Summa Dæmoniaca (Tradução e Adaptação)

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SUMMA DMONIACA J. A. Fortea (Traduo por Ebrael Shaddai)

SVMMA DMONIACA

Tratado de Demonologia eManual de Exorcismo

***

Autor: Pe. Jose Antonio Fortea2004fortea.ws

Traduo para o Portugus:Ebrael Shaddai

2013

ebrael.wordpress.com

Sumrio

SumrioNota do Tradutor7Introduo9Tratado de Demonologia11Parte I: A Natureza Demonaca121. O que um demnio?132. Por que Deus levou os Espritos Anglicos prova?203. Por que Deus no suspendeu a Liberdade ao ver que comeavam a pecar?234. So iguais todos os demnios?235. Zoologia e Demonologia246. Astronomia e Demonologia267. Quais os nomes dos Demnios?278. Existe o Tempo para os Demnios?319. Em que pensa um demnio?3210. Qual a linguagem utilizada pelos demnios?3311. Onde esto os demnios?3412. Os demnios conhecem o futuro?3413. Pode um demnio fazer algo de bom?3514. O demnio pode experimentar algum prazer?3615. O demnio livre para fazer mais ou menos males?3716. Quais so os mais malignos dentre os demnios?37Parte II: A Tentao e o Pecado3917. Por qu pecamos?4018. Quantas tentaes procedem dos demnios?4119. Podemos ser tentados alm de nossas possibilidades?4120. Por que o Diabo tentou a Jesus?4221. O Demnio sabe que Deus impecvel?4322. Pode-se chegar a distinguir as tentaes procedentes de ns mesmos das dos demnios?4423. O que fazer diante da tentao?4524. Pode usar o Demnio de alguma estratgia ao tentar-nos?4625. Pode Deus tentar?4826. Por que Deus permite a tentao?4827. O que a morte eterna?4928. Como o processo que leva Morte eterna?5029. Qual a diferena entre natural, preternatural e sobrenatural?5230. Os demnios atraem maior castigo pelo Mal que fazem aos homens?5331. possvel fazer um pacto com o Demnio?5432. Pode o Demnio causar uma doena mental?5633. O Demnio pode provocar doenas fsicas?5734. Como podemos saber se uma viso originada em uma obsesso demonaca ou problema psiquitrico?5835. Podem os demnios provocar pesadelos?5936. Podem os demnios ler nossos pensamentos?6037. Podem provocar desastres ou acidentes?6038. Podem os demnios operar milagres?6239. Como podemos saber que algo foi provocado pelo Demnio?6440. O Demnio pode causar azar?6541. Que malefcio?6642. O malefcio pode conter real poder?6743. O que fazer em caso de malefcio?6844. O que um feitio?7045. Importa o modo como so operados os malefcios ou feitios?7146. Qual a diferena entre magia branca e magia negra?7247. Os magos podem adivinhar o futuro por interveno do Demnios?7348. O Demnio intervm no horscopo, tar e outras formas de tentar adivinhar o futuro?7449. Pode o Demnio inspirar falsas vises a um mstico?7450. Os demnios podem provocar estigmas?7751. Com que forma os demnios se apresentam viso dos homens?7952. o demnio que leva noite do esprito?8053. Deus odeia os demnios?8254. Podem os demnios congregar seus esforos para influenciar uma sociedade?8355. Por que Satans no se manifesta aos homens em pleno uso de seu Poder?8556. Dentro da Igreja, quem o Demnio mais odeia?8657. O Demnio sabia que Jesus era o Messias enquanto este estava encarnado?8758. Jesus sofreu a Tentao?8859. Qual foi a criatura mais excelsa criada por Deus: a Virgem [Maria] ou Lcifer?9060. Por que a gua benta atormenta o Diabo?9161. Que outros objetos podem atormentar o Demnio?9362. Qual o demnio do meio-dia?9363. Com o que os anjos ocupam seu tempo?9464. Existe sacerdcio no Mundo Anglico?9564. adequado retratar o Demnio com corpo humano e chifres?9766. Por que h gua benta entrada das Igrejas?9867. Seria o Demnio um mero smbolo do Mal ou realmente existe?9968. Qual a diferena entre o temor a Deus e o temor ao Demnio?9969. Em que ordem esto as trs tentaes sofridas por Jesus no deserto?10170. Que so os mil anos em que o Diabo ficar acorrentado?10371. Que significado tinha o envio do bode a Azazel, descrito no livro do Levtico?10472. Por que a Bblia diz que os demnios esto nas regies do Ar?10673. Por que, na Bblia, Deus chama o Diabo de Prncipe deste mundo?10774. Por que o demnio Asmodeu fugiu quando Tobias queimou corao e fgado de peixe?10775. H algum simbolismo implcito neste corao e fgado de peixe com Tobias?10976. O que significa dizer que Jesus levou os demnios em cortejo triunfal?11077. Por que chama-se o Diabo de Acusador?11178. Conversam entre si Deus e o Diabo?11279. lcito insultar os demnios?11380. Por que So Tiago diz que os demnios creem em Deus?11494. Deus pode perdoar os demnios?114

Por mim, chega-se cidade do pranto; por mim, chega-se cidade da eterna dor; por mim, chega-se raa condenada: a Justia animou meu sublime arquiteto. Fiz-me a mim a Divina Providncia, a Suprema Sabedoria e o Primeiro Amor. Antes de mim, nada havia que fosse criado, salvo o imortal, e eu duro eternamente. , vs que entrais, abandonai toda a esperana!(Inscrio que Dante Alighieri pe sobre o batente da entrada para o Inferno, na Divina Comdia).

Nota do Tradutor

Este um trabalho de traduo da obra homnima do Pe. Jos Antnio Fortea, eminente exorcista autorizado pela Santa Igreja. Portanto, o inteiro contedo deste arquivo (excetuando-se esta Nota do Tradutor, as notas de rodap com a indicao N. do T. e os comentrios entre colchetes no texto) de propriedade intelectual do padre catlico supracitado. A traduo de minha responsabilidade, mas a obra em si pertence a outro. Portanto, a partir do fim desta nota, comea a obra (traduzida) do Autor, propriamente dita.A mesma tarefa de traduzir a obra do espanhol teve por fim o uso prprio para estudo e referncia, no tendo eu mesmo qualquer inteno de lucro ou reconhecimento pblico indevido. Espero que todos utilizem este trabalho, traduzido ou no, de forma modesta, correta e, principalmente, para a maior glria de Deus.Nestes tempos em que o relativismo, reinante na mdia, escarnece dos legados filosficos clssicos e cristos, faz-se necessrio, da parte de todos os fiis da Santa Igreja, um hercleo esforo para alertar (e relembrar) a sociedade do que disse nosso Senhor acerca do "Prnicipe deste mundo", ele que "homicida desde o princpio" e "pai da mentira". Antes, as pessoas acorriam a dizer que eram crists. Hoje, estufam o peito em declararem-se "libertas dessa superstio", ecoando com louca sinceridade as palavras dos Anjos rebeldes.Cheguei ao livro Summa Dmoniaca por uma pgina da Internet que tratava de Exorcismo. Talvez, Pe. Jose Antonio Fortea (autor deste livro) e Pe. Gabriele Amorth (exorcista oficial da Diocese de Roma) sejam, hoje, as melhores referncias em Exorcismo na mdia catlica. Como s obtive a verso digital do livro, por pura convenincia, resolvi traduzir, em estilo livre, a verso original em espanhol para o portugus. No consegui encontrar uma verso gratuita nessa lngua. Igualmente verso espanhola, minha traduo gratuita e exorto-vos a compartilharem entre si tambm gratuitamente. A venda do que recebessem de graa seria imoral e anticrist. De graa recebestes, de graa dai!Comment by : Ebrael Shaddai:No baixem verso em PDF agora, isto , antes da concluso da traduo, que ainda est no incio. Deixem pra baixar a verso completa em PDF quando o trabalho for concludo.Quando isto acontecer, vocs sabero. Boa leitura!Juntas s notas de rodap do prprio Autor, colocarei notas de minha prpria autoria quando convenientes, comentando o texto em si ou as notas do Autor. Diferiro das notas do Autor, vinda indicadas pela sigla N. do T. (Nota do Tradutor).A formatao difere um pouco da verso original em espanhol, logicamente. Esta verso no uma cpia, mas uma traduo livre a partir do original, o mais fidedigna que me foi possvel realizar.

Sancte Michael Archangele, defende nos in prlio!Sancta Dei Genitrix, ora pro nobis, pecatoribus!Iesu Christe, Fili Dei Viventis, miserere nobis, pecatores!

Ebrael Shaddai06 de dezembro de 2012

Introduo

Optei por escrever um livro nos moldes dos antigos tratados escolsticos, o que significa uma obra distribuda em um grande nmero de questes de extenso e peso teolgico variveis. Por que? Porque me pareceu o modo mais livre de tratar o tema de todos os pontos de vista possveis. E, mais ainda, me pareeu esta a maneira de poder abranger ao demnio e todos os seus aspectos e detalhes. Em uma matria como esta, os detalhes se tornam muito importantes. Cada detalhe, fornecido pela Bblia, sobre o demnio no em vo. Sempre me fascinaram aqueles velhos tomos escolsticos, escritos com letras gticas, em que os temas teolgicos iam aparecendo com uma lgica frrea e, ao mesmo tempo, segundo as preferncias e interesses do monge (ou religioso), que ditava o texto a ser escrito ao secretrio, o qual estava sempre atento, debruado sobre a escrivaninha.Minha tese sobre o exorcismo (a que escrevi para minha Faculdade) estava repleta de notas de rodap, de referncias bem conhecidas e de temas que os acadmicos consideram srios e graves. Esta obra queria escrev-la de modo mais livre, despojado de vnculos a esquemas fixos e pr-concebidos. No me teria sido difcil dar ao contedo do livro um aspecto mais organizado e formal, mas escrevi a obra tal qual gostaria de l-la. Agora, com o livro concludo, contemplo uma construo, uma construo intelectual sobre o mundo anglico decado.Nota: O ttulo em latim desta obra, Summa Dmoniaca, se traduz como Suma (relao, lista) de questes relativas ao demnio.Em latim, o substantivo summa significa suma, generalidade, relao, lista, conjunto. O adjetivo Dmoniaca pode significar maligna, demonaca, mas tambm aquilo que relativo ao demnio. Com relao ao adjetivo, este segundo sentido que se tomou ao ttulo.

