosa,

Os dentes nevados,

Os negros cabelos.

Quando passarmos juntos pela rua,

nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores;

Dizendo uns para os outros: ―Olha os nossos

exemplos da desgraça, e são amores‖.

Contentes viveremos desta sorte,

até que chegue a um dos dois a morte.

Eu produzia

Estas ideias,

Quando, Marília,

O som escuto

De vis cadeias.

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Poesia épica

A poesia épica é uma mistura de

narração e poesia, ou seja, o texto conta uma

história construída em versos. Esse tipo de

poesia no Arcadismo brasileiro trouxe

inovações para o período, que o diferenciou

ainda mais do modelo europeu. Temas da

história colonial em meio à descrição da

paisagem tropical do país e a inserção do

índio como herói, mesmo que ainda

coadjuvante do homem branco, são as novas

perspectivas que começam a delinear uma

literatura nacionalista, a ser fundada durante o

Romantismo.

Dentre os autores mais conhecidos estão Basílio da Gama com ―O Uraguai‖,

Santa Rita Durão com ―Caramuru‖ e o poema ―Vila Rica‖, de Cláudio Manuel da

Costa.

Basílio da Gama

Foi um poeta luso-brasileiro do Brasil Colônia, filho de pai português e mãe

brasileira. Ficou órfão e mudou-se para o Rio de Janeiro. Entrou em 1757 para a

Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi expulsa do Brasil e o poeta

foi para Portugal e depois para Roma, sendo admitido na Arcádia Romana. De

volta a Lisboa, foi acusado de jesuitismo e sua condenação resulta no exílio em

Angola. O ministro Marquês de Pombal é o responsável pelo perdão e

contratação do poeta como secretário, pois este escreveu um poema nupcial para

a filha do Marquês. Basílio da Gama, então, manifesta seu apoio à política

pombalina e sua oposição aos jesuítas através do poema épico.

RUGENDAS, J. Extração de ouro, 1835.

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O Uraguai

Em 1769, publica o poema épico ―O Uraguai‖,

que narra a expedição do exército luso-espanhol

contra os índios e os padres jesuítas das Missões do

Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões). Mais

tarde foi nomeado oficial da Secretaria do Reino.

Patrono da Academia Brasileira de Letras. Utilizou o

pseudônimo Termindo Sipílio.

Santa Rita Durão

Nasceu em Minas Gerais. Estudou no Colégio dos Jesuítas, no Rio de

Janeiro. Em 1731, mudou-se para Portugal e ingressou em uma instituição

religiosa. Formou-se em Teologia pela Universidade de Coimbra e ingressou na

Ordem de Santo Agostinho. Tornou-se frei, porém, por motivos político-religiosos

exilou-se e viveu na Espanha, França e Itália. De volta a Portugal, em 1781,

publicou seu poema épico chamado Caramuru que narra o descobrimento da

Bahia, o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores com as índias, Moema

e Paraguaçu. O material é amplo: tem fatos da história do Brasil, o temperamento

indígena e lendas.

―- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...

Porém o tigre, por cruel que brame,

Acha forças no amor, que enfim o domem;

Só a ti não domou, por mais que eu te ame.

Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,

Como não consumis aquele infame?

Mas pagar tanto amor com tédio e asco...

Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco‖

(Trecho do Canto VI, onde narra a morte de Moema)

Sete povos das missões , RS.

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Exercícios:

1. Leia o soneto a seguir, de Cláudio Manuel da Costa.

01. ―Destes penhascos fez a natureza

02. O berço em que nasci: oh! quem cuidara

03. Que entre penhas tão duras se criara

04. Uma alma terna, um peito sem dureza!

05. Amor, que vence os tigres, por empresa

06. Tomou logo render-me; ele declara

07. Contra o meu coração guerra tão rara,

08. Que não me foi bastante a fortaleza.

09. Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,

10. A que dava ocasião minha brandura,

11. Nunca pude fugir ao cego engano:

12. Vós, que ostentais a condição mais dura,

13. Temei, penhas, temei, que Amor tirano,

14. Onde há mais resistência, mais se apura.‖

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Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as afirmações abaixo sobre o

soneto.

( ) Através da imagem do ―berço‖ (v. 02), o poeta celebra a sua terra natal,

que é representada em sintonia com os seus próprios sentimentos.

( ) O emprego das palavras ―alma‖ (v. 04), ―peito‖ (v. 04) e ―coração‖ (v. 07)

funciona como disfarce para o artificialismo e a frieza dos sentimentos do poeta

árcade.

( ) Nos versos 05 a 08, o amor, que vence o poeta, é apresentado através

de metáforas que simbolizam ações de guerra.

( ) No final dos versas 09, 11 e 13, o emprego das palavras rimadas ―dano‖,

―engano‖ e ―tirano‖ reforça o sofrimento e a incerteza inerentes à experiência do

amor.

( ) Nos versos 12 a 14, o poeta humaniza a natureza e dirige-se às penhas,

alertando-as em relação à força irresistível do amor.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo,

é:

a) F–V–V–V–F

b) V–F–F–V–V

c) F–F–V–V–V

d) V–F–V–F–V

e) F–V–V–E–V

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2. No soneto acima, o eu-lírico

a) deixa-se levar pela admiração dos poderosos, embora conheça o dano

causado pelas penhas.

b) adverte as próprias penhas de que, apesar de serem muito resistentes,

elas devem temer o poder do Amor.

c) jamais poderia fugir ao cego engano, por saber do perigo representado

pelo ciúme e pela inveja.

d) avisa às penhas que, apesar de ostentarem beleza e simplicidade, elas

devem temer a investida do Amor.

e) não admite que o Amor vença as penhas, embora reconheça que ele

vence os tigres e ataca os reis.

3. A poesia de Cláudio Manuel da Costa

a) apresenta traços barrocos, como a presença de oposições, apesar da

preocupação do poeta em seguir os cânones neoclássicos.

b) representa uma tentativa de retorno ao Barroco como reação à nova

geração de poetas mineiros, influenciados pelo Arcadismo.

c) é o melhor exemplo da estética neoclássica, que preconizava o retorno

ao misticismo e à religiosidade cristã da literatura medieval portuguesa.

d) se caracteriza pela utilização do pseudônimo árcade de Termindo

Sipílio, constantemente mencionado nos próprios poemas.

e) assume uma postura sensual, que envolve inclusive a utilização de

vocabulário vulgar e explicitamente escatológico.

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4. Assinale a alternativa correta em relação a ―Marília de Dirceu‖, de Tomás

Antônio Gonzaga.

a) No livro, é estabelecido um contraste entre a paisagem bucólica e

amena, e o cenário da masmorra, opressivo e triste.

b) Trata-se de um conjunto de cartas de amor, enviadas por Marília, de

Minas Gerais, a Dirceu, que se encontra em Moçambique.

c) Na obra, o pensamento racional é anulado em favor do sentimentalismo

romântico.

d) Nas liras de Gonzaga, Marília é uma mulher irreal, incorpórea,

imaginada pelo pastor Dirceu.

e) Trata-se de um livro satírico, carregado de termos pejorativos em

relação às convenções da época.

5. Leia os excertos abaixo, extraídos de ―Marília de Dirceu‖ (Lira XIV), de

Tomás Antonio Gonzaga.

01. ―Minha bela Marília, tudo passa;

02. A sorte deste mundo é mal segura;

03. Se vem depois dos males a ventura,

04. Vem depois dos prazeres a desgraça.‖

05. ―Ornemos nossas testas com as flores

06. E façamos de feno um brando leito;

07. Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,

08. Gozemos do prazer de sãos Amores.

09. Sobre as nossas cabeças,

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10. Sem que o possam deter, o tempo corre;

11. E para nós o tempo, que se passa,

12. Também, Marília, morre.‖

13. ―Ah, não, minha Marília,

14. Aproveite-se o tempo, antes que faça

15. O estrago de roubar ao corpo as forças,

16. E ao semblante a graça.‖

Considere as seguintes afirmações sobre esses excertos.

