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Como órgão de divulgação do Corpo deFuzileiros Navais (CFN), a primeira revis-ta foi editada em setembro de 1939 com

o nome “O Naval”, circulando até 1943. Em mar-ço de 1954, surgia o primeiro jornal dos Fuzi-leiros “O Anfíbio”, publicado até 1977.

Aproveitando esta última denominação, apartir de 1961, iniciou-se a edição da Revistados Fuzileiros Navais, “O Anfíbio”, em circula-ção até hoje. Destina-se a divulgar a doutrinaanfíbia e o moderno emprego de Forças de Fu-zileiros Navais, difundir a história e tradiçõesdo CFN e constituir-se em foro para debate deidéias que estimulem o aperfeiçoamento técni-co-profissional.

SumárioEditorial - Nossa Capa ............................................................................................................................................................... 02

Marcha Bicentenário do CFN - Revivendo a Operação Alvorada ............................................................................................. 04

ACISO Coluna de Marcha Bicentenário do CFN SO-FN Macedo ............................................................................................. 22

A Conquista do Pico da Neblina ................................................................................................................................................ 28

Simpósio CFN Bicentenário: Os Rumos para 2020 .................................................................................................................. 42

A Formação dos Fuzileiros Navais Americanos ....................................................................................................................... 56

Efetividade do Processo Atual de Avaliação de Liderança na Marinha do Brasil .................................................................... 66

Operações Militares em Áreas Urbanas .................................................................................................................................... 76

Emprego de VANT no CFN ........................................................................................................................................................ 84

O Paramotor Aplicado às Operações Especiais ....................................................................................................................... 96

Projeto Memória do CFN.......................................................................................................................................................... 104

O ANFÍBIO • no 27 • Ano XXVIII • 2009

Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros NavaisAlmirante-de-Esquadra (FN)Alvaro Augusto Dias Monteiro

Editor ResponsávelCapitão-de-Mar-e-Guerra (FN)Pedro Luiz Gueiros Taulois

CoordenaçãoCapitão-de-Fragata (FN)João Leonardo Palmieri Parente

Projeto Gráfico, Editoração e Foto da CapaCapitão-Tenente (T)Tonery W. Pernambucano Júnior

RevisãoProfessora Doutora Regina Maria de SouzaMarcio Costa

As opiniões emitidas nos artigos deste periódico são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento ouatitude do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais, a não ser que assim esteja expressamente declarado.Todos os trabalhos aqui publicados sãode caráter gratuito. É permitida a reprodução total ou parcial das matérias. Solicita-se a citação da fonte e a remessa de um exemplar da publicação.

Assessoria de Comunicação Social do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros NavaisFortaleza de São José, s/n - Ilha das Cobras – Centro - Rio de Janeiro – RJ – CEP: 20091-000 - Tel.: (21) 2126-5029

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Editorial Nossa Capa

Ainda sob a égide das comemorações dos

duzentos anos do Corpo de Fuzileiros Navais

(CFN), ocorridas ao longo de 2008, a presente

edição de “O Anfíbio”, no ano do bicentenário de nosso

Batismo de Fogo em Caiena, raiz da vocação anfíbia que

permeia o nosso Corpo, apresenta a seus leitores alguns

dos fatos marcantes dessas celebrações, como a reedição

da marcha RIO-BRASÍLIA e a Operação Pico da Neblina,

como exemplos de sacrifício, de trabalho de equipe e do

espírito de corpo que forjaram a história de nosso CFN,

paradigma para as gerações futuras de fuzileiros navais.

Além disso, esta revista traz alguns artigos técnico-

profissionais que visam à reflexão sobre a constante e

diuturna preocupação com a evolução do CFN, de forma

a adequar seu preparo e suas capacidades, humanas e

materiais, para fazer frente aos cenários de emprego em

constante transformação no contexto da guerra moderna,

no intuito de estar à altura dos requisitos dessa nova era,

no eterno compromisso com o porvir de nossa instituição.

Ao encerrar o presente número deste periódico, o

Projeto Memória do Comando-Geral do CFN brinda-nos

com a visão do Almirante-de-Esquadra (FN) Carlos de

Albuquerque sobre alguns acontecimentos ocorridos ao

longo de sua carreira naval, um berço de ensinamentos de

parte de nossa secular história aos fuzileiros e marinhei-

ros de sempre.

Convidamos, assim, os nossos leitores a

mergulharem nesta 27ª edição da revista “O Anfíbio”,

na permanente busca do conhecimento e do

aprimoramento individual.

ADSUMUS

Ainda sob o prisma das come-

morações do Bicentenário do

Corpo de Fuzileiros Navais, a

capa desta edição busca aludir,

por meio de três Fuzileiros Na-

vais envergando alguns dos uni-

formes que hoje utilizamos no

diuturno exercício de bem servir

à Pátria, a importância do eterno cultivo de nossos valores

e atributos: honra, competência e determinação.

Dessa forma, assinalamos a relevância de perma-

necermos amalgamados aos alicerces de nossa secular

Instituição, perante os desafios que se descortinam, coli-

gados, assim, nesta grande sinergia chamada Corpo de

Fuzileiros Navais.

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PORTO-PRÍNCIPE - HAITIFoto: Marco Dormino

PORTO-PRÍNCIPE - HAITIFoto: Marco Dormino

“Enquanto contarmos coma vigilância e o amor dos

Fuzileiros Navais, o Brasilestará em paz.”

Rachel de Queiroz, 1997

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REVIVENDO

A OPERAÇÃO

ALVORADACA (FN) José Henrique Salvy Elkfury

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MarchaBicentenáriodo Corpo deFuzileiros Navais

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MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN - REVIVENDO A OPERAÇÃO ALVORADA 5

Audácia, determinação, segurança e logística.Estas foram características marcantes da Marcha Rio-Brasília, realizada entre 29 de março

e 19 de abril de 2008, como parte das celebrações do Bicentenário do Corpo de Fuzileiros

Navais (CFN), relembrando a Operação Alvorada, quando, na inauguração de Brasília,

Fuzileiros levaram uma mensagem do Ministro da Marinha ao Presidente da República.

MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN - REVIVENDO A OPERAÇÃO ALVORADA 5

Brasília

CristalinaParacatu

João Pinheiro Luizlândia

Três Marias

Felixlândia

Sete LagoasBelo Horizonte

Nova Lima

Conselheiro Lafaiete

BarbacenaSantos Dumont

Juiz de Fora

Petrópolis

Rio de Janeiro

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O importante era mentalizar cada etapa a vencer, não sepreocupar com o último trecho do último dia, mas simcom cada quilômetro a percorrer, com o próximo alto-

horário e assim por diante. Desta forma, deixa-se depensar num objetivo distante no tempo e no espaço e

passa-se a colecionar pequenos objetivos intermediários,mais fáceis de serem alcançados.

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Cada um buscou uma maneira de passar o tempo,além de admirar as belas paisagens. Alguns gruposforam formados, puxando diferentes tipos de cantos(canções militares, cânticos religiosos) ou apenasconversando – teve até uma dupla que jogou xadrezenquanto caminhava.

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Audazes foram os 230 voluntários, entre os quais aSO-TI-EO Sonia Brilhante Wanderley, que aceitaram o de-safio de percorrer 52 km em média, diariamente, durante22 dias. Audaz foi o SO-FN-IF Sebastião Ferreira da GuiaNeto, que fez todo o percurso correndo, o que significoumais do que uma maratona a cada dia.

Determinação foi o ingrediente básico para venceras dificuldades de toda ordem, como as dores musculares eas bolhas, para suportar o calor e a chuva, para superar amonotonia da atividade em si – caminhar, caminhar e ca-minhar...

A segurança da tropa e o apoio logístico, fatores querepresentaram importantes contribuições para o êxito, fo-ram decorrentes de minucioso planejamento, realizado peloComando da Tropa de Reforço, e de execução primorosa,fruto da dedicação e do espírito de corpo das Unidades deSegurança e de Apoio de Serviços, nucleadas na Compa-nhia de Polícia (CiaPol) e no Batalhão Logístico de Fuzilei-ros Navais (BtlLogFuzNav).

O nível de detalhamento, a precisão dos dados levan-tados, a forma como foi concebida a execução da marcha e ainteração com os apoios tiveram papel decisivo, além deconferir aos integrantes a sensação de que estavam partici-pando de operação cuidadosamente planejada e executada,com reflexo direto no moral da tropa. Para tanto, foi funda-mental o apoio de diferentes Organizações Militares da MB,do Exército Brasileiro e da Força Aérea Brasileira, bem comode várias instituições militares e civis.

Recebida a missão, o primeiro passo foi ler o livro “Apé para Brasília”, escrito pelo CF (FN-RM1) Alfredo de Sou-za Coutinho Filho, um dos componentes da Operação Al-vorada, principal fonte de ensinamentos e de subsídios que,complementados com dados levantados em deslocamen-tos para Brasília, permitiram elaborar um primeiro esbo-ço de planejamento, o qual foi submetido a um grupo deespecialistas.

Estes, oriundos de diferentes OM, contribuíram comconhecimentos de medicina esportiva, medicina operativa,nutrição, educação física, operações especiais e logística, apartir dos quais foi elaborado do planejamento inicial, queincluiu calendário de atividades preparatórias, requisitospara seleção, programa de preparação física, recomenda-ções de saúde, medidas de segurança, rotina diária, propos-ta de programa geral de marcha, grade alimentar, progra-

ma de reconhecimentos específicos e necessidades de apoio.Esse planejamento foi submetido ao Comandante

da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) e, depois de modi-ficado, foi transformado na diretiva para a Marcha.

De acordo com essa diretiva, da qual decorreu a res-pectiva Ordem de Movimento, foi constituído um Grupo-Tarefa, o GT-200, organizado nos moldes de um GrupamentoOperativo de Fuzileiros Navais, com seu componente decomando, ao qual estavam subordinados elementos de co-municação social e uma célula de comando e controle; umaUnidade de Marcha, com os 223 Fuzileiros e sete militaresdo Corpo de Praças da Armada; uma Unidade de Seguran-ça, nucleada na Companhia de Polícia, responsável pelasatividades de segurança e controle do trânsito; e uma Uni-dade de Apoio de Serviços, nucleada no BtlLogFuzNav, coma árdua tarefa de prover o apoio de serviços a todo o GT-200.

Como requisitos para participar da marcha foramestabelecidos parâmetros simples – ser voluntário, estarapto para o Serviço Ativo sem restrições, apresentar pres-são arterial e Índice de Massa Corporal normais, Teste deCooper acima de 2.600m e, preferencialmente, ter menosde 45 anos. Como resultado, durante a execução não houveocorrência grave, apenas os problemas peculiares decor-rentes da marcha, além de gripes e viroses.

O programa de preparação física, elaborado pelo CF(FN) Maurício Miranda Ribeiro e pelo CC (FN) Paulo RicardoLins Barbosa, dividido em dois períodos, Básico e Específi-co, foi precedido de um período de treinamento demonitores e consistiu em corridas (com calça e coturno eem uniforme de TFM), Treinamentos de Resistência Mus-cular (TRM), natação e marchas.

Audazes foram os que conceberam tamanho empreendimento .Deslocamento de 1.160 km, a pé, com segurança e com oimprescindível apoio logístico.

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As marchas, realizadas com distâncias variando de10 a 55 km, no Complexo Naval da Ilha do Governador, nasrodovias Rio-Petrópolis e Niterói-Manilha e na região deGuaratiba-Recreio dos Bandeirantes, serviram ainda comoadestramento para as atividades de logística e de seguran-ça, para testar o quadro horário planejado para a rotinadiária e para desmistificar dificuldades, tais como a subidado trecho Rio-Petrópolis, o percurso diário superior a 50 km.

Foram também úteis ao contribuir para a integraçãoentre os participantes do GT-200, pois, embora a maioriada Unidade de Marcha fosse da Divisão Anfíbia, em especi-al do Batalhão Paissandu, havia militares de todas as de-mais unidades da FFE, além de representantes de outrossetores da MB – Comando-em-Chefe da Esquadra, Coman-do do Pessoal de Fuzileiros Navais, Diretoria do PessoalMilitar da Marinha, Grupamento de NaviosHidroceanográficos, Base de Hidrografia da Marinha emNiterói, Navio Aeródromo São Paulo, Grupamento de Mer-gulhadores de Combate e Grupamento de Fuzileiros Na-vais do Rio de Janeiro – e da Associação de Veteranos doCFN, o CMG (FN-RM1) Claudio Roberto Gonzalez.

As marchas preparatórias tiveram grande valor porterem incutido em cada um a importância da preparaçãofísica, dos cuidados com os pés e da hidratação. Além disso,fortaleceram o preparo psicológico dos participantes, quepassaram a perceber de forma concreta suas possibilidadese limitações e as características do desafio que enfrentariam.Ficou evidente a necessidade da hidratação ao longo de todoo percurso, devido à sua influência direta no desempenhofísico, o que ficou facilitado pelo uso do cantil costal.

A Rotina Diária empregada resultou dosensinamentos obtidos a partir da Operação Alvorada, de

sugestões da equipe de especialistas e da prática conduzidadurante as marchas preparatórias, e mostrou-se muito boa,considerando-se a região percorrida e o período do ano –início do outono, ainda com elevadas temperaturas. Comoem 1960, modificou-se o quadro horário previsto nos ma-nuais – andar cinqüenta minutos e descansar dez – paraetapas de uma hora de caminhada com intervalos de acor-do com o trecho.

As marchaspreparatórias tiveramgrande valor porterem incutido emcada um aimportância dapreparação física, doscuidados com os pés eda hidratação. Alémdisso, fortaleceram opreparo psicológicodos participantes, quepassaram a perceberde forma concretasuas possibilidades elimitações e ascaracterísticas dodesafio queenfrentariam.

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O calor excessivo e a incidência dos raios solaresforam os principais elementos a degradar o desempenhofísico dos marchantes. A solução de evitar a marcha noshorários próximos ao meio-dia mostrou-se acertada, no-tando-se claramente o excelente rendimento da tropa nascaminhadas antes do alvorecer, sendo que, tirando provei-to do repouso noturno, a primeira etapa era de duas horas,sem intervalo. No meio da manhã e à tarde havia interva-los para as refeições leves – colação e lanche. O grande altopara o jantar, em vez de ser no entardecer, era realizado nofinal da jornada – às vezes juntando com a ceia, seguindo-se o período de repouso noturno.

Durante a execução, os horários dos altos variaram,pois, de acordo com as condições do terreno, foram selecio-nados locais com segurança e conforto para a tropa, emespecial para o almoço, e o final da jornada dependia dadistância percorrida em cada dia.

A grade alimentar, planejada pelas nutricionistas1ºTen (T) Flávia de Souza Cagnin e 1ºTen (T) Sheila FontesMiliante, teve como finalidade prover a capacidadeenergética ideal e combater a desidratação, para assegurarbom desempenho físico, incrementando de forma signifi-cativa o desempenho físico e a defesa do sistema imunológicodos integrantes da Unidade de Marcha.

Para isso, foram elaborados cardápios com opções

apropriadas para cada uma das refeições diárias –desjejum, colação, almoço, lanche, jantar e ceia – conside-rando também aspectos inerentes à capacidade doBtlLogFuzNav e da Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti(BFNRM) para a confecção e distribuição das refeições.

Como resultado, a qualidade das refeições foi umdos pontos fortes para manter o elevado moral da tropa,apesar da ausência do feijão, solucionada com uma“flexibilização” da grade alimentar, devidamente “autori-zada”, na última semana, bem como com uma saborosafeijoada preparada pelo Grupamento de Fuzileiros Navaisde Brasília (GptFNB), degustada no dia da chegada, numaagradável confraternização.

Para elaborar o programa geral da marcha, foramconsiderados os seguintes parâmetros, entre outros: PontoInicial (PI) no Comando da FFE e Ponto de Liberação (PLib)no GptFNB; duração máxima de 23 dias; itinerário ao lon-go da BR-040, onde foram identificados como pontos críti-cos para a segurança o trecho Rio-Petrópolis e o Anel Viá-rio de Belo Horizonte; e, preferencialmente, locais com con-dições de conforto para o pernoite.

Para pernoite, foram utilizados os seguintes locais,alguns utilizados por mais de uma noite: 32ºBIMtz(Petrópolis-RJ), Clube Campestre (Três Rios-RJ), 4ºGAC(Juiz de Fora-MG), 4ºEsqdCMec (Santos Dumont-MG),EPCAr (Barbacena-MG), Parque de Exposições TancredoNeves (Conselheiro Lafaiete-MG), Clube Serra da Moeda e12ºBI (Belo Horizonte-MG), Sede Campestre da Igreja Ba-tista (Sete Lagoas-MG), Núcleo Habitacional da Aeronáu-tica (Três Marias-MG), CAIC (João Pinheiro-MG e Paracatu-MG), 3ªBdaInfMtz (Cristalina-GO) e, já em Brasília, o CIABe o GptFNB.

Assim, o início da marcha foi no dia 29MAR, umsábado, facilitando a subida para Petrópolis, e, também,permitindo que a passagem por Belo Horizonte fosse reali-zada em duas etapas – a primeira, no final de jornada de05ABR, um sábado, e a segunda na madrugada do domin-go, com pouco movimento de veículos, particularmente napassagem do Anel Viário para a BR-040, viaduto em que otrânsito precisou ser interrompido. Nos dois trechos, frutodos contatos realizados anteriormente, houve prestimosoapoio por parte da Polícia Rodoviária Federal.

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Durante a execução, os horários dos altos variaram,pois, de acordo com as condições do terreno, foramselecionados locais com segurança e conforto para a

tropa, em especial para o almoço, e o final da jornadadependia da distância percorrida em cada dia.

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Retornando às primeiras palavras, é preciso tecercomentários sobre a determinação de cada integrante dacoluna de marcha. Como era esperado, os primeiros diasforam os mais difíceis, pois mesmo com o treinamento rea-lizado leva algum tempo para cada um se acostumar coma rotina diária da marcha, tanto pelo esforço físico comopelo psicológico.

A visita do Comandante da Marinha e do Coman-dante-Geral do CFN, nas proximidades de Belo Horizonte,muito contribuiu para manutenção do moral da tropa. Asrecepções nas Unidades do EB, com a presença entusias-mada dos Comandantes e os dobrados das bandas servi-ram para manter a vibração elevada e para o fortaleci-mento dos laços entre a MB e o EB.

Também inesquecíveis foram as demonstrações deapreço pelos habitantes de várias cidades que seposicionaram ao longo da estrada para saudar a passagemdo GT-200 – esses fatos ocorreram em vários momentos,tanto à noite como ao raiar do dia, mostrando, assim, ocarinho da população. O diário eletrônico mantido naInternet (blog) foi elemento motivador, tanto pelo fato de osmilitares saberem que seus feitos estavam tendo repercus-são como pela interação com familiares e amigos.

Cada um buscou uma maneira de passar o tempo,além de admirar as belas paisagens. Alguns grupos foramformados, puxando diferentes tipos de cantos (cançõesmilitares, cânticos religiosos) ou apenas conversando – teveaté uma dupla que jogou xadrez enquanto caminhava. Ascanções militares mostraram-se excelente instrumentomotivacional. Normalmente a tropa cantava de forma es-pontânea nos momentos mais difíceis, para ajudar a supe-rar as adversidades. Todos vão sempre lembrar da “guar-da real”, constituída por incansáveis guardiões da testa dacoluna, do irrequieto “Duzentos”, cão “vira-lata” que seposicionou à frente da tropa ainda no PI e foi ficando, tor-nando-se mascote da tropa, até ser recebido com “honras”em Brasília – foi muito procurado para fotos, inclusive ga-nhando um “uniforme” novo...

O importante era mentalizar cada etapa a vencer,não se preocupar com o último trecho do último dia, massim com cada quilômetro a percorrer, com o próximo alto-horário e assim por diante. Desta forma, deixa-se de pen-sar num objetivo distante no tempo e no espaço e passa-sea colecionar pequenos objetivos intermediários, mais fá-ceis de serem alcançados. Vale ressaltar que, em termos decondicionamento psicológico, os militares de mais idade

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tiveram desempenho melhor do que os mais novos, talvezdevido ao elã dos mais experientes, e que as agruras servi-ram para incrementar o espírito de corpo.

Durante a maior parte do tempo a Unidade de Mar-cha assumiu o dispositivo de coluna por dois, sendo adota-do coluna por um em alguns pontos críticos (pontes, tre-chos sem acostamento). O uniforme foi o camuflado comgorro de selva, cuja proteção contra os raios solares foi degrande valia nos vários dias de forte calor. Todos os milita-res portaram um fuzil M-16, com bandoleira de três pon-tos, que ofereceu conforto significativo no transporte doarmamento por longas distâncias, e cantil costal. O uso dobornal de assalto, para transportar itens de pronto uso, foiopcional.

O cuidado com os pés era responsabilidade indivi-dual, valendo-se de artifícios específicos, em especial o usopreventivo de esparadrapo para proteção dos locais pro-pensos a bolhas, pomadas ou vaselina contra assaduras ebolhas, palmilha de silicone e a combinação de meias finase grossas, motivo para que os coturnos para longas mar-chas sejam um ou dois números acima do tamanho nor-mal. Além disso, os trechos em declive fazem com que ospés escorreguem para frente, pressionando dedos e unhas,

que devem, por isso, estar cortadas – verificou-se que mui-tas unhas ficaram pelo caminho...

A segurança foi valioso fator de sucesso, representa-do pelo fato de não ter ocorrido um único acidente envol-vendo militares da Unidade de Marcha, e criou oportuni-dade ímpar para aprestamento da CiaPol, consolidandoprocedimentos e condutas para equipes de controle de trân-sito e segurança. Estes foram testados e aperfeiçoados aolongo dos 22 dias de marcha, fornecendo, assim, conheci-mento técnico que será largamente utilizado no adestra-mento da CiaPol, um banco de dados de pontos críticos,distâncias e terreno no itinerário entre o ComFFE e oGptFNB, bem como a criação de parâmetro de dosagembásica para o Controle de Trânsito e Segurança de um Des-tacamento de Marcha.

Para cumprir sua missão, a UT 200.2 Segurança foiconstituída por dois oficiais e oito equipes de controle detrânsito e segurança com quatro militares cada (um SG etrês SD), sendo seis em viaturas e duas a pé, além de seismotoristas e dez militares para serviço de sentinelas noslocais de pernoite. O controle de trânsito foi executado porcinco equipes em viaturas, guarnecendo alternadamentepontos críticos à frente, orientando, desviando, reduzindoa velocidade e, eventualmente, interrompendo o tráfego.As mesmas equipes se deslocaram à frente, balizando oslocais dos alto-horários, e uma sexta equipe, também emviatura, deslocou-se à retaguarda, sinalizando e reduzin-do a velocidade dos veículos que se aproximavam. Alémdisso, duas outras equipes deslocaram-se a pé, juntamentecom a Unidade de Marcha, provendo a segurança aproxi-mada nos deslocamentos e nos altos.

Outro fator de sucesso foi o apoio logístico. Os inte-grantes do GT-200 tinham a certeza de que, ao final de cadaetapa, o correspondente apoio estaria pronto, podendo serum lanche durante rápido alto, o almoço à beira da estra-da, o jantar farto e saboroso, o iglu já montado, com o col-chão de ar inflado e o saco de viagem colocado no seu inte-rior, sem contar o serviço de lavagem de roupa. Na realida-de, as tarefas da UT-200.3 foram muitas e variadas, o que sereflete na sua organização, a seguir descrita.

Comando da UT, voltada para o planejamento dasmedidas de Comando e Controle, de modo a exercer a su-pervisão sobre os trabalhos das equipes subordinadas, bemcomo a gerência das atividades de apoio, além de servircomo elemento de ligação para o GT-200 – por exemplo, emcoordenação com o Centro de Reparos e Suprimentos Es-peciais do CFN, foi ativado o nível de sustentação, no quetange à manutenção de viaturas e reboques, o que possibi-litou que uma viatura UNIMOG frigorífica, que apresen-tou avaria no dia 31 de março, em Itaipava-RJ, retornasseàquele Centro, de modo a ser reparada e reincorporada àcoluna de marcha no dia 3 de abril.

Elemento Tarefa (ET) Estacionamento, para montaras áreas de pernoite, executar os serviços de transporte debagagem dos militares da UT 200.1, coletar lixo e efetuar otratamento de água potável (o que acabou por não aconte-cer, pois foi adquirida água mineral) e receber aeronavesnos locais de pouso de helicópteros. Destaque para o alu-guel de seis banheiros químicos, adaptados nas carrocerias

A visita doComandante da

Marinha e doComandante-Geral do

Corpo de FuzileirosNavais, nas

proximidades de BeloHorizonte, muito

contribuiu paramanutenção do moralda tropa. As recepções

nas Unidades doExército Brasileiro,

com a presençaentusiasmada dosComandantes e os

dobrados das bandasserviram para manter

a vibração elevada epara o fortalecimento

dos laços entre aMarinha do Brasil e o

Exército Brasileiro.

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Ficaram valiosos ensinamentos para os procedimentosde marcha a pé, incluindo segurança e apoio logístico,

bem como nas áreas de nutrição e treinamento físicoespecíficos para atividades militares de longa duração e

com esforço continuado.

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O forte calor degradava os marchantes, que faziam paradasprogramadas para alimentação e alongamento.

O SO-FN-IF Sebastião Ferreira da Guia Neto fez todo opercurso correndo, mais do que uma maratona a cada dia.

O irrequieto “Duzentos”, cão “vira-lata”, que se posicionou àfrente da tropa, foi recebido com “honras” em Brasília .

No 22º dia a Unidade de Marcha chegou no GptFNB,local em que foi descerrada uma placa em homenagem ao feito.

No dia 21 de abril, a Unidade de Marcha entrou na Praçados Três Poderes como em 1960, para a cerimônia de

aniversário da cidade de Brasília. Foram entreguesmensagens alusivas à marcha ao Governador do DF, JoséRoberto Arruda, e à neta do Ex-Presidente da República

Juscelino Kubitschek, Anna Christina Kubitschek.

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das viaturas TNE UNIMOG e empregados para apoiar atropa, inclusive durante os deslocamentos. A empresa con-tratada manteve um veículo para higienização dos sanitá-rios, executada nos altos para almoço e pernoite. Esses ba-nheiros foram extremamente úteis nos locais de pernoiteque não possuíam instalações sanitárias em quantidadesuficiente para atender ao efetivo total.

ET Intendência, para controle financeiro e orçamen-tário relativos aos gastos para o desempenho das demaisequipes e para serviços de rancho, lavanderia e cantina. Orancho, como já foi mencionado, manteve elevado padrãode confecção das refeições, higiene e limpeza, constante-mente elogiado.

ET Saúde, que, felizmente, foi mais empregada notratamento de casos considerados leves – houve apenasum caso de fratura por estresse e um caso de pneumonia,em que os militares conseguiram se recuperar durante amarcha. Havia, acompanhando a tropa, uma ambulânciaUTI e, no local destinado ao pernoite, um Posto de Socorrocom ambulância operativa. Caso necessário, poderia ha-ver evacuação terrestre ou aérea, dependendo da gravida-de do caso, inicialmente para hospitais próximos.

Nos reconhecimentos foram identificadas as unida-des de saúde que poderiam receber eventuais baixas, demodo que foi previamente estabelecido para onde trans-portar o ferido a partir de qualquer ponto do itinerário demarcha. Entre o 13º e o 20º dia de marcha a distância a umhospital de grande porte era superior a 100 km, de modoque para esse trecho a prioridade seria para evacuaçãoaérea, o que orientou o posicionamento do helicóptero maispróximo do GT.

ET Transporte e Manutenção, para distribuição dasdiversas classes de suprimentos e outras necessidades.Foram realizados reparos em viaturas e equipamentos, demodo a manter os meios em plenas condições de operação.A capacitação profissional dos motoristas e a experiênciaadquirida pela maioria dos condutores envolvidos na mar-cha, em razão dos exercícios realizados anualmente na re-gião de Formosa-GO, contribuíram muito para o bom de-sempenho da função transporte.

ET Abastecimento, para complementar o trabalhoda ET Intendência, sendo que a mobilidade proporcionadapela diversidade de viaturas facilitou o atendimento si-multâneo às demandas do GT-200. Como ensinamentopara outras atividades da FFE, cita-se a divisão, por equi-pes, do material e viaturas para a distribuição, por unida-de, de água e alimentos. Além de facilitar o cumprimentodas tarefas, permite o revezamento dessas equipes, vitalpara exercícios de longa duração.

ET Serviços Gerais, para atuar nas áreas de eletrici-dade, hidráulica, metalurgia, pintura, reparos e pequenasobras nas instalações das instituições e organizações mili-tares que serviram de local para os almoços na estrada epernoite para o GT-200.

As ligações entre o GT-200 e os Comandos da FFE,Divisão Anfíbia (DivAnf) e Tropa de Reforço foram realiza-das com duas Estações Táticas Transportáveis (ETT) do Sis-tema de Comunicações Militares por Satélites (SISCOMIS)e por meio da Internet, acessando o portal da MB. As ETT

do EB e da FAB foram guarnecidas por militares das res-pectivas Forças, que se integraram muito bem ao GT-200.Havia, ainda, equipamentos VHF, para a comunicação nacoluna de marcha, e equipamentos HF para a ligações entrea coluna de marcha e os locais de pernoite e com a DivAnf.Também foram empregados telefones funcionais comomeio alternativo.

Em 18ABR o GT-200 chegou na Área ALFA, no “marcozero”, onde há uma placa alusiva à Operação Alvorada,sendo recebido pelo Comandante do Centro de Instrução eAdestramento de Brasília e por representações da Associ-ação de Veteranos do CFN. Foi realizada uma cerimôniamilitar, que incluiu o descerramento de placa registrandoa Marcha Bicentenário do CFN.

No 22º dia, 19ABR, a Unidade de Marcha chegou noGptFNB, às 12h30, com cerimônia presidida pelo Coman-dante da Marinha e contando com a presença de membrosdo Almirantado, Comandantes das OM locais, autorida-

O cuidado comos pés eraresponsabilidadeindividual,valendo-se deartifíciosespecíficos, emespecial o usopreventivo deesparadrapo paraproteção doslocais propensosa bolhas,pomadas ouvaselina contraassaduras ebolhas, palmilhade silicone e acombinação demeias finas egrossas, motivopara que oscoturnos paralongas marchassejam um ou doisnúmeros acimado tamanhonormal.

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MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN - REVIVENDO A OPERAÇÃO ALVORADA 21

des militares e civis e representação da Associação de Vete-ranos do CFN.

No dia 21ABR, a Unidade de Marcha entrou na Pra-ça dos Três Poderes vibrando, entoando “Soldados da Li-berdade”, como em 1960, para a cerimônia de aniversárioda cidade de Brasília. Foram entregues mensagens alusi-vas à marcha ao Governador do Distrito Federal, pelo Co-mandante do GT-200, VAlte (FN) Paulo César StingelimGuimarães, e à neta do Exmº Sr. Juscelino Kubitschek, Pre-sidente da República na inauguração de Brasília, pelo CMG(FN-Refº) José Miliauskas, integrante da coluna de marchade 1960. A seguir, a tropa desfilou, cantando o tradicional“Viva a Marinha”.

O desafio para executar este empreendimento, de-corrente das preocupações com as distâncias a serem per-corridas, a necessária segurança e o desejável conforto, foivencido graças à determinação de todos participantes, aoprofissionalismo dos militares da UT de Segurança,

nucleada na CiaPol, e com o trabalho incansável da UT deApoio de Serviços, nucleada no BtlLogFuzNav, bem comoao planejamento meticuloso e flexível, que permitiu adap-tações às novas condicionantes que surgiram ao longo damarcha, assegurando uma execução dentro dos padrõesestabelecidos. Ficaram valiosos ensinamentos para os pro-cedimentos de marcha a pé, incluindo segurança e apoiologístico, bem como nas áreas de nutrição e treinamentofísico específicos para atividades militares de longa dura-ção e com esforço continuado.

O GT-200 cumpriu sua missão, contribuindo para acelebração do Bicentenário do CFN e do aniversário deBrasília, o que proporcionou oportunidade para aumen-tar, de forma marcante, a visibilidade da Marinha junto àsociedade e para homenagear os Fuzileiros Navais que, nopassado, construíram o CFN de hoje, em especial os querealizaram a Operação Alvorada.

ADSUMUS!

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CMG (FN) Léo Pereira SantosCC (FN) Marcelo Mendes Mello

CC (FN) Eduardo Saleh Rabello Moreira

ACISO - Coluna de MarchaBicentenário do Corpo

de Fuzileiros NavaisSO-FN Macedo

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ACISO COLUNA DE MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN SO-FN MACEDO 23

Na fase de planejamento das comemoraçõesdo Bicentenário do Corpo de FuzileirosNavais (CFN), foi visualizada a possibili-dade da reedição da Operação Alvorada,fato histórico do CFN que, em 1960, em-

preendeu uma épica marcha a pé por ocasião da inaugu-ração da cidade de Brasília, a nova Capital Federal. Na-quela ocasião, foi entregue, em mãos, ao Presidente daRepública, Juscelino Kubitscheck, uma mensagem pes-soal de fé e esperança do então Ministro da Marinha,Almirante-de-Esquadra Jorge do Paço Mattoso Maia, pelodecisivo marco de determinação, progresso e integraçãona história da nação brasileira.

Essa nova edição da marcha a pé, denominada Co-luna de Marcha Bicentenário do CFN – SO-FN Macedo,teve como coadjuvante uma Ação Cívico-Social (ACISO),cujo título foi o mesmo da Coluna de Marcha, e concreti-zou-se em 31 escolas municipais, situadas no trecho com-preendido entre as cidades de Pedro do Rio-RJ eValparaíso-GO, ao longo da BR-040, no período de 26 demarço a 16 de abril de 2008, acompanhando o itinerárioda marcha a pé.

Em 25 de março de 2008, foram reunidos no Cen-tro de Reparos e Suprimentos Especiais do CFN(CRepSupEspCFN), o nosso conhecido CRESUMAR, 95

militares, para uma Cerimônia de Ativação e início dasatividades da ACISO.

O grupo foi nucleado por militares do BatalhãoNaval, reforçado com companheiros do próprioCRESUMAR e também do Comando do Pessoal de Fuzi-leiros Navais (CPesFN), da Força de Fuzileiros da Esqua-dra, do Comando do Material de Fuzileiros Navais(CMatFN) e do Centro de Instrução e Adestramento deBrasília (CIAB), cujas habilidades em serviços diversospermitiram uma tal sinergia que, mesmo em poucos diasde permanência, executaram uma verdadeira transfor-mação por onde passaram, não só no aspecto visual, mastambém no funcional.

Os componentes da ACISO foram organizados emtrês grupos: Grupo de Apoio, Grupo Alfa e Grupo Bravo. OGrupo de Apoio, responsável pela coordenação e controle,executou tarefas logísticas de pessoal, abastecimento e saú-de, quando não estavam também engajados nas reformas.Os grupos Alfa e Bravo foram constituídos por quatro equi-pes, organizadas para o cumprimento dos reparos e servi-ços previstos, por escola, recebendo ferramental e materialespecífico para cada uma. Esse material foi acondicionadoem uma VtrTNE 5 Ton UNIMOG que permaneceu com suaequipe correspondente até o final da operação. A Equipe deComunicação Social, subordinada diretamente ao Coman-

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do da ACISO, estabeleceu contatos com a imprensa e apoioua divulgação dos eventos, tanto da marcha a pé quanto daprópria ACISO.

A escolha das escolas ficou sob a responsabilida-de das secretarias de Educação de cada município visi-tado que, quando procuradas antecipadamente, aindana fase de reconhecimento, foram orientadas a apontaraquelas que, localizadas em áreas próximas à rodoviapor onde passaria a Coluna de Marcha, estivessem emsituação de precariedade, de acordo com a capacidadede atuação das equipes.

A divulgação das atividades na imprensa,desencadeada pela Equipe de Comunicação Social, foi im-prescindível para o sucesso da ACISO. Ocorreram vári-as entrevistas nas rádios, jornais e telejornais locais,além de divulgação em periódicos via internet. Foi pos-sível produzir grande acervo de fotografia e do materialde imprensa, disponibilizado pelas emissoras que, em

tempo quase real, eram encaminhados ao Comando-Ge-ral do CFN e ao Centro de Comunicação Social da Mari-nha, permitindo o acompanhamento atualizado por par-te dos comandos envolvidos, parentes dos militares e dopúblico em geral.

As ações previstas foram concluídas conformeplanejamento, realizado em quatro fases. À frente do des-locamento da Coluna de Marcha, atuando como tropaprecursora e criando nas populações um sentimento dereconhecimento e de curiosidade por aqueles soldados-marinheiros que, com tamanha dedicação evoluntariedade, contribuíam não só no esforço de aper-feiçoar as condições de estudo e de lazer das escolas con-templadas, como também para a melhoria nahabitabilidade e no conforto de alguns locais de pernoi-te dos integrantes da Coluna de Marcha.

Na primeira fase, foram assentados os procedi-mentos, alteradas algumas funções e reposicionados al-

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ACISO COLUNA DE MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN SO-FN MACEDO 25

Sempre, ao final do período de permanência das equipes, eramrealizadas as cerimônias de encerramento, que contavam coma presença maciça de autoridades locais, diretores, professores

e alunos, além de parentes destes e do público em geral .guns militares e materiais, em função das avaliações re-alizadas pelo Grupo de Apoio. Nesse trecho, houve in-tensa divulgação nos meios de comunicação locais, tan-to nos jornais quanto nas emissoras de televisão regio-nais. Para esse fato, concorreu a primeira apresentaçãoda Banda Sinfônica do CFN, em Minas Gerais. O eventoocorreu no dia 3 de abril, no Cine Theatro Central, emJuiz de Fora-MG, cidade onde ficaram centralizadas asações da Equipe de Comunicação Social.

Por ocasião da segunda fase, as equipes já haviamatingido excelente capacidade de trabalho e totalintegração. Percebeu-se que algumas escolas, apesar deindicadas pelas secretarias de Educação, já haviam sidoaquinhoadas com licitações de reparos, que englobavamvárias das atividades previstas, forçando umremanejamento do material a elas destinado,priorizando-se e incluindo outras que apresentavam

maior necessidade. A divulgação na mídia foi igualmen-te intensa, também valorizada pela apresentação daBanda Sinfônica no dia 4 de abril, em noite memorávelno Teatro do SESC, em Belo Horizonte-MG.

Na terceira fase, em função do afastamento dosgrandes centros e a consequente escassez de recursos,foi percebida uma diminuição na resposta da mídia lo-cal; contudo, o moral da tropa e o ritmo dos melhora-mentos não esmoreceram, apesar da grande distânciaque ainda os separava do fim da missão. Alguns revesesaconteceram, porém sem maiores danos ao moral da tro-pa. Três militares tiveram suspeita de dengue quandoatuavam na localidade de Luizlândia do Oeste-MG. Fo-ram medicados e logo estavam de volta às suas equipes,uma vez que não foi confirmada a doença.

Em cada uma das escolas foram proferidas pa-lestras sobre as atividades que seriam desencadeadas,

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sobre a razão da presença da tropa, além de divulgaçãode folders, de DVDs e de periódicos navais. Vários alunosquestionavam como ingressar na Marinha do Brasil,demonstrando forte interesse pela carreira militar na-val. Foram distribuídos ainda livros didáticos doadospor militares, um exemplar por escola do livro FuzileirosNavais — Combatentes Anfíbios do Brasil e um CD da BandaSinfônica do CFN, com hinos militares, contribuindopara os eventos cívicos das escolas visitadas.

Sempre, ao final do período de permanência dasequipes, eram realizadas as cerimônias de encerramen-to, que contavam com a presença maciça de autoridadeslocais, diretores, professores e alunos, além de parentesdestes e do público em geral. Durante esses eventos, eta-

pa cívica da operação, eram ofertadas pelos combaten-tes anfíbios da Marinha do Brasil uma bandeira do Esta-do e uma do Brasil; os diversos diretores proferiam dis-cursos, com reiterados pedidos de permanência de nos-sas equipes ou mesmo de reedição da atividade.