Este livro me lembra uma construo arquitetnica medieval, com seus pilares, galerias e recantos. Um livro com seus capitis, prticos e criptas. Por esta obra acerca do demnio pode-se ir e vir, percorr-la exaustivamente ou, simplesmente, passear atravs ela. uma construo teolgica. Uma espcie de labirinto demonaco com suas questes, partes, apndices, suplementos e anexos. Uma construo de seu incio ao fim, erigida com conceitos ao invs de pedras; ou melhor dizendo, com as pedras dos conceitos. E toda essa construo erguida sob as firmes leis da lgica, todo este aparente labirinto sujeito a uma estrutura frrea que se oculta sob a aparente selva de questionamentos.No esquea o leitor, durante sua leitura (durante o passeio atravs do interior dessa construo), o que no foi esquecido durante a redao desta obra: que toda construo teolgica foi ( e sempre ser) erguida para a maior Glria de Deus. Espanta-nos o fato de que, at mesmo, uma construo teolgica acerca dos demnios possa proclamar o Poder da onipotente mo divina!Diante do mal est o bem; diante da morte, a vida, assim tambm diante do justo est o pecador. Considera assim todas as obras do Altssimo; esto sempre duas a duas, opostas uma outra. (Eclesistico 33:15)

Tratado de Demonologia

Parte I: A Natureza Demonaca

1. O que um demnio?

Demnio um ser espiritual, de natureza anglica, condenado eternamente. No tem corpo; no existe em seu ser nenhum tipo de matria sutil nem coisa alguma semelhante matria. Assim, [o demnio] tem uma existncia de carter inteiramente espiritual. Spiritus, em latim, significa sopro, hlito. No tendo corpo[footnoteRef:1], os demnios no sentem sequer a mnima inclinao para pecados que possam cometer com [por meio do] o corpo. Portanto, a gula ou a luxria so impossveis para eles[footnoteRef:2]. Podem tentar os homens a pecarem nessas reas, porm somente conseguem perceber esses pecados de um prisma meramente intelectual, pois no tm [no so dotados de] sentidos fsicos. Os pecados dos demnios, portanto, so exclusivamente espirituais. [1: Sobre o postulado de os demnios no possurem corpos, relativo. Mais frente, explicarei por que contesto, em parte, o que o Autor diz aqui. [N.do T.]] [2: Nesta afirmao particular, o Autor quis dizer que o demnio no pode sentir, e.g., a gula ou a luxria sentidas como no corpo material, sob as manifestaes de gula por comida ou outra coisa e luxria sexual, embora possam usar de suas inteligncias para levar, de forma quase irresistvel, aalgum que esteja fora da graa a pecar (pelos excessos e pelo adultrio, e.g.). No obstante, eles podem perceber os mesmos pecados (gula e luxria, bem como os outros) a partir de sua natureza espiritual-intelectual (como gula pelo conhecimento vo e desmedido e a luxria de saber fazer o que proibido). [N.do T.]]

Os demnios no foram criados maus. Ao serem criados, lhes foi oferecida uma prova, uma prova que deveria preceder imediatamente viso da essncia da Divindade. Antes da prova, viam a Deus, mas no sua essncia. O prprio verbo ver aproximativo, pois a viso anglica era uma viso intelectual. Como a muitos se tornar difcil entender como podiam ver a Deus (e conhec-lo), mas no ver (e conhecer) sua essncia, tenho que propor uma comparao nestes termos: viam a Deus como uma Luz, lhe ouviam como uma voz majestosa e santa, mas seguiam sem que o rosto de Deus se desvelasse. De todo modo, ainda que no perscrutassem sua essncia, sabiam que era seu Criador e que era santo, Santo entre os santos.Antes que pudessem penetrar na viso beatfica dessa essncia divina, Deus lhe imps uma prova. Nessa prova, uns obedecero [a Deus], outros desobedecero. Aqueles que desobedecero, irreversivelmente se transformaro em demnios. Eles mesmos se tornaro no que so. Ningum os fez assim.Houve algumas fases na psicologia dos Anjos antes que se transformassem em demnios. Estas fases se deram fora do tempo material. Ocorreram no eon[footnoteRef:3]. Ocorrendo no on, essas fases a ns, humanos, pareceriam ter sido quase instantneas. Mas, para o que a ns pareceria to breve, a eles foi como um sculo ou milnio. [3: on do grego aeon (l-se on), que significa era, idade, no sentido de tempo metafsico fora do espao-tempo material como o conhecemos. Poderia dizer que uma semi-eternidade como uma quantidade de tempo muito extensa e, no entanto, nfima sob a tica anglica. No texto em espanhol (original), o Autor usa, ao invs do termo Eon, adotado por mim, a palavra evo. Evo origina-se do latim vum, que procede da mesma palavra grega utilizada por mim (on). Utilizei o termo grego por ser o mais conhecido no Ocidente para o sentido a que se prope. [N.do T.]]

As fases de transformao dos anjos [que desobedeceram] em demnios foram as seguintes: No incio, lhes penetrou a dvida; a dvida de que, talvez, a desobedincia a Deus pudesse ser o melhor. No momento em que, espontaneamente, aceitaram a possibilidade de que a desobedincia a Deus fosse uma opo a considerar, a mesmo j pecaram. No princpio, essa aceitao da dvida consituiria [apenas, embora no pouco] um pecado venial. Pouco a pouco, tal pecado venial evoluiu para o pecado grave. Mas, nesse nterim, nenhum dos anjos em dvida estava disposto a, irreversivelmente, afastar-se de Deus; nem sequer o Diabo. Posteriormente, quando foi se acomodando em suas inteligncias aquilo que suas Vontades haviam escolhido, no obstante o ditame de suas inteligncias, as quais os recordavam de que a desobedincia [a Deus] era contra a razo [i.e., irracional].Mas, suas Vontades se afastavam, mais e mais, de Deus. Como consequncia disso, suas inteligncias foram aceitando, como verdadeiro, o mal que haviam escolhido. Suas inteligncias, a, estavam j se cristalizando no erro. A vontade de desobedecer foi se mantendo mais firme, tornando-se essa determinao cada vez mais arraigada. Suas inteligncias buscavam cada vez mais razes para que sua escolha permanecesse justificvel.Finalmente, esse processo levou ao pecado mortal, que se deu em um momento concreto, por uma ato de Vontade. Ou seja, cada anjo [dos que desobedeceram] no apenas quis desobedecer, mas inclusive optou por ter uma existncia margem da Lei Divina. No era mais somente um resfriamento do Amor a Deus; j no era uma desobedincia menor a algo que lhes fosse difcil de aceitar. Na Vontade de muitos deles, surgiu a ideia de um destino separado da Trindade, um destino autnomo.Aqueles que perseveraram neste pensamento e deciso, comearam um processo de justificao desta escolha; um processo em que trataram de se autoconvencer de que Deus no era Deus, de que Deus era um esprito mal, de que podia ter sido seu Criador, mas que nEle havia erros, falhas. Comeavam a flertar com a possibilidade que surgira em suas inteligncias: uma existncia apartada de Deus e de suas normas, que parecia ser mais livre. A normas de Deus, a obedincia a Ele e Sua Vontade tornaram-se para eles, pouco a pouco, coisas opressoras e pesadas. Deus passava a ser visto como tirano de quem deviam se libertar. Esta nova fase de afastamento de Deus j no significava apenas buscar uma existncia fora da Divindade, mas que Deus tambm passava a representar um empecilho grave sua Liberdade. Pensavam que a beleza e felicidade do Mundo Anglico poderiam ser mais vlidas sem um opressor. Por que havia um Esprito que se elevava acima dos demais espritos e sua Vontade deveria ser imposta s dos outros? No somos crianas nem escravos, deviam ter pensado. Deus j no era mais um ser ao qual haviam dado as costas, mas lhes comeava a converter-se no prprio Mal. Desde a, comearam a odi-lo[footnoteRef:4]. As advertncias divinas para que se voltassem para Ele eram consideradas [pelos anjos rebeldes] como intervenes inaceitveis. Nesta fase, o dio cresceu mais em uns [coraes rebeldes] e menos em outros. [4: Impossvel no notar a semelhana da postura desses anjos rebeldes com o comportamento de muitos de ns, igualmente criaturas de Deus, quando, diante de certas provas, pervertemos a ideia de Deus em Mal, atribuindo-lhe a imposio de algo ao que nosso egosmo considera injusto. Nesse caso, injusto se enquadra melhor no conceito de desfavorecimento. Como no vemos a essncia de Deus, nos revoltamos a cada prova que ameaa-nos de nos privar de um pretenso direito de favorecimento por parte de Deus, o que inclui a facilitao do acesso ao conhecimento da essncia da Vida e Amor sem, no entanto, sermos provados em nada. Dai em diante, vejo eu, que se torna fundamental a justificao pela F (mediante a escuta da Vontade de Deus), ao invs de favorecimento prvio (predestinao). [N. do A.]]

Pode nos surpreender a ideia de um anjo chegar a odiar a Deus. Mas, h que se entender que, para eles, Deus j no representava o Bem, seno um obstculo, a opresso, as algemas dos mandamentos e a falta de liberdade. O dio deles nasceu com a energia de suas Vontades resistindo, uma vez aps outra, s chamadas de Deus que, como um Pai, os buscava. Podemos dizer, tambm, que o dio [desses anjos] surgiu como reao lgica de uma Vontade que deve afirmar-se em sua deciso de abandonar a casa paterna, assim para usar um exemplo que nos seja mais compreensvel. Quero dizer que algum que se vai de casa, a princpio, simplesmente quer ir-se embora dali; mas, se seu Pai lhe chama uma ou outra vez para que retorne, o filho acaba fulminando seu pai, gritando: Deixe-me em paz!. Deus, ento, os chamava, pois sabia que por quanto tempo mais suas Vontades estivessem afastadas dEle, mais eles tornar-se-iam certos [da deciso] de seu afastamento.Obviamente, alguns anjos que se afastaram de Deus, num primeiro momento, [desertaram da rebelio e] acabaram por voltar ao seio de Deus. Esta foi a grande batalha nos Cus, da qual se fala em Apocalipse:E houve batalha no cu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra o drago, e batalhavam o drago e os seus anjos; mas no prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos cus.E foi precipitado o grande drago, a antiga serpente, chamada o Diabo, e Satans, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lanados com ele (Apocalipse 12:7-9)Como os anjos podem lutar entre si? Se no tm corpos, que armas podem ser usadas? Os anjos so seres espirituais; o nico combate que podem travar entre si de ordem intelectual. As nicas armas que podem brandir so os argumentos intelectuais. Essa luta [entre os anjos] foi um combate intelectual. Deus enviava a graa para que voltassem fidelidade ou se mantivessem [firmes] nela. Os anjos [fiis] ofereciam argumentos aos [anjos] rebeldes para que retornassem obedincia. Os anjos rebeldes interpunham suas razes para fundamentar sua postura e para incitar a rebelio entre os [anjos] fiis. E, nessa conversao entre as mirades incontveis de anjos, houveram baixas [perdas] de ambos os lados: [alguns] anjos rebeldes regressaram obedincia; anjos fiis foram convencidos pela seduo dos raciocnios malignos.A transformao [dos anjos rebeldes] em demnios fora progressiva. Com o transcorrer do tempo o on um tipo de tempo , alguns [rebeldes] odiariam mais a Deus, outros menos. Uns tornaram-se mais soberbos, outros no tanto. Cada anjo rebelde fora deformando-se[footnoteRef:5] mais e mais, cada um em alguns pecados especficos. Tambm assim, de outro modo, os anjos fiis foram santificando-se progressivamente. Uns anjos se santificaram mais sobre uma virtude, outros sobre outra. [5: Cada anjo rebelde fora deformando-se (...) Lembremos: a nica coisa que pode ter-se deformado nos anjos rebeldes foi a natureza de suas ideias, sua qualidade espiritual. Todas as suas aes, medida que se d essa deformao ou degenerao, tendem imperfeio (conceitual, mas perfeio no objetivo) e impureza finais. Tudo passa a visar a um objetivo hediondo para eles, seja por quais motivaes (ou pecados) cada um trabalhe para o Mal. [N. do A.]]

Cada anjo [fiel] se fixou em um aspecto ou outro da Divindade[footnoteRef:6]. Cada anjo [fiel] amou com uma [certa] medida de amor. Por isso, no grupo dos [anjos] fiis, sucedeu uma srie de distines [entre eles], segundo a intensidade das virtudes que cada um praticou mais. [6: Os aspectos (ou atributos) divinos, nesse trecho, querem significar alguma(s) das qualidades divinas que lhes transparecia(m), fora sua Essncia. Como veremos, se conhecessem a Essncia de Deus, deixariam de existir enquanto individualidades (ainda que anglicas) instantaneamente, pois perderiam a liberdade ao contemplar o que no admite antes ou depois [a saber, o Estado Eterno, ao qual no h opes por no admitir mudanas]. [N. do A.]]