I – Os versos chamam a atenção para a passagem do tempo e expressam

um convite aos prazeres de um amor sadio.

II – Os versos 05 a 12 descrevem uma cena amorosa ambientada na

paisagem mineira da cidade então chamada de Vila Rica.

III – Marília é um nome literário adotado para referir a noiva do poeta

inconfidente, cujo nome verdadeiro era Maria Doroteia de Seixas Brandão.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

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Romantismo

O Romantismo no Brasil teve como marco fundador a publicação do livro de

poemas ―Suspiros poéticos e saudades‖, de Domingos José Gonçalves de

Magalhães, em 1836. O movimento romântico pretendia, no início, suplantar a

concepção clássica da arte. A imitação dos clássicos não fazia sentido em um

tempo que havia produzido o liberalismo e a Revolução Francesa.

No princípio dessa fase literária, 1833, um grupo de jovens estudantes

brasileiros em Paris, sob a orientação de Gonçalves Magalhães e de Manuel de

Araújo Porto Alegre, inicia um processo de renovação das letras, influenciados por

Almeida Garret e pela leitura dos românticos franceses. Em 1836, ainda em Paris

o mesmo grupo de brasileiros funda a Revista Brasiliense de Ciências, Letras e

Artes, cujos dois primeiros números traziam como epígrafe: ―Tudo pelo Brasil e

para o Brasil‖.

No Brasil, vemos que o povo identifica-se como nação e

começa a ter ideais de independência. Por isso, o Romantismo está

associado a uma postura social, a um movimento histórico. Esse

movimento é visível pela valorização do nacionalismo e da

liberdade, sentimentos que se ajustavam ao espírito de um país que queria romper

com o domínio colonial. Portanto, o movimento romântico está diretamente

vinculado aos momentos decisivos de nossa nacionalidade.

De 1823 a 1831, o Brasil viveu um período conturbado como reflexo do

autoritarismo de D. Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a

Constituição outorgada; a Confederação do Equador; a luta pelo trono português

contra seu irmão D. Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró

e, finalmente, a abdicação. Segue-se o período regencial e a maioridade

prematura de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o

Romantismo brasileiro, carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.

Assim é que, a primeira geração do Romantismo destaca-se na tentativa de

diferenciar o movimento das origens europeias e adaptá -lo, de maneira

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nacionalista, à natureza exótica e ao passado histórico brasileiros. A ruptura de

antigas barreiras sociais, a liberdade prenunciada e tornada viva pela Revolução

Francesa fizeram do escritor alguém mais espontâneo e menos dependente. A

ambiguidade passou a ser algo constante entre os românticos: enquanto

protestam contra os males da burguesia, percebem a liberdade que têm para

criticar, sem serem presos ou perderem o emprego por isto. Vivem no meio dessa

mesma sociedade e necessitam dela, assim como está, para que tenha algum

sentido a crítica que fazem. Os primeiros românticos eram utópicos. Para criar

uma nova identidade nacional, buscavam suas bases no nativismo do período

literário anterior, no elogio a terra e ao homem primitivo. Inspirados em Montaigne

e Rousseau idealizavam os índios como bons selvagens, cujos valores heroicos

eram tomados como modelo da formação do povo brasileiro.

Contexto histórico

Com o incremento da industrialização e do comércio, notadamente a partir

da Revolução Industrial do século XVIII, a burguesia, na Europa, vai ocupando

espaço político e ideológico maior. As ideias do emergente liberalismo incentivam

a busca da realização individual, por parte do cidadão comum. Nas últimas

décadas do século, esse processo levou ao surgimento, na Inglaterra e na

Alemanha, de autores que caminhavam num sentido contrário ao da racionalidade

clássica e da valorização do campo, conforme normas da arte vigente até então.

Esses autores tendiam a enfatizar o nacionalismo e identificavam-se com a

sentimentalidade popular. Essas ideias foram o princípio do que se denominou

Romantismo.

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Algumas atitudes, e outras

consequentes delas, foram se

consolidando e, ao chegarem à

França, receberam um vigoroso

impulso graças à Revolução

Francesa de 1789. Afinal, essas

tendências literárias individualistas

identificavam-se amplamente com

os princípios revolucionários

franceses de derrubada do

absolutismo e ascensão da

burguesia ao poder, através de uma

aliança com camadas populares. A

partir daí, o ideário romântico

espalhou-se por todo o mundo ocidental, levando consigo o caráter de agitação e

transgressão que acompanhava os ideais revolucionários franceses que

atemorizavam as aristocracias europeias. A desilusão com esses ideais lançaria

muitos românticos em uma situação de marginalidade em relação à própria

burguesia. Mesmo assim, devemos associar a ascensão burguesa à ascensão do

Romantismo na Europa.

Fundamentos teóricos

São três os fundamentos do estilo romântico:

O egocentrismo: também chamado de subjetivismo, ou individualismo.

Evidencia a tendência romântica à pessoalidade e ao desligamento da sociedade.

O artista volta-se para dentro de si mesmo, colocando-se como centro do universo

poético. A primeira pessoa (―eu‖) ganha relevância nos poemas.

O nacionalismo: corresponde à valorização das particularidades locais.

Opondo-se ao registro de ambiente árcade, que se pautava pela mesmice, vendo

Liberdade, Delacroix. Esta é a melhor representação da

audácia, da coragem e do espirito republicano que

caracterizam o mundo ocidental.

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pastoralismo em todos os lugares. O Romantismo propõe um destaque da

chamada ―cor local‖, isto é, o conjunto de aspectos particulares de cada região.

Esses aspectos envolvem componentes geográficos, históricos e culturais. Assim,

a cultura popular ganha considerável espaço nas discussões intelectuais de elite.

A liberdade de expressão: é um dos pontos mais importantes da escola

romântica. ―Nem regra, nem modelos ―– afirma Victor Hugo, um dos mais

destacados românticos franceses. Pretendendo explorar as dimensões variadas

de seu próprio ―eu‖, o artista se recusa a adaptar a expressão de suas emoções a

um conjunto de regras pré-estabelecido. Da mesma forma, afasta-se de modelos

artísticos consagrados, optando por uma busca incessante da originalidade.

Características

Subjetivismo – A pessoalidade do autor está em destaque. A poesia e a

prosa romântica apresentam uma visão particular da sociedade, de seus costumes

e da vida como um todo.

Sentimentalismo – Os sentimentos dos personagens entram

em foco. O autor passa a usar a literatura como forma de exp lorar

sentimentos comuns à sociedade, como: o amor, a cólera, a paixão,

etc. O sentimentalismo geralmente implica na exploração da

temática amorosa e nos dramas de amor.

Nacionalismo, ufanismo – Surge a necessidade de criar uma cultura

genuinamente brasileira. Como uma forma de publicidade do Brasil, os autores

brasileiros procuravam expressar uma opinião, um gosto, uma cultura e um jeito

autênticos, livres de traços europeus.

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Maior liberdade formal – As produções literárias estavam livres para

assumir a forma que quisessem, ou seja, entrava em evidência a expressão em

detrimento da estrutura formal (versificação, rima etc.).

Vocabulário mais brasileiro – Como um meio de criar uma cultura brasileira

original, os artistas buscavam inspiração nas raízes pré-coloniais uti lizando-se de

vocábulos indígenas e regionalismos brasileiros para criar uma língua que tivesse

a cara do Brasil.

Religiosidade – A produção literária romântica utiliza-se não só da fé

católica como um meio de mostrar recato e austeridade, mas utiliza-se também da

espiritualidade, expressando uma presença divina no ambiente natural.

Mal do Século – Essa geração, também conhecida como byroniana e

Ultrarromantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua

característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a

escuridão.

Evasão – O artista romântico (do ultrarromantismo) interpretava o mundo

como cruel e frequentemente buscava a fuga da sociedade que não o aceitava.