Os componentes da ACISO puderam observarde perto a carência e a dificuldade de manutenção dasescolas listadas, fator que gerou inclusive um com-prometimento tal dos militares que, em algumas oca-siões, ajudaram financeiramente para o complementoda merenda oferecida diariamente aos alunos. Episó-dios como esse ocasionaram enorme senso de grati-dão dos diretores, professores e alunos. Mais uma vez,a ACISO mostrou-se eficiente ferramenta de identifi-

O critério de escolha das escolas ficou sob aresponsabilidade das secretarias de Educação decada município visitado.

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ACISO COLUNA DE MARCHA BICENTENÁRIO DO CFN SO-FN MACEDO 27

cação e de atendimento das necessidades imediatasda população local, facilitando os entendimentos, mo-tivando e atuando como efeito multiplicador do mo-ral da tropa, acarretando ganhos para ambos e divul-gando as atividades do CFN e da MB.

Na quarta e última fase da operação, durante operíodo de permanência da tropa no CIAB, foi organiza-do um passeio ao Plano Piloto de Brasília-DF e um chur-rasco de confraternização, coroando a missão em quetodos os propósitos estabelecidos foram suplantados.

Para o encerramento da Operação e celebração dosucesso obtido, foi realizada, em 21 de maio, uma ceri-mônia militar no CRepSupEspCFN, oportunidade em quetodo o grupo novamente se reuniu. Na ocasião, houve aentrega de uma singela lembrança aos participantes eum DVD, contendo registros fotográficos dos própriosmilitares e as principais filmagens apresentadas emtelejornais locais. Foi realizada também a leitura do Re-conhecimento Institucional, formulado pelo Comandantedo Material de Fuzileiros Navais, cujo extrato abaixoresume a importância e a magnitude do feito:

Foram abundantes os relatos dos diretores, pro-fessores, secretários de Educação e principalmente dascrianças, exaltando a esplêndida doação de nossos Fuzi-leiros Navais, ressaltando o empenho das equipes, tra-

balhando diuturnamente, sacrificando horários de re-feição e descanso, na tentativa de interromperem mini-mamente a rotina das aulas e outras atividades escola-res, participando inclusive como elementos instrucionais,contribuindo para divulgação do Corpo de FuzileirosNavais e da Marinha do Brasil.

Mais importante do que as reformas realizadasnas escolas, foram os exemplos de civismo, amor à Pá-tria e de atitude militar, influenciando assim as socieda-des locais, participando decisivamente no desenvolvi-mento cívico das crianças daquelas escolas. As referên-cias elogiosas veiculadas nos meios de comunicação fo-ram a resposta positiva do valor do empreendimentorealizado.

Por tantas razões anteriormente mencionadas,deixo registrado o reconhecimento institucional aos mi-litares participantes da ACISO Bicentenário do CFN eaos seus comandos, por visualizarem que, a despeito daausência desses companheiros, que certamente exercemfunções de relevância em suas respectivas OM, contri-buindo assim para o sucesso da missão. O afastamentode 26 dias de seus familiares e do conforto de seus larestambém deve ser considerado como mais uma demons-tração de amor ao próximo, ao nosso Corpo de Fuzilei-ros Navais e à Marinha do Brasil.

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A CONQUISTA DOPICO DA NEBLINA

CF (FN) José Guilherme Lima Gonçalves

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A CONQUISTA DO PICO DA NEBLINA 29

E m sua singular trajetória, o

Corpo de Fuzileiros Navais

teve sua história sempre

marcada pela incansável

vontade de enfrentar dificuldades e superar

desafios. O contínuo esforço de gerações, desde

os soldados-marinheiros mais modernos aos

comandantes-gerais, que jamais arredaram de

sua tenaz perseverança na determinação de

realizar suas aspirações, construiu este valoroso

legado que temos a obrigação de manter

imaculado, com a mesma motivação e

tenacidade de nossos antecessores e um

inquebrantável espírito de corpo, com contínua

dedicação ao Brasil.

No relato que será apresentado, teremos

oportunidade de verificar que permanecem

inalteradas nossas características ímpares:

espírito de corpo, amor à Pátria e compromisso

com nossos anseios.

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A CONQUISTA DO PICO DA NEBLINA 31

O percurso inicial foi feito por via fluvial atravésdo Rio Cauaburi. Esse trecho foi realizado emEmbarcações de Transporte de Tropa, durante trêshoras e meia de viagem.

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R evestida de pioneirismo noâmbito da Marinha do Bra-

sil, idealizada pelo Batalhão de Operações Especiais deFuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav) – Batalhão Tonelero,apresentada como projeto ao Comando da Força de Fuzi-leiros da Esquadra (ComFFE) e incluída pelo Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN) nas come-morações do Bicentenário do CFN, a Operação Pico daNeblina foi realizada no período de 2 a 14 de julho de2008, na Região Amazônica.

O presente artigo procura retratar algumas emo-ções vivenciadas e relatar as experiências obtidas duran-te a preparação e a execução da empolgante e desafiadoraOperação Pico da Neblina.

A GEOGRAFIA DA REGIÃOCom 3.014m de altitude, o Pico da Neblina é o pon-

to culminante do Brasil. Localiza-se no norte do Amazo-nas (Cabeça do Cachorro), a 800km de Manaus, no Distri-to de Maturacá, município de São Gabriel da Cachoeira,interior do Parque Nacional do Pico da Neblina, próximoda fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela.

A região é povoada basicamente pelo 5º Pelotão Es-pecial de Fronteira de Maturacá (5º PEF), pelos índiosianomâmis e tucanos e por uma missão religiosa salesiana.

O acesso ao pico é bastante difícil e desgastante,exigindo um planejamento detalhado para a obtenção doêxito na empreitada.

Nessa região, localizada próxima à Linha do Equa-dor, não existe estação seca, em função do clima equatori-al. Dessa forma, a chuva foi uma presença frequente parao destacamento da FFE. Esse clima equatorial modifica-seaté se transformar em tropical de altitude. O período doano com maior índice pluviométrico ocorre entre agosto enovembro, dado fundamental para a escolha do períododa operação, visando a minimizar os efeitos das condi-ções meteorológicas sobre a tropa em deslocamento.

A diversidade vegetal é peculiar, pois se encontramFloresta Equatorial de grande porte e fechada até os 1.000mde altitude, árvores de médio e pequeno porte dos 1.000maté os 1.700m e vegetação rasteira, a partir de 1.800m. Hátambém trechos alagados e pantanosos, charcos e lama-çais onde facilmente se avistam orquídeas, bromélias egravatás, principalmente no “ataque final” à elevação,planejado para ocorrer no quarto dia da operação.

A topografia é composta por morros, serras, cur-sos d’água e cachoeiras. Existem algumas serras com for-mação de granito e muita variedade de rochas e de miné-rios. Em geral, a paisagem é ondulada com algumas de-pressões. A área apresenta aclives suaves até o início do

pronunciamento do maciço. A partir dos 1.500m de alti-tude, o terreno apresenta acentuado aclive.

A PREPARAÇÃOA operação foi precedida por uma minuciosa pes-

quisa com o intuito de apoiar o planejamento, na qual seprocurou obter descrições de experiências anteriores,vivenciadas por outros destacamentos e efetivos, com-postos por militares e civis. Nessa pesquisa, foram obti-dos relatórios, fotografias e filmagens que descreviamas dificuldades encontradas para galgar o Pico da Nebli-na, as desistências, os problemas de saúde e as necessi-dades de Evacuação Aeromédica (EVAM). Aproveitaram-se os ensinamentos colhidos, adaptando-os às nossas pe-culiaridades, visto que se pretendia realizar o feito comum efetivo acima do que se encontrava nos relatos obti-dos. Outras informações importantes estavam relacio-nadas com o material e com os equipamentos utilizadosna atividade, pois exigiam uma criteriosa seleção paradiminuir o desgaste do pessoal com o transporte de pesoexcessivo.

Como resultado dessa pesquisa, o efetivo conseguiuter noção das adversidades que seriam enfrentadas, do es-forço físico envolvido no deslocamento através da selva, comsocavões, cursos d’água e vegetação, de composição varian-do da floresta primária à secundária. Também ficou eviden-ciada a necessidade de alguns conhecimentos demontanhismo para superar os obstáculos, em sua maioriade nível de dificuldade um e dois, considerados fáceis paratranspor, de acordo com avaliação de especialistas.

Nas pesquisas, todos os planejamentos consulta-dos consideravam que seriam necessários três dias paraatingir a base do objetivo e, no quarto dia, o mais extenu-ante, alcançar o ponto culminante do território nacional.Esse foi o roteiro adotado.

O reconhecimento foi realizado com duas semanasde antecedência, no período de 16 a 20 de junho, pararatificar as informações obtidas e realizar as coordena-ções finais com as unidades envolvidas no apoio ao even-to, incluindo coordenações com o Com9oDN, com a ForçaAérea Brasileira (FAB), com o Exército Brasileiro (EB), coma Funai e com o Ibama.

Para as coordenações necessárias, o Destacamentode Reconhecimento deslocou-se para Manaus e São Gabrielda Cachoeira, onde foi mantido contato com o Comando da2ª Brigada de Infantaria de Selva e com o Comando do 5ºBatalhão de Infantaria de Selva (5º BIS). Este franqueou todoauxílio necessário para o evento, principalmente no que di-zia respeito ao 5º PEF, principal envolvido no apoio ao efeti-vo, em especial na execução da operação.

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A CONQUISTA DO PICO DA NEBLINA 33

O destacamento prosseguiu a pé atravésde selva, montanhas e pântanos, durantetrês dias até alcançar o acampamento basede Garimpo, a 2.200m de altitude.

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A partir de São Gabriel da Cachoeira, esse desta-camento seguiu por aeronave C-105/Amazonas da FABpara o Distrito de Maturacá, onde está localizado o 5º PEF,subordinado ao 5º BIS. Na aproximação para pouso, tive-ram a primeira visão da cadeia de montanhas e do desa-fio que os aguardava.

No 5º PEF, foram recebidos pelo Comandante doPelotão, Primeiro-Tenente de Infantaria Guilherme BotrelCarvalho, que disponibilizou todo o apoio necessário parao reconhecimento, a preparação e a execução da operação.

Após o reconhecimento, foi elaborada uma minucio-sa apresentação para todos os que comporiam o destaca-mento, servindo de referência e de orientação durante a pre-paração do pessoal e do material para o cumprimento damissão. Foram apresentadas imagens (fotos e filmes) paraesclarecimento das dificuldades que se apresentariam nopercurso, bem como para orientação da seleção dos itensimprescindíveis na preparação do material individual.

Dessa forma, definiu-se qual seria a programaçãopara a equipe e os passos seguintes que precederiam àexecução da operação, ligados à composição do destaca-mento, à programação, à segurança, à cadeia de evacua-ção, às comunicações e aos aspectos ligados à logística.

SEGURANÇAA preocupação com a cadeia de evacuação ficou re-

fletida em alguns aspectos meticulosamente observadosdurante a concepção do planejamento.

A fim de planejar o processo de evacuação paratratamento de baixas, foram considerados três fatores re-levantes:

1. Em Manaus, existia uma aeronave do 7º Esqua-drão de Transporte Aéreo (7º ETA), da FAB, que perma-necia de sobreaviso durante todo o período da expedi-ção. Assim, foi estabelecido o contato oficial entre o des-tacamento de reconhecimento da operação e o esqua-drão para que tal apoio fosse realizado nas melhorescondições, ressaltando o fato de aquele esquadrão pos-suir aeronave UTI.

2. Em Maturacá, no 5º PEF, durante todo o período daexpedição, permaneceu à disposição do DstFFE uma aerona-ve Esquilo, do 3º Esquadrão de Helicópteros de EmpregoGeral (HU-3), configurada para esse fim e mobiliada comequipamento de comunicação por satélite do tipo Iridium.

3. Nas localidades próximas da região de desloca-mento da expedição, existiam estruturas que poderiamprestar apoio de saúde, tais como o Posto de Saúde do 5ºPEF, em Maturacá, onde estava lotado um médico e, emSão Gabriel da Cachoeira-AM, o Hospital da Guarniçãodo Exército, que possuía UTI.

Logo, durante o deslocamento fluvial, de Maturacáaté o Ponto Tucano (PtT), qualquer problema apresentado

O destacamento teve como destino final, noprimeiro dia, o ponto Cachoeira a 134m de altitude.O tempo de deslocamento foi de cerca de seis horas.

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por componentes da expedição, que necessitasse de trata-mento mais complexo, seria diagnosticado e, conforme ocaso, transportado, por meio fluvial de volta a Maturacá,onde, após avaliação médica, poderia ocorrer EVAM paraSão Gabriel da Cachoeira-AM.

No hospital de São Gabriel, após triagem, o pacien-te poderia ser removido para o Ambulatório Naval, emManaus, onde, de acordo com o procedimento previamen-te coordenado pelo Destacamento de Reconhecimento daOperação, uma viatura ambulância daquele ambulató-rio estaria aguardando a chegada do indivíduo baixado.

Em Manaus, o Encarregado do Ambulatório Naval,responsável pelo recebimento da baixa, indicaria, medianteprévio contato, o centro de tratamento adequado para con-duzir esse procedimento: Hospital do EB, Hospital da FABou Hospital João Lúcio. Para isso, durante o transporte domilitar até Manaus, período aproximadamente de 1h30min,seria estabelecido contato com aquele encarregado.

A partir do início do deslocamento a pé, qualquerproblema apresentado pelos integrantes da expedição,cuja gravidade exigisse evacuação, seria solucionado pormeio do apoio de aeronave, do ponto de retirada do bai-xado diretamente para São Gabriel da Cachoeira, onde,

além das melhores possibilidades de atendimento, as con-dições meteorológicas normalmente são mais favoráveisao emprego de aeronave.

COMUNICAÇÕESComo meios de comunicações, foram utilizados a

telefonia satélite e o rádio Terra-Avião. Os contatos com oComFFE ocorreram diariamente ao final dos deslocamen-tos. Os telefones úteis foram relacionados em lista telefô-nica portada pelos componentes do destacamento.

Rede Terra-Avião: os sobrevoos de segurança doHe da MB foram planejados para ocorrer quando aciona-dos e no final de cada jornada. No entanto, as condiçõesmeteorológicas, extremamente instáveis na região no pe-ríodo da operação, dificultaram esse sobrevoo que tam-bém poderia ser cancelado por ordem do CmtFFE, por viatelefônica. Essa rede foi planejada também para ser em-pregada nas EVAM, caso fosse necessário.

Emprego de lanternas, strobos, fumígenos epirotécnicos: os militares portavam os itens para eventu-ais necessidades. Em caso de perda de contato, eles deve-riam empregar amplamente os referidos meios visandoao reencontro. Fumígenos e pirotécnicos poderiam ser usa-

O acampamento de Garimpo serviu de pernoite noterceiro dia. No local existia um antigo garimpo deouro, e seus cursos d’água supriam as necessidadesde água potável do destacamento.

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dos para indicar posicionamentos para aeronaves.Orientações gerais: foram distribuídas a todos os

componentes para orientar a conduta nas situaçõesemergenciais visualizadas. Em função de relatos anterio-res no caso de encontros fortuitos com elementos que pu-dessem oferecer risco ao destacamento, foram dissemina-das orientações quanto à conduta a ser adotada para rea-ção a ato hostil, bem como quanto ao trato com indígenas,que deveria ser amistoso, só ocorrendo qualquer filmagemou fotografia com autorização.

LOGÍSTICA1. Classe IRação: cada militar e cada guia receberam oito rações.Água: cada militar esteve equipado com um

Camelbak, com a capacidade para três litros de água. Oressuprimento ocorria mediante ordem, sendo obrigató-rio o uso do purificante Clorin, conduzido por todos, bemcomo pacotes com isotônicos e repositórios eletrolíticos.

Alimentação complementar: priorizava carboidratos e, nes-se sentido, foi orientado o uso de massas instantâneas. Foramprovidenciados gêneros para atender ao consumo durante apassagem pelo 5º PEF, os quais foram fornecidos pelo Bata-lhão de Operações Ribeirinhas. Para facilitar o preparo dos

alimentos, foram adquiridos fogareiros individuais a gás.2. Classe IIOs militares utilizaram o equipamento individual

previsto e a mochila com armação metálica doBtlOpEspFuzNav, recomendando-se quanto à necessida-de de roupas para clima frio.

3. Classe IIIOs militares do BtlOpEspFuzNav portaram arma-

mentos para proteção individual, totalizando 4 fuzis M-16Colt Comando, 10 Sub-Mtr HK-MP5-KA-4 e 2 pistolas 9mm, municiadas com 2 carregadores por arma. Conduzi-ram também 20 unidades de sinalizadores do tipo EstrelaColorida e 10 granadas de mão fumígenas.

4. Classe IVLanternas do tipo Maglite;Duas unidades de Cyalume por membro da expedi-

ção, incluídos os guias;Uma motosserra: item que foi fundamental na re-

moção de uma árvore de grande porte encontrada noprimeiro dia da fase da execução da operação, no cursodo Rio Cauaburi;

Um bauldrier e um mosquetão de segurança, pormembro da expedição, para o emprego nos obstáculos demaior dificuldade, previstos para o ataque final ao pico,

A operação foi precedida poruma pesquisa de apoio aoplanejamento, obtendo-sedescrições de experiênciasanteriores, vivenciadas pormilitares e civis. Foramselecionados relatórios,fotografias e filmagens quedescreviam as dificuldadesencontradas para galgar o pico,as desistências, os problemas desaúde e as necessidades deevacuação aeromédica.

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A CONQUISTA DO PICO DA NEBLINA 37

quando alguns conhecimentos básicos de montanhismose fizeram necessários;

Um cabo com nós de frade (fradeado) para realiza-ção do lepar (rapel ao contrário), principalmente nos lu-gares onde os cabos posicionados por expedições anterio-res ofereciam riscos à segurança, necessitando substitui-ção por conta de seu desgaste pela exposição ao tempo;

Quatorze barracas, do tipo iglu, utilizadas em funçãoda escassez de árvores para montagem da rede de selva; e

Embarcações e Motores: três embarcações do tipoEmbarcações de Transporte de Tropa (ETT), duas cedidaspelo 5º PEF, com maior capacidade de transporte (até 20militares) e uma do BtlOpRib; seis motores de popa de40HP; coletes salva-vidas e material de salvatagem.

EXECUÇÃO DA OPERAÇÃOA expedição militar ao ponto culminante do terri-

tório nacional, composta por 24 militares do ComFFE, doBtlOpEspFuzNav e do Batalhão de Operações Ribeirinhas(BtlOpRib), foi comandada pelo Vice-Almirante (FN) PauloCésar Stingelim Guimarães, Comandante da FFE, e inte-grada pelos CF (FN) Ivan Rocha Damasceno Filho, Co-mandante do BtlOpRib, CF (FN) José Guilherme Lima Gon-çalves, Comandante do BtlOpEspFuzNav e, marcando apresença feminina nessa operação, a 1ºTen (Md) VivianScofano Boueri, médica da Base de Fuzileiros Navais doRio Meriti. Participaram também dois guias militares do

5º PEF, de origem indígena, da tribo ianomâmi, os quaisauxiliaram na orientação e navegação durante a opera-ção. A conquista do pico ocorreu no dia 7 de julho.

A jornada iniciou-se com deslocamento aéreo, apoi-ado pela FAB, às 19h de 2 de julho, na Base Aérea dosAfonsos, no Rio de Janeiro.

A chegada em Manaus ocorreu à 1h de 3 de julho.Após isso, o DstFFE instalou-se no BtlOpRib. Na ma-nhã desse dia, realizou-se atividade de aclimatação comprática de Treinamento Físico Militar (TFM), na regiãodo BtlOpRib, bem como as coordenações finais com oEsqHU-3, particularmente no que dizia respeito às co-municações por satélite (utilização do equipamentoIridium), Terra-Avião e à utilização do helicóptero paraEVAM, desde a saída do 5º PEF, no dia 4 de julho, de-mandando o Pico da Neblina, até o retorno àquele pelo-tão, no dia 9 de julho.

Terminada a aclimatação, o DstFFE deslocou-se, pormeio aéreo, da FAB (aeronave C-105/Amazonas), em 3 dejulho, a partir das 11h, para a cidade de Maturacá, comchegada ao 5º PEF às 13h. Durante a permanência no lo-cal, foram realizados todos os ajustes finais para a reali-zação da empreitada, particularmente quanto à seleçãofinal dos itens logísticos, bem como à coordenação com osguias e com o pessoal de apoio.

A Operação Pico da Neblina teve como ponto inici-al o 5º PEF, em Maturacá, localidade fronteiriça com a

Não existem grandes dificuldades técnicas nos trechos de escalada. A subidaao topo do Pico da Neblina é árdua em função da lama, do tipo de vegetaçãoe da umidade, que tornam os paredões de pedra escorregadios.

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O ponto mais alto do Brasil foi alcançado às 17h do dia 7 de julhode 2008. Foi uma grande emoção para o destacamento chegar aesse ponto, vencendo todos os desafios impostos pela natureza.

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A CONQUISTA DO PICO DA NEBLINA 39

Venezuela, de onde se demandou o Rio Cauaburi. O per-curso foi realizado no início da manhã de 4 de julho, porvia fluvial, quando o DstFFE deixou a área do PEF comdestino ao início da trilha terrestre no ponto denominadode PtT, 00º 37’ 02.5"N – 065º 55’ 33.9"W, ainda ao nível domar, pelo Canal de Maturacá e em seguida pelo referidorio, em direção à sua nascente. Esse trecho foi realizadoem ETT, durante três horas e meia de viagem.

A partir do PtT (início da trilha terrestre), o desta-camento prosseguiu a pé através de selva, montanhas epântanos, durante três dias, com jornadas de mais dedez horas de deslocamentos diários, até alcançar o acam-pamento base de Garimpo, a 2.200m de altitude, arma-do e equipado com mochila de combate individual, pe-sando em média 25kg, e uma mochila de primeiros so-corros, revezada entre os componentes da coluna de mar-cha. Tiveram, nesse primeiro dia como destino final oPonto Cachoeira (PtC), 00º 37’ 02.4"N – 065º 55’ 34.0"W, a134m de altitude. O tempo de deslocamento entre o PtT eo PtC foi de cerca de seis horas. Durante o trajeto, foramrealizados alto-horários de quinze minutos, em locaisprioritariamente com pontos de coleta de água. O acam-pamento no PtC possuía pequenas estruturas de madei-ra, concluídas pelos guias em expedições anteriores, compoucas árvores para montagem de redes. Nosso pessoalutilizou barracas do tipo iglu.

Na manhã de 5 de julho, o DstFFE deslocou-se, emterreno de selva, do PtC até o Ponto Bebedouro Novo (PtB),00º 44’ 53.0"N – 065º 58’ 21.2"W, que se encontra a 850m dealtitude. O tempo de deslocamento foi de cerca de oito horas.Nesse trajeto, foram realizados alto-horários de quinze mi-nutos a cada hora de caminhada. A observação quanto à

provável presença de garimpeiros no PtB foi justificada, pois,realmente, houve contato com alguns deles nesse ponto, as-sim como ao longo do percurso, principalmente nos abrigosexistentes e nos locais onde se pernoitou. A área desse se-gundo pernoite situava-se entre duas elevações, com umapequena clareira no meio da trilha. O acampamento guar-dava similaridade com o do PtC, com pequenas estruturasde madeira e local restrito para montagem de redes.

No início da manhã de 6 de julho, a equipe deixou oPtB com destino ao PtG, 00º 46’ 34.5"N – 066º 00’ 57.3"W, quepossui altitude de 2.100m. Percorreu aproximadamente 7km, em cerca de oito horas, em mais um dia de caminhadasextenuantes, em meio a longos socavões, em função da gran-de variação de altitude encontrada nesse dia, com trechosde lama pelos joelhos, calor e a umidade constantes da flo-resta. No final do terceiro dia, foram presenteados com achegada à base da montanha, de onde foi possível visualizaro objetivo, em meio à intensa neblina que o rodeava.

O local de acampamento desse terceiro dia foi o PtG,clareira cortada por dois pequenos cursos d’água, que aten-deram às necessidades de água potável e higiene, em umantigo garimpo de ouro existente no local.

No quarto dia, manhã de 7 de julho, após uma noite dedescanso, o DstFFE iniciou o ataque final demandando o Picoda Neblina, 00º 47’ 59.8"N – 066º 00’ 27.0"W. Em razão dadificuldade do terreno, a equipe subiu com o material mínimoavaliado como necessário para segurança. O restante destefoi deixado no PtG com dois militares. Nesse ponto da expedi-ção, já apelidado de “bebê de Rosemary”, foram conduzidosos armamentos individuais, água, equipamento de comuni-cações, material de escalada e bornal com material de saúde,além de outros itens imprescindíveis.

O retraimento ocorreu por helicóptero a partir da base de Garimpo. O Local de Pouso de Helicópterosfoi construído pelo próprio destacamento e balizado com pedras de garimpo de aluvião.

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VA (FN) Paulo Cesar Stingelim Guimarães (ComFFE)CF (FN) Ivan da Rocha Damasceno Filho (BtlOpRib)CF (FN) José Guilherme Lima Gonçalves (BtlOpEspFuzNav)CF (FN) Paulo Sergio C. B. Tinoco Guimarães (ComFFE)CC (FN) Rafael de Oliveira Carvalho (BtlOpEspFuzNav)CT (FN) Marco Antônio Prudêncio Gomes (ComFFE)CT (FN) Ricardo P. de Bragança Neto Araújo (BtlOpEspFuzNav)CT (FN) Luiz Felipe de Almeida Rodrigues (BtlOpEspFuzNav)CT (FN) Cleber Pereira Marinho (BtlOpEspFuzNav)1ºTen (Md) Vivian Scofano Boueri (BFNRM)1ºSG - FN -EF Neitson Carlos Santos (BtlOpEspFuzNav)1ºSG - FN -IF Amarildo Tognere Moreira (ComFFE)1ºSG - FN -IF Marcelo C. Ridolf de Albuquerque (ComFFE)2º SG - FN -MO Alexandre da C. San Martins (BtlOpEspFuzNav)2º SG - FN -IF José Henrique da Silva Azeredo (BtlOpEspFuzNav)2º SG - FN -IF Sérgio Aragão Carrasco (BtlOpEspFuzNav)2º SG - FN -IF Eder Gama Rodger (BtlOpEspFuzNav)2º SG - FN -IF Claudio José Santos Pereira (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Antonio Carlos dos Santos Melo (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Sandoval de Souza Cruz (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Arilson José O. da Conceição (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Sebastião D. Guimarães Filho (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Abraão Farias dos Santos (BtlOpEspFuzNav)3º SG - FN -IF Jonas de Oliveira Machado (BtlOpEspFuzNav)

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Foi necessário começar cedo o ataque final à monta-nha, pois havia a possibilidade de mudança das condiçõesmeteorológicas, impedindo qualquer tentativa de subida.

Embora não existam grandes dificuldades técnicasnos trechos de escalada, a subida ao topo do Brasil é bas-tante árdua em função da lama no início do percurso, dotipo de vegetação e da umidade, que tornam os paredões depedra extremamente escorregadios.

O tempo planejado de quatro horas e trinta minutosnão foi suficiente para atingir o objetivo e, em função dedificuldades acima das previstas, esse prazo foi alongado,tornando mais evidente o inquebrantável espírito de cor-po, a motivação e a determinação as quais nunca afasta-ram os participantes dessa empreitada da firme convicçãode que alcançariam o objetivo. Foram necessárias cerca denove horas de deslocamento até se avistar a Bandeira doBrasil, posicionada no alto da montanha, que marca o pon-to culminante do território nacional, a 3.014m de altitude.

Atingiram o ponto mais alto do país às 17h do dia 7de julho de 2008. Foi sem dúvida uma grande emoção che-gar a esse ponto depois de vencer todos os desafios impos-tos pela natureza.

Após a chegada ao pico, viveram momentos de for-te emoção, e o feito foi intensamente comemorado. No lo-cal, onde se encontra hasteado o Pavilhão Nacional, oDstFFE registrou sua passagem em um caderno perten-cente ao grupo de expedições brasileiras e desfraldou notope da montanha os estandartes da Marinha do Brasil,do Comando de Operações Navais e do Corpo de Fuzilei-ros Navais. Foi realizada a coleta de material para rela-ções públicas (fotos oficiais e filmagens) e, após cerca de30 minutos de permanência no local, em virtude do limi-tado tempo com luminosidade na região, o DstFFE ini-ciou, às 17h30min, a descida do Pico da Neblina deman-dando o acampamento de Garimpo.

Sabia-se da exiguidade de tempo com luz e dos riscosenvolvidos na descida noturna. Pernoitar nas alturas doNeblina era uma decisão delicada em função do conheci-mento dos rigores das baixas temperaturas da montanha,situação que trazia apreensão aos componentes da equipe.Assim, durante o regresso para Garimpo, eles começaram aidentificar possíveis abrigos para pernoite. Entre os lugaresmenos hostis, optaram por duas cavernas.

O pernoite nesses locais, com a utilização dos pavi-lhões como cobertores para minorar o frio, fortaleceu entreos componentes do destacamento um espírito positivo deamizade e de companheirismo refletido em muitos mo-mentos do percurso, identificado principalmente na ob-servação e no conhecimento das limitações e das dificulda-des individuais, oportunidades em que o auxílio e o incen-tivo de cada companheiro sempre estiveram presentes. Foiuma longa noite que os forjaram nas alturas do pico. Apósaquelas horas memoráveis, reiniciaram às 6h o desloca-mento rumo a Garimpo. As apreensões vividas na abor-dagem final ao Pico da Neblina, a força da união e o espíritode equipe, que proporcionaram o êxito da missão, não seapagarão de suas memórias.

O retraimento para o 5º PEF ocorreu por helicópteropertencente ao HU-3, do 9º Distrito Naval, a partir da base

de Garimpo. O Local de Pouso de Helicópteros (LPH) foiconstruído e balizado pelo próprio destacamento da FFEcom pedras de garimpo de aluvião. O pouso no local eradificultado pela instabilidade meteorológica, que restrin-gia frequentemente as condições de visibilidade, pela ca-deia de montanhas em torno de Garimpo e pela altitude,em torno de 2.000m, que limitavam as condições demanobrabilidade da aeronave.

Nessa manobra de aproximação, pouso, embar-que e decolagem foi de fundamental importância o em-prego da comunicação Terra-Avião e de uma equipe deorientação para informar aos pilotos sobre as melhorescondições de aproximação para pouso. A perícia, a cora-gem e o arrojo dos pilotos, conciliados com a confiançamútua existente no trabalho da equipe de terra, foramfundamentais para o êxito das ações. Ocorreram novelingadas para retirar o efetivo de volta para Maturacá,de onde ocorreu o retorno para Manaus por aeronave C-105/Amazonas da FAB.

Nessa empreitada, pioneira no âmbito da Marinhado Brasil, foi demonstrada a capacidade da atuação dosFuzileiros Navais em variados ambientes operacionais donosso país.

O embarque de Maturacá para Manaus ocorreu às17h30mim de 11 de julho e a chegada, às 19h. A partir dessemomento, iniciaram-se os procedimentos administrativosde manutenção e de devolução do material emprestadopelo BtlOpRib.

O deslocamento dos componentes do destacamentode Manaus para o Rio de Janeiro ocorreu em 14 de julho, emaeronave C-130/Hércules da FAB.

CONSIDERAÇÕES FINAISAlgumas palavras do CT(FN) Bragança que, em

boa parte do percurso esteve na ponta da coluna, sinte-tizam a emoção em participar da missão de galgar oNeblina:

“Na ponta da coluna em só uma coisa pensava:ver o Neblina pela primeira vez. Num dado instante,surgindo distante entre as árvores, lá estava a imponen-te montanha! Naquele momento a certeza da conquistapermeou as mentes de cada um de nós! Foi um grandemomento, comparável ao da conquista propriamentedita.”

A composição do efetivo que esteve no Pico da Ne-blina foi constituída por militares Comandos Anfíbios, fatoque contribuiu para o êxito da missão, diante da diversida-de e da adversidade das condições climáticas e do relevoencontrados. O CT(FN) Luiz Felipe, participante da Ope-ração, definiu assim a missão:

“Sem perceber qualquer atitude que transparecessealguma dúvida de que cumpriríamos a missão, observei,orgulhoso, os Comandos Anfíbios de diversas gerações que,sem exitar, lançavam mão de seus ‘ensinamentos de cur-so’, único indício dos diferentes turnos e gerações, e prosse-guiam na certeza da conquista do teto do nosso Brasil ama-do. As dificuldades nos ensinaram e fortaleceram.”

Foi a determinação, a confiança e a crença no quefazer que possibilitaram esse grande feito.

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SIMPÓSIO

CFN BICENTENÁRIO

OS RUMOS PARA 2020CMG (FN) Carlos Chagas Vianna BragaCMG (FN-RM1) José Roberto Alves FernandezCF (FN) Marcelo Ribeiro de FigueiredoCF (FN) José Firmeza Simões dos ReisCF (FN) José Ferreira MonteiroCF (FN) Luiz Octávio GaviãoCF (FN) José Luís Ferreirinha Fernandes

42 O ANFÍBIO • 2009

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SIMPÓSIO CFN BICENTENÁRIO: OS RUMOS PARA 2020 43

“Em 1920, o General Hans Von Seeckt compôs 57 comissões para analisarem profundidade as lições operacionais e táticas da Primeira GuerraMundial, enquanto os ingleses constituíram a Comissão Kirk, somente em1932, com a mesma finalidade. Esses estudos foram marcantes para asvitórias arrasadoras da Blitzkrieg nos anos iniciais da Segunda GuerraMundial, contrariando o mito de que o fracasso do poder militar em combatedecorre de sua preparação para combater a ‘última guerra’.”

Williamson MurrayThe Past as Prologue

The importance of historyto the military profession

SIMPÓSIO CFN BICENTENÁRIO: OS RUMOS PARA 2020 43

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Em 2000, o Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CGCFN) pro- moveu o simpósio “O CFN do Terceiro Milênio”, constituindo dois grupos de trabalho (GT) para o estudo do conceito de emprego de Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais (GptOpFuzNav) e delineamento dos re- quisitos de organização, pessoal, material e adestramento, para um hori- zonte temporal de dez anos. Durante esse período, como resultado direto

do simpósio, foram implementadas alterações em diversas áreas (organizacionais,estruturais, doutrinárias, ensino e outras), com as adaptações necessárias, decorrentesda combinação entre os cenários prospectivos, visualizados na ocasião, com a realida-de da conjuntura brasileira e, em particular, da Marinha do Brasil (MB). De um modogeral, as alterações implementadas foram bastante positivas e guardaram aderência àrealidade vigente.

No período de 2000 a 2008, novos condicionantes exerceram influência sobreas atividades do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), com perspectiva de continuidadea longo prazo, entre os quais destacaram-se: o envolvimento direto e continuado doCFN nas operações de paz em apoio à Missão das Nações Unidas para a Estabilizaçãodo Haiti (MINUSTAH); a melhora nas perspectivas orçamentárias para oreaparelhamento do CFN; o expressivo aumento da participação do CFN em opera-ções combinadas do Ministério da Defesa (MD); a conscientização da necessidade demaior esforço na proteção da “Amazônia Azul”; a previsão de aumento de efetivo; aexpansão dos interesses brasileiros no exterior; a tendência de maior participação dopoder político nas decisões estratégicas da Forças Armadas; o aumento da ameaça doterrorismo em escala internacional; a ocorrência de conflitos de longa duração(Afeganistão e Iraque), que têm proporcionado experiências e com potencial paradesencadear evoluções doutrinárias e a crescente instabilidade política esocioeconômica dos países da América do Sul.

Era necessário, portanto, realizar o Simpósio “CFN Bicentenário”, para atualizare aprofundar os estudos, de modo a identificar ações e ajustes necessários, estabelecendoum novo horizonte temporal de dez anos, permitindo uma avaliação consistente dasconjunturas nacional e internacional, assim como uma atualização em face da evoluçãorecente da arte e ciência da guerra. Assim, priorizou-se a pesquisa em duas áreas essen-ciais: a organização do CFN e o emprego dos GptOpFuzNav, com ênfase no apoio deserviços ao combate (ApSvCmb), e ensino, visando a transformar os estabelecimentos deensino do CFN em centros de excelência, de forma a garantir o aporte de recursos huma-nos na qualidade e na quantidade adequadas à materialização da evolução pretendida.

A concepção geral do Simpósio “CFN Bicentenário” incluiu três fases:- Na primeira fase, com duração de quinze semanas, quatro GT dirigidos por

Almirantes (FN) estudaram em profundidade os temas propostos e elaboraram rela-tórios com suas conclusões e sugestões de medidas a serem implementadas. Os doisgrupos voltados para a área de ensino contaram com a participação, além dos oficiaisFuzileiros Navais, de representantes indicados pela Diretoria-Geral do Pessoal daMarinha. A designação de dois GT para cada área específica nessa fase buscou assegu-rar maior diversidade de idéias e pensamentos.

- A segunda fase, com a duração de cinco dias, consistiu no simpósio propria-mente dito, no qual os trabalhos da primeira fase foram apresentados e debatidos. Estafase foi aberta pelo Comandante-Geral do CFN, que participou ativamente de todos ostrabalhos, e contou com a presença de antigos Comandante-Gerais e dos Almirantes(FN) da ativa e da reserva. A inclusão de uma palestra de abertura sobre o tema “OBrasil e Seu Entorno Estratégico”, proferida pelo Contra-Almirante (RM1) ReginaldoGomes Garcia dos Reis, foi marcante para a compreensão da audiência sobre os prin-cipais aspectos que influenciam a conjuntura regional e mundial, facilitando aambientação das apresentações seguintes. Essa fase contou com a participação de to-dos os Oficiais FN da área Rio, além dos Comandantes de Unidades de FN, localizadasfora de sede e de outros convidados dos diversos setores da MB e extra MB. Aprofundandoos temas expostos, foram realizados debates em pequenos grupos, denominados me-sas de trabalho, com os participantes do simpósio, enfatizando a franca discussão deidéias que contribuíssem ao complemento dos temas dos GT. O encerramento dessafase contou também com a presença do Diretor-Geral do Pessoal da Marinha e doDiretor de Ensino da Marinha.

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SIMPÓSIO CFN BICENTENÁRIO: OS RUMOS PARA 2020 45

- A última fase, que no momento da elaboração deste artigo encontrava-se emandamento, envolve a consolidação das propostas dos GT e mesas de trabalho, a aná-lise comparativa no âmbito do CGCFN e debates envolvendo todos os Almirantes(FN), para posterior decisão final e adoção de medidas práticas e orientações objetivasa todo o CFN.

Este artigo abordará as principais propostas dos GT e os assuntos debatidosnas mesas de trabalho, ressaltando que os relatórios serão catalogados ecolecionados no Centro de Estudos do CFN, encontrando-se disponíveis para con-sulta na biblioteca do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC),para o aprofundamento nas questões apresentadas no Simpósio “CFN Bicentenário”.

TEMA: PREPARO E EMPREGO DOS GRUPAMENTOSOPERATIVOS DE FUZILEIROS NAVAIS

Propostas do GT-1ACA (FN) Washington Gomes da Luz FilhoCMG (FN) José Luiz Corrêa da SilvaCMG (FN) Marcos José Ferreira VianaCMG (FN) Marcos José Freire LopesCF (FN) Pedro Antonio de OliveiraCF (FN) Sidney Barroso Alves Júnior

O GT 1-A desenvolveu inicialmente seu estudo na priorização das capacidadesnecessárias ao preparo e ao emprego dos GptOpFuzNav. Para tanto, analisou as prin-cipais publicações de alto nível, no que se referem às diretrizes para o preparo dasForças Armadas, às hipóteses de emprego (HE) do poder militar, aos objetivos navaisdo Plano Estratégico da Marinha e ao emprego do CFN nas HE. Em paralelo, o grupoelaborou um questionário para dez peritos convidados, de renome no cenário nacio-nal, para avaliarem de forma independente as prioridades de ocorrência de doze even-tos relacionados a situações de crise, que requeressem o emprego dos GptOpFuzNav.Da conjugação dessas diversas ideias, o grupo concluiu por uma sequência de capaci-dades para as quais o CFN deveria priorizar o preparo dos GptOpFuzNav, a saber: (1)operações anfíbias; (2) operações de paz; (3) operações de evacuação de não-combaten-tes em áreas marítimas; (4) operações ribeirinhas; (5) operações especiais; (6) operaçõeshumanitárias; (7) operações de evacuação de não-combatentes em áreas terrestres; e(8) operações de garantia da lei e da ordem e dos poderes constitucionais, na área desegurança pública.