Cada anjo tinha sua prpria natureza dada por Deus, mas cada um santificou-se segundo uma [certa] medida prpria, segundo a graa de Deus e a correspondncia da prpria Vontade. Isto vale tambm, s que de modo contrrio, para os demnios. Cada um [dos anjos que se tornaram demnios] recebeu de Deus uma natureza, mas cada um deformou-se segundo seus prprios caminhos extraviados.Por isso, a batalha findou quando cada um j estava encapsulado, por assim dizer, em sua condio irreversvel. Chegou um momento em que s poderia haver mudanas acidentais em cada ser espiritual. Aos demnio, lhes chegou um instante em cada um se manteve firme em sua imprudncia, em seu cime, dio, inveja, soberba, egolatria...A batalha havia acabado! Poderiam seguir discutindo, falando, disputando, exortando-se uns aos outros, por milhares de ons, mas assim mesmo s haveria mudanas acidentais. Foi, ento, quando os anjos foram admitidos na Presena Divina. Aos demnios, foi-lhes deixado que se afastassem definitivamente. Foram relegados situao de prostrao moral qual cada um tinha se colocado.Como se pode deduzir, no que os demnios tivessem sido enviados a um local trancado, com chamas eternas e aparatos de tortura, mas que so deixados como esto; so abandonados sua prpria liberdade e Vontade. No foram levados a parte alguma. Os demnios no ocupam lugar; no h aonde pudessem ter sido levados. No h aparatos de tortura nem chamas que lhes possam atormentar, ou mesmo correntes que lhes possam prender. Tampouco, os anjos fiis no entraram em lugar algum. Simplesmente, receberam a graa da viso beatfica. Tanto o Cu dos Anjos como o Inferno dos Demnios so estados. Cada anjo leva em seu interior seu prprio Cu [ou santurio], esteja onde esteja [ou melhor, aja como aja, pense como pense]. Cada demnio, faa o que faa, leva dentro de si seu prprio Inferno.O momento em que j no havia mais a procura [de Deus por seus anjos], precisamente quando um anjo v a Essncia de Deus. Pois, depois de ver a Deus, nada mais lhe poder fazer mudar de opinio. Depois de [algum] ter visto a Deus, jamais poder escolher [ou fazer] algo que lhe ofenda o mnimo que seja. Pois a inteligncia compreenderia que seria escolher [ou melhor, considerar a opo] entre esterco e um tesouro. O pecado, depois desse momento, impossvel. O anjo, antes de adentrar ao Cu, compreendia a Deus, o que era e o que corroborava sua Santidade, Onipotncia, Sabedoria, Amor, etc. Depois de ser admitido na contemplao de Sua Essncia [a de Deus], no s compreende, mas ento a v. Ou seja, [no apenas conhece, mas] v sua Santidade, Amor, Sabedoria, etc. O esprito, ao ver aquilo, se preenche de tal amor, de tal venerao, que jamais, sob qualquer hiptese, quer apartar-se dEle. Por isso, [ento,] o pecado passa a ser impossvel [para os anjos fiis].O demnio, no entanto, se torna irrevogavelmente preso ao que escolheu, desde o momento em que Deus [por sua Misericrdia], decide no insistir mais. Chega um tempo em que Deus decide no mais enviar graas para o arrependimento [dos anjos rebeldes]. Pois, cada graa de arrependimento s pode ser superada, vencida, afirmando-se [o anjo rebelde] ainda mais em seu dio. Deus, ento, v que enviar mais graas s faria com que o Demnio confirmasse, com ainda mais fora, o que sua Vontade escolheu [para si]. Eis o momento em que Deus-Amor d as costas[footnoteRef:7] [ao Demnio], e deixa que seu filho siga seu prprio caminho. Deixa que o Demnio siga sua vida parte [ou, como dizem por a, deixa-o para que viva em paz...]. [7: Um grande amigo meu, professor da Universidade de Alcal de Henares, ficou um tanto desconcertado diante dessa expresso, virar as costas, me sugerindo, inclusive, uma correo formulao da frase. Verdadeiramente, faria tal coisa o Amor Infinito? Sem, dvida que sim! A rebeldia da criatura leva, finalmente, o Criador a abandon-la sua prpria sorte. Qu momento esse em que a criatura se v abandonada? Esse momento aquele em que Deus decide no conceder mais criatura qualquer graa de arrependimento. Nesse instante, podemos dizer que Deus deu as costas ao ser que criou. No momento em que ocorre esse terrvel e temvel deciso, a criatura est j julgada. [N. do A.]]

Por um lado, no h como determinar em qual dado momento um anjo pode se tornar um demnio, mas um processo assim lento, gradual e progressivo. Todavia, por outro lado, por mais longo que tenha durado esse perodo prvio (bem como o que se segue a ele), sabemos que h um momento preciso em que o esprito anglico deve tomar a deciso de rejeitar ou no ao seu Criador.Acima, dissemos que nesse processo tem lugar o retrocesso, sendo este a celestial batalha anglica de que trata o Apocalipse, cap. 12, vs. 7 a 9. Mas, chega um momento nesta batalha no qual os demnios mais e mais se distanciam dos anjos fiis. No faria sentido seguir insistindo; o Criador respeita a liberdade de cada um.Os demnios aparecem deformados nas pinturas e esculturas antigas e modernas, sendo muito adequada essa forma de represent-los, pois seguem sendo espritos anglicos, porm tendo sua Inteligncia e Vontade deformadas. Fora nestes dois ltimos itens, seguem sendo anjos tanto como quando foram criados. O demnio , definitivamente, um anjo que decidiu seguir seu destino longe de Deus. um anjo que quer viver livre, sem amarras. A solido interior na qual se ver a si mesmo pelos sculos dos sculos, o cime que lhe afeta sabendo que os [anjos] fiis gozam da Viso de um Ser Infinito, o leva a encarar, sempre e sempre, seu pecado. Se ele odeia a si mesmo, ento odeia a Deus e a todos que lhe deram razes para exilar-se.Entretanto, nem todos [os demnios] padecem da mesma forma e pelos mesmos motivos, embora a raiz de seus sofrimentos seja a mesma no Tempo. Alguns anjos, durante a batalha se deformaram [em sua Inteligncia e Vontade] mais do que outros. Os mais deformados sofrem mais. Mas, como dito acima, aqui e sempre adiante, deve-se entender essa deformao como espiritual, de sua Inteligncia e Vontade.A Inteligncia est deformada, obscurecida, pelas mesmssimas razes com as quais cada um justificou sua partida, sua libertao. A Vontade imps Inteligncia sua deciso, e a Inteligncia, ento, se viu impelida a justificar tal deciso. A Inteligncia funcionou como um instrumento de justificao, de argumentao acerca daquilo que a Vontade o incitava a aceitar. Como se pode ver, tal processo descreve uma extraordinria semelhana com o caminho da corrupo humana. No esqueamos que o ser humano um esprito dentro de um corpo. Se excetuarmos os pecados carnais, o processo interior que leva uma pessoa boa a enveredar para o crime, extremismos ou terrorismo, , em suma, o mesmo [que aquele que levou alguns anjos a se tornarem demnios]. Essencialmente, o conceito de pecado, tentao, de progresso da prpria iniquidade, idntico para espritos de anjos cados e para espritos humanos, pois os pecados humanos so, essencialmente, espirituais, ainda que levados a termo por meio do corpo.A criana infantil; assim, no princpio, o anjo, ao ser criado, no tem qualquer experincia. A pessoa humana sofre tentaes por outras pessoas, assim como os anjos por seus pares. O ser humanos pode vir a pecar por princpios morais, tais como o amor pela Ptria, a honra de sua Famlia ou o bem-estar de um filho seu. O esprito anglico tambm tinha em si grandes fatores intelectuais que, ainda que diferentes daqueles dos humanos, sugeririam um complexo de pensamentos anlogos queles mesmos que conhecemos da psicologia humana. Ns, humanos, tambm somos seres espirituais, embora nos manifestemos por corpos fsicos. Precisamos apenas olhar para dentro de nossas almas para entender como um outra classe de seres pode cair sob o pecado e corromper-se. Assim, refletindo sob esse prisma, o pecado dos anjos cados j no nos resulta to imcompreensvel, justamente quando torna-se mais [parecido e] prximo.

2. Por que Deus levou os Espritos Anglicos prova?

Por que [Deus] no concedeu a viso beatfica a todos quantos nEle creram? Por que arriscou a que alguns se convertessem em demnios? Deus poderia ter criado seres anglicos e, diretamente, ter-lhes concedido a viso beatfica. Isto era perfeitamente possvel Sua Onipotncia e no teria havido nenhuma injustia se o fizesse. Mas, havia trs grandes razes para faz-los passar [ao menos] por uma fase de provas antes de conceder-lhes a viso beatfica.A razo menos importante de todas era que Deus tinha de dar a cada ser racional algum grau de felicidade [ou beatitude]. Todos no Cu veem a Deus, mas nenhum deles gozar [da Presena] dEle em um grau infinito, pois isso impossvel. Somente Deus goza infinitamente [ou infinitamente Feliz em Si mesmo]. Cada ser finito goza ao mximo, sem desejar mais, porm num grau finito. Goza de uma forma limitada de um Bem ilimitado. A comparao que cabe usar para compreender este conceito metafsico cada ser racional consiste num vaso, enchendo-o Deus at suas bordas, plenamente. Mas, cada vaso de uma determinada medida. Deus, em sua Sabedoria, determinou algo especialmente inteligente: cada um determinaria o grau de glria a qual gozaria durante a Eternidade. Tendo em vista que isto seria para sempre, da ter sido to importante. Deus deixou isto em nossas mos. J que cada um de ns teria um grau e isto inevitvel , ento que determinasse cada um qual seria. De que modo? Mediante uma prova. Segundo a generosidade, o Amor, a constncia e demais virtudes que venhamos a manifestar nessa prova, assim, dessa medida ser o grau. Como se pode ver, uma disposio magnfica das coisas, em que se manifesta a infinita Sabedoria de Deus. Se tal razo exposta importante, considero, todavia, que ainda mais [importante] considerar o fato de que o nico momento em que um esprito pode desenvolver sua F em Deus, sua generosidade, justamente aquele em que no capaz de perceber como tal. Depois de perceb-lo, ficar [imensamente] grato pelo que contemplou [porm, somente depois de haver passado por tal momento]. Mas, tal Amor generoso na F, essa confiana em Deus quando s h Trevas em redor, possvel apenas antes da viso beatfica. Depois, j no ser possvel [essa distino entre escurecimento e Iluminao]. Tudo ser possvel, menos isso. Digamos que um aspecto do esprito que, ou se desenvolve antes da viso frontal da Essncia Divina, ou depois torna-se j absolutamente impossvel. Por isso, a prova [e, analogamente, as tentaes que nos assaltam] um dom de Deus, para que em ns germine a Flor da F com todos os seus possveis frutos. Essa flor, em ns, j no poder nascer durante a Eternidade. J no poder haver F [por no ser possvel nem necessria] onde houver a Viso. E, atravs da F, bem como em consequncia dela, advm os frutos subsequentes. Cada anjo faria germinar mais uns frutos, menos outros. Sobretudo, o tempo de provas dava a possibilidade de que nascessem e desenvolvessem as virtudes teologais. Depois, inclusive, alguns dos anjos desenvolveriam mais a virtude da perseveranas, outros da humildade, e outros ainda a da intercesso [i.e., a orao intercessria], etc. Obviamente, conceder a um ser a possibilidade de que nele nasa a F significa arriscar que nele nasa no a F, mas o Mal. Deus, ao conceder a Liberdade, sabe que, uma vez concedida, a Liberdade pode levar tanto ao Bem como ao Mal. Deus pode criar o Universo como queira, como deseje, segundo sua Vontade, sem interrupes ou limitaes. Porm, a santidade no se cria; faz-se a si mesma mediante a ao da Graa. Conceder o dom da Liberdade aos espritos supe que possa surgir algum como Madre Teresa de Calcut ou como Hitler. Uma vez que se concede a ddiva da Liberdade, faz-se com todas as possveis implicaes. Querer que aparea o Bem espiritual implica que pode aparecer, ao contrrio, o Mal espiritual. No plano material da Criao, no h Bem espiritual, nem mesmo a mais nfima quantidade dele. O Bem do mundo material um Bem material; a glorificao do Universo fsico ao Criador uma tal glorificao material e inconsciente, pois em tal Universo no h Vida nem esprito prprios. O Bem espiritual , em qualidade, superior, mas supe, necessariamente, admitir este risco. Por isso, o surgimento do Mal no foi uma reverso dos planos divinos. A possibilidade do aparecimento do Mal j tinha lugar nos planos divinos antes mesmo da criao de seres pensantes.De qualquer forma, mesmo tendo dito ser necessria a prova para a determinao do grau de glria, a razo mais importante e relevante para que Deus concedesse o dom da Liberdade era para receber Amor de um modo livre [da mesma forma que Ele mesmo o faz]. Sem essa prova, Deus poderia ter recebido a gratido de todos os seres aos quais teria dado um certo grau de glria e sem passarem pelos riscos da prova. Mas, Deus ama e quer ser amado. O nico jeito de obter esse Amor na F, esse Amor que confia, Amor desinteressado na obscuridade daquilo que, todavia, no v [nem contempla], era propor essa prova. Volto a repetir que o mesmo Deus que pode dar origem a mirades de Universos com apenas um ato de Sua Vontade, no pode criar esse Amor que nasce daquele que provado no sofrimento da F. O Amor a Deus no se cria, uma doao da parte de Sua criatura.