Indianismo – O autor romântico utilizava-se da figura do índio como

inspiração para seu trabalho, depositando em sua imagem a confiança num

símbolo de patriotismo e brasilidade. O cavaleiro medieval é trocado pela figura do

herói nacional – mito do bom selvagem.

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A idealização da realidade – A análise dos fatos, das aparências, dos

costumes, etc. era muito superficial e pessoal, por isso era idealizada, imaginada,

assim o sonho e o desejo invadiam o mundo real criando uma descrição romântica

e mascarada dos fatos.

Escapismo – Os artistas românticos procuravam fugir da opressão

capitalista gerada pela revolução burguesa (Revolução Industrial). Apesar de

criticarem a burguesia, os artistas tinham que ser sutis, pois os burgueses eram os

mecenas de sua literatura e por isso procuravam escapar da realidade através da

idealização. As formas de escape seriam as seguintes: fuga no tempo, fuga no

sonho e na imaginação, fuga na loucura, fuga no espaço e fuga na morte.

O culto à natureza – Com a busca de um passado indígena e de uma

cultura naturalmente brasileira surge o culto ao natural, aos elementos da

natureza, tão cultuados pelos índios. Passava-se a observar o ambiente natural

como algo divino e puro.

A idealização da Mulher (figura feminina) – a mulher era a fonte de toda a

inspiração. Era intocável, vista como um anjo em que jamais poderiam desfrutar

de suas características puras e angelicais.

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A Poesia Romântica

No Brasil, a poesia romântica é marcada, num primeiro momento, pelo teor

patriótico, de afirmação nacional, de compreensão do que era ser brasi leiro, ou

pela expressão do ―eu‖, isto é, pela expressão dos sentimentos mais íntimos, dos

desejos mais pessoais, diferente do ideal de imitação da natureza presente na

poesia árcade. Isto tudo seguido de uma revolução na linguagem poética, que

passou a buscar uma proximidade com o cotidiano das pessoas, com a linguagem

do dia a dia. No poema ―Invocação do Anjo da Poesia‖, Gonçalves de Magalhães

diz que vai abandonar as convenções clássicas (cultura grega) em favor do

sentimento pessoal e do sentimento patriótico.

A poesia romântica surge em meio aos fervores independentistas da primeira

metade do século XIX e pode ser dividida em:

1ª Geração – Indianista ou Nacionalista

Elaboração de uma autêntica literatura nacional;

Influência direta da Independência do Brasil (1822);

Nacionalismo, ufanismo;

Exaltação à natureza e à pátria;

O Índio como grande herói nacional;

Sentimentalismo;

Religiosidade.

Principais Poetas

Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811 a 1882), Manuel de Araújo

Porto Alegre (1806 a 1879), Antonio Gonçalves Dias (1823 a 1864).

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Gonçalves Dias (1823-1864)

Poeta que conseguiu equilibrar um profundo e exaltado sentimento

com uma linguagem igualmente equilibrada pouco comum entre os escritores

românticos. Refletindo um sentimento e a expressão da época, pode-se dizer que

Gonçalves Dias foi o primeiro poeta a traduzir, com emoção e com saudade, a

alma nacional. As características expressivas de sua poesia são a valorização da

natureza e um forte nacionalismo, com domínio da métrica, ritmo e rima.

Canção do exílio

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar – sozinho, à noite–

Mais prazer eu encontro lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

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Trechos de ―I-Juca Pirama”

―Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci.

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

Sou bravo sou forte

Sou filho do norte

Meu canto de morte

Guerreiros, ouvi!

– És livre; parte.

– E voltarei.

– Debalde.

– Sim, voltarei, morto meu pai.

– Não voltes!

É bem feliz, se existe, em que não veja,

Que filho tem, qual chora: és livre; parte!

– Acaso tu supões que me acobardo,

Que receio morrer!

– És livre; parte!

– Ora não partirei; quero provar-te

Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso o vencem,

Da morte o passo glorioso afronta.

– Mentiste, que um Tupi não chora nunca,

E tu choraste!... parte; não queremos

Com carne vil enfraquecer os fortes.

―Tu choraste em presença da morte?

Na presença de estranhos choraste?

Não descende o cobarde do forte,

Pois choraste, meu filho não és!

Possas tu, descendente maldito

De uma tribo de nobres guerreiros

Implorando cruéis forasteiros

Seres presa de vis Aimorés!‖

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Sé maldito, e sozinho na terra;

Pois que a tanta vileza chegaste,

Que em presença da morte choraste,

Tu, cobarde, meu filho não és.‖

Um velho Timbira, coberto de glória,

Guardou a memória

Do moço guerreiro, do velho Tupi!

E à noite, nas tabas, se alguém duvidava,

Do que ele contava,

Dizia prudente: – ―Meninos, eu vi!‖

2ª Geração – Ultrarromantismo ou Mal do Século

Egocentrismo

Ultrarromantismo – Há uma ênfase nos traços românticos. O

sentimentalismo é ainda mais exagerado.

Byronismo – Atitude amplamente cultivada entre os poetas da segunda

geração romântica e relacionada ao poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por

mostrar um estilo de vida e uma forma particular de ver o mundo; um estilo de vida

boêmia, noturna, voltada para o vício e os prazeres da bebida, do fumo e do sexo.

Sua forma de ver o mundo é egocêntrica, narcisista, pessimista, angustiada e, por

vezes, satânica.

Spleen – Termo inglês que traduz o tédio, o desencanto, a insatisfação e a

melancolia diante da vida.

Mal do Século

Fuga da realidade, evasão – Através da morte, do sonho, da loucura, do

vinho, etc.

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Satanismo – A referência ao demônio, às cerimônias demoníacas proibidas

e obscuras. O inferno é visto como prolongamento das dores e das orgias da

Terra.

A noite, o mistério – Preferência por ambientes fúnebres, noturnos,

misteriosos, apropriados aos rituais satânicos e à reflexão sobre a morte,

depressão e solidão.

Mulher idealizada, distante – A figura feminina é frequentemente um

sonho, um anjo, inacessível. O amor não se concretiza e em alguns momentos o

poeta assume o medo de amar.

Desespero – a presença da morte era sentida de maneira intensa, pois

muitos morreram bem jovens em consequência de doenças, principalmente a

tuberculose.

Principais poetas

Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire, Fagundes Varela.

Álvares de Azevedo (1831-1852)

Obras póstumas: ―Noite na Taverna‖ (1855), ―Lira dos vinte anos‖ (1853),

―Macário‖ (1855), ―O conde Lopo‖ (1866).

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Namoro a cavalo

Eu moro em Catumbi. Mas a desgraça

Que rege minha vida malfadada,

Pôs lá no fim da rua do Catete

A minha Dulcineia namorada.

Alugo (três mil-réis) por uma tarde

Um cavalo de trote (que esparrela!)

Só para erguer meus olhos suspirando

À minha namorada na janela...

Todo o meu ordenado vai-se em flores

E em lindas folhas de papel bordado,

Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,

Algum verso bonito... mas furtado...

Morro pela menina, junto dela

Nem ouso suspirar de acanhamento...

Se ela quisesse eu acabava a história

Como toda a Comédia– em casamento...

Ontem tinha chovido... Que desgraça!

Eu ia a trote inglês ardendo em chama,

Mas lá vai senão quando uma carroça

Minhas roupas tafues encheu de lama...

Eu não desanimei! Se Dom Quixote

No Rossinante erguendo a larga espada

Nunca voltou de medo, eu, mais valente,

Fui mesmo sujo ver a namorada...

Mas eis que no passar pelo sobrado,

Onde habita nas lojas minha bela,

Por ver-me tão lodoso ela irritada

Bateu-me sobre as ventas a janela...

O cavalo ignorante de namoros

Entre dentes, tomou a bofetada,

Arrepia-se, pula, e dá-me um tombo

Com pernas para o ar, sobre a calçada...

Dei ao diabo os namoros. Escovado

Meu chapéu que sofrera no pagode,

Dei de pernas corrido e cabisbaixo

E berrando de raiva como um bode.