Primeiro contingente doGptOpFuzNav - Haiti, 2004.

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Nesse contexto, o grupo sugeriu alterar a organização e a finalidade do Coman-do da Tropa de Desembarque, criando uma seção para o planejamento prioritário deoperações ribeirinhas, operações de paz e humanitárias. Isso permitiria ampliar aparticipação do Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE) em âmbitonacional, principalmente em ambientes ribeirinhos; facilitaria o exercício do comandodo Componente de Combate Terrestre (CCT) dos GptOpFuzNav que empregassem,simultaneamente, duas ou mais unidades ribeirinhas em uma mesma operação; per-mitiria ao ComFFE estreitar a coordenação com os Distritos Navais (DN), por meio deadestramento de operações ribeirinhas com as Organizações Militares (OM) dos DN, efacilitaria a assunção do comando dos GptOpFuzNav designados para as operações depaz ou humanitárias, na condição de primeiro contingente, a exemplo do que ocorreuno Haiti, em 2004.

No que se refere às operações anfíbias, o grupo propôs a criação da Tropa deDesembarque Anfíbia (CmdoTrDbqAnf), para dedicar-se com maior ênfase ao planeja-mento e execução dessas operações, incluindo aquelas de evacuação de não-combaten-tes. A subordinação ao Comando da Divisão Anfíbia (ComDivAnf) facilitaria a coorde-nação e a organização dos GptOpFuzNav para tais operações, tendo em vista que amaior parcela dos meios de combate e apoio ao combate do CFN são orgânicos aoComDivAnf, facilitando o acompanhamento do preparo dos meios da Força de Empre-go Rápido (FER). Cabe também acrescentar que o ComDivAnf teria melhores condiçõesde organizar o comando de CCT, por uma questão de coordenação e familiarizaçãoentre seus próprios elementos de manobra.

Em relação ao ComFFE, o grupo propôs a ativação de uma seção de operaçõespsicológicas no seu Estado-Maior (EM) para o planejamento, juntamente com a criaçãode uma Companhia de Operações Psicológicas no Batalhão de Operações Especiais deFuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav), para a execução dessa atividade de apoio aocombate, ativar uma seção de apoio às Operações de Paz e Humanitárias, para atenderespecificamente às necessidades do GptOpFuzNav HAITI, e criar um Centro de Avali-ação e Apoio aos Sistemas de Fuzileiros Navais (CAASFuzNav), para organizar osgrupos de controle e avaliação (GRUCONTER) dos exercícios com o auxílio de observa-dores e analistas, bem como consolidar os relatórios dos exercícios encaminhadospelos GRUCONTER e OM subordinadas.

Quanto ao emprego dos novos blindados sobre rodas (SR) 8x8 PIRANHA IIIC doCFN, o grupo propôs a ativação de uma Companhia de Reconhecimento Blindado(CiaRecBld), subordinada ao Batalhão de Blindados de Fuzileiros Navais(BtlBldFuzNav), com a finalidade de executar reconhecimento e vigilância blindados,participar de operações ofensivas e defensivas como elemento de economia de forças,bem como transporte de tropa em ambientes urbanos.

O grupo avaliou a necessidade de criação do Batalhão de Apoio ao Desem-barque (BtlApDbq), considerando a estrutura da CiaApDbq insuficiente para aten-der às necessidades de um GptOpFuzNav que desembarque, simultaneamente, empraias que excedam a capacidade de controle centralizado e para garantir maiorflexibilidade no apoio ao desembarque por superfície e helicópteros. Essa soluçãoapontaria para a necessidade de criação de uma Cia DP e uma Cia DZD, justificandoa criação de um BtlApDbq.

O grupo apresentou diversas sugestões para o aprimoramento da estrutura porcomponentes dos GptOpFuzNav, destacando a possibilidade de emprego de grupamentos“quando ativado” (QA) e “quando formado” (QF), recurso já consagrado no Processo dePlanejamento Militar (PPM) utilizado na MB. Nas operações de evacuação de não com-batentes, por exemplo, o Componente de Apoio de Serviços ao Combate (CASC) poderáreceber a tarefa adicional de mobiliar e operar o Centro de Controle de Evacuados (CCE),cumprindo o esforço principal da missão. Nessa situação, o CASC deverá ser organizadopor tarefas para atender suas atribuições tradicionais de apoio aos demais componentese a operação do CCE. A escassez de efetivos para compor outro componente na estruturado GptOpFuzNav poderá requerer o uso de organizações QF ou QA para atender àelevada demanda de tarefas impostas.

Em relação ao Componente de Comando (CteC), o grupo acrescentou que o cam-po de batalha moderno necessitará de novos procedimentos e meios, exigindo a opera-ção de um Centro de Operações de Combate Digital (COC Digital), interligado com um

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Centro Controlador de Guerra Eletrônica (CECOGE) e com o Sistema de Planejamentode Operações Militares do MD (SIPLOM/MD). Destacou também a necessidade de cria-ção de um Centro de Coordenação de Informações de Veículos Aéreos Não Tripulados(CECOIVANT) e a aquisição de radares de vigilância terrestre, otimizando as ações doCentro de Análise de Inteligência (CAI).

Quanto ao Componente de Combate Aéreo (CCA), o grupo destacou que o CCAdeverá contar com meios capazes de atuar em prol da defesa aeroespacial e do controledo espaço aéreo, devendo operacionalizar o radar Giraffe (ou mesmo substituí-lo); ad-quirir radares de controle do espaço aéreo, integrar-se ao Sistema de Defesa AeroespacialBrasileiro (SISDABRA); integrar-se com os demais Componentes por meio do COCDigital; operar VANT, incrementar a defesa antiaérea com o emprego de MSA de médioalcance e capacitar-se no abastecimento de suprimentos Classe III-A.

Para o CASC, o grupo propôs uma revisão da classificação doutrinária dos ní-veis de abastecimento, atualmente denominados nível inicial e de reabastecimento,por compatibilidade à modernização logística do USMC. Seriam criados três níveis: doconsumidor, limitado ao consumo imediato; de campanha, para o apoio aos demaiscomponentes, mantido em estoque pela unidade de apoio direto (ElmASC), e de susten-tação, incluindo o material sob controle de um gerente com atuação nacional, capaz derequerer qualquer necessidade adicional de meios. Propôs também investimentos naqualificação do pessoal e na aquisição de equipamentos ao CFN para modernizar assubunidades de abastecimento, manutenção, engenharia, transporte e saúde, em es-treita coordenação com as unidades homólogas do Comando-em-Chefe da Esquadra eda Diretoria de Aeronáutica da Marinha. Nesse contexto, o grupo analisou odetalhamento doutrinário dos manuais da série CGCFN e incluiu diversas propostasde alteração de conceitos e procedimentos para a realização do sea-basing, para a manu-tenção dos meios do CFN, para a mobilização logística e para a realização de ajustes naestrutura do CASC.

Propostas do GT-1BCA (FN) Fernando Cesar da Silva MottaCMG (FN) Marco Aurelio Vaz CostaCMG (FN) Ricardo Wagner Castilho de SáCF (FN) Renato Rangel FerreiraCF (FN) Athila de Faria OliveiraCF (FN) Ludovico Alexandre Cunha Velloso

O GT-1B desenvolveu uma metodologia própria para solucionar o tema “Prepa-ro e Emprego dos GptOpFuzNav”, valendo-se do seguinte processo: análise prospectivaa partir dos principais documentos condicionantes da política e estratégia naval;priorização das HE; análise do conceito de emprego do Poder Naval por capacidades;análise estratégica dos requisitos; elaboração de uma visão do CFN para 2020 e, porfim, análise do impacto entre o CFN atual e o visualizado no futuro. Para tanto, o grupodividiu a análise de impacto por áreas específicas, sugerindo diversas propostas porrequisitos de organização, doutrina, ensino, adestramento e material do CFN.

No que se refere ao requisito organização, o grupo apresentou diversas propos-tas de reestruturação do CGCFN, com destaque para a criação de um Comando deDesenvolvimento de Combate (CDC-FN), centralizando o ciclo de desenvolvimentodoutrinário, por meio de processos de pesquisa, detalhamento doutrinário, validação,ensino e refinamento da doutrina. Uma OM com equivalência ao Marine Corps CombatDevelopment Command (MCCDC) do USMC e subordinada diretamente ao CGCFN, oCDC-FN teria como subordinados o CIASC, responsável pelo processo de ensino, oCentro de Avaliação Doutrinária do Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia(CADIM), responsável pelo processo de validação, e o Centro de Estudos do CFN, res-ponsável pelo refinamento das lições aprendidas. O Departamento de Ensino do CPesFNtambém seria absorvido pelo CDC-FN, compondo uma assessoria ao ciclo de desenvol-vimento doutrinário.

O grupo também enfatizou a consolidação da vocação do CPesFN com opreparo do Fuzileiro Naval, por meio da padronização da formação básica entre oCentro de Instrução e Adestramento de Brasília (CIAB) e o Centro de Instrução

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Almirante Milcíades Portela Alves (CIAMPA). O grupo também propôs criar umDepósito de Material de Fuzileiros Navais, subordinado ao CMatFN e comandadopor um CF (IM), tornando o CRepSupEspCFN com vocação exclusiva ao serviçoindustrial. O Batalhão Naval, OM de representação do CGCFN, sem vínculo com aatividade logística do CMatFN, passaria à subordinação direta do CGCFN.

Em relação à organização do setor operativo, o grupo propôs a padronizaçãodas OM de FN Distritais da seguinte forma: Batalhões de Operações Ribeirinhas -BtlOpRib (Com4ºDN, Com6ºDN e Com9ºDN); grupamentos de ações de polícia, segu-rança de instalações e cerimônias (Com1ºDN e Com7ºDN), e grupamentos de seguran-ça de instalações e representações (Com2ºDN, Com3ºDN, Com5ºDN e Com8ºDN). Nocaso específico dos BtlOpRib, o grupo propôs a criação de um componente de combatefluvial (CCF) na estrutura do GptOpFuzNav, com o propósito de consolidar o conceitode componentes nas OM Distritais e de manter a integridade tática das fraçõesembarcadas. O CCF teria como principais tarefas o reconhecimento das margens dosrios, a inspeção de embarcações e o balizamento dos corredores de trânsito.

No tocante à organização do ComFFE, o grupo destacou a criação do Centro deAvaliação Operacional (CAVOP), sob o comando de CMG (FN), para a implementação denovos conceitos, controle da execução de exercícios, interação com o CASOP como OMhomóloga e avaliação de equipamentos e sistemas do CFN. O grupo também propôs acriação de uma seção de operações psicológicas e uma seção de comunicação social noComFFE; a mudança de subordinação do BtlCtAetatDAAe ao ComFFE, sob a denominaçãode Batalhão de Combate Aéreo (BtlCmbAe) e sob o comando de CMG(FN), e sua transferên-cia para São Pedro d´Aldeia; a transferência do Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf)para o ComDivAnf; a subordinação do ComTrDbq ao ComDivAnf; a criação de Pelotões deReconhecimento e Vigilância nos Batalhões de Infantaria de Fuzileiros Navais(BtlInfFuzNav); a reativação da Companhia de Reconhecimento Terrestre (CiaReconTer); acriação de uma Companhia de VANT (CiaVANT) no Batalhão de Comando e Controle(BtlCmdoCt); a criação de uma Companhia Anticarro (CiaAC) no BtlBldFuzNav; a ativa-ção de um Batalhão de Apoio de Serviços ao Combate (BASC); a transformação da CiaApDbqem BtlApDbq e a criação de um Pelotão de Combate-SAR no BtlCmbAe.

No que se refere ao requisito doutrina, o grupo propôs uma adaptação do concei-to “mochila-pronta” (packs bagged) do USMC, diretamente relacionada à capacidadeexpedicionária da Força, sugerindo o estabelecimento de três níveis de prontidão parasituações de embarque imediato: MOPRON-1, de caráter individual; MOPRON-2, paraas OM e Destacamentos, e MOPRON-3, para os GptOpFuzNav. O grupo também des-tacou a necessidade de consolidar a doutrina de participação do FN em operações deinterdição marítima (MIO), por meio da constituição de GVI-GP, e sugeriu o empregoda Companhia de Apoio de Fogo (CiaApF) dos BtlInfFuzNav como quarto elemento demanobra, de forma similar ao Combined Arms – Anti-Tank Team.

Quanto ao requisito ensino, o grupo ressaltou a necessidade de inclusão de exer-cícios de planejamento de OpAnf nas ilhas oceânicas brasileiras no currículo do Cursode Aperfeiçoamento de Oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais (CAOCFN), com a fina-lidade de contribuir com a defesa da “Amazônia Azul”. Sugeriu também que o currícu-lo do CAOCFN enfatize o planejamento do emprego de todos os componentes dosGptOpFuzNav; que os demais cursos de carreira (C-EMOI e C-EMOS) priorizem adoutrina de emprego por componentes no âmbito da MB e que haja orientação aosOficiais FN designados instrutores de OM do Sistema de Ensino Naval (SEN), princi-palmente a Escola Naval, o CIAW, o CIAAN e a EGN, para que disseminem a doutrinade emprego dos GptOpFuzNav. No caso do CIAAN, o grupo ressaltou a relevância dainstrução do conceito de emprego do CCA, permitindo maior integração e coordenaçãoentre os meios de FN e da ForAerNav, no tocante à defesa aeroespacial e controleaerotático, bem como da logística e da proteção das aeronaves que operarem a partir deinstalações em terra.

No que se refere ao requisito adestramento, o grupo propôs alterações no ciclo deadestramento da Força de Emprego Rápido (FER), por considerar que o ciclo de dezoitomeses é longo; o período pré-FER de seis meses é curto; o adestramento é basicamentevoltado ao CCT e a difícil conciliação entre o adestramento e o serviço administrativotorna-se prejudicial ao adestramento. A sistemática proposta reduz o ciclo para operíodo de um ano; prioriza o adestramento por fases de OpAnf, OpRib e Batalhão de

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Proteção; insere o CAVOP para monitorar a qualidade do adestramento; inclui umexercício de BAnf anual e amplia a ênfase no desenvolvimento da capacidade expedici-onária, da inteligência operacional sobre as ilhas oceânicas e no apoio às patrulhasnavais com ações de GVI-GP com FN.

Quanto ao requisito de material de FN, o grupo considera essencial a ampliação donúmero de meios de desembarque, navios anfíbios e de meios modernos de paletizaçãode suprimentos, com vistas ao desenvolvimento da capacidade anfíbia e expedicionáriada MB. Acrescentou também que a aquisição de mísseis antinavio e lanchas de açãorápida blindadas seriam relevantes para a defesa da “Amazônia Azul”, sugerindo aaquisição e emprego de embarcações especiais, com requisitos similares ao Combat Boat90. O grupo propôs a aquisição de CLAnf para criar a 2ª CiaCLAnf, capaz de mobiliar osdois GDB do escalão de assalto de uma BAnf, de mini-VANT para o reconhecimentoaproximado das peças de manobra do CCT e de VANT para o reconhecimento profundo,a distâncias superiores a 40km da linha de contato. Em relação aos meios de apoio de fogo,o grupo defendeu a aquisição de lançadores múltiplos de foguete (LMF) e oreaparelhamento dos obuses 155mm do Batalhão de Artilharia de Fuzileiros Navais(BtlArtFuzNav), com novos subsistemas de meteorologia, observação, direção de tiro,topografia e radares de busca de alvos. Por fim, o grupo ressaltou as vantagens no empre-go de simuladores para infantaria, blindados e artilharia, com elevado custo-benefícioem relação ao aproveitamento do adestramento e ao consumo de combustível, munição,desgaste do material e tempo de deslocamento das OM aos campos de adestramento.

TEMA: FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS.

Propostas do GT-2ACA (FN) Alexandre José Barreto De MattosCMG (FN) Julio Cezar TheodoroCMG (FN) Antonio Sergio ConstantinoCF (FN) Marcelo Guimarães DiasCF (FN) Alberto Rodrigues Mesquita JuniorCC Francisco Luiz Cavalcanti Rollemberg

O GT-2A desenvolveu o tema a partir de uma abordagem sistêmica das OM deensino do CFN, considerando o CGCFN como ambiente externo, tendo como entrada osrecursos humanos oriundos do meio civil, dos cursos de formação, especialização eaperfeiçoamento de praças, do Estágio Especial de Guerra Anfíbia (E-EGAnf) e doCAOCFN, fornecendo ao CGCFN recursos humanos qualificados como saída. Dentro de

Adestramento na Ilha daMarambaia.

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sua concepção de trabalho, o grupo identificou os efeitos adversos gerados aos diversosclientes, nos processos de ensino e na qualidade dos produtos do sistema, para definiro enunciado do problema, delimitar a abordagem com ênfase nos parâmetros de exce-lência e na carreira de oficiais e praças para, por fim, sugerir as recomendações namelhoria do ensino no CFN. De maneira geral, o grupo considera que a capacitação deuma OM de ensino como centro de excelência requer a eficiência em diversossubsistemas: corpo docente, corpo discente, instalações de ensino, avaliação pedagógi-ca dos cursos e, por fim, avaliação pós-escolar.

Entre as principais recomendações, destaca-se a necessidade de elaboração dePlanos Estratégicos para as OM de ensino, com a determinação clara de objetivos,metas, indicadores de desempenho e instrumentos de avaliação, com vistas ao cum-primento dos requisitos estabelecidos na metodologia de avaliação da Diretoria deEnsino da Marinha e, posteriormente, do Programa Netuno da MB. Nesse contexto,também se insere a necessidade de compatibilização dos currículos dos cursos decarreira para priorizar o ensino dos fundamentos aos FN, com base nas capacidadesintrínsecas de um GptOpFuzNav, tendo o setor operativo a função complementar deadestrar os formandos para consolidar o processo de conhecimento. Isso irá requerer ocomprometimento do setor operativo no processo de transformação das OM de ensinoem centros de excelência, sendo recomendado pelo grupo a ênfase inicial para a melhorianos cursos de carreira das praças, por contarem com as menores avaliações de desem-penho junto aos “clientes” do setor operativo.

O grupo também propôs a criação de uma Comissão Permanente de Ensino(CoPEns), para a supervisão dos currículos dos cursos de carreira, sob orientação dapolítica de ensino do CGCFN, sendo composta por representantes do CPesFN, da DEnsMe das OM operativas que participam, de alguma forma, do ciclo acadêmico. A CoPEnstambém exerceria papel fundamental na verticalização do ensino, eliminando eventu-ais “vazios” entre os currículos dos diversos cursos de carreira, na condução do pro-cesso de reavaliação das Relações de Tarefas Técnico-Profissionais (RTTP) das praças,na criação do sistema de ensino a distância (EAD) no CFN e na condução do processo deavaliação pós-escolar.

Cabe ressaltar a ênfase do grupo quanto à necessidade de aumentar o caráterprático dos cursos do SEN, por meio da utilização de pistas de adestramento, do tiroreal adaptado às condições de combate, do contato com equipamentos típicos de cadaespecialidade e da utilização de simuladores. Nesse aspecto, o grupo sugeriu que oComFFE apoiasse as atividades práticas de ensino por intermédio de uma CiaFuz “Es-cola”, com a inclusão de suas atividades no Programa Geral de Adestramento do Co-mando de Operações Navais (PGACON). O CADIM também exerceria papel relevantenesse processo, quando finalizados os projetos de construção de novas instalações deapoio e avaliação doutrinária na Ilha da Marambaia-RJ.

Outro aspecto sugerido, de fundamental importância, refere-se à necessidade demodernização da metodologia de ensino atualmente empregada no CFN. A maioriados cursos ainda compromete parcela de sua carga-horária com exposições orais deinstrutores ou palestrantes ilustres, técnica de ensino que exige reduzido esforço doaluno e, de modo geral, não estimula o auto-aprendizado. Assim, o grupo propõe ainserção de outras técnicas, a exemplo da discussão dirigida em pequenos grupos, queexijam maior preparação prévia e participação do aluno, desenvolvendo sua iniciativae capacidade de liderança na solução de problemas profissionais. Essa mudança deparadigma poderá ser acompanhada por alterações no sistema de avaliação, tornan-do-o mais exigente, e por acréscimo de incentivos ao mérito escolar: por exemplo, per-mitindo a escolha de comissão, possibilidade de embarque no NE-Brasil, participaçãoem atividades operativas no exterior e ampliação da faixa de alunos com “atuaçãodestacada”.

O grupo ressaltou que mudanças significativas no processo de ensino-aprendi-zagem requerem, necessariamente, melhor seleção e qualificação dos instrutores, mai-or período de permanência no ambiente acadêmico (três ou quatro anos) e redução darotatividade anual para índices de 25% a 33% do efetivo de instrutores. Para tanto, asOM de ensino devem receber prioridade na distribuição de pessoal qualificado, sendorecomendando pelo grupo a revisão das atuais tabelas de lotação (TL) das OM deensino e a criação de incentivos à excelência na instrutoria, por meio, por exemplo, de

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uma medalha “Mérito Instrutor”. A estrutura pedagógica também deverá ser compa-tível com as necessidades de supervisão exigidas em cada Centro de Instrução,exemplificando o caso do CIASC, que atualmente coordena a realização de 62 cursos,em comparação aos 28 cursos na década de 1990, exigindo maior esforço nessa ativida-de de apoio ao ensino. O grupo também alertou para a necessidade de investimentosem infraestrutura das OM do SEN, com melhorias nas instalações, refeitórios, aloja-mentos e modernização dos acessórios de ensino em geral.

Por fim, o grupo destacou a necessidade de criação de uma especialidade deblindados para praças do CFN. Por definição da própria Lei Nº 11.279, de 9 de fevereirode 2006 (Lei de Ensino da Marinha), o curso de especialização destina-se à “habilitaçãopara o cumprimento de tarefas profissionais que exijam o domínio de conhecimentos etécnicas específicas”. Nesse contexto, para o atendimento das necessidades das unida-des de artilharia e engenharia, por exemplo, foram criadas essas especialidades nopassado. Por analogia, a aquisição de modernos meios blindados ao CFN, que exigemelevado grau de capacidade técnica de seus operadores, requer a manutenção especi-alizada de profissionais com permanência no BtlBldFuzNav, com carreira própria quepermita realizar as atividades na OM com dedicação exclusiva durante a carreira.

Propostas do GT-2BCA (FN) Nilton Moreira SalgadoCMG (FN) Renato de Araújo LeiteCMG (FN) Eder SampaioCF (FN) Silvio Aderne NetoCF (FN) Julio César Franco da RochaCC (T) Rosa Neira Dopcke

Na busca por referências para orientar os rumos para a excelência do ensino noCFN, o GT-2B realizou interessante estudo de caso sobre a estrutura de ensino doUSMC, para eventual aproveitamento de experiências bem-sucedidas a seremimplementadas no CFN. Entre os principais aspectos analisados, cabe destaque para aestrutura do Training and Education Command (TECOM), subordinado ao Centro de Desen-volvimento de Combate do USMC (MCCDC), responsável pela verticalização do ensi-no de oficiais e praças, o que facilita a supervisão da política de ensino profissional. Ogrupo também ressaltou a importância da participação de diversas OM para a quali-ficação do 2º Tenente do USMC, que não estão restritas às escolas; o ensino universitá-rio responde por 10% dos conhecimentos necessários à formação do oficial, o The BasicSchool (TBS), por 40%, as escolas de especialização, por 25% e as unidades operativas,por 25% da formação básica do 2º Tenente.

O oficial do USMC realiza seis cursos de carreira nos postos de 2º Tenente aCoronel. Em comparação à carreira do oficial do CFN, o USMC não possui curso equi-valente ao C-EMOI, no entanto inclui um curso de EM Avançado para Oficiais Superi-ores (School of Advanced Warfighting – SAW), no ano subsequente à realização do C-EMOS,em caráter voluntariado para 25 oficiais-alunos. Os cursos para Oficiais Intermediári-os e Superiores do USMC empregam metodologia de ensino-aprendizagem fundamen-tada no autoconhecimento do aluno, complementado com o debate orientado por pro-fissionais civis, com curso de Doutorado, em grupos de conferência, atividade que abrangemais de 20% da carga horária dos cursos. Em geral, os tempos de aula destinados parapalestras expositivas representam menos de 10% do currículo, enquanto 50% de todaa carga horária é alocada para a leitura e pesquisa individuais, essenciais para que oaluno desenvolva sua capacidade de defesa de pontos de vista nos seminários dosgrupos de conferência. A título de exemplo, os cursos de aperfeiçoamento (ExpeditionaryWarfare School - EWS) e C-EMOS (Command and Staff College - CSC) exigem uma carga deleitura semanal de aproximadamente 300 páginas, o C-EMOS Avançado (School ofAdvanced Warfighting - SAW), de 500 páginas e o C-PEM (Marine Corps War College -MCWC), de 1000 páginas.

No que se refere à formação das praças, existe maior similaridade entre o CFN eo USMC, se comparados aos cursos dos oficiais. De fato, a estrutura de ensino do CIAMPAoriginou-se do modelo do USMC e mantém uma equivalência de qualidade com aquelainstituição. No entanto, o grupo constatou alguns aspectos relevantes para eventual

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aplicação no CFN, como a regularidade do processo de rodízio de 25% dos instrutores,a introdução de exercícios que avaliam a liderança em pequenas frações, a ênfase naendurance física e psicológica do soldado e a constituição do corpo de instrutores com100% de experiência em combate.

Entre as diversas medidas propostas ao aprimoramento dos processos de ensinode oficiais do CFN, cabe destacar a sugestão de vinculação das habilitações da EscolaNaval à escolha das primeiras comissões, para aproveitamento desses conhecimentosnas OM do CFN. O grupo também sugeriu a inclusão de palestras do CFN para o curso deformação de oficiais do Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW), a inclusãode monografias aos formandos do CAOCFN, com prazo de conclusão ao término do anosubsequente, e vinculação dos cursos no exterior com a área de ensino, para facilitar atransmissão de conhecimentos e experiências adquiridas em outras Forças.

Em relação às propostas de melhorias dos processos de ensino das praças doCFN, o grupo ressaltou a importância de manter a centralização das vagas do concur-so para o Curso de Formação de Soldados FN (C-FSD FN), privilegiando, dentro dopossível, a distribuição de acordo com a região de origem, respeitando a classificaçãono curso. O grupo também levantou a possibilidade de estabelecimento de convênioscom outras instituições de ensino no país, para incentivo ao estudo eautoaperfeiçoamento do FN. Nesse contexto, poderia ser criado no CIASC um módulopresencial sobre liderança e atualidades militares no C-Esp-Hab-SO, com duraçãoaproximada de trinta dias, a fim de ampliar os conhecimentos profissionais dos futu-ros SO-FN. O grupo julgou interessante compatibilizar a duração dos cursos de habi-litação e aperfeiçoamento com os equivalentes dentro da própria MB e ampliar a for-mação militar-naval do SG-FN-MU, de forma a reduzir eventual gap de conhecimentoem relação às demais especialidades do CPFN.

Quanto às medidas para a excelência no ensino do CFN, o grupo propôs a revi-são do Plano de Capacitação e Qualificação de Docentes (PCQD), a sistematização dolançamento em Ordem de Serviço (OS) das matérias relativas à participação de docen-tes em eventos acadêmicos (simpósios, seminários, entre outros) e a criação de umencontro anual de docentes e instrutores do CFN para debates e reflexões sobre aatividade acadêmica no CFN. O grupo também acrescentou a necessidade de estímuloà produção e à publicação de artigos profissionais, monografias e ensaios nas publica-ções disponíveis na MB e a utilização do PROA-CFN, como instrumento de difusão daimportância da leitura profissional para o exercício da carreira militar e para o fomen-to de eventuais talentos para a instrutoria no CFN.

O grupo ressaltou que a excelência no ensino deverá ser acompanhada por umaexcelência na atividade administrativa das escolas, principalmente no que se refere àinfraestrutura de apoio, tais como alojamentos, refeitórios, salas de aula, equipamen-tos para o ensino, construção de bibliotecas, construções de pistas de aplicação, entreoutras medidas. A transformação do CADIM em centro de treinamento especializadopara experimentação e avaliação de doutrina também se insere nesse contexto de am-pliação das instalações, em quantidade e qualidade compatível com a busca pela exce-lência no ensino. Nesse contexto, o grupo mencionou a necessidade de uso do Relatóriode Avaliação do SEN (RAvSEN), como instrumento para avaliação de desempenho dasOM de ensino, padronizando o controle do CFN para a manutenção de elevado padrãode ensino profissional, tanto das atividades de ensino quanto de apoio ao ensino.

MESAS DE TRABALHOEssa fase do simpósio se constituiu na organização de oito grupos, integrados por

até 25 oficiais entre todos os participantes do evento, para o debate dos seguintes temas:o emprego dos GptOpFuzNav na “Amazônia Azul”; os blindados no CFN; a valorizaçãoda instrutoria; o Comando de Companhia; o aproveitamento de experiências daMINUSTAH pelo Centro de Estudos do CFN; a Tropa de Desembarque; o Componente deCombate Aéreo e, por fim, a capacitação das Unidades de Apoio de Serviços ao Combate.

A mesa de trabalho do tema 1 abordou a relevância do CFN como parcela da MBcapaz de contribuir às tarefas básicas do Poder Naval, necessárias à defesa da “Amazô-nia Azul”. O grupo ressaltou a importância da capacidade anfíbia e expedicionária doCFN para apoiar o componente naval nas operações de interdição marítima, por meiode Grupos de Visita e Inspeção e Grupos de Presa (GVI/GP), constituindo-os com efeti-

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vos de FN adestrados para essas tarefas e com equipa-mentos específicos ao ambiente operacional, sem a neces-sidade de embarque permanente nos meios da esquadra.Cabe também destacar a interessante comparação do gru-po sobre a semelhança do cordão insular do Atlântico Sulà área de defesa avançada da “Amazônia Azul”, conceitotípico do planejamento de operações defensivas em terra,sugerindo o emprego de sistemas “antiacesso” para adetecção antecipada de eventuais forças adversas à ZonaEconômica Exclusiva (ZEE) brasileira, juntamente com odesenvolvimento da capacidade de pronta resposta pararetomada de suas áreas de interesse. Para tanto, seria rele-vante realizar exercícios anfíbios nas ilhas oceânicas bra-sileiras, ampliar os trabalhos de inteligência operacionalcom alcance sobre o cordão insular e intensificar as ativi-dades de comunicação social para contribuir com a “men-talidade marítima” nacional, informando à população so-bre o custo-benefício da realização de exercícios da MBnas ilhas oceânicas para a soberania da “Amazônia Azul”.

A mesa de trabalho do tema 2 debateu sobre a orga-nização, emprego e especialização de pessoal para o apoiode blindados aos GptOpFuzNav, tema decorrente da aqui-sição recente de novos meios ao CFN, com ênfase para asviaturas blindadas Piranha. Quanto à organização, a mesaconcordou com as propostas de criação de uma compa-nhia de blindados SR no BtlBldFuzNav, para prover mo-bilidade e proteção blindada a uma CiaFuz, com eventu-ais tarefas de reconhecimento, segurança e limitadas ope-rações ofensivas e defensivas. Propôs também a criação deuma companhia anticarro (AC), com os meios já existen-tes do próprio BtlBldFuzNav. Quanto à proposta de cria-ção da especialização de blindados no CFN, o grupo julgouque as carreiras das praças especializadas em artilharia

(AT) e máquinas e motores (MO), maior parcela que mobilia as guarnições dos blinda-dos do CFN, diferem em natureza e desempenho daquelas típicas das unidades deartilharia e logística do CFN. Na prática, a praça AT ou MO, que compôs a guarniçãodesses blindados durante a maior parte de sua carreira, exerceu, de fato, atividadestípicas de uma “especialidade” em blindados, exceção apenas dos conhecimentos téc-nicos de AT e MO adquiridos nos cursos de carreira. Esse aspecto ressalta a importân-cia para uma reflexão sobre duas eventuais soluções ao problema: uma avaliaçãocurricular dos cursos de carreira dessas especialidades para a inclusão de disciplinasrelativas ao emprego e manutenção do armamento e motores dos blindados do CFN oua criação de uma especialidade de blindados, potencializando o desempenho dessaatividade no CFN.

A mesa de trabalho do tema 3 debateu sobre a valorização da instrutoria noCFN, enfatizando as seguintes medidas motivacionais para ampliar o interesse dopessoal nessa atividade: realização de intercâmbios entre instrutores de marinhasestrangeiras; pontuação de tempo de instrutoria; criação de medalha “MéritoInstrutoria”, dedicação exclusiva às atividades estritamente relacionadas à instrução,melhoria de recursos instrucionais das escolas; incentivo à participação do pessoal emeventos da comunidade acadêmica e investimento na preparação e qualificação deinstrutores. O grupo também ressaltou a relevância da proposta apresentada pelo GT-2A, referente à criação da CoPEns, com papel proativo na orientação especializada eassessoria para a implementação das medidas de incentivo propostas.

A mesa de trabalho do tema 4 abordou a necessidade de valorização da funçãode Comando de Companhia / Bateria. Sendo o maior escalão da tropa sem a assessoriade um Estado-Maior, o comando de uma CiaFuz em combate pode ser considerado omais difícil e exigente sob o ponto de vista da capacidade de liderança, da experiência edo conhecimento profissional para o seu desempenho satisfatório. O grupo comparou

Act

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Edi

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Faz-se necessárioavaliar as conquistasdas gerações que nosantecederam paratraçar novas metas aoCorpo de FuzileirosNavais de 2020.

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o Comando de CiaFuz ao Comando de navio da MB de 4ª classe, também exercido porCapitães-Tenentes, cujo processo seletivo requer criteriosa avaliação e precede a ocu-pação de demais claros em tabela de lotação das OM do Corpo da Armada. O grupotambém acrescentou sobre a necessidade de estimular a liderança em pequenas fra-ções, por intermédio de pistas de reação de líderes, do incremento dos adestramentoscom munição real para desenvolver a confiança mútua entre as diversas frações daCiaFuz e da realização de estágios para SD-FN na OM, com foco no adestramento deprocedimentos básicos de combate. A apresentação das propostas dessa mesa por um1º Tenente (FN) causou impacto positivo na audiência, sendo destacado peloComGerCFN como um dos pontos altos do Simpósio “CFN Bicentenário”.

A mesa de trabalho do tema 5 abordou o aproveitamento das experiências daMINUSTAH e o papel do Centro de Estudos do CFN nesse contexto, com ênfase para anecessidade de criação de um sistema de lições aprendidas, capaz de coletar, gerenciar,analisar e disseminar as experiências do GptOpFuzNav HAITI e, posteriormente, asdiversas atividades operativas do CFN. O retorno de “veteranos” de operações de pazpara servir no CIASC, a realização de estágios pré-comissão específicos nessa área e arealização de entrevistas sistematizadas com os contingentes substituídos no Haiti sãomedidas interessantes de serem avaliadas pela Escola de Operações de Paz do CIASC. Ogrupo também destacou a importância do fomento às atividades acadêmicas com ou-tras instituições de ensino no Brasil e no exterior, por meio do apoio a mestrandos edoutorandos em pesquisas sobre as operações de paz, da realização de trabalhos,simpósios e palestras em decorrência do convênio recentemente firmado entre a MB, aPontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a Universidade de Brasília(UnB). Em relação às medidas de implantação do Programa de Leitura Profissional doCFN, lançado no simpósio, o grupo propôs a criação de fóruns de debates e incentivo àelaboração de ensaios sobre os livros durante os cursos de carreira, a realização deconcursos literários por postos e graduações e a aquisição dos livros para a biblioteca doCIASC, facilitando o acesso do FN à bibliografia proposta.

A mesa de trabalho do tema 6 abordou a TrDbq e os Centros de Avaliação noComFFE e no CADIM. Na opinião do grupo, a TrDbq está consolidada na estruturaoperativa do CFN, e a permanência da subordinação ao ComFFE favorece as relaçõesde comando para qualquer tipo de operação, embora ainda careça de capacidade deavaliação operacional para controlar de forma qualitativa o emprego dosGptOpFuzNav. Por questões de cultura organizacional, o grupo julgou relevante que oComandante da TrDbq seja CMG pós-graduado no C-PEM e possua ascendência hie-rárquica sobre os Chefes de Seção de Estado-Maior do ComFFE, sem importar a relaçãode antiguidade com o CEM do ComDivAnf. Essa qualificação do Comandante da TrDbqseria também relevante para facilitar o trâmite de assuntos operativos com os Coman-dantes de Divisões da Esquadra e dos navios anfíbios. Em relação aos centros de avali-ação, o grupo entende que devam existir dois centros distintos; o CADIM se concentra-ria na avaliação doutrinária, tendo como principal cliente o setor CGCFN, apoiando ociclo de desenvolvimento doutrinário; o ComFFE realizaria a avaliação operacional,verificando a aplicação da doutrina no setor operativo, contribuindo para a coleta dedados para eventual inserção no sistema de lições aprendidas. O grupo acrescentouque a metodologia de avaliação de OM do CFN deveria seguir os padrões dos sistemasde avaliação do Sistema de Ensino Naval e do Programa Netuno, seguindo parâmetrospré-estabelecidos, validados e mensurados por único órgão competente, como formade garantir a efetividade e confiabilidade do processo de avaliação.

A mesa de trabalho do tema 7 debateu sobre o componente de combate aéreo, emparticular sobre os assuntos relacionados aos VANT e à mudança de sede do Batalhão deControle Aerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe). Quanto aos VANT, o grupoconcluiu que a necessidade de coordenação do espaço aéreo, a especialização do pessoal eo esforço de manutenção desse meio são indicadores de que a seção de VANT deva per-manecer subordinada ao BtlCtAetatDAAe, mantendo o status quo, estando em condiçõesde realizar o apoio às unidades de Infantaria, de operações especiais e de comando econtrole quando necessário. Em relação ao estudo para eventual mudança de sede da OMpara a Base Aérea-Naval de São Pedro D´Aldeia, o grupo levantou diversas vantagens edesvantagens, com destaque para a facilidade de adestramento e desenvolvimento deprocedimentos operativos com os esquadrões de aeronaves, por proximidade física e

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otimização de horas de voo e, por outro lado, a dificuldade de controle “a distância” doComFFE de uma OM subordinada, instalada em outro Complexo Naval.

Por fim, a mesa de trabalho do tema 8 abordou a capacitação de unidades deapoio de serviços ao combate, com destaque para o sea-basing, os níveis de gestão desuprimentos, o papel das bases de fuzileiros navais no ApSvCmb e a medicina operativano CFN. Quanto ao sea-basing, o grupo considera que o conceito somente pode ser apli-cado parcialmente na MB, por restrição de meios em relação ao sistema original doUSMC, por perda de espaço de estiva adequada ao desembarque seletivo e por aindadepender de testes de procedimentos específicos no NDCC Garcia D´Ávila. O grupojulga possível testar o sea-basing na MB para o fornecimento de “rancho quente” e água;manutenção e estiva de parcela dos suprimentos da Força de Desembarque (ForDbq).Em relação à proposta de alteração dos níveis de gestão de suprimentos, adotando oempregado pelo USMC em níveis do Consumidor, de Campanha e de Sustentação, ogrupo considerou que o assunto requer estudo mais aprofundado, por tratar-se deuma solução para um problema específico do USMC que, no entanto, pode ser útil aoCFN por facilitar a divisão de responsabilidades no gerenciamento das funções logísticas.Quanto às Bases de FN, o grupo considera que a atual participação no ApSvCmb devaser mantida, por meio do apoio de rancho, manutenção, reparos limitados, intendên-cia, obtenção e fornecimento de gêneros e transporte administrativo até as áreas deembarque. No entanto, deve ser evitada a atribuição de responsabilidade de manuten-ção às Bases de FN, e o grupo acrescenta que seria interessante que o CFN prossiga nabusca por eficácia na atual divisão de responsabilidades pela manutenção e gestão dossobressalentes. No que se refere à medicina operativa, o grupo julga que a Companhiade Saúde (Cia S) se adequa ao atendimento das necessidades de apoio dos GptOpFuzNavaté o nível BAnf, reconhecendo as dificuldades decorrentes da manutenção das TL edos eventuais deslocamentos do pessoal para serviços em hospitais e bases e da neces-sidade de empréstimo de material para a montagem de Hospital de Campanha. Ogrupo destaca que as condições ideais de apoio da medicina operativa aos GptOpFuzNavrequerem uma Cia S com verdadeira “mobilidade expedicionária”, montada em bar-racas, com capacidade para adaptar-se em instalações tipo container e prediais, capazde instalar-se em navios hospitais e operar isoladamente em terra, integrada aoGptOpFuzNav.