3. Por que Deus no suspendeu a Liberdade ao ver que comeavam a pecar?

Por que Deus no retira a Liberdade ao ver que algum se encaminha para o Mal? No o faz mesmo, pois isso significaria apostar que tal esprito estaria fadado, irremediavelmente, a cair sob o Mal. Permitir-lhe continuar fazendo o Mal supe oferecer-lhe a chance de retornar ao Bem. Retirar-lhe a prova faria com que cometesse menos pecados, mas, ento, o esprito que tivesse sido salvo da prova se petrificaria para sempre no pecado daquele exato momento, para sempre. Possibilitar que o Mal siga fazendo o Mal lhe d a oportunidade de retroceder.

4. So iguais todos os demnios?

J vimos que cada demnio pecou com uma intensidade determinada. Alm disso, cada demnio pecou em um ou mais pecados especficos. A rebelio teve origem na soberba [ou orgulho]. Mas, dessa raiz de pecados, nasceram outros tantos pecados. Durante os rituais de exorcismo, isso fica muito claro: h demnios que pecam mais em Ira, outros mais em sua egolatria, e ainda outros por desespero, etc. Cada demnio tem, de forma anloga aos seres humanos, sua psicologia, sua forma particular de ser. H aqueles que so mais eloquentes, outros mais dados a bravatas e galhardias. Em uns, brilha de forma especial a soberba e, em outros, o dio. Ainda que todos tenham se separado de Deus, uns so piores que outros em maldade [contumcia no Mal]. Depois, necessrio que nos lembremos que como nos descreveu So Paulo h nove hierarquias anglicas. As hierarquias superiores so mais belas e inteligentes que as inferiores. Cada anjo completamente distinto dos outros anjos. No h raas de anjos, para usar um termo antropolgico. Ainda assim, cada um completa sua espcie com sua individualidade. Obviamente, possvel agrupar os anjos em grandes grupos ou hierarquias, tambm chamadas coros, pois se formaram enquanto cantavam os louvores a Deus. Seu cntico saibamos no vem pela voz, mas o louvor espiritual em que os anjos emitem sua Vontade ao conhecer e amar a [Santssima] Trindade. De cada uma das nove hierarquias, caram anjos, transformando-se em demnios. Ou seja, j demnios que j foram Virtudes, Potestades, Serafins, etc. Ainda que sejam demnios, conservaram seu poder e inteligncia.Pelo que fora dito logo acima, fica claro que h tambm nove hierarquias demonacas. Algo que fora comprovado atravs dos exorcismos que, entre eles, h uma supremacia dos superiores sobre os inferiores. Em que consiste tal poder? impossvel sab-lo, pois no se sabe como um demnio [por isso mesmo, feito livre] pode obrigar outro a fazer algo, pois no h corpo para ser compelido ou coagido. No obstante, pude comprovar que um demnio superior pode proibir um inferior de sair de um corpo durante um exorcismo. Ainda que o demnio inferior esteja sofrendo e queira sair, o superior pode impedir-lhe. Como um demnio pode obrigar outro a fazer algo [ou proibi-lo], sendo este imaterial, repito, continua sendo um problema que escapa nossa compreenso.

5. Zoologia e Demonologia

Poderamos dizer que h um certo paralelismo entre a Zoologia e a Demonologia. Afinal, cada ser anglico sendo distinto de todos os outros, pois esgota a forma[footnoteRef:8] anglica que lhe fora dada. No obstante, possvel de englob-los em grandes grupos. Melhor dizendo: imaginemos que de cada espcie de mamfero existisse apenas um exemplar. Um nico cervo, nico gamo, nico cavalo, etc. Cada um deles seria distinto em relao aos outros. Mas, dentro do Reino Animal, poderamos agrupar esses seres em uma nica espcie a dos mamferos , no porque enquanto seres vivos sejam iguais entre si, seno por serem mais semelhantes entre si do que diante dos seres vivos da espcie dos insetos ou dos peixes. Aqueles mamferos seriam distintos entre si, mas seriam agrupados por ser maior sua semelhana frente s outras classes de seres. Da que isso ocorre tambm com as naturezas anglicas; cada uma distinta de outra, mas podem ser reunidas em grandes grupos. Nesse caso, so nove os tais grupos, segundo a Bblia: [8: Aqui, a palavra forma usada em seu sentido filosfico que difere do sentido comum que damos a ela. Quando diz-se que cada anjo esgota sua forma, significa o seguinte: Entre os homens, por exemplo, a forma a mesma (a forma humana), mas o que os distingue individualmente a matria. Uma mesma forma, mas com matria diferente. Como os anjos so seres imateriais, cada um deles precisa uma forma distinta para diferenciar-se dos outros. Isto vale para todos os seres que so desprovidos de matria. Por isso, Deus deve ser nico, e no pode haver dois. A forma divina do ser infinito no tem matria que a possa individuar. Assim, se houvesse duas formas divinas, o que poderia distingu-las? Seriam apenas um Ser, sem que pudesse acontecer algo diferente disso. [N. do A.]]

Serafins; Querubins; Tronos; Dominaes; Virtudes; Potestades; Principados; Arcanjos; e Anjos.Se as diferenas entre os animais so, por vezes, to grandes, tais diferenas no mundo anglico so ainda maiores, pois a forma est isenta das leis biolgicas e fsicas. Portanto, se gritante a distino entre uma liblula e uma guia, maiores so as diferenas entre os elementos de cada natureza anglica. Se patente a diferena entre uma joaninha e uma baleia azul, qunto mais no ser entre um ser anglico de primeira e um de nona hierarquia?

6. Astronomia e Demonologia

Existe um certo paralelismo entre a Astronomia e a Demonologia. Um sistema solar como uma parbola do que so Deus, os anjos e os demnios. Deus seria o Astro-Rei (o Sol, obviamente), ao redor do qual orbitam todos os corpos celestes dos sistema solar, pois Ele o centro, iluminando, assim, a todos. O restante dos planetas, asteroides e satlites seriam os santos e anjos. O esquema de rbita dos satlites em volta dos planetas seria como uma representao da iluminao de uns anjos aos outros. Ainda que os satlites girem, em sentido imediato, em torno dos planetas, tambm orbitam, em sentido amplo, ao redor do Sol. Deus o centro, por mais intermedirios que exista [entre os seres e Ele].Assim sendo, os demnios seriam tais quais os corpos que se deixaram afastar da atrao do Sol. O Sol os atrai, sem que deixe nunca de os atrair assim, de os iluminar e de lhes conceder calor. Mesmo assim, esses corpos se afastaram tanto [livremente] que agora vivem nas Trevas exteriores, em meio ao frio do vcuo e da escurido. Deus continua atraindo-os, em cada instante, cada segundo. Mas eles j esto irredutivelmente fora do alcance de sua atrao e de sua Luz. O Sol no os priva de sua Luz; so eles que decidiram dirigir-se em direo oposta. Muitas pessoas se perguntam onde est a linha divisria entre a condenao eterna e a salvao. Esta parbola astronmica oferece Luz sobre o tema, pois tal linha como o limite da fora da gravidade de um corpo maior sobre um corpo muito menor. Um deles pode estar j muito distante, porm se est unido fora da gravidade do Sol, a Ele est unido. Por outro lado, se o corpo menor vaga j completamente livre, alheio Fora da Gravidade do Sol, configurada est a a condenao eterna [ou seja, o eterno afastamento e extravio].Se contemplarmos estas imagens analgicas a partir da Terra, devemos fazer certos ajustes [juntando, aos planetas e satlites, as outras estrelas]. Porm, tambm podemos juntar certos detalhes [e.g.: incluir a Lua no cenrio]. Deus seria o Sol, a Virgem Santssima seria a Lua, e as estrelas prefigurariam os anjos do Cu. A diferena entre a Luz do Sol e a das estrelas seria analogia da diferena entre o Ser de Deus e os dos espritos anglicos. Os anjos seriam plidos fachos de Luz diante da Luz ofuscante e irresistvel de Deus. O mesmo se d com a diferena entre a Luz da Lua e das estrelas, prefigurando a ao aparente da Luz refletida pela Virgem e a irradiada de longe [no sentido espiritual] pelos anjos. Logo, entre muitas passagens das Sagradas Escrituras, fica claro que as estrelas, luminosas e brilhando de longe em direo da Terra, so imagens dos espritos anglicos[footnoteRef:9]. [9: no mbito desta analogia astronmica que devemos meditar sobre versculos como em Ap 12:4, Is 14: 12-15, entre outros. [N. do A.]]

7. Quais os nomes dos Demnios?

Sat o mais inteligente poderoso e belo dos demnios que se rebelaram. chamado de Sat ou Satans no Antigo Testamento. A raiz hebraica primitiva deste nome [] significa atacante, acusador, oponente, adversrio.Diabo como chama o Novo Testamento a Sat. Diabo vem do verbo grego diaballo [, acusar, caluniar] e de dibolos [, acusador, caluniador]. As pessoas usam as palavras diabo e demnio como sinnimos, mas a Bblia no. A Bblia usa o nome Diabo no singular para referir-se ao mais poderoso de todos os demnios. As Sagradas Escrituras tambm o chamam Acusador, o Inimigo, o Tentador, o Maligno, o Homicida desde o princpio, o Pai da Mentira, Prncipe deste mundo, a Serpente, etc. Belzebu este nome usado muitas vezes tambm como sinnimo de Diabo. Tal nome vem da expresso semtica Baal-Zebub [Senhor das Moscas], um dos ttulos pelos quais Baal, deus cananeu, era cultuado na Palestina e em algumas regies do Mar Mediterrneo, principalmente em colnias fencias. citado no Antigo Testamento em 1 Re 1:2. Lilith[footnoteRef:10] aparece em Is 34:14, considerando-o a Tradio judaica um ser demonaco. Na mitologia mesopotmica, [em idioma sumrio, chamado de Lilitu] um gnio com cabea e corpo de mulher, mas com asas e extremidades [penacho e ps] de pssaro. [10: Basta uma pesquisa comparativa atenta entre mitos de diversas regies do Mundo para chegarmos concluso que Lilith , na verdade, um demnio intrinsecamente feminino, embora, na primeira parte do pargrafo, o Autor o cite como sendo do gnero masculino. Ela tambm associada a um demnio feminino da noite que originou na antiga Mesopotmia. Era associada ao vento e, pensava-se, por isso, que ela era portadora de mal-estares, doenas e mesmo da morte. Porm algumas vezes ela se utilizaria da gua como uma espcie de portal para o seu mundo. Tambm nas escrituras hebraicas (Talmud e Midrash) ela referida como uma espcie de demnio. Fonte: Wikipedia.Revendo a simbologia que, em Isaas, a associa a animais da Noite [Lilith, em hebr. nascida de Noite], como a coruja, veremos a conexo de seu mito com as temidas Yiami Oshorong, os demnios femininos da mitologia iorub, identificadas como bruxas que se apresentavam sob a forma de coruja aos que elas obsediavam, que provocavam abortos em gestantes e morte de recm-nascidos durante as noites. Lembremos que Lilith chamada, por algumas correntes ocultistas, de Senhora dos Abortos. [N. do T.]]