Circunstância agravante. A calça inglesa

Rasgou-se no cair, de meio a meio,

O sangue pelas ventas me corria

Em paga do amoroso devaneio!...

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Soneto

Pálida, a luz da lâmpada sombria,

Sobre o leito de flores reclinada,

Como a lua por noite embalsamada,

Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar! na escuma fria

Pela maré das água embalada...

— Era um anjo entre nuvens d’alvorada

Que em sonhos se banhava e se esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...

Negros olhos as pálpebras abrindo...

Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!

Por ti — as noites eu velei chorando

Por ti — nos sonhos morrerei sorrindo!

Se eu morresse amanhã!

Se eu morresse amanhã, viria ao menos

Fechar os olhos minha triste irmã;

Minha mãe de saudades morreria

Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!

Que aurora de porvir e que manhã!

Eu perdera chorando essas coroas

Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n’alva

Acorda a natureza mais louçã!

Não me batera tanto amor no peito,

Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora

A ânsia de glória, o dolorido afã...

A dor no peito emudecera ao menos,

Se eu morresse amanhã!

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Casimiro de Abreu (1839-1860)

Obra: ―As Primaveras‖ (1859).

Sentimentalismo foi a característica básica de

sua poesia. Um sentimentalismo tranquilo,

espontâneo, marcado pela ingenuidade. Ficou

conhecido como o Poeta da saudade / nostalgia.

Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

– Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é – lago sereno,

O céu – um manto azulado,

O mundo – um sonho dourado,

A vida – um hino d’amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d’estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh ! dias da minha infância!

Oh ! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

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Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

– Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

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3ª Geração – Condoreira

Caracterizada por uma poesia de teor sócio-político,

defendendo causas humanitárias, denunciando a escravidão

negra. O amor deixa de ser idealizado e torna-se mais

realista.

Outra característica marcante nessa geração é o uso de exclamações,

exageros e apóstrofes. A mulher passa a ser presente e carnal, mas ainda fala -se

em amor. Os poetas voltam-se para o futuro, o progresso e lutam pela liberdade.

O nome Condoreira vem de condor, ave que simboliza a liberdade, e, por

causa de seus altos voos, tem a possibilidade de uma visão mais ampla do

universo.

Principais poetas:

Castro Alves – ―O Poeta dos Escravos‖

Sousândrade: ―O Poeta da transição‖, considerado o poeta ―divisor de águas‖

entre o Romantismo e a nova escola, o Realismo.

Castro Alves (1847-1871)

Obras: ―Espumas flutuantes‖ (1870), ―A cachoeira de Paulo Afonso‖ (1876) ,

―Os escravos‖ (1883).

Poeta apaixonado pela causa da abolição; arrebatava plateias com seus

discursos e poemas. Possui uma linguagem apaixonada, retórica e

grandiloquente.

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Trechos de ―Navio negreiro‖:

Era um sonho dantesco!... O tombadilho,

Que das luzernas avermelha o brilho,

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

No entanto o capitão manda a manobra.

E após fitando o céu que se desdobra

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

―Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

fazei-os mais dançar!...‖

[...] E ri-se Satanás!...

―Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus...

Ó mar! por que não apagas

Co’a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noite! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!....

Mocidade e morte

Oh! eu quero viver, beber perfumes

Na flor silvestre, que embalsama os ares;

Ver minh’alma adejar pelo infinito,

Qual branca vela n’amplidão dos mares.

No seio da mulher há tanto aroma...

Nos seus beijos de fogo há tanta vida...

— Árabe errante, vou dormir à tarde

À sombra fresca da palmeira erguida.

Mas uma voz responde-me sombria:

Terás o sono sob a lájea fria.

Morrer... quando este mundo é um paraíso,

E a alma um cisne de douradas plumas:

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Não! o seio da amante é um lago virgem...

Quero boiar à tona das espumas.

Vem! formosa mulher — camélia pálida,

Que banharam de pranto as alvoradas.

Minh’alma é a borboleta, que espaneja

O pó das asas lúcidas, douradas...

E a mesma voz repete-me terrível,

Com gargalhar sarcástico: — impossível!

Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.

Vejo além um futuro radiante:

Avante! — brada-me o talento n’alma

E o eco ao longe me repete — avante! —

O futuro... o futuro... no seu seio...

Entre louros e bênçãos dorme a glória!

Após — um nome do universo n’alma,

Um nome escrito no Panteon da história.

E a mesma voz repete funerária:

Teu Panteon — a pedra mortuária!

Morrer — é ver extinto dentre as névoas

O fanal, que nos guia na tormenta:

Condenado — escutar dobres de sino,

— Voz da morte, que a morte lhe lamenta —

Ai! morrer — é trocar astros por círios,

Leito macio por esquife imundo,

Trocar os beijos da mulher — no visco

Da larva errante no sepulcro fundo.

Ver tudo findo... só na lousa um nome,

Que o viandante a perpassar consome.

E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito

Um mal terrível me devora a vida:

Triste Ahasverus, que no fim da estrada,

Só tem por braços uma cruz erguida.

Sou o cipreste, qu’inda mesmo florido,

Sombra de morte no ramal encerra!

Vivo — que vaga sobre o chão da morte,

Morto — entre os vivos a vagar na terra.

Do sepulcro escutando triste grito

Sempre, sempre bradando-me: maldito! —

E eu morro, ó Deus! na aurora da existência,

Quando a sede e o desejo em nós palpita...

Levei aos lábios o dourado pomo,

Mordi no fruto podre do Asfaltita.

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No triclínio da vida — novo Tântalo —

O vinho do viver ante mim passa...

Sou dos convivas da legenda Hebraica,

O estilete de Deus quebra-me a taça.

É que até minha sombra é inexorável,

Morrer! morrer! soluça-me implacável.

Adeus, pálida amante dos meus sonhos!

Adeus, vida! Adeus, glória! amor! anelos!

Escuta, minha irmã, cuidosa enxuga

Os prantos de meu pai nos teus cabelos.

Fora louco esperar! fria rajada

Sinto que do viver me extingue a lampa...

Resta-me agora por futuro — a terra,

Por glória — nada, por amor — a campa.

Adeus!... arrasta-me uma voz sombria

Já me foge a razão na noite fria!...

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Exercícios:

1. Leia as estrofes seguintes extraídas do poema Canção do Exílio de

Gonçalves Dias.

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

[...]

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu’inda aviste as palmeiras,

Onde canta o sabiá

Em relação à Canção do Exílio é correto afirmar que

a) exalta a natureza brasileira em sua fauna e sua flora, destacando-se

pela temática regionalista.

b) se trata de um soneto clássico que celebrizou o poeta como um dos

mais importantes do Romantismo brasileiro.

c) é um canto de amor à pátria e teve alguns dos seus versos

incorporados à letra do Hino Nacional.

d) as estrelas e as flores, referidas na segunda estrofe, simbolizam a falta

de preocupação com os problemas do período colonial.

e) os versos da última estrofe acentuam o sentimento do exílio e

expressam o desejo do poeta de morrer em Portugal.

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2. No Romantismo brasileiro, a poesia líricoamorosa de Gonçalves Dias

assume lugar de destaque, embora o poeta seja autor também de poemas

exaltando o heroísmo do selvagem brasileiro, além de algumas peças teatrais. Na

relação de texto a seguir, assinale a alternativa que contém poemas onde o

sentimento da mulher indígena vem expresso.

a) ―Marabá‖, ―Leito de folhas verdes‖.

b) ―Olhos verdes‖, ―Se se morre de amor‖.

c) ―Deprecação‖, ―Recordação‖.

d) ―Como eu te amo‖, ―A concha e a virgem‖.

e) ―O conto do Piaga‖, ―Seus olhos‖.

3. Leia os excertos abaixo, do poema O Poeta Moribundo, de Álvares de

Azevedo.