CONSIDERAÇÕES FINAISO Simpósio “CFN Bicentenário” marcou o principal evento comemorativo

aos 200 anos do CFN em 2008, demonstrando a capacidade e a importância que osFuzileiros Navais depositam na busca pela excelência, a partir de um processo deautorreflexão, encontrando em suas tradições e no acompanhamento da batalhamoderna os fundamentos para ajustar os rumos para a próxima década. Avaliar asconquistas das gerações que nos antecederam é absolutamente necessário paratraçar novas metas ao CFN de 2020.

Diversas propostas foram apresentadas, debatidas e consolidadas por quatroGT, dirigidos por Almirantes (FN), por oito mesas de trabalho e por seções de pergun-tas e respostas, com a presença de uma audiência composta por mais de quatrocentosoficiais e praças do CFN, principal patrimônio da instituição e alicerce das mudançasa serem eventualmente implementadas. Foram quatro meses de trabalho árduo dosgrupos, que culminaram em uma semana de atividades acadêmicas de alto nível noCIASC, OM que capitaneará importante projeto de transformação no ensino profissio-nal-naval, a partir da criação do Centro de Estudos do CFN. Em breve, medidas eorientações de ordem prática começarão a ser divulgadas, em função dos resultadosobtidos, como fruto da análise e das conclusões do simpósio.

Os Fuzileiros Navais demonstraram uma vez mais sua grandeza como parcelaintrínseca do Poder Naval, brindando a MB com novas ideias e projetos para torná-laainda mais forte e atuante nos cenários de interesse nacional. Pensar no aperfeiçoa-mento do preparo e emprego dos GptOpFuzNav e na transformação de suas OM deensino em verdadeiros centros de excelência representou uma das maiores contribui-ções que o CFN poderia oferecer à MB no ano do seu Bicentenário, materializando avisão de futuro de nossos antepassados, que possibilitou a construção de um CFNdeterminado, competente e honrado em pertencer à Marinha do Brasil.

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A FORMAÇÃODOS FUZILEIROS

NAVAIS AMERICANOS“Não se pode ensinar tudo a alguém, pode-seapenas ajudá-lo a encontrar por si mesmo.”

Galileu Galilei

CF(FN) Luiz Octávio GaviãoCF(FN) Alberto Rodrigues Mesquita Junior

CC(FN) Paulo Roberto SaraivaCC(FN) Carlos Eduardo Vieira Nunes

No momento em que o Comando-Geral de Corpo de Fuzileiros Navais promoveu o Simpósio“CFN Bicentenário”, no qual um dos temas abordou a formação de recursos humanos – “Aestrutura de ensino do CFN e a transformação das OM componentes dessa estrutura em cen-tros de excelência do Sistema de Ensino Naval”– este artigo propõe-se, de forma a contribuir

com o desenvolvimento dos Centros de Formação, Especialização e Aperfeiçoamento do CFN, a apresentarconsiderações a respeito das Escolas dos Fuzileiros Navais dos EUA (USMC), responsáveis por formar umadas tropas mais profissionais do mundo.

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A FORMAÇÃO DOS FUZILEIROS NAVAIS AMERICANOS 57

Vista aérea de BFNHARQ (2004)

O sucesso em uma operação militar é extremamen-te dependente, entre outros fatores, de uma tropa profissi-onal que disponha de materiais e equipamentos adequa-dos e de uma doutrina atualizada para o desenvolvimentodo tipo de operação em curso. Nesse sentido, a preparaçãoprofissional do combatente é imprescindível para o suces-so no cumprimento de cada missão.

Assim, o presente artigo procurará tratar da estru-tura das Escolas do USMC (particularmente das escolas deInfantaria), com as respectivas metodologias aplicadas naformação de seus alunos. Serão abordadas as seguintes es-colas (com as respectivas equivalências no CFN):

– Marine Corps Recruitment Depot (MCRD): formação desoldados (CIAMPA);

– School of Infantry (SOI–East): especialização esubespecialização em Infantaria para diversas graduaçõesde praças (CIASC);

– Staff Noncommissioned Officer Academy (SNCOAcademy): Aperfeiçoamento em aspectos de carreira, con-siderados necessários para as graduações de praças (semequivalência no CFN);

– The Basic School (TBS): E-EGAnf (CIASC);– Infantry Officer’s Course (IOC): Estágio Básico de In-

fantaria (BtlInfFuzNav);– Expeditionary Warfare School (EWS): CAOCFN

(CIASC);– Marine Corps Command and Staff College (CSC): C-

EMOS (EGN); e– School of Advanced Warfighting (SAW): sem equiva-

lência no CFN.Nesse contexto, cabe ressaltar que o Marine Corps

Combat Development Command (MCCDC) é o responsável pelopreparo dos Fuzileiros Navais norte-americanos — Marines— para o combate e pela educação profissional-militar dosoficiais do USMC até o posto de coronel (Marine Corps WarCollege), subordinando todas essas escolas.

Marine Corps Recruitment Depot (MCRD)

Aspectos gerais e organização: Recruit Training RegimentO MCRD é o órgão responsável pela condução do

Recruit Training, curso que pode ser considerado equivalenteao Curso de Formação de Soldados Fuzileiros Navais (C-FSD-FN). Nele, todas as atividades ligadas ao processo deformação dos novos marines estão sob responsabilidade doRecruit Training Regiment (RTR).

O regimento é composto por quatro batalhões derecrutas (Recruit Training Battalion – RTBn) e por um bata-lhão de apoio (Support Battalion – SptBn).

A existência do RTR permite que a totalidade dosaspectos relativos à formação do recruta tenha unidade decomando, proporcionando racional e coerente divisão detarefas de acordo com o modelo de formação em voga noUSMC. É notável a importância que adquire o seguinte fato:a estrutura organizacional do regimento é entendida portodo o pessoal envolvido, sendo claras as atribuições dossetores e a política de pessoal no RTR. Tal fato é alcançadoem razão de dois principais aspectos: o primeiro é a adesãovigilante do comando do regimento à prioridade da ins-trução sobre todas as demais atividades e às normas queregem o emprego dos instrutores; o segundo, a preparaçãoprévia dos instrutores, permitindo-lhes conhecer clara-mente as tarefas que irão desempenhar ao longo do perío-do no qual servirão no Depot.

A visita que deu origem a esta matéria foi realizadano MCRD – Parris Island, que recruta os voluntários dosestados a leste do Rio Mississipi. Nele, a cada semana, umgrupo de recrutas apresenta-se para iniciar o curso, origi-nando nova turma. Assim, tais turmas são conduzidas si-multânea e continuamente, chegando a ser formados maisde 20.000 marines por ano.

Recruit Training BattalionCada um dos quatro RTBn, comandados por tenen-

tes-coronéis, funciona de forma semelhante ao Corpo de Alu-nos no CFN. Conforme pode ser observado no organogramada página 58, eles se dividem em companhias que, por suavez, subdividem-se em duas series, cada uma comportandodois a três pelotões. O comandante da companhia é um capi-tão, assim como normalmente o são os comandantes dasseries. Os instrutores (denominados drill instructors, equivalen-tes aos instrutores do Corpo de Alunos no CFN) acompa-nham os recrutas incessantemente, preocupando-se com opropósito mais amplo de suas tarefas, que é a formação damentalidade militar. A carga administrativa que cabe àscompanhias concentra-se no comando da companhia. Logo,os instrutores podem ocupar-se exclusivamente do acom-panhamento dos alunos, com o comandante da serie dedi-cando-se à supervisão dos instrutores. Destacou-se o fato deque todas as instruções observadas eram acompanhadaspelo menos por um oficial, além de diversos sargentos, tor-nando-se inviável que algum aluno “escapasse” aos olhosatentos da instrutoria. É também relevante afirmar que ascompanhias recebem o aluno “pronto” para iniciar o curso,ou seja, não é tarefa do RTBn o essencial e árduoprocessamento inicial dos alunos.

Drill Instructors conduzindo instrução,sempre com seu tradicionalíssimo chapéu.

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Support BattalionO SptBn apoia a instrução por meio de quatro com-

panhias, todas comandadas por um capitão: três delas di-retamente ligadas aos recrutas e uma que constitui a esco-la responsável pelo curso de formação de drill instructors.Abaixo, um resumo das responsabilidades de cada com-panhia:

– Drill Instructors School: é responsável pelo curso deformação dos instrutores, com duração de doze semanas(são realizadas quatro turmas por ano). A DI School é umaestrutura permanente, cuja missão é a contínua prepara-ção de instrutores ao longo do ano;

– Special Training Company: é responsável pela condu-ção dos assuntos que requerem instrutores que possuamhabilidades específicas, como artes marciais, natação e tiro;

– Instructional Training Company: é responsável pelasdemais instruções acadêmicas, em sua maioria as realiza-das em sala de aula (como Regulamentos, História do USMCe Primeiros Socorros), equivalendo-se aos Departamentosde Instrução no CFN; e

– Recruit Processing Company: é responsável peloprocessamento inicial dos recrutas e pela saída dos desli-gados durante o curso. O processamento inicial dura trêsdias, incluindo o procedimento padrão de recepção aos re-crutas, distribuição de uniformes e equipagens,processamento de documentação e exames de saúde. ARecruit Processing Company resolve todas as pendências ad-ministrativas dos recrutas e os apresenta para os RTBn emplenas condições de iniciarem o curso.

Recruit Training (também conhecido como “Boot Camp”)O Recruit Training é o curso propriamente dito e tem

como propósito formar basic marines por meio de uma mi-nuciosa doutrinação na história, costumes e tradições doUSMC, incutindo nos recrutas os alicerces morais, mentaise físicos necessários para bem servirem ao USMC e ao país.Por basic marines, entende-se fuzileiros navais com treina-mento básico e que fundamentalmente tenham assimiladoos core values (valores essenciais) do USMC. Tal propósito éatingido trabalhando-se sete quesitos, denominados trainingobjectives, os objetivos do curso: Disciplina, Conduta Mili-tar, Espírito de Corpo, Desenvolvimento do Caráter, As-suntos Militares Gerais, Tarefas Individuais Básicas deCombate e Condicionamento Físico.

Ao longo do curso, o aspecto moral, de vital impor-tância, é fundamentado sobre os core values. Estão presentesem todos os momentos da rotina dos alunos: são enfatizadosnas atividades instrucionais, figurando no currículo docurso; estão estampados nas paredes dos alojamentos, re-feitórios, salas de aula, corredores e banheiros; são ensina-dos pelos instrutores em aulas programadas, quando rela-tam aos alunos suas experiências profissionais (normal-mente em combate) e como os core values influenciaram osacontecimentos. Esses valores inegavelmente constituem-se em uma identidade comum dos Fuzileiros Navais nor-te-americanos, um ponto de encontro entre eles, uma ins-piração para superar-se na execução das tarefas difíceis e,ao mesmo tempo, uma razão para se evitar os erros. Elesestão formalmente presentes nos Objetivos Estratégicos

do Recruit Training Regiment, nos quais um dos quatro tópi-cos existentes é o seguinte:

“Incutir em cada recruta os core values de Honra,Coragem e Compromisso por meio do exemplo pessoal edo treinamento formal.”

O desenvolvimento do curso caracteriza-se por re-gime de internato durante doze semanas, dividido em trêsfases, sem qualquer tipo de licenciamento. Tal característi-ca permite que o processo de formação de mentalidade nãoseja interrompido por finais de semana e feriados, gerandodois benefícios principais: o aumento da eficácia do proces-so de formação da mentalidade militar e o encurtamentoda duração do curso.

Quanto à rotina diária, dois detalhes são dignos denota: aos recrutas são invariavelmente destinadas oitohoras para dormir e, aos domingos, é concedido um tempolivre, a bordo, de quatro horas, quando os alunos escrevemcartas, frequentam a igreja ou dispõem de algum tipo derecreação.

Os requisitos curriculares necessários à conclusãodo curso são sete:

– qualificação em artes marciais;– qualificação em tiro;– aprovação no teste de conhecimentos profissionais;– aprovação no teste de aptidão física;– qualificação em natação (inclui natação utilitária);– completar o Crucible; e– passar sem restrições na Inspeção do Comandante do

Batalhão.Note-se que o assunto “ordem unida” não é requi-

sito para aprovação no curso, embora seja atividadecurricular, com carga horária de 45 horas. A responsa-bilidade pelo aprendizado recai sobre a instrutoria, com-prometida em proporcionar que todos os alunos o ad-quiram. A concepção corrente é a de que a ordem unida éconsiderada assunto básico, inevitavelmente assimilável,não necessitando de aplicação de provas. A motivaçãopara o aprendizado tem seu ápice em um torneio entrepelotões.

Estrutura organizacional do RTR até o nível subunidade.

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A FORMAÇÃO DOS FUZILEIROS NAVAIS AMERICANOS 59

Já em relação às atividades curriculares, algumasnão devem deixar de ser mencionadas:

– Confidence Course: pista de obstáculos, construídade madeira e cabos, cuja finalidade precípua é fortalecer aautoconfiança do recruta, uma vez que a transposição exi-ge apurado preparo físico e exercício de coragem. A de-monstração da transposição revelou ser um desafio consi-derável, agregando valor ao processo de formação;

– Crucible: tradicional acampamento de final de curso,com duração de 54 horas. O propósito é explorar e avaliar odesenvolvimento dos aspectos mental, moral e físico do re-cruta, como método para validar sua transformação em ummarine. No aspecto mental, avalia-se a capacidade de agir sobpressão, o uso do conhecimento técnico na solução de pro-blemas práticos em combate e a rapidez de raciocínio. Noaspecto moral, obtém-se o efeito desejado expondo os recru-tas a situações que permitam testar-lhes a honra, a cora-gem, o compromisso e o trabalho de equipe. Já no aspectofísico, exige-se e verifica-se a agilidade, a força, a resistênciae a coordenação motora dos recrutas. No Crucible, o nível destress aumenta proporcionalmente à marcha do tempo, atin-gindo seu ápice no final do evento. Entre as atividades que ocompõem, é muito interessante, e inédita no CFN, uma pistacomposta de diversos eventos nos quais grupos de recrutasdevem transpor obstáculos. Tudo seria muito simples senão houvesse restrições quanto ao movimento sobre eles elimites de tempo para completar a travessia, exigindo paraisso criatividade, preparo físico e esforço coletivo. Tal ativi-dade testa principalmente a capacidade de raciocínio rápi-do e de trabalho em equipe dos recrutas;

– Indoor Simulated Markmanship Trainer (ISMT): simula-dor de tiro. Nele pode ser simulado o emprego de diversasarmas, até mesmo as automáticas. O ISMT garante a reali-dade quanto à empunhadura e peso, além da simulação deruído, pontaria e recuo da arma, podendo ser comprovadona prática do tiro de pistola 9mm e fuzil M-16.

Drill InstructorsDurante todos os contatos realizados por ocasião da

visita e, em particular, na palestra ministrada pelo

subcomandante do Recruit Training Regiment, o drill instructorfoi apresentado como a chave do sucesso do curso. É consi-derado a peça essencial, sem a qual toda a estrutura que oRTR dispõe não seria suficiente para que os propósitos docurso sejam alcançados.

Essa compreensão é fato assimilado pelo USMC efacilmente constatado na simples observação sobre os ins-trutores. Trata-se de militares cônscios da importância doseu trabalho, que encarnam o orgulho e a satisfação profis-sional ao exercerem sua função. Possuem apresentaçãopessoal impecável, elevado preparo físico, conhecimentodos assuntos ministrados no curso e são espelhos vivosdos core values. Paralelamente, o USMC decididamente va-loriza o drill instructor, considerando-o uma verdadeira ins-tituição dentro da instituição, na qual apenas os melhorestêm lugar, com seu trabalho notoriamente reconhecido peloCorpo. Os aspectos relevantes relacionados aos drillinstructors são os seguintes:

A Special Training Company forma instrutores com habilidades específicas, como artes marciais, natação e tiro.

Core Values, presença constante. “Coragem é a determi-nação de fazer o que é correto, independentemente daconduta dos demais.”

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– seleção de instrutores e curso de qualificação: paraalcançar o nível de qualidade desejado, o USMC selecionaos drill instructors (DI) e os prepara com eficácia. Todos osinstrutores são voluntários e rigorosamente selecionados,ocorrendo via de regra mais candidatos do que vagas. Osselecionados são qualificados na DI School (subordinada aoSptBN, conforme citado), onde realizam o curso, que dura12 semanas. Somente após a conclusão deste tornam-seaptos para o exercício das suas atribuições.

O curso de qualificação é composto dos módulospertinentes à instrução dos recrutas, além do adestramen-to em técnicas de ensino. Assim sendo, ensina “o que” ensi-nar (não apenas “como” ensinar) e a forma militar de fazê-lo. Nele, o DI aprende a se portar como instrutor militar(não apenas como um professor), cujo resultado do traba-lho dará retorno ao USMC na forma de competentes novosmarines. O curso, além de proporcionar a necessáriacapacitação aos futuros instrutores (nos campos técnico,moral, físico e mental), também proporciona indispensá-vel padronização de procedimentos e a transmissão, demaneira uniforme e sistemática, de experiências eensinamentos colhidos pelos mais antigos. Cabe reiterarque tudo isso antes de iniciar o exercício da função e dentrodo próprio RTR.

– rodízio de funções de instrutores no Recruit TrainingRegiment: por norma, todo instrutor cumpre um ciclo de trêsanos na função, durante o qual atua intercaladamente entreos Recruit Training Battalions e o Support Battalion. O revezamentoexiste para proporcionar ao instrutor um “descanso” dafunção de drill instructor, que é extenuante física e psicologica-mente, e para contribuir com o processo de formação comoum todo. Somente em casos excepcionais o prazo de trêsanos e o rodízio não são atendidos, respeitando essas regrascomo uma regra em si mesma, o que é deveras relevante,pois traz segurança às praças voluntariadas para a função.O revezamento ocorre da seguinte forma: no primeiro ano, odrill instructor cumpre função em um dos Recruit TrainingBattalions; no segundo, vai para o Support Battalion (onde atuacomo instrutor de sala de aula na Instructional Training Companyou, dependendo de suas aptidões, como instrutor de tiro, deartes marciais ou de TFM, na Special Training Company) e, noterceiro e último ano, retorna ao Recruit Training Battalion. En-cerrado esse ciclo de três anos, o DI é movimentado paraoutra OM do USMC, com prioridade na escolha do seu des-tino. A proporção de instrutores no RTR observa ospercentuais de 75% nos RTBn e 25% no SptBn, o que se ade-qua aos três anos de comissão.

O rodízio propicia ao instrutor entender logo no iní-cio da comissão a rotina e a realidade vivenciadas pelosalunos, ao mesmo tempo em que acumula experiência. Jáno segundo ano, estando em uma das companhias do SupportBattalion, poderá desempenhar suas novas tarefas de for-ma mais eficiente, graças à experiência adquirida. Ressal-te-se que os instrutores do SptBn entrevistados durante avisita foram unânimes em exaltar o rodízio, reconhecendoser necessário um break no período de DI, em razão do des-gaste que a função gera, ao passo que a de instrutoria “aca-dêmica” são menos extenuantes. Por fim, no terceiro e últi-mo ano, retorna ao RTBn como drill instructor, em condições,

mercê dos ensinamentos colhidos, nos dois anos anterio-res, para melhor desempenhar suas tarefas.

– estrutura de trabalho dos DI: é impecável emtermos de meios e instalações. Tais condições, combinadascom a seriedade existente na seleção e qualificação, além dosistemático cuidado no gerenciamento de pessoal, somadoà compensação pecuniária, em torno de US$ 300.00 men-sais, são sinais visíveis da valorização que o USMC dá aseus instrutores.

School of Infantry (SOI)

Missão e organizaçãoA SOI tem como missão conduzir cursos de infanta-

ria, para os privates (marines recém-formados no MCRD) quese especializarão em infantaria; cursos de formação básicade combate, para os privates das demais especialidades; cur-sos avançados de infantaria, para as praças infantes dasgraduações superiores, e estágio de reciclagem, para reser-vistas.

No USMC, as subespecialidades que são objetos deestudo enquanto o militar é private serão continuamenteaperfeiçoadas ao longo da carreira por meio de novos cur-sos, sempre ocorrendo o ciclo “formação ⇒ prática na car-reira ⇒ formação em um estágio superior”. Esse métodorevela uma notável virtude no planejamento de carreiradas praças, uma vez que os cursos não são de longa dura-ção (em média de dois a três meses) e são racionalmenteintervalados ao longo do tempo. Assim, existe a vantagemdo oferecimento de maiores oportunidades para cursar,gerando atualização profissional e ganho motivacional emintervalos de tempo mais curtos.

Especialização para privatesAo término da formação no MCRD, os recrutas são

nomeados privates. Após um licenciamento de 10 dias (bootleave), que se inicia imediatamente após a formatura noMCRD, todos são apresentados à SOI. Pode-se assim dizerque o curso na SOI é praticamente uma continuação doRecruit Training, realizado em outra OM. Chegando à SOI, osprivates que se especializarão em infantaria são incorpora-dos ao Infantry Training Battalion (ITB), enquanto os destina-dos a outras armas apresentam-se ao Marine Combat TrainingBattalion (MCT).

1. Infantry Training BattalionO ITB, comandado por um tenente-coronel, tem

como missão preparar marines de todas as subespecialidadesde Infantaria, tais como Elemento de Infantaria, Metralha-dora, Morteiro e Armas Anticarro, a fim de prover o Corpode elementos capazes de serem desdobrados em qualquerparte do mundo para apoiar as missões do USMC.

O curso tem duração de 59 dias, durante os quaisos private permanecerão ininterruptamente no campo, ondehá estrutura completa para alunos e instrutores. Após umperíodo inicial de instrução comum a todos os infantes,inicia-se o treinamento específico na subespecialidade, queos acompanharão por toda a carreira de praça, em sistemasemelhante ao do CFN.

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A FORMAÇÃO DOS FUZILEIROS NAVAIS AMERICANOS 61

Em relação à instrutoria, a organização é seme-lhante à adotada no MCRD, conforme descrito, seguindo omesmo princípio de que o sucesso da atividade de instru-ção repousa sobre o alicerce de uma instrutoria adequada-mente selecionada, preparada, motivada e com regras cla-ramente definidas.

2. Marine Combat Training BattalionO MCT, comandado por um major, tem como missão

preparar os marines que não são de infantaria, provendo trei-namento básico que os permita serem empregados comorifleman (fuzileiro), em qualquer unidade que possa vir a atu-ar como de infantaria. O conceito amplo é “Every marine arifleman”, ou seja, todos devem ter um conhecimento mínimoque os permita executar tarefas básicas de combate.

O curso tem duração de 29 dias, durante os quais osprivate permanecerão ininterruptamente no campo (o mes-mo onde os componentes do ITB são instruídos). Após o cur-so, todos serão movimentados para cursar suas especiali-dades (previamente designadas no MCRD) em outras OM,enquanto os infantes ainda estarão em pleno curso no ITB.

Aperfeiçoamentos para praças de InfantariaApós a especialização inicial, adquirida no ITB, a

carreira das praças de Infantaria avança balizada por cur-sos que são ministrados no Advanced Infantry TrainingCompany (AITC). Sua missão é prover instrução aos coman-dantes de grupos de combate, seções de metralhadora,morteiro e armas anticarro, auxiliares de pelotões e auxili-ares de seções de operações em táticas, técnicas, procedi-mentos e sistemas de armas orgânicas do Batalhão de In-fantaria, além de conduzir o curso de qualificação para osinstrutores da própria SOI, entre outros.

Staff Noncommissioned Officer Academy (SNCO Academy)

A SNCOA, localizada no mesmo complexo militarda SOI, no Estado da Carolina do Norte, tem a missão depreparar praças para funções de maiores responsabilida-des no USMC, sendo também conhecida como Marine CorpsUniversity. A OM, de aparência impecável, possui uma ca-racterística extraordinária: sua estrutura é totalmente pre-enchida por praças, dirigida por um Sergeant Major.

Os cursos ministrados na Marine Corps University nãopossuem o mesmo caráter técnico-militar relacionado coma especialidade, como os ministrados na SOI. Trata-se decursos que visam a preparar as praças para a vida profis-sional nas graduações superiores, acrescentando uma “cul-tura geral militar” (na falta de termo mais apropriado),que os habilite a desempenhar as funções de maior respon-sabilidade, inerentes às sucessivas promoções. Ao mesmotempo, proporcionam às praças a oportunidade de sereciclar periodicamente, com o salutar contato com ins-trutores que são, primordialmente, líderes exemplares. Nofinal dos cursos, os alunos sentem-se ainda mais motiva-dos a prosseguir na carreira, por perceberem estar maisbem preparados profissionalmente e por terem sido con-tagiados pela vibração transmitida pelos instrutores.

A título de exemplo, serão citados alguns assuntosconstantes dos cursos ministrados na SNCOA, todos comaproximadamente 50% de parte prática, salientando-se aslimitações da tradução dos termos bastante específicos queconstam da apresentação ministrada durante a visita:

– Sergeants Course: possui em seu currículo assuntoscomo Condução de uma Inspeção, Calco de Apoio de Fogo,Ordem Unida com Espada, Inspeções de Pessoal, Pedido deMissão de Tiro, Lições Aprendidas pelo USMC, Teste Físicoe Técnicas de Instrução Militar, entre outros;

– Career Course: aborda Documentos AdministrativosPadrão, Pedido de Missão de Tiro, Liderança, Ordem deOperação, Teste Físico, Agenda Memória, Falar em Público,Sindicância e Inquérito Policial Militar, entre outros; e

Ao centro, o Drill Instructor conduzindo um pelotão.

A SOI está organizada conforme o organograma acima.

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62 O ANFÍBIO • 2009

– Advanced Course: contempla Estudos de Batalha (re-alizados in loco em dois fortes que remontam à Guerra deSecessão), País em Resumo, Monografia Militar, Ordem deOperação, Contraterrorismo em Resumo e Teste Físico, en-tre outros.

Esses cursos duram 33 dias úteis, tendo sido relatadoque a intenção é proporcionar atualização e novos conheci-mentos em curto período de tempo, de forma que as OM nãose ressintam dos longos afastamentos dos militares de suasfunções. A SNCOA também realiza simpósios específicospara praças das graduações superiores, com uma semanade duração, tratando de assuntos de interesse da carreira.

The Basic School (TBS)

O TBS destina-se ao preparo do segundo-tenenteUSMC para o comando de pelotão, com ênfase no treina-mento básico, no desenvolvimento de atributos de lide-rança e de espírito de corpo do USMC.

O curso é conduzido em 26 semanas, com 60% deatividades operativas no campo e 40% em sala de aula,dividido nos seguintes módulos:

– Habilidades Individuais, em sete semanas;– Habilidades do Grupo de Combate (GC), em seis

semanas;– Habilidades do CmtPelFuzNav, em seis semanas; e– Conhecimentos Básicos do GptOpFuzNav, em sete

semanas.Anualmente, são mobiliadas sete companhias de 300

oficiais-alunos, com evidente superposição de atividadesdas turmas. O corpo docente da escola é composto de 131oficiais e 653 praças, basicamente militares com experiên-cia em combate real. Desse efetivo, cabe ressaltar que a Ta-bela de Lotação (TL) prevê um efetivo de 80 Capitães e 2883ºSG, os quais constituem o núcleo do processo de ensino-aprendizagem da escola.

O programa de instrução visa aos seguintes efeitosdesejados:

– aptidão para o oficialato (análise de caráter, capa-cidade de liderança, processo decisório, iniciativa e prepa-ração física e psicológica para o combate);

– ensino da teoria e prática da guerra de manobra;– desenvolvimento de procedimentos técnicos e tá-

ticos padronizados (TTP); e– atualização dos conhecimentos a partir de relató-

rios de atividades em curso (experiências atuais de comba-te no Iraque e no Afeganistão).

O processo de ensino-aprendizagem é fundamenta-do no aconselhamento direto instrutor-aluno e empregaas seguintes técnicas: Leitura Individual, Aula Expositiva,Debates em Pequenos Grupos, Uso de Modelados do Terre-no para Tomada de Decisão e Aplicação Prática no Campo.

A escola estabelece o índice para aprovação em 75%e avalia o aprendizado da seguinte forma:

– Liderança, por meio do desempenho em estudosde caso e pela avaliação subjetiva da instrutoria e dos res-pectivos pares (36%);

– Acadêmica, por meio de 10 provas (32%); e– Habilidades militares, incluindo atividades de

endurance física e tática, realizadas preferencialmente de for-ma inopinada (32%).

Cabe ressaltar que o TBS representa uma parcela doprocesso na formação do oficial, sendo necessário o conhe-cimento profissional para o desempenho do segundo-te-nente no USMC, assim construído:

– Ensino Universitário (nível Escola Naval): 10%;– TBS (nível E-EGAnf): 40%;– Escolas de Especialização (nível Estágios Básicos

das Armas): 25%; e– Unidades Operativas do USMC (nível Batalhão de

Fuzileiros Navais): 25%.

Infantry Officer’s Course (IOC)

O Infantry Officer’s Course destina-se à especializaçãodo Comandante de PelFuzNav, enquadrado no sistema dearmas orgânicas do BtlInfFuzNav.

O IOC é uma OM distinta do TBS, possuindo corpodocente independente. O curso é conduzido em 880 horas(doze semanas), em quatro turmas anuais, 11% com ativi-dades em sala de aula e 89% de atividades operativas nocampo, das quais 342 horas (50%) correspondem ao fogo eo movimento real e 10 horas em exercícios de quadro (semtropa), entre outras atividades.

O programa de instrução enfatiza a tomada de deci-

O esquema acima apresenta resumidadmente o fluxo deformação inicial dos marines.

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A FORMAÇÃO DOS FUZILEIROS NAVAIS AMERICANOS 63

são em nível tático; a preparação física e psicológica para ocombate; o adestramento com as armas orgânicas doBtlInfFuzNav; o treinamento de apoio de fogo e o empregodo PelFuzNav, enquadrado no BtlInfFuzNav.

Expeditionary Warfare School (EWS)

O Expeditionary Warfare School destina-se ao preparodo capitão do USMC para o exercício de funções nos Esta-dos-Maiores (EM) de Marine Air-Ground Task Forces (MAGTF),similares ao GptOpFuzNav. Tem a duração de nove mesese é realizado em uma única turma no ano acadêmico norte-americano (de agosto a maio).

A atividade de ensino do EWS desenvolve-se por meiodos Grupos de Conferência (CG), constituídos por aproxi-madamente 16 oficiais-alunos (OA). Em 2008, o EWS consti-tuiu 15 CG, com 241 OA, composto por 21 oficiais de NaçõesAmigas (ONA), 20 oficiais do U.S. Army, 6 do U.S. Air Force enenhum do U.S. Navy (normalmente participam 1 ou 2 ofi-ciais), cada CG orientado por um major, responsável pelacondução da maior parcela das atividades curriculares,denominado Faculty Advisors (FACAD). Esses oficiais repre-sentam o núcleo do processo de ensino-aprendizagem daescola, selecionados por perfil de carreira e por experiênciano comando de CiaFuzNav em operações reais.

O currículo aloca tempos de aula para que o OA rea-lize a leitura dos assuntos selecionados para o debate orien-tado dos CG, estabelecendo o parâmetro de 1 hora para 20páginas de leitura. Os debates orientados são denominadosseminários, normalmente realizados em períodos de 2 a 3horas nos CG, com constituição fixa durante o ano acadêmi-co. A contribuição do OA nos debates recebe avaliação sub-jetiva do orientador e constitui-se no principal índice para aavaliação do aprendizado em cada módulo, por apresentaro maior peso ponderado na média final do OA.

O EWS estabelece o índice para aprovação em 75%.A base da avaliação é subjetiva, por meio das habilidadespara comunicação oral e escrita, das contribuições dos OAnos debates em seminários, nos respectivos CG, na

performance nos exercícios de campo (Occupational FieldExpansion Course – OFEC) e no desempenho em jogos de guer-ra, em simulações e nos demais exercícios práticos. Tendoem vista a diversidade dos CG, a subjetividade na avalia-ção dos orientadores e a ênfase no desenvolvimento dacapacidade de “pensar criticamente”, o EWS não estabele-ce uma classificação final dos OA, entendendo que o focona classificação individual prejudica uma metodologia queestimule o debate orientado. No final do curso, instrutorese alunos indicam um percentual, limitado a 10% do efetivodos OA, de cada CG, que obtiveram o melhor desempenhoacadêmico, para uma distinção com menção honrosa noencerramento do curso.

O programa de instrução é nucleado em trêsmódulos:

– Comando e Controle (aborda o Processo de Plane-jamento Militar): Warfighting, PPM, Gerenciamento da In-formação e Sistemas de Comando e Controle;

– MAGTAF Operations Ashore: Componentes de Com-bate, Apoio ao Combate, Apoio de Serviço ao Combate eAviação, Concepção da Batalha, Informações Operacionaise Armas Combinadas/Integradas; e

– Naval Expeditionary Operations: Doutrina e Planeja-mentos Anfíbios, MEU Operations (GptOpFuzNav, nívelUAnf) e Preposionamento da Força Naval.

O EWS possui um programa de ensino a distância,denominado non-resident program, estabelecido pelo USMCpara os oficiais com indisponibilidade em realizar o cursosob a forma presencial (resident program). É conduzido pormeio de material acadêmico (livros, manuais, apostilas emídia), fornecido aos os alunos, com realização devideoconferências para debates nos seminários. Cabe res-saltar que o ensino a distancia é desenvolvido por um seg-mento do curso distinto do que conduz o ensino presenciale, para o USMC, equivale ao curso presencial. Porém, ocurso EWS acrescentou que a ênfase do desenvolvimentoda capacidade de “pensar criticamente” torna o cursopresencial preponderante, por privilegiar a comunicaçãodireta entre orientadores e OA.

The Basic School: prepara o segundo-tenente USMC para o comando de pelotão.

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64 O ANFÍBIO • 2009

Command and Staff College (CSC)

O Command and Staff College destina-se ao preparo demajores e capitães-de-corveta do Departamento de Defesados EUA, para desempenho de funções em EM combina-dos, multinacionais ou interagências governamentais, comênfase nos desafios do século XXI, relacionados à seguran-ça nacional. Com duração de dez meses, é realizado emuma única turma no ano acadêmico norte-americano.

A filosofia educacional do CSC é similar à do EWS,com maior destaque na preparação individual e nos deba-tes em CG, visando aodesenvolvimento dopensamento crítico e dacapacidade de julgamen-to dos OA. O gráfico aolado exemplifica a ênfa-se na carga horária dePersonal Study andPreparation Time (PSPT),com o objetivo do prepa-ro do OA para os deba-tes orientados pelosFaculty Advisors. A relaçãode uma hora de PSPTpara cada 20 páginas deleitura é essencial nesseprocesso, sendo o volu-me semanal de aproxi-madamente 300 a 400páginas de livros, manuais ou apostilas para a preparaçãodo aluno. O elevado peso dos debates nos seminários dosCG, em relação à média ponderada das avaliações acadêmi-cas, garante o incentivo necessário ao OA para o fiel cumpri-mento da tarefa de ler, analisar e elaborar a sua visão críticasobre os assuntos a serem debatidos. Cabe ressaltar que as129 horas-aula somente para palestras expositivas eviden-cia a ênfase dessa filosofia educacional para o debate orien-tado, reduzindo o volume de aulas expositivas, por ser con-

siderada a técnica de ensino mais limitada para a produçãodo conhecimento individual e do desenvolvimento da capa-cidade de “pensar criticamente”.

Diferentemente do EWS, os CG são orientados pordois Faculty Advisors, um professor com Doutorado (PhD) eum tenente-coronel ou capitão-de-fragata, pós-graduadono C-PEM ou curso equivalente. Esses orientadores perma-necem fixos para cada CG durante o ano letivo, de modo aampliar a confiança mútua entre instrutores e alunos emelhorar o desempenho e a liberdade acadêmica dos OAna análise crítica e na capacidade de julgamento, nas fun-ções de Comando e EM.

O programa de instrução é nucleado em quatromódulos:

– Warfighting from the Sea (WFTS): análise da doutrinade emprego da MAGTAF em ambiente combinado emultinacional, com ênfase no Marine Corps Planning Process(MCPP), no emprego de Marine Expeditionary Brigade (MEB)em operações anfíbias e emprego de Marine Expeditionary Force(MEF) em contra-insurgência;

– Culture and Interagency Operations (CIAO): visa a am-pliar o conhecimento e a capacidade de análise das diversi-dades regionais culturais que influenciam o emprego dopoder militar no nível operacional, incluindo a análise crí-tica de guerras limitadas, operações de paz e operaçõesmultinacionais;

– Operational Art (OpArt): envolve o estudo da arte eciência da guerra no nível operacional, permitindo o de-senvolvimento do plano de campanha, a partir do estabe-lecimento dos objetivos estratégicos; e

– Leadership Course: programa desenvolvido em para-lelo aos demais módulos.

O CSC também oferece um programa de mestrado,Masters of Military Studies (MMS), em caráter voluntariado,para os OA que mantiverem graus acima de “B”. O proces-so segue estrita aderência às normas de pós-graduaçãonorte-americanas, com base nas seguintes áreas de pes-quisa: Relações Internacionais, História Militar, Liderança,Terrorismo, Insurgência e Contra-insurgência, Teoria Mi-litar, Conflitos Regionais, Segurança Ambiental, DireitosHumanos, Operações de Paz, entre outras. Cabe ressaltarque os programas de mestrado oferecidos aos OA do CSC,assim como do School of Advanced Warfighting e do MarineCorps War College (equivalente ao C-PEM), são exclusivospara o aprofundamento de assuntos de natureza profissi-onal-militar.

O CSC não emprega sistema de pontuação numéri-co para avaliação da aprendizagem. Todo o sistema é sub-jetivo, com avaliações que variam do grau “A+”, máximoaproveitamento, ao “C”, que representa desempenho defi-ciente. Um trabalho com grau inferior a “B” (equivalente a80% de aproveitamento) normalmente requer a repetiçãoda tarefa acadêmica e compromete definitivamente a par-ticipação do OA no programa do mestrado.

A exemplo do EWS, o CSC não estabelece classificaçãofinal entre os alunos, distinguindo os OA com melhor apro-veitamento acadêmico por meio de “menção honrosa”, de-corrente da avaliação subjetiva dos Faculty Advisors e dospares, normalmente limitado a 10% do corpo de alunos.

O Infantry Officer’s Course especializa o Comandante dePelotão de Fuzileiros Navais.

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A FORMAÇÃO DOS FUZILEIROS NAVAIS AMERICANOS 65

O CSC também pode ser realizado em modo de ensi-no a distância, sob a responsabilidade do Security CooperationEducation and Training Center, uma OM independente do CSC.Em relação às desvantagens acadêmicas do programa deensino a distância, cabem as mesmas observações referen-tes ao EWS.