Figura 1: Lilith, segundo uma representao da arte sumria. Asmodeu aparece no livro bblico de Tobias. Tal nome provm do persa aesma-daeva, significando esprito de clera. Seirim aparece em Is 13:21, Lv 17:7 e em Br 4:35, sendo traduzido por os peludos. Vem do hebraico sair [] que, analogamente, significa peludo ou bode. Demnio do grego daimon [], que quer dizer gnio, um tipo de esprito livre, segundo as crenas greco-romanas pr-crists, que no lhe imputavam um carter necessariamente malfico. Mas, a partir do Novo Testamento, tal termo utilizado sempre para designar seres espirituais malignos. Belial ou Beliar, da raiz do nome Baal, significando senhor[footnoteRef:11]. Aparece, por exemplo, em 2 Cor 6:15. [11: Para mais informaes: http://pt.wikipedia.org/wiki/Belial [N. do T.]]

Apolion ou Apollyon. [Nome de origem grega.] Significa destruidor, sendo citado em Ap 9:11. Diz-se que seu nome equivalente em hebraico Abbadon, que quer dizer devastao, perdio, destruio.Lcifer[footnoteRef:12] um nome extra-bblico que significa estrela da manh [vide nota n 12, abaixo]. A imensa maioria dos textos eclesisticos usa o nome de Lcifer como sinnimo mais frequente de Diabo. Inclusive, o Pe. Gabriele Amorth considera tal nome como o do prprio Demnio, e o segundo mais importante na hierarquia demonaca. Sou inteiramente de acordo com sua opinio, e o que conhecemos acerca [da prtica] dos exorcismos confirmaria que Lcifer algum distinto de Sat. [12: O que o Autor parece ignorar nesta obra que, antes de poder ser traduzido, o nome Lcifer (para os gregos, Esphoros, ] j representa a figura de um ser mtico na religio greco-romana. Lcifer, a grosso modo, significa sim Portador da Luz, mas seu significado deve ser obtido da fonte mtica original. Esse o nome potico que se dava ao planeta Vnus, tambm chamada de estrela da manh. Dessa forma, trazia a Luz, pois antecedia o Sol no horizonte Leste. Como os astros, para os antigos pagos, representavam divindades reais, Lcifer faz eco, por outro lado, ao Prometeu grego, roubando um pouco do Fogo do Cu e trazendo-o aos seres humanos. Ironicamente, Lcifer [como smbolo de Vnus] sumia quando aparecia o Sol, ofuscado pela Luz real da Verdade e que trazia a Vida aos seres. No por acaso, talvez, os Maons e Rosacruzes venerem as representaes do Oriente [ou seja, lugar onde nasce Vnus antes do Sol] e da Luz que vem do Leste. Adorao a Lcifer? Sim, creio que sim! [N. do T.]]

O nome lhe cabe por ter sido um anjo especialmente privilegiado em sua natureza nos cus anglicos, antes de rebelar-se e deformar-se. Algumas pessoas traduzem o nome Lcifer como portador da Luz. Esta traduo errnea, pois, em latim, tal expresso descrita pela palavra luciferarius [vide nota n 12]. A ttulo de curiosidade, vos direi que, em um certo [ritual de] exorcismo, um demnio disse que o cinco demnios mais poderosos dos Infernos eram, nesta ordem: Sat, Lcifer, Belzebu, Belial e Meridiano. verossmil esta ordem hierrquica [como descrita pelo demnio citado]? S Deus o sabe! O que evidente [verossmil] que, pelo testemunho das Sagradas Escrituras e pelos exorcismos [at ento realizados], todo demnio possui um nome. Um nome conferido por Deus que descreve a natureza de seu pecado. Diferentes nomes demonacos ditos [confessados] por eles durante os exorcismos so: Perverso, Morte, Porta, Morada, etc. Outros, no entanto, confessam nomes que no sabemos o que significam, tais como: Elisedei, Quobad, Jansen, Eishelij, etc. Em alguns livros de Magia e Bruxaria [tambm chamados de grimrios], acham-se grandes listas de nomes de demnios. Essas interminveis listas so to enfadonhas como fraudulentas [fictcias, forjadas, fabricadas]. No tm maior valor que o da imaginao de seus [infelizes] autores. Pois, h quem no se contente em forjar os nomes dos demnios, mas metem-se em declarar o nmero de demnios que povoam o Inferno. Essas descries detalhadas das Legies infernais so essencialmente fantasiosas, para no dizer fraudadas. Ir alm das poucas informaes que as Sagradas Escrituras nos deixaram significa adentrar ao gnero literrio fantstico, abandonando a terra firme da Palavra de Deus. A Teologia pode dizer muitas coisas acerca dos demnios, mas sempre num mbito geral, trabalhando sobre conceitos, ao invs de lhes aplicar rtulos. A Teologia, ao investigar essncias, no pode se pronunciar acerca de um demnio concreto [no sentido emprico, experimental].Certo autor de uma dessas listas de demnios [que parecem-se mais com catlogos telefnicos], disse acerca de um deles, a quem chamava Xaphan, que teria este sugerido a Sat atear fogo no Cu, mas que teriam sido lanados ao Inferno que pudessem empreender to hediondo ato. Diz mais: que [o tal Xaphan] est encarregado para sempre de manter acesas as chamas do Inferno. desnecessrio dizer que aconselho a tal inventor de mitos que leia este livro, onde descobrir que nem h como atear fogo ao Cu nem como manter acessas chamas no Inferno.8. Existe o Tempo para os Demnios?

Sim, o tempo passa [tambm] para os demnios. No um tempo como o nosso (tempo material), mas um tempo prprio dos espritos, tempo que chamado de evo (vum em latim). Evo a sucesso de atos de Entendimento[footnoteRef:13] e Vontade em um ser espiritual. Assim, os atos da Razo e da Vontade se sucedem uns aos outros, provocando um antes e um depois; antes de um determinado ato de Entendimento ou ato por querer algo [movido pela Vontade]. [13: Sim, as reflexes da Razo de um ser espiritual ou mesmo dos seres humanos , so consideradas como Atos em si, ainda que movidas por uma qualidade volitiva diferente daquela inerente a um pensamento humano em estado de viglia, por exemplo. Estamos quase na poca em que testemunharemos a Cincia atestando os efeitos da ao do pensamento humano sobre a matria sensvel. Num sentido anlogo, enquanto os atos do pensamento humano esto voltados, quase sempre, para a satisfao de seus desejos e necessidades materiais ou intelectuais, assim tambm os espritos anglicos agem com seu intelecto sobre o que lhes cabe a saber , as ideias, sejam elas puras ou deformadas. [N. do T.]]

Desde o momento em que um antes e um depois, h algum tipo de tempo implicado. Portanto, quando se diz que os espritos do Cu ou Inferno esto na eternidade, quer dizer que esto em uma interminvel sucesso temporal, uma sucesso de tempo sem fim, com princpio (momento da criao dos tais espritos), porm sem fim [possvel]. Somente Deus est em um eterno presente, somente nEle no h sucesso de tempo de espcie alguma. NEle no transcorreu nenhum segundo sequer, nem mesmo um antes ou depois. A eternidade de Deus qualitativamente distinta da eternidade do tempo material (com princpio, porm sem fim) e da eternidade do evo (relativa ao tempo dos espritos, com princpio, sem fim).Sobre esta espcie de tempo o evo , j discorria So Toms de Aquino no sc. XIII, na Primeira Parte da Questo X, artigo 5, de sua Summa Theologica[footnoteRef:14]. A alguns, pde parecer que seu raciocnio era excessivamente terico. Mas, ao escutar relatos de pessoas que passaram por experincias de quase-morte, e que vivenciaram as sensaes prprias de separao do corpo [fsico], entrar no tnel, etc., comprovei que quando lhes era perguntado se havia tempo nessa experincia (ou seja, se perceberam a passagem do tempo), as respostas dadas estavam de acordo com o que So Toms de Aquino expunha acerca do evo, ao discorrer sobre os espritos imateriais. [14: Sobre esta citao, consultar o Artigo V da Questo X, Parte I, da Summa Theologi, pp. 157-158 do livro. Link para o PDF em espanhol [pp. 183-184]: http://sdrv.ms/16piK14. [N. do T.]]

9. Em que pensa um demnio?

Todo anjo decado conserva a inteligncia prpria de sua natureza anglica e, com ela, segue tomando conhecimento de todas as coisas. Conhece e indaga, com sua mente, acerca do mundo material e espiritual, dos planos real e conceitual. Sendo ser espiritual, eminentemente intelectual, no h dvidas de que est constantemente afeito s questes intelectuais. Ele sabe muito bem que a Filosofia a mais elevada das cincias. Inclusive, sabe que a Teologia est um degrau acima da Filosofia, porm ele odeia a Deus.No conhecimento, encontra [seu] prazer, mas tambm sofrimento. Sofre sempre que esse conhecimento o leva a considerar a ideia de Deus. E o demnio percebe continuamente ainda mais que outros seres menos expressivos a Ordem e a Glria do Criador presentes em todas as coisas. At mesmo nas coisas aparentemente mais neutras, ele encara o reflexo e a lembrana dos atributos divinos.Mas, o demnio no est sempre, em cada instante, sofrendo. Muitas, vezes, simplesmente, pensa. Sofre apenas em certos momentos, quando se d conta [da ideia] de Deus, quando volta a se certificar de sua condio miservel, de sua separao de Deus, quando reverbera o remorso em sua Conscincia. H tempos em que sofre mais ou menos; seu sofrimento no uniforme[footnoteRef:15]. Ainda mais: a intensidade que marca a deformidade moral de cada demnio determina as variaes de seu sofrimento e remorso. [15: nisso que os neo-atestas pensam que ns, cristos, acreditamos: condenao e sofrimento sdicos no Inferno. Isso tpico do pensamento doentio de pessoas desequilibradas, ora ateus positivistas que usam as crenas alheias para projetar a abjeo por si prprios, ora religiosos que, longe da essncia crist de esperana e converso, usam de ameaas para conservarem seu prestgio junto dos mais simples. [N. do T.]]

Seria bastante horrvel [e doentio] pensar nos demnios como seres permanentemente em sofrimento, em cada instante e momento. A separao de Deus produz sofrimento por toda a eternidade, mas o pesar por tal afastamento e no um instrumento sdico de tortura, trabalhando dia e noite, que o faz sofrer. O demnio nem est sempre empenhado em tentaes [contra os seres humanos] nem est sempre retorcendo-se em dores espirituais indizveis [como creem algumas pessoas desequilibradas].

10. Qual a linguagem utilizada pelos demnios?

A linguagem utilizada pelos demnios exatamente a mesma que a usada pelos anjos. Os anjos no necessitam de nenhum idioma ou lngua para comunicarem-se entre si, pois o fazem atravs de espcies inteligveis. Espcies inteligveis so pensamentos que se transmite entre eles. Ns nos comunicamos por palavras [e sinais]; eles, anjos e demnios, se comunicam, diretamente, atravs de pensamentos em estado puro [ou simblicos], sem necessidade de mediadores ou sinais. As espcies inteligveis podem se tratar de raciocnios, imagens, sentimentos, etc. Sua transmisso por via teleptica. Ocorrem de acordo com a Vontade de cada um dos seres anglicos, e podem suscitar dilogos semelhantes ao que presenciamos entre os seres humanos. As inteligncias humanas comunicam-se atravs de palavras, as quais so signos sonoros. Os espritos anglicos, por sua vez, comunicam-se atravs de pensamentos em estado puro.