1. ―Poetas, amanhã ao meu cadáver

2. Minha tripa cortai mais sonorosa!...

3. Façam dela uma corda, e cantem nela

4. Os amores da vida esperançosa! [...]

5. Eu morro qual nas mãos da cozinheira

6. O marreco piando na agonia...

7. Como o cisne de outrora... que gemendo

8. Entre os hinos de amor se enternecia.

9. Coração, por que tremes? Vejo a morte,

10. Ali vem lazarenta e desdentada...

11. Que noiva!... E devo então dormir com ela?...

12. Se ela ao menos dormisse mascarada!‖

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Considere as afirmações sobre os versos.

I – A temática amorosa-sentimental e a linguagem elevada, evidenciadas nos

versos citados, são constantes na obra de Álvares de Azevedo.

II – O poeta manifesta a vontade de que seu corpo continue a ser um

instrumento do cantar lírico, mesmo depois da morte.

III – Os versos exemplificam a faceta irônica que convive com a lírica

emocional e erótica do poeta da Lira dos Vinte Anos.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

4. Considere as seguintes afirmações em relação ao mesmo poema acima,

de Álvares de Azevedo.

I – O poema revela um sentimento de inconformismo com a morte e

expressa, em tom elevado, os sentimentos típicos do ―mal do século‖.

II – Embora romântico, o poema já antecipa traços modernos, como o

emprego de imagens cotidianas e a autoironia do poeta.

III – Álvares de Azevedo satiriza a morte e a própria situação do poeta, que é

comparado a um marreco.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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5. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto

abaixo, na ordem em que aparecem.

Álvares de Azevedo é um autor do período ______ que escreveu ______,

como Lira dos Vinte Anos, Noite na Taverna e Macário. Não obstante a sua vida

muito breve, de apenas 21 anos, destaca-se por uma intensa inquietação literária

e por expressar na sua obra a leitura ______. Os seus escritos, com traços de

______ têm afinidades com as tendências do ―mal do século‖.

a) realista – poesia, teatro e outras obras – da tradição cristã – idealismo

b) parnasiano – poesia, romances e outras obras – da tradição científica –

regionalismo

c) romântico – poesia, contos e outras obras – de escritores e poetas

europeus – melancolia

d) romântico – romances, teatro e outras obras – dos ideais românticos –

nacionalismo

e) parnasiano – poesia, romances e outras obras – dos ideais

republicanos – pieguice

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6. Leia o poema abaixo, de Casimiro de Abreu:

Amor e medo

Quando eu te vejo e me desvio cauto

Da luz de fogo que te cerca, ó bela,

Contigo dizes, suspirando amores:

— ―Meu Deus! que gelo, que frieza aquela!‖

Como te enganas! meu amor, é chama

Que se alimenta no voraz segredo,

E se te fujo é que te adoro louco...

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo...

Tenho medo de mim, de ti, de tudo,

Da luz, da sombra, do silêncio ou vozes.

Das folhas secas, do chorar das fontes,

Das horas longas a correr velozes. [...]

Ai! se te visse no calor da sesta,

A mão tremente no calor das tuas,

Amarrotado o teu vestido branco,

Soltos cabelos nas espáduas nuas!...

[...]

Oh! não me chames coração de gelo!

Bem vês: traí-me no fatal segredo.

Se de ti fujo é que te adoro e muito!

És bela — eu moço; tens amor, eu — medo!..

Em Amor e medo, Casimiro de Abreu.

a) Recomenda cautela à amada para que a luz de fogo que a cerca não

revele a terceiros os segredos do casal.

b) Evita os encantos da amada justamente por desejar a moça em

excesso, respondendo ao amor dela com seu medo.

c) Nota-se que a amada engana-se ao julgá-lo ardente e amoroso, pois se

trata apenas de uma impressão causada pela distância que os separa.

d) Evita aproximar-se da amada porque as horas longas a correr velozes

em breve prejudicarão a intensidade do desejo que os une.

e) Discorda da amada que afirma que ele foge dela para evitar da

intensidade do amor que se alimenta do voraz segredo.

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7. Assinale a alternativa que indica poetas de temática indianista e

abolicionista, respectivamente.

a) Álvares de Azevedo e Gonçalves Dias

b) Gonçalves Dias e Castro Alves

c) Castro Alves e Sousândrade

d) Sousândrade e Casimiro de Abreu

e) Casimiro de Abreu e Álvares de Azevedo

A Prosa Romântica

A ascensão da burguesia ao poder e o surgimento do jornal vieram modificar

o gosto do público pela literatura. Tendo em vista que a burguesia era uma classe

leitora, surgiu a necessidade de entreter esse público, ressaltando o luxo e a

pompa da vida social burguesa e ocultando a hipocrisia de seus costumes. Por

isso pode-se dizer que, no geral, o romance brasileiro era urbano, superficial,

folhetinesco e burguês.

A prosa romântica inicia-se com a publicação do primeiro romance brasileiro

―O Filho do Pescador‖, de Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, em 1843. O

primeiro romance brasileiro em folhetim foi ―A Moreninha‖, de Joaquim Manuel de

Macedo, publicado em 1844. O romance brasileiro caracteriza-se por ser uma

―adaptação‖ do romance europeu, conservando a estrutura folhetinesca europeia,

com início, meio e fim seguindo a ordem cronológica dos fatos.

O Romance brasileiro poderia ser dividido em duas fases: Antes de José de

Alencar e pós-José de Alencar, pois antes desse importante autor as narrativas

eram basicamente urbanas, ambientadas no Rio de Janeiro, e apresentavam uma

visão muito superficial dos hábitos e comportamentos da sociedade burguesa.

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Com José de Alencar surgiram novos estilos de prosa romântica como os

romances regionalistas, históricos e indianistas. O romance passou a ser mais

crítico e realista.

Os romances brasileiros fizeram muito sucesso em sua época já que uniam

o útil ao agradável: a estrutura típica do romance europeu, ambientada nos

cenários facilmente identificáveis pelo leitor brasileiro (cafés, teatros, ruas de

cidades como o Rio de Janeiro).

Dentre os vários romancistas românticos brasileiros, merecem destaque:

Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882)

Célebre por dar início à produção prosaica do romantismo brasileiro, Joaquim

Manuel de Macedo ou Dr. Macedinho, como era conhecido pelo povo, escreveu

um dos mais populares romances da literatura romântica do Brasil. ―A moreninha‖

fez um enorme sucesso dentre a classe burguesa brasileira que se sentia

extremamente agradada por um novo projeto: a literatura original do Brasil.

Dessa forma, os romances continuavam a seguir os padrões das histórias de

amor europeias, tão populares entre a classe burguesa, mas ao mesmo tempo

inovavam ao trazer tais histórias clássicas para ambientes legitimamente

brasileiros.

Joaquim Manuel de Macedo é um escritor que estava voltado para as

narrativas urbanas e tinha como foco a cidade do Rio de Janeiro, capital do

Império do Brasil, e à alta sociedade carioca em seus saraus e festas sociais.

Seus romances em forma de folhetim eram como as atuais telenovelas, só que

escritos em episódios num jornal. As obras de Joaquim Manuel de Macedo

apresentam uma visão superficial dos hábitos e comportamentos dos jovens da

época, buscando ilustrar a pompa e o luxo da alta classe capitalista , e com isso,

escondendo a hipocrisia e a dissimulação da burguesia.

A grande importância de sua obra é em despertar no público brasileiro, o

gosto pela produção literária nacional, ambientada em cenários facilmente

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identificáveis. Seus romances posteriores a ―A moreninha‖ seguem sua mesma

―fórmula‖.

Obras: ―A Moreninha‖ (1844), ―O Moço Loiro‖ (1845), ―Os dois amores

(1848), ―Rosa‖ (1849), ―Vicentina‖ (1853), ―O forasteiro‖ (1855), ―Os romances da

semana‖ (1861), ―Rio do quarto‖ (1869), ―A luneta mágica‖ (1869), ―As vítimas-

algozes‖ (1869), As mulheres de mantilha‖ (1871). Sátiras políticas: ―A carteira do

meu tio‖ (1855) e ―Memórias do sobrinho do meu tio‖ (1867-1868).