School of Advanced Warfighting (SAW)

A filosofia educacional do School of AdvancedWarfighting difere do EWS e do CSC, no que se refere à ênfasena solução de problemas e na tomada de decisão no níveloperacional, empregando o processo de planejamento mi-litar como ferramenta para a análise de campanhas histó-ricas que contribuam com o desenvolvimento intelectualdos OA. O aluno é submetido a elevado volume de infor-mações, por vezes correspondendo a mil páginas de leitu-ra semanais, a fim de apresentar suas soluções para deter-minado problema. As respostas podem ocorrer sob a for-ma de debate orientado, análise de um plano de campa-nha, decisões em jogos de guerra, elaboração de um sumá-rio-executivo (somente uma folha para argumentação), en-tre outras. No que se refere à relevância dos debates orien-tados em grupos de conferência, o SAW é semelhante aoCSC e EWS.

O SAW é de caráter voluntário, com constituiçãomédia de 24 OA (16 do USMC, 2 da U.S. Navy, 2 do U.S. Army,2 da USAF e 2 ONA). O processo seletivo é semelhante ao depós-graduação, incluindo entrevistas, análise preliminarde tese, desempenho acadêmico no CSC e cartas de reco-mendação de professores com doutorado.

O programa de instrução é nucleado em trêsmódulos: Fundamentos da Arte Operacional, Planejamen-to Operacional e Guerra do Futuro, envolvendo o estudoda capacidade de inovação, adaptação e implementação demudanças do poder militar, com análise de cenários comnovos desafios relacionados à segurança e defesa. À seme-lhança do CSC, o SAW também oferece um programa demestrado, denominado Masters of Operational Studies (MOS).

Conclusão

A “verticalização” de toda a atividade de ensino doUSMC no Marine Corps Combat Development Command facilitaa supervisão da política de ensino e a coordenação neces-sária para escalonar os diversos currículos dos cursos deoficiais e praças do USMC.

Preparar uma tropa profissional requer uma for-mação acadêmica de alto nível. Nesse contexto, o USMCprima por algumas condutas, tais como:

– desenvolver, desde o curso de recrutas, valoresessenciais, tais como Honra, Coragem e Compromisso, deforma a obter uma identidade comum no campo moral;

– selecionar e formar seus instrutores, atendendo auma política específica de emprego desse pessoal, aprovei-tando prioritariamente militares com experiência em com-bate real;

– estruturar seu sistema de ensino, visando propor-cionar que os militares recebam qualificação profissionalcontínua, pautada em reciclagens periódicas, com o objeti-vo de prepará-los para assumir funções de maior respon-sabilidade nas graduações/postos superiores;

– conduzir seus cursos com base em técnicas de en-sino que privilegiam as discussões em grupo, a partir deleituras selecionadas, e as atividades práticas, que contri-buem diretamente para o desenvolvimento da liderançade seus militares; e

– estruturar suas escolas, de forma que organiza-ções de ensino disponham de autonomia, em termos demeios, para a execução das atividades curriculares.

A despeito dos meios de última geração e de umadoutrina em constante evolução, o USMC reconhece que osucesso em uma operação militar está fundamentado nopilar mais precioso, o HOMEM. Desse modo, todas as ativi-dades que envolvem o processo ensino-aprendizagem sãorevestidas de profissionalismo absoluto, conferindo aoUSMC a credibilidade de uma Força Armada respeitável.

SEMPER FIDELIS!ADSUMUS!

O Expeditionary Warfare School prepara o capitão (USMC) para o exercício de funções nos Estados-Maiores de MarineAir-Ground Task Forces (MAGTF), similares aos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais.

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66 O ANFÍBIO • 2009

CC (FN) ANTÔNIO RICARDO ZANYCC (FN) MARCELO DA MOTA XERÉMCC (FN) MARCELO FREIRE LANZAROCC (FN) RUI EDUARDO RODRIGUES FERREIRA

Efetividade

do Processo

Atual de

Avaliação

de Liderança

na Marinha

do Brasil

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EFETIVIDADE DO PROCESSO ATUAL DE AVALIAÇÃO DE LIDERANÇA NA MARINHA DO BRASIL 67

“O dia em que os soldados pararem de trazer-lhe seus problemas significaque você parou de liderá-los. Eles perderam a confiança na sua ajuda ouconcluíram que você não se importa com eles. Em qualquer hipótese,significa falha de Liderança.”

General Collin Powell1

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68 O ANFÍBIO • 2009

Datam de antanho as discussões sobre a Lide- rança e a guerra. Sun Tzu já ponderava sobre o tema em sua A arte da guerra. Há mais de dois mil anos, já apregoava o sábio general chinês:“Trate seus soldados como seus filhos, e eles o

seguirão aos vales mais profundos; trate como seus filhosqueridos, e o defenderão com o próprio corpo até a morte.”(CLAVEL, 2005, p. 73).

Em que pesem as Forças Armadas serem instituiçõestradicionais e ainda bastante respeitadas por diversos seg-mentos sociais e, não obstante, as citações supra, relativas àimportância da Liderança, verificamos, por certo, diversasmazelas em nossa força, algumas das quais serão discorri-das neste trabalho. Na esteira dessa visão, surge umquestionamento sobre a efetividade do processo atual deAvaliação de Liderança na Marinha do Brasil (MB) e se elepermite avaliar, de forma sistêmica, a capacidade de umchefe em influenciar pessoas.

Inicialmente, será apresentado o panorama atual daLiderança na MB. A seguir, o modus operandi da sistemáticavigente de avaliação de desempenho aplicada à MB. A apre-ciação seguinte versará perfunctoriamente sobre a impor-tância da Liderança Servidora e sobre alternativas de Lide-rança. Posteriormente, tratar-se-á da Sistemática de Avali-ação 360 graus, apresentando alguns aspectos relevantes daliteratura atual. Finalmente, uma conclusão sintetizará osprincipais aspectos apresentados, no intento de se obter res-postas aos questionamentos apresentados anteriormente.

Visão atual da Liderança na MB“O verdadeiro líder fica definido com a significação

de dois vocábulos apenas: exemplo e justiça. Com exemplo ejustiça, o chefe pode ordenar, certo de que será obedecido,mesmo com o sacrifício da vida” (Gen. Ex. AYROSA, 1985,apud BAHIENSE, 2003, p. 5).

Excetuando-se os casos de Liderança nata, sabe-seque o desenvolvimento desta é viável e factível:

“[...] a Liderança deve ser entendida como um pro-cesso dinâmico e progressivo de aprendizado2 o qual, desen-volvido nos cursos de carreira e no dia-a-dia das OM, traránão só evidentes benefícios às organizações, como tambémem muito contribuirá para o sucesso profissional individu-al [...]” (BRASIL, 2004, p. 1-1).

As profundas e rápidas transformações por que pas-sa a sociedade contemporânea impõem às instituições a ne-cessidade de atualização e de adaptação, para que possamalcançar seus objetivos em um mundo globalizado, marca-

do por uma intensa competitividade (GUIMARÃES FILHO,2007).3 Nesse contexto “a importância da Liderança foi reco-nhecida com a elaboração da Doutrina de Liderança da Ma-rinha [...]” (NOBRE, 2005, p. 161). Refere-se Nobre à elabora-ção do EMA-137.

No programa Netuno,4 ela é considerada um funda-mento: “A alta administração serve de exemplo para todos,por meio do comportamento ético [...], desenvolvendo umsistema de Liderança em todos os níveis, capaz de manter oengajamento das pessoas na causa da organização” (BRA-SIL, 2006b, p. 10).

A Marinha do Brasil define Liderança como “o pro-cesso que consiste em influenciar pessoas no sentido de queajam, voluntariamente, em prol dos objetivos da Institui-ção”. Fica evidenciado, pela definição, que a Liderança incluinão só a capacidade de fazer um grupo realizar uma tarefaespecífica, mas, sobretudo, executá-la de forma voluntária[...]. (BRASIL, 2004, p. 1-2, grifo nosso).

A ORCOM-2008 estabelece em sua diretiva P-7, Lide-rança, as tarefas de “reforçar em todos os níveis hierárqui-cos o culto ao exemplo; incentivar a delegação de autorida-de e, em decorrência, a iniciativa, e manter os subordinadossempre bem informados sobre as principais questões e me-didas adotadas”. (BRASIL, 2008, p. 13, grifo nosso).

Sua importância é inegável: “O exercício de Lideran-ça pode significar a diferença entre a vitória e a derrota,mesmo em um cenário no qual as operações militares sevalerão de complexa e avançada tecnologia bélica” (BRASIL,2004, p. 2-2).

Um dos pilares da Liderança é o exemplo: “Não hánada que se exija tanto de um líder quanto dar o exemplopessoal, ou seja, o exemplo do seu comportamento, pleno devalores inerentes à ética militar, aceitos e respeitados pelogrupo” (BRASIL, 2004, p. B-1).

Nesse sentido, Bahiense5 afirma que:“Alexandre ‘O Grande’, os vários Césares do Império

Romano, Napoleão Bonaparte, Almirante Barroso [...], den-tre outros tantos, muitos dos quais anônimos, também têmespaço reservado neste rol de grandes líderes da Humani-dade. Cada um, a seu modo, destacou-se na arte de influen-ciar pessoas para conquistar objetivos traçados. [...] nãohá nada que inspire mais um soldado do que o exemplode um verdadeiro líder a seu lado” (BAHIENSE, 2003, f. 7,grifo nosso).

Ele acrescenta:“Não obstante, independentemente das soluções que

possam vir a ser adotadas, é crucial que a Marinha incentive

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EFETIVIDADE DO PROCESSO ATUAL DE AVALIAÇÃO DE LIDERANÇA NA MARINHA DO BRASIL 69

a Liderança, sobretudo pelo exemplo, em todos os níveis deantiguidade, não como solução paliativa para os problemasexistentes, mas como a única forma de manter o moral, acoesão e o espírito de corpo do seu pessoal [...]” (BAHIENSE,2003, f. 54, grifos nossos).

Nesse sentido, o EMA-137 prevê:“A todo o momento, o Líder é observado por seus

subordinados e conquista deles a confiança, o respeito e aadmiração. Nesse processo, o Líder deve ser um modelo paraseu pessoal, mas precisa ser cauteloso para não se excederem estabelecer padrões muito além do desejável e até doexequível” (BRASIL, 2004, p. B-1).

Segundo Abreu (2005, p. 40) “desde jovem o indiví-duo busca modelos e, se o modelo oferecido for distorcido,terá uma percepção distorcida do mundo que o cerca [...]”.Por outro lado, Assis (2003, p. 63) considera que “os mausexemplos são também valiosos [...], revelando aos observa-dores os caminhos que não devem ser seguidos”.

No entanto, esse pilar está sendo negligenciado naMB. Entre os oficiais da Marinha, que deveriam ser os pri-meiros a buscar a Liderança pelo exemplo, vemos, não empoucos casos, aqueles que se apresen-tam acima do peso, com índices do Tes-te de Aptidão Física (TAF) muito próxi-mos do mínimo e sem qualquer preocu-pação com sua habilidade em atirar. Issoé um reflexo da falta de obrigatoriedade,posto que não é requisito de carreirapara os oficiais os itens citados. Cobra-se das praças, mas não dos oficiais. So-mente as praças devem se preparar parao combate? Evidentemente que não. Isso,por si só, já seria suficiente para enfra-quecer a Liderança. Principalmente nocaso dos oficiais Fuzileiros Navais. Nãoé admissível que um comandante nãotenha condições físicas para acompa-nhar sua tropa e liderá-la em combate.Para minimizar esses problemas, bas-taria uma mudança de comportamento dos oficiais da MB,cumprindo os preceitos já definidos no EMA-137.

No Exército Brasileiro (EB), respeitadas as diferenças,além de esses itens serem requisitos de carreira, os oficiaisainda realizam exames de coeficiente de gordura e avaliaçãovisual, inclusive de silhueta. Tal aspecto conduz a uma pre-ocupação constante com os índices de TAF, incrementando ahigidez física e orgânica, trazendo benefícios pessoais e paraa instituição. Esse modelo também é adotado no “United StatesMarine Corps” (USMC).

Como enfatiza Rodrigues (2007, p. 5-6)6:“A frase ‘faça o que digo, não faça o que faço’, não é

adequada para o meio militar. Um dos maiores fatores dedesmotivação de uma tropa é justamente uma Liderançaque prega, mas não faz, que destaca a importância da qua-lidade, da pontualidade, do foco no resultado, mas não apli-ca tais fatores, apenas cobra dos outros” (grifos nossos).

No entanto, além do tiro e do TAF, outros exemplosnegativos enfraquecem a Liderança. Pode-se citar o fato deoficiais estarem deixando de participar de adestramentos

básicos, tais como pistas de tiro instintivo, tiro de combate,entre outras, enquanto suas frações os realizam, e a evasãocrescente de oficiais que passam em concursos públicos, per-niciosa em virtude da preparação intensa em detrimentodas tarefas e das responsabilidades cotidianas. Some-se aisso a falta de experiência dos oficiais mais modernos,potencializada pelo exercício de funções incompatíveis comsuas antiguidades, ocasionada pela falta de pessoal. Isso seevidencia quando um segundo-tenente exerce a função decomandante de companhia, sem nunca ter exercido as de-mais funções que a precedem. Percebe-se que a busca pormodelos, apregoada por Abreu (2005, p. 40), torna-seinexequível, em virtude da inexistência destes.

Existe ainda um fator de difícil percepção e controle. É adenominada Liderança negativa. Pessoas com alto potencialde influenciação sobre outras e que a utilizam em prol de seuspontos de vista e opiniões. Os setores nos quais estão esseslíderes tendem a trabalhar de modo autônomo. Há alguns es-tudos a respeito e já existem disponíveis questionários, para seidentificar esse tipo de conduta, que podem ser implantadosnas OM. Ao serem respondidos, possibilitam ao comandante

perceber e evitar tais desvios, incluindo-os em debates ou em reuniões. Não cabe-riam punições ou alterações de funções,posto que dificultariam a realização depesquisas futuras e possibilitariamdistorções de cunho pessoal.

Atual Sistemática deAvaliação de Liderança naMarinha do Brasil

“[...] o desempenho do militar noexercício da Liderança deverá ser alvode contínua avaliação ao longo da car-reira, constituindo requisito de funda-mental importância para a sua ascen-são e para sua inclusão nos processos deseleção de importantes comissões. A Li-

derança deve ser considerada, sempre, como um dos princi-pais aspectos da avaliação [...]” (BRASIL, 2004, p. 3-5).

A Sistemática de Avaliação de Liderança na MB tempor objetivo motivar os militares na busca pela Liderança emensurar a presença dos principais atributos7 dos líderes.

Nesse sentido, no Programa Netuno, o critério Lide-rança possui o seguinte requisito: “A alta administração ana-lisa criticamente o desempenho global, por meio de indica-dores ou outras formas de monitoramento, sendo definidasações corretivas e de melhoria, quando necessário” (BRA-SIL, 2006b, p. 20).

Com base na DGPM-313 (Normas para Avaliação eSeleção de Militares, Quota Compulsória, Cômputo e Regis-tro de Tempos), cap.1 e 2, essa avaliação processa-se, para osoficiais, em situações específicas, por meio da Folha de Ava-liação Complementar (FAC),8 mas, em regra, pela Folha deAvaliação de Oficiais (FAO). Essa ferramenta é caracteri-zada por ser uma avaliação top-down,9 preenchida se-mestralmente pelo comandante do militar avaliado(BRASIL, 2001, p. 1-1).

Existe ainda um fator dedifícil percepção e

controle. É adenominada Liderançanegativa. Pessoas com

alto potencial deinfluenciação sobre

outras e que a utilizamem prol de seus pontos

de vista e opiniões.

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No que concerne às praças, existe somente umaespécie de avaliação que se efetiva com o preenchimen-to, pelo encarregado do militar, da Folha de Respostasda Escala de Avaliação de Desempenho (EAD) que, noaspecto geral, comporta critérios mais objetivos do queas avaliações dos oficiais.

Problemas na Sistemática de Avaliação de Liderançana MB e sugestões de alteração

A sistemática de avaliação de desempenho, empre-gada no âmbito da MB, retrata a opinião de uma só pessoa,desconsiderando o ponto de vista dos demais integrantesda OM, sejam mais antigos ou mais modernos, além do pon-to de vista do próprio avaliado. E quem melhor para emitiropinião sobre a Liderança do que os liderados. Como se dizno jargão de Marinha, pode-se enganar para cima e talvezpara os lados, porém para baixo (os mais modernos), não hácomo enganar. Isso elimina a característica sistêmica do pro-cesso, já que os stakeholders,10 que deveriam participar do pro-cesso, não o fazem.

A única exceção a essa opinião ve-rifica-se no caso da FAC, que visa “[...]identificar o conceito do oficial, em umafaixa selecionada de oficiais mais antigos”(BRASIL, 2001, p. 2-1). No entanto, umproblema existente na confecção da FACé a falta de contato dos oficiais mais anti-gos, a qual se refere a citação anterior, como avaliado. A maioria nunca serviu como avaliado, tendo sido a Escola Naval oúltimo contato entre eles. Isso, via de re-gra, impõe que o avaliador faça contatoscom outros oficiais, a fim de obter refe-rências para basear sua avaliação, possi-bilitando distorções de variados tipos.

Da análise da FAO, verifica-segrande subjetividade, traduzida na fal-ta de critérios que orientem o avaliadorno escalonamento das notas dos atributos, constantes nositens 7.0, conceito moral, e 8.0, conceito profissional. Os atri-butos estão descritos no Capítulo 1 da DGPM 313, mas nãohá menção de como graduá-los, para cumprir oescalonamento de 0 a 10, previsto na FAO. Esse problema éminimizado na EAD, visto estarem descritos esses critériosno campo orientação para a nota, anexos F, G e H daquelemanual (BRASIL, 2001). Deveria ser criado um Anexo AA àDGPM-313, denominado orientação para a nota, no qual se-riam descritos os diversos níveis de desempenho, com seusrespectivos graus, para cada atributo dos itens 7.0 e 8.0.

Deveriam ser introduzidos dois campos de avaliaçãona FAO/EAD, referentes ao Tiro e ao TAF dos oficiais e praças,nos mesmos moldes do EB e USMC. O resultado de ambosteria peso na avaliação e, por conseguinte, seria objeto decuidado por parte de militares interessados em suas carrei-ras. Isso contribuiria para a correção da falta de exemplo,analisada no capítulo anterior. A pontuação deve ser pro-porcional ao resultado obtido pelo militar na última avalia-ção de tiro e TAF. Nesse sentido, deveria ser criada uma ta-bela em que os valores seriam retirados diretamente peloavaliador, podendo-se aproveitar as tabelas existentes no

Anexo M do CGCFN 101 (BRASIL, 2006a, p. M-2 a M-4). Essatabela seria incluída como o Anexo Z da DGPM 313.

Na FAO, não existe um atributo que meça a capacida-de de influenciação do líder sobre seus liderados. A inclusãodesse atributo, associada à definição de critérios para gra-duar sua avaliação, tornaria mais eficiente e eficaz a atualSistemática de Avaliação de Liderança na MB. Atualmente,a falta de Liderança é um fator demeritório, demonstrandouma inversão de valores, pois quem possui Liderança nãorecebe avaliação, deixa de perder pontos. Esse fatordemeritório deveria ser retirado da FAO.

O atributo caráter, constante do item 7.0, conceitomoral da FAO, deveria ser uma exceção à proposta ante-rior de graduação, visto não existirem valores intermedi-ários para esse atributo. A nota deveria ser 0 ou 20, au-mentando-se o peso de sua avaliação pela importânciadesse atributo. Este é definido no EMA-137 como a “somatotal dos traços de personalidade [...] e tem por base aética, a integridade, a honestidade, o respeito e a confian-

ça, [...]” (BRASIL, 2004, p. A-1, grifosnossos). Esse atributo deveria serdesmembrado em três, no EMA, cri-ando-se os atributos honestidade e éti-ca, em razão de serem fundamentais eespecíficos. Essa dissociação advém dofato de que pessoas mal-intenciona-das, que não se preocupam em preju-dicar outras pessoas para atingir seusobjetivos, nem sempre se utilizam demeios lícitos para seus intentos. Nes-se sentido, deveria ser alterado oEMA-137, em seu Anexo A. A ética,atualmente, já é avaliada separada-mente do caráter na FAO. Esse atribu-to deveria adotar critério de pontua-ção idêntico ao sugerido para o cará-ter. A falta de honestidade, por outro

lado, deveria ser incluída na FAO como fator demeritório.As definições do Anexo A do EMA-137 não são utili-

zadas em sua plenitude para descrever os atributos do capí-tulo um da DGPM 313. Existem definições diferentes paraum mesmo critério. Além disso, nem todos os atributos dolíder são avaliados na FAO. A inclusão destes e a padroniza-ção de conceitos proporcionariam maior abrangência e me-lhores condições para uma avaliação justa e objetiva.

O exemplo, basilar para a Liderança, não é avaliadona FAO (BRASIL, 2004, p. 1-9). Além disso, atributos como opróprio exemplo, o conhecimento profissional, a iniciativa ea capacidade de influenciação, por serem considerados fun-damentais ao exercício da Liderança, deveriam ser avalia-dos com peso maior do que os demais atributos, recebendograus de 0 a 20. A bondade, definida na EMA-137 como “pre-ocupação com o bem-estar pessoal e profissional dos lidera-dos” (BRASIL, 2004, p. A-1), também não é avaliada na FAOe poderia ser incluída. Expandir os atributos dos itens 7.0 e8.0, incluindo aqueles constantes do Anexo A do EMA-137,tais como autoconfiança, tenacidade, compostura, bonda-de, dedicação e desprendimento. O atributo disponibilida-de/interesse pelo serviço, da FAO, deveria ser substituído

A periodicidade daavaliação poderia seralterada de semestral

para anual. A expansãodesse período permitiria

ao avaliado exercerplenamente sua

Liderança, além deabranger um ciclo

completo deadestramento.

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EFETIVIDADE DO PROCESSO ATUAL DE AVALIAÇÃO DE LIDERANÇA NA MARINHA DO BRASIL 71

pelos de dedicação e desprendimento, em atenção ao conti-do no Anexo A do EMA-137 (BRASIL, 2004).

Todos os atributos com pontuação 0 a 20 teriam suasnotas multiplicadas por dois, quando esta fosse retirada doAnexo AA da DGPM 313.

O item 9.0 apresenta outra falha, pois não possuium campo para se descrever as tarefas atinentes ao cargoou função exercido pelo oficial avaliado. Estas deveriamser retiradas pelo avaliador da Organização Administra-tiva e de Combate ou do Regimento Interno da OM à qualpertence o avaliado.

Mesmo as EAD apresentam problemas. O conceitoadvindo da EAD é graduado de 1 a 5, dificultando a diferen-ciação das praças em razão de ser obrigatório o uso de nú-meros inteiros. Deveria ser adotada pontuação de 1 a 10,facilitando a diferenciação de praças.

Outro problema é que os itens avaliados são insu-ficientes para diferenciar as praças de uma OM, pois nãolevam em consideração a distinção de tarefas inerentes àsfunções exercidas por eles. Podem ser citados como exem-plos os itens 11, manter-se agindo de forma adequada emuma situação de emergência; 13, resistir fisicamente aocansaço; 15, adaptar-se aos diferentes tipos e situações detrabalho e às condições desfavoráveis; 17, demonstrarhabilidade ao utilizar equipamentos/instrumentos, e 22,conduzir um grupo de forma a alcançar os objetivos esta-belecidos, previstos na EAD para suboficiais e sargentos(SO/SG). Nesses itens, as praças que trabalham em fun-ções administrativas não podem ser avaliadas da mesmaforma que praças exercendo funções operativas. Os itens11, 13 e 17 estão previstos também na EAD para cabos oumarinheiros especializados. Verifica-se a complexidadedo problema uma vez que as especificidades de cada fun-ção dificilmente conseguirão ser analisadas e compara-das com as de outras funções.

Outra dificuldade observada na EAD é a subjetivida-de de alguns itens, que também dificultam a diferenciaçãodos militares avaliados. Podem-se citar os itens inspirar con-fiança nos superiores e improvisar na solução de problemas.Além disso, poderiam ser incluídos novos itens, em gradaçõesdiferentes para cabos, sargentos e suboficiais, referentes aoexercício da Liderança e aos atributos do líder, nos mesmosmoldes das sugestões da FAO, pois essas praças exercem, emdiferentes níveis, Liderança sobre determinados grupos.

Esse problema de subjetividade, em que pese sua com-plexidade, pode ser minimizado, observando-se o exemplode outras forças. Um deles é o USMC, que utiliza a avaliaçãotop down, realizada anualmente. No entanto, diversos aspec-tos existentes nas Folhas de Avaliação de Oficiais e Praças(USMC FITNESS REPORT- FITREP) retratam preocupaçõesconstantes, na redução de apreciações subjetivas, entre asquais se pode citar:– resultado de TAF;– desempenho de tiro (pistola ou fuzil, conforme a funçãodo militar);– peso, altura e gordura corporal;– descrição do cargo (no qual são relacionadas as tarefasatinentes à função, espelhando os parâmetros operacionaise administrativos a serem atingidos);

– resultados alcançados (apresentando os resultados obti-dos pelo militar, aferidos durante o desempenho de suasatividades);– recomendação para promoção, atribuída de forma maisobjetiva (SIM ou NÃO); e– Liderança avaliada de diversos ângulos: Liderança sobreos subordinados; desenvolvimento dos subordinados; ofe-recer o exemplo; assegurar-se do bem-estar dos subordina-dos e capacidade de comunicação.

A periodicidade da avaliação poderia ser alterada desemestral para anual. A expansão desse período permitiriaao avaliado exercer plenamente sua Liderança, além deabranger um ciclo completo de adestramento.

Aprimorar o sistema de avaliação no que tange à ava-liação paralela (FAC). Isso será melhor analisado no capítulocinco quando será apresentada uma nova metodologia deavaliação da Liderança, na qual a FAC poderia ser extinta,substituída por avaliações similares, realizadas no âmbitoda OM do avaliado.

Alternativas de Liderança“Aquele que leva as pessoas a fazerem a sua vontade

por meio da coerção, por causa de sua força ou posição, nãopode ser considerado líder, mas apenas indivíduo detentorde poder” (HUNTER, 2004, p. 26).

Um conceito relevante é o de Liderança Servidora,percebida como importante instrumento modificador docomportamento organizacional.

Esse conceito (Servant Leadership) foi apresentado inici-almente por Robert K. Greenleaf, em sua obra The Servant asLeader, publicada em 1970. James Hunter11 (2004, apud MAIA,2004, p. 25, grifo nosso)12 descreve o fenômeno como a “habi-lidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasti-camente, visando atingir os objetivos identificados comosendo para o bem comum”.

Para Greenleaf13 (1970, apud GUSMÃO, 2005),14 a for-mação do líder servidor pressupõe uma mudança interior,de modo a levar à incorporação de cinco atitudes:

1) Ouvir sem julgar [...]. 2) Ser autêntico: conhecer-see admitir que possui limitações fará com que os lideradosrespeitem e confiem no líder; 3) Ter senso de comunidade:desenvolver na equipe um ambiente de camaradagem [...];4) Partilhar poder: não apenas delegando, mas também per-mitindo que se tomem iniciativas e decisões e 5) Valorizar odesenvolvimento das pessoas.

Corroborando o pensamento de Greenleaf, Hunter(2004, p. 39) afirma:

“O adjetivo servidor, associado à Liderança, é deri-vado do fato de que essas qualidades ou comportamentosdos líderes se manifestem em benefício dos liderados. Deveo líder servidor identificar e satisfazer as necessidades legí-timas de seus liderados para cumprir a missão da organi-zação” (grifos nossos).

Outro exemplo de comprovação dos benefícios daLiderança Servidora para a organização é o posicionamentode Maia:

“É vital que o líder faça com que seus subordinados sesintam importantes, úteis, que fazem parte de algo primo-roso e que são valorizados, respeitados e reconhecidos. Des-

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sa forma, o líder servidor estará de fato satisfazendo as ne-cessidades legítimas de seus liderados, conduzindo-os paraa excelência” (MAIA, 2006, p. 10).

Visto por esse prisma, ao listar as 11 qualidades dolíder servidor,15 James Hunter inclui a honestidade e o bomexemplo, aspectos fundamentais no exercício da Liderança.Nota-se que o exemplo é uma constante em todos os tipos deLiderança.

Outra lição importante é a realização periódica de reu-niões de orientação, nas quais o líder demonstra claramentesuas intenções e objetivos, permitindo a troca de informações,além da melhoria na comunicação entre líder e liderados.

Verifica-se que a valorização do subordinado, incen-tivando-lhe a iniciativa, o crescimento profissional e pesso-al e a busca por um clima de cooperação são essenciais nesseconceito. Segundo Peter Druker: “A função das organizaçõesé desenvolver o talento de seus recursos humanos” (infor-mação verbal).16

Um método que está sendo experimentado por algu-mas empresas é o da avaliação contínua. Uma página inter-na da empresa é disponibilizada com questionários, quepodem ser preenchidos por qualquer pessoa, mensalmente,de modo a manter uma constante avaliação dos líderes.

Um método já utilizado em empresas privadas é o daauto-avaliação. Nele, o avaliado preenche um questionáriono qual responde sua opinião sobre sua atuação como líder.No entanto, depende muito da imparcialidade e da honesti-dade de propósito do líder.

Outro método que tem se popularizado nas empre-sas dos EUA e da Europa é a chamada Avaliação 360º. Essaferramenta consiste em um processo dinâmico, fácil de apli-car, sigiloso e com credibilidade, realizado entre profissio-nais pertencentes ao mesmo círculo de influência, isto é:superiores, parceiros, subordinados e o profissional em foco.

Análise da Avaliação 360 graus“Devemos tudo o que somos ou o que esperamos

ser aos nossos subordinados. Afinal, são os nossos subordi-nados, não os nossos superiores, que nos elevam aos maisaltos padrões de profissionalismo, e são eles que podem (e ofarão, se formos merecedores) enterrar-nos na mais profun-da desonra” (EUA, 1999, grifo nosso).

Histórico e caracterização da sistemáticaO Feedback 360 graus, também conhecido como Avali-

ação 360 graus, Avaliação Multivisão ou Feedback com Múlti-plas Fontes é um instrumento que tem por objetivo apoiar odesenvolvimento e melhoria de desempenho gerencial. Tra-ta-se de um processo no qual os participantes do programarecebem simultaneamente feedback estruturados de seus su-periores, pares, subordinados e outros stakeholders, além deuma autoavaliação do participante. Os resultados são con-fidenciais: a pessoa que recebe os feedback não sabe quema avaliou e somente ela terá acesso ao resultado integral daavaliação.

Objetivos da Avaliação 360 grausA literatura empresarial apresenta os seguintes obje-

tivos mais representativos do Sistema de Avaliação 360 graus:

– identificar e desenvolver competências e comportamen-tos de uma pessoa;– aumentar a comunicação entre os membros da equipe;– promover o treinamento e a reciclagem dos empregados; e– apoiar os processos de promoção dos empregados.

Acerca dos objetivos de tais sistemáticas, desta-cam-se os seguintes, colocados pela Professora e Consul-tora Maria Inês Felippe (2008):17 estabelecer o que é espe-rado de cada colaborador, com base na descrição e análisedo cargo que ocupa; prover um esquema de acompanha-mento e aconselhamento para o colaborador, no qual teráoportunidade de conhecer seus pontos fortes e fracos, re-forçando seu bom desempenho e procurando corrigirsuas deficiências; e estabelecer metas e novas conquistascom base nos objetivos organizacionais.

No que concerne aos aspectos que se constituem ofoco das avaliações de desempenho, ela os define como:“adaptação no cargo; melhoria no desempenho e comunica-ção chefia/colaborador” (FELIPPE, 2008).24

Vantagens e pressupostos para a aplicação do MétodoNo que concerne à discussão acerca das vantagens de

aplicação da Sistemática de Avaliação 360 graus, Felippe(2008)25 assim os descreve:

Vantagens:– possibilita resultados mais confiáveis e isentos de influên-cias pessoais;– possibilita a visão da performance do avaliado sob diferentesângulos;– promove maior aceitação, pois os colaboradores perce-bem como um processo mais justo e confiável;– possibilita um maior controle da coerência do avaliadornos diferentes pareceres que emite.

Ela estabelece os seguintes pressupostos acerca dessaaplicação:– elaboração mais clara da análise e prática na descrição decompetências;– comunicação assertiva das competências a serem avalia-das;– base de dados informatizada que viabilize o processo egaranta o sigilo;– administrar conflitos se as pessoas não estiverem prepa-radas para o processo;– desenvolver estratégia de apuração dos resultados, poisela é mais complexa; e– apresentar gráficos/ relatórios para o feedback do colabo-rador.No entanto, Felippe apresenta uma série de questionamentosa respeito da viabilidade de implantação desse sistema:– a empresa está madura para um processo de avaliaçãonesta complexidade?– como está a maturidade das chefias e subordinados paraum processo 360 graus?– será que não vale a pena começarmos pelo modelo tradici-onal, buscando uma maior complexidade?– será que não vale a pena sair do modismo e praticar aavaliação de desempenho com maior segurança favore-cendo atingir os objetivos a que se propõe? (FELIPPE, 2008,grifos nossos).18

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EFETIVIDADE DO PROCESSO ATUAL DE AVALIAÇÃO DE LIDERANÇA NA MARINHA DO BRASIL 73

Corroborando e complementando o posicionamentosupra, verificamos o comentário contido na literatura em-presarial:19

“Para que isso [sistema 360 graus] seja possível, aempresa deve ter uma série de ferramentas. É importanteque as competências requeridas de cada um sejam não sóclaras, mas também comunicadas de maneira objetiva.[...] Durante o processo, o maior desafio é evitar conflitos,pois toda avaliação submete os empregados a estresse. [...]A Avaliação 360º requer maturidade das chefias e subordi-nados, sistemas de coleta e análise de dados que garantamo sigilo e objetivos futuros claros” (O MOMENTO, 2008,grifos nossos).

Do exposto acima, percebemos que a aplicação da Sis-temática Multivisão conduz a diversas vantagensorganizacionais, tais como a avaliação dos atributos da Li-derança por óticas diferentes e resultados isentos de influ-ências pessoais, permitindo o aperfeiçoamento individualdo principal recurso de que dispõem as organizações — oelemento humano.

Finalmente, Felippe (2008)26 des-taca que “muitas empresas esquecemuma etapa fundamental do processo queé o treinamento de dar e receberfeedback” (grifo nosso).

Viabilidade de aplicação do Méto-do na MB

Para a avaliação 360° ser efetiva epermitir o cumprimento dos propósitosa que se destina, faz-se necessária a des-crição de metas dos cargos e dos objeti-vos organizacionais e institucionais cla-ros (a MB caminha nesse sentido ao cri-ar o Programa Netuno). Isso se relacionaà redução do caráter subjetivo da avali-ação. Sem conhecer os objetivosorganizacionais, como poderia umstakeholder avaliar alguém, caso lhe fosse questionado sobre oalinhamento do avaliado para esses objetivos? Sem haver odimensionamento de metas, como alguém poderia ser ava-liado sobre sua capacidade em atingi-las?

Segundo entrevista realizada com o ex-comandan-te da Estação Rádio da Marinha, em Salvador, e do NavioPatrulha Guaratuba, o Método 360 graus é válido e perti-nente para a MB visto haver sido implantado com sucessodurante seus dois comandos. Segundo ele, por um lado suaspraças sentiram-se motivadas por participarem do pro-cesso de Liderança e terem suas opiniões valorizadas. Poroutro, os oficiais apresentaram visíveis melhorias no de-sempenho em razão de se encontrarem sob constante ava-liação e pelo conhecimento obtido a respeito da opinião deseus subordinados. Essa ferramenta também possibilitouuma autoavaliação mais consciente à medida que estabe-leceu critérios para orientar essa prática (FELIX, 2008).

Existem opiniões contrárias, nas quais foi dito que acultura brasileira não concebe a avaliação por um subor-dinado: “Não é de nossa cultura aceitarmos isso.” “Seriauma temeridade acharmos que um subordinado poderia

emitir sua opinião sobre um mais antigo, sem medo deretaliações, mesmo que coletivas” (PRADO, 2008). Alémdisso, poderia ser considerado como censurar atos de su-perior, art. 7º, item 2 do Regulamento Disciplinar da Mari-nha (RDM) (BRASIL, 2003, p. 8).

No que concerne à alegação de que em razão de ahierarquia ser um dos pilares das Forças Armadas e que aLiderança Situacional20 seria o apanágio para os desvios noexercício da Liderança, rebatemos com a argumentação deque a opinião dos oficiais do CEMOS-2008 é justamente ocontrário. Em pesquisa realizada no mês de julho de 2008,foi verificado que 85,3 % dos oficiais gostariam de saber oque seus subordinados pensam a seu respeito e 88,23% gos-tariam de saber o que seus companheiros de Praça D’Armaspensam a seu respeito.

Quando perguntado se faria questão de saber quesubordinado preencheu o questionário, 82,35% responde-ram que não. Além disso, 86,76% dos pesquisados respon-deram que, exercendo o cargo de comandante, gostariam de

receber as opiniões dos subordinados.O resultado mais significativo da

pesquisa ocorreu quando foi pergunta-do se, ao saber de uma opinião negati-va dos subordinados, o oficial tentariamelhorar; 94,12% responderam quesim, evidenciando a validade e a im-portância dessa ferramenta na MB embusca do desenvolvimento profissional.

Na pesquisa, surgiram opiniõescontrárias ao Sistema de Avaliação 360graus:

“A maior dificuldade seria fazercom que os subordinados não levassemo assunto para o lado pessoal.” “Em ra-zão da hierarquia, fica difícil o fluxo deconhecimento na MB.” e “O que fazer,por exemplo, se os oficiais avaliassemseu Imediato com pontuação muito bai-

xa? Vamos desembarcá-lo e colocar outro na função? E sobreo Comandante?” (ZANY, 2008).

Proposta para implementação do Método na MBApesar de sua validade, os problemas citados ante-

riormente para sua aplicação impõem que esse método te-nha de ser adaptado à realidade da MB.

Um aspecto importante é o treinamento de líderese liderados no preenchimento e recebimento dos questio-nários de avaliação, de modo a possibilitar maior com-prometimento de ambos os lados e evitar conflitos, inclu-sive reduzindo a possibilidade de os subordinados levaremo assunto para o lado pessoal. A elaboração de questionári-os objetivos, sem espaço para emissão livre de opiniões, re-duz essa possibilidade.

No entanto, para minimizar os problemas citados,poder-se-ia mesclar o método da avaliação contínua com ade 360º, além de incluir conceitos da Liderança Servidora.

Nesse sentido, seria disponibilizada durante o anointeiro uma página na Intranet, na qual haveria um questi-onário de avaliação a ser respondido por qualquer militar

A sistemática deavaliação de

desempenho, empregadano âmbito da MB, retrata

a opinião de uma sópessoa, desconsiderando

o ponto de vista dosdemais integrantes da

OM, sejam mais antigosou mais modernos, além

do ponto de vista dopróprio avaliado.

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da OM. Os questionários respondidos seriam remetidos aosetor de pessoal, onde seriam armazenados e, no final dosemestre, gerariam uma nota que seria somada à avaliaçãodo militar. Uma cópia do questionário seria enviada simul-taneamente ao militar avaliado para que ele pudesse corri-gir qualquer distorção percebida ao analisar a visão dos su-bordinados a seu respeito.

Outra prática a ser adotada pela MB é a realização dereuniões obrigatórias de orientação em todos os níveis, tan-to para líderes como para liderados, nas quais seriam expos-tas as “regras do jogo”, dúvidas poderiam ser sanadas e asopiniões dos subordinados seriam apreciadas.

Porém, para a implantação dessas mudanças na Sis-temática de Avaliação de Liderança na Marinha, faz-se ne-cessário um crescente de ações, possibilitando uma mudan-ça gradual, sem choques ou alterações radicais que possamprejudicar o processo.

Propõe-se a divisão da implantação dessametodologia em três fases:– treinamento de líderes e de liderados, para o preenchi-mento dos questionários de auto-avaliação e avaliação dechefes e recebimento dos feedback;– implantação inicial, em caráter experimental, sem valida-de formal para o conceito, que seria obtido pela antiga siste-mática;– implantação final do método, incorporando os resultadosobtidos às notas relativas à FAO/EAD.