11. Onde esto os demnios?

Tanto as almas dos condenados como as dos demnios no podem deslocar-se para outros locais do espao; tampouco, se pode dizer que esto em outra dimenso. Qu significa estar ou no estar em outra dimenso, para um esprito? Simplesmente, no esto em lugar algum! Existem, mas no esto nem aqui nem acol.Diz-se que um demnio est em um local quando atua nesse local. Se um demnio est a tentar algum aqui, diz-se que ele est aqui. Se um demnio se apodera de um corpo ali, da mesma forma diz-se que est ali. Se um demnio move uma cadeira num fenmeno do tipo poltergeist, diz-se que ele est realmente em tal lugar. Mas, na realidade, no est ali, mas apenas atuando ali [atravs da trade Pensamento-Vontade-Ao].O Inferno, o Cu e o purgatrio so estados. Apenas depois da ressurreio dos corpos dos condenados, a sim estaro em um local determinado e fixo [eterno], e por isso mesmo que s a partir da que o Inferno se tornar em um local concreto. Os corpos dos bem-aventurados tambm ocuparo lugar. Por isso, diz-se na Bblia que Joo viu um novo cu e uma nova terra (Ap 21, 1). Da depreende-se que os bem-aventurados novamente habitaro a Terra restaurada aps a destruio narrada no Apocalipse. Sabendo que os bem-aventurados habitaro, em corpos, novamente esta Terra, onde estaro os condenados? Nada se pode afirmar acerca disto, com segurana. Alguns pensam que encontraro lugar no centro deste mesmo mundo [alguns supem ser o ncleo do planeta Terra].

12. Os demnios conhecem o futuro?

Eles no preveem o futuro, mas podem [com boa probabilidade de sucesso] conjectur-lo. Com sua inteligncia, muito superior humana, podem deduzir muitas coisas que sucedero, para isto sabendo suas causas determinadas. O que pertence apenas liberdade humana est indeterminado e no o conhecem. No sabem o que eu decidirei livremente[footnoteRef:16]. Mas, com sua inteligncia superior, anteveem os efeitos das causas [envolvidas] onde ns no veramos coisa alguma. [16: No sabem o que eu decidirei livremente, embora estejam conscientes, na maioria das vezes, das tendncias com base nos antecedentes da vida de uma pessoa e nos demais fatores envolvidos num determinado cenrio de eventos. [N. do T.]]

Desde logo, h ocasies em que eles sabem, com mxima segurana, o que suceder, mesmo nas quais nem o mais perspicaz dos seres humanos poderia supor tais efeitos, analisando os componentes envolvidos no cenrio. Mas, em outras ocasies, nem a natureza anglica da mais elevada hierarquia poderia deduzir o que aconteceria [e se aconteceria algo, ou no]. Sobretudo, a liberdade humana [ qual chamamos livre arbtrio] o grande fator de indeterminao em suas previses[footnoteRef:17]. [17: exatamente por isso que to perigoso dialogar com as tentaes ou pensamentos que nos levem a renegar as assertivas de nossa Conscincia. Pois, se um demnio, atravs de um medium ou por outro meio (sonhos, vidncias, etc.), nos diz que algo vai suceder, de antemo, ele vai nos sugestionar ideias que nos possam induzir a erros de julgamentos e aes cujos efeitos coadunem com a predio. Na verdade, predies acerca das aes de pessoas em posse de sua liberdade nada mais so do que jogos de cartas marcadas. Tal coisa acontecer se fulano fizer assim, e aquela outra coisa, se fulano agir de outro jeito... No podemos ignorar, portanto, que a maioria dos sucessos de predies de demnios acerca de fatos futuros se deve no somente ao seu conhecimento das causas e provveis efeitos das aes, mas tambm ativa colaborao deles na suscitao de ideias e cenrios que propiciem tais fatos isso atravs de fenmenos sobrenaturais, iluses ou induo de seres humanos a erros de julgamento.]

13. Pode um demnio fazer algo de bom?

O demnio no est sempre fazendo o Mal; por vezes, to-somente pensa. E, nisso, no faz mal algum, sendo um mero ato inerente sua natureza. Com efeito, o demnio no pode realizar atos morais sobrenaturais. Ou seja, no pode fazer um ato de caridade, de arrependimento [converso] sobrenatural [que ocorre apenas mediante a efuso da Graa], de glorificao genuna de Deus, etc. Pode at glorificar a Deus, mas fora, no porque queira fazer isso. Pode arrepender-se de ter se afastado de Deus, porm sem [conseguir] pedir perdo, reprovando em si apenas o mal que lhe sobreveio por essa ao, sem remorso por ter ofendido a Deus. E assim, semelhantemente, pode fazer muitos outros atos naturais com sua Inteligncia e Vontade.Mas, o demnio jamais demonstrar a mais mnima compaixo nem a menor inclinao de Amor para com quem quer que seja. Seu corao somente odeia, insensvel ao sofrimento dos demais.

14. O demnio pode experimentar algum prazer?

O demnio no frui com nenhum de nossos cinco sentidos. Seu gozo apenas com sua Inteligncia e Vontade. Pode parecer pouca coisa, mas no . Os prazeres intelectuais podem se mostrar to variados como os de nossos cinco sentidos. Na realidade, so muito mais variados. O gozo que nos proporciona uma pera, uma sinfonia, uma partida de xadrez, um livro, vem de prazeres eminentemente espirituais, ainda que essa informao nos chegue ao esprito por meio de imagens sensveis. O mundo espiritual, visto por ns a partir de nosso mundo, pode parecer inspido, incolor, tedioso, mas isso um erro [de julgamento]. O mundo espiritual muito mais variado, rico e agradvel do que aquilo que nos oferece o Universo material [mesmo em sua perspectiva mais harmnica].Os demnios gozam dos prazeres, pois suas duas [principais] faculdades espirituais (Conhecimento e Vontade) seguiram intactas [aps a queda]. A forma de ao de sua natureza permaneceu ilesa, apesar do afastamento de Deus. O que no podem fazer amar com amor sobrenatural. A capacidade de amar, neles, foi aniquilada na psicologia do demnio. O demnio pode conhecer, mas no amar [aquilo que conhece].O prazer obtido no xito em fazer um mal exatamente o mesmo que o de uma pessoa na Terra quando consegue vingar-se de seu inimigo. Trata-se de um prazer pleno de dio, que no traz sossego.

15. O demnio livre para fazer mais ou menos males?

O demnio faz o Mal quando bem quer, nada o pode obrigar a faz-lo. um ser livre, e sua Vontade que determina quando e o que fazer. Deseja fazer o Mal, e para faz-lo preciso que tente. Mas, para tentar, tem de insistir. Alguns demnios insistem mais, outros desistem antes. H demnios mais decididos e outros mais preguiosos [ou displicentes]. H demnios que, pelo mpeto de sua clera, perseguem as almas como verdadeiros predadores. Outros demnios esto submersos em uma espcie de depresso e no tm tanto dio que leve-os a perseguir to ardentemente as almas. Mas, estamos falando de graus, j que todos odeiam a Deus e so caadores de almas.

16. Quais so os mais malignos dentre os demnios?

Poderamos pensar que os mais perversos demnios so os de mais alta hierarquia, mas no o so. No h relao entre natureza e pecado. Uma natureza anglica de ltima hierarquia pode ser muito mais perversa que um anjo superior. O mal que pode cometer um ser livre no depende da Inteligncia nem do poder que detm. Sempre coloco o chefe da SS nazista, Heinrich Himler, como exemplo de malignidade. Mas, no poderia ser pior que ele algum de seus subordinados? Claro que sim! Entre os homens, vemos que algum menos inteligente e em uma posio social menos relevante pode ser muito pior e mais perverso que um grande ditador. E o mesmo que acima foi dito vale tanto para o Mal quanto para o Bem. Um anjo da ltima hierarquia pode ter exercitado mais suas virtudes que um de mais alta hierarquia. Da mesma forma, uma idosa sem estudos, que tenha se dedicados somente aos afazeres domstico e sua Famlia por toda a Vida, pode ser mais santa que um arcebispo ou mesmo um Sumo Pontfice.Uma interessante pergunta que suscitada diante do exposto se a hierarquia que nos d a Bblia (anjos, arcanjos, principados, etc.) uma hierarquia da Graa ou da natureza [vlida tambm para demnios]. Ou seja, os serafins so os mais santos ou somente os mais poderosos e nos quais mais brilha o fulgor da Inteligncia anglica. Minha opinio de que uma hierarquia segundo a Natureza [e no segundo o nvel de Santidade]. Pois, as descries das imagens dos quatro Seres Viventes ao redor do Cordeiro (anjos de maior hierarquia) do melhor noo de poder e conhecimento, assim como que os mesmos nomes das nove hierarquias. O nome principado ou potestade, para darmos dois exemplos, so nomes que pressupem a ideia de Poder. Alm do mais, mais simples elaborar uma hierarquia da natureza do que da Graa.

***

Parte II: A Tentao e o Pecado

17. Por qu pecamos?

Tentao a situao em que a vontade tem de escolher entre duas opes, sabendo ela que uma delas boa e a outra m. Porm, sente-se inclinada a escolher a m. Tem conscincia [ou intui] qual a m opo; mas, por alguma razo, se v impelido a optar por ela. O erro de cair em tentao no um lapso da Inteligncia, nem um qualquer problema envolvendo debilidade da Razo. Pois, se no soubesse que tal opo m, pecaria por ignorncia ou simples erro e, portanto, no estaria pecando de verdade. Para pecar, a pessoa deve saber que est optando pela alternativa m. No h pecado sem m conscincia. Esse pequeno detalhe o que torna to interessante o pecado do ponto de vista intelectual: afinal, por que escolhemos o Mal sabendo que ele mal? Eis um verdadeiro mistrio!Uma resposta simples, embora no seja falsa nem mesmo explique a questo, contestar com a desculpa de que pecamos por fraqueza. Isto no deixa de ser verdadeiro, mas tambm certo que no somos to fracos para que no possamos resistir. Se no fssemos capazes de resistir, j no haveria pecado, pois no haveria a escolha por A ou B, a qual condio sine qua non para que a realidade do pecado se faa presente, acusando a Conscincia do pecador. Se h pecado, porque podemos escolher entre opes distintas. E, por experincia nossa, sabemos que escolhemos sempre o que desejamos. Se queremos fazer algo, nada nem ningum poder nos obrigar a fazer algo diferente. Assim, por mais fracos [moralmente] que sejamos, sempre h como resistir s ms opes. Pelo que foi dito, na podemos nos eximir de responsabilidade nem pelo campo da Inteligncia nem pelo da Vontade. Fazemos o Mal porque queremos.Poderamos afirmar que fazemos o Mal pelo bem que obtemos por meio dele. Mas, devemos lembrar que a Inteligncia tem como perceber que tal opo m uma ma envenenada [no sentido de ardil, cilada, engano]. Ela [a Inteligncia] percebe que um falso bem, algo que abrange mais mal do que o bem que pode conter. Por isso, por mais atraente que nos parea tal bem, a Conscincia nos alerta que no devemos escolher tal opo. Assim como dizemos que fazemos algo de mal por nos parecer com um bem, tambm certo que sabemos isso que nos parece bom contm, afinal, um mal real. Assim como adequado se explicarmos o mal que fazemos pelo bem que se nos oferece, ainda assim isso no revela o porqu do pecado em sua totalidade. Quem sabe esse mistrio da ma envenenada que comemos, mesmo sabendo-a inoculada de veneno, no podemos aclar-lo de todo enquanto estivermos com nossas percepes atreladas ao que material.