―A Moreninha‖ conta a história de

Augusto e Carolina. Ele é um rapaz burguês

que vai estudar Medicina no Rio de Janeiro.

Morando em uma república estudantil,

Augusto faz vários amigos, dentre eles Filipe,

que o convida para veranear na Ilha de

Paquetá. Augusto aceita o convite e, junto

com os amigos, faz uma aposta: se ele se

apaixonasse por alguma moça teria de

escrever romances de amor revelando sua

paixão. Augusto inevitavelmente se apaixona

por Dona Carolina, irmã de Filipe, que recusa

enamorar-se com Augusto, pois em sua

infância havia jurado amor eterno a um certo

menino e Augusto, curiosamente, também havia jurado amor eterno e casamento

a uma certa menina. Por fim, ao descobrirem que um era a paixão infantil do outro,

entregam-se a esse sentimento. A pureza e discrição dos personagens, assim

como a beleza de um amor pudico, conquistaram os leitores burgueses tornando

esse romance um dos maiores sucessos do romantismo brasileiro.

A moreninha com Nívia Maria e Mário

Cardoso.

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Trechos de “A moreninha”:

―Figure-se a mais bonita criança do mundo, com um vivo, agradável e alegre

semblante, com cabelos negros e anelados voando em derredor do seu pescoço,

com o fogo do céu nos olhos, com o sorrir dos anjos nos lábios, com a graça

divina em toda ela, e far-se-á uma ideia ainda incompleta dessa menina.‖

―D. Carolina deixou cair uma lágrima e falou ainda, mas já com voz fraca e

trêmula: – Sim, deve partir... vá... Talvez encontre aquela a quem jurou amor

eterno... Ah! Senhor! Nunca lhe seja perjuro.

– Se eu a encontrasse!

– Então?... Que faria?...

Atirar-me-ia a seus pés, abraçar-me-ia com eles e lhe diria:

– Perdoai-me, perdoai-me, senhora, eu já não posso ser vosso esposo!

Tomai a prenda que me deste...

E o infeliz amante arrancou debaixo da camisa um breve, que

convulsivamente apertou na mão.

– O breve verde!..., exclamou d. Carolina, o breve que contém a esmeralda!

[...]

– O meu camafeu!... O meu camafeu!...‖

José de Alencar (1829-1877)

José de Alencar é considerado o patriarca da literatura brasileira. Inaugurou

novos estilos românticos e consolidou o Romantismo no Brasil, desenhando o

retrato cultural brasileiro de forma completa e abrangente. E devido a essa visão

ampla do cenário brasileiro, sua obra iniciaria um período de transição entre

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Romantismo e Realismo. Suas narrativas apresentam um desenvolvimento dos

conflitos femininos da mulher burguesa do século XIX, já que se us romances a

tinha como público alvo. Sua obra pode ser fragmentada em três categorias:

Romances Urbanos

Romances ambientados no Rio de Janeiro, protagonizados por personagens

femininos que mostravam o luxo e a pompa das atividades sociais burguesas.

Apresentavam uma crítica sutil aos hábitos hipócritas da burguesia e seu caráter

capitalista.

São exemplos de romances urbanos de José de Alencar:

Senhora – Faz crítica ao casamento por interesse, à hipocrisia, à cobiça e à

soberba burguesa.

Lucíola – Critica o fato de a burguesia, que financia a prostituição durante a

noite, ter aversão à mesma durante o dia.

Diva – Ressalta a beleza das jovens e ricas burguesas, o virtuosismo e a

pureza e, em contrapartida, critica o casamento por interesse financeiro.

Romances Regionalistas

Narrativas que se sucedem em centros afastados da capital imperial, ou seja,

histórias que acontecem em lugares tipicamente brasileiros, mais pitorescos,

menos influenciados pela cultura europeia.

Apesar de José de Alencar narrar seus romances regionalistas com uma

incrível fluência e suavidade, as histórias narradas são superficiais devido ao fato

de que o autor não viajara para as regiões que descreveu, mas pesquisara a

fundo sobre elas.

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Basicamente, são romances que procuram ser mais fiéis ao projeto de

brasilidade e propaganda do Brasil independente. O objetivo é fazer propaganda

aos próprios brasileiros, expondo a diversidade do país.

São Exemplos de romances regionalistas de José de Alencar: ―O Gaúcho‖,

―O Sertanejo‖, ―O Tronco do Ipê‖.

Romances Históricos e Indianistas

Romances que revelam a

preocupação de José de Alencar em

exibir o índio como herói nacional.

Enquanto os autores românticos da

Europa retratavam o saudosismo

através de menções à época medieval,

no Brasil, Alencar procurou buscar na

cultura indígena o passado fiel da

história brasileira. Seus romances

trazem uma linguagem mais original. Com vocábulos do tupi, retratam o índio

como símbolo de bravura, de pureza e de amor ao ambiente natural.

Pode-se dizer que suas narrativas tendiam ao estilo poético por entrelaçar o

caráter básico da prosa com o lirismo do gênero poético. Em resumo, suas obras

utilizam o indianismo como forma de revelar um conceito mais original de

brasilidade e criar um projeto de língua brasileira.

Dentre as obras mais importantes de José de Alencar nesse ramo do

Romantismo, estão: ―O Guarani‖, ―Ubirajara‖, ―As Minas de Prata‖, ―Iracema‖.

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Trecho de ―Iracema‖:

―Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu

Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros

que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não

era doce como o seu sorriso; nem a baunilha rescendia no bosque como seu

hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o

sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação

tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia

a terra com as primeiras águas.‖

Importância da Obra de José de Alencar

Considerado o mais importante escritor do Romantismo brasileiro, é ele

quem consegue expressar o perfeito retrato da cultura local, explorando novas

vertentes da produção literária, criando e abrindo caminhos para a criação de uma

literatura brasileira original, ampla e de boa qualidade.

Por isso, foi o autor que mais se aproximou do objetivo da escola romântica,

mesclando a idealização e o sonho com um realismo sutil, valorizando os

elementos naturais da nossa cultura e o índio como figura mãe da original cultura

brasileira.

Suas obras foram capazes de inspirar nos burgueses o gosto pela leitura

nacional e também, de inspirar diversos autores a seguir caminhos por ele

traçados, concretizando assim seu projeto nacionalista de revelar o Brasil num

todo.

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Bernardo Guimarães (1825-1884)

Considerado um dos mais importantes regionalistas românticos brasileiros,

opta por seguir um dos caminhos traçados por José de Alencar, ambientando suas

tramas nos estados de Minas Gerais e Goiás.

Suas obras conservam o caráter linear romântico, apresentando a estrutura

folhetinesca típica de sua época; prezam pela valorização do pitoresco e do

regional, resgatando os hábitos típicos da sociedade imperial.

Caracteriza-se por usar, por vezes, a linguagem oral em sua obra e fazer

críticas sutis aos sistemas patriarcal, clerical e escravocrata do Brasil Império.

Entres suas principais obras, destacam-se:

“A Escrava Isaura” – Fez grande

sucesso enquanto livro. Tão notável que foi

adaptado como novela da Rede Globo e da

Rede Record. Bernardo Guimarães tentou

criticar a escravatura no Brasil, patrocinando,

através de sua obra, o abolicionismo. No

entanto, sua crítica se mostrou um tanto mal

sucedida, pois a personagem principal,

Isaura, era uma escrava branca, e a antagonista, uma mucama negra, o que

incitou nos leitores uma raiva da personage m negra e um sentimento de pena e

compaixão da escrava branca Isaura. Pode-se dizer que não atingiu seu objetivo

realista devido a sua crítica equivocada, mas conquistou enorme admiração e já

nos permite identificar traços de uma literatura brasileira mais realista. Apresenta o

caráter sentimentalista romântico das histórias de amor terminando com seu

devido final feliz.