Após a implantação do método, deverá ser realizadoum acompanhamento constante do processo, avaliando-o ecomparando-o ao antigo método top down utilizado, verifi-cando-se a necessidade de atualização e de aperfeiçoamentoda nova metodologia.

ConclusãoApós a análise realizada, percebe-se que a atual Siste-

mática de Avaliação de Liderança na MB não tem aefetividade adequada, necessitando de aprimoramentos. Seucaráter subjetivo dificulta a avaliação da capacidade doslíderes em influenciar os subordinados, bem como a depen-dência de uma única opinião, a do comandante, retira desseprocesso o caráter sistêmico desejável.

Verifica-se que é possível se aprimorar a atual siste-mática, por meio de alterações nos critérios adotados na FAO/EAD, incluindo-se a avaliação do TAF e do Tiro; descrevendocritérios de graduação para os itens 7.0 (Conceito Moral) e 8.0(Conceito Profissional); inserindo-se como atributos a capaci-dade de influenciação, bondade, exemplo, dedicação, despren-dimento e tenacidade; atribuindo-se pontuação 0 ou 20 paraos atributos caráter, ética, capacidade de influenciação, inici-ativa, conhecimento profissional e exemplo; alterando-se oconceito dos praças para a escala de 1 a 10; incluindo-se adescrição dos cargos e os resultados alcançados e alterando-se a periodicidade das avaliações para anuais.

Constata-se que são necessárias mudanças mais pro-fundas, mesclando-se a metodologia top down, empregadaatualmente, à 360 graus e à Liderança Servidora, a fim demotivar líderes e liderados na busca pelo desenvolvimen-to pessoal. Para tal, faz-se necessária a criação de questio-nários online de auto-avaliação e de avaliação contínua dos

líderes pelos liderados, bem como a criação de reuniões deorientação, gerando resultados mais confiáveis e isentosde influências pessoais. Sugere-se uma implantação gra-dual para se evitar choques.

No entanto, esse é um tema muito complexo, sendonecessário um estudo mais profundo que permita a avalia-ção de todos os vieses relevantes. Logo, este trabalho nãotem a pretensão de esgotar o assunto, devendo ser incenti-vado o debate e a apresentação de novas ideias, a fim depossibilitar o aprimoramento constante da Sistemática deAvaliação de Liderança na MB.

Entretanto, a valorização do subordinado e de suasopiniões, a autocrítica dos oficiais e sargentos que exercemfunções de Liderança, a busca por uma melhor comunica-ção entre chefe e subordinado e aperfeiçoamento dos atribu-tos físicos e morais necessários ao exercício da Liderança sãomedidas que podem ser adotadas de imediato, antes mesmode qualquer alteração na sistemática de avaliação, uma vezque dependem muito mais da vontade pessoal do que demecanismos de motivação.

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1 Original em inglês. Disponível em:www. chally.com/enews/powell.html.2 Para Gardner (1990, p. 76), embora algumas característicassejam determinadas geneticamente, como a energia física,por exemplo, a maioria dos atributos necessários ao exercí-cio da liderança pode ser aprendida.3 www.egn.mar.mil.br/biblioteca/monocemos.htm.4 Buscando atualizar seu sistema de gestão, a MB implantou,em 2007, o Programa Netuno, adequando o sistema adotadopelo Governo Federal, por meio do GESPÚBLICA, à culturalnaval. (BRASIL, 2007b, p. 3)5 www.egn.mar.mil.br/cepe/trabCurriculares/lideranca.pdf.6 http://www.egn.mar.mil.br/biblioteca/monocemos.htm.7 Autoconfiança, capacidade de decisão, flexibilidade, cará-ter, competência, compostura, coragem, dedicação, despren-dimento, discrição, entusiasmo, exemplo, imparcialidade,iniciativa, motivação, respeito e tato são exemplos dessesatributos, listados no Anexo A do EMA-137 (BRASIL, 2004, p.A-1 – A-3).8 A FAC é um documento regulamentar, que serve de basepara complementar a avaliação dos oficiais. (BRASIL, 2001,p. 2-1).9 Avaliação realizada pelo chefe ou superior diretamentesobre o subordinado. Disponível em: www.via6.com/topico.php?tid=109999&uid=jaqs.10 Stakeholders – partes envolvidas em um projeto (SÉLLOS,2005, p. 4).11 HUNTER, James C. O monge e o executivo: uma históriasobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.12 www.egn.mar.mil.br/biblioteca/monocemos.htm.13 GREENLEAF, Robert K. The Servant as Leader. USA, PaulistPr.: 1970.14 www.albertoclaro.pro.br/noticia.asp?codigo=511&cod_menu=110.15 Qualidades do líder servidor: honestidade; bom exemplo;cuidado; compromisso; bom ouvinte; confiável; respeitadore encorajador das pessoas; entusiástico e positivo; gostardas pessoas (HUNTER, 2004, p.32).16 Dados retirados da palestra do ex-Ministro do Planejamen-to João Paulo dos Reis Veloso, proferida em 28 de julho de2008, na Escola de Guerra Naval.17 www.mariainesfelipe.com.br/artigos/artigos.asp? regis-tro=47.18 www.mariainesfelipe.com.br/artigos/artigos.asp? regis-tro=47.19 www.serhcm.com/noticia/21/avaliacao-360-graus-transfor-mando-o-feedback-em-pratica.20 Para diferentes situações, o estilo de liderança a ser exer-cido deve ser distinto. O êxito do processo está pautado napercepção do ambiente (grau de maturidade/prontidão dogrupo) e na capacidade de adaptação do comportamento doLíder para atender às necessidades dos seus liderados (BRA-SIL, 2004, p. 1-5).

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E

NOS CURSOS DE APERFEIÇOAMENTO E ESPECIALIZAÇÃOEM INFANTARIA DO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

OPERAÇÕES MILITARESEM ÁREAS URBANAS

“A pior política é atacar as cidades...Ataque somente quando não houver alternativa.”

Sun Tzu

CC (FN) GILMAR DIOGO GUEDES

m estudos divulgados pela ONU, no ano de 2025 cerca de 60% da populaçãomundial estará concentrada nas cidades. Em virtude do crescente processode urbanização, será cada vez mais frequente o emprego de forças militares

em epicentros políticos, econômicos, sociais e culturais em todo o mundo. A reali-dade é que muitas das operações militares, se não todas, serão conduzidas emarredores ou no interior de áreas urbanas. O controle de grandes áreas urbanasserá crítico nos futuros conflitos para a consecução dos objetivos táticos,operacionais e estratégicos. Aliado a esses fatores, boa parte das cidades estálocalizada próxima ao mar, tornando os litorais cada vez mais urbanizados, coma possibilidade real de ocorrência de Operações Militares em Áreas Urbanas du-

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rante as Operações Anfíbias. Logo, faz-se necessário o desenvolvimento de umadoutrina para os Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais, bem como o apri-moramento da instrução e do adestramento específico para esse tipo de operação.O combate em área urbanizada apregoa o planejamento centralizado e execuçãodescentralizada, implicando um treinamento voltado para desenvolver a iniciati-va individual e o trabalho em pequenas frações, os quais precisam ter rapidez,agressividade, coordenação e controle das ações, além de sincronização no uso dosmeios disponíveis. As técnicas e táticas individuais de combate, aliadas ao usocorreto da iniciativa, influenciam sobremaneira no desenvolvimento do combate,pois nenhum tipo de confronto depende tanto do desempenho individual quantoaquele em área urbanizada. Em virtude da descentralização das ações militaresnesse ambiente operacional, cada vez mais o indivíduo deve ser preparado para ocombate urbano.

Exemplos históricosAlguns exemplos históricos serão comentados sobre como o preparo indivi-

dual e de pequenas frações influenciaram o desfecho dos combates. Serão aborda-dos dois exemplos. O primeiro tratará de uma comparação entre dois episódios dahistória dos Fuzileiros Navais norte-americanos: as Batalhas de Huê, na Guerra doVietnã, e de Fallujah, no Iraque. O segundo, das condutas das forças russas echechenas durante a Primeira Guerra da Chechênia, em 1994.

Norte-americanosDurante a Guerra do Vietnã, na chamada Ofensiva do Tet, em 1968, houve

um episódio típico de Operações Militares em Áreas Urbanas, ocorrido na cidadede Huê, onde Fuzileiros Navais norte-americanos sofreram pesadas baixas quan-do tiveram de reconquistar a cidade em questão, tomada por forças norte-vietnamitas e por guerrilheiros vietcongues.

Naquela situação, as forças norte-americanas, operando em ambientes ru-rais e de selva já havia cerca de três anos, depararam-se com uma situação que nãoestavam habituadas: o combate urbano. Contudo, onde as forças já estavam acos-tumadas a operar, a realidade era diferente, sendo alguns equipamentos de prote-ção individuais descartados por causa do peso e do calor causado pela selva. Oinimigo também se comportava de forma diferente, utilizando mais táticas deemboscadas e de lançamento de armadilhas em vez do enfrentamento direto. Po-rém, em Huê, o inimigo atacou com um efetivo de três batalhões, apoiados porartilharia, de forma coordenada, buscando o enfrentamento direto, tornando asituação diferente. Essa rápida mudança de cenário operacional e da postura ini-miga não foi acompanhada a tempo por uma mudança doutrinária, ocasionandoum resultado penoso para os norte-americanos, com cerca de duzentos militaresmortos e centenas de feridos em quase um mês de combate.

Esse trágico desfecho da Batalha de Huê foi o resultado da falta de doutrinaespecífica para operações urbanas, de equipamentos apropriados e principalmen-te de treinamento das tropas nesse ambiente. Huêfoi um marco para as forças norte-americanas,influenciando o destino da guerra e acarretandomudanças doutrinárias profundas nos procedi-mentos a serem adotados em operações urbanas.A partir daí, as forças norte-americanas percebe-ram a necessidade de se aprimorar nesse tipo decombate, principalmente na definição de umadoutrina específica, na pesquisa de armamentose em equipamentos adequados ao ambiente ur-bano e, especialmente, no treinamento para as tro-pas a pé, de infantaria ou de apoio. Isso porquetodos se envolveriam naquele tipo de ambiente eprecisariam de treinamento específico para traba-lhar em conjunto, pois se havia evidenciado paraos norte-americanos que as pequenas frações a pé

A partir de Huê (Vietnã), asforças norte-americanasperceberam a necessidadede se aprimorar nasoperações urbanas.

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bem treinadas e com procedimentos doutrináriosbem definidos seriam fundamentais para o desfe-cho dos combates. Hoje em dia, 40 anos após a Guer-ra do Vietnã, percebe-se uma grande evolução emtodos os aspectos nas forças norte-americanas, par-ticularmente nas tropas em ação no Iraque. A utili-zação de armamentos modernos de última geração,associados a um sistema de Comando e Controle (C2)eficaz, promove uma significativa vantagemtecnológica. Entretanto, a maior evolução verifica-se nas ações efetuadas pelas tropas a pé, que tive-ram procedimentos individuais e de pequenas fra-ções desenvolvidos e padronizados. Novos equi-pamentos de proteção individual foram produzi-dos, como coletes e capacetes balísticos; equipa-mentos de visão noturna, que boa parte dos mili-tares possui; lunetas, desenvolvidas para diver-

sos tipos de armamentos individuais e coletivos; equipamentos de comunica-ção individuais, entre outros.

Para atingir esse nível operacional, as tropas norte-americanas, desdesua formação básica e no preparo para emprego no Iraque, receberam treina-mento baseado em experiências vividas em situações de combate. Em razãodessas vivências, setores doutrinários desenvolvem, modificam e padronizama todo tempo procedimentos a serem adotados, mormente os individuais. Di-ante de tudo o que foi visto, nota-se uma grande preocupação com o indivíduo,com seu preparo e qualificação. A evolução doutrinária dos EUA nas OperaçõesMilitares em Áreas Urbanas foi comprovada durante o combate ocorrido emFallujah, no Iraque, em 2004, quando os norte-americanos realizaram uma gran-de operação para controlar a cidade e, no seu término, tiveram cerca de vintemortos e dezenas de militares feridos, em um dos piores episódios ocorridosdesde a invasão ao Iraque, em 2003. Esses números poderiam ter sido superio-res se não houvesse ocorrido uma evolução nos procedimentos adotados pelosmilitares e nos equipamentos de proteção individual. Comparando-se os epi-sódios, percebe-se um adestramento das forças norte-americanas, pois houve-ra duzentos mortos, em Huê, e vinte, em Fallujah.

Russos x ChechenosOutro episódio da história militar recente foi o combate em Grozny, capital

da Chechênia, na invasão russa, em 1994, que visava a impedir a independênciadaquela República, integrante da Ex-União Soviética. Na Batalha de Grozny, umadas piores ocorridas no século XX, houve milhares de mortos, entre russos echechenos.

Em dezembro daquele ano, uma força militar russa, numérica etecnologicamente superior, invadiu Grozny, com milhares de soldados e centenasde blindados, baseando-se no Princípio da Massa, e presumiam tornarem-se vito-riosos. Todavia, o terreno urbano comprovou que essa concentração de forças nãoera suficiente para a vitória, pois não havia doutrina específica nem preparo depequenas frações para operar naquele ambiente. Isso se deveu ao fato de as tropasrussas operarem boa parte do tempo embarcadas em viaturas blindadas, despre-zando o princípio básico de apoio mútuo entre os carros e as tropas a pé, demons-trando completo despreparo para o combate, principalmente o urbano.

Do lado checheno, ocorreu o contrário. Com uma força inferior, porém comconhecimento do terreno, com motivação em defender a cidade a qualquer custo,com tropas a pé organizadas em pequenas unidades dotadas de lança-rojões (RPG),metralhadoras e fuzis e, principalmente, com uma doutrina bem definida para ocombate urbano, infligiram um elevado número de baixas nas forças russas. Comessa organização, os chechenos conseguiram, durante um dos combates ocorridosna invasão, destruir cerca de cem blindados russos, de um total de cento e vinte,pois tinham conhecimento de que eles possuíam limitação de elevação nos seus

As baixas americanas emFallujah (Iraque) poderiam ter

sido maiores se nãohouvesse ocorrido uma

evolução nos procedimentosadotados pelos militares e

nos equipamentos deproteção individual.

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armamentos e, aproveitando-se disso, atacaram,a partir de andares altos dos edifícios, os primeirose os últimos carros, prendendo os blindados e im-pedindo-os de manobrarem. Em seguida, investi-ram sobre os demais carros e a infantariaembarcada.

Nos primeiros dias da invasão, cerca de doismil militares russos haviam sido mortos. Entremuitas, algumas lições podem ser comentadas so-bre as experiências observadas durante a Guerrada Chechênia. Os russos fundamentaram-se emsua superioridade numérica de pessoal e de mate-rial; porém, em terreno urbano, esse diferencial nu-mérico não surtiu grande efeito. Cerca de dois anosdepois, assinaram um tratado de paz e retiraram-se, com aproximadamente sete mil e quinhentosmilitares mortos e milhares de feridos. Por outrolado, o combatente checheno, apesar de numericamente inferior, estava determi-nado, conhecia bem o terreno e, principalmente, possuía uma doutrina específicaem guerrilha urbana, com pequenas frações bem treinadas, requisitos decisivospara a vitória.

Percebe-se que, tanto no caso norte-americano como no checheno, o preparoindividual e de pequenas frações foram fatores fundamentais para a vitória noscombates urbanos.

BrasileirosE o Brasil, onde se encaixa no cenário de combate urbano? Faz parte da sua

realidade? É necessário pensar sobre isso nas Forças Armadas (FA)? E para a Mari-nha do Brasil. É importante abordar esse tema? E para os Fuzileiros Navais, qualseria sua postura diante dessa situação? Qual seria a importância de se estudar otema Operações Militares em Áreas Urbanas nas Unidades de Ensino do CFN?Uma resposta a essas questões seria que o Brasil tem aspirações internacionais,como a intenção de tornar-se membro permanente no Conselho de Segurança daONU. Também possui um vasto patrimônio energético a ser defendido. Aliado aesses fatores, existe o provável emprego de suas FA em apoio aos governos Federale Estaduais em ações de segurança pública, como o prestado nas últimas eleiçõesmunicipais na Cidade do Rio de Janeiro, onde militares das FA foram empregadospara assegurar o processo e, como parte dessas operações de Segurança Pública,Fuzileiros Navais também participaram, ocupando comunidades dominadas porfacções criminosas. Outro fator relevante é a divulgação no mundo das riquezasenergéticas brasileiras, em um momento de estudo de fontes alternativas, e o Paísé detentor de boa parte delas, como é o caso do biodiesel e do etanol. Recentemente,a descoberta de novas reservas de petróleo, na denominada Amazônia Azul, moti-vou o Governo brasileiro a avaliar a capacidade dissuasória de suas FA, particu-larmente a Marinha, como força fundamental para a defesa daquela área. Paralela-mente a essas situações de emprego de militares, o Brasil vem atuando junto àONU, com envio de observadores militares e tropas para vários países, como nasmissões no Timor Leste e, mais recentemente, no Haiti. As situações expostas ante-riormente obrigam as FA, especialmente a Marinha, a estar mais bem preparadaspara a defesa das reservas energéticas brasileiras, atuar em operações coordena-das por organismos internacionais, como a ONU, e participar em situaçõesemergenciais de Segurança Pública. Nessa conjuntura de provável emprego dasFA, deve-se considerá-lo também em áreas urbanas.

Para utilização das reservas existentes na Amazônia Azul, as cidades lito-râneas exercem um papel fundamental, pois boa parte da estrutura de exploraçãoencontra-se em terra, como as cidades da Bacia de Campos, no Litoral Norte doEstado do Rio de Janeiro. Portanto, a Marinha, com o emprego de Fuzileiros Navais,necessita estar preparada para ser utilizada na garantia dessa estrutura.

Nas participações da ONU, como no Haiti, bem como no apoio aos gover-

Em Grozny (Chechênia), astropas russas operaramembarcadas em viaturasblindadas, demonstrandocompleto despreparo parao combate urbano.

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nos Federal e Estaduais, como nas eleições na Cidade do Rio de Janeiro, os militaresatuarão primordialmente em áreas urbanas. Nota-se, portanto, a importância dotreinamento para o emprego nesses locais; logo, a Marinha, com os Fuzileiros Na-vais na execução das tarefas em terra, necessita estar preparada.

Diante de tudo o que foi exposto sobre Operações Militares em Áreas Ur-banas, é fundamental que haja uma abordagem minuciosa pelos Fuzileiros Navaissobre o tema em suas organizações de ensino, particularmente nos cursos de Aper-feiçoamento e Especialização em Infantaria, de onde sairão os futuros integrantesde pequenas frações e seus líderes, essenciais ao sucesso dessas operações em queFuzileiros Navais se fizerem presentes.

Cursos de Aperfeiçoamentoe Especialização em Infantaria

Breve históricoAté 2005, os alunos dos cursos de Infantaria praticamente realizavam uma

única atividade prática, externa ao CIASC: o exercício realizado na Ilha daMarambaia, denominado COROEX — Exercício de Coroamento. Em 2006, intensi-ficaram-se as instruções práticas externas além da COROEX, realizadas inicial-mente pelos alunos do Curso de Aperfeiçoamento em Infantaria, na região deSeropédica; contudo sem instruções específicas sobre operações urbanas.

Em Itaoca, com envolvimento de dois cursos, foram realizadas várias ati-vidades, inclusive instruções sobre Operações Militares em Áreas Urbanas. Caberessaltar que, em 2006, os alunos dos Cursos de Especialização e Aperfeiçoamentoem Infantaria ainda realizaram a COROEX. Esse início de atividades externas foifundamental para uma mudança mais acentuada no ano seguinte.

Em 2007, foram intensificadas as atividades práticas externas, quando,pela primeira vez, realizou-se um exercício prático externo, entre outras instru-ções, com duração de uma semana, ministrado em Seropédica, orientado para oCurso de Especialização em Infantaria, com oficinas especificamente sobre Opera-ções Militares em Áreas Urbanas. Nelas, os instruendos executaram vários proce-dimentos nos quais se pôde verificar considerável interesse dos discentes. Os alu-nos do Curso de Aperfeiçoamento também realizaram semanas depois tais ativi-dades, entretanto, exigindo-se mais no aspecto da liderança, fundamental requisi-to para as Operações Urbanas.

Em outubro de 2007, foi realizado em Itaoca, como Exercício Final da Esco-la de Infantaria, uma atividade, com duração de uma semana, direcionada para asOperações Militares em Áreas Urbanas, nas quais os alunos dos cursos de Aperfei-çoamento e de Especialização puderam operar em conjunto, de acordo com a orga-nização tática de uma CiaFuzNav. Tais instruções foram ministradas por milita-res oriundos dos batalhões de Infantaria em conjunto com instrutores da Escola deInfantaria, detentores de alguma experiência na área. Percebeu-se, no entanto, queas instruções ficavam de certa forma incompletas, em razão da falta de padroniza-ção de procedimentos, bem como da insuficiência de instrutores. Para preencheressas lacunas, durante o primeiro semestre de 2008, foram pesquisadas váriasformas de se preparar militares para conduzir tais instruções. Instituições civis emilitares foram avaliadas e verificou-se que nas próprias fileiras do CFN existiammilitares capacitados para tais encargos, com experiências em missões reais noHaiti e habilitados em cursos realizados na Swat, os quais já haviam aplicado astécnicas apreendidas na realidade de emprego dos Fuzileiros Navais. Contava-setambém com militares que haviam participado de intercâmbios com Marines, naArgentina e no Chile, onde foram realizados exercícios em áreas urbanas e aplica-ção de técnicas já implementadas no Iraque. Em razão desses conhecimentos, osmilitares, foram destacados no CIASC como instrutores e, em julho de 2008, nointervalo entre o término do Curso de Formação e Habilitação a Sargentos e o iníciodos Cursos de Aperfeiçoamento e Especialização, foi realizado um adestramento,com duração de duas semanas, visando capacitar instrutores da Escola de Infanta-ria sobre o tema Operações Militares em Áreas Urbanas. No estágio, foram minis-

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OPERAÇÕES MILITARES EM ÁREAS URBANAS 81

tradas instruções de Entrada e Revista de Comportamentos; Saque e Troca de Car-regadores; Posições de Portabilidade do Armamento (Sul, Meia Guarda,Vasculhamento e Ataque); Visão Focal e Periférica; Trabalho em Duplas/ET/GC;Patrulhamento Ostensivo em Áreas Urbanas; Patrulhamento e Progressão em Áreasde Risco; Transição de Armas; Retirada de Feridos em Área de Risco; Tomada deEscadas, Ponto Cego, Ângulo Morto e Movimentos Retrógrados de Retraimentosob Pressão. Como atividades práticas, foram realizadas a pista de tiro na área do3°BtlInfFuzNav e, finalizando o adestramento, uma prática na cidade de Seropédica,com duração de dois dias. Dessa forma, conseguiu-se padronizar procedimentos ecapacitar militares a ministrar as instruções nos Cursos de Aperfeiçoamento eEspecialização em Infantaria.

Os cursos atuais da Escola de InfantariaAtualmente, desenvolve-se nos Cursos de Aperfeiçoamento e Especialização

em Infantaria uma intensificação de instruções sobre as Operações Militares emÁreas Urbanas, visando atingir um alto grau de preparação, a fim de que os alunosaperfeiçoem seus conhecimentos técnicos para exercerem a liderança de fraçõessob sua responsabilidade, tanto em exercícios quanto em situações reais de comba-te, realizados pelos Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais. Essas opera-ções tendem a descentralizar o comando, exigindo que os comandantes de peque-nas frações (até o nível GC e ET) tenham iniciativa e capacidade de tomar decisõesque, se corretamente empregadas, podem conduzir ao sucesso da ação, ou casocontrário, colocar seus subordinados em risco. Para isso, necessita-se de umamobilização intensa na obtenção de conhecimentos dessa área específica, em umterreno relativamente novo a ser explorado pelo CFN. Como principal fonte deconsulta, é utilizado o conteúdo disponibilizado nos manuais da série CGCFN denúmeros 1103 - Manual do Combatente Anfíbio; 1201 – Manual para Instrução deFundamentos das Operações Terrestres de Fuzileiros Navais; 1203 - Manual paraInstrução do Pelotão de Fuzileiros Navais e, mais – especificamente, o 3100 - Manu-al de Operações em Áreas Urbanas. Paralelamente, são consultadas revistasespecializadas que contêm atualizadas informações sobre o tema, com respaldo deespecialistas de todo o mundo no assunto analisado. Também são acessados sitesdiversos na Internet que, pela riqueza de imagens e de informações em meio digital,facilitam a confecção de material didático como meios auxiliares nas aulas. Sãoanalisadas experiências vividas nos conflitos da Segunda Guerra Mundial, doVietnã, de Angola, do Líbano, da Somália, da Chechênia, do Iraque, entre outros,além de filmes e de documentários. Cabe ressaltar que, na fase de planejamento dasinstruções, todo material colhido eestudado, após ser avaliado, torna-se valiosa fonte de conhecimento. Sãotambém utilizadas, como fonte parasimulações de combate, imagens decenas capturadas de jogos virtuaistemáticos, que representam quaseperfeitamente situações de combateem áreas urbanas. Após a consolida-ção de tais conhecimentos, chega-se auma segunda etapa do planejamen-to, que é a escolha da maneira maisdinâmica de se transmitir essas in-formações e a confecção do materialdidático. Encerrada essa fase, inicia-se a execução, na qual, primeiramen-te, o assunto é ministrado teorica-mente em salas de aula, de acordo comdiretrizes estabelecidas pela Direto-ria de Ensino da Marinha, baseadasnos currículos dos cursos. Em segui-da, iniciam-se as instruções práticas,

Alunos do Curso deAperfiçoamento emInstrução de Tomada deEsquina utilizam oSimulador Tático deInfantaria a Laser.

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sempre tão aguardadas pelos alunos,realizadas em várias etapas. É impor-tante ressaltar que os instruendos dosCursos de Aperfeiçoamento e Especi-alização recebem as mesmas instru-ções, diferenciadas pelo nível de co-mando nos quais estão inseridos,como comandante de Esquadra deTiro, para aqueles do Curso de Espe-cialização, ou como comandante deGrupos de Combate, para osinstruendos do Curso de Aperfeiçoa-mento.

Na primeira etapa do curso, re-alizou-se a Pista de Combate em Lo-calidade, nas instalações do2°BtlInfFuzNav, consistindo em cons-truções similares às encontradas emáreas urbanas. Nela, os obstáculos fo-ram estudados individualmentepara que os alunos iniciassem afamiliarização com o ambiente urba-

no. Contou-se também com uma equipe de instrutores do 2°BtlInfFuzNav, a qualministrou instruções de Tomada de Esquinas, Subida em Escadas, pequenas Entra-das em Compartimentos, Posições de Tiro e Transposição de Obstáculos.

A segunda etapa consistiu na realização de tiro real na Área de Adestra-mento de Tiro, localizada no 3°BtlInfFuzNav. Trata-se de um dos mais eficazestreinamentos realizados por um Fuzileiro Naval, com simulação de alguns obstá-culos e abrigos encontrados em áreas urbanas, permitindo que os alunos atuemem conjunto, utilizando munição real e acarretando considerável aprimoramentoprofissional na formação do infante.

A terceira etapa foi realizada na Área Edificada do Campo de Instrução doGericinó (CIGER), com instrução prática mais completa, em virtude das maioresdimensões do terreno, que proporcionaram maiores dificuldades para a progres-são e conduta. Nessa atividade, foi enfatizada a Entrada em Compartimentos, oVasculhamento e Pedido de Apoio, priorizando-se a liderança, o comando e o con-trole exercidos pelos comandantes de pequenas frações. Também foram aborda-dos aspectos como Posições de Corpo de Armas; Setores de Tiro; Comando porGestos; Progressão em Espaços Reduzidos; Progressão em Vielas e, finalmente, foirealizado um exercício, com emprego de figuração inimiga, em área dotada deconstruções com aclive acentuado, visando a imprimir dificuldades que poderãoser encontradas no cenário urbano. Essa prática, com duração de oito horas, foiexecutada por uma turma de alunos por dia, pois, dessa forma, consegue-se enfatizaros aspectos individuais que, posteriormente, serão observados e corrigidos.

No Município de Seropédica, foi realizada, em uma semana, uma instruçãoprática, separadamente, pelos Cursos de Aperfeiçoamento e de Especialização emInfantaria, na qual os instruendos foram submetidos a oficinas sobre Ofensiva;Defensiva; Patrulhas e Operações Urbanas, executadas no interior da cidade emquestão, em terreno com dimensões reais, habitantes, veículos, excelente topogra-fia, quadras bem definidas e ruas projetadas, para que eles pudessem perceber acomplexidade do combate urbano.

Nesse contexto, as exigências foram muito mais acentuadas, pois os milita-res estavam inseridos em uma cidade, com seus habitantes, exigindo-se, portanto,imensa atenção e preocupação, pois caso o combatente se encontrasse em situaçãoreal deveriam ser evitados a qualquer custo danos à população civil. No fim dasemana de instrução, foi apresentado um tema tático sobre Operações Militaresem Áreas Urbanas, no qual existe a possibilidade de se colocar em prática todo oconhecimento adquirido, particularmente aquele afeto às operações urbanas. Nes-se estudo, foram expostas situações fictícias, com intensos confrontos contra uma

A mentalidade da Escolade Infantaria é diluir oconhecimento sobre

Operações Militares emÁreas Urbanas dentro dos

Cursos de Infantaria. Assim,formaremos militares com

mentalidade e preparopara o combate urbano.

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OPERAÇÕES MILITARES EM ÁREAS URBANAS 83

figuração inimiga, nas quais foramtestadas várias possibilidades deengajamento, visando a avaliar ograu de aprendizado dos alunos. Par-ticularmente, nesse adestramento emSeropédica, no período de realizaçãoexecutado somente pelo Curso deAperfeiçoamento em Infantaria,pôde-se contar com um importantealiado no aprimoramento das técni-cas empregadas em áreas urbanas.Foi utilizado pela primeira vez o Si-mulador Tático de Infantaria a Laser(STIL). Esse equipamento gerou rela-tórios e estatísticas que contribuírampara a avaliação da aprendizagem,a visualização e a correção de errosde conduta individual.

No Município de Marataízes,foi executado um exercício no terre-no, com duração de uma semana, ex-clusivamente sobre Operações Mi-litares em Áreas Urbanas, com os alunos dos Cursos de Aperfeiçoamento e Especi-alização em Infantaria trabalhando em conjunto. Foram organizados taticamenteem CiaFuzNav e submetidos a oficinas sobre Checkpoint; Patrulha motorizada ePatrulhamento a pé em áreas urbanas organizadas e desorganizadas. No final dasemana, foi apresentado um tema tático sobre Operações Urbanas Ofensivas, noqual foi destacada a limpeza da área urbana, uma das três fases básicas de umaOperação Urbana Ofensiva que são: o Isolamento, o Avanço e a Limpeza. Os alunosdo Curso de Aperfeiçoamento receberam a missão, com todos os subsídios possí-veis para a realização de uma operação (fotografias, imagens satélites, cartas, in-formações etc.) e iniciaram o planejamento; executaram a análise da missão, pas-sando pelo ensaio, e terminaram na correção de detalhes. Paralelamente, os alunosdo Curso de Especialização treinaram procedimentos e condutas adotadas emambientes urbanos, com as atividades supervisionadas pelos instrutores da Esco-la de Infantaria. Foram enfatizados a iniciativa, a liderança e o trabalho em conjun-to nas pequenas frações. Ao término desse exercício, tornou-se notória a evoluçãodos alunos em relação às Operações Militares em Áreas Urbanas, tanto na condutaindividual como participando de pequenas frações, no comando ou como integran-tes das esquadras de tiro, grupos de combate ou pelotões de Fuzileiros Navais.

A mentalidade da Escola de Infantaria é difundir a gama de informaçõessobre Operações Militares em Áreas Urbanas nos seus cursos. Dessa forma, vemsendo desenvolvido um trabalho de instrução, com o objetivo de formar militarescom mentalidade e preparo para o combate urbano. Como fora mencionado, ne-nhum tipo de combate exige mais do combatente do que as operações urbanas.

Fazendo menção a um ditado militar, “é melhor aprender com a experiênciados outros do que com a própria”, a história militar, como já mencionado, assinalaclaramente para a realidade urbana nos combates atuais, e os Fuzileiros Navaisprecisam estar preparados para serem empregados nessas áreas. Muito há de serfeito ainda na longa caminhada na formação das praças de Infantaria para as Opera-ções Militares em Áreas Urbanas; porém, os primeiros passos já foram dados.

Com esse pensamento, a Escola de Infantaria tem procurado capacitar osalunos da melhor forma, para que, nas Unidades Operativas de Fuzileiros Navais,possam exercer satisfatoriamente suas funções, contribuindo para o sucesso dosFuzileiros Navais em todas as missões em que forem empregados, especialmentenas Operações Militares em Áreas Urbanas.

ADSUMUS.

Em situações fictícias, comintensos confrontos contraum figurativo inimigo, váriaspossibilidades deengajamento são testadas,a fim de avaliar o grau deaprendizado dos alunos.

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CARCEmprego de

VANT no CFNCMG (FN) Pedro Antonio de Oliveira

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EMPREGO DE VANT NO CFN 85

ACARÁ

As transformações tecnológicas pelas quaisas Forças Armadas passam têm influenciado demaneira marcante a forma de se guerrear. O cam-po de batalha moderno exige respostas rápidas eprecisas. As decisões dos comandantes estão, cadavez mais, baseadas em informações fornecidas pordiversos sistemas capazes de desenhar as condi-ções do campo de batalha, de localizar alvos e, mes-mo, de detalhar o posicionamento de tropas e deinstalações no terreno.

Entre os principais sistemas empregados parase obter informações estão as aeronaves de reco-nhecimento, os radares, os satélites e os veículosaéreos não tripulados (VANT).

Hoje já não há mais dúvida sobre a impor-tância do emprego de VANT no campo de bata-lha. Sua tecnologia está em franco desenvolvimen-to em diversos países e certamente estarão presen-tes em grande quantidade e realizando as maisvariadas tarefas em todos os conflitos futuros. Umade suas principais características, a capacidade devoo autônomo, torna-os extremamente interessan-tes para aplicações militares, principalmente por

substituírem o homem em missões nas quais o ris-co de morte é grande.

Forças Armadas de vários países já os em-pregam em tarefas como reconhecimento aproxi-mado e profundo; segurança de área de retaguar-da; inteligência; operações psicológicas; designa-ção de alvos; avaliação de danos rápida e eficaz,visando a ataques subsequentes; guerra eletrôni-ca; espionagem; vigilância aérea; controle de trá-fego aéreo e, mais recentemente, lançamento dearmamentos.

Seu excelente desempenho tem sido compro-vado nas guerras no Iraque e no Afeganistão e nosconflitos entre israelenses e palestinos.

O presente artigo pretende apresentar algu-mas características dos VANT, os tipos, de acordocom uma classificação aceitável, bem como dis-correr sobre a sua introdução no Corpo de Fuzilei-ros Navais (CFN) via Batalhão de ControleAerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe) eapresentar uma proposta de possível emprego pe-los Grupamentos Operativos de Fuzileiros Navais(GptOpFuzNav).

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EMPREGO DE VANT NO CFN 87

Os Veículos Aéreos Não Tripuladosempregados militarmente apresentamcaracterísticas como aspecto, forma de

propulsão, peso, alcance e finalidade das maisvariadas e são capazes de operar dia e noite,

em condições meteorológicas diversas.

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UUm VANT, também conhecido como UnmannedAerial Vehicle (UAV), é qualquer tipo de aeronave que nãonecessita de piloto a bordo para realizar suas tarefas. ODepartamento de Defesa norte-americano apresenta umadefinição mais completa ao tratá-lo como um “veículoaéreo motorizado que não transporta um operador hu-mano; usa forças aerodinâmicas para a sustentação aé-rea; pode voar de maneira autônoma ou ser pilotado porcontrole remoto; pode ser descartável ou recuperável epode transportar uma carga útil letal ou não-letal”.

Para emprego militar, apresentam característicascomo aspecto, forma de propulsão, peso, alcance e finali-dade das mais variadas. São capazes de operar dia e noi-te, em condições meteorológicas diversas. Podem trans-portar uma carga útil constituída de sensores que sedestinam às mais variadas funções; entre esses desta-cam-se as câmeras para imagens dia/noite; imageadorestermais (FLIR); equipamentos de inteligência de sinais;equipamentos de guerra eletrônica; telêmetros laser;sensores meteorológicos; sensores para detecção de agen-tes químicos ou radiológicos; radares, entre outros. Seuplano de voo pode ser por controle remoto em visadadireta, pré-programado para voo autônomo, ou aindaser pilotado remotamente por meio de um enlaceconfiável de comunicações.

Além de todas as possibilidades acima, a necessi-dade de se reduzir perdas humanas em combate e a cons-tante evolução tecnológica impulsionaram o desenvol-vimento de veículos aéreos não tripulados para empre-go em missões de ataque, transportando mísseis e bom-bas. Tais veículos passaram a receber a denominação deUnmaned Combat Air Vehicles (CAV).

Seu emprego tem crescido em muitos países gra-ças aos grandes avanços tecnológicos, comominiaturização de componentes; câmeras de vídeo dealta precisão e resolução de imagens; equipamentos derádio de alta performance; links via satélite e o emprego emlarga escala do Global Position System (GPS), que aumenta-ram suas capacidades de aplicação.

A tecnologia VANT está gradualmente tornan-do obsoletas as aeronaves tripuladas para fins militaresem diversas aplicações. A tendência de crescimento e dedesenvolvimento da tecnologia empregada deve seracompanhada por todos os países que desejam manterparidade em seu arsenal tecnológico-militar. O Brasil jádemonstra crescente interesse nesse sentido,notadamente o Ministério da Defesa que, por meio daPortaria nº 606, de 11 de junho de 2004, estabeleceu as

diretrizes para o desenvolvimento de VANT, comparti-lhado pelas três Forças, com participação da iniciativaprivada, demonstrando com tal decisão a preocupaçãodo Governo brasileiro em dominar essa importantetecnologia.

O desenvolvimento e a construção no Brasil deVANT e de sensores, empregados em conjunto com aaeronave, certamente eliminarão a dependência de sis-temas estrangeiros que, em muitos casos, requerem apro-vação governamental do país de origem para serem ad-quiridos. Para um VANT nacional, visualiza-se a dimi-nuição dos custos de produção, de manutenção e de ope-ração do sistema, bem como a possibilidade de umamaior flexibilidade na implementação de melhorias e dealterações em suas características.

A classificação dos VANT em alguns países,notadamente nos Estados Unidos da América, é realiza-da sob uma variedade de parâmetros, que podem in-cluir o tamanho da plataforma de voo, sua configuraçãoe destinação. Neste artigo será considerada a classifica-ção a seguir:

Micro-VANTÉ reconhecido por suas dimensões reduzidas, não

ultrapassando os 30cm, sendo facilmente transportadoe operado por um militar. Um exemplo é o micro-VANTWASP, de fabricação norte-americana, com as seguintescaracterísticas: comprimento de 15cm; envergadura de41cm; peso de 275g; autonomia de 60min e incorpora osistema GPS para navegação, que possibilita a realiza-ção de voo autônomo. Como sensor, utiliza umamicrocâmera e é empregado por pequenos grupos parareconhecimentos a curtas distâncias.

Mini-VANTPossui alcance na faixa de até 10km. No CFN, seria

adequado para emprego em uma zona de ação de um Bata-lhão de Infantaria. Pode ser transportado em veículos oumochilas e operados por um ou dois militares. Como exem-plo, pode-se citar o israelense Skylark I, empregado peloComando de Forças Terrestres de Israel, que possibilita arealização de observação “atrás da colina”. Com alcancede até 10km e autonomia de duas horas, é utilizado porpequenas forças, principalmente para reconhecimentos,cobertura aérea silenciosa para patrulhas terrestres, segu-rança de perímetros e vigilância antiterrorista. Utiliza com-putadores táticos portáteis reforçados para comando e con-trole da aeronave, podendo voar de modo autônomo e to-talmente automático e transmitir dados de vídeo e detelemetria em tempo real. Transporta uma câmera de vídeo

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EMPREGO DE VANT NO CFN 89

digital com zoom, para imagens diurnas ou uma paraemprego noturno, e tem a possibilidade ainda de empre-gar FLIR. O lançamento da aeronave pode ser executadomanualmente, e o pouso é realizado empregando a téc-nica de deep stall, que possibilita um pouso suave e quasena vertical.