18. Quantas tentaes procedem dos demnios?

No h quem possa dizer quantas tentaes podem proceder dos demnios e quantas de nosso prprio interior. Mas, parece razovel pensar que a maioria delas procede de ns mesmos. No necessitamos de ningum para nos submetermos livremente tentao. Basta que tenhamos a Liberdade para que possamos us-la mal. Basta termos que decidir perante uma questo para optarmos conscientemente pelo alternativa errada. Conscientemente, sem desculpas, sem poder jogar a culpa sobre ningum mais do que sobre ns mesmos. certo que o Demnio primeiro tentou a Mulher. Mas, sem ele, poderamos ter pecado da mesma forma. A tentao prescinde do Demnio, basta-se a si mesma. Se assim no fosse, quem teria tentado o Demnio?

19. Podemos ser tentados alm de nossas possibilidades?

O ser humano dbil [fraco], de forma que Deus cuida de ns como a crianas. Por isso, nos diz a Bblia:Fiel Deus, que no permitir que sejais tentados alm de vossas foras, mas com a tentao os tornar capazes de sobrepuj-la.(1 Cor 10:13)Que a tentao deve ser permitida por Deus algo que aparece bem claramente no Livro de J. Mas, tambm em outra passagem das Escrituras, justamente antes de sua Paixo, Jesus disse a Pedro:Simo, Simo! O Adversrio te reclamou para te peneirar como trigo. (Lc 22:31) Te reclamou, logo, a peneira da tentao deve ser permitida. No afirmar essa doutrina significaria que estamos nas mos de um destino cego e qualquer, um por mais fraco que seja, pode ser tentado com um poder e intensidade desproporcionais e maiores que as foras que aquele ser possui. Portanto, a mensagem clara e reconfortante: Deus, como Pai que , vela para que nenhum de seus filhos se veja pressionado para alm do que pode suportar. Por tudo isto, se v a sabedoria que reside naquele velho ditado: Deus aperta, mas no afoga!

20. Por que o Diabo tentou a Jesus?

O Diabo sabia que Jesus era Deus; sabia, portanto, que era impossvel que pecasse. Por que, ento, o tentou? E mais, sabia que qualquer tentao qual resistisse o santificaria ainda mais como homem e que, com isso tudo, o Demnio, ao tentar-lhe, se converteria como instrumento de Jesus. Por que, ento, fazer algo intil e que serviria para um bem? A resposta simples: o Diabo no pde resistir ao impulso de tentar. A tentao para tentar foi demais para o Diabo, tentar o prprio Deus! No podia deixar deixasse escapar aquela chance. Sabia que era impossvel faz-lo pecar, mas no conseguiu resistir tentao de tent-lo, pois para resistir tal tentao, deveria contar com a virtude da Fortaleza. E qualquer coisa podemos esperar de um demnio, menos virtude.Da mesma maneira, os demnios fazem coisas que, a longo prazo, os prejudicam, mas no resistem ao impulso de fazer algo mal naquele momento, mesmo que, contendo-se, pudessem conseguir realizar um mal maior depois. Por tudo que se pode constatar, at mesmo os demnios sofrem com as tentaes, procedendo estas de seu prprio interior.

21. O Demnio sabe que Deus impecvel[footnoteRef:18]? [18: Impecvel: que no erra, que no faz escolhas erradas, que no pode pecar. ]

Sabe perfeitamente, to bem como o mais sbio de todos os telogos, no tendo a menor dvida quanto a isso. No obstante, quando o Demnio tentou a Deus feito homem, queria tambm se convencer de que Deus no era to bom como ele acreditava que fosse. Quem sabe se Deus no era dbil, fraco, talvez houvesse um calcanhar de Aquiles na Divindade que ele, o Demnio, desconhecesse. Se conseguisse que a Perfeio falhasse em algo, a mesma desmoronaria. Conseguir fazer Deus pecar lhe parecia algo impossvel, mas tinha que tentar. Se conseguisse corromper a Deus, ento ele prprio no seria mais um pecador, j que bem e mal deixariam de existir [como conceitos]. Bastaria um nico e banal pecado da Santssima Trindade para que a linha que separava o bem do mal se apagasse para sempre, para que pudesse [o Demnio] afirmar que, na realidade, nunca havia existido. Isso se deve a que a Santidade de Deus era a garantia, o penhor, dessa diviso. Se Deus pecasse, ainda que uma nica vez em toda a eternidade, Deus j no seria Deus. J no haveria garantia alguma nesta distino, nem certeza ou fundamento.A prpria Inteligncia do Demnio lhe dizia que isso era impossvel, mas seu prprio desejo o levou a deformar seus pensamentos. Tinha que tentar o impossvel.

22. Pode-se chegar a distinguir as tentaes procedentes de ns mesmos das dos demnios?

As tentaes que nos alcanam vindas dos demnios no se distinguem em nada de nossos prprios pensamentos, j que o demnio nos tentam infundindo em ns espcies inteligveis[footnoteRef:19]. Ou seja, o Demnio introduz em nossa Inteligncia, memria e imaginao, objetos apropriados ao nosso entendimento que em nada se distinguem de nossos pensamentos. Uma espcie inteligvel justamente isso: o que h em nosso pensamento quando exercemos a faculdade de pensar, desde imaginar uma rvore, resolver um problema matemtico, elaborar um raciocnio lgico, compor uma frase, etc. Todas essas coisas so espcies inteligveis. Produzimo-las no interior de nosso esprito racional, mas um anjo tambm pode produz-las e nos comunic-las silenciosamente. [19: Espcies inteligveis: Espcies inteligveis so pensamentos que se transmitem entre eles. Ns nos comunicamos por palavras [e sinais]; eles, anjos e demnios, se comunicam, diretamente, atravs de pensamentos em estado puro [ou simblicos], sem necessidade de mediadores ou sinais. As espcies inteligveis podem se tratar de raciocnios, imagens, sentimentos, etc. Sua transmisso por via teleptica. Ocorrem de acordo com a Vontade de cada um dos seres anglicos, e podem suscitar dilogos semelhantes ao que presenciamos entre os seres humanos. (consultar 10. Qual a linguagem dos demnios?) [N. do T.]]

Entre ns, seres humanos, comunicamos nossas espcies inteligveis, sobretudo, atravs da comunicao da linguagem, ainda que o possamos fazer tambm atravs, por exemplo, da msica e das artes plsticas. Porm, sempre atravs de meios media externos, ao passo que os anjos podem transmitir suas espcies inteligveis sem necessidade de meio algum. Por isso, no h maneira de distinguir o que vem de dentro de ns mesmos, de um anjo, demnio ou de Deus diretamente.No entanto, h pessoas que passam vrios anos perseverando em sua Vida espiritual muito intensa, em esprito de orao, podem testemunhar que surgem tentaes com intensidade bastante surpreendente sem que, apesar de tudo, tenham alguma razo plausvel e que podem ser de uma persistncia estranhssima. Para dar um exemplo, claro que a leitura de um livro contra a F produza tentaes contra a mesma F. Mas, se essa tentao surge logo em seguida, muito intensa e persistindo por semanas e mais semanas, isso pode ser sinal de que se trata de uma tentao demonaca. Mas, nem mesmo assim podemos estar seguros. Como regra geral, poderamos dizer que as tentaes sem causa razovel, muito intensas e persistentes, podem ser tidas como suspeitas de procederem do Demnio. Porm, com sinais to vagos, no temos como estar inteiramente seguros.Aos sacerdotes, chegam pessoas de intensa vida de orao e que, sem ter histrico de problemas psiquitricos, subitamente lhes ocorre impulsos de blasfemar contra Deus, pisar em crucifixos ou algo assim. Se essas perturbaes se tornam recorrentes, razovel pensar que so causadas por doenas com implicaes psiquitricas. Mas, se surgem repentinamente e a pessoa aparenta autodomnio e sanidade mental, ento teremos razes para suspeitar de sejam tentaes diablicas.O psiquiatra que tiver lido esta explicao, decerto, pensar que o que foi descrito se dever a um efeito de ao-reao. A tais psiquiatras, queremos dizer que conhecemos perfeitamente esses mecanismos do subconsciente, mas tambm lhes lembramos que o Demnio tambm existe. E isto torna-se mais claro quando tal tentao obsessiva, num belo dia, desaparece sem deixar vestgios. As tentaes demonacas nunca so crnicas. E por veementes que sejam, quando desaparecem no deixam a mais leve sequela na psiqu que sofreu com elas.

23. O que fazer diante da tentao?

Rejeit-la imediatamente! A tentao nada pode nos fazer se a rejeitamos; se no dialogarmos com ela, ela inofensiva. Pois, a partir do momento em que dialogamos com ela, que ponderamos os prs e contras do que ela nos sugere, que levamos em conta o que ela nos prope, desde esse instante, nossas foras se quebrantam, nossa resistncia se debilita. Uma vez que iniciado (desde que aceitemos) o dilogo com a tentao, necessitaremos de muito mais fora de vontade, cada vez mais, para rejeit-la.Outra coisa que ns, confessores, observamos, que alguns penitentes muito devotos se sentem oprimidos quando lhes ocorrem, de tempos em tempos, certos pensamentos como tentaes para cometer pecados graves. A esse tipo de pessoas muito devotas e ou religiosas no se explica como se lhes chegam tais pensamentos, sentindo-se elas muito culpadas por eles, e impotentes diante deles. Tendo entendido o que vem a ser uma espcie inteligvel infundida por um demnio, se compreende que o melhor modo de operar contra ela simplesmente , ignor-la, fazer justamente o contrrio do que tal tentao nos prope e se pr a rezar. O desespero no servir de nada. Se no nos desesperamos, quem se desespera o demnio!O demnio pode nos introduzir pensamentos, imagens e lembranas, mas no pode entrar em nossa Vontade. Podemos ser tentados, mas, afinal, fazemos o que queremos [e o que aceitamos fazer]. Nem mesmo todos os poderes do Inferno podem forar algum a cometer nem sequer o menor dos pecados!