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Trechos de ―A escrava Isaura‖:

―– Senhor! – exclamou Isaura correndo a lançar-se aos pés de Álvaro; – oh!

quanto sois bom e generoso para com esta infeliz escrava!... mas em nome dessa

mesma generosidade, de joelhos eu vos peço, perdão! perdão para eles...

– Levanta-te, mulher generosa e sublime! – disse Álvaro estendo-lhe as

mãos para levantar-se. – Levanta-te, Isaura; não é a meus pés, mas sim em meus

braços, aqui bem perto do meu coração, que te deves lançar, pois a despeito de

todos os preconceitos do mundo, eu me julgo o mais feliz dos mortais em poder

oferecer-te a mão de esposo!...

– Senhor, – bradou Leôncio com os lábios espumantes e os olhos

desvairados, – aí tendes tudo quanto possuo; pode saciar sua vingança, mas eu

lhe juro, nunca há de ter o prazer de ver-me implorar a sua generosidade.

E dizendo isto entrou arrebatadamente em uma alcova contígua à sala.

– Leôncio! Leôncio!... onde vais! – exclamou Malvina precipitando-se para

ele; mal, porém, havia ela chegado à porta, ouviu-se a explosão atroadora de um

tiro.

– Ai!... – gritou Malvina, e caiu redondamente em terra.

Leôncio tinha-se rebentado o crânio com um tiro de pistola.‖

―O Seminarista” – Não tão notório quanto a obra acima, mas também possui

valor literário. Critica o sistema patriarcal da época e principalmente o sistema

clerical, mencionando a inadequação do jovem à vida religiosa imposta pela

família.

Assim como ―A escrava Isaura‖, é uma história de amor, que permite-nos

observar sentimentos em conflito com uma realidade imposta pela sociedade (o

jovem que não pode amar, pois fora forçado a ser padre por sua família). Ao

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contrário da primeira obra, apresenta um final trágico no qual o protagonista

enlouquece ao saber da morte de sua amada.

Trecho de ―O seminarista‖:

―A missa do padre novo, que gozava de uma grande

nomeada de sabedoria e santidade, tinha atraído à igreja

um numeroso e brilhante concurso. O pai e a mãe de

Eugênio estavam no auge do contentamento.

Chegando à escada que sobe para o altar-mor o

padre parou, e quando já todos de joelhos esperavam que

rezasse o ‗introito‘, viram-no com assombro arrancar do

corpo um por um todos os paramentos sacerdotais, arrojá-

los com fúria aos pés do altar, e com os olhos desvairados,

os cabelos hirtos, os passos cambaleantes, atravessar a

multidão pasmada, e sair correndo pela porta principal.

Estava louco... louco furioso.‖

Franklin Távora

Um dos mais importantes escritores do romance regionalista brasileiro,

Franklin Távora foi o primeiro autor romântico a escrever sobre o cangaço

nordestino e um dos mais assíduos críticos do romantismo de José de Alencar,

pois acreditava num romantismo mais realista, menos idealizado.

Sua literatura era baseada no ―Projeto de uma Literatura do Norte‖, o que ele

fez foi explorar as regiões Norte e Nordeste do Brasil, apoiado em sua teoria de

que essas eram as regiões mais brasileiras por serem as menos exploradas pelos

brancos europeus, conservando assim um caráter mais típico e mais real da

cultura do Brasil. Suas obras valorizavam bastante a questão regional, prezando

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pelo pitoresco e peculiar das regiões que se preocupou em retratar, assim ele

pode expressar os costumes, as características e a realidade, até então pouco

explorados, da população do interior do Brasil de forma detalhada e realista.

Os romances de Franklin Távora são marcados por sua objetividade,

característica do realismo, e por uma análise justa do ambiente que procurava

descrever. Devido a esses fatores sua produção literária, pode-se dizer, que oscila

entre o Romantismo e o Realismo. Apesar de um grande envolvimento com a

causa realista, a obra de Franklin Távora é considerada romântica por conservar o

caráter linear e a temática amorosa que marcam a escola romântica brasileira.

―O Cabeleira‖: Trata-se de seu romance mais importante. Sua história se

desenrola sobre a temática do cangaço nordestino, tendo como protagonista o

Cabeleira, o chefe de um bando de cangaceiros assaltantes. O Cabeleira termina

por largar o banditismo em favor de seu amor por Luizinha. Apresenta fortes

traços de realismo por ser justo e fiel aos fatos e ao ambiente, no entanto

permanece idealizador na questão sentimental, cuja ideia principal é que o amor

quebra qualquer barreira.

Visconde de Taunay (1843-1899)

Outro importante autor da vertente regionalista do Romantismo brasilei ro,

que tomou por cenário de suas narrativas a província de Mato Grosso. Sua obra

caracteriza-se pela precisão de detalhes e pela descrição minuciosa da paisagem

mato-grossense, abusando de detalhes sobre a flora, a fauna e o relevo do

cerrado central do Brasil.

Seus romances apresentam a habitual estrutura românticos lineares e

acessórios realistas, caracterizados por estarem integrados à vertente sertanista.

Preocupa-se em retratar de forma rica e real o ambiente particular da região

centro-oeste brasileira.

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Inocência – O romance tem como protagonistas a

pura e ingênua Inocência, que é vendida pelo pai ao

fazendeiro Manecão; e Cirino, um curandeiro que se

finge de médico para ganhar a vida. Em uma de suas

―consultas‖ cura Inocência e entrega uma carta ao pai da

moça, Seu Pereira. Inocência e Cirino se apaixonam, e a

frágil moça se torna forte em nome de seu real amor,

num de seus encontros amorosos o casal é descoberto o

que leva Seu Pereira e Manecão a planejarem uma

emboscada para Cirino. Cirino e Inocência terminam

mortos. Visconde de Taunay inova por apresentar um

desfecho infeliz com a morte dos dois protagonistas.

Trecho de ―Inocência‖:

―Este acenou para alguém que estava num canto do quarto e na sombra.

– Ó Tico, disse ele, venha cá...

Levantou-se, a este chamado, um anão muito entanguido, embora

perfeitamente proporcionado em todos os seus membros. Tinha o rosto sulcado

de rugas, como se já fora entrado em anos; mas os olhinhos vivos e a negrejante

guedelha mostravam idade pouco adiantada.

– Oh! exclamou Cirino ao ver entrar no círculo de luz tão estranha figura, isto

deveras é um tico de gente.

– Não anarquize o meu Tonico, protestou sorrindo-se Pereira. Ele é

pequeno... mas bom. Não é, meu nanico?

O homúnculo riu-se, ou melhor, fez uma careta mostrando dentinhos alvos e

agudos, ao passo que deitava para Cirino olhar inquisidor e altivo.

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– O Sr. vê, doutor, continuou Pereira, esta criaturinha de Cristo ouve

perfeitamente tudo quanto se lhe diz e logo compreende. Não pode falar... isto é,

sempre pode dizer uma palavra ou outra, mas muito a custo e quase a estourar de

raiva e de canseira. Quando se mete a querer explicar qualquer coisa, é um

barulho dos seiscentos, uma gritaria dos meus Recados, onde aparece uma voz

aqui, outra acolá, mais cristãzinhas no meio da barafunda.‖

Manuel Antônio de Almeida (1831-1861)

O que melhor descreve a sua importância no Romantismo brasileiro é o seu

envolvimento com o romance de costumes. Sua obra procurou retratar os hábitos,

a moda, o folclore e a religiosidade das classes populares do início do século XIX,

desmascarando violentamente a baixa sociedade brasileira colonial. Isso a torna

singular dentre as obras românticas que procuraram tratar dos costumes e dos

valores da alta sociedade imperial.

Seu romance de costumes ironizava os padrões e normas românticos,

criticava a desequilibrada baixa classe brasileira sarcasticamente e pôs em crise a

idealização romântica devido ao fato de seus personagens serem malandros,

cafajestes e praticamente marginais.