VANT-TáticoCom maior envergadura e alcance superior a

100km, necessita de pista de pouso e decolagem, ou serlançado de catapultas, e de uma equipe para ser opera-do. É empregado principalmente em reconhecimentos alongas distâncias, no nível Divisão, Brigada e mesmo Ba-talhão de Infantaria. Em operações realizadas por umGptOpFuzNav, pode-se considerar que seu emprego se-ria em um Teatro de Operações.

Um exemplo desse tipo é o UAV Hunter, com alcan-ce de 125km, autonomia de doze horas, teto de serviçode 4.600m e capacidade de carga útil de 91kg. Incorporasensores para realizar reconhecimentos, vigilância, bus-ca de alvos, condição de tiros de artilharia e observaçãodo campo de batalha.

Média altura e longa duração: medium altitude —long endurance (MALE)

Empregado para reconhecimento estratégico, ope-ra a partir de aeroportos ou de navios-aeródromos. Écapaz de funcionar de maneira autônoma, executandotarefas simples, como reconhecimento, ou ser controla-do por uma tripulação. Possui autonomia de mais de24 horas, com alcance de 125km e carga útil de 200kg.Um tipo de VANT de média altura é o Predator norte-americano. Empregado para reconhecimento, seguran-ça de área, inteligência e designação de alvos, tem capa-cidade para operar dia e noite em qualquer tempo; utili-

za um conjunto de sensores optrônicos e deinfravermelho, além de câmara de vídeo digital e radar.Uma de suas versões é capaz de lançar mísseis anticarro,guiados a laser, como os Hellfire.

Grande altura e longa duração: hight altitude — longendurance (HALE)

Com características semelhantes aos de média al-tura, distingue-se pela capacidade de operar em gran-des altitudes, acima de sessenta mil pés.

Um exemplo é o Global Hawk, com 13,53m de com-primento e 35,42m de envergadura, tão grande como umaaeronave convencional. Considerada a mais rápida detodas as aeronaves não tripuladas, atinge velocidade decruzeiro de 634km/h, podendo permanecer por mais de24h em determinada região. Seu raio de ação de mais de5.000km e teto de trabalho de 19.800m habilitam-no paraemprego estratégico em nível internacional. Incorpora oque há de mais moderno em termos de sensores parareconhecimento e vigilância.

Ativação do Pelotão de Veículos Aéreos Não TripuladosTáticos (PelVANT) no BtlCtAetatDAAe

O Manual de Emprego dos GrupamentosOperativos de Fuzileiros Navais — CGCFN-1000 —, pre-vê que “a utilização de VANT acrescentará novas capa-

Em agosto de 2007, durante o exercício ADEST-CCT, na região de Itaoca-ES, o PelVANT foi

empregado pela primeira vez em operação, comuma equipe VANT em apoio direto ao CCT, para

executar tarefas em proveito da manobra docomandante de uma CiaFuzNav.

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cidades ao BtlCtAetatDAAe, ampliando o rendimento eeficiência no exercício de atividades ligadas ao Reconhe-cimento Aéreo, Guerra Eletrônica e Apoio Aéreo Ofensi-vo”. Visando a atingir mais essa capacidade, no segundosemestre de 2006, iniciaram-se no Batalhão de ControleAerotático e Defesa Antiaérea estudos com o propósitode dotar a OM de um mini-VANT tático, adequado paraatuar nas operações dos Grupamentos Operativos deFuzileiros Navais. Esse meio possibilitaria assim esta-belecer a estrutura do Componente de Combate Aéreo(CCA), constante do CGCFN-1000.

Para tal, o comando do batalhão estabeleceu umprojeto no qual ficou definido que o mini-VANT deveriaser inicialmente capaz de realizar tarefas de reconheci-mento e de observação/condução de tiro de artilharia;ser controlado manualmente e transmitir dados detelemetria por visada direta, com alcance inicial de1.500m. Definiu ainda os seguintes requisitos gerais queo sistema VANT deveria ter: simplicidade; portabilidade;robustez; facilidade de operação, treinamento e manu-tenção; recuperabilidade e baixo custo.

Em uma primeira fase do projeto, foramidentificadas as características da plataforma aérea(aeromodelo) mais apropriada para o mini-VANT, ospossíveis equipamentos de telemetria a serem emprega-dos e realizada uma estimativa inicial de custos.

Contudo, um veículo aéreo que incorporasse ascaracterísticas levantadas não estava disponível no mer-cado nacional. Após extensa pesquisa na área do Rio deJaneiro, foi contatada a Empresa Santos Lab que, em par-ceria com o batalhão, soube entender as necessidadeslevantadas e apresentou um protótipo com característi-cas que iriam atender aos requisitos estabelecidos.

Com a plataforma aérea definida, iniciou-se entãouma segunda fase para a identificação, aquisição e testesdos equipamentos de telemetria, montagem desses equi-pamentos na plataforma, integração do sistema, identi-ficação e treinamento preliminar de operadores e, emseguida, testes de campo do protótipo. Após a aprova-ção em campo do sistema VANT inicialmente idealiza-do, este recebeu o nome de uma ave altiva, imponente eforte, conhecida por sua excepcional visão, o Carcará.

Acreditando no projeto idealizado peloBtlCtAetatDAAe, o Comando da Força de Fuzileiros daEsquadra repassou R$ 26.000,00, empregados no con-trato inicial com a Empresa Santos Lab. Esse recurso in-

cluiu a formação e qualificação de operadores de VANT;o fornecimento de três sistemas completos, compostosde aeronave e estação de controle de solo; duas aerona-ves sem câmeras de vídeo, exclusivamente para treina-mento; computadores e software de simulação de voo ematerial de suporte logístico. Foram qualificados inici-almente nove militares — um capitão-tenente, um pri-meiro-sargento, um segundo-sargento, dois terceiros-sargentos, dois cabos e dois soldados —, pessoal que iriacompor o 1º Pelotão de Veículos Aéreos Não TripuladosTático das Forças Armadas brasileiras.

Características do VANT CarcaráO VANT Carcará emprega uma plataforma de voo

em formato de asa-delta de combate, com as seguintescaracterísticas:

– motor de propulsão elétrico com um quilogra-ma de empuxo, alimentado com duas baterias de lítiopolímero de 2.200mAh;

– autonomia de 40min, dependendo das condiçõesde vento no momento do voo;

– transmissor de vídeo de 2W de potência na faixade micro-ondas, que transmite para a estação de terra asimagens em tempo real captadas por uma câmera de vídeodia/noite de 480 linhas. As imagens não são estabilizadasna aeronave e podem ser gravadas na estação de terra;

– comprimento de 85cm;– envergadura de 160cm;– peso total de 800g;– capacidade de carga de 800g;– altitude máxima de operação de 1.500m;– alcance máximo de 2.000m;– baixa assinatura radar;– capacidade furtiva (stealth);– possibilidade de operação à noite; e– excelente relação custo/benefício.Sua baixa capacidade de carga limita-o para em-

prego como plataforma de guerra eletrônica, lançamen-to de armamento, designação de alvos, emprego detransponder IFF, imageadores termais (FLIR) associados acâmeras de vídeo de longo alcance, telêmetros laser e ra-dares multimodos de abertura sintética que fornecemimagens de alta resolução.

Organização do PelVANTEm 5 de abril de 2007, foi ativado em caráter expe-

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EMPREGO DE VANT NO CFN 91

rimental o PelVANT, como uma subunidade subordina-da diretamente ao comando do BtlCtAetatDAAe, consti-tuído da seguinte forma:

– uma Seção de Comando, responsável pelo co-mando e coordenação das atividades do pelotão;

– uma Seção VANT de Apoio Geral, que realizaprioritariamente ações em proveito de umGptOpFuzNav, como um todo; e

– uma Seção VANT de Apoio Direto, composta portrês ou mais Equipes VANT de Apoio Direto, que reali-zam essencialmente ações em apoio direto às peças demanobra do Componente de Combate Terrestre (CCT).Cada equipe VANT é composta por um sargento e porum cabo/soldado.

Com a finalidade de operar e manter um sistemade veículos aéreos não tripulados táticos, para proverapoio aos GptOpFuzNav, cabe ao PelVANT, inicialmen-te, as seguintes tarefas:

– prover, em tempo real, informações de alvospara o Centro de Comando Aerotático (CComAT), para oCentro de Apoio Aéreo Direto (CAAD) e para os Centrosde Coordenação de Apoio de Fogo (CCAF), facilitandotiro e o apoio aéreo aproximado;

– prover apoio cerrado de reconhecimento não-tripulado às peças de manobra de Infantaria;

– prover informações para apoiar a conduçãodo tiro das armas de tiro indireto;

– conduzir reconhecimento, vigilância e aquisi-ção de alvos, podendo incluir vigilância aérea de regiõese alvos designados nas áreas de operações e de interessedos GptOpFuzNav, além de outras áreas conforme de-terminado; vigilância aérea em proveito de operaçõesde busca e salvamento e de recuperação de aeronaves epessoal abatidos e reconhecimento de rotas de aproxi-mação e retirada de helicópteros, em proveito de opera-ções helitransportadas.

– coletar informações referentes à avaliação dedanos em combate;

– apoiar operações de segurança de retaguarda;– apoiar as operações especiais, incluindo as ope-

rações de retomada e resgate;– apoiar a execução de operações psicológicas;– prover capacidade remota de recepção de ima-

gens e equipes de ligação para as unidades designadas; e– conduzir adestramento individual e coletivo,

visando ao emprego tático em operação.

Emprego em exercícios operativosEm agosto de 2007, durante o exercício ADEST-CCT,

na região de Itaoca-ES, o PelVANT foi empregado pela pri-meira vez em operação, com uma equipe VANT em apoiodireto ao CCT, para executar tarefas em proveito da mano-bra de uma CiaFuzNav. Essa equipe empregou o VANTCarcará para realizar o reconhecimento de itinerários e depossíveis locais para zona de reunião (ZReu) e fornecerimagens em tempo real para o reconhecimento de líderes,assunção da posição de ataque e coordenação do cruza-mento da linha de partida na hora do ataque. Em vista daindisponibilidade de locais com comandamento, de onde ocomandante da CiaFuzNav pudesse coordenar e controlaro ataque, empregou-se o VANT para obter imagens dosPelFuzNav progredindo para o objetivo, facilitando assimsua ação de comando.

Por ocasião da Operação Albacora, realizada namesma região, mais uma vez uma equipe VANT de apoiodireto foi empregada em proveito das ações de umasubunidade, executando tarefas similares às desenvol-vidas durante o ADEST-CCT. Nessa operação, foi possí-vel testar o embarque do VANT em CLAnf e oconsequente desembarque na Hora-H, acompanhando asubunidade em primeiro escalão.

No CFN ainda não existe doutrina para empregode VANT. A participação do PelVANT em exercíciosoperativos tem propiciado a oportunidade para se de-senvolverem técnicas, táticas e procedimentos para ope-ração do sistema VANT. O acúmulo de experiências pro-porcionará certamente a definição de uma doutrina pró-pria de emprego desse importante sistema.

Melhorias no sistemaCabe aqui um parêntese para destacar a impor-

tância na busca de melhorias do sistema VANT empre-gado no BtlCtAetatDAAe em parceria com a iniciativaprivada. O primeiro lote de aeronaves recebido paraemprego operacional no PelVANT (primeira geração)possuía hélices fixas (não dobráveis), ocasionando con-sideráveis perdas durante os pousos; empregava duasbaterias, uma para o motor da aeronave, outra para ossensores, com aumento desnecessário da carga trans-portada, e não incorporava GPS, limitando seu empregoapenas como fornecedor de imagens em tempo real. Es-sas informações, mais as colhidas durante os exercíciosoperativos, foram então compartilhadas com a empresaSantos Lab, que desenvolveu e apresentou uma segundageração VANT.

Ela incorporou um GPS para fornecer dados so-bre a localização da aeronave, altitude e informações dedistância. O sistema de controle e de navegação, incor-porado na nova aeronave, já transmite à estação de soloos dados sobre carga da bateria e temperatura ambien-te. É empregada apenas uma bateria para motor esensores, reduzindo o peso a ser transportado, comganho na autonomia de voo. A fuselagem ficou maisresistente a impactos e com maior aerodinâmica, e oemprego de “hélice retrátil” minimizou as perdas dehélice e eixo do motor no momento do pouso.

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A plataforma de voo do Veículo AéreoNão Tripulado/Carcará é robusta,recuperável e estável, além de ser defácil operação e manutenção.

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EMPREGO DE VANT NO CFN 93

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94 O ANFÍBIO • 2009

O Emprego de VANT no CFNO sistema VANT Carcará opera em voo no visual

simples; emprega uma aeronave remotamente contro-lada via rádio, trabalhando em uma faixa de frequência;tem alcance de 2.000m e, como sensor, possui uma câma-ra de vídeo fixa. Essas características para emprego poruma CiaFuzNav, em primeiro escalão, são aceitáveis,mas carecem de melhoramento visto que um sistemaVANT deve ser altamente flexível e capaz de desempe-nhar com eficiência e eficácia as mais diversas tarefasem combate.

A plataforma de voo do VANT Carcará é robusta,recuperável e estável, além de ser de fácil operação e ma-nutenção. Em 2008, a empresa Santos Lab, aproveitandoas experiências adquiridas com o BtlCtAetatDAAe, in-corporou à sua plataforma modernos sensores e um sis-tema de controle, com características que possibilitari-am seu emprego em apoio geral aos GptOpFuzNav.

Esse novo sistema já permite o voo completamen-te autônomo, programado e controlado por uma estaçãode terra. Possui autonomia de duas horas e alcance de8km. Utiliza softwares de controle para estabilizar ima-gens, acompanhar um alvo de forma automática e esta-belecer suas coordenadas. Suas câmeras de vídeo dia/noite possuem zoom, montadas sob uma torreta retrátil,que gira 360 graus. Realiza o pouso quase na vertical, emdeep stall, eliminando a necessidade de paraquedas pararecuperação segura da aeronave. Sua facilidade de lan-çamento bem como capacidade de pouso em deep stallqualificam-no para emprego em locais onde o espaço demanobra é restrito.

Tais características assemelham-se às encontra-das nos mini-VANT, utilizados pelas forças norte-ame-ricanas em operação no Iraque. Mesmo sem incorporartoda sofisticação tecnológica encontrada no VANT isra-elense Skylark, é capaz de realizar tarefas similares.

Ainda um pouco distante de poder empregarVANT como os Táticos, MALE ou HALE, o CFN precisadar mais um passo significativo na exploração das di-versas potencialidades dos VANT e adquirir um siste-ma com possibilidade de voo autônomo, raio de açãoacima de 8km e possibilidade de emprego de câmeras devídeo de alta definição, com zoom. Essas característicasincrementariam o apoio do PelVANT aos GptOpFuzNavem operações, principalmente os relacionados às tare-fas de reconhecimento e vigilância.

O emprego de um mini-VANT nas operações dosGptOpFuzNav, com características similares ao Skylarkisraelense, como meio para gerar conhecimento, contri-buirá para reduzir os efeitos de fricção, desordem e in-certezas em nossas forças.

Em nível tático, poderá ser fundamental para o pro-cesso decisório, pois, ao fornecer informações em temporeal, empregadas na exploração de nossas vantagens edas desvantagens do inimigo, possibilitará o emprego davelocidade e da surpresa e até o emprego de uma força demenor efetivo, combatendo eficazmente contra adversá-rios numericamente superiores (combate assimétrico), emações contra seus centros de comando e controle. Poderá

ainda apoiar a integração dos diversos sistemas de ar-mas e atividades de serviço, bem como a realização deações diversionárias e sincronização de outras ações. Suacontribuição será valiosa para que os sistema de coman-do e controle dos diversos componentes dosGptOpFuzNav possam atuar de forma integrada, possi-bilitando a todos acessarem informações em tempo realsobre a situação do inimigo, favorecendo assim o comba-te interligado, e não ações isoladas.

As ações de Inteligência e Contrainteligência seri-am favorecidas, pois a evolução da área de operação es-taria constantemente sendo analisada. Possibilitaria aredução do número de postos de vigilância (PV),disponibilizando pessoal de operações especiais, que nor-malmente guarnecem esses PV para outras tarefas.

Reduziria também a necessidade de exposição deaeronaves tripuladas para reconhecimento e estaria dis-ponível a maior parte do tempo, inclusive para voo no-turno.

Vale ressaltar que o emprego na estrutura doCteCA deverá ser centralizado, mantendo-se a unidadede comando, na qual apenas o comandante responsávelpelo emprego dos VANT daria ordens para ativação dosistema, facilitando as atividades ligadas ao controle doespaço aéreo.

Operando também como agência de busca, levan-tará um número expressivo de informações que necessi-tarão ser analisadas e convenientemente disseminadas.Para atender a essa necessidade, poderá ser ativada umaAgência de Controle, com tarefas de reunir informaçõescoletadas pelos VANT, realizar a análise, o controle, co-ordenação e disseminação destas para os centros de co-mando de todo os componentes do GptOpFuzNav. Ou-tros importantes usuários dessas informações seriamos Centro de Análise de Inteligência (CAI), CentroControlador de Inteligência de Sinais (CECOIS) e Centrode Coordenação de Apoio de Fogo (CCAF).

Subordinação do PelVANTMini-VANT em outras FA, principalmente nos

EUA, são distribuídos às tropas de Infantaria, as quaissão controlados e empregados em nível subunidade, pe-lotão e mesmo grupos de combate. O que se verifica é agrande quantidade de veículos disponíveis, além da va-riedade. Os VANT para emprego em teatro de operação,como os Predator e Global Hawk, ficam sob controle cen-tralizado, até pela complexidade para serem operados.

No CFN, atualmente só há um tipo, em númeroreduzido. Foi introduzido por iniciativa do comando doBtlCtAetatDAAe e encontra-se ainda em fase experimen-tal. Como hoje o emprego é eminentemente para reco-nhecimento, há sugestões para que o sistema VANT pas-se para o controle do Batalhão de Comando e Controleou mesmo venha a ser distribuído para as unidades deInfantaria e de Operações Especiais. No momento, a cen-tralização para emprego dos VANT parece ser a maisindicada, pois facilitará a manutenção de um padrão deadestramento, o desenvolvimento de uma doutrina pró-pria de emprego e a logística de manutenção.

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EMPREGO DE VANT NO CFN 95

Deve ficar claro que a tecnologia existente possi-bilita uma infinidade de aplicações para os VANT. O sis-tema é composto, antes de tudo, de uma plataforma devoo, na qual podem ser incorporados sensores. Para ope-ração dessa plataforma, é imprescindível que se tenhauma mentalidade voltada para o emprego de meios aé-reos, em virtude da necessidade de se seguir regras bási-cas de segurança de aviação. Logicamente, esse meio cen-tralizado no BtlCtAetatDAAe facilitará aimplementação das medidas de coordenação e controledo espaço aéreo, por parte do CCA, nas operações deGptOpFuzNav.

Considerações finaisA observação do esforço realizado por diversas

nações no desenvolvimento de VANT, incluindo-se oBrasil, sinaliza que, em futuros conflitos, o emprego des-sa importante ferramenta será uma tendênciairreversível.

O VANT Carcará, empregado hoje no PelVANT,poderá ser utilizado em missões de reconhecimento paraapoiar as subunidades em primeiro escalão em sua zonade ação, como já foi realizado em exercícios em 2007.Porém, suas características o tornam modesto para rea-lizar todas as tarefas idealizadas e atribuídas aoPelVANT. Um grande passo a ser dado pelo CFN para

minimizar esse problema será a aquisição de mini-VANT, com características parecidas à do israelenseSkylark, ou mesmo a busca de um similar no mercadonacional. Seu emprego deverá ser coordenado pelo CCAem apoio geral aos GptOpFuzNav, não devendo se des-cartar tais sistemas em virtude de sua importância e doemprego por qualquer Força Armada.

A pouca experiência no CFN no emprego das me-didas de coordenação do espaço aéreo indica, no mo-mento, que o ideal será o emprego de VANT permanecercentralizado no BtlCtAetatDAAe, organização militarnúcleo do CCA.

De acordo com o que foi apresentado, a um VANTpodem ser atribuídas inúmeras missões, desde que eletenha sido projetado e programado para ser empregadocomo tal. Transportando sensores, poderá ser utilizadoem tarefas de reconhecimento, vigilância e mesmo guerraeletrônica ou ainda para realizar ataques, quando arma-do com mísseis, bombas ou quaisquer outros armamen-tos de combate. Seu potencial de emprego é extremamen-te relevante, e a tecnologia existente possibilita uma infi-nidade de aplicações no CFN. A proposta apresentadacertamente carece de estudos mais profundos para defi-nição de um projeto e da tecnologia a ser empregada noVANT, bem como para apontar quais organizações daMB deverão estar envolvidas nesse projeto.

O desenvolvimento e a construção noBrasil de VANT e de sensores,

empregados em conjunto com aaeronave, certamente eliminarão a

dependência de sistemas estrangeirosque, em muitos casos, dependem de

aprovação governamental do país deorigem para serem adquiridos.

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96 O ANFÍBIO • 2009

N

O PARA

Equipamento de origem francesa(Adventure Paragliders), recebido peloBatalhão de Operações Especiais deFuzileiros Navais em 2005.

96 O ANFÍBIO • 2009

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O PARAMOTOR APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS 97

N

APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS

CT(FN) Leandro Eduardo dos SantosCT(FN) Maurilo de Souza Vilas Boas

o final de 2005, a Central Intelligence Agency(CIA) e o United States Special OperationsCommand (USSOCOM) obtiveram informações comelevada credibilidade de que Zawahiri, subordinadoimediato de Osama Bin Laden, participaria de umareunião com outros terroristas em uma determinadalocalidade no Paquistão, na fronteira com oAfeganistão. Segundo fontes do serviço de inteligên-cia norte-americano, essa era a melhor informaçãoobtida até então sobre elementos mais próximos aBin Laden. Assim, o Joint Special OperationsCommand (JSOC) planejou uma ação em que trintaNavy Seals infiltrariam-se por aeronave C-130Hércules, sob visibilidade reduzida, a partir doAfeganistão. Os Seals seriam lançados da aeronavea uma distância de 30 a 40 milhas do objetivo, sobreas montanhas, utilizando paramotores para voo no-turno. Após o assalto e captura dos terroristas se des-

locariam para outro ponto de onde seriam retiradospor helicópteros CH-53 para o Afeganistão.1

Ainda na Segunda Guerra Mundial o empre-go de planadores pelos Commandos ingleses natomada do forte belga de Eben Emael e o famosoresgate de Mussolini, realizado pelo alemão OttoSkorzeny, em Gran Sasso, no ano de 1943, já indi-cavam prenúncios das possibilidades de empregode aeronaves não-convencionais nas OperaçõesEspeciais (OpEsp).

Este artigo tem os seguintes propósitos: apre-sentar o paramotor que vem sendo testado peloBatalhão de Operações Especiais de FuzileirosNavais (BtlOpEspFuzNav), mostrar os avanços al-cançados, bem como os óbices encontrados duranteo desenvolvimento da atividade e, por fim, relatar aspossibilidades e limitações visualizadas para a utili-zação do meio aplicado às OpEsp.

O PARAMOTOR APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS 97

MOTOR

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O voo livre e o paramotorO voo livre é um voo não motorizado que utiliza a

atividade térmica e do vento para realizar voos locais ou degrandes distâncias, possibilitando alterar tanto a velocida-de quanto a trajetória, bem como escolher o local de pouso.Agrupa um conjunto de técnicas cujo objetivo comum é voar,utilizando as forças da natureza e recorrendo à força dopróprio piloto para decolar e para pousar. Os equipamentosutilizados para esse fim são a asa-delta e o parapente.

O paramotor enquadra-se, de acordo com o Regula-mento de Homologação Aeronáutico (RBHA-103A), comoveículo autopropulsado, da classe ultraleve, que significauma aeronave muito leve, experimental, tripulada e comcapacidade para transportar no máximo dois ocupantes. Adiferença, se comparado a um parapente, está basicamenteno motor. Isso muda completamente a forma de utilização,aumentando a capacidade de realização da decolagem emlocais restritos a partir do solo ou de alguma plataforma delançamento (aeronaves ou navios).

AntecedentesA atividade teve início em fevereiro de 2005 com a

chegada dos paramotores ao BtlOpEspFuzNav. Provenien-tes do Comando do Material de Fuzileiros Navais (CMatFN),os equipamentos escolhidos, de origem francesa, chegaramparcialmente montados e representavam o que de maismoderno existia no campo de paramotores projetados parao voo duplo. Foram designados um oficial e dois sargentospara verificar os fatores positivos e negativos da sua utiliza-ção aplicada às OpEsp.

Em abril, iniciou-se o curso de paramotor na cidadede Maricá-RJ, área com condições meteorológicas ideais parainiciantes. Vários problemas ocorreram com o equipamen-to em razão da fragilidade do material para operar em cli-mas quentes e do próprio desconhecimento inicial.Consequentemente, o curso foi prejudicado tanto no tempoprevisto para sua conclusão quanto na continuidade doaprendizado. Outro fator que dificultou o desenvolvimentofoi a pequena experiência dos instrutores contratados naprática do voo com paramotor, pois dominavam apenas ovoo livre (parapente). A decolagem, etapa inicial e mais difí-

cil de todo o processo, estava muito longe de ser dominada.Logo, a qualificação técnica desejável para o empregooperativo encontrava-se muito distante.

Chegou-se então à conclusão de que haveria a necessi-dade de um melhor suporte técnico e de uma estrutura apro-priada para o desenvolvimento com segurança da ativida-de. Nesse contexto, surgiu o apoio fundamental do instrutorRuy Marra, profissional altamente qualificado, que transmi-tiu apropriadamente as técnicas de voo, principalmente noque diz respeito ao condicionamento no tempo de reação, eorientou a busca das primeiras aplicações operativas.

As infiltrações aéreas nas OpEspA execução de uma infiltração aérea depende es-

sencialmente de planejamento detalhado, aliado ao altograu de aceitabilidade por parte dos comandos envolvi-dos. Em um ambiente não-permissivo, quando uma aero-nave de transporte ou um helicóptero aproximam-se oupartem de uma Zona de Lançamento (ZL) ou Zona deDesembarque (ZDbq) enfrentam, nesses momentos, asmaiores possibilidades de serem detectadas.

No caso da infiltração aeroterrestre, enquanto a ater-ragem do paraquedista é envolta em um grande sigilo, asegurança das plataformas de lançamento (aeronaves) é umfator de grande preocupação. Mesmo aeronaves que dispõemde sistemas de proteção, como chaffs e flares, não estão 100%resguardadas dos mísseis terra-ar e das baterias de defesaantiaéreas. Por conseguinte, a capacidade stealth das aerona-ves, deslocando-se para a área do objetivo, torna-se um fa-tor determinante na aceitabilidade da operação. Osparamotores com seu perfil aerodinâmico não rígido, compequenas quantidades de metais tubulares utilizados na suaconstrução e com baixas emissões de calor, proporcionamreduzidíssima assinatura radar e baixa probabilidade dedetecção por emissão infravermelha.

Existem ainda outras desvantagens da infiltraçãoaeroterrestre que podem ser minimizadas com a utilizaçãodo paramotor:

– desorganização tática inicial, mais evidenciada noslançamentos semi-automáticos, provocada pela dispersãoda tropa na ZL e pela desorientação inicial, proporciona

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O PARAMOTOR APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS 99

emprego da aeronave experimental são os baixos custosenvolvidos na operação e a baixa demanda de manutenção.Enquanto o custo estimado da hora de voo do UH-14 Super-Puma é de US$ 5.690.00 e do UH-12/13 Esquilo, de US$1.580.00, a hora de voo do paramotor é de apenas R$ 70,00.Da mesma forma, enquanto uma aeronave de médio portenecessita de uma manutenção complexa, o paramotor re-quer apenas uma singela rotina. A simplicidade de suas pe-ças, aviônicos e estrutura proporciona uma alta taxa de dis-ponibilidade das aeronaves.

Há, entretanto, algumas limitações no emprego dosparamotores, sendo as principais: maior suscetibilidade àsvariações meteorológicas (principalmente vento), menor ve-locidade de deslocamento e capacidade de carga limitada.

O emprego do paramotor nas OpEspO estudo do emprego do paramotor nas atividades de

OpEsp foi desenvolvido levando-se em conta experiências depessoas especializadas e, principalmente, os ensinamentoscolhidos nos adestramentos realizados no BtlOpEspFuzNav.Inicialmente, foi visualizado seu emprego somente em ativi-dades de reconhecimento; entretanto, conforme experiênciaseram adquiridas, observou-se que o meio oferece uma varia-da gama de recursos que facilita e flexibiliza o emprego dosElmOpEsp na execução de suas tarefas.

Reconhecimento e vigilânciaPatrulhas de Reconhecimento e Vigilância de Longo

perda na capacidade de emassar forças e responder a umpossível contra-ataque inimigo;

– reduzida capacidade de transporte de cargas espe-ciais, tais como morteiros, armas anticarro e de defesa anti-aérea, fuzis de precisão e elementos não paraquedistas a se-rem infiltrados (especialistas); e

– dificuldade e grandes riscos envolvidos na aterra-gem em ZL localizadas em terrenos acidentados e nãobalizados.

Alternativamente à infiltração aeroterrestre, ahelitransportada proporciona precisão nos locais reconhe-cidos para pouso, mobilidade, grande capacidade no trans-porte de carga e poder de fogo. Porém, todos esses atributospodem ficar comprometidos pela grande probabilidade naquebra do sigilo e da surpresa. Tanto a aeronave quanto asForças de Operações Especiais (FOpEsp) tornam-se extre-mamente vulneráveis devido ao elevado nível de ruídos pro-vocados pelos seus rotores. Além disso, a infiltração em umaZDbq em altitudes elevadas, fato comum no modus operandidas FOpEsp, provoca sensível aumento no consumo de com-bustível dos helicópteros, diminuindo sua autonomia e suacapacidade no transporte de carga. O Elemento de Opera-ções Especiais (ElmOpEsp) empregando o paramotor tem acapacidade de voar e de pousar com os motores totalmentedesligados em um espaço aéreo hostil,2 especialmente emoperações noturnas, gerando considerável diminuição dosriscos envolvidos na fase da infiltração.

Outros aspectos que se apresentam vantajosos no

Patrulhas de Reconhecimento e Vigilância de LongoAlcance podem ser lançadas em locais de difícil acesso.

Paralift – sistema desenvolvido em parceria com o USMC pararesgate de pessoal sem a necessidade do pouso.

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Alcance podem ser lançadas em pontos da linha de contatoque se encontrem fracamente vigiados ou defendidos e emRegiões de Interesse para Inteligência. No caso da necessidadede pouso em terra para confirmação de dados, o equipamentopoderá ser facilmente homiziado por se tratar de uma velaflexível e dobrável, aos moldes do procedimento já adotadocom as embarcações pneumáticas nas infiltrações aquáticas.No final da operação o equipamento possibilita rápida mon-tagem e a subsequente retirada dos ElmOpEsp.

Por se tratar de uma aeronave lenta quando compa-rada ao helicóptero, durante o voo, o piloto pode utilizardiversos equipamentos para reconhecimento ou vigilân-cia, tais como binóculos, máquinas fotográficas, filmadorase equipamentos optrônicos, sem comprometer o sigilo daoperação e a segurança do voo. Uma característica extre-mamente positiva no emprego do equipamento para reco-nhecimento é que, no voo acima de 1.000 pés, o ruído domotor torna-se imperceptível para um observador locali-zado no solo, favorecendo consideravelmente a manuten-ção do sigilo. Consequentemente, de acordo com a SituaçãoMilitar do Inimigo (SMI), algumas das modalidades de re-conhecimento especializado, como o de estradas, de ZL, deZDbq e de objetivos, poderão ser realizados com grandeeconomia de tempo e pessoal.

Outra vantagem é a grande flexibilidade na altitudede voo. Pode-se voar alto ou bem próximo ao solo (cerca de2m), permitindo o reconhecimento de área ou de ponto, bemcomo a realização de vigilância sobre áreas restritivas aodeslocamento dos ElmOpEsp, como regiões de mata densa,alagadiços, regiões montanhosas, campos minados e riosobstáculos.

Durante a verificação da aplicabilidade para a ativi-dade de reconhecimento, foram realizados diversos ades-tramentos diurnos e noturnos que comprovam aaceitabilidade da utilização do meio.

Infiltração e retirada de ElmOpEspA aeronave pode ser utilizada para o voo duplo, ser

empregada na infiltração e na retirada de dois ElmOpEspou, no caso de se utilizar mais de um equipamento, quais-

quer outras frações de OpEsp. A capacidade de escolher olocal e o momento da infiltração por causa de sua altamanobrabilidade, principalmente em regiões densamentepovoadas e de difícil acesso, proporciona aos ElmOpEsp apossibilidade de minimizar os danos colaterais durante arealização de um assalto. Além disso, traz consigo umasignificativa vantagem aos atacantes, infligindo ao adver-sário um choque psicológico inicial capaz de se traduzirem uma momentânea incapacidade de reação, instanteexato em que as FOpEsp adquirem uma vantagem decisivasobre um inimigo maior ou bem fortificado3

Seu grande raio de ação, aliado à capacidade de al-cançar com facilidade terrenos de difícil acesso, possibilitaàs FOpEsp a realização de ações que buscam como propósi-to a neutralização de pontos de importância operativa, acaptura ou resgate de pessoal e material, a produção de efei-tos psicológicos, o despistamento e a obtenção de dados.

Na extração, há o grande inconveniente do barulhodo motor, assemelhando-se de longe ao ruído de uma motoque, dependendo dos fatores da decisão, da SMI e da posturado sigilo adotada para a missão, poderá ser realizada após aquebra do sigilo. Contudo, já existem disponíveis no merca-do paramotores equipados com motores elétricos que funci-onam por meio de baterias, proporcionando sensível redu-ção na assinatura acústica do equipamento.

Até o presente momento, como os pilotos ainda nãoestão qualificados no voo duplo, não foram averiguadas to-das as possibilidades e limitações nas infiltrações dosElmOpEsp. Entretanto, como já foram realizados voos sobcondições de visibilidade reduzida, empregando-se instru-mentos (GPS e variômetro)4 e decolagem/pouso em áreasrestritas, os prognósticos são bastante animadores. Em ra-zão do caráter naval de nossas operações, torna-se tambémfundamental a qualificação dos pilotos para pousos e deco-lagens de convoos dos meios navais disponíveis.

Transporte ou resgate de pessoalem áreas de difícil acesso

O equipamento possui um dispositivo (paralift) detransporte de pessoal que exclui a necessidade do pouso para

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O PARAMOTOR APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS 101

a infiltração ou para o resgate. Pode também ser empregadopara a realização de Evacuações Aeromédicas (EVAM) noscasos em que o ferido não necessite estar imobilizado. O dis-positivo utilizado para esse fim fica posicionado abaixo dopiloto, sendo necessário apenas um voo próximo ao solopara a execução da infiltração ou resgate. Até o presentemomento, ainda não foi realizado esse teste, pois o pacotedos equipamentos adquiridos na França não contemplouesse dispositivo.

ContraterrorismoA capacidade de realizar assaltos contra campos de

treinamento de células terroristas e pontos de refino de dro-gas aumenta o espectro de emprego da plataforma. Do ladoterrorista, um antigo líder da Organização para Libertaçãoda Palestina (OLP), Abu Abbas, mentor do sequestro do na-

vio italiano Achille Lauro, percebeu em 1981 essa capacidadee enviou, a partir de bases guerrilheiras no Líbano,paramotores carregados com explosivos para o norte de Is-rael, com o objetivo de realizar ações terroristas em refinari-as de petróleo.5

RessuprimentoUma das principais limitações no emprego dos

ElmOpEsp em qualquer tipo de operação é o ressuprimentodas equipes pré Dia-D (principalmente Classe I) por causa depossível quebra no sigilo de toda a operação. O emprego doparamotor propicia o ressuprimento de até 100kg por equi-pamento, com grau de sigilo muito maior do que qualqueroutro meio, como por exemplo o helicóptero. Mesmo nassituações em que não seja possível o pouso do paramotor, oressuprimento poderá ser realizado por meio do lançamen-to de carga com paraquedas especiais.

Logo, o emprego desse meio proporciona diminui-ção na carga a ser transportada pelos ElmOpEsp (decrés-cimo na carga de suprimentos de subsistência e aumentona capacidade de transporte de equipamentosoperacionais) aumentando sua mobilidade. Dessa forma,minimiza-se a necessidade de revezamentos das equipese do estabelecimento de suprimentos pré-posicionados e/ou a infiltração de EqOpEsp voltadas exclusivamente paraesse tipo de ressuprimento. Tal fato, além de proporcio-nar maior permanência dos ElmOpEsp na área de opera-ções, torna o planejamento das OpEsp sensivelmente maissimples e aceitável. Nos últimos adestramentos conduzi-dos pelo BtlOpEspFuzNav, foram realizados lançamen-tos rasantes, com cargas de 25kg e de 15kg, por paraquedasimprovisado.

Posto de Retransmissão AéreoDe acordo com a SMI, principalmente operando em

ambientes permissivos e/ou semipermissivos, o ElmOpEsptransportado no voo duplo pode ficar em condições de operarequipamentos rádio, transformando a plataforma de voo emum posto de retransmissão aéreo. Em virtude das altitudesalcançadas, sem comprometer o requisito do sigilo, essa for-ma de emprego aumenta a confiabilidade nas comunicações,pois as interferências no componente terrestre das ondas ele-tromagnéticas são praticamente eliminadas. Tal possibilida-de torna-se mais importante no estabelecimento das comu-nicações com as tropas mais afastadas, normalmente equipesde reconhecimento operando os Postos de Vigilância.

Observador Aéreo AvançadoDa mesma forma que o ElmOpEsp transportado pode

estar em condições de operar equipamentos rádio, ele pode-rá também servir como um Observador Aéreo (OAe), con-duzindo os fogos dos morteiros e da artilharia contra alvosinimigos. Além disso, por estar em posição mais vantajosado que a de um Observador Avançado em terra, pode reali-zar uma avaliação de danos muito mais precisa.

Fotografias e filmagens aéreas (emprego administrativo)Se comparado ao helicóptero, o paramotor apresen-

ta-se como uma solução econômica para a realização de fo-

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tografias e filmagens aéreas. O acompanhamento e a grava-ção de um desembarque anfíbio ou de um ataque coordena-do, por exemplo, para posterior verificação da condução doexercício, pode trazer grandes ensinamentos. Existe ainda apossibilidade de utilização em levantamentos e atualiza-ções de cartas náuticas ou topográficas e em levantamentode portos, de costas e de áreas de interesse, como as ilhas daTrindade e da Marambaia.

Outras possibilidades deemprego no meio civil

As possibilidades do equipamento não se limitamapenas ao uso militar. Existe atualmente, no Brasil e no exte-rior, um crescente número de pessoas que empregam osparamotores em atividades antes desempenhadas somentepor helicópteros.

Salvamento de náufragosDesenvolvido por Ruy Marra, o projeto surgiu após

uma experiência real do piloto. Enquanto sobrevoava comseu paramotor a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro,avistou uma mulher se afogando. Ele manobrou, colocouum colete salva-vidas em seus pés e entregou-o nas mãos damulher. Por meio de um sistema de rádio, alertou a equipede apoio terrestre, acionando imediatamente os salva-vi-das que retiraram a banhista da água. Nascia assim o Proje-to Para Life, destaque dentro e fora do País, com o objetivo dezerar a estatística de mortes por afogamento nas praias doRio de Janeiro, de São Paulo e de Florianópolis.