24. Pode usar o Demnio de alguma estratgia ao tentar-nos?

O demnio um ser inteligente, no uma fora ou energia. Portanto, temos de entender que a tentao uma forma de forar um dilogo. Um dilogo entre o Tentador e a pessoa que a ele deve resistir. Somente se a pessoa reluta em considerar a tentao que a tentao no deixa de ser apenas insistncia por parte do demnio, porm sem resposta de nossa parte.Mas, o demnio pode ficar ao nosso lado durante muito tempo, analisar-nos, conhecer-nos e tentar-nos justamente atravs de nossos pontos fracos. O demnio pode ser extraordinariamente pragmtico. Ou seja: sabe quais so suas possibilidades de sucesso e pode nos tentar exatamente atravs daquilo em que sabe ser provvel seu sucesso. Se percebe que a pessoa no vai cair em pecado grave, pode lhe tentar para que caia em pecado menos grave. Se v que nem isso conseguir, pode tent-la para que cometa apenas uma imperfeio, no sendo esta nem mesmo pecado. E dentro do que consiste as imperfeies, tentar somente atravs daquilo que considere possvel. Vejamos um exemplo: ele pode ver que tentar com a gula a um asceta pode significar perda de tempo, mas sabe que pode ser ainda melhor se lhe tenta a exceder-se no jejum. E se v que por a tem algum xito, tentar o asceta a que exagere em seu jejum justamente no que favorea sua soberba ou pior seja para sua sade, etc.Outro exemplo: se lhe parece intil tentar uma monja para que abandone suas oraes, pode ser que tente a monja a prolongar seu perodo de oraes em prejuzo de outras tarefas que ela tambm obrigada a executar. Em outras ocasies, o demnio pode ver que, mais que tentar a pecar, o melhor fazer que a alma creia que no deva seguir os conselhos de seu confessor, sendo ele um homem menos espiritualizado que ela mesma. O demnio no tenta em vo e debalde, mas analisa e ataca onde v que tem alguma chance de sucesso. E ele tem mais chances de sucesso onde o homem virtuoso acha que ele [o demnio] tem menos chances.Coloquei exemplos de tentaes a pessoas voltadas orao e ascese, porque o homem entregado ao vcio um homem sem proteo, sem a proteo das virtudes. Sem a armadura da Virtude, seu esprito deixa mostra vrios flancos desguarnecidos, expostos ao das tentaes. Sem Deus que protegesse essas almas, qualquer delas seria como palha para a fogueira de suas prprias paixes, cujas brasas so constantemente avivadas pelas tentaes demonacas. Por isso, pedimos ao rezar o Pai-Nosso para que nos livre do Mal. Isso demonstra que, ainda que disponhamos da liberdade para resistir, convm que roguemos ao Criador para que nos proteja.Por isso, tambm, o Senhor nos delegou um Anjo de Guarda (tambm chamado custdio), para que as inspiraes malignas sejam contrapostas [e compensadas] por inspiraes para o Bem.Alm do mais, se algum tentado e reza, a tentao, cedo ou tarde, desaparece. A realidade da tentao incompatvel com a prtica da orao. A orao, primeiramente, cria uma barreira para a tentao, pois nela nossa Vontade e Inteligncia se concentram no Bem [ou seja, em Deus]. Se insistimos um pouco mais na orao, o demnio acaba no suportando e foge.25. Pode Deus tentar?

Que ningum, ao ser tentado, diga: Por Deus sou tentado; porque Deus no pode ser tentado pelo mal, e a ningum tenta. (Tg 1, 13)

Este versculo nos ensina duas coisas: 1) Deus no pode ser tentado. Afinal, o que pode oferecer a Deus a tentao que Ele mesmo j no o tenha? Que dom, que prazer ou gozo que Ele j no possua? Em Deus, a tentao, em termos metafsicos, impossvel, pois esta no tem nada a Lhe oferecer.2) Deus a ningum tenta. Deus bom e, por isso, nunca tenta ao Mal. Deus s pode conduzir os seres ao Bem, nunca nos apresentando o Mal como se fosse um bem ou nos induzindo ao erro.Se Deus no pode ser tentado, por que o Diabo pde tentar a Jesus? Foi feito Homem que Deus pde ser tentado. Assim, tambm, como Deus, -lhe impossvel sofrer por algo, mas somente como ser encarnado.

26. Por que Deus permite a tentao?

Se Deus no tenta, por que permite a tentao? Encontramos a resposta para tal pergunta no versculo seguinte:Considerai que suma alegria, meus irmos, quando passais por diversas provaes, sabendo que a prova da vossa f produz a pacincia. (Tg 1, 2.3)Sem a tentao, no subsistiria essa constncia na virtude que nos permite resistir sempre mais tentao sedutora. Em outras palavras, h certas virtudes que jamais aflorariam sem que pudssemos ser submetidos tentao. E mais: quanto mais dura for a prova, mais brilhar a luz de tal virtude ao sobrepujar a essa tentao.Isto nos leva seguinte constatao: Deus poderia ter interditado os demnios de modo a nunca interferir na histria humana. Mas, Deus sabia que, apesar de os demnios serem a causa dos males, propiciariam ocasies de grandes maravilhas ao darem vez a um maior valor para as virtudes conquistadas. De certo modo, poderamos admitir que Deus aceitou a possibilidade de surgirem maiores Trevas se, com isso, se obtivesse uma Luz mais pura e (verdadeiramente) luminosa. Do contrrio, bastaria uma simples ordem de Deus para que nem sequer um s demnio pudesse ter entrado em contato com um ser humano. Assim, se Deus permitiu tal contato, porque dele poderiam advir um Bem maior.

27. O que a morte eterna?

Um esprito (assim como uma alma) indestrutvel. No est sujeito a fatalidades fsicas, como as de atrito ou desgaste, nem pode ser dividido. O esprito no pode morrer. Cometa os pecados que cometer, seguir existindo. Por mais que queira morrer, a Vida no escapar dele. No entanto, o que queremos significar com as expresses pecado mortal, morte eterna e similares, que a vida sobrenatural de um esprito ou alma o que realmente pode morrer. O pecado mortal acaba com a vida sobrenatural. O esprito segue existindo, porm numa vida natural. A Vontade e a Inteligncia, com todas as suas potencialidades, continuam operando, porm j sem a Vida da Graa. O esprito [sem vida sobrenatural] est para a Graa como se fosse um cadver. Tal palavra pode soar algo exagerada, mas mesmo precisa. O esprito que peca mortalmente como um cadver inanimado, no mais vivificado pela graa santificante. Desde ento vive apenas para a natureza e por sua natureza. Tal esprito, ento, segue privado da supernatureza.E desde o momento em que a Graa tenha deixado de vivificar um esprito, ocorre o mesmo que com um corpo fsico no mais animado por uma alma, comeando a corrupo [putrefao, decomposio]. Assim como um corpo [fsico] comea a se deteriorar, assim um esprito comea a corromper-se medida que sua Vontade v cedendo [ou melhor, renegando Razo].So muitos os homens que vivem apenas para a natureza de seu ser, negligenciando completamente sua supernatureza que Deus lhes concederia com prazer. O nvel de corrupo varia conforme a pessoa. Mas, se pudssemos cutucar os espritos de alguns, veramos que so como cadveres que exalam mau cheiro exatamente como o de um cadver decomposto j h muito tempo.

28. Como o processo que leva Morte eterna?

Cada um tentado por sua prpria paixo,vendo-se a si mesmo arrastado e seduzido.Depois, a paixo, quando concebe, d luz ao pecado. E o pecado, quando chega ao seu final, traz a Morte.(Tg 1, 14.15)

O apstolo So Tiago, em dois versculos, com uma incrvel profundidade de princpios, descreve o processo que leva Morte da alma. O pecado no algo que nasce por si mesmo, por acaso, nem que de repente cai diante de ns sem que tenhamos alguma culpa, e sim mediante um processo tal qual o descreveu o Apstolo [So Tiago]. A traduo, a partir do grego, desses dois versculos deve ser bastante cuidadosa para que no se perca os matizes que h nos verbos. O processo descrito como segue:

PaixesO pecado concebido e se desenvolveO pecado nasceO pecado mesmo comea a conceberNasce a Morte

A imagem de uma mulher que, durante meses, carrega em seu ventre a um beb perfeitamente aplicvel [guardadas as devidas propores simblicas] a uma pessoa que gesta em seu interior a iniquidade. Certamente, o pecado se manifesta em um determinado momento, um momento concreto, um segundo antes do qual no h qualquer pecado. Porm, um segundo depois, j h o pecado manifesto. Mas, esse pecado vem luz somente em tal momento porque antes ele era gestado no interior de seu hospedeiro. E, assim como no mundo animal, quanto mais longo o tempo de gestao de uma criatura, maior ela ser em tamanho. No mundo espiritual, quanto mais vil o pecado, maior o tempo necessrio de gestao interior para que se manifeste com sua fora total. Da, temos podemos responder quando nos perguntam como uma certa pessoa possa ter cometido tal ou qual barbaridade. Nenhuma barbrie moral ocorre sem um processo [prvio], o qual se d longe dos olhos dos demais, mas que se desenvolve livremente no interior da pessoa.O Apstolo So Tiago usa a expresso dar luz porque, realmente, o pecado, antes de ser gestado, precisa ter sido concebido. A seduo e a Vontade atuam tais quais um espermatozide e um vulo. A paixo tenta abrir caminho e penetrar na Vontade. Mas, se esta no a recebe, a seduo torna-se estril, nada produzindo. Enquanto a Vontade se feche em si mesma, nem milhares ou milhes de espermatozides [de seduo] conseguiro penetrar no seio [mago] da Vontade. Mas, se a Vontade recebe a seduo, o pecado , ento, concebido. Ainda assim, o pecado pode ser eliminado. Entretanto, se o pecado no eliminado, ele comea a reproduzir-se [tal qual um vrus]. O pecado leva a outros pecados, se reproduz, aumenta em quantidade, transmuta-se em piores faltas.Se o primeiro pecado esconde sua origem por um processo prvio, tambm o pecado que [vem luz e] deixa-se viver comea um novo processo [de concepo e gestao], processo que leva Morte da alma. E a Morte da alma leva Morte eterna.A alma invadida pelo pecado como uma alma morta, pois no porta vida sobrenatural dentro de si. E, se a alma morta decide permanecer at o final neste estado de corrupo [putrefao], isso leva Morte eterna, condenao.Conhecer como se d esse processa nos leva a dar mais valor ao sobrenatural da Graa Divina que, em qualquer momento deste processo [enquanto no tenha se dado luz a Morte eterna], pode vivificar a alma. O perdo de Deus no apenas perdo, mas vivificao [isto , ao de tornar algo vivo ou reviv-lo]. E isso vale para o pecado e para as paixes, s que ao contrrio da Graa e das virtudes. A Vida em Cristo um processo, uma vida que se desenvolve.

29. Qual a diferena entre natural, preternatural e sobrenatural?

Natural a atuao segundo a Natureza. Subentende-se de que tratamos aqui da Natureza do Universo material.Preternatural a atuao que excede as leis da Natureza do Universo material. Aquilo que fruto da atuao de uma natureza anglica ou demonaca preternatural. Essa palavra vem da expresso em latim prter naturam, mais alm da Natureza.Sobrenatural a atuao que supera a de qualquer natureza jamais criada. Esta forma de atuao exclusiva de Deus.***A natureza material pode realizar coisas surpreendentes, mas sempre segundo as leis do Universo material [apenas]. Os demnios podem fazer levitar um objeto no ar, mudar a forma de algo instantaneamente, etc. Eles podem fazer coisas que excedem as possibilidades do Universo material, mas nunca alm das potncias de natureza anglica, pois no so onipotentes. Eles no podem tudo nem sequer no mundo material. Deus, no entanto, pode criar um ser vivo do nada, o que o demnio no pode.Essas diferenas valem tambm no que se refere s atuaes em nossas almas. Por exemplo, uma bela paisagem pode me fazer recordar da beleza de Deus, o que algo natural. Enquanto um anjo ou demnio pode me enviar inspiraes diretamente minha mente, Deus vai mais alm, concedendo-me graas espirituais (de arrependimento, de ao de graas, etc.) ao mais ntimo de meu esprito, propiciando mudanas radicais no mesmo instante. Toda a atuao da Graa sobrenatural, a qual vem diretamente de Deus.

30. Os demnios atraem maior castigo pelo Mal que fazem aos homens?

J dissemos que cada demnio livre para fazer mais ou menos mal contra os homens, parecendo lgico que isso lhes atraia um acrscimo [ou no] em seu castigo. Particularmente, nunca pensei que o Juzo Final sugerisse nada mais que uma declarao pblica de sua sentena. Porm, segundo o que aprendemos durantes os exorcismos, parece que o Juzo Final ser algo mais do que uma simples declarao solene. Pelo que dizem os demnios, tero de prestar contas do que tero feito aos homens ou contra Deus at o momento em que eles sejam afastados definitivamente da humanidade e no possam mais influir em seu destino. No Juzo Final, nenhum condenado deixar de estar condenado, mas tero que dar conta do mal inflingido no exerccio de sua liberdade.

31. possvel fazer um pacto com o Demnio?

As pessoas se acostumaram a pensar que os pactos com demnios existem apenas na literatura [ou cinema]. Enganam-se! H pessoas que, conscientemente e a despeito de todas as advertncias, fazem pactos com o Demnio e lhe entregam suas