Um dos principais traços da obra de Manuel Antônio de Almeida é o

predomínio do humor sobre o dramático. Suas personagens são caricaturadas,

com ênfase aos seus defeitos. Os acontecimentos da trama desmentem as

aparências das personagens (e quebram mais um padrão romântico cujas obras

apresentavam acontecimentos que validavam as aparências das personagens).

Seu romance era picaresco, relativo a picadeiro, ou seja, eram romances

cômicos e tendiam ao patético, substituindo o dramático habitual do romantismo

por um humor crítico e sagaz. Sua produção apresenta uma ausência da tragédia

humana em função de quebrar mais um cacoete romântico. Caracteriza -se como

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autor precursor do Realismo por sua objetividade e sua descrença nos valores

sociais, destruindo assim, o caráter subjetivo e bajulador do Romantismo.

Pesar de toda essa quebra de valores, não só a sua localização temporal,

mas também a presença da linearidade e a proteção dos valores burgueses,

encaixam a sua obra dentro do Romantismo brasileiro.

―Memórias de um Sargento de

Milícias‖: conta a história de

Leonardo, um homem que conta as

memórias de sua vida desgraçada.

Filho de Leonardo Pataca e Maria das

Hortaliças, Leonardo foi abandonado

ainda criança por sua mãe, que fugiu

com um marinheiro, e por seu pai que

não o queria. Passou a viver com o

padrinho que não tinha filhos e o criara com muita dedicação, encobrindo todas as

suas travessuras. Era um me nino insuportável. Mais tarde torna-se um boêmio

arruaceiro, que quase sempre era preso e logo depois solto. Teve por um bom

tempo o sargento Vidigal em sua cola.

Devido a essa frequência na cadeia, Leonardo cria amizades no meio militar

e logo, por apadrinhamento, ganha a patente de sargento de milícias. Após ganhar

tal cargo, decide-se casar para fazer jus à sua patente. Casa-se com Luisinha que

estava recém-viúva e foi o primeiro amor na sua adolescência.

―Memórias de um Sargento de milícias‖ causou um grande impacto no

público burguês, sendo lido principalmente por intelectuais da literatura da época e

alcançando o ápice de sucesso após a morte de Manuel Antônio de Almeida em

um naufrágio. A narrativa é linear, apesar de ―começar pelo final‖, é farta de

humor, e o núcleo principal caracteriza-se pela falta de classe e de valores.

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Trecho de ―Memórias de um sargento de milícias‖:

―Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo

fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe

uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo,

sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um

tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em

forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao

anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de

serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois

amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.‖

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Exercícios

1. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do texto

abaixo, na ordem em que aparecem.

O primeiro romance brasileiro foi ―O Filho do Pescador‖, de Teixeira e Sousa.

Foi, entretanto, ___________ o responsável pelo surgimento do verdadeiro

romance brasileiro, com ____________ Ao fixar os costumes da sociedade

carioca do seu tempo, atendendo às expectativas burguesas, este autor adequou

o romance romântico ____________ aos cenários ____________ e às normas

patriarcais.

a) Joaquim Manuel de Macedo – O Moço Loiro – brasileiro – urbanos

b) José de Alencar – Lucíola – europeu – locais

c) Visconde de Taunay – Inocência – brasileiro – rurais

d) Joaquim Manuel de Macedo – A Moreninha – europeu – locais

e) José de Alencar – Senhora – europeu – urbanos

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2. Leia o texto abaixo, extraído do romance ―Memórias de um Sargento de

Milícias‖, de Manuel Antônio de Almeida.

―Desta vez porém Luisinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço,

como este último tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante

do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. E

ingenuamente não sabemos se se poderá aplicar com razão ao Leonardo.‖

Considere as afirmações abaixo sobre o comentário feito em relação à

palavra ingenuamente na última frase do texto.

I – O narrador aponta para a ingenuidade da personagem frente às

experiências desconhecidas do primeiro amor.

II – O narrador, por saber quem é Leonardo, põe em dúvida o caráter da

personagem e as suas intenções.

III – O narrador acentua o tom irônico que caracteriza o romance.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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3. Assinale a alternativa que preenche adequadamente as lacunas do texto a

seguir, na ordem em que aparecem.

Memórias de um Sargento de Milícias é uma obra de tendência ______ que

apresenta aspectos de transição social relacionados ______, podendo ser lida

como ______, com traços de linguagem ______.

a) naturalista – ao aumento da imigração no Brasil – relato documental – subjetiva

b) romântica – ao reinado de D. Pedro II – narrativa em primeira pessoa – erudita

c) realista – à vinda de D. João VI ao Brasil – crônica de costumes – coloquial

d) romântica – à abolição da escravatura– narrativa de costumes – objetiva

e) realista – ao reinado de D. Pedro II – romance histórico – satírica.

4. Considere as seguintes afirmações a respeito de ―Memórias de um

Sargento de Milícias‖, de Manuel Antônio de Almeida.

I – O campo de abrangência social focalizado pelo romance, narrado com

linguagem humorística e irônica, é a classe média do Rio de Janeiro, sobretudo do

centro da cidade, constituída por homens livres, com relações interpessoais

marcadas pela irreverência e a desordem.

II – O romance introduz na literatura brasileira a figura do malandro,

personagem que oscila entre as regras de conduta social e sua transgressão,

entre o lícito e o ilícito, sem que esse dualismo receba tratamento moralizante por

parte do autor.

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III – É um romance narrado em primeira pessoa, que privilegia o ponto de

vista do narrador protagonista, Leonardo, e a sua avaliação crítica da sociedade

carioca da segunda metade do século XIX.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

5. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações, sobre

―Memórias de um sargento de milícias‖, de Manuel Antônio de Almeida.

( ) Leonardo pataca é o pai de um jovem indisciplinado, mas generoso, cujas

aventuras e desacertos compõem a maior parte do romance.

( ) A narrativa é marcada pelo humor com que são caracterizados os

personagens que percorrem as ruas do Rio de Janeiro.

( ) O romance expõe o tratamento que era dispensado aos escravos no

século XIX e propõe o fim do tráfico escravista.

( ) Vidigal tem a tarefa de manter o respeito à ordem no romance, mas não

apela para a violência física e faz uso do diálogo e do convencimento.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V–F–F–F

b) F–V–V–F

c) V–V–F–V

d) F–F–V–V

e) V–V–F–F

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6. Considere as seguintes afirmações sobre a obra de Bernardo Guimarães.

I – Em ―O Garimpeiro‖, o autor utiliza o episódio da cavalhada para

defender os costumes interioranos.

II – Em ―O Seminarista‖, o autor critica o celibato sacerdotal e o

autoritarismo patriarcal, que impedem a realização amorosa de Eugênio.

III – Em ―A Escrava Isaura‖, através do drama de Isaura/Elvira, o autor se

alinha à luta abolicionista da época.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

7. Considere as seguintes afirmações sobre romances do século XIX.

I – ―Memórias de um sargento de milícias‖, de Manuel Antonio de Almeida,

narra as aventuras e desventuras de Leonardo Pataca e de seu filho Leonardo no

Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX.

II – ―A escrava Isaura‖, de Bernardo Guimarães, narra a história de uma

escrava de pele clara que é assediada por vários pretendentes, inclusive por seu

senhor, Leôncio, que a persegue durante quase toda a narrativa.

III – ―Inocência‖, de Visconde de Taunay, narra o amor bem-sucedido do

personagem-título por um jovem médico, cujo principal objetivo na vida é retornar

para o Rio de Janeiro e abandonar sua clientela acanhada e caipira.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

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Gabarito

Literatura Informativa

1.C 2.E 3.D 4.D 5.C

Barroco

1.E 2.D 3.C 4.C 5.E

Arcadismo

1.C 2.B 3.A 4.A 5.D

Romantismo

1.C

2.A

3.D

4.D

5.C

6.B

7.B

A Prosa Romântica

1.D

2.D

3.C

4.C

5.E

6.E

7.C