Voo de paramotor para monitorar a Mata AtlânticaEm julho de 2008, foi lançado o Projeto “De Olho na

Mata Atlântica”, que utiliza sobrevoos com paramotores afim de minimizar problemas como o desmatamento e a po-luição de rios e mananciais. Pela sua manobrabilidade, oequipamento permite ao piloto voar baixo e próximo dasencostas das matas, podendo localizar atividades suspeitase fornecer informações precisas à Polícia Ambiental por meiode fotos, GPS e rádio-comunicadores. Conforme explicaCarlos Laghi, presidente da Associação Brasileira de VooLivre (ABVL): “Usar tantos equipamentos simultaneamen-te não chega a ser um problema. Nas competições deparapente, o piloto voa até mil metros de altitude e, porsegurança, precisa saber com exatidão as suas coordenadas

geográficas e fotografar os locais sobrevoados. Assim, adap-tamos algumas dessas técnicas para ajudar a preservar aMata Atlântica.”

Principais desafios para odesenvolvimento da atividade

Normatizações e homologaçãoFoi firmado em 2006 um documento que estabelece

os procedimentos operativos e as normas de segurançapara o emprego militar do paramotor. Ele foi assinado peloComFFE e contém todos os aspectos de segurança, basea-dos nas normas civis vigentes e observações individuaisoriundas dos adestramentos.

Além disso, para o desenvolvimento seguro da ati-vidade e respaldo perante órgãos nacionais competentes, énecessária a homologação na Diretoria de Aeronáutica daMarinha (DAerM), órgão especializado da Marinha que tra-ta das atividades de voo e das aeronaves. Atualmente, acontinuidade no desenvolvimento do projeto aguarda essahomologação.

Desenvolvimento da doutrinaApós a homologação da DAerM, o estudo e a aplica-

ção das possibilidades e limitações visualizadas precisamprosseguir. Como toda atividade que nasce de forma total-mente embrionária, a consolidação de um emprego que aten-da às necessidades maiores da MB consome parcela consi-derável de tempo, esforço, dedicação e apoio. Todos os pas-sos necessitam ser exaustivamente testados, revistos ereavaliados, a fim de que o CFN tenha em suas mãos ummeio apropriado.

Além disso, os procedimentos do emprego doparamotor nas OpEsp após serem consolidados devemser inseridos no Manual de Operações Especiais de Fuzi-leiros Navais (CGCFN 1-3), que já tece alguns comentári-os do paramotor como meio de infiltração (Cap. 5 item5.2.5). Entretanto, esse item necessita ser complementadocom todas as possibilidades e limitações de emprego es-tudadas.

Formação de recursos humanosEstudos são necessários para verificar a viabilidade

de implementação de um curso a ser ministrado pelo Siste-

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O PARAMOTOR APLICADO ÀS OPERAÇÕES ESPECIAIS 103

ma de Ensino Naval. Um requisito inicial a ser observadoseria a pré-formação dos alunos nos cursos de ComandosAnfíbios, Básico Paraquedista e Salto Livre, principalmentepela necessidade de conhecimento das atividades desempe-nhadas pelos ElmOpEsp, dos procedimentos básicos de se-gurança e navegação com paraquedas retangular e do am-paro legal no que se refere à percepção de compensação or-gânica em atividade de risco.

A formatação básica desse curso seria dividida emtrês fases:

Primeira fase: adaptação ao equipamento (motor, velae sobressalentes), no qual o piloto antes de aprender a voardeverá familiarizar-se com todos os componentes do equi-pamento, aprender a manuteni-los e realizar pequenos re-paros, considerados normais no nível do usuário. Com es-ses conhecimentos, a confiança durante os voos tende a au-mentar. Existe também a necessidade de instruções básicasde voo que serão iniciadas com o voo de parapente e termi-narão com o aprendizado do voo de paramotor, além deinstruções teóricas sobre meteorologia, panes e emergênci-as, incluindo a simulação de incidentes em voo.

Segunda fase: adestramento de voo sob condiçõesadversas no qual, principalmente nas OpEsp, faz-se neces-sário que os pilotos estejam aptos para voar em condiçõesnão-convencionais. Para isso, eles devem dominar os co-nhecimentos de voo de térmica, noturno e duplo.

Terceira fase: fase eminentemente operativa, na qualos conhecimentos adquiridos nas duas fases anteriores se-rão aplicados em situações relacionadas às possibilidadesde emprego visualizadas para o meio.

Catalogação de sobressalentes e acessórios para o vooOs paramotores adquiridos, quando chegaram ao

Brasil, não possuíam peças de reposição, e a fábrica france-sa Adventure não dispõe de representantes no país. Porém,após minuciosa procura no mercado nacional, foram en-contrados diversos itens de sobressalentes, exceto motor eseus acessórios. Foram catalogados e adquiridos peloCMatFN os seguintes materiais: vela de voo (SOL Adventure— fábrica nacional), hélice, GPS, variômetro e capacetes devoo. Futuramente, caso o paramotor seja definitivamenteimplementado no CFN, seria aconselhável a aquisição deum equipamento nacional para facilitar o fluxo logístico,além de se tornar economicamente mais viável. Essa futu-ra aquisição poderia também despertar interesse do Mi-nistério da Defesa pelas suas possibilidades de empregoespecíficas às necessidades do Exército Brasileiro e da For-ça Aérea. Tal interesse poderia fomentar na indústria naci-onal a pesquisa e produção dos equipamentos, atendendo,de forma paralela, ao mercado civil e militar.

Consolidação da necessidade de pessoal e equipamentosAté o presente momento, ainda não foi dimensionada

a real necessidade de recursos humanos qualificados para oemprego efetivo do meio. Principalmente, em função da mai-or necessidade de aprendizado da técnica de voo, a formaçãoe a manutenção dos níveis de adestramento exigem maiorconsumo de tempo, fator exíguo na formação de umElmOpEsp.

Uma das possíveis sugestões para a dotação de equi-pamentos seria mobiliar uma fração totalmente capacitadana exploração de todas as possibilidades de emprego, com acapacidade para transportar três Equipes de ComandosAnfíbios (18 ElmOpEsp) ou até 900kg de carga. Essa sugestãode organização totalizaria a necessidade de noveparamotores.

Considerações finaisÉ muito importante esclarecer que, em nenhum mo-

mento do presente estudo, visualizou-se a possibilidade desubstituição de qualquer um dos meios de infiltração aéreauniversalmente empregados e consagrados pelo CFN. Veri-fica-se apenas que conhecimentos relevantes foram extraí-dos pela experimentação, existindo a possibilidade deimplementação de um novo meio para as OpEsp, especial-mente quando o emprego das outras duas plataformas apre-sentam suas maiores restrições.

Cabe ressaltar que esse desenvolvimento experimen-tal, principalmente em atividades ligadas às OpEsp, em ra-zão da grande compartimentação de conhecimentos obser-vada nessa área, requer largo emprego de engenho e arte nabusca por soluções e respostas às inúmeras dúvidas equestionamentos que se apresentam.

É fato também que, a fim de se prepararem para opróximo ambiente de segurança e se adaptarem às mudan-ças na natureza da guerra, as OpEsp possivelmente terão deconsiderar novas metodologias, estratégias e processos deadestramento; debater possíveis mudanças na doutrina eexaminar opções e conceitos operacionais para a conduçãode suas operações em ambientes tradicionais e não-tradici-onais.

Torna-se imperativo que as OpEsp no CFN mante-nham a vantagem tecnológica e continuem a investir naqualidade e habilidade de seus integrantes. Essas são duascaracterísticas que nos serviram consideravelmente no pas-sado e continuarão a serem essenciais no futuro. Logo, apossibilidade de utilização de um novo método de infiltra-ção alternativa proporciona maior flexibilidade no empre-go do BtlOpEspFuzNav e contribui para que o CFN continuena vanguarda das opções em uma situação de crise.

1. Matéria publicada na revista Newsweek International, edição de3 de setembro de 2007. A missão foi cancelada com os C-130 em voo,prontos para o lançamento. Até hoje, especialistas se ressentem dehaverem perdido uma das maiores oportunidades de obter vantagemsignificativa na Global War On Terrorism.

2. Tipo de vulnerabilidade demonstrada em 1987 quando o ado-lescente alemão Mathias Rust pousou, sem ser detectado, na Praça Ver-melha, em Moscou, com um pequeno avião do tipo Cessna.

3. Teoria criada pelo Capitão-de-Fragata William McRaven, doUS Navy Seals, o qual prega que o sucesso de uma Operação Especialestá intimamente ligado à observação dos conceitos da simplicidade, desegurança, de repetição, de rapidez, de surpresa e de propósito.

4. Aparelho que mede a variação em altura.5. Matéria publicada na revista Air & Space Power Journal -

Chronicles On-line Journal Gliders - Rethinking the Utilities of this SilentWings for the Next Millennium, em 17/11/1999.

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN

PROJETOMEMÓRIADO CFN

CARLOS DEALBUQUERQUE

Almirante-de-Esquadra (FN)

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN - AE (FN) CARLOS DE ALBUQUERQUE 105

PROJETO MEMÓRIA DO CFN

O presente artigo visa a

apresentar, na perspectiva do

Almirante-de-Esquadra (FN) Carlos

de Albuquerque, os fatos mais

marcantes que influenciaram sua

carreira naval e que passaram a fazer

parte da história da Marinha do Brasil

e, em particular, do Corpo de

Fuzileiros Navais (CFN).

Englobam aspectos e

circunstâncias ocasionais dos

acontecimentos por ele

vivenciados e decorrem

basicamente de entrevista

concedida ao então

Capitão-de-Mar-e-Guerra (FN)

Cosme Nunes,

em outubro de 2005.

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN

O então Aspirante Albuquerque integrava asegunda turma de Aspirantes com formaçãoespecífica para o desempenho de funções nas

unidades do Corpo de Fuzileiros Navais.

Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 25 de fevereirode 1927, o Almirante-de-Esquadra (FN) Albuquerque,após cursar o primário em escola pública e ter sido

aluno do Externato Santa Cruz e do Colégio Pedro II, ingres-sou na Escola Naval, no curso de Oficiais Fuzileiros Navais,em 1944.

Integrou, assim, a segunda turma de Aspirantes comformação específica para o desempenho de funções nasunidades do CFN. De 1940 até aquele ano, os oficiais Fuzi-leiros Navais eram oriundos de Aspirantes do Corpo daArmada “que recebiam complementação curricular destinada aomelhor preparo para atendimento de novas exigências funcionais”.

Quanto à formação acadêmica, o Almirante retrataque “àquela época, a Marinha, de uma maneira geral, e o próprioCorpo de Fuzileiros Navais não tinham o conhecimento e a experiên-cia relativos às modernas operações anfíbias”, implicando que osconteúdos ministrados aos Aspirantes Fuzileiros Navaisaludiam ao emprego de tropa eminentemente terrestre,decorrente de aprendizado dos oficiais na Escola de Aper-feiçoamento de Oficiais do Exército (EsAO).

Ainda segundo o Almirante Albuquerque, “o cursoera baseado em manuais de doutrina de emprego de tropa de nossoExército, no qual predominavam matérias técnicas, em prejuízo às deemprego tático”. A formação teórica era complementada poradestramentos no terreno, principalmente na Barra daTijuca e em Vigário Geral, onde eram realizados “exercíciosde emprego de tropa no nível Grupo de Combate e Pelotão, praticando-se a maneabilidade, os pricípios do fogo e movimento e pouco alémdisso”. Esses exercícios contavam com o apoio de “Oficiais daTropa do CFN”, entre os quais o Primeiro-Tenente (FN) Wa-shington Frazão Braga e o Primeiro-Tenente (FN) Sebasti-ão Alves de Souza.

Em 1945,com o término docurso na EscolaNaval, estagiou,por três meses,nas ”Unidades-Es-colas do Exército”,cujo o enfoque foia doutrina de em-prego de tropaterrestre, semqualquer orientação para o ambiente anfíbio. Porém, o Al-mirante atesta que “esse estágio foi de grande valia para suaturma, por abrir novos horizontes profissionais”. Em seguida, rea-lizou a viagem de instrução no Navio-Escola AlmiranteSaldanha, a primeira após a Segunda Guerra Mundial. Ter-minado esse período de instrução, os então Guardas-Mari-nha de 1945 foram distribuídos para as Companhias Regi-onais e para a Fortaleza de São José.

A primeira comissãoQuando chegou à Fortaleza de São José, cujo pátio

principal ainda era de cascalho, o então Segundo-Tenente(FN) Albuquerque deparou-se com um aquartelamento detropa voltado para as tarefas de segurança, em suas pala-vras: “de guarda”. O exercício das funções de oficial subal-terno nas companhias era limitado “a instruções em alojamen-to, escrituração em cadernetas individuais, disciplinas e demais casosfortuitos que pouco permitiam a ação de liderança”.

Relata o Almirante que, naquela época, “os recursosprovinham basicamente da gestão da caixa de economias. Necessida-des básicas como alimentação, saúde e conforto eram ainda precárias”.

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN - AE (FN) CARLOS DE ALBUQUERQUE 107

PROJETO MEMÓRIA DO CFN

A realização de exercícios externos era limitada em facedos escassos meios de transporte. Registrou ainda que, porocasião de desfiles, normalmente nas comemorações dedatas festivas, o transporte era realizado até em bondeselétricos, cedidos pela empresa de energia, a Light: “aquelavisão parecia-me um tanto bizarra, particularmente tendo a Guarda-Bandeira no banco da frente, mas era um fato da época”.

Um aspecto pitoresco assinalado era o fato de cadaum dos 4.000 Fuzileiros Navais (CB e SD) componentes daguarnição possuírem, como armário, uma mala de madei-ra na qual guardavam seus pertences e uniformes, e queem lugar de beliche, dispunham da maca (rede de camagrossa) que implicava ser, diariamente, enrolada e amar-rada com o próprio cordame: “a marca ferrada”.

Mesmo sem nunca haver servido na Companhia dePolícia (CiaPol), em razão de sua experiência como motoci-clista, auxiliou o Tenente Odair Damázio, Comandante daCia Pol, a ministrar instrução por ocasião da chegada dasmotocicletas à Fortaleza. Assim, colaborou na execução deum estágio, cujas instruções foram iniciadas no pátio doquartel e, posteriormente, complementadas na Ilha do Go-vernador, onde a Companhia Escola já estava instalada. OAlmirante assinala que: “o motociclismo no CFN muito deve aoentão Tenente Guy René Robichez Sanchez, motociclista desde ado-lescente, detentor de troféus de competições civis promovidas pelomotociclismo do Rio de Janeiro, e cursado em motomecanização noEB. Ao assumir o Comando da Companhia de Polícia do QuartelCentral – seu segundo comandante – teve a incumbência de receber asnovas motocicletas Harley Davidson, fazer a sua montagem e prepardo pessoal para operá-las”.

“Fato curioso é que seu antecessor no comando da subunidade,Tenente Diony Correa, assumira, em verdade, o primeiro comando damesma com destinação para o Serviço de Polícia. No entanto, atéentão, essa mesma Cia SP constituía-se de elementos da Engenhariade Combate, Companhia de Sapadores e Pontoneiros componentes datropa do antigo Regimento Naval. Assim, embora não tenha havidomudança de sigla (SP), houve alteração significativa na suadestinação”.

O Tenente Robichez, movimentado para a 1ª Com-panhia Regional de FN em Ládario, teve breve período emseu comando, passando-o para o seu colega Odair Damázio.

A influência Norte AmericanaCom o término da Segunda Guerra Mundial, foi es-

tabelecido o Mutual Assistant Program (MAP) para os paísesaliados e, segundo o Almirante Albuquerque, coube ao CFNo recebimento de material, visando a mobiliar umGrupamento de Desembarque de Batalhão (GDB). Assim,foram disponibilizados “fuzis; granadas; metralhadorasbrowning calibres .50 e .30; morteiros calibre .60 e 81 mm; material deartilharia; canhões 105mm de dois modelos e equipamento individualde combate, viaturas transporte ¼ Ton, (Jeeps), ½ Ton, 1 Ton; e 2/5Ton (caminhões)”.

No parecer do Almirante, as novas gerações de ofi-ciais, com outra visão, ajudaram a estabelecer uma orga-nização satisfatória para atender a essa nova realidade.Em face desse quadro, o Almirante Albuquerque assinalaque o Almirante Sylvio de Camargo solicitou ao Ministériodo Exército o destaque de um oficial especializado em moto-mecanização: “o Capitão Rabichez deu sua contribuição por al-

guns anos”. Em função da percepção dessa necessidade, ostenentes Damázio e José Lima Filho - “o grande batalhador dosblindados no CFN - foram realizar o Curso de Motomecanização noEB”. Ainda segundo o Almirante Albuquerque, “o Estado-Maior do CFN percebeu a necessidade de agilizar o programa de pre-paração de oficiais e subalternos para atendimento da manutenção dasviaturas recebidas”, que eram efetivadas, de forma embrioná-ria, na então Companhia de Manutenção do Quartel Cen-tral do CFN.

O Centro de InstruçãoO Almirante Albuquerque assinala que o Centro de

Instrução do CFN surgiu “da observação do então Tenente (ain-da da Armada) Sylvio de Camargo diante das falhas do emprego detropas de Fuzileiros Navais na Revolução de São Paulo, quandopercebeu a necessidade de haver oficiais preparados para a condução deseus subordinados”. Em face da falta de preparo dos oficiais,os sargentos assumiam iniciativas diante de situações apre-sentadas no decorrer das ações. Dessa forma, o AlmiranteSylvio de Camargo “não só lutou para preparar oficiais FuzileirosNavais com conhecimentos profissionais que os capacitassem ao em-prego de tropa em operações em terra, como também para especializá-los”.

A evolução do CFN de 1930 a 1964Na opinião do Almirante Albuquerque, “a assessoria

de oficiais do USMC abriu o horizonte em termos de conhecimento doque era realmente a guerra anfíbia. Foram ministrados cursos por meioda Missão Naval americana e houve a obtenção de manuais”. Du-rante a entrevista, afirmou que “somente com a assessoria des-ses oficiais viemos descortinar o que se constituiria uma tropa anfíbia equais os requisitos para seu preparo, bem como armamentos e equipa-mentos específicos”.

Em seu depoimento, o Almirante apresentou que “apartir dessa colaboração o Corpo de Fuzileiros Navais entrou em pe-ríodo de evolução, com várias fases”. De acordo com sua exposi-ção, a primeira foi caracterizada pela consolidação do CFNcomo uma corporação, pois “até então a Marinha o via como umapêndice para atendimento de serviço de guarda, corneteiros, ordenan-ças e afins”. Uma segunda fase, “justamente o enquadramentodesta organização para fins operativos, o que ocorreu após o períodoSylvio de Camargo”. Conforme seu relato, um eventomarcante que antecedeu a esse período, foi a criação, pelaação do Almirante Sylvio de Camargo, do Quadro de Ofici-ais de Fuzileiros Navais, em 1933.

“Ele era Capitão-Tenente, Oficial de Gabinete do AlmiranteProtógenes Guimarães, então Ministro da Marinha, quando iniciouações no sentido de objetivar etapas para adequar o CFN ao cumpri-mento de suas finalidades operativas na MB. O então CT Camargofoi Ajudante-de-Ordens dele e, como Oficial de Gabinete, o influen-ciou naturalmente, assessorando com a sua vivência, o que não lhedeve ter sido difícil, visto que o Ministro tinha sido Comandante doBatalhão Naval, como Oficial da Armada. Ele conhecia bem os Fuzi-leiros e a Aviação Naval (tinha sido comandante da Escola de Avia-ção Naval). Eram as duas armas que ele achava importantes para aMarinha, além da Esquadra. Ele implementou a fase áurea da Avia-ção Naval, no Galeão.”

Atestou também que “outro passo adiante foi aconcretização de um Centro de Formação de Fuzileiros Navais”. Esse“ideal”, almejado desde a década de 1930, demorou cerca de

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN

Curso de Pilotagem de Helicópteros realizado naHelicopter Trainnig Unit (HTU-1), US Navy.

O Almirante Carlos de Albuquerque também compôs ogrupo de pioneiros da aviação naval. Sempre foi

fascinado pelas coisas do ar e ainda menino, morando emBangu, apreciava a movimentação da Escola de Aviação

Militar, localizada no Campo dos Afonsos.

dez anos para ser concretizado. Inicialmente, em face danecessidade de busca de uma área para sua construção, emvirtude de o local previsto ter sido perdido com a criaçãodo Ministério da Aeronáutica, apesar desse fato ter sidoalertado pelo então CF (FN) Camargo, em razão de seusrelacionamentos com personalidades políticas. Esse localsó foi obtido por meio de desapropriação na Ilha do Gover-nador. Posteriormente, outro percalço foi a obtenção derecursos para sua construção. Segundo o Almirante, maisuma vez, o prestígio do Almirante Sylvio de Camargo foideterminante para que fosse alocada à Marinha verba es-pecífica para a construção do Centro de Instrução do Cor-po de Fuzileiros Navais. “Esse recurso foi obtido, em especial, pormeio de um Deputado Federal, seu colega de turma de ginásio emMinas Gerais”. De acordo com o Almirante, “ele foi o homemcerto na hora certa... Alguém pode imaginar para a época o que eraaquela construção?”

O Almirante ainda ressaltou que outro aspecto im-portante dessa evolução foi “o estabelecimento dos fundamentosdo emprego operacional decorrente do conhecimento da doutrina, par-ticularmente, dos oficiais que cursaram nos Estados Unidos e trouxe-ram esses conhecimentos, por terem observado in loco o seu modusoperandi”.

A Aviação NavalO Almirante Carlos de Albuquerque também com-

pôs o grupo de pioneiros da Aviação Naval. Sempre foifascinado pelas coisas do ar e ainda menino, morando emBangu, apreciava a movimentação aérea da Escola de Avi-ação Militar, localizada no Campo dos Afonsos.

Como tenente do Corpo de Fuzileiros Navais exer-ceu funções de oficial subalterno inicialmente no Quartelda Ilha das Cobras e, posteriormente, em Belém, na 2ª Com-panhia Regional. Com a reativação das atividades doAeroclube de Belém, requereu ao Ministro da Marinha per-missão para cursar pilotagem aérea, a qual foi deferida.Assim, iniciavam-se as suas atividades aéreas.

Na ocasião, o Almirante Albuquerque, apesar deseu pendor natural para a aviação e não haver encontradodificuldades no aprendizado da pilotagem do avião tipoCAP-4, “Paulistinha”, o “teco-teco”, não logrou a conclusãodo curso, não obtendo, portanto, o seu “brevet” de pilotoprivado, por ter sido movimentado para o Rio de Janeiro.Buscando alcançar o almejado “brevet”, matriculou-se noAeroclube do Brasil, em Manguinhos. Entretanto, após al-guns voos realizados, foi obrigado a interromper essas ati-vidades em razão de um acidente fatal, sofrido pelo seuinstrutor, ao chocar-se com sua aeronave no telhado doHotel das Paineiras. A interrupção da atividade aérea docurso somada às obrigações de Comandante da 7ª Cia, des-dobradas em diversos afazeres na guarnição, além da cir-cunstância de, na época, não possuir automóvel, redunda-ram na sua interrupção, quando atingira um total de cerca

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN

de trinta e cinco horas de voo, sendo mais da metade delas,em voo solo.

Em março de 1952 foi matriculado na primeira tur-ma do Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais Aviadores daFAB, o “então Curso de Tática Aérea (CTA), em Cumbica, SP”.Segundo o Almirante “tal matrícula decorreu da iniciativa doentão 1ºTen Luiz Robichez Sanches, irmão mais velho do RobichezFuzileiro Naval, e que, desde aspirante na Escola Naval sonhavacom a Arma Aérea da Marinha”.

Tendo esse fato acontecido no final de 1951, e ocorri-do, no início de 1952, um expediente do Estado-Maior (EM)da Aeronáutica para a Marinha oferecendo duas vagas paramatrícula no curso em questão, “não foi difícil concluir da ocor-rência de contatos ‘persuasivos’ da parte do Ten Robichez, particular-mente ao constatar que a assinatura na concessão de minha matrícula– como a dele – pertencia ao Brigadeiro Castro Lima, ex-AviadorNaval, Aspirante da Turma Otacílio Cunha, da qual, coincidente-mente, fazia parte o Aspirante Sylvio de Camargo”.

Assim, logo no início de março os, na época, tenentesLuiz Robichez e Albuquerque apresentaram-se sucessiva-mente ao EM da Aeronáutica, à Diretoria de Ensino daqueleMinistério e à Base Aérea de Cumbica, onde logo se iniciouo curso, que pela primeira vez incluía oficiais estranhos aFAB, não aviadores. ”Funcionava em ritmo acelerado, para supe-rar a demanda de oficiais a serem aperfeiçoados e, por isso, em regime deinternato”. Havia semanalmente “um avião do Comando deTransporte Aéreo que trazia a turma residente no Rio de Janeiro, nosfins de semana, o qual fora apelidado de ‘guarda-livro’, dada a suafunção de propiciar aos componentes da turma por a escrita em dia”.Terminado o curso em maio do mesmo ano, retornou àGuarnição do Quartel Central.

Ocorreu nesse mesmo ano, 1952, a reestruturaçãodo Ministério da Marinha na administração AlmiranteGuillobel, em cujas modificações se incluía a recriação daDiretoria de Aviação Naval, com a nova denominação deDiretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM). Destinava-se a tratar de todos os assuntos relativos ao emprego demeios aéreos em proveito da Marinha, demandando a ur-gente necessidade de pessoal detentor de alguma vivência,conhecimento ou habilitações em assuntos de aviação. Foipara ela movimentado por ocasião de sua instalação nosegundo semestre do ano seguinte, 1953. O então CT LuizRobichez era o Ajudante-de-Ordens do primeiro DiretorContra-Almirante Olavo de Araújo, antigo aviador naval.

Durante o longo período em que lá serviu, 1953 a1957, assumiu diversas funções tais como encarregado dediferentes divisões como Serviços Gerais, e as componen-tes dos Departamentos de Material e de Instrução e Ades-tramento, bem como participou de diversas atividades,como o estabelecimento do Serviço de Transporte Aéreo doConta para a Marinha (STAConta/Mar). Entretanto, a ati-vidade mais importante residiu na implementação dasfunções de observadores aéreos navais, a bordo das aero-naves da FAB, em missões para a Marinha, como: patrulhaAS, ataques simulados a navios, tiro real AAe sobre alvorebocado, observação de lançamento de torpedo, exervíciosde SAR, e outros.

Nessa ocasião, a DAerM obteve com a Missão Navalamericana, um programa de cursos e estágio para oficiaisda MB, constante de curso da Aviation Ground Officers School,

em Jacksonville, na Flórida, e de curso de piloto de helicóp-tero, na Helicopter Trainning Unit – ONE (HTU-1), emPensacola, também na Flórida e de um estágio embarcadoem Navio-Aeródromo (NAe) como piloto do Destacamen-to de Helicópteros Embarcado. Coube ao AlmiranteAlbuquerque ser componte da terceira dupla de oficiaisdesignados para efetuar essa programação, único oficialFuzileiro Naval realizando Estágio Embarcado no USSValley Forge, NAe AS da Esquadra do Atlântico. De regressoao Brasil, em abril de 1956, retornou à DAerM.

Com o recebimento das primeiras aeronaves (Heli-cópteros Bell 47-I e Westland Widgeon) pela Marinha, em1957, entregues ao Centro de Instrução e AdestramentoAero-Naval (CIAAN), o então CT (FN) Albuquerque, estan-do disponível – os demais oficiais da Diretoria foram desti-nados à composição da guarnição do recém-adquirido NAeMinas Gerais –, recebeu a incumbência de iniciar as devi-dos voos. Como havia esgotado o tempo de manutenção desua proficiência de voo, realizou, juntamente com o CCJaime Leal Costa Filho, um estágio de reabilitação no De-partamento Aéreo da Companhia Hidro Elétrica do SãoFrancisco (CHESF).

Dessa forma, assim que os helicópteros Bell eramprontificados, testados por piloto da fábrica e entregues, oCT Albuquerque teve o privilégio de ser o primeiro a pilotá-los. Para os Widgeons, o piloto inglês da Westland, responsá-vel pela sua montagem e testes ocorridos no CIAAN, loca-lizado na Av. Brasil, no Rio de Janeiro, propiciou um está-gio de adaptação para ele e o Comandante Jaime.

Dispondo essa última aeronave de duplo comando,iniciou-se, sem perda de tempo, a instrução de voo paraoficiais candidatos ao Curso de Observador Aéreo Naval(OAN).

O Almirante Albuquerque foi então nomeado ins-trutor do assunto pilotagem de helicóptero, constante docurrículo do curso de oficiais OAN. Era, na época, o Encar-regado da Escola de Instrução de Voo, cumulativamentecom a de Chefe do Departamento de Instrução e Adestra-mento do CIAAN, passando então a servir naquela OM.Juntou-se ao pequeno grupo de instrutores, entre eles o seucolega de turma CT (FN) José Eduardo Braga Ribeiro, pilotocom curso recente na fábrica Bell Helicopter Corp, nos EUA,com quem chegou a se revezar nas funções, em períodosnos quais realizou embarques chefiando destacamentos emcruzadores e em navio hidrográfico. Esse oficial infelizmen-te, veio a falecer em decorrência de acidente aéreo quandorealizava missão de voo em Petrópolis, solicitada pelo Go-vernador Roberto Silveira, que também faleceu.

Em cumprimento à determinação presidencial parasuspensão de todos os voos de instrução na área do Rio deJaneiro, em face de grave acidente aéreo ocorrido entre umaaeronave comercial e a de um cadete da Escola de Aeronáu-tica, coube ao então CC (FN) Albuquerque providenciar atransferência da atividade de instrução de voo para a áreade S. Pedro da Aldeia, cujas instalações de base estavamadiantadas. Assim, constituindo um destacamento avan-çado, composto pela diversidade de meios necessários, con-duziu, como mais antigo, otransporte e a instalação, emjulho de 1959.

Segundo o Almirante, “a perspectiva de situação transitó-

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN

ria inicial, no entanto, ao não se confirmar e por ela delongar por maisalguns meses, até que o Comando do CIAAN também se transferisse,pos em suas mãos responsabilidades sobre toda a atividade e condutado pessoal do destacamento, cuja a maioria não lhe era pela organiza-ção diretamente subordinada. O destacamento, formalmente, não exis-tia. Tratava-se do caso de atribuição de responsabilidade sem a corres-pondente autoridade. Felizmente, prevaleceu o espírito de equipe eassim os trabalhos prosperavam”.

Depois da chegada do Comando e tendo sido pro-movido a Capitão-de-Fragata, bem como por não haverfunção nas lotações das OM da Aviação Naval (AvN) paraoficial Fuzileiro Naval desse posto, declarou que teve de se“despedir das atividades de voo na MB”.

No entanto, retornava às mesmas atividades quan-do, como Contra-Almirante na função de Chefe do EM doCFN, foi convidado pelo Comandante da Força Aérea Na-val, Contra-Almirante José Maria do Amaral Oliveira, paracompor uma turma de oficiais AvN mais antigos pararequalificação. Com isso, passou a cumprir regularmenteuma programação de voo pela qual se manteve qualificadoaté o posto de Almirante-de-Esquadra. No posto de Vice-Almirante, quando no Comando da FFE, recebeu das mãosdo então ComemCh, VAlte. Carneiro Ribeiro, em cerimô-nia ocorrida na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, odiploma de proficiência de voo, por ter atingido o total deduas mil horas de voo.

No início de 1963, na administração do MinistroSuzano, foi criado, por portaria, uma nova OM na estrutu-ra da FFE, em paralelo ao Núcleo da Divisão de FuzileirosNavais: o Núcleo de Comando de Aviação da FFE, destina-do a implementar os primeiros meios aéreos vinculados àsForças de Fuzileiros Navais.

O então CF (FN) Albuquerque foi nomeado coman-dante da OM recém-criada, em 8 de fevereiro de 1963, ins-talando-se em dependência da DAerM, que funcionava noedifício da Rua do Acre, 21.

Em dezembro desse ano, um grupo de oficiais doCFN redigiu um manifesto contrário à assunção do cargode Comandante-Geral do CFN pelo Vice-Almirante (FN)Cândido da Costa Aragão. Pela participação nesse evento,o Almirante (FN) Carlos de Albuquerque foi preso e poste-riormente anistiado. No manifesto criticavam duramentea nomeação do novo Comandante-Geral, ressaltando a res-ponsabilidade do então Ministro da Marinha na época, oAlmirante-de-Esquadra Silvio Mota.

Por ocasião da assunção do novo Comandante-Ge-ral, o então CMG (FN) Heitor Lopes de Souza, o AlmiranteAlbuquerque reassumiu as suas funções em maio de 1964,instalando-se junto ao Núcleo de Comando da DivisãoAnfíbia no prédio das instalações de Saúde do então CICFN,hoje CIASC. Nesse período, dedicou-se à disseminação danecessidade de meios aéreos, por meio de expedientes parao Comandante-Geral. Iniciou suas considerações por “heli-cópteros leves para a ligação e a observação de tiro de artilharia paradepois pensar em algo mais”, bem como à obtenção de pessoal,por meio da divulgação das possibilidades de carreira naAviação Naval, dando preferência “a mecânicos de auto, quetivessem formação como motorista, eletricista e eletrônica” entre asdemais especialidades. Ainda segundo o AlmiranteAlbuquerque, “o pessoal FN foi se aperfeiçoando e ganhando expe-

riência, passando a desempenhar um importante papel na nova Avia-ção Naval, com bons resultados até hoje”.

O Almirante afirmou que, apesar de correta a visãode futuro do Ministro da Marinha, de “ que não adiantariauma Força de Desembarque sem a cobertura aérea correspondente”,encontrou muita dificuldade para a sua implementação.Assim, sentindo-se “obstado em sua tarefa e impossibilitado dealcançar sequer uma etapa concreta do objetivo”, solicitou suamatrícula no Curso de Estado-Maior (CEMCFA) da EscolaSuperior de Guerra.

Outro fato apresentado pelo Almirante Albuquerque,e pelo qual havia lastimado, foi a conclusão negativa do GT,criado pelo Almirante Heitor, para avaliar a aplicabilidadedos helicópteros H-34 para o CFN, em face da compra doshelicópteros antissubmarinos SH-3D pela Marinha. Segun-do o Almirante, “perdemos a oportunidade de termos um Esqua-drão”, e lamentou-se “que até hoje não temos sequer uma unidadede aviação quando poderíamos tê-la ”.

O Comando no Centro de Instrução do CFN -CICFN

Exerceu o cargo de Comandante do Centro de Ins-trução do CFN por bom período que, apesar de “produtivo,possuía uma grande dificuldade com as verbas, uma vez que as dispo-nibilidades financeiras eram mínimas e as necessidades grandes”. Nocomando, houve necessidade de criação de novos cursos,quer para subalternos, quer para oficiais, limitados porrecursos orçamentários, uma vez que “tudo era sustentadopor caixa de economias”. Relatou, ainda, o Almirante que teve“a sorte de contar com o CF (FN) Wagner Wolney Magalhães, seuImediato, que, muito eficiente, conseguiu, apesar de tudo, melhorar orancho, graças a um rígido controle de gêneros”. Afirmou ter havi-do uma demanda muito grande do Departamento Escolarsem qualquer cobertura financeira e que “ usou de engenho earte para sustentar tudo isso, fora os eventos gerados pela necessidadede demonstrar o CFN para a Marinha e entidades externas (Escolas deEstado-Maior da Aeronáutica e do Exército, ESG e outras institui-ções)”.

Segundo sua avaliação, “não foi muito fácil, mas contor-namos essa situação. Tínhamos que dispor de numerário para fazer amanutenção física dos prédios, melhorias, tendo em vista que o núme-ro de alunos crescia dia-a-dia. A demanda se tornava pesada”. Umfato citado pelo Almirante Albuquerque foi o congressopromovido pelo Conselho Internacional de Esporte Militarque lhe permitiu cobrir várias carências ao apresentar asnecessidades de recursos para o evento ao representantedo então Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA).

A Divisão AnfibiaSeu primeiro cargo de comando efetivo de tropa foi o

de Comandante da Divisão Anfíbia, em face de sua dedica-ção à Aviação Naval. Assim, declarou que “minha carreira foidiferente dos meus companheiros de turma, fazendo o curso de aperfeiço-amento na FAB, não na EsAO do EB; não comandei batalhões”.

Ainda no comando, sua maior preocupação foi ogrande encargo administrativo dos comandantes de uni-dade, inclusive durante as manobras operativas. O Almi-rante “achava um absurdo preocupar-se em dar rancho quente àtropa já no Dia-D, por obrigar as unidades a transportarem uma ‘tra-lha imensa’, desnecessária para uma operação de pequena duração”.

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PROJETO MEMÓRIA DO CFN - AE (FN) CARLOS DE ALBUQUERQUE 111

PROJETO MEMÓRIA DO CFN

1977 - Desfile de Sete de SetembroSeu primeiro cargo de comando na tropa foi o deComandante da Divisão Anfíbia, em face de sua

dedicação à Aviação Naval.

Dessa forma, buscou debater o assunto e corrigi-lo, em vir-tude de acreditar que “estávamos nos tornando uma tropa pesadasem necessidade, quando se observava tendência oposta”.

A Força de Fuzileiros da EsquadraO Almirante Albuquerque foi o primeiro Coman-

dante da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) depois doseu desmembramento do Comando-Geral, ocupando ini-cialmente as instalações “da antiga Diretoria de Engenharia daMarinha, no Arsenal Velho, de forma a possibilitar o desdobramento ea instalação do Comando e do Estado-Maior da FFE”.

Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros NavaisFoi Comandante-Geral do Corpo de Fuzileiros Na-

vais por um período de dois anos. Em seu comando assu-miu como prioridade “dar maior prontificação aos batalhões deInfantaria, possibilitando o CFN ter uma tropa anfíbia pronta, princi-palmente, no tocante a armamentos e viaturas”. Procurou tam-bém melhor dotar o Centro de Reparos e Suprimentos Es-peciais do CFN, visando a permitir a manutenção de 4ºescalão de viaturas blindadas e viaturas de uma formageral. Sua maior preocupação foi com a formação do pesso-al técnico, “reestruturando as novas especializações esubespecializações”. Outro aspecto de relevância junto ao Al-mirantado foi a necessidade da “elaboração doutrinária de em-prego da Forças de Fuzileiros da Esquadra”.

Considerações FinaisTerminando sua entrevista, o Almirante

Albuquerque brinda-nos com sua visão diante das moder-nas tecnologias e a importância do elemento humano parao CFN do século XXI:

“O importante é mantermos uma cabeça pensantede primeiro nível intelectual e promover permanentemen-te um balanço da situação mundial de uma maneira geral,quer política, quer tecnológica. Que pelo menos se acompa-nhem os novos desenvolvimentos, em todas as áreas. Mas,de acordo com o que vejo, o importante é o problema mo-ral.

Manter as tropas dentro de uma disciplina consci-ente através de bons exemplos, estimulando e procurandocada vez mais aperfeiçoar, intelectualmente, as gradua-ções de escalões menores, para que o pessoal seja conscien-te da razão do porquê nós estamos aqui. Acho importante,pois na medida em que se perca a motivação do que se estáfazendo, aí a coisa se complica.

Nós temos que acompanhar da melhor maneira possível o queestá saindo pelo mundo sobre aperfeiçoamento bélico de uma maneirageral. Hoje, por exemplo, já se vê a eletrônica na conduta das opera-ções e é em tudo, o controle das operações e os equipamentos eletrôni-cos, os satélites militares, as aeronaves de asa fixa ou não, com seusequipamentos e armas, os ambientes de guerra. De qualquer maneira oque vejo, também, é que até o momento, com todos esses avançostecnológicos, a arma principal de eliminação do inimigo, ainda é umcartucho de pólvora que é projetado através de um tubo que aponta-mos, ainda é o fuzil. O fundamental para se ocupar determinado espa-ço físico ainda é o infante. Assim, o homem deve ocupar a parte maisimportante de nossas atenções.”